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UM ESTUDO SOBRE O LUGAR NA PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA
HUMANISTA: A FEIRA DE MANGAIO PARA OS FEIRANTES EM SANTA
CRUZ DO CAPIBARIBE/PE
Thaís Beatriz Silva Fernandes (Pedagogia - UFCG)
INTRODUÇÃO
Este estudo foi desenvolvido na disciplina Geografia I na Educação Infantil e
anos iniciais do Ensino Fundamental, do Curso de Pedagogia da Universidade Federal
de Campina Grande (UFCG) - Campus I, no período 2015.2, com a orientação do
professor Doutor Paulo Sérgio Farias. Optamos por analisar o sentimento de
pertencimento ao lugar, dos feirantes que trabalham na feira livre, conhecida
popularmente como “Feira de Mangaio”, em Santa Cruz do Capibaribe/PE, partindo
de uma abordagem do conceito geográfico lugar sob o enfoque da geografia
humanista, que visa à compreensão do lugar a partir de uma dimensão experiencial e
subjetiva dos sujeitos. A proposta de abordar esta temática surgiu a partir da
transferência desta feira para uma nova localidade, a Central de Feiras e, partindo
desta premissa, pretendeu-se identificar se esta mudança de local alterou ou não o
sentimento de pertencimento dos feirantes em relação à feira.
Os procedimentos metodológicos utilizados para a realização desta pesquisa
foram a pesquisa bibliográfica, que envolveu a leitura de referenciais teóricos que
versam sobre as seguintes temáticas: as feiras livres no Nordeste, o conceito de lugar
na Geografia e a origem da feira livre em Santa Cruz do Capibaribe, e a pesquisa
empírica, no trabalho de ida ao campo, em que realizamos entrevistas com alguns
sujeitos que comercializam seus produtos na feira, os ditos feirantes. Utilizamos
também o recurso fotográfico.
No tocante ao desenvolvimento deste trabalho, inicialmente buscamos fazer
uma contextualização sobre a importância e o papel das feiras livres no Nordeste. Em
seguida, apresentamos um breve histórico sobre a feira de mangaio em Santa Cruz do
Capibaribe/PE. Logo após, discutimos as concepções sobre o lugar nas perspectivas
da geografia humanista e da geografia crítica, abordando a análise sobre o sentimento
dos feirantes em relação ao lugar: à feira de mangaio. Por fim, as considerações finais.
AS FEIRAS LIVRES NO NORDESTE: ORIGEM E PAPEL
DESEMPENHADO NAS CIDADES.
As feiras livres são um dos tipos de comércio mais antigos desenvolvidos até
os dias atuais, embora, atualmente, tenham incorporado uma nova roupagem, devido
os modos de produção de sistema capitalista. Sua origem remonta desde a Idade
Média na Europa e aqui no Brasil, tiveram início no período colonial, com a vinda dos
portugueses. Mais precisamente no Nordeste, a feira livre obteve uma característica
ruralizada, oriunda das práticas pecuárias, da criação de gados, são as conhecidas
feiras de gado e de cereais (SOUZA; DANTAS; MATIAS; MOREIRA, 2014).
É notável ressaltar que as feiras desempenharam um papel de grande
importância, como elemento propulsor na formação e crescimento de muitas cidades
do interior nordestino.
No que concerne ao papel das feiras, Miranda (2009) elenca quatro aspectos
que se referem ao papel econômico, o papel do espaço, o papel social e ao papel
cultural. O papel econômico diz respeito à importância da feira como “importante
fomentador da atividade econômica urbana” (p. 41). Em relação ao papel do espaço
nas feiras, o autor alega que estas “são elementos que carregam em si a força de
modificar ou alterar significativamente espaços locais da cidade, através da atração de
consumidores” (p. 41), neste sentido as áreas próximas ao local podem ser bem
valorizadas ou não, bem como, o movimento de compradores que vêm à feira pode
propiciar o comércio formal. Quanto ao papel social, Miranda (2009) frisa que a feira
“cria um local dinâmico” (p. 44), portanto, há inúmeras interações entre os sujeitos, é
a feira como um local de convivência, as pessoas integram vínculos afetivos umas
com as outras, constroem amizades. Por fim, a feira como papel cultural diz respeito
às manifestações culturais que são realizadas, estas são importantes para a formação
da identidade cultural e histórica do povo.
As feiras das cidades interioranas do Nordeste, além de serem ponto de
comércio, são, também, ponto de encontro, onde as pessoas se reúnem, são é o locus escolhido para os mais variados atos da vida social mantendo assim um sentido de permanência. Ali se sabem as últimas notícias e boatos. Ali são feitos os anúncios de utilidade pública. [...] Apresentam-se espetáculos com o fito de promover algum produto, como é o caso dos remédios, ou ainda como forma de entretenimento (cuja remuneração é voluntária), a exemplo dos cantadores que evocam os trovadores medievais, apresentando riqueza em experiência e memória. (PAZERA JÚNIOR, 2003, p. 18-19).
Assim, as feiras se constituem como atividades que abrangem tanto as relações
de trocas econômicas por meio da comercialização dos produtos, quanto às relações
de interação sociais e culturais entre os sujeitos (feirantes, consumidores e a
vizinhança em torno da feira).
Segundo Diniz (2011, p. 15), “as histórias de muitas cidades da região
nordestina registraram a presença dessas importantes feiras, que constituíam os
principais centros do comércio regional”, e Santa Cruz do Capibaribe-PE, é uma
destas cidades, visto que, a feira teve um papel relevante na produção do território
santa-cruzense. A seguir, trataremos brevemente, sobre a origem da feira livre nesta
cidade.
A FEIRA DE MANGAIO EM SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE/PE
Santa Cruz do Capibaribe é uma cidade localizada na microrregião do Alto
Capibaribe, situada no agreste setentrional de Pernambuco. Sua origem remete a
meados dos anos 1750, sendo elevada a categoria de vila em 1892 e emancipada em
29 de dezembro de 1953.
Figura 01: Localização do munícipio de Santa Cruz do Capibaribe, no estado de Pernambuco. Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a6/Mapa_de_Santa_Cruz_do_Capibaribe_
%282%29.png.
A feira livre em Santa Cruz do Capibaribe, popularmente conhecida como
“Feira de Mangaio”, não tem registros quanto a data que tenha surgido, e nem quanto
ao termo que foi nomeada, sabe-se que seu auge se deu em meados do século XX.
Mas alguns habitantes relatam que ela existe há mais de cem anos. Teve início em
torno da igreja, situada na conhecida Rua Grande, que em 1894 passou a ser chamada
Avenida Padre Zuzinha, (conforme mostra a foto 02). Suas atividades comerciais se
iniciaram por meio do escambo, ou seja, a feira de trocas, na qual era comum a troca
de produtos que mantinham as famílias que viviam no vilarejo e arredores.
Foto 02: Tradicional feira de mangaio realizada na Avenida Padre Zuzinha. Fonte: Acervo digitalizado de Arnaldo Vitorino – Ano: 1947.
O termo “feira de mangaio” foi imortalizado na canção do mestre Sivuca com
parceria da sua esposa Glorinha Gadelho, composta na década de 1970. Remete à
típica feira nordestina na qual são vendidas ou trocadas diversas mercadorias. A letra
da música traz bem a definição do que são essas feiras e os produtos comercializados
nestas:
Fumo de rolo arreio de cangalhaEu tenho pra vender, quem quer comprarBolo de milho broa e cocadaEu tenho pra vender, quem quer comprarPé de moleque, alecrim, canelaMoleque sai daqui me deixa trabalharE Zé saiu correndo pra feira de pássarosE foi passo-voando pra todo lugar
Tinha uma vendinha no canto da ruaOnde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assadoE olhar pra Maria do Joá (2x)
Cabresto de cavalo e rabicholaEu tenho pra vender, quem quer comprarFarinha rapadura e graviolaEu tenho pra vender, quem quer comprarPavio de candeeiro panela de barroMenino vou me embora tenho que voltarXaxar o meu roçado que nem boi de carroAlpargata de arrasto não quer me levar
Porque tem um Sanfoneiro no canto da ruaFazendo floreio pra gente dançarTem Zefa de purcina fazendo rendaE o ronco do fole sem parar (2x)
(Feira de Mangaio, Sivuca & Glorinha Gadelha)
Em relação à organização destas feiras, Pazera Jr. (2003, p. 18) cita que não existem formas predeterminadas, nem legislação específica que trate deste tema, porém alguns aspectos são comuns a quase todas. O mercado público, geralmente de propriedade da prefeitura Municipal, é o local onde são comercializados os produtos de maior consumo e que necessitem de proteção contra mudanças no tempo, como farinha de mandioca e carne. [...] Os demais produtos são dispostos em torno do mercado e pelas ruas próximas ao mercado. Os produtos que necessitam de maior espaço como a cerâmica e os móveis dispõem-se pela periferia da feira.
Nas fotos a seguir (03 e 04), pode-se perceber a maneira como a feira de
mangaio, em Santa Cruz do Capibaribe, era organizada na década de 1980:
Foto 03: Comercialização de gaiolas e na esquina uma barraca de lanches. Foto 04: Feirantes em suas barracas e consumidores circulando pela feira. Destaque à variedade de produtos expostos nas barracas, em uma produtos de plástico e, em outra materiais artesanais
de palha. Fonte: Acervo digitalizado de Arnaldo Vitorino – Anos 1980.
Neste pretexto, a organização da feira de mangaio em Santa Cruz, se dava em
bancos dispostos em fileiras pela rua e cobertos com tecidos e/ou lonas. Nela eram
comercializados os mais diversos produtos alimentícios, ervas medicinais, a famosa
buga (doce feito da raiz do umbuzeiro), além de roupas artesanais de couro e
utensílios domésticos. Nas fotos acima, a feira retratada na década de 1980, é nítido
os traços da cultura de tempos passados que perpetuam ainda hoje, embora de forma
diferenciada, conforme demonstra as fotografias postas logo abaixo. Ambas as
épocas, diferentes contextos sociais, mas continua repleta das mais variadas cores,
movimentos, sons e sabores, os quais carregam inúmeros significados.
Tradicionalmente, a feira de mangaio funcionava na Avenida Padre Zuzinha,
todas as segundas-feiras, chegando a ocupar boa parte desta avenida.
Foto 05: A feira de mangaio em seus últimos dias na Avenida Padre Zuzinha. Autores: Thonny Hill e Janielson Santos. Fonte: Blog do Ney Lima – Ano: 2016.
Foto 06: Alguns dos diversos produtos comercializados na feira de mangaio. Foto 07: Organização das barracas, no setor de vendas de frutas.
Autores: Thonny Hill e Janielson Santos. Fonte: Blog do Ney Lima – Ano: 2016.
A feira de mangaio funcionou, na avenida na qual teve início, até o mês de
março deste ano (2016), sendo transferida para uma nova construção, a Central de
Feiras, situada às margens da PE-160, no Bairro São Cristóvão. Neste novo
empreendimento foram congregadas a feira livre da Avenida Padre Zuzinha, a
tradicional feira de mangaio, a feira de frutas que funcionava na Rua do Rio e na Rua
Raymundo Francelino Aragão (em frente ao açougue público), além do mercado
público municipal Manoel Rufino de Melo, mais conhecido como mercado de farinha,
e o açougue público municipal, conforme mostra a figura abaixo:
Figura 08: Planta baixa da central de feiras e mercados
Autores: R. T. da Cunha e J. C. do Nascimento. Fonte: Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Capibaribe – Ano: 2014.
A Central de feiras e Mercados (foto 09) foi inaugurada em 29 de dezembro de
2015, nos 62 anos de emancipação da cidade, mas suas atividades tiveram início em
março do corrente ano (2016).
Foto 09: Entrada principal da central de feiras e mercados.
Foto 10: Organização dos bancos de madeira na central de feiras e mercados.Fonte: Blog do cidade em foco – Ano: 2016.
Em sua estrutura física possui 935 bancos de madeira, 40 quiosques de lanche,
40 box de grãos e cereais, 54 tarimbas no açougue público, além de 12 banheiros (6
femininos e 6 masculinos) e 1 administração. Em seu espaço acomoda uma média de
mais de 1000 feirantes. Funciona de segunda a sábado, das 5h da manhã até às 18h, e
aos domingos até às 13h.
É inegável a importância da feira em suas diversas funções, até mesmo, nesta
sua característica ambígua que ao mesmo tempo em que contribui no processo da
dinâmica capitalista por meio das relações de trocas comerciais, contribui nas relações
interpessoais por meio da convivência entre os sujeitos que a integram, sejam eles
feirantes, consumidores, caminhantes e até mesmo a vizinhança.
É esta dinâmica de relações que integram experiências e significados ao
espaço vivido, que faz com que a feira se torne um lugar, portanto, neste contexto, a
feira de mangaio passa a integrar os lugares. Os vários atores sociais que frequentam a
feira, por meio de suas experiências vivenciadas naquele local, constroem um
sentimento em relação ao lugar numa dimensão subjetiva. Esse sentimento tanto pode
ser afetivo, quanto ser de aversão. São estes sentimentos de afetividade, de pertença,
de identidade, além das inúmeras histórias individuais que permeiam um local, que o
constitui como lugar.
Nesta perspectiva, buscaremos analisar o sentimento que alguns dos feirantes
da feira de mangaio têm sobre a feira de mangaio, e se este foi alterado com a
transferência desta para o outro local. Mas como abordar o sentimento de
pertencimento ao lugar à luz da geografia? Para isto, trataremos no seguinte tópico, as
concepções de lugar na geografia humanista e na geografia crítica.
O LUGAR COMO CONCEITO: A ABORDAGEM NA GEOGRAFIA
HUMANÍSTA E NA GEOGRAFIA CRÍTICA
O conceito de lugar é o menos desenvolvido na Geografia, contudo, podem-se
destacar discussões teórico-metodológicas sobre este conceito nas seguintes
concepções: a Geografia Humanista e a Geografia Crítica. Quanto a estes dois
conceitos, é notável ressaltar que, apesar das diferenças um não exclui o outro, ao
contrário, se complementam.
Na perspectiva da Geografia Humanista, o lugar é fundamentado na
experiência e na subjetividade. Portanto, são valorizados os significados que os
indivíduos trazem consigo acerca das relações que estes desenvolvem em seu
ambiente (LEITE, 1998), pois, como afirma Tuan (1975), o “lugar é um centro de
significados construído pela experiência”. Sendo assim, o lugar passa a ter
significado, na medida em que o homem interage e constrói suas relações nele, uma
vez que nesta abordagem, ressalta-se que o lugar é condicionado pelas inúmeras
relações decorrentes da experiência que o indivíduo realiza.
Para Tuan (2013, p. 14), “o significado de espaço frequentemente se funde
com o de lugar [...] o que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar
à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor”. Nesta perspectiva, o
tempo torna-se um determinante para a constituição do lugar, uma vez que há uma
estreita relação entre experiência e tempo, ou seja, é preciso um determinado tempo
para que se possa ter uma experiência vivida em um certo local, e assim atribuir
sentimentos a este, de modo, que este espaço venha a se tornar um lugar.
Por sua vez, o lugar na Geografia Crítica é compreendido como uma
construção social, permeada de singularidade, assim, não é visto apenas como espaço
vivido conforme, a abordagem Humanista. Esta construção do lugar ocorre por meio
das relações decorrentes da dinâmica entre o local e o global, entre o interno (aquilo
que é do local) e o externo (que vem de fora). De acordo com Leite (1998, p. 15)
“trata-se na realidade de uma visão na qual o lugar é considerado tanto como produto
de uma dinâmica que é única, ou seja, resultante de características históricas e
culturais intrínsecas ao seu processo de formação, quanto como uma expressão da
globalidade”.
Mediante estas breves considerações sobre o conceito de lugar, consideramos
que a perspectiva humanista é a que mais se adequa ao nosso trabalho, por abordar o
lugar numa dimensão subjetiva, que valoriza as percepções de cada sujeito.
A FEIRA DE MANGAIO PARA OS FEIRANTES: UM SENTIMENTO DE
PERTENCIMENTO AO LUGAR?
Durante sua vida, o homem passa por diversas experiências, sejam estas boas
ou ruins. Estas experiências agregam valor às relações vividas, e quanto ao espaço por
ele habitado, são construídos pontos de referência que são constituídos de sentimento
e significados. Esta relação mais íntima e profunda neste espaço faz com que este se
torne um lugar, pois, conforme Tuan (2013), o espaço é transformado em lugar na
medida em que atribuímos valor à este.
No tocante à feira de mangaio, pode-se afirmar que em sua dimensão espacial
permeada de inúmeras experiências, se constituiu como um lugar, pelo fato de que o
lugar agrega a experiência vivenciada por cada sujeito. A realidade deste local foi
construída pelas pessoas que nele puderam estabelecer diversas relações, seja
enquanto feirante, comprador, vizinhança e, até mesmo, um simples caminhante.
Desta forma, a Geografia Humanista tende a valorizar a concepção deste sujeito,
valoriza, portanto, a dimensão subjetiva. Nesta perspectiva o lugar é fruto da
experiência humana, “os homens o fazem, e esse fato contribui para a intensidade de
seu sentimento de lugar” (TUAN, 2013, p. 169).
Neste contexto, a fim de compreender o sentimento dos feirantes em relação à
feira de mangaio e, se, este sentimento de pertencimento foi alterado com a
transferência desta para outra localidade, realizamos entrevistas com cinco feirantes.
Estes feirantes com os quais conversamos, trabalham na feira de mangaio, alguns há
pouco tempo, outros há 20 e 30 anos. Dois destes, seguem a profissão herdada dos
pais. Em seus relatos destacaram a questão do comércio, que tinham expectativas de
que este melhorasse com esta transferência.
Quando questionados sobre o que a feira de mangaio representava para eles,
recordam com saudade, e citaram que quando funcionava no outro local, o comércio
era melhor, pois já tinham os pontos estabelecidos há um bom tempo, tinham uma
freguesia certa. Mas, em questões de estrutura e organização a feira na central ficou
melhor, pois é mais limpo, possui banheiros. Contudo, é possível destacar que a
experiência vivida durante todo tempo que estiveram no outro local ficará na
recordação destes, pois, esta experiência possibilitou muitas relações e interações com
outras pessoas. A respeito disto, é como afirma Tuan (2013, p. 172), queos lugares íntimos são tantos quantos as ocasiões em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato” estes “são transitórios e pessoais. Podem ficar gravados no mais profundo da memória e, cada vez que são lembrados, produzem intensa satisfação, mas não são guardados como instantâneos no álbum da família nem percebidos como símbolos comuns [...] que permitem explicações detalhadas.
Faz pouco tempo que a feira foi transferida para o novo local, e sempre as
mudanças alteram, de alguma forma, a nossa identidade. O sentimento de outrora não
é o mesmo que, até então, é sentido. Em relação à isto, é pertinente a citação de
Claval (2010, p. 50), ao destacar que “a viagem questiona nossa própria identidade,
nossas próprias crenças”. Neste caso, a mudança questiona a identidade desses
feirantes, visto que eles tinham uma ligação íntima com o lugar, uma certa
comodidade e segurança, e além disso, essas relações se constituem em laços, os quais
transmitem ao sujeito um sentimento de segurança, “confirmam nossa maneira de ser,
confortam nossa identidade. Ao partimos, eles se afrouxam ou se rompem [...] os
desenraizados sofrem com a saudade” (CLAVAL, 2010, p. 45).
Apesar desta mudança ter rompido com o sentimento de pertencimento destes
feirantes, é considerável destacar que estes podem construir um novo sentimento
afetivo e de pertencimento ao novo espaço. Visto que, é uma mudança recente e,
sabe-se que a constituição de um lugar demanda tempo. Portanto, eles podem viver
novas experiências e novas relações que sejam tão positivas quanto as que foram
vivenciadas no local anterior. Pois, de acordo com Claval (2010, p. 55) a experiência
do espaço éfundamentalmente, a de suas interrupções, suas rupturas, seus contrastes,
sua heterogeneidade. Esta não resulta somente da multiplicidade das
condições naturais ou da diversificação das atividades produtivas. Ela
nasce da experiência que os homes têm dos lugares e das emoções que esta
suscita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração e produção deste trabalho foi bastante significativo, pois
propiciou uma melhor compreensão sobre o conceito de lugar abordado na
perspectiva da Geografia Humanista, bem como, possibilitou conhecer um pouco
mais sobre um elemento que constitui a história e identidade de minha cidade, que é a
feira de mangaio. Portanto, indubitavelmente, foi uma experiência bastante
enriquecedora que permitiu conhecer e apreender a realidade de forma crítica e
consciente. Além do mais, o exercício de apreensão das categorias geográficas
articulando-as com contextos e aspectos da nossa realidade, como foi proposto pelo
professor Paulo, foi essencial, pois, com certeza, contribuirá de modo significativo as
nossas práticas educativas.
REFERÊNCIAS
CLAVAL, Paul. A geografia como experiência do espaço e dos lugares. In: ______. Terra dos homens: a geografia. Tradução: Domitila Madureira. São Paulo: Contexto, 2010.
DINIZ, Lincoln da Silva. As bodegas da cidade de Campina Grande: dinâmicas sócio-espaciais do pequeno comércio. 2 ed. Campina Grande: EDUFCG, 2011.
LEITE, Adriana Filgueira. Lugar: duas acepções geográficas. In: Anuário do Instituto de Geociências. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. v. 21.
MIRANDA, Gustavo Magalhães Silva. A feira na cidade: limites e potencialidades de uma interface urbana nas feiras de Caruaru (PE) e de Campina Grande (PB). Dissertação de mestrado. Recife-PE. Universidade Federal de Pernambuco, 2009.
SOUZA, Dalyson Henriques Barros de; DANTAS, José Carlos; MATIAS, Thyago Barbosa de Oliveira; MOREIRA, Emília. Feira livre e cultura popular: espaço de resistência ou de subalternidade? In: VII Congresso brasileiro de geógrafos. Vitória/ES, 2014.
TUAN, Yi-Fu. Experiências íntimas com o lugar. In: ______. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: Eduel, 2013. p. 167-182.