04.15 - O Cavalo e a Formiga

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    cavalo e a formiga no se davam. Nem seconheciam.A formiga na sua vida, sempre enfiada no carreiro para

    c e para l, cata de provises para abastecer a despensa,no prestava ateno ao que se passava muito acima dela,l no mundo dos bichos grandes.

    Por sua vez, o cavalo, que tinha sido treinado a saltar

    obstculos, sempre ocupado nos seus exercciosdesportivos, no fazia a mnima ideia de que existissemformigas.

    Mas os dois iam encontrar-se por artes mgicas, as artesmgicas de que se fazem as histrias. Chama-seimaginao e garanto que no custa nada. Experimentem.

    Por onde havemos de comear? Pela formiga

    trabalhadeira ou pelo cavalo desportista?1

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    O CAVALO E AFORMIGA

    Antnio Torradoescreveu e

    Cristina Malaquias ilustrou

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    Tanto faz. O certo que a vida deles vai cruzar-se, emcircunstncias assaz estranhas, desagradveis, direi mesmotrgicas. Mas no nos precipitemos nem to-poucoinquietemos quem nos est a acompanhar.

    Um cavalo de um lado. Uma formiga de outro. Faz-loscoincidir na mesma histria como desenhar um laarotecom duas fitas, vindas de dois pontos extremos esimtricos. Espero que no me trema a mo no desenhonem me embarace na laada.

    Tudo isto so rodeios de quem lhe custa a avanar. Mastem de ser.

    O cavalo ia participar num concurso hpico,acontecimento de responsabilidade, com muito pblico aassistir.

    A formiga corria pelo meio das ervas, de patinhasnervosas e antenas agitadas, sem que ningum a visse.

    Era a vez de o cavalo concorrer. Saltou um obstculo,saltou dois e com tal desenvoltura e elegncia que ouviuaplausos. O cavaleiro que montava o cavalo julgou queeram para ele, mas quem os merecia mais era o cavalo.

    Nisto levanta-se um ventinho rente ao cho querodopiou, depois, no ar, soprado no se sabe de onde.Quando convm, chama-se o vento e ele vem dar fora s

    histrias que a gente no sabe como h-de continuar...Com o ventinho soltaram-se gros de p e areia. At aformiga, apanhada no remoinho voou, assarapantada, pelosares fora.

    Ai que me vou desta exclamou a pobrezinha.No foi!A viagem nas ondas do vento durou um instante, mas

    para o corao da formiga foi um sufoco. Logo poisou e se2

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    agarrou a uma superfcie lisa, escorregadia, hmida.Na tribuna do pblico soltou-se um longo: "Ahhhh!" de

    desalento. beira do novo obstculo o cavalo recusava-se a saltar.

    Bem o fustigava nos flancos o cavaleiro. O cavalo faziaque sim com a cabea, mas fazia que no com o corpo eespumava, espumava de desespero.

    No menos desesperada estava a formiga, aquilo a queela se agarrara movia-se, resvalava, fugia-lhe e ela no setinha em p...

    Entretanto o cavalo esporeado pelo cavaleiro tenta noltimo esforo vencer o obstculo, mas as patas traseirasno sobem o suficiente e o cavalo tropea, cai, arrastandona queda quem o montava.

    Levanta-se em peso o pblico na tribuna: "Ficou ferido?Magoado?" claro que se referem ao cavaleiro.

    V l que no houve desgraa! Um entorse para ocavaleiro, que sai do campo coxeando enquanto puxa asrdeas do cavalo, tambm combalido, como secompreende.

    A superfcie trmula, viscosa, deslizante, a que a formi-ga se segurara, comeou a brotar gua, como se elaestivesse em cima de uma nascente, mas uma nascente de

    gua salgada. Ai que me afogo gritou a pobrezinha.Quem a ouvia? Quem acode ao grito de uma formiga?

    Quem ouve o sobressaltado corao de uma formiga emperigo?

    S nas histrias conseguimos. Nesta, por exemplo. Econdoemo-nos. E vamos salv-la.

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    Humilhado com aquele fracasso, provocado por umaimpresso que sentira num dos olhos, o cavalo regressou cavalaria.

    Que no desanime. Vai ter mais oportunidades, ganharconcursos, receber taas que o cavaleiro arrecadar para asua coleco. O mais justo era que as dividisse com ocavalo. Mas, adiante.

    Naquela ocasio o cavalo sentia-se deprimido. E chorouuma lgrima. Uma, duas, trs que bem as contei. Numadelas escorregou a formiga, a nadar de bruos no meio dagua salgada, at chegar a terra, isto , ao cho dacavalaria. Sacudiu-se do molhado e l foi sua vida detrabalhadora incansvel. Nunca ela perceberia o que lhetinha acontecido. Nem ela nem o cavalo.

    S ns que sabemos a histria toda.

    FIM

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