12.21 - Silva e Pinheiro

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senhor Pinheiro é um emproado. Quando chega ao trabalho, não cumprimenta ninguém e vai logo enfiar -se no seu gabinete, como se fosse a única pessoa daquele escritório. Em contrapartida, o senhor Silva é um homem gentil, sempre de sorriso afável e muito amigo de ajudar. Lá no escritório, todos gostam dele. Estava eu a meditar nas diferenças do mundo e comportamento oposto dos meus dois colegas, quando me ocorreu esta história ou fábula entre um pinheiro e uma silva. Era a árvore mais imponente do lugar. De pescoço altivo, o pinheiro bravo não prestava atenção aos seus vizinhos de baixo, pinheiritos jovens e alguns arbustos, como a silva, a ensarilhar uma moita. 1 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros SILVA E PINHEIRO António Torrado escreveu e Cristina Malaquias ilustrou O

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senhor Pinheiro é um emproado. Quando chega ao

trabalho, não cumprimenta ninguém e vai logo enfiar-se noseu gabinete, como se fosse a única pessoa daqueleescritório.

Em contrapartida, o senhor Silva é um homem gentil,sempre de sorriso afável e muito amigo de ajudar. Lá noescritório, todos gostam dele.

Estava eu a meditar nas diferenças do mundo ecomportamento oposto dos meus dois colegas, quando meocorreu esta história ou fábula entre um pinheiro e umasilva.

Era a árvore mais imponente do lugar. De pescoçoaltivo, o pinheiro bravo não prestava atenção aos seusvizinhos de baixo, pinheiritos jovens e alguns arbustos,como a silva, a ensarilhar uma moita.

1© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros

SILVA E

PINHEIROAntónio Torrado

escreveu eCristina Malaquias ilustrou

O

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Mas a silva, enervada com tanta prosápia, interpelou-o,como quem pede explicações:

 – Fale à gente. Somos todos cidadãos do reino vegetal,

uns mais altos do que os outros, mas todos com raízes nomesmo chão.

 – Julgas tu – respondeu-lhe o pinheiro. – Eu pertençomais ao céu do que à terra. Os meus ramos e a minha copaquase tocam as nuvens. Não tenho nada a ver com vocês,insignificantes e rasteiras plantas, a cobrirem-se de pó.

 No meio do seu emaranhado de picos, a silva mais se

retorceu de indignação, mas não quis sustentar a disputa.Àquele pinheiro nada o convencia.Convenceu-o um lenhador, que por ali passou. Bateu no

tronco possante e disse: – Está na conta.E começou à machadada ao pinheiro. A desmoronar-se

sobre a terra, num grande gemido, o pinheiro formulou um

último desejo: "Quem me dera ser silva...". Mas não lheserviu de nada.Um dia destes, hei-de dar a ler esta história ao senhor 

Pinheiro. Talvez dela tire algum proveito, quem sabe?

FIM

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