2004 Natal Rn NASCIMENTO Ana Maria Pereira Do
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UNIVERSIDADE POTIGUAR
ALQUIMY ART SO PAULO CURSO DE ESPECIALIZAO EM ARTETERAPIA
ANA MARIA PEREIRA DO NASCIMENTO
ARTETERAPIA:
CRIATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO NA TERCEIRA IDADE
NATAL/RN 2004
ANA MARIA PEREIRA DO NASCIMENTO
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ARTETERAPIA:
CRIATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO NA TERCEIRA IDADE
Monografia apresentada Universidade Potiguar, RN e ao Alquimy Art SP, como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia.
Orientadora: Msc Deolinda Fabietti
NATAL/RN 2004
ANA MARIA PEREIRA DO NASCIMENTO
ARTETERAPIA:
CRIATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO NA TERCEIRA IDADE
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Natal, ____ de Janeiro de 2004
Monografia apresentada pela aluna Ana Maria
Pereira do Nascimento ao Curso de Especializao
de Arte Terapia da Universidade Potiguar e da
Alquimy Arte So Paulo conforme avaliao da
banca examinadora constituda pelos seguintes
membros:
________________________________________________________ Prof(a) Orientadora
________________________________________________________
Membro
________________________________________________________
Membro
-
A minha famlia, Pegado, Marco Aurlio, Gustavo Henrique e Mario Srgio, por fazerem parte da minha vida e acreditar que mesmo sendo interrompida possvel recomear.
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus pelo dom da vida, pela minha famlia e amigos, por todos aqueles
que entraram na minha histria de vida e me ensinaram a crescer e conquistar mais
uma vitria;
Agradeo especialmente ao meu esposo Jos Pegado pelo apoio e estmulo durante
todo esse processo;
Agradeo a Dra Cristina Dias Alessandrini pelas valiosas lies de experincias e
conhecimentos compartilhados durante o curso;
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Agradeo a Msc Deolinda Fabietti professora e orientadora pelos ensinamentos e
apoio com que me orientou para a realizao deste trabalho;
Agradeo a colega Cristiane Hatsue Vital Otutumi parceira no estgio pela troca de
conhecimentos e idias que contriburam para o nosso amadurecimento interior;
As senhoras que participaram das vivncias, que confiaram e compartilharam as
suas experincias de vida.
RESUMO
A presente monografia visa estudar como a arteterapia pode contribuir, atravs das vrias manifestaes artsticas, para uma melhor qualidade de vida na terceira idade. A proposta de estudo saber como, por meio da arte, possvel promover a re-integrao do idoso nas funes orgnicas e psquicas como forma de melhorar a qualidade de vida. Para isso, procurou-se analisar como o idoso vem se inserindo na sociedade atual, salientando a sua condio de isolamento, de carncia afetiva, da perda da capacidade psico-motora e da vida ociosa que levam. No segundo momento procurou-se pensar como neste contexto a arteterapia pode proporcionar uma contribuio para reverter tal quadro no grupo de idosos Maria Nzia de Medeiros situado em Natal, no bairro de Mirassol. Foi feito um relato das atividades desenvolvidas no grupo em estudo, analisando o posterior desenvolvimento das componentes no sentido de melhorar a qualidade de vida das mesmas. A concluso obtida foi que a contribuio da arteterapia as idosas do instituto Maria Nzia de Medeiros foi significativa, melhorando a auto-estima, criando laos de solidariedade entre elas e favorecendo para reverter o quadro de estigma e isolamento no qual elas estavam inseridas. Palavras Chave: Arteterapia; Terceira Idade; Tcnicas de Arteterapia; Produo
Artstica; Qualidade de Vida.
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ABSTRACT
The present monograph aims at to study as the art-therapy can contribute, through the some artistic manifestations, for one better quality of life in the third age. The study proposal is to know as, by means of the art, it is possible to promote the reintegration of the aged one in the organic and psychic functions as form to improve the quality of life. For this, it was looked to analyze as the aged one comes if inserting in the current society, pointing out its condition of isolation, affective lack, the loss of the psico-motor capacity and the idle life that lead. At as a moment it was looked to show as in this context the art-therapy can provide a contribution to revert the situation in the aged group of "Maria Nsia de Medeiros" situated in Natal, in the suburb of Mirassol. A story of the activities developed in the group in study was made, analyzing the posterior development of the components in the direction to improve the quality of life of the same ones. The gotten conclusion was that the contribution of the art therapy was significant, improving auto-esteem, creating bows of solidarity between them and favoring to revert situation of stigma and isolation in which they were inserted. Key words: Art-therapy; Third age; Art-therapy tecnich; Artistic productions; Quality
of life.
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LISTA DE FIGURAS Figura 1 Momento de realizao das atividades
corporais....................................36
Figura 2 Idosa confeccionando boneco
(GDS)........................................................39
Figura 3 Participante apresentando o boneco concludo
(RT)..............................42
Figura 4 Apresentao dos
bonecos........................................................................44
Figura 5 Trabalho de construo da rvore
(CE)....................................................49
Figura 6 rvore construda
(PA)...............................................................................50
Figura 7 Exposio dos
trabalhos............................................................................55
Figura 8 Visualizao
criativa...................................................................................57
Figura 9 Pintura rpida com guache
(IN).................................................................59
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SUMRIO
1
INTRODUO.........................1
0
2 O IDOSO NA SOCIEDADE
ATUAL........................................................................15
3 ARTETERAPIA E
CRIATIVIDADE..........................................................................23
4 ARTETERAPIA COM
IDOSOS...............................................................................29
4.1 CARACTERIZAO DO
GRUPO.......................................................................30
4.2
VIVNCIAS..........................................................................................................32
4.2.1 Expresso corporal: sensibilizao para as vivncias em
arteterapia..............34
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4.2.2 Oficina criativa de confeco de
bonecos.........................................................37
4.2.3 Oficina de construo de
rvore.......................................................................47
4.2.4 Visualizao e pintura rpida com
guache.......................................................55
4.3 IMPORTNCIA DAS VIVNCIAS PARA A AUTO-ESTIMA DOS IDOSOS EM
ESTUDO
...................................................................................................................60
5 CONSIDERAES
FINAIS............................................63
REFERNCIAS...................................................................................................
.66
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10
1 INTRODUO
O presente trabalho tem como objetivo analisar e revelar como a arteterapia
pode contribuir, atravs das vrias manifestaes artsticas, para uma melhor
qualidade de vida na terceira Idade, tomando por base o estudo desenvolvido junto a
um grupo de idosos do bairro de Mirassol, em Natal, Estado do Rio Grande do
Norte.
J por demais sabido que o advento da modernidade produz um homem
vitimado pelos males dessa nova era que conduz os seres a uma vida inautntica e
fragmentada. Pressionado por fatores sociais, polticos, econmicos e ambientais, o
ser humano vive em um estado crnico de tenses, tendo, freqentemente, a sade
abalada por estresse, doenas psicossomticas e neuroses. Mergulhado nesse
caos, o indivduo pensa uma coisa, sente outra e acaba agindo de forma inversa.
Esse ser dissociado em suas funes vitais o que poderia ser chamado de homem
que desconhece a si mesmo.
Diante desse contexto, uma das alternativas para os numerosos "doentes da
civilizao" seria a reintegrao de suas diferentes funes orgnicas e psquicas,
restabelecendo sua coerncia e unidade para fazer frente s presses da existncia.
Tal restabelecimento pode advir com o uso da arteterapia, atuando como
instrumento capaz de possibilitar uma melhor qualidade de vida para os que esto
no chamado grupo da Terceira Idade, objeto deste estudo, valorizando a sua auto-
estima e criatividade, atravs das vrias manifestaes artsticas.
Em se tratando de idoso, sabe-se que a evoluo biolgica do ser humano,
desde o nascimento velhice, em seu processo vital, afetada por inmeros
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fatores: polticos, sociais, profissionais, ambientais e outros, alm da programao
gentica. Sob essa perspectiva, cada pessoa envelhece de maneira diferente, e seu
declnio psicobiolgico uma expresso de sua existncia e estilo de viver integrado
dentro de contextos maiores que os afetam continuamente.
As circunstncias que interferem na histria pessoal de cada um podem
causar direta ou indiretamente enfermidades ou distrbios diversos. Na vida da
Terceira Idade, essa realidade no diferente. Tais problemas se acentuam pela
solido e abandono social a que se v relegada a grande maioria dessa populao,
aps a aposentadoria ou a fragmentao familiar.
O processo de envelhecimento como um todo uma espcie de reao em
cadeia, na qual uma mudana brusca pode desencadear outras reaes,
contribuindo, assim, a um declnio mais acelerado na velhice.
Desse modo, a reabilitao ou a preveno de males geritricos deve ser
pensada, tambm, como um processo unitrio que abrange nveis orgnicos,
motores, afetivos, intelectuais e sociais.
Ao considerar os fatores que afetam os indivduos nessa fase da vida, e para
que eles preservem o maior tempo possvel sua autonomia e bem-estar, novas
alternativas esto, hoje, sendo utilizadas. Uma delas, no caso em anlise, acontece
atravs da arteterapia. Tal procedimento visa a produzir modificaes na qualidade
de vida dos idosos, melhorando funes e facilitando a expresso de
potencialidades latentes.
A arteterapia envolve um conjunto de terapias expressivas, que
contemplam cincias como a Biologia, a Antropologia, a Sociologia, a Etiologia e a
Psicologia. Ela engloba essas cincias, na medida em que atua em diversas reas
do ser, ou seja, em seus aspectos psicomotor e social, garantindo um equilbrio no
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s teraputico, mas tambm bioenergtico. A eficcia de seus exerccios est
enraizada na integrao entre a msica, o movimento, a vivncia e outras
manifestaes artsticas, constituindo um todo organizado, em que cada um dos
elementos inseparvel da totalidade.
Dessa forma, suas partes esto dinamicamente conectadas, de tal modo que
a modificao de uma produz uma mudana em todas as outras. No trabalho com a
Terceira Idade, as vivncias, dentro da arteterapia, se constituem um recurso
fundamental para seu desenvolvimento psicomotor e afetividade.
Assim sendo, tal manifestao artstica se revela como um instante vivido. A
vivncia emerge no instante em que se est vivendo e tem uma fora real que
compromete todo o corpo. Pode ser evocada, mas nunca dirigida pela vontade.
Nesse processo, a emoo e a vivncia constituem o princpio regulador das
funes neurovegetativas do indivduo, ativando ou moderando suas atividades.
Alm disso, induzem mudanas na regulao visceral, na percepo e nas
diversas formas de comunicao humana, onde no esto excludas as
funes cognitivas, a conscincia e o pensamento simblico que viriam
posteriormente, como o caso em questo.
A induo freqente de vivncias, atravs de exerccios arteteraputicos,
reorganiza respostas diante da existncia. Atravs do processo vivncia-
conscincia, produzem-se mudanas existenciais com um novo tipo de
aprendizagem para a vida, a partir dos ncleos afetivos.
Diante disso, a arteterapia pode contribuir como fonte curativa quando
adequadamente aplicada em grupos especficos com caractersticas semelhantes,
como idosos, crianas, adolescentes, gestantes e pessoas com dificuldades para
estabelecer vnculos profundos. Alm disso, ela tambm pode ser utilizada em
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pessoas que se encontram em estado depressivo, insegurana, angstia,
egocentrismo, carncias afetivas, estresse e falta de motivao. Percebe-se, desse
modo, que a arteterapia pode ajudar como fonte teraputica numa ampla
diversidade de problemas e quadros clnicos, porque ativa funes gerais, tais como
a expresso da identidade, a comunicao afetiva e as funes integrativas do
organismo.
Para consolidar a exposio e anlise do tema, o presente trabalho foi
dividido em trs captulos.
No primeiro momento, esto trabalhados os temas da insero do idoso na
sociedade atual. O idoso vem se inserindo numa ordem social que o estigmatiza e o
isola. Neste sentido, ele acaba vivendo num contexto de opresso social,
interiorizando preceitos que contribuem para o enfraquecimento psicolgico e motor.
J o segundo captulo apresenta a arteterapia como uma importante
ferramenta para ajudar a reverter o quadro exposto no primeiro captulo, na medida
em que, atravs da arte, se cria um ambiente nos quais os idosos re-significam as
suas prticas e o seu estar no mundo. Isto acarreta numa melhora da qualidade de
vida.
O terceiro captulo consiste no estudo da contribuio da arteterapia no grupo
de idosos Maria Nzia de Medeiros, do bairro de Mirassol, situado na cidade de
Natal/RN. Foi caracterizado o grupo, apresentadas as vivncias, como tambm as
tcnicas de arteterapia utilizadas para envolver o grupo, visando a elevao da
qualidade de vida na terceira idade.
Foi feita tambm uma anlise das atividades desenvolvidas no grupo de
idosos em questo, visando estabelecer as linhas gerais de contribuio para os
idosos do grupo em estudo: Maria Nzia de Medeiros.
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Por fim, foram tecidas as consideraes finais, nas quais constam os
resultados das observaes e relatos obtidos das vivncias junto ao grupo em
estudo, quando se confirmaram os benefcios proporcionados pelas tcnicas
arteteraputicas, confirmando tambm sua aplicabilidade ao segmento constitudo
pela Terceira Idade, objeto deste estudo.
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2 O IDOSO NA SOCIEDADE ATUAL
O envelhecimento populacional hoje um fenmeno universal e uma
experincia individual, que faz parte da aventura humana confrontada finidade, no
contexto de um grupo social, cultural e afetivo.
O quadro do crescimento demogrfico do Brasil, com nfase aos idosos,
bastante esclarecedor. Segundo dados preliminares do Censo 2000, do IBGE, a
populao total do nosso pas alcana o patamar de 170 milhes de pessoas, sendo
que 8,6% so idosos. Um nmero bastante significativo para ser desconsiderado.
No entanto, os idosos e seus problemas tm tido pouca importncia nos
debates ticos e bioticos, provavelmente devido ao "recalque" da morte na cultura
contempornea, simbolizado pelas metforas da "juventude eterna" e da "sade
perfeita", que implicam a idia de que a velhice uma doena a ser prevenida e
tratada. A velhice da falta de dinheiro, da solido, da aposentadoria e da viuvez,
muitas vezes considerada um problema social, constitui-se em fonte para matria
jornalstica, sempre explorada pela mdia, de acordo com a viso sensacionalista e,
s vezes, equivocada do editor.
Convm citar Salgado (2005, p.1):
O envelhecer deve ser visto como um processo contnuo de crescimento intelectual, emocional e psicolgico. Deve ser o momento em que, ao se olhar o que foi vivido, nos permitamos sentir alegria pelo que foi conseguido, apesar de serem reconhecidos alguns fracassos e erros. A velhice comea por volta dos 65 anos e se caracteriza por um declnio gradativo do funcionamento de todos os sistemas corporais. Entretanto, ao contrrio do que muitos acreditam, a maioria das pessoas da terceira idade conservam um nvel importante de suas capacidades cognitivas e psquicas. Embora em qualquer idade seja possvel morrer, a velhice concentra um acmulo de perdas. So amigos, familiares e colegas que se vo, alm de ser necessrio superar mudanas em vrios setores como no trabalho e na sade. Torna-se importante elaborar a proximidade da
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prpria morte, pois quem no pode aceitar sua finitude ou se sente frustrado com o curso que sua vida tomou, ser invadido pelo desespero de perceber que o tempo muito breve para recomear uma nova vida. Saber envelhecer no fcil, principalmente numa sociedade que cultiva o novo, as cirurgias plsticas, o poder e a produtividade. Saber envelhecer um aprendizado contnuo, aceitar as novas limitaes que o tempo traz, no encarar a aposentadoria como um vazio, mas aprender a usar e desfrutar desse momento livre para buscar momentos de prazer. renunciar a uma antiga posio de autoridade e aceitar que um estilo de vida produtiva se fecha para que outro tipo de vida aparea. Quem se recusa a aceitar as mudanas que essa fase da vida traz, pode viver em um constante estresse e pessimismo perante a perda de prestgio e do poder aquisitivo, alm de ter uma reduzida auto-estima. Um envelhecer repleto de sentido aquele momento no qual predominam uma atitude contemplativa, sem ser esttica, e reflexiva. o momento em que a pessoa se reconcilia com seus fracassos, erros e defeitos, aceitando a si mesmo e aprendendo a desfrutar dos prazeres que essa etapa possibilita.
Existem dificuldades por parte dos brasileiros em apreender e aceitar que o
Brasil, com grande proporo de jovens, conviva ao lado de expressivo grupo etrio
de mais de 60 anos. Isso representa um grande desafio, pois h carncia de
recursos e grande demanda de servios para todas as faixas etrias.
Indiferente de qualquer classe social, a velhice representada como um
processo contnuo de perdas e ausncia de papis sociais, e nada pode comparar-
se perda do seu papel maior no ncleo familiar. Todos enfrentam e sofrem a
segregao, tanto decorrente de uma instituio asilar quanto daquela sentida nos
atendimentos ambulatoriais; ou mesmo aqueles que esto sendo cuidados em suas
residncias, onde a queixa a esse assunto uma constante. Esses idosos sentem-
se isolados, ss, sem auto-estima, sentem-se desvalorizados, chegando perda de
sua identidade.
Nesse contexto, entram facilmente em depresso, pois se sentem no
valendo nada.
A depresso , principalmente entre os idosos, uma doena com importantes
repercusses sociais e individuais, de difcil diagnstico, devido ao fato de afetar no
somente o convvio social, impossibilitando uma rotina de vida satisfatria, mas
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tambm pelo risco inerente de mobilidade e cronicidade. Existem muitas dificuldades
em discernir os fatores psicolgicos dos orgnicos e, em se tratando do paciente
geritrico, essas so ainda maiores; no quando esto relacionadas etiologia, mas
tambm ao prprio reconhecimento de sua existncia.
A depresso costuma ser subestimada pelos profissionais de sade e
familiares, como tambm pelo paciente. Os idosos tendem a preservar uma imagem
de sade, justificando suas limitaes atravs da doena. A importncia do seu
reconhecimento que, ao estabelecer a terapia indicada, devolve-se ao indivduo a
capacidade de amar, pensar, interagir e cuidar de pessoas, trabalhar, sentir-se
gratificado e assumir responsabilidades.
Todo ser humano experimenta, de diferentes maneiras, as vrias crises de
sua existncia medida que evolui e as enfrenta. Quanto mais capaz de enfrentar e
sobrepujar essas crises, menos sintomas desenvolver.
De acordo com Papaleo (1996, p.160), inmeras dessas doenas
subestimadas podem ser correlacionadas a depresso:
O idoso, no raramente, portador de uma ou mais doenas crnicas que so relacionadas com manifestaes depressivas como, por exemplo, doena cerebrovascular, doena reumatide etc. Alm disso, oportuno lembrar a associao de depresso e demncia (pseudodemncia depressiva). Falar de velho implica problemas de ordem biolgica, social e psicolgica, que podem ser considerados fatores facilitadores da depresso no idoso.
Dentro desse quadro, a arteterapia mostra-se um tratamento eficaz na
elaborao e resoluo de conflitos internos e emoes, trazendo-os tona,
podendo, ento, ser expressos e reativados por meio de terapias expressivas.
A maioria das pessoas na terceira Idade se mostra carrancuda, insegura. s
vezes, at um pouco radical em sua postura de vida. Para penetrar nesse
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fechamento asilar, necessria muita compreenso e pacincia. Assim, com o uso
de terapias expressivas adequadas a esse universo, pode-se obter excelentes
resultados.
O termo terceira idade no se refere, necessariamente, a uma forma
cronolgica precisa. Suas conotaes tm um vis depreciativo. A questo do idoso
na modernidade vem sendo tratada como uma questo pblica. Cada vez mais o
Estado e a sociedade vem buscando meios de orientao e ordenao da
populao idosa. Estas reas da vida social vm gestando a idia de que
necessrio tratar os idosos assim como eles merecem. Afinal, eles j trabalharam
durante toda a vida e devem, no momento da velhice, usufruir o resto de vida que
lhes restam e no mais trabalhar nem contribuir com alguns impostos.
Assim, de acordo com Haddad (1986), a terceira idade exprime,
metaforicamente, uma nova situao; no sinnimo de decadncia, pobreza e
doena, mas um tempo privilegiado para atividades, livres dos constrangimentos do
mundo profissional e familiar.
No entanto, necessrio que a comunidade de aposentados, com peso
forte na sociedade, responda a essas expectativas com sade e meios adequados
para fazer valer as reais expectativas de que essa etapa da vida seja a de satisfao
pessoal. Portanto, na mesma medida em que surgem novos direitos sobre o idoso,
aparecem tambm novas vivncias da terceira idade e novas representaes acerca
do que envelhecer.
As novas imagens so de que o envelhecimento ganha cada vez mais maior
espao na mdia. Os diversos produtos lanados, respondendo ao interesse de
rejuvenescer, acabam por desvirtuar o sentido do envelhecimento, atribuindo
caractersticas negativas de quem atinge a velhice. Aliado a isso vem o fato de que o
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idoso acaba sendo estigmatizado, ficando restrito a ser visto como uma pessoa que
ir perder as suas potencialidades fsicas e mentais.
importante relacionar ao fato que, segundo Haddad (1986), apesar de haver
a promessa na modernidade de uma velhice de usufrutos pessoais, o Estado e a
sociedade no vm se preparando para o crescimento da populao idosa,
contribuindo ainda mais para surgirem vises deturpadas do que o
envelhecimento.
Teoricamente, os idosos no podem ser mais vistos como pessoas
desprivilegiadas, pois tm acesso aposentadoria e a direitos que camadas da
sociedade, com idade cronolgica inferior, no tem. Com isso, muitas pessoas
acabam por ver, nos idosos, um problema para os rombos da previdncia e do
Estado. Porm, isto ir depender da posio de poder que o indivduo veio
ocupando no decorrer de sua vida.
A maioria da populao vive com uma penso ou aposentadoria minguada
que no d para suprir as condies mnimas de existncia. Muitas vezes, o Estado
vem, historicamente, retirando as verbas da previdncia para pagar outras dvidas;
no entanto, tenta incutir nos idosos o problema de seus dficits. Em suma, muitas
vezes, a sociedade confunde aposentadoria com ser sustentado pelo Estado.
De acordo com Haddad (1986), outro fato importante das representaes
sociais sobre os idosos, na contemporaneidade, a de que qualidade de vida
confundida com bem-estar esttico. Com isso, os idosos que, pelas suas prprias
condies de envelhecimento biolgico, apresentam flacidez na pele e outras
manifestaes da velhice, acabam sendo confundidos com pessoas que esto no
fim da vida e que, para reverter tal quadro, precisam desesperadamente melhorar a
aparncia para viver mais. O que interessa no a sade, mas a esttica.
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Portanto, as rugas e a flacidez so confusamente relacionadas com
condies de degradao intelectual e fsica. Sendo assim, constrangidos e
orientados para o consumo pela mdia, as formas de consumo cultivadas pela
populao idosa passam a se configurar constantemente pela compra de
cosmticos e produtos milagrosos de rejuvenescimento.
A sociedade contempornea tambm, na busca incessante de inserir todos os
indivduos na cultura do consumo, envelhece a pessoa com pouca idade, visando
torn-la um consumidor em potencial, ao passo que infantiliza o idoso, para que este
no saia da cultura do consumo.
No entanto, segundo Haddad (1986), estas representaes no se expressam
no que diz respeito questo da insero do idoso no mercado de trabalho. Neste
mbito da vida social, h a valorizao da juventude, estigmatizando a velhice como
perda da capacidade mental e declnio das condies fsicas. Essas perdas no so
encaradas como questes pblicas, mas como descuidos individuais daqueles que
no souberam cuidar do seu processo de velhice. A gerontologia, cincia que
estuda, de maneira transdisciplinar, a velhice e a geriatria, cincia que estuda a
velhice do ponto de vista mdico, se formam como discursos sociais que legitimam a
idia de que a possvel degradao da velhice uma questo individual.
Portanto, os idosos na contemporaneidade so estereotipados, passando a
ser vistos como pessoas que sofrem o declnio inevitvel da sua condio fsica e
mental, ocasionando num processo de sua prpria infantilizao, pois acabam
sendo representados como crianas que precisam de cuidados. Cabe a esse
indivduo, na condio moderna, fazer uso de medicamentos, vitaminas, cremes e
outros produtos estticos, para evitar os males da velhice. Caso contrrio, esse, pela
sua condio fsica desfavorvel leia-se esttica ter que pagar o seu descuido
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para com os cuidados necessrios para a consolidao de um envelhecimento
tranqilo e seguro, sendo excludo do convvio social e atingindo o fluxo natural da
vida a morte.
A tarefa da arteterapia mostrar como reconhecer e como enfrentar alguns
desses problemas de maneira construtiva. , portanto, reforar a conscincia de ns
mesmos, encontrar foras integradoras que nos permitam resistir, apesar da
confuso que nos rodeia.
Fabietti, ao discorrer sobre a Terceira Idade, mostra-nos como Beauvoir
encara a questo da velhice; esta consegue enfocar de forma cristalina a diferena
de tratamento que dado ao idoso enquanto pessoa, bem como ao envelhecimento,
reconhecendo-o como um processo. Observe o que ela expressa sobre o assunto:
Sociedades harmoniosamente equilibradas tendem a assegurar aos velhos um lugar descente, confiando-lhes tarefas adequadas s suas foras, mas negam-lhes quaisquer privilgios. Segundo Simone de Beuavoir (1975), uma sociedade desvenda seus princpios e afins, ao revelar de que modo se comporta em relao aos seus velhos. Infelizmente, nas sociedades contemporneas, o velho vive uma situao de escndalo vitimado por trs males: sade precria, indigncia e solido. A situao trgica e complexa em seu quadro de isolamento, doena, desrespeito, excluso, dependncia, carncias mltiplas e perda de papis. Esta situao se deve em grande parte existncia de atitudes negativas e esteretipos sobre a velhice, tanto herdadas de nossa tradio cultural, como determinadas por fatores contextuais atuais. (FABIETTI, 2004, p, 42)
Assim, o idoso precisa ser visto com uma pessoa que ainda conserva suas
capacidades. Tanto a sociedade como a prpria famlia precisam estar atentas e
cuidar com mais carinho dessa parcela da populao. Viver num ambiente
agradvel, prazeroso e que respeita suas limitaes pode facilitar a reconstruo do
idoso, fazendo-o reviver passagens significativas de sua mocidade como tambm
resgatar sua identidade.
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Lembrar, muitas vezes, no reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com
as imagens e idias de hoje, as experincias do passado. Memria no s sonho,
trabalho. Esse trabalho que emerge atravs do fazer na arteterapia, alm de
prazeroso, nos leva elaborao consciente de material inconsciente que vem
tona, impulsionado pela criatividade de cada pessoa.
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3 ARTETERAPIA E CRIATIVIDADE
A arteterapia integra os conhecimentos que advm da Psicologia s
atividades artsticas, trabalhando com o potencial teraputico, pedaggico e de
crescimento pessoal contido em todas as formas de Arte, utilizando-se de tcnicas
expressivas e vivenciais (desenho e pintura, colagem, modelagem e escultura,
dramatizao, conto de histrias, msica, dana e expresso corporal, relaxamento
e visualizao criativa, entre outros), a fim de facilitar o reconhecimento e
desenvolvimento de potenciais, o tratamento do sofrimento psquico, o
autoconhecimento, treinamentos e dinmicas de grupo.
A arte relaciona-se harmoniosamente realidade e fantasia, ao mundo
interno e ao externo, dando voz e visibilidade a nossos contedos simblicos.
Atravs desses contedos, podemos, ento, dialogar e nos espelhar, propiciando,
assim, nosso autoconhecimento e o desenvolvimento de nossa personalidade.
De acordo com Andrade (2000), ao trabalhar com elementos que
correspondem tanto natureza humana quanto planetria, os recursos artsticos
utilizados de forma teraputica promovem uma ampliao da conscincia de si, do
outro e do mundo. Um trabalho, nesse sentido, contribui para desenvolver a nossa
capacidade de atuar de maneira responsvel e criativa com relao a nosso
momento existencial e ao meio em que estamos inseridos. Os recursos artsticos
podem ser utilizados em diversos contextos (psicoterapia, oficinas de criatividade,
reabilitao, educao, trabalho comunitrio e institucional, empresas) e com todas
as faixas etrias. Alm disso, o caminho da Arte a servio do crescimento e da vida
pode diminuir e/ou neutralizar o impacto da violncia que presenciamos atualmente,
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proporcionando um contato respeitoso e amoroso entre o homem, seu semelhante e
seu meio ambiente, atravs de uma abordagem pacfica e tico-esttica da
existncia.
O ato de criar inerente ao ser humano e est relacionado ao expressar de
nossa existncia e nossas emoes mais profundas. A funo da arteterapia, nesse
caso, lidar com esse processo criativo. Um processo que abrange a habilidade em
usar o crebro para alterar, renovar e recombinar os aspectos da vida. Sentir o
mundo com vitalidade e fazer um novo uso do que se percebeu. expressar nossas
vivncias e sonhos, conforme os sentidos, e descobrir novas formas segundo as
quais uma sociedade pode ser construda de modo mais harmonioso e equilibrado.
De acordo com Andrade (2000), a arteterapia o uso da arte como terapia.
Embora seja uma atividade milenar, se desenvolveu, efetivamente, h cerca de 60
anos. Consiste na criao de material sem preocupao esttica, e tambm na
expresso de sentimentos. como um momento catrtico, ou seja, um processo
anlogo a uma experincia vivida por algum ao recordar uma situao dramtica
que motivou seu problema, experimentando as mesmas emoes. Nesse momento,
o paciente aprende a lidar melhor com ele, superando-o. Ao reviver tais emoes,
tomando conscincia da origem de seu medo, comea a venc-lo. Isso recebe o
nome de catarse.
Tal processo vivencial muito sadio e faz com que o indivduo se reorganize
internamente. A arte por si s uma atividade regeneradora. No processo criativo, a
energia do inconsciente se liga a um arqutipo e o expressa numa linguagem
simblica. A arte um canal para um nvel no-verbal de percepo, que leva ao
processo de individuao. Neste processo, somos levados a nos confrontar com
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diversas facetas de nosso inconsciente que esto, geralmente, em conflito com
nossas idias e comportamento consciente.
Ela representa, ento, uma terapia que, atravs da estimulao da expresso,
do desenvolvimento da criatividade, favorece: a liberao de emoes, de conflitos
internos, de imagens perturbadoras do inconsciente; contato com ansiedades,
contedos reprimidos, medos; coordenao motora; o processo de individuao e
equilbrio fsico/ mental/ espiritual.
A arteterapia pode ser aplicada:
Em empresa ou instituies - no desenvolvimento da criatividade,
desenvolver o potencial pessoal e a diminuio do estresse;
Em escolas - trabalha o desenvolvimento da criatividade e o processo que
o criar envolve: medo da expresso, do julgamento, ansiedade, auto-
estima, segurana em grupo;
Em consultrios - com o processo criativo e o produto da expresso,
entendendo melhor o paciente e ajudando-o no processo de integrao de
si mesmo, o equilbrio;
Em atelis teraputicos, no atendimento a crianas, adolescentes,
adultos, terceira idade, excepcionais em geral (individual ou grupo).
No que diz respeito aos temas tratados na arteterapia, eles podem estar
associados auto-estima, amor incondicional, valores, expresso dos sentimentos
bloqueados, perdo, capacidade de entrega, afeto - ternura, agressividade, contato
com o Divino, autocrtica, limites, sexualidade - sensualidade, quebra da
armadura corporal, medo, produtividade, ideais de vida, criana interior, maldade x
bondade, masculino x feminino, natureza instintiva, morte x imortalidade, intuio,
unidade do homem com a natureza e fuso com a totalidade.
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Essa cincia teraputica envolve, nessa diversidade de funes, os processos
criativos do ser humano, para gerar processos construtivos atravs da arte. Sobre
isso, Fayga Ostrower (1978, p.142) ressalta:
Os processos criativos so processos construtivos globais. Envolvem a personalidade toda, o modo de a pessoa diferenciar-se dentro de si, de ordenar e relacionar-se com os outros. Criar tanto estruturar quanto se comunicar, integrar significados e transmiti-los. Ao criar, procuramos atingir uma realidade mais profunda do conhecimento das coisas. Ganhamos, concomitantemente, um sentimento de estruturao interior maior; sentimos que ns estamos desenvolvendo em algo essencial para o nosso ser. Da, se torna to importante para o artista ou para qualquer pessoa sensvel, saber do trabalho dos outros, ter contato com seres criativos, no no sentido de uma realidade, mas no sentido de um crescimento interior que tambm em ns se realiza, quando podemos acompanhar a realizao de outro ser humano.
De acordo com o expresso acima, a criatividade algo essencial para o
processo de crescimento, maturidade e expressividade do ser humano.
Diante de uma sociedade to conflituosa, com relao a valores esmagados
pelo egosmo, a arteterapia passa a ser um lenitivo, uma cura das angstias
existenciais dos indivduos.
Segundo Ostrower apud Morais, (1978, p.14), a arte uma forma de
crescimento para a liberdade, um caminho para a vida. A arte o conhecimento do
mundo interno do artista, no s a leitura do social, mas sendo ele artista de si
mesmo. O smbolo como meio de manifestao artstica promove o crescimento e
desenvolvimento da personalidade e mantm o equilbrio psquico, canalizando,
transformando a energia com a participao da conscincia na formao imagtica
do ser.
Sob uma viso teraputica, houve, no Brasil, grandes personalidades que
desenvolveram a arteterapia como tratamento clnico. Uma delas a psiquiatra Nise
da Silveira, que realizou um trabalho de terapia expressiva e arteterapia na seo de
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teraputica ocupacional do centro psiquitrico Pedro II, no Rio de Janeiro. Para esse
tratamento, ela usou tcnicas como pintura, argila, desenho, msica, dana e teatro.
Utilizando-se do universo simblico, os pacientes davam forma plstica e expressiva
s pulses primitivas de forma bruta, numa luta entre o instinto e o desejo, e a
necessidade de dom-los. Tal trabalho ensejava o antagonismo da vida instrutiva e
a moral social introjetadas nos pacientes, fazendo uma atividade embasada nas
teorias junguianas e a mitologia. Isso porque, segundo Jung, as imagens e
pensamentos carregados do emocional durante milnios e em diversas culturas
seriam os arqutipos, os quais trariam um entendimento do ser humano atravs do
tempo-espao.
Foi Jung, ainda, que, em 1920, utilizou a arte como parte do tratamento com
seus clientes. Por meio do desenho, o homem se expressa, utilizando os smbolos,
buscando a organizao e compreenso do prprio conhecimento. Jung via a
criatividade como uma funo psquica natural da mente humana, com a funo
estruturante do pensamento. Nesse sentido, essa criatividade podia ser usada como
um componente de cura.
Nise da Silveira ainda pesquisou e estudou as relaes entre arte e loucura.
Usando a intuio atravs da arte, pessoas privadas da conscincia conseguiram
expressar sem precisar de palavras. Em 1946, ela montou Oficinas de Criao
Artstica e ps seus clientes para pintar, modelar e fazer teatro. O importante, para
ela, nessa experincia, era propiciar a eles um canal para expressar sentimentos.
Diante disso, os trabalhos com arte adquiriram importante funo como instrumento
de trabalho para o doente mental reconstruir a realidade.
Durante os anos de 1940, 1950 e 1960, Margaret Nauberg desenvolveu e
utilizou a teoria em arteterapia com base na teoria psicanaltica, aplicando-a no
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tratamento psiquitrico. Nesse trabalho, ela destacou a importncia do equilbrio e
desenvolvimento sadio do ego, a liberao dos contedos inconscientes por meio de
projees artsticas imaginativas e criativas. Foi, ainda, responsvel pela
sistematizao da arteterapia como profissional. Observe as palavras de Andrade
(2000, p.72) sobre o tema:
O processo de arteterapia dinamicamente orientado baseado no reconhecimento de que os pensamentos e sentimentos fundamentais do homem so derivados do inconsciente e, freqentemente, so expressos mais em imagens do que em palavras.
Na verdade, atravs da arte que o homem vivencia e re-significa seu mundo
interno e externo, expressa o que sente, representando os sentimentos: percepes,
sensaes, fantasias, desejos, sonhos, traumas, alegrias, expresso. Ela pode ser
vista como instrumento da psicoterapia, atuando como uma funo estruturante,
medida que possibilita o indivduo a se comunicar com o interior e exterior,
dialogando com o outro, amadurecendo emocional e psicologicamente.
O que se percebe, atravs dessa arte, que o sujeito se torna livre, faz
descobertas, tem liberdade e segurana de escolher qual caminho seguir. Assume a
autodireo da sua prpria vida, e do seu comportamento. Encaminha-se para
tornar-se um processo, uma fluidez, uma mudana, segue uma direo que
possvel se mover, para uma abertura amigvel com sua prpria experincia,
aprendendo a ouvir-se com sensibilidade. Dessa forma, o ser se torna capaz sua
aceitao, como tambm da experincia dos outros, de um modo compreensivo.
Confia nele mesmo, na medida que se valoriza e se torna criativo, elevando sua
capacidade de transformao e de crescimento. Ou seja, segue em busca da
conscincia e da expresso, esteticamente, tornando-se mais adequado a ser o que
realmente se .
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4 ARTETERAPIA COM IDOSOS
Como j foi dito acima, o idoso vive num contexto social no qual isolado e
estigmatizado. A partir de construes de pensamentos ideologizantes, eles so
considerados culpados pelos desequilbrios das contas do Estado e dos rumos da
economia, pois, segundo tal linha conservadora, o Estado no tem condies de
arcar com os gastos assistenciais, previdencirios e de sade que o idoso necessita.
Aliado a isso vem o fato de que, a todo momento, a sociedade
bombardeada por saberes miditicos, que preconizam o uso de cremes e
tratamentos como soluo para a envelhecimento. As rugas e o envelhecimento da
pele passam a ser vistos como um mal que deve ser combatido, perdendo de vista
que as rugas e o envelhecimento da pele, antes, era sinal de conhecimento,
experincia de vida, respeito e sabedoria.
Na ordem estabelecida, os idosos so representados de maneira infantil, para
que no saiam da escala de consumo, e/ou como pessoas que necessitam de
cuidados especiais, pois se encontram esclerosadas. Por isso, os idosos so
tratados como crianas, que no so mais capazes de exercer um papel ativo na
famlia, na comunidade e na sociedade como um todo. Dessa forma, a terceira idade
passa a ser vista como o ltimo estgio para a morte e no mais como mais uma
fase da vida.
A arteterapia pode ajudar a reverter o quadro de isolamento e opresso social
vivido pelos idosos, criando um ambiente favorvel para que os sujeitos atribuam
novos significados vida e ao estar no mundo, contribuindo para uma existncia
mais plena. Isto se concretiza porque ela oferece oportunidades de explorao dos
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problemas, dos traumas dos indivduos, bem como das suas potencialidades,
atravs da expresso verbal e no-verbal, daquilo que se encontrava perdido no
inconsciente.
A vivncia teraputica permite que conflitos sejam revividos atravs da arte,
de maneira menos dolorosa, favorecendo o desenvolvimento pessoal. O potencial
criativo da arte contribui para que os idosos se coloquem e se reconheam como
indivduos ativos dentro da sociedade, redimensionando suas atitudes.
Tal processo poder ser analisado no grupo de idosos Maria Nzia de
Medeiros, a partir da descrio e anlise das tcnicas de arteterapia utilizadas.
4.1 CARACTERIZAO DO GRUPO
O trabalho desenvolveu-se junto aos membros do Clube de Terceira Idade
Maria Nizia Medeiros, que tem como sede as instalaes do Conselho Comunitrio
do bairro Mirassol, zona sul da capital do Estado. As atividades foram desenvolvidas
durante o perodo do estgio supervisionado, como pr-requisito de concluso do
Curso de Especializao em Arteterapia.
O universo para a realizao dessa atividade foi constitudo por um grupo de
dez pessoas, em sua totalidade por mulheres idosas, na faixa compreendida entre
55 a 80 anos de idade. Inicialmente foi apresentada ao grupo uma proposta para
desenvolvimento do estudo, a qual foi muito bem acolhida, sendo recebida de bom
grado e com muito entusiasmo. Tal fato contribuiu para despertar um grau de nimo
e compromisso.
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Com relao ao perfil do universo pesquisado, merece, aqui, observar que as
participantes do grupo so possuidoras de estados civis diferenciados, sejam:
vivas, casadas, solteiras, divorciadas. Algumas fazem parte de famlias
consideradas de classe mdia, e grau de instruo entre o ensino fundamental e
ensino mdio. A maioria exerceu profisses como professoras, costureiras,
servidoras pblicas, domsticas e outras.
No primeiro contato com o grupo de senhoras, procurou-se transmitir a idia
de que as vivncias a serem desenvolvidas junto a elas eram pautadas na viso de
que o idoso no podia ser reconhecido como uma pessoa limitada, invlida, com
baixa auto-estima e doente, e sim como um ser dinmico, com capacidade de
adaptao, aberto s mudanas, flexvel, preocupado em alimentar sua vida interior.
Destacou-se a importncia de se descobrir o lado criativo, adormecido, presente em
cada uma, procurando conhecer-se melhor e percebendo como se encontram e se
comportam como um indivduo na sociedade. Esse primeiro dilogo com o grupo
pautou-se na seguinte linha de ensinamento:
preciso resistir velhice e combater seus inconvenientes fora de cuidados; preciso lutar contra ela como se luta contra doena; conservar a sade, praticar exerccios apropriados, comer e beber parar recompor as foras sem arruin-las. Mas no basta estar atento ao corpo; preciso ainda mais ocupar-se do esprito e da alma. (CCERO apud FABIETTI, 1997, p.31).
No total, foram 20 encontros no perodo de agosto de 2003 a maro de 2004.
Tais encontros eram semanais, com durao de uma hora e trinta minutos, havendo
uma pequena interrupo no perodo natalino.
Inicialmente foi orientado ao grupo que as componentes se expressassem
espontaneamente, utilizando-se de diversas manifestaes artsticas, tais como:
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desenho, pintura, expresso corporal, dana, recorte e colagem, rabisco, escrita,
msica e poesia. Procurou-se demonstrar a no necessidade de se preocupar com a
produo artstica, ou seja, com a tcnica e a beleza; e sim como um meio, um
caminho para exercitar a criatividade e melhorar a auto-estima do grupo.
A arte um meio de expresso que a linguagem verbal no consegue
transmitir e expressar:
Atravs da arte, percebemos que a criatividade e atividade artstica agem como facilitadoras e catalizadoras do processo de resgate de qualidade de vida, de resgate do sentido mais humano de viver. (CIORNAI apud FABIETTI, 1995, p.60)
Outro procedimento utilizado no trabalho com esse grupo de Terceira Idade
foi a expresso corporal, a partir de tcnicas de sensibilizao; ou seja, propostas
iniciais nos encontros que permitiam aos participantes estarem presentes,
desligando-se de seus problemas. Era bem claro o modo como chegavam; aps a
proposta, se comportavam num ritmo mais harmonioso.
4.2 VIVNCIAS
Neste nvel de trabalho, o propsito foi utilizar com o grupo no somente a
explorao de materiais, mas tambm a sensibilizao e conscientizao do corpo.
Perceber seu corpo, sentir as tenses musculares, os batimentos cardacos, a
respirao, deixar fluir seus gestos, a entonao da fala, estimulando-se adquirir
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confiana, reforar integrao grupal e mobilizar as participantes frente aos desafios
de suas necessidades vitais.
De acordo com Bezerra (2003, p.51):
O corpo essencial quando sentido, percebido e vivenciado de forma unitria. Psique e soma esto em constante interao, de forma que a razo no domine a emoo, ambas devem estar conectadas e interagindo entre si. Deve-se reconquistar um espao igualitrio entre essas duas instncias do ser. O ser consciente das suas sensaes e percepes racionais (mente e emocionais - corpo), sabendo e trabalhando os seus limites e potencialidades de uma forma espontnea e autntica, reencontra-se com a natureza e entrega-se ao viver sem tantas amarras e culpas, logo, interage bem consigo mesmo, com outros, com o ambiente natural e com o cosmo.
O corpo no se limita a um conjunto de rgos, mas a forma como o ser
humano se relaciona com outros seres reflete a multiplicidade das determinaes
que o marcam para alm de seu carter anatomo-fisiolgico.
A psicoterapia corporal , ao menos, to cientfica quanto outra forma de psicoterapia; e, visto que o corpo mais diretamente observvel, alguns dos seus parmetros se prestam mais facilmente evidncia direta, por exemplo, os estados de tnus muscular ou ritmos da respirao so observveis tanto quantitativamente como qualitativamente. (BOADELLA apud BEZERRA, 1997, p.6)
Durante as vivncias, foram realizadas vrias atividades ldicas, com
explorao de diversos materiais, com movimentos, dana e improvisao como
forma de promover a integrao do grupo, equilbrio entre as participantes. Com o
trabalho corporal, trabalha-se nossa mente e psique para a experincia criadora.
A psicanlise partindo do corpo descobriu a alma, isto , partindo do biolgico descobriu o psquico. Embora a estrutura e o funcionamento do psquico seja feito em termos da linguagem que contm uma dimenso formal apreensvel pelo sensorial, isto , pelos rgos dos sentidos, o aspecto mais relevante do psquico seu aspecto no-sensorial. (CASTRO apud BEZERRA, 1995, p.302)
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preciso renovar a inteno de viver vidas ativas, com objetivos a serem
alcanados. Nesse sentido, muitas pessoas idosas podem melhorar gradativamente
sua capacidade motora, agilidade e reaes mentais.
Homem que envelhece deveria saber que sua vida no est em ascenso nem em expanso, mas um processo interior inexorvel produz uma contrao da vida. Para o jovem, constitui quase um pecado ou, pelo menos, um perigo ocupar-se demasiado consigo prprio, mas para o homem que envelhece um dever e uma necessidade dedicar ateno sria ao seu prprio si-mesmo. Depois de haver esbanjado luz e calor sobre o mundo, o sol recolhe os seus raios para iluminar-se a si mesmo. (JUNG, 2000, p.349)
4.2.1 Expresso corporal: sensibilizao para as vivncias em arteterapia
Durante os encontros, a equipe teve a preocupao de trabalhar utilizando
msicas que estimulassem movimentos corporais, como forma de obter um fluxo
maior de energia. Com a sensibilizao, foi preparada uma proposta a ser
desenvolvida, permitindo s participantes o desligamento do mundo externo e
facilitando o encontro com o mundo interno. Percebeu-se que o grupo se envolvia
expressando-se espontaneamente: cantavam, danavam e riam.
Criar tocar a essncia mais profunda do ser humano. sentir a beleza do sutil, em um espao onde era nada, e que de repente passa a ser uma forma, um contorno emerge um gesto; enfim, a expresso de um sentimento presente dentro de ns. redimensionar o que existia em direo a algo que passa a ser conectado com os valores internos e constituintes. (ALLESSANDRINI, 1999, p.31)
Atravs do entendimento de que atravs da msica e da dana que se
possvel trabalhar emoes e estabelecer comunicao significativa de aprendizado
e troca, foram realizadas as vivncias com o grupo de idosos. De acordo com
Laban (1978), os sinais rtmicos emitidos por tambores tiveram importante papel na
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rea da comunicao. Vale, ainda, ressaltar a sensibilidade dos povos primitivos na
observao dos movimentos, podendo ser visto como uma forma de linguagem no-
verbal que transmite mensagens significativas.
Arcuri (2004, p.21) define as atribuies do corpo e como ele se relaciona
com a questo expressiva do mesmo:
O corpo um instrumento de relacionamento e pode tanto ser receptivo quanto expressivo. O corpo pode ser o canal eficiente de expresso dos nossos sentimentos e por isso tem que ser flexvel; os trabalhos corporais tanto funcionam para oferecer ao corpo alguns estmulos, quanto para desbloquear e permitir que ele se expresse mais livremente.
No caso do som, , na realidade, um veculo na articulao de atividades e
mobilizaes para que as pessoas, atravs dele, possam se conhecer tendo contato
com algumas questes muitas vezes difceis de serem verbalizadas, ampliando,
assim, a conscincia sobre si mesmo, sobre o outro e o mundo.
O trabalho relacionando os materiais possibilita o contato. Assim, o trabalho
com tcnica durante as vivncias proporciona uma organizao interna que, aos
poucos, vai sendo assimilada, o que significa um processo de maturao emocional,
motora, espacial, visual, tctil e gestual. Desta forma, o grupo passou por um
processo de crescimento, onde foi oferecida a cada um a possibilidade de ser si-
mesmo, liberando potencialidades e capacidades a serem desenvolvidas e
aprimoradas, de forma criativa e flexvel. (Ver figura 1)
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Figura 1 Momento de realizao das atividades corporais Fonte: Dados da Pesquisa
Para ter uma maior compreenso do sentido dos relatos das vivncias
realizadas na prtica de estgio, junto ao grupo da Terceira Idade, buscou-se nos
ensinamentos de Ciornai (1995, p.60) a base para o estudo, ao afirmar que:
Ao contatar o mundo que o rodeia, o indivduo convidado pela vida continuamente a viver o novo, a fazer novas escolhas, tomar decises, adentrar mistrios, caminhos desconhecidos, estabelecer novas relaes e descortinar novos horizontes.
Com base no princpio de encontro com o novo, torna-se possvel o ser
humano fazer nascer, brotar a criatividade. Alm disso, pode-se perceber o ser em
sua singularidade, ajudando-o a expressar a sua necessidade, como tambm o
levando a aprender com a prpria experincia.
Assim, pode-se acrescer que foi num ambiente acolhedor, de respeito e
confiana mtua que, segundo seus relatos e observaes realizadas na
convivncia, o grupo experimentou momentos de crescimento e aprendizagem. A
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experincia vivida foi semelhante ao processo expresso pelo pensamento, aqui
citado, de Natalie Rogers:
Eu imagino uma rvore; as razes so a filosofia centrada no cliente, to bsica para o crescimento humano; o tronco o contexto social no qual existimos e os inmeros galhos e flores so os modos de criatividade e beleza que temos dentro de ns. Estamos ainda para descobrir os frutos verdadeiros. (ROGERS apud ANDRADE, 2000, p.138)
4.2.2 Oficina criativa de confeco de bonecos
Nesse encontro, o objetivo era trabalhar as emoes, retorno ao mundo
interior, atravs de processo vivencial na construo de um boneco. Essa
construo foi sendo conduzida de forma ldica e interativa, no sentido de permitir a
comunicao e criatividade entre os participantes.
A fim de preservar a identidade das pessoas que participaram dessas
vivncias, sero citadas apenas as abreviaturas de seus nomes. Esse grupo era
composto por dez pessoas: IN, NZA, BHT, GDS, EV, ANT, RO, RT, PA e CE.
Num ambiente acolhedor e receptivo foi exposto o material para a criao do
boneco. Antes de dar incio s atividades, foi realizado um relaxamento ao som de
uma msica ambiente.
Nessa fase, foi sugerido que cada uma procurasse escutar o som e
movimentar o corpo, danando conforme o ritmo. Orientou-se para que cada
participante fizesse o seu movimento, sentisse o corpo no seu ritmo, enquanto
danava, em movimento individual. As reaes foram as mais diversas: algumas
riam; outras falavam: tenho de me movimentar devagarinho por conta do meu
joelho. Em seguida, pediu-se para que escolhessem uma parceira para que
trabalhassem em dupla. Foi sugerido, ainda, que cada uma criasse um movimento
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diferente. Ao trmino, elas expressaram suas sensaes: passou o cansao;
outras falaram: foi bom, foi timo.
Depois disso, o trabalho de construo foi iniciado. importante salientar que
cada uma poderia fazer o boneco da forma que achasse melhor. O papel da
orientadora junto ao grupo era de encorajamento, de ajuda. Essa mediao teve
como respaldo terico os relatos de alguns estudiosos.
De acordo com Santos (1999), mediador aquele que permite um contato
com o mundo interno. atravs dele que ocorre a identificao da pessoa com o
personagem (o boneco), no momento do confeccionamento. Numa segunda fase, o
mediador auxilia na relao com o mundo externo, atravs do contato que o
personagem vai estabelecendo com o ambiente e com as pessoas.
No caso, em questo, aos poucos o grupo foi se envolvendo, fazendo suas
escolhas pessoais, expressando desejos, sentimentos e emoes, estabelecendo
contato com seu universo interior, sua infncia.
Pain, Jarreau (2001, p.135) falam da utilizao dessa vivncia para fins
psicoteraputicos. Nesse sentido, permitida a estimulao do questionamento de
cada participante, nos seguintes nveis significativos:
Aquele da fabricao do personagem;
Aquele de sua participao no cenrio;
Aquele de encontrar os meios de fazer-se compreender em uma
encenao;
Aquele do espetculo (pressupondo a capacidade de memorizao do
trabalho precedente, uma capacidade de improvisao para recuperar
situaes no-previstas, uma relativa apropriao de suas emoes que
lhe permite jogar diante do pblico).
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Nesse encontro, algumas participantes concluram a confeco da cabea,
colocando os cabelos e desenhando a expresso fisionmica; outras, num ritmo
mais lento, deram forma aos cabelos e deixaram a face do boneco para concluir na
outra fase. (Ver figura 2)
Figura 2 Idosa confeccionando boneco (GDS) Fonte: Dados da Pesquisa
Ao trmino desse momento, foi feito um crculo e, de mos dadas, pediu-se
que cada uma falasse uma palavra que tivesse um ritmo musical. medida que
cada uma expressava a palavra, o grupo repetia cantando.
Concluindo as atividades os participantes teceram os seguintes comentrios:
IN: At logo!; NZA: Felicidade!; BHT: Tchau!; GDS: Alegria!; EV: Paz!; ANT:
Amor!; RO: Muita paz!.
De incio, na nova seo de confeco de bonecos, foi realizada, novamente,
a tcnica de relaxamento. A proposta foi fazer um relaxamento partindo dos ps,
concluindo com os movimentos da cabea; sentindo cada movimento, percebendo
cada parte do corpo (ps, pernas, joelhos, quadril, cintura, pescoo, cabea, olhos,
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boca, nariz e lngua). Aps a atividade, em forma de crculo: In comentou: Meu sono
passou. Todas revelaram uma grande satisfao. Observou-se no semblante das
participantes sinais que as revelavam mais ativas e alegres.
Reiniciada a confeco dos bonecos, distribuiu-se a cabea dos bonecos que
havia sido realizada na semana anterior. Foi sugerido que avaliassem o que tinha
sido elaborado, notando o que era necessrio acrescentar, modificar e completar.
Santos (1999, p.111) expressa, atravs das experincias que realizou com
bonecos, que:
Por ser o boneco um objeto de comunicao, ele levar a pessoa a estabelecer relaes com o mundo externo, com o outro, assim, a construo da histria pessoal vai sendo mediada e ampliada pelo outro. Para a confeco de um boneco necessrio que se faam escolhas pessoais, pois decidido desde a expresso do rosto, at a cor da roupa que o boneco ter.
Assim, cada pessoa do grupo fez as escolhas do tecido do boneco de acordo
com sua preferncia:
IN - trouxe tecido preto de seda, com estampas coloridas;
ANT usou tecido de algodo listrado de rosa e branco;
BHT usou tecido de algodo, na cor amarelo suave;
RT enquanto fazia declarou: O meu vai ser o nico homem!. (Ver figura 3)
A princpio, pensei que era inteno dela fazer um palhao, pois comentou
que ia fazer um chapu.
EV trouxe tecido na cor bege e trabalhou fazendo uma montagem com outro
tecido estampado com tonalidades bem fortes;
GDS usou tecido amarelo bem suave.
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O grupo trabalhou com ateno e concentrao. Uma delas comeou
arrumando os cabelos, misturando as tonalidades de marrom e vermelho, em forma
de mechas, e colou na bola de isopor; trabalhou com muito cuidado e ateno. Ao
trmino desse encontro, NZA, ANT e IN, ao perceberem que o boneco comeava a
tomar forma, com os braos e mos, comearam, espontaneamente, a se expressar,
utilizando falas para seus personagens. Mudaram a entonao da voz e dos gestos.
Na verdade, naquele momento, elas retornavam ao universo infantil.
Pde-se analisar, nessa vivncia, que as participantes deixaram aflorar as
fantasias carregadas de realidade, atravs da expresso, desejos e sonhos de seu
universo pessoal. O envolvimento delas, nessa atividade, produziu sensaes de
bem-estar, que foram demonstradas pelos sentimentos de alegria e prazer em
estarem confeccionando o boneco. A satisfao foi to positiva que elas pediram
mais um dia para trabalhar detalhes e acabamento de roupa. Uma delas (NZA)
expressou assim: Eu vou colocar um nome na minha boneca.
A GDS trabalhou, desde o incio, com bastante ateno. Revelou-se como
uma das mais concentradas no processo de construo. Ela revelou muito esmero
no ato da criao, primando pelo bem feito e harmonioso. Pediu para levar o vestido
da boneca para concluir em casa.
Na finalizao dessa fase, foi criado um crculo, onde todas deram as mos.
Subitamente, a participante EV, bem alegre, comeou a cantar: muito gostoso
esse nosso aconchego, esse nosso encontro nossa alegria de ser feliz. Todas as
participantes compartilharam dos versos.
Nesse encontro, o objetivo foi de concluir a construo do boneco e elaborar
a sua identidade.
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Figura 3 Participante apresentando o boneco concludo (RT) Fonte: Dados da Pesquisa
Foi dada a continuidade construo dos bonecos, fazendo um aquecimento
utilizando bastes de papel. A cada exerccio, observava-se que elas demonstravam
alegria e descontrao, sem inibio para se expressarem. Facilmente se envolviam
com a sensibilizao corporal proposta. Iam adquirindo mais confiana em si
mesmas. O trabalho foi realizado em dupla e consistia em fazer massagens, dando
leves toques no corpo da colega.
Nessa fase vivencial, percebia-se que a atividade de criar bonecos estava
sendo para elas uma experincia interessante e divertida. Para GDS, era a
lembrana da infncia. Elas trabalhavam com cuidado. Durante todo o processo,
dava-se bastante ateno a todas, assistncia com relao ao material, colaborava-
se com a cola quente, ajudando a segurar a boneca enquanto colavam.
Outra mudana percebida foi o sentimento de timidez, observado nas
participantes no incio do encontro; sendo gradativamente trabalhado, na medida em
que os bonecos foram sendo confeccionados. As senhoras foram se soltando,
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falando com voz de criana, movimentando o corpo. Por meio da confeco do
boneco, elas recuperaram o prazer de brincar, resgatando o ldico adormecido.
Nessa fase no se trabalhou com msica ambiente, mas sim com a prpria
sonorizao. Ora ficavam em silncio, ora cantarolavam-se algumas melodias, e
elas acompanhavam. A maioria das participantes finalizou a confeco do boneco, e
elaborou a identidade.
ANT Deu o nome boneca de Margarida. Sou calada, tmida, fico com
vergonha de tudo, nasceu em 04 de outubro de 2000, tenho 3 aninhos. No tenho
luxo, no me visto muito bem. Falou com a voz da boneca, em tons suaves.
RT Foi a nica participante que confeccionou um boneco do sexo
masculino. Cristvo nasceu em 06 de julho de 2002, tem trs anos. Gosta de
criana, d muitas cambalhotas. Ela comentou que estava ali para namorar todas
as garotas. Rt viva, mora em companhia do nico filho, tem outras trs filhas, mas
todas casadas; muito calada. A meno a namoro revelou a presena da
sexualidade. Isso inspirou risos para as outras participantes.
GDS Meu nome Sara. Tenho muitas amigas, tenho 15 anos; estou no
auge; fao muita travessura. Apresentou com um pouco de timidez, usou a sua
prpria voz.
De mos dadas, novamente foi feito um crculo e finalizou-se o encontro com
a frase sugerida por elas: Obrigada, Senhor, por mais esta tarde!
A etapa final aconteceu com a apresentao dos bonecos. Estavam
presentes todas as participantes.
Nessa etapa, foi recomendado ao grupo que apresentassem os bonecos.
Antes de comearem as atividades, foi criado um crculo sugerido pelo grupo, onde
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cada uma desfilou mostrando sua boneca, falando sobre sua identidade e suas
caractersticas, o que gostava de fazer, sobre a vida de cada uma. (Ver figura 4)
Figura 4 Apresentao dos bonecos Fonte: Dados da Pesquisa
De forma espontnea, EV comeou o desfile, comentou: Como ningum vai
mesmo. Eu vou! Sem nenhuma inibio, desfilou pela sala, parou e comeou a
apresentao: Nasci em Natal, tenho 3 anos, sou meio assanhada; namoro muito.
Tenho 3 amigos que vo passear comigo, pego meus amigos e vamos passear, pois
temos que viver o momento. O presente o mais importante. Enquanto falava,
procurou esconder o rosto por trs da boneca. Notou-se que o assunto referente a
namoro no agradou a GDS nem a IN, mas para as outras pareceu gostoso falar
sobre esse assunto.
GDS desfilou com cuidado; inicialmente se expressou com a voz da boneca:
Boa tarde! Vocs vo me perdoar, sou praieira, tenho a pele queimada do sol; meu nome Sara. Nasci em uma praia chamada Caiara do Norte, no litoral do Rio Grande do Norte. Sou filha de pescador, meu pai se chama Raimundo N. Pereira, mais conhecido como Pereiro. Minha me, Francisca, no me lembro do nome todo. Tenho 9 irmos, ajudo minha
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me a cuidar deles. Estudo no colgio da prefeitura. Adoro correr.....(pausa). Sou a pessoa mais feliz do mundo..... amo a vida!
Percebemos um envolvimento emocional na fala de GDS, quando expressou
seus sentimentos. IN falou: No sei desfilar, vou caminhar assim mesmo! Se
apresentou com a voz da boneca, tentou esconder um pouco o rosto, quase desistiu
de falar com a voz da boneca:
Tenho 15 anos, estou passando de menina para mulher, mas minha me me controla para eu seguir as leis do catolicismo. Fao o 1 grau, e quero ser odontloga, para ajudar nos dentes dos mais velhos, porque sou jovem e penso no futuro. E sei que os mais velhos tambm precisam dos dentes. Estudo na escola pblica, mas tiro notas boas. Gosto de praticar esportes, principalmente nadar. Na piscina, na praia, nos rios, onde tiver gua que me cubra. Gosto de escutar histrias, a preferida Pinquio.
RT foi a nica participante que confeccionou um boneco do sexo masculino,
Cristovo:
Boa tarde a todos, estou muito feliz por estar compartilhando esta tarde com vocs. Gostei muito de Sara. Gosto muito de brincar, principalmente com os brinquedos do circo. A minha famlia do circo; gosto de fazer amigos, de pular, fazer cambalhotas.
J RO assim se pronunciou:
Sou muito tmida, mas j estou melhorando. Me chamo Amanda, gosto de ir ao shopping e estou adorando estar aqui com vocs. Vou sentir saudades, pois gosto de brincadeiras; tenho uma mensagem para vocs. Que a luz do Natal ilumine e renove a sua f, e que Deus esteja sempre guardando os seus pensamentos e suas aes... Feliz Natal e Prspero Ano Novo, da bonequinha Amanda.
ANT: Me chamo Margarida, boa tarde, sou simples e muito tmida, estou feliz
em estar com vocs. J estou pensando quando nos separarmos, concluiu.
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Durante esse processo, pde-se observar que, mesmo algumas participantes
tendo um pouco de dificuldade de se comunicar verbalmente, foi um modo de viver
momentos de descoberta e crescimento, onde tiveram a oportunidade de criar uma
relao consigo mesma e com o mundo externo. Essa relao dialtica foi expressa
por Ciornai, (1995, p.50):
Ao contatar o mundo que o rodeia, o indivduo convidado pela vida, continuamente, a viver o novo, a fazer novas escolhas, tomar decises, adentrar mistrios, caminhos desconhecidos, estabelecer novas relaes e descortinar novos horizontes.
Ao observar as bonecas se apresentarem, conclumos que as participantes
estavam vivenciando, atravs dos personagens-bonecos, seus sentimentos,
necessidades, angstias e alegrias.
Segundo a participante IN, fazer essas bonecas foi alegre e divertido, mesmo
sem muita aptido, at gostei do resultado; quando aparece uma fisionomia e uma
identidade. Quando vi todas juntas, um bom e alegre resultado de bom gosto e
dedicao.
J para PA, a prtica de confeco de bonecos remontou a sua infncia:
gostei muito desse trabalho que mexeu um pouco com tudo; em fazer minha
Damiana, mexeu meu todo de me, me fez voltar 40 anos, era como se eu estivesse
fazendo os brinquedos para as minhas filhas, foi muito gostoso e gratificante.
EV ressaltou a importncia da confeco de bonecos como prtica
teraputica: Para mim, esta terapia foi muito importante. Quando vocs chegaram
para estagiar eu estava sendo acompanhada por um psiquiatra e fazendo terapia
por causa de uma depresso. E vocs me ajudaram muito com esse trabalho, foi
muito divertido fazer Rosinha.
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GDS enfatizou a questo do rejuvenescimento pela prtica de construo das
bonecas: Para mim, foi uma experincia muito boa, porque voltei a ser aquela
jovem de 15 anos, que gostava de aventuras e de criar, com as prprias mos,
objetos que nos alegravam, e fazer as outras pessoas rirem.
importante salientar que a oficina de bonecos possibilitou que os idosos
expusessem a sua personalidade e o seu lado cmico, dando uma nova voz a um
contato novo com o mundo. Segundo Santos (1999, p.121), Expressar os prprios
sentimentos e emoes traz uma grande satisfao, pois ajuda a pessoa a tomar
conscincia de sua importncia, atravs de um realizar que seu.
4.2.3 Oficina de construo de rvore
Nessa atividade, o objetivo foi que as participantes passassem por um
processo de sensibilizao corporal, sendo que o estmulo estava relacionado com a
criao de uma rvore.
Estiramos o corpo, soltamos as mos, os braos, caminhamos com os ps
bem alinhados e enterrados no cho, no ritmo da msica que tocava. Foi dado incio
atividade com a pergunta O que uma rvore tem?, surgindo os comentrios:
IN frutos; ANT e GDS folhas; outra falou: flores!
Todos foram convocados a imaginar, conosco, uma rvore. Foi realizada uma
tcnica de respirao. Buscamos da terra (da raiz) para a copa, a nossa rvore. Foi
pedido que fechassem os olhos e procurassem imaginar essa rvore.
As participantes ficaram prximas umas das outras e entraram em contato
com o ritmo e movimentos.
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Na construo da rvore, foram utilizados os seguintes materiais: galhos
verdes e folhas naturais, terra, sementes diversas, tinta guache, tinta aquarela, giz
pastel oleoso, giz cera, lpis, frutos secos e flores naturais e cartolinas guache.
Ao iniciar essa proposta, foi comentado sobre a trajetria, desde o incio das
atividades com o grupo. Foram recordados os materiais que utilizamos e as
participantes acompanharam nossos relatos. A rvore representava, assim, um
pouco dessa trajetria e tambm e da histria pessoal de cada componente e do
envolvimento com o grupo.
Ento, passamos para a construo da rvore. O primeiro passo foi de sugerir
que cada uma delas trabalhasse em uma mesa, pois havamos trazido folhas de
cartolina guache (brancas grandes) para essa atividade. Foi dada a possibilidade
de cortarem a cartolina, se o tamanho fosse grande demais para o que haviam
pensado. Nenhuma delas cortou. Ficaram um pouco agitadas ao comear o
trabalho. No entanto, depois de todas as dvidas resolvidas e os materiais
oferecidos, o trabalho foi realizado de forma produtiva.
Trabalhamos com som ambiente. Distribumos as frases relacionadas com
tipos psicolgicos, as funes da conscincia: sensao, sentimento, intuio e
pensamento desenvolvidas por Jung, as quais permitem perceber as caractersticas
de cada indivduo e como se relacionam com o meio exterior e interior. Solicitamos
que lessem e que transcrevessem em seu trabalho as frases que se relacionassem
com suas atitudes, e dessa forma poderia perceber algo mais sobre o seu modo de
ser.
O estudo dos tipos psicolgicos permite perceber, na medida do possvel, os
movimentos caractersticos de cada indivduo, compreende-los e encorajar de forma
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teraputica uma conscincia que se encaminhe superao ou minimizao dos
conflitos. (Ver figura 5)
Figura 5 Trabalho de construo da rvore (CE) Fonte: Dados da Pesquisa
Durante as atividades, as participantes se expressaram com bastante
espontaneidade e criatividade, atentas a suas rvores.
PA trabalhou em uma mesa mais distante e mais alta. Ela permaneceu em p
durante toda a construo. Trabalhou com tinta (com a qual tem grande
desenvoltura), nas cores marrom, verde, azul e cinza; criou um coqueiro com troncos
fortes, e folhas amplas, harmoniosas e proporcionais; construiu a linha de base; cu
azul, trabalhou com o papel na vertical. (Ver figura 6)
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Figura 6 rvore construda (PA) Fonte: Dados da Pesquisa
Frases: Prefiro pessoas que refletem bem; A fim de decidir que direo
seguir, gosto de ler e obter informaes sobre o assunto antes; Tenho muita
imaginao, adoro fantasiar e viajar; Gosto de trabalhar com utilizao prtica;
Diante do infortnio, procuro consolar; Chego concluso pela observao dos
fatos; No sou muito ligada ao relgio do tempo; Aprecio pinturas e esculturas;
Prefiro ficar em um espao onde tenha mais cores frias, quando fico espera de
algum.
RO trabalhou com o papel na horizontal, utilizando giz de cera comum e giz
pastel oleoso nas cores: marrom, verde, azul, rosa, preto e amarelo escuro.
Anotou, a lpis comum, suas frases ( direita e esquerda do tronco central). Fez
linha de base em verde, onde desenhou pequenas flores e sua rvore no centro.
Construiu a rvore com um tronco bem largo e curto, fez inmeros galhos. Ela
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colocou sobre ele folhas redondas e verdes. Nesse momento, expressou,
espontaneamente: cada folha dessa representa uma coisa de minha vida: as coisas
boas, filhos, netos, e as coisas difceis da vida.
Frases: Ter tato significa ter afeto, calor e amor; Diante de um infortnio,
procuro as causas e as explicaes; Tenho muita imaginao, adoro fantasiar e
viajar; Resolvo as coisas na medida em que vo acontecendo; Gosto de trabalhar
com utilizao prtica; Prefiro pessoas com bons sentimentos; Preocupo-me mais
com os problemas pessoais dos amigos. Disse, ainda, que outra frase havia lhe
chamado a ateno: uma frase que fala de higiene! Todo mundo em casa reclama
que tem que lavar as mos a toda hora...
EV trabalhou em silncio e rapidamente. Na construo da rvore, no
demorou muito; na leitura e compreenso das frases se deteve mais. Utilizou o
papel na vertical, com mistura de materiais: lpis comum, giz cera, tinta, folhas e
caneta preta para as frases. No deu muito preenchimento sua rvore. Ela
desenhou linhas para os troncos (que pintou com giz e traos de tinta marrom) e
linhas superiores ascendentes, na cor verde, para os galhos e sustentao das
folhas naturais.
Frases: Prefiro pessoas com bons sentimentos; Diante de uma discusso,
tenho vontade de mandar parar, buscando uma situao harmoniosa e prazerosa;
Para entender o ser humano, gosto de conversar e manter um relacionamento
amistoso com as pessoas; A rotina e a estabilidade me fazem sentir uma
prisioneira ; Reformulo meus objetivos em funo da minhas emoes; Gosto de
ter muitas amizades, sou do tipo que voc pode contar a qualquer hora; Eu nasci
com um relgio em minha cabea ; Fico irritada com pessoas que no tm um
raciocnio claro e objetivo; Diante de uma leitura chata, largo e busco outra; A fim
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de decidir em que direo seguir, gosto de ler e obter informaes sobre o assunto;
Sou meio inquieta diante da vida ; Estou sempre ligada ao futuro, no sentido de
antever coisas que os outros ainda nem pensaram.
GDS usou cartolina na horizontal, com materiais diversos: giz, cera comum,
lpis, tinta, folhas e frutos, flores naturais. Desenhou a linha de base em marrom, e
sobre ela criou umas ramas de grama e depois posicionou sua rvore esquerda do
papel. Desenhou a rvore toda em giz e depois reforou o tronco com tinta. Os
galhos verdes, bem finos e ramificados serviram de sustentao para folhas de
diversos tamanhos. No preencheu muito o ambiente da rvore; mesmo com as
frases ao seu redor.
Frases: Interesso-me por leituras de fatos novos e atuais; Gosto de ter
muitas amizades, sou do tipo que voc pode contar em qualquer hora ; Tenho um
bom controle econmico; Diante do infortnio, procuro consolar; Gosto de
cozinhar; Resolvo coisas na medida em que vo acontecendo; Prefiro pessoas
que refletem bem.
ANT usou a cartolina na horizontal, com giz cera comum e giz pastel oleoso.
Sugerimos que utilizasse os dedos e assim o fez; espalhou toda a copa da sua
rvore. Usou verde (escuro e mais claro), marrom, preto (para contornar o tronco).
Da base do papel originou seu tronco, que de baixo para cima seguia: largo, mais
afilado e, ento, prximo aos galhos dividia-se em trs. Colou frutos secos na copa.
Sua rvore ocupou grande parte de seu papel, mas no quis dar preenchimento ao
ambiente. Escreveu suas frases a lpis, ao lado direito da rvore.
Frases: A limpeza, para mim, algo natural, de nascena; Preciso de muito
contato para perceber as pessoas; Prefiro pessoas com bons sentimentos; Ter
tato significa respeitar os pontos de vista e argumentos dos outros; A rotina e a
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estabilidade me fazem sentir uma prisioneira. Durante o processo de construo,
disse que no queria fazer mais: Gosto das coisas simples mesmo!.
IN usou a cartolina na vertical, apenas com giz pastel oleoso. Fez um tronco
com razes bem evidentes, e uma linha de base verde. Sua copa, do mesmo tom de
verde e bem encaracolada, refletia cor amarela e alguns pequenos frutos vermelhos.
Ela escreveu seu nome no centro da copa da rvore. Quis colocar as frases na
copa, mas viu que a caneta no pegava, ento rodeou a rvore, usando as frases
com a caneta azul.
Frases: Sou muito atenta pontualidade e a organizao temporal; Prefiro
pessoas que refletem bem; Estou sempre ligada ao futuro, no sentido de antever
coisas que os outros ainda nem pensaram; Ter tato significa ter afeto, calor e
amor; Gosto de cozinhar; Para entender o ser humano, procuro observar em
detalhes os seus comportamentos e aes; Aprecio pinturas e esculturas; Diante
de uma leitura chata, largo e busco outra.; Prefiro pessoas com bons sentimentos.
BHT trabalhou na vertical, utilizando materiais diversos: tinta, giz, terra, folhas
naturais, flores e frutos secos. Fez a linha de base em camadas: terra; verde em
tinta; marrom (onde colou as flores). Depois desenhou o tronco ao centro do papel.
Pintou o tronco em parte de cinza e marrom e, nessas mesmas tonalidades, fez os
galhos, onde colou folhas e flores. Colou frutos secos na base da copa.
Frases: Quando vou a uma festa observo em detalhes a decorao e as
roupas das pessoas; Ter tato significa ter afeto, calor e amor.
E assim conclumos essa vivncia, sentindo que a escolha das frases
representava a personalidade de cada uma. De certa forma, elas realizaram um
exerccio de autoconhecimento, atravs de uma descrio subjetiva de si mesmas.
Durante o exerccio, tivemos acesso a vrios depoimentos:
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GDS Este desenho, para mim, faz lembrar o tempo de infncia, tempo de
criana, tempo de colgio. A rvore representa as matas das florestas; o verde das
folhas representa a paz; o verde do mar, as flores o perfume do amor, da bondade e
da amizade.
EV Apesar de gostar muito de flores, eu hoje optei pelo verde, porque o
verde me traz muita paz interior.
ANT Fazendo esta rvore, lembrei-me de quando criana, brincando com
outras crianas vizinhas, colhendo as frutas da poca. s vezes, at sem permisso
dos meus pais, a tranqilidade que sentia, a confiana nos adultos, parentes, tio,
primos e o carinho que todos dedicavam a mim e a meus irmos.
IN O mundo no podia existir sem as plantas em geral, pois as mesmas
fazem parte de nossa respirao. O que mais me encanta nas rvores so as
plantas frutferas, de onde tiramos o nosso sustento alimentar, rico em diversas
substncias alimentares. Sempre fico perguntando prpria natureza, ou digo, ao
nosso Deus, quem plantou a primeira semente das diversas fruteiras existentes?
maravilhoso ver essa natureza verde, que at alegra nossos olhos. Bendita a
natureza verde que Deus nos deu.
De fato, a rvore demonstrou a funo de exteriorizar as caractersticas
elementares da personalidade. Por exemplo, a participante GDS chamou a sua
rvore de rvore da evoluo. Ele procurou demonstrar o seu processo evolutivo
atravs da construo representativa das falas elaboradas na mesma:
Certo dia, duas alunas estagirias da UNP convidaram um grupo para fazer arteterapia. Ento esta rvore com seus galhos representam as nossas professoras. Ns, alunas, os botes que desabrocharam. E as rosas com seu perfume, transmitindo paz e amor, nas sementes que iro formar novas rvores, porque nossos encontros terminaram, mas a amizade e a vida continuam. Obrigada a Ana e Cristiane, por tudo que foi transmitido de ensinamentos. Que esta rvore continue evoluindo.
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4.2.4 Visualizao e pintura rpida com guache
Esse encontro foi o de encerramento do estgio em Arteterapia, junto ao
grupo de senhoras do Clube da Terceira Idade Nzia Maria de Medeiros. Havia sido
combinado com o grupo que faramos o encerramento das atividades com uma
confraternizao e exposio de todos os trabalhos desenvolvidos durante os
nossos encontros. (Ver figura 7)
Chegando ao centro comunitrio, j se encontravam presentes algumas
participantes que ajudaram a expor os trabalhos, analisando a melhor forma de
serem observados. Houve o envolvimento de todas na atividade. Foi um momento
bem agradvel, cada uma procurava olhar e observar os trabalhos que havia
elaborado.
Figura 7 Exposio dos trabalhos Fonte: Dados da Pesquisa
Passado esse momento de reencontro com tudo o que tinha sido realizado
por cada uma, convidamos a sentarem em forma de crculo. Fizemos uma avaliao
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geral sobre os nossos encontros, relatando a respeito de nosso prprio aprendizado
e crescimento, durante aquele perodo de encontro compartilhado. Comentamos da
importncia de todas que se dispuseram a colaborar conosco neste trabalho. Nesse
momento, observamos que cada uma tinha algo a dizer. Umas desejaram que
tivssemos sucesso na nova profisso que havamos escolhido, disseram que
ramos muito pacientes. No encontro anterior, j havia um clima de cumplicidade;
articulavam entre si uma forma carinhosa para a nossa despedida.
Concludo esse momento, sugerimos a criao de um crculo. Perguntamos
se estavam lembradas de alguma msica que tnhamos trabalhado durante os
nossos encontros, as respostas vieram de imediato. Muitas lembraram das msicas,
cantarolando e danando.
IN comeou cantarolando baixinho e todo grupo acompanhou. A primeira
cano foi Da abbora faz melo, canto associado a movimentos corporais, gestos
livres. Durante a atividade, observamos uma sensao agradvel ao cantar. Elas se
sentiam livres como crianas que podiam brincar.
Vivenciaram com alegria e presena, danando, cantando, se expressando
com naturalidade e prazer. Em seguida, foi sugerido que cantassem Tindolel,
tambm associado a movimentos corporais. Espontaneamente outros movimentos
foram sugeridos. IN, e EV cantaram, acrescentando melodia outras falas: d um
abrao, d um pulinho, bate palma, uma rodadinha, um beijinho, d um adeus!
Diante disso, lembramos do que diz Ciornai (1995, p.51), quando afirma que,
atravs da arte:
Retiramos a experincia humana da corrente rotineira e, por vezes, automtica do cotidiano, estabelecendo novas relaes entre seus elementos, misturando o velho com o novo, o conhecido com o sonhado, o temido com o vislumbrado, trazendo, assim, novas integraes,
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possibilidades e crescimento novas informaes, isto , a formao de figuras que criam um novo saber.
So, portanto, caminhos do conhecer humano, caminhos de criao,
ampliao e transformao de conhecimento.
Em seguida, direcionamos o grupo para trabalhar com Visualizao Criativa.
Foi sugerido a todas que sentassem em uma posio confortvel. Aquelas que
pudessem ou desejassem retirassem os calados. Ento, sugerimos que fechassem
os olhos, respirassem enchendo a barriga de ar e soltassem lentamente. Pedimos
para sentirem seus braos, as outras partes do seu corpo. Depois, levamos a
imaginar um lugar em que tivemos contato com a natureza e vivenciassem
momentos de paz, de alegria e de felicidade. Vamos fazer uma viagem interior,
falamos. (Ver figura 8)
Figura 8 Visualizao criativa
Fonte: Dados da Pesquisa
Pedimos que se imaginassem caminhando sobre um lugar, que podia ser no
campo, na praia, em uma fazenda, em um bosque, em uma lagoa. Depois, que
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observassem e sentissem como estava o clima nesse lugar. Tinha sol? Como estaria
o cu? Claro, ou nublado? Em seguida, pedimos que observassem as plantas, as
flores, os pssaros. Que percebessem a delicadeza do ar acariciando nossa face,
nossa pele. Imaginassem uma pessoa livre, despreocupada, respirando o ar puro e
sadio que a natureza nos presenteia.
As participantes envolveram-se totalmente. Elas permaneceram
concentradas, de olhos fechados. Apenas RO, e EV abriam e fechavam os olhos.
ANT permaneceu um pouco mais que as outras colegas com os olhos fechados.
Nesse momento, fiquei junto com a mo apoiada em seu ombro.
Ao final, perguntamos se alguma delas gostaria de compartilhar como tinha
sido aquele momento. Elas, espontaneamente, foram se expressando, contando que
tinham imaginado um cenrio, que tinha sido vivido na infncia. A maioria relatava
sobre a sua infncia no interior. Pela forma como manifestavam seus sentimentos,
indicavam ter vivenciado momentos b