04.29 - A dança prodigiosa

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  • 7/27/2019 04.29 - A dana prodigiosa

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    onta-se que, na ndia, h muito tempo, quando noparavam as guerras entre reis vizinhos por frvolas disputasde terras e riquezas, os vencidos, fossem generais, nobres,senhores poderosos, passavam condio de escravos dosvencedores.

    No termo de uma dessas lutas, houve festa no palcio

    conquistado. Depois do banquete da vitria, o chefe dosvencedores exigiu a presena dos msicos e das bailarinas.Estava radioso de felicidade e queria que sua volta tudoespelhasse a sua alegria de guerreiro triunfador.

    Entre as bailarinas, uma se destacava mais do que asoutras. Tinha guizos e sinos em colar, no pescoo, nosbraos e nas pernas, que cadenciavam a msica, como se

    cada gesto dela fosse o riso a nascer.1

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    A DANA

    PRODIGIOSAAntnio Torrado

    escreveu eCristina Malaquias ilustrou

    29 de Abril

    Dia Mundial da Dana

    C

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    Mas o rosto da bailarina gentil era sisudo, quasezangado. Belo, muito belo, mas to ao contrrio dajovialidade do corpo, nos seus meneios de dana, quecausava uma estranha impresso.

    Um dos convivas reparou no desconcerto e disse-o emvoz alta. Outro, a seu lado, explicou:

    No admira. a princesa, filha do rei deposto. O paiacorrentado na cave e ela a danar no salo...

    Mesmo assim, para quem dana sem vontade muitobem dana comentou outro conviva. Embora, melhordanaria se sorrisse...

    Ri ordenou-lhe o senhor da festa e dos vencedores,tanto como dos vencidos.

    Mas a bailarina nem sorriu. Continuava a danar,vestida da msica, com a felicidade a tinir nos pulsos e nostornozelos, como se o corpo existisse sozinho, decepado do

    rosto em luto. A noite minha. O palcio meu. O reino e todos osque nele vivem pertencem-me clamava o rei dosvencedores. Tens de rir.

    Ela, muito sria, s danava. E que bem danava!Maravilhavam-se, sua roda, porque nunca tinham vistodanar assim, com tanta graa, tanta leveza de pluma,

    ptala, brisa, asa, perfume...Ento, o comandante, de corao rendido, proclamou: Libertem de vez o rei vencido. Quero-o, aqui, ao nosso

    lado, a ver a filha danar.Uma labareda de guizos e risos correu, rolou, adejou

    pelas arcarias do palcio. Os msicos atnitos ouviram amsica, que eles no tocavam, desprender-se, intacta, dos

    seus instrumentos e engrinaldar de alegria redopiante a2

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    princesa danarina.Nenhuma bailarina danou, em gestos de riso, em olhos

    e lbios iluminados de riso, como, naquela noite, aprincesa danou... E por muitos mais anos se contar ahistria da dana prodigiosa, que fez pulsar, em triunfo, aharmonia da msica nos coraes dos homens, vencedoresou vencidos...

    FIM

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