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jy AN N Odomingo, 31 DE JA.INTEIRO DE 1904 V 0 r ? ?l \ . i o s >
S E M A N A R I O N O T I C I O S O , L I T T E R À R I O E A G R Í C O L A
Assignatura pAnno, iSooo réis; sem estre, 5oo réis. Pagamento adeantado. Spara o B razil, anno, 2$5oo réis Imoeda fortej. ' AAvulso, no dia da publicação, 20 réis. ~
EDITOR— José Augusto Saloio N
, A D M L M S T R A Í i O E TYPOGRAPI II A.i.° — RUA DIREITA - 19,
A L U E G A L L E G A
| P u b licaçõ es «-í l A n n u n cio s— 1.» publicação, 40 réis a linha, nas seguintes,
20 réis. A nnuncios na 4.“ pagina, contracto especial. Os auto- rf graphos não se restituem q uer sejam ou náo publicados.
PROPRIETÁRIO— José Augusto Saloio
E X P E D I E N T E
Rogamos aos nossos estimáveis assignantes a Qneza de nos participa reni qualquer falta na re niessa fio jonsitl, para de prompto providenciar iiios.
Acceitam-sc com gratidão quaesquer noticias que sejam dc interesse publico.
A GUERRAContinuam a espalhar~se
os boatos de guerra entre a Russia e o Japão. Mais uma vez se pretende estabelecer á força de armas o direito do mais forte.
A guerra nos tempos em que vivemos é já um anachronismo. Para honra e dignidade da especie humana, devia banir-se essa palavra dos codigos das nações.
Discutam-se as questões internacionaes por meio da diplomacia e deixem ficar em paz os armamentos, que devem considerar-se inúteis na época actual.
Se todos os homens tivessem a comprehensão exacta da elevada missão que teem a desempenhar neste mundo, se não houvesse em toda a parte a ambição desmedida, a inveja, a ignóbil intriga, essa hydra horrivel que a todos amedronta ha muito teria cortadas de todo as suas medonhas cabeças.
Pois que? Hão de os homens andar sempre a guerrear-se, a derramar o sangue nos campos da batalha, a ser miseráveis servos dos caprichos dos autocra- tas, sem se lembrarem de que tambem teem vontade própria, de que não nasceram para ser uns miseráveis assassinos, mas sim para auxiliarem, para se tornarem uteis aos seus irmãos? Porque não se revoltam contra essa monstruosidade inaudita que todos devem reprovar? São como os tigres a quem o
cheiro do sangue torna mais crueis? São hyenas ou sentem palpitar no peito um coração onde não devem abrigar-se os odios nem as malquerenças?
Por quanto tempo permanecerá a humanidade neste odioso estado que tanto a approxima das feras? Quando comprehen derá o que tem a fazer no mundo? Quando repellirá para sempre do seu seio, esmagando-as violentamente, as viboras envenenadas que lhe querem su gar o sangue e arrancar a vida ?
Talvez nunca. Quem sabe? Os apostolos da paz são escarnecidos, considerados como utopistas, e a guerra vae continuando a levantar o seu collo enorme, semeando por toda a parte por onde passa o luto e a devastação.
Guerra d guerra! gritou o grande escriptor francez Emiie de Girardin, e nós secundal-o-hemos nesse brado vehemente.
Guerra á guerra!JO A Q U IM DOS A N JO S.
G uanos de peixe
Temos sido consultados por alguns lavradores, nossos amigos e assignantes, ácerca da Nova Empreza de Adubos Artificiaes que, ia tempos a esta parte vem azendo repetidos annun
cios no nosso jornal, com respeito aos seus guanos de peixe.
Como resposta a essas consultas, que aproveite aos cavalheiros que se nos dirigiram, e a todos aquelles a quem o assumpto possa interessar, cumpre-nos dizer que a referida empreza é formada por importantes industriaes e abastados lavradores do nosso conhecimento, que tomaram a peito moralisar
commercio dos adubos artificiaes.
Pelo seu systema de vendas, a exemplo do que se pratica nos paizes mais adeantados, os lavradores ficam seguros de que não serão victimas de fraudes
e que adquirem adubos por um preço equitativo e proporcional ao seu poder fertilisante.
O typo normal dos guanos de peixe, cuja amostra temos em nosso poder, exhibe um produeto secco bem pulverisado e muito assimilavel, accusando as analyses feitas no labora- torio da estação chimico- agricola de Lisboa, riquis simas dosagens em elementos nobres.
Julgamos, pois, que os agricultores, relacionando- se com a Nova Empreza, teem tudo a ganhar, sob o ponto de vista da fertilisa- ção economica e proveitosa dos seus terrenos.
llouboQueixou-se na adminis
tração do concelho Hen->rique Caetano, solteiro, ferrador, residente nesta villa, de que no dia 20 do corrente, pelas 10 horas e meia da noite, na accasião em que ia para sua casa, encontrou a porta arrombada e, passando busca, deu pela falta de 62^000 réis, sendo uma nota de 2o$oooreis, tres de io$ooo réis e vinte e quatro de 5oo réis, suspeitando de que foi auctor do referido rou-30 um individuo de nome Manuel d’Almeida, tambem érrador e.que trabalhava :m sua companhia. Este individuo desappareceu na noite do arrombamento.
A G R I C U L T U R AA lim en ta rão vegetal das
g a llin h as
E’ um facto de vulgaris- sima observação, que as gallinhas gostam muito de verdura e principalmente da herva nova. Ora é preciso notar que isto tem grande importancia para a nutrição e saude destas »aves.
Podemos, é certo, fornecer-lhes verdura na capoeira, como ordinariamente se faz dando-lhes couves, alfaces e outros productos hortenses. Mas
nem as aves comem essa verdura com tanto prazer como o que lhes proporciona a pastagem no proprio sitio em que as hervas crescem, nem lhes é tão util.
Ora, como em geral não convém deixar as gallinhas em plena liberdade, e mesmo ellas aproveitariam essa liberdade nos campos em detrimento das sementeiras, deve o creador de gallinhas servir-se do meio que vamos expôr para fornecer pasto verde ás suas aves durante uma grande parte do anno, se jun:o da capoeira dispozer de terreno proporcionado, p.ira o effeito que temos em vista, ao numero de animais que a povoam.
Mis como se procede:Suppondo que se possue
um pedaço de terreno an- nexo á capoeira, e em com- municação com ella, divide-se esse terreno em tres talhões de 5 a 6 metros quadrados cada um. Cava- se o primeiro talhão e se- meia-se neile aveia pré- /iamente passada por leite de vacca, o que ajuda poderosamente a rapida germinação da semente. Para obstar a que as g.illinhas estraguem a sementeira, faz-se-lhe uma vedação como mais convier. Rede de arame é bom, mas caro; uma canniçada é pouco duradouro, mas barato. D , manhã e á tarde rega- se esse talhão semeado e ao fim de quinze dias temos um taboleiro de verdura bastante para alimentai- durante alguns dias uma duzia de gallinhas.'
Cultivando do mesmo modo e successivamente, com intervallos de oito a quinze dias, os dois ta- hões immediatos, as galli
nhas têm sempre onde pastar.
E' bem simples: Emquanto que o primeiro talhão ou taboleiro está em consumo, o immediato está em germinação e o terceiro semeado. Quando acaba o mantimento no primeiro, as gallinhas passam ao se- ^undo, e o primeiro é de novo cultivado; da mesma
fórma do segundo para o terceiro, numa verdadeira rotação.
Escusado será dizer que os talhões são separados de modo que as gallinhas não possam communicar de um para outro, senão quando isto convém.
E’ evidente que a superfície dos taboleiros deverá ser augmentada, segundo o numero de gallinhas, assim como deve calcular-se bem o tempo de consumo de cada taboleiro, para que a cultura se faça regular e successivamente, de tal sorte que ao exgottar-se a herva de um já 0 immediato esteja em condições de dar pasto ás aves.
'Este systema, alliado ao aproveitamento de todos os restos de cosinha, crea- ção de vermes, como já temos indicado, cultura do girasol, para utilisação das sementes, onde essa planta não tolha outras culturas, diminue notavelmente a despeza na alimentação das aves, e concorre para o seu desenvolvimento, producção e estado de saude.
SamoucoRealisa-se na noite de 2
do proximo mez de fevereiro uma récita por amadores daquella localidade ensaiados pela distincta actriz Filomena Jacobett, subindo á scena a engraçada comedia 0 Medico Mania desempenhada pelos seguintes individuos: José Luiz Rodello, José Póvoas, Francisco Fontes, Estevam Villacova, Jacinto Lopes e pela ensaiadora, Filomena Jacobett. Além desta comedia a mesma actriz desempenhará o interessante monologo 0 Riso e as cançonetas Espiga e Um batalhão no convénio. José Raul Caetano Almeida fará o monologo intitulado 0 Charuto e o distincto amador dramatico Joaquim Bertolo, O Suicidio, monologo com que abrirá este interessante espectáculo.
Deve ser uma noite de geral animação. Nós lá iremos.
O D O M I N G O
A nnivcrsarios
Completou mais um an- niversario natalicio, no dia 27 do corrente a sr.a D. An- na Rita Gouveia, esposa do nosso amigo, sr. Antonio Luiz Gouveia, conceituado negociante d’esta villa.
Os nossos parabéns..— Tambem no dia 2 do
proximo mez de fevereiro passa o anniversario natalicio da sr.a D. Marianna Rita dos Santos, esposa do nosso amigo, sr. Domingos Simões dos Santos, honrado industrial desta villa.
Antecipadamente lhe enviamos os nossos parabéns.
‘‘R e v is ta de L isboa.,
Acabamos de receber a visita d'esta excellente publicação lisbonensé, orgão da Academia Litteraria.
O fasciculo que temos insere os retratos de alguns dos melhores escriptores portuguezes, acompanhados de notas biographicas e muitos e interessantes artigos.
Agradecemos e em troca enviaremos o nosso modesto hebdomadario.
I^asíasosa
Falleceu na noite de 2.3 do corrente pelas 7 horas, Rita Carolina da Veiga Verdades, de 52 annos de edade, casada e natural desta villa.
— No dia 26, Antonio Gouveia, de 7 ) annos de edade, natural d esta villa.
— Tambem no mesmo dia pelas 6 horas da manhã, Christiano Augusto Resina, casado, serralheiro, de 3 i annos de edade, natural d’esta villa.
i | 9ici\a$
Queixou-se ao regedor desta villa, sr. José Rodrigues Pinto, Marianna Rodrigues Mangalavada, natural desta villa, de que no dia 25 do corrente pelas 6 horas da tarde fôra aggre-
dida com sôccos e bofetadas por seu irmão Jacintho Mangalavada, trabalhador, tambem natural e residente nesta villa. Queixou-se mais de que a ameaçara de lhe dar com uma enxada.
-— Na administração do concelho tambem se queixou no dia 27 do corrente a menor de 14 annos de edade Alexandrina da Conceição, filha de Eduardo Nunes, já fallecido, e de Guilhermina Julia da Silva, natural de São João do Monte, concelho de Villa Franca de Xira, residente nesta villa em casa do sr. Francisco Netto Feliciano, onde está a servir, que quando vae a casa de sua mãe, que actualmente vive em mancebia com um individuo de nome João Pelouro, estes a maltratam com pancadas incitando-a a metter-se na prostituição.
“ Passateanpo .,
Acabamos de receber o n.° 75, 2.0 do 4." anno, da encantadora Revista, editada pelos Grandes Armazéns Grandella, da capital. Como de costume vem interessantíssimo, repleto de gravuras e com um sum- mario magnifico;
Todos os assignantes do Passatempo ficam com direito a receber por meio da próxima loteria de Santo Antonio, a quantia de cem mil réis em dinheiro. Além deste premio, a empreza ainda estabelece outros, constante de quadros a oleo, luvas, etc.
Todos os compradores do Passatempo que viagem em caminho de feito, ficam com o direito em caso de sinistro, ao seguinte:
Por ferimentos a 5óo rs. diários, durante quinze dias. Por morte, a receberem seus herdeiros o subsidio de 200 réis diários durante6 mezes.
Para conseguir isto basta levar comsigo o ultimo numero publicado do Passatempo.
c o f r e : © e p é r o l a s
O P O V OO povo, eterna creança Que tudo vê côr de rosa,E borboleta vaidosa Que corre a buscar a lw{.Ouve, e conhece depois,Se d’alma lhe abrem as feridas, Que são palavras mentidas Essa illusão que o sedu
E ' sempre alegre o seu ar,E na miséria não pensa;Mas se uma cruel offensa Vae feril-o no coração,Sacode os membros; desperta Do seu adorado sonho E solta um grito medonho Como 0 rugir do leão.
Embora os grandes da terra Lhe chamem pobre e mesquinho, 0 povo, mesmo sósinho,Pode os grilhões abater;Pode mostrar que tem força,E que se entranha na liça Com esse ardor da justiça Que fa \ luctar e vencer !
JO A Q U IM D O S A N JO S.
P E N S A M E M T O SA poesia é a expressão da virtude. Uma bella alma e
um bello talento poético são quasi sempre inseparaveis. A poesia vem apenas da alma, e tanto se póde manifestar por uma boa acção como por um bello verso.—- Victor Hugo.
— O reconhecimento é similhante a esse licor do Oriente de que tanto falam os viajantes, que só se conserva em vasos d ’ouro; perfuma as grandes almas e a~eda-se nas pequenas.— J. Sandeau.
— A historia do mundo é a recopilação das loucuras dos homens.
A N E C D O T A S
Lia tempo, um empregado sollicitava com muito empenho de certo m 'nistro, para que este o nomeasse addido a uma commissão que ia estudar as reformas d ’um ramo de serviço no extrangeiro. Agastado o ministro com tantos pedidos, disse-lhe um dia:
— Ora, meu amigo: sabe o que lhe digo? Já estou farto de 0 aturar. . . Vá. .. passeiar.
— Ora é exactamente para isso mesmo que eu lhe eslava pedindo aquelle logar, respondeu o pretendente.
O ministro riu-se e despachou-o.__IMAMKOM__
N'um restauranl entra um individuo com ar marcial, physionomia guerreira e bigodes encrespados.
O creado approxima-se d'elle e di\-lhe cortesmente:— O que manda v. ex.a?— Um esquadrão de cavaílaria, respondeu o individuo.
L IT T E R A T U R AUm N ata l cm
Noite escura, illuminan- do-se espaço a espaço, como por encanto, de unia brecha luminosa que re- chassava. profundamente os céos, a que respondia immediatamente o soni horrendo e forte de um trovão que extremecia a terra.
O vento do norte trazia um frio cortante que açoitava os rostos, como vergalhos pesadíssimos, que fazia gretar dolorosamente a carne, ao passo que, arrastava o redemoinhar phantastico das arvores que partia, das telhas que levantava, rolando pelos ares, como pratos que se quebram do alto d’uma grande cantoneira.
Era em vespera da noite do natal.
Mergulhava Braga, mo- notona, triste, nas trévas, como num mar deserto, de gente que implora a salvação. Lugubres as torres gigantescas com os seus templos miravam de alto na postura de phantasmas, parecendo querer fulminar de temor mais que os pro- prios raios que se desencadeavam rutilando no espaço.
Davam onze horas na torre da Sé e milhares de almas, em aspecto sinceramente devotas preparavam-se para assistir ao Santo Sacrifício da Missa.
Já errava nas ruas pela escuridão um e outro vulto que se agasalhava tirita n t e, ora roçando-se pela luz mortiça e escassa de petroleo agonisante ás fur- tadellas, ora á luz baça e cadavérica d’um morrão de cera a alumiar uns santos de mau desenho e mal pintados, encaixados nas paredes, formando um nicho com resguardos, a mais das vezes de ferro. E um cofre engatilhado pede dinheiro para um santo... ou para as almas!
Mas quanta fome!
64 FOLHETIM
T ra d u cção de J. DO S A N JO S
D E P O I S bT p E C C A D OU r r o $cgma«lo
1
«Pode, pois, até certo ponto, estar descançada. O seu pae está confiado a pessoas amigas; tem uma religiosa ao pé d’elle emquanto estiver doente.
«T en h o pena, minha senhora, de não ter podido fazer coisa m elhor, mas espero que com prehenda que não me poupei a e;forço.; para real isar os seus desejos. Tod os os dias até el lo se curar de todo, terá noticias do seu p;:e pelo meu interm e iiario.
«Com a maior consideração e respeito, tenho a honra de me assignar
«R 1B A L L IE R , tabellião.»
Depois de ler esta carta, a Magdalena deixou-a cahir na cama. T rem ia de raiva e tinha nos olhos lagrimas de vergonha. O lhou para a s r.a Telem aco, mas esta. emquanto a Mag.’alena lia a carta, pegara n u m jo rra i, rasgá- ra-lhe a cinta e estava agora absorvida na leitura. De repente a Magdalena viu-a fazer-se p rlli.la e cahir n u m a cadeira, d ndo um grito, ao mesmo tempo que o jornal lhe cahia das mãos.
— Que é isso, que tens tu? e clamou a Magdalena, saltando fóra da cama e em brul ndo-se n u m penteador.
— N'este jornal vem uma noticia terrivel! m urm urou a senhora T e le maco.
A Magdalena baixou-se e apanhou a folha de papel que estava aberta sobre o tapete.
— Não, não, não leias! exclamou a sr. T elem aco, corren do para ella.
Mas a rapariga não a ouviu e percorren do o jornal até que parou nas seguintes linhas:
«Na occasião de entrar no prélo o nosso jo rn a l, soubem os um acontecimento doloroso que vae p ro d uzir a mais viva sensação.
«O general d ’A . . . , commándárite de uma brigada em Paris, acaba de se suicidar na sua casa da rua de V aren nes. Pudem os colher porm enores de esta irrem ediável desgraça e damol-os com a maior reserva, porque não tivemos tempo d - lhes verificar a exactidão. O general entrou em casa ás sete horas; juntou sósinho; d e p o i;r e
tirou-se para o seu quarto, para escrever um is cartas que mandou im mediatamente para o correio p o r uma ordenança. A 's dez horas ouviu se de repente uma detonação. O criado co rreu logo para o quarto do amo e en- controu-o estendido no leito, todo vestido, com o craneo despedaçado, tendo a nda na mão o revolver com que acabava de se matar.
«Este suicidio é inexplicável pa’-a todas as pessoas que estavam em relações com o general. Não se lhe conheci nenhum a causa para graves preoccupações. Ainda novo, com uma carreira brilhante, tendo no seu acti- \o os mais gloriosos serviços, bem visto ptlos chefes, náo tinha nada que invejar no presente e podia esperar tudo do futuro. Um dos amigos do general encarreg u se de le\ ar a triste nova á esposa e á filha que passam
a estação calmosa no campo, nos ar
redores de Paris.
— E parece-te que se trata do Leonel? m urm urou a Magdalena com a voz estrangulada pelo terror.
— O desespero de te perder! respondeu a s r.a Telem aco.
— E ’ impossível! disse a Magdalena, agarrando-se a uma subita esperança; tenho aqui justamente uma carta d’el- le.
Pegou na carta, em cujo sobrescfl- pto reconhecera a letra do amante, e abriu-a.
Logo ás prim eiras linhas fez-se lívida e cahiu de joelhos no tapete, dizendo:
— E ’ elle! é bem certo ser elle! pobre Leonel!
(Continuaj.
O DOMINGO 3Quanta falta de abrigo e
ale°ria erra por esses cantos de fatídica miséria envolvendo o céo com o fervor das suas preces onde nã0 vê esperanças, e a ter- ra num olhar . splenético onde não vê ninguém!
Uma rapariga descalça, de lenço, mostrando a mais do tornozelo, com saia curta que se escurecia já desbotada do uso e das no- doas, emergia por entre as trévas da noite tempestuosa, a costear a cadeia civil, de maneira indolente; e procurava esganiçar-se para algum dos homens que sahiam das tabernas e dos cafés; mas ninguém tentava nella porque não aviam, ou porque não a queriam.
Porém ella ia muitas vezes ao mesmo sitio e pos- tára-se em frente das Arcadas, depois de andar como de penitencia, á roda duma Ermida.
Assim, por ultimo, já cançada de uma quietação immovel, sahiu dalli olhando ainda para traze corria pela rua das Aguas, por ahi abaixo, batendo os pés nas lageas, soando que nem palmadas; depoismet- teu-se pela rua da Ponte sempre no mesmo prolongamento, passou a um passo regular devido á má calçada, internando-se por fim á tomar a esquerda, para um agrupamento de pequenas casas terreas, parecendo um cói, conhecido pelo nome de ilha, ou de «Bairro Democrático» Voltou ainda á esquerda, percorreu os olhos por tres portas, examinando-as de passagem, e parou de um semblante triste com olhar de la grimas; depois n’um modo indeciso, como se a forçassem, empurrou mansamente a porta e appa- receu no limiar da casa.
Era um cubiculo em quadrado, de tecto baixo, com uma porta ao fundo— negro e triste, horroroso, dunp.ressões dilace- rantes que arrepiava de medo e de commiseração, como a fome arraigada a todos os vicios maus, que morava nella, em um exercicio de devassidão para a alma e para o cor-p o . r
Um cantaro de barro, pequeno, de bôca larga, similhante a um pote, jazia á um canto vertendo pouco a pouco a agua pelas rachaduras, arremendadas com tiras de panno branco e pez de sapateiro, parecendo um ébrio já cheio de pontos, prestes de todo a cahir. Uma tosca meza de pinho, tremia carunchosa sob o peso de um alr
guidar de barro preto, em que se aíufillhava uma saia e avental em espuma de sabão, como de barreia, para desencardir d’um sujo já coçado. Jornaes, revistas, com mulheres nuas, e santos em papeis ennodoa- dos, e mais imagens, agrupavam-se ao redor a forrar as paredes, tapando os buracos. No chão uma marmita de lata, redonda, de soldado, fazia sahir de rabo para fóra tres colheres de pau; e do canto esquerdo em frente á porta da rua, para resguardo, pendia uma larga tira de riscado, em fórma de cortina, segura a prégos, não havendo côr que a definisse.
Ao centro, na coròa da casa, um rapazinho de cerca cie oito annos, enfezado, de. tez macilenta, olhos amortecidos, com algodão em rama nos ouvidos a tor- eerce de amarello, pingando humor, atiçava o lume de uma acha grossa, pezan- do-lhe a cabeça ás pende- dellas e os olhos quebrantados.
{Continuai.b r a z m a c h a d o .
R. G,Agradeço reconhecida a
offerta que me fizeste no dia dos meus annos. E’ bonito e regula muito bem. Posso gabar-me de que relogio como o meu só poderá ter quem for á Relojoaria Garantida de Avelino Marques, na rua do Po- ç o , i .
C i r c o
Com uma boa casa rea- iisou-se no domingo passado um excellente espectáculo composto de alguns dos melhores trabalhos da companhia. Tem esta companhia artistas de valor bem dignos de admiração comoo >o podem ser os tres irmãos Paternas nos soberbos trabalhos de equilíbrio de cabeça com cabeça. Adriano Rey, no trapézio, nada mais se pode exigir.Manuel Amado apresenta em liberdade dois animaes muito bem adextrados, um cavallo pequeno e um burro, este ultimo dá provas de ser um animal muito intelligente e honras ao seu mestre pela extraordinarissima paciência que será preciso para conseguir que um animal daquelles se equilibre sobre quatro garrafas; pena é que o sr. Amado não se ja mais loquaz, tendo para esses trabalhos uma labia estudada, o que dá sem pre realce ao trabalho e
prende mais a attenção do espectador.
Como o tempo estivesse péssimo não houve espectáculo na quinta feira nem hontem.
O espectáculo de hoje consta de trabalhos acroba- ticos por Manuel Amado e Pepito Paterna intitulado Os dois gumosos, A escada aérea por Adriano Rey, equilibrios pela sr.a Blanca Ortiz, O duplo-trape^io por Pepito e Faz-tudo, entradas cómicas pelos clowns Arthur Bimbo e Faz-tudo, O burro sabio e equilibrista apresentado em liberdade por Manuel Amado e terminará este interessante espectáculo com uma pantomima mimica, intitulada Um baile de mascaras.
K’ de esperar uma enchente.
LENÇOS DE M A L H Ápor metade do seu valor e mais fazendas da presente estação com grandes abatimentos. Grande Armazém do Commercio, Praça Serpa Pinto.
para assistirem á dita arre- ! matacão e ahi usarem dos>jseus direitos sob pena de revelia.
Aldegallega do Ribatejo, 14 de Janeiro de 1904.
Verifiq u ei a exactidão.
O JU IZ D E D IR E IT O ,
Oliveira Guimarães. O E S C R IV Á O
José Maria de Mendonça.
Uma meza elastica de 2 taboas em bom estado, 3 vãos de caixilhos para janella e dois vãos de taboi- nhas.
N’esta redaccão se diz.
ANHOÍ ^CI OS
_A.3srxvruisrcio
|(j AIjUIj UnL/UliUíl
A N N U N C I O
OOMAl í CA DE ALDEGALLEGA
( g . a i Bas?.i3Ieaçã<í)
Por este Juizo de Direito, cartorio do i.° officio e inventario orphanologico por obito de Anna Libania e no qual é inventariante Augusto da Silva Couto, vae á praça á porta do tribunal de esta comarca, no dia 7 do proximo mez de Fevereiro, pelo meio dia, a fim de ser arrematado por preço superior ao da sua avaliação que é de 202$000 réis o seguinte dominio util.
O dominio util dum praso foreiro em 68400 réis annuaes, sem laudemio, aos herdeiros de Manuel José Nepomuceno, que se compõe de casas abarracadas, quintal e abegoaria, sitas na rua do Quartel de esta villa.
Pelo presente são citados os Crédores incertos
( g . 11 í 3 gsI s>í à c ís ç S s s )
Por este Juizo de Direito, cartorio do i.° officio e inventario por obito .de Domingos Fernandes Alcaide, no qual é inventariante Maria da Conceição, de esta villa, vae á praça á porta do Tribuna! de esta comarca, no dia 7 do proximo mez de Fevereiro, pelo meio dia, afim de ser arrematado por preço superior ao da sua avaliação que é de 877 >660 réis a seguinte propriedade:
Um moinho de 'vento com um cerrado e duas moradas de casas, situado na praia da freguezia de
Alcochete, foreiro em 120 réis annuaes com laudemio de quarentena á Camara de Alcochete, e uma pensão de uma missa annual.
Pelo presente são citados quaesquer crédores incertos para assistirem á praça querendo.
A contribuição de registro é paga por inteiro pelo arrematante.
Aldegallega do Ribatejo,14 de Janeiro de 1904.V erifiq uei a exactidão.
O JU IZ D E D IR E IT O ,
Oliveira Guimarães.O E S C R IV Á O
José Maria de Mendonça.
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L IV R A R IA E D IT O R A D E M . G O M E SC H IA D O . 6 1- L IS B O A
Almanach das Aldeias para 1904O Almanach das Aldeias para igoq. encerra varia
dos e interessantes artigos inéditos sobre todos os ramos de agricultura, e muitos assumptos uteis na vida pratica. E nm livro utilíssimo a toda a gente, mas principalmente aos agricultores.
Collaboram neste almanach os redactores da Gabela das Aldeias snrs. Carlos de Sousa Pimentel, Eduardo Sequeira, João Ignacio T. de Menezes Pimentel, Dr. Julio A. Henriques e M. Rodrigues de Moraes.
E’ este almanach UM VERDADEIRO GUIA DO AGRICULTOR e contém matéria que a toda a gente aproveita. Fórma um volume de 176 paginas, illustrada com 3j. gravuras, na maior parte expressamente feitas para esta edição, e custa i 5o réis, franco de porte. E’
‘remettido immediatamente pelo correio a quem envi- ‘ar a resnectiva importancia á administração da Gaveta das Aldeias, rua do Sá da Bandeira n.° i q 5 , i .°— Porto.
4 O DOMINGO
ImMwmmCOMMERCIO DO POVOTendo continuado a augmentar o movimento desta
já bem conhecida casa commercial pela seriedade de transacções e já tambem pela modicidade de preços porque são vendidos todos os artigos, vem de novo recommendar ao publico em geral que nesta casa se encontra um esplendido sortido de fazendas tanto em fanqueiro como em modas, retrozeiro, mercador, chapelaria, sapataria, rouparia, etc., etc., prompto a satisfazer os mais exigentes e
AO A L C A N C E D E T O D A S A S B O L S A S
Devido á sahida do antigo socio d’esta casa, o ill.m0 sr. João Bento Maria, motivada pelo cansaço das lides commerciaes, os actuaes proprietários resolveram am~ plear mais o actual commercio da casa dotando-a com uns melhoramentos que se tornam indispensáveis a melhorar e a augmentar as várias secções que já existem. Tomam, pois, a liberdade de convidar os seus estimáveis freguezes e amigos, a que, quando qualquer compra tenham de fazer, se inteirem primeiro das qualidades, sortido e preços porque são vendidos os artigos, porque decerto acharão vantagosos.
A divisa d’esta casa é sempre ganhar pouco para vender muito e vender a todos pelos mesmos preços, pois que todos os preços são fixos.
Vitiiírin. po is . o Cosia sei «*!•<;•: o d# P o v o ------------ -— k j e o : -----------------
NUNES DE C A R V A L H O & SILVARita Direita, 88 e go — — Rua do Conde, 2 a 6
Aldegallega do R ib s t r jo
ESTEVÃO JO S E DOS REIS— * C O M *—
O F F IC IN A D E C A L D E IR E IR O D E C O B R Eiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiu
Encarrega-se de todos os trabalhos concernentes á sua arte.
R U A D E JO SE M A R L I DOS S A N TO S ALDEGALLEGA
ít£LQ JftAÍUA í* ARANTÍI) AD E —
IfrWOIS CVende e concerta Ioda a qua-
_ lidade de relogios por preçosmodicos. Tambem concerta caixas de musica, objectos de ouro, prata e tudo que pertença d arte de gravador e galvanisador.
G A R A N T E M - S E OS CO N C ER T O S
1, Ilisa do P o ço , l-A iiiE O rM i142
MERCEARIA RELOGIO[S U C C E S S O R E S !
Franco & FigueiraOs proprietários d’este novo estabelecimento parti
cipam aos seus amigos e ao publico em geral, que teem á venda um bom e variado sortido de artigos de mercearia, especialidade em chá e café, confeitaria, papelaria, louças pó de pedra. Encarregam-se de mandar vir serviços completos de louça das principaes fabricas do paiz, para o que teem á disposição do publico um bom mostruário. Pe.roleo, sabão e perfumarias.
Únicos depositários dos afamados Licores da Fabrica Seculo X X , variado sortido em vinhos do Porto das melhores marcas, conservas de peixe e de fruetas, massas, bacalhau de differentes qualidades, arroz nacional e extrangeiro, bolachas, chocolates, etc., etc.
PRACA SERPA PINTO —ALDEGALLEGA
G R A N D E A R M A Z É M-* i)E *-
& Comp.a
Farinha, semea, arroz nacional, alimpadura, fava, milho, cevada, aveia, sulphato e enxofre.
Todos estes generos se vendem por preços muito em conta tanto para o consumidor como para o revendedor. l '52
U n a do Caes — ALDEGALLEGA
CA IIVÀO DE KOKEDas Companhias Reuni
das Gaz e Electricidade, de Lisboa, a 5 0 0 réis cada sacca de 45 kilos
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L arg o da C aldeira— . A L D E G A L L E G A *—
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OS DRAMAS DA CORTE
(C hronica do reinado de L u iz X V )
Romance historico por E. LADOUCETTE
Os amores trágicos de Manon Les- raut com o < eiebre cavalleiro de G rieu x, formam o entreçho d‘este rom ance, rigorosam ente historico, a que Ladoucette im prim iu um cunho de originalidade devéras encantador.
A córte de L u iz x v, com todos os seus esplendores e misérias, é escri- pta magistralmente pelo auetor d '0 Bastardo da Rainha nae paginas do seu novo liv ro , destinado sem d uvida a alcançar entre nós exito egual aquelle com que foi recebido em Pa ris, onde se contavam p o r milhares os exem plares vendidos.
A edição portugueza do popular e com m ovente rom ance, será feita em fasciculos semanaes de 16 paginas, Je grande form ato, illustrados com soberbas gravuras de pagina, e constará apenas de 2 volumes.
SO ré is o faseiesslo!©<> ré is o tom o
2 valiosos brindes a todos os assignantes
Pedidos á Bibliotheca Popular, E m presa E ditora , 162, Rua da Rosa. 162
Lisboa.
SALCHICHARIA MERCA3MTII,D E
GAMÍ£L m iíISIS t I M «
Neste estabelecimento encontra o publico, sempre que queira, a excellente carne de porco fresca e salgada, assim como:
CHISPE, CABECA E TOUCINHO1 >
Acceio e sm e ra d o ! —♦— P r e ç o s lim itados!
5 7-B, Largo da Praça Serpa Pinto, 5 7-B
ALDEGALLEGA *§0
J O S É D A R O C H A B A R B O S ACoem offícliia de C o r re e iro e S e l le i ro
18, RU A DO F O R N O , 18A L I» 1<] « A L 5„ 12 « A
G m
Nacionaes e exoticosI M L Y S E i AiI«OB,5’TA fflHVrU «A U A W T I» AS
Guano n.° azote phosp. potassa preço por kilo1 3.04 °[0 7.470 °[o 0,47 °|o 26 réis2 3,54 °|o 4-04 °|o 0,49 «[0 20 réis6 5,6o °[o 12,24 °[o o,5«5 °|0 34 réis9 5 ,('4 °[o 12,56 °|o o ,5o °[° 34 réis
SULPHATO DE POTASSIUMCom 5o °[0 de potassa a 80 réis o kilo
Estes guanos podem ser mais ou menos potassados conforme a requisição dos lavradores.
Estão em elaboração outros guanos que depois de moídos e analysados serão annunciados
Recebem-se as saccas em bom estado
F a b r ic a e d e p o s ito s da ]%ova L m p re z a de Adubos Artifficiaes em A ldegallega do R ib a te jo ato a lto da l l a r r o s a .
E S C R IP T O R IO S : em Lisboa, Largo de S. Paulo, 12, i.°; em Aldegallega, Rua Conde Paço Vieira, 24.
íCil DO DIARIO DE NOTICIASA GUERRA ANGrLO-BOER
Impressões do Transvaal
Interessantíssim a narração das luetas entre inglezes e b oers, «illustrada» com numerosas zinc o-gravuras de «hom ens celebres» do T ransvaal e do O range. incidentes notáveis, «cercos e batalhas mais cruen ta; da
G U E R R A A N G LO -B O ER Por um funccionario da Cruz Vermelha ao serviço
do Transvaal.Fasciculos semanaes de 16 paginas.............. 3o réisTomo de 5 fasciculos.................................. i 5o »
A G U E R R A A N G L O B O E R é a obra de mais palpitante actualidade.N ’ella são descri; tas, «por uma testemunha presencial», as differentes
phases e acontecim entos emocionantes da terrivel guerra que t e m espantado o mundo inteiro.
A G U E R R A A N G L O -E O E R faz passar ante os o l h o s do l e i t o r todas as «grandes batalhas, combates» e «escaramuças» d‘esta prolongada e acérrima lueta entre inglezes, tra svaalianos e oranginos, verdadeiros prodigios de heroism o e tenacidade, em que são egualmente adm iravéis a coragem e dedicação p,.triotica de vencidos e vencedores.
Ós incidentes variadíssim os d’esta contenda e itre a poderosa Inglater ra e as duas pequ nas republicas sul-africanas, decorrem atravez de verdadeiras peripecias, p o r tal maneira dramaticas e pittorescas, que dão á G U E R R A A N G L O -B O E R . conjunctamente com o irre sistíve l attractivo d u m a narrativa h storica dos nossos d as, o en< anto da leitura romantisada.
A Bibliotheca do DIARIO DE NOTICIASapresentando ao p u biico esta obra em «esmerada edição,» e p o r u iíi preço dim inuto, julga prestar um serviço aos num erosos leitores que ao mesmo tempo desejam delei;ar-se e ad q u irir perfeito conhecim ento dos successos que mais interessam o m undo culto na actualidade.
Pedidos d Emprega do D IA R IO D E N O lIC IA S Rua do Diario de Noticias, 110 — LISBOA
Agente em Aldegallega— A. Mendes Pinheiro Junior.