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Treino Cognitivo em Idosos sem Demncia
Estudo em idosos residentes no lar da Santa Casa da Misericrdia de Mondim de Basto
Zlia Maria Faria Pereira
Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a
obteno do grau de mestre em Envelhecimento Ativo
Orientado por
Professora Doutora Emlia Eduarda Rodrigues de Magalhes
Bragana, 2012
Treino Cognitivo em Idosos sem Demncia
Estudo em idosos residentes no lar da Santa Casa a Misericrdia de Mondim de Basto
Zlia Maria Faria Pereira
Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a
obteno do grau de mestre em Envelhecimento Ativo
Orientado por
Professora Doutora Emlia Eduarda Rodrigues de Magalhes
Bragana 2012
I
Resumo
O envelhecimento da populao um fenmeno demogrfico a nvel mundial que
teve lugar na segunda metade do sculo XX, sendo considerado a expresso da
inteligncia humana e do desenvolvimento social e tambm um desafio para a cincia e
a sociedade (Fernndez-Ballesteroset al,2009).Nesta perspetiva a velhice no constitui
um problema. Deve antes ser encarada como uma oportunidade de continuao do
desenvolvimento atravs da construo e incrementao de programas de interveno
cognitiva em idosos com envolvimento dos prprios especialistas em gerontologia, das
famlias e da sociedade.
Alguns estudos documentam declnio cognitivo ao longo do envelhecimento. No
entanto, outras investigaes apontam que o treino cognitivo gera um aumento
significativo no desempenho cognitivo dos idosos (Yassuda 2006).
O presente estudo teve como objetivo avaliar o impacto do programa de
estimulao cognitiva no desempenho dos idosos. Aplicou-se o Mini Exame Mental
para avaliar a funo cognitiva dos participantes.
Optou-se por realizar um estudo longitudinal, quasi experimental e quantitativo.
O estudo foi realizado em utentes do lar da Santa Casa de Misericrdia de Mondim
de Basto, em idosos sem diagnstico prvio de demncia.
Como instrumento de recolha de dados utilizou-se o questionrio scio demogrfico
e aplicou-se o Mini Exame Mental.
Os resultados desta investigao apontam no sentido de existir uma melhoria no
rendimento cognitivo. No pr-teste a mdia global foi de 20,7 pontos e na avaliao
posterior foi de 23,8 pontos. Assim, os resultados indiciam um efeito positivo deste tipo
de interveno cognitiva. Como tal, a aplicao de tais programas em instituies (como
lares, centros de dia, entre outras) podem contribuir para prevenir ou a retardar
problemas cognitivos, permitindo-lhes um envelhecimento ativo.
Palavras- chave: Envelhecimento Ativo, Plasticidade cognitiva, Interveno cognitiva.
II
III
Abstract
Population aging is a world demographic phenomenon that started during the
second half of the xx century; it is considered the expression of human intelligence and
social development, as well as a challenge opportunity for science and society
(Fernandez-Ballesteros et al, 2009).
In this perspective old age is not a problem, it must be faced as a chance to keep
developing through the construction and implementation of cognitive intervention
programs with elder people, involving them, gerontology specialists, families and
society.
Researches show memory loss through the aging process, meanwhile, other
studies show that training and practice improves their performance (Yassuda 2006).
Decision was made to do a descriptive longitudinal study, to include a memory training
program, with the objective of analyzing the impact of the memory stimulation program
with the use of the Mini Mental Exam (MEM) after the training.
We opted for conduct a longitudinal, quasi experimental and quantitative, consisting of
a cognitive training program.
The study was done at the Santa Casa da Misericordia de Mondim de Basto home, with
old people without dementia pre diagnosis.
The socio demographic questioner was used as the research data base to identify
the ones without dementia.
The results of this study show a better cognitive performance. On the pre-test, the global
average was 20, 7 points while on the following evaluation the average was 23, 8
points. Therefore, the results show a positive effect of this type of cognitive
intervention, in institutions such as (old folks homes, day care centers and others) in a
way to prevent and delay the cognitive problems in elder people, allowing them an
active aging.
Key words: Active aging, cognitive plasticity, cognitive intervention.
IV
V
Lista de Abreviaturas
OMS Organizao Mundial de Sade
INE Instituto Nacional de Estatstica
MEM Mini Exame Mental
SOC Modelo de Seleo,Otimizao e Compensao
VI
VII
ndice
Introduo................................................................................................................... 1
Parte I - Enquadramento Terico ............................................................................... 3
1. Envelhecimento Demogrfico .......................................................................... 5
2. Noes gerais sobre o envelhecimento ............................................................ 8
2.1. Paradigma Contextualista .......................................................................... 11
2.2. Envelhecimento Ativo ............................................................................... 13
2.3. Teorias do envelhecimento ........................................................................ 16
3.Institucionalizao ....................................................................................................... 21
4. Cognio ......................................................................................................... 23
4.1. Memria .................................................................................................... 23
4.2. Ateno ...................................................................................................... 26
4.3. Inteligncia ................................................................................................ 27
4.4. Plasticidade cognitiva ................................................................................ 27
5.Estratgias de treino cognitivo ..................................................................................... 30
6. Treino cognitivo: reviso de alguns estudos ................................................... 32
Parte II - Estudo emprico ........................................................................................ 37
1. Metodologia ................................................................................................... 39
1.1. Questo de Investigao ............................................................................ 39
1.2. Objetivo da investigao ........................................................................... 39
1.3. Tipo de estudo ........................................................................................... 39
1.4. Seleo da amostra .................................................................................... 39
1.5. Critrios de incluso .................................................................................. 40
1.6. Caracterizao da Amostra ........................................................................ 40
1.7. Instrumentos de recolha de dados .............................................................. 42
2. Procedimentos ................................................................................................ 44
2.1. Recolha de dados ....................................................................................... 44
2.2. Procedimentos ticos e deontolgicos ....................................................... 44
3. Plano de interveno ...................................................................................... 45
4. Apresentao e discusso de resultados ......................................................... 47
5. Discusso dos resultados ................................................................................ 58
VIII
Concluses da investigao ................................................................................ 59
Limitaes do estudo .......................................................................................... 59
Implicaes para futuras investigaes ............................................................... 60
Referncias Bibliogrficas .................................................................................. 63
Anexos ...................................................................................................................... 73
Anexo I - Cronograma de atividades ......................................................................
Anexo II - Questionrio por Entrevista ...................................................................
Anexo III - Mini Exame Mental de Folstein ...........................................................
Anexo IV - Termo de Esclarecimento Livre e Informado ......................................
Anexo V - Exerccios de clculo Mental ................................................................
Anexo VI - Ateno visual ......................................................................................
Anexo VII - Exerccios de Memria a curto prazo .................................................
Anexo VIII - Exerccios de Evocao .....................................................................
Anexo IX Libro de La Memria (Histria de Vida) ...............................................
IX
ndice de Tabelas
Pg.
Tabela 1- Resultados de alguns estudos34
Tabela 2 Caracterizao da amostra...40
X
XI
ndice de Grficos
Pg.
Grfico 1 - Caracterizao dos participantes em funo do gnero... 41
Grfico 2 - Caracterizao dos participantes em funo da idade.......41
Grfico 3 - Caracterizao dos participantes em funo da escolaridade.......41
Grfico 4 - Caracterizao dos participantes em funo da profisso exercida..42
Grfico 5 - Caracterizao dos participantes em funo das atividades.42
Grfico.6- Caracterizao dos participantes em funo dos anos de
institucionalizao...42
Grfico 7 - Pontuaes obtidas na orientao pr teste do MEM....47
Grfico 8 Pontuaes obtidas na orientao ps-teste do MEM.47
Grfico 9 Pontuaes obtidas na reteno pr teste do MEM 48
Grfico 10 -Pontuaes obtidas na reteno ps-teste teste do MEM48
Grfico 11- Pontuaes obtidas na ateno /clculo pr-teste do MEM......48
Grfico 12 - - Pontuaes obtidas na ateno /clculo ps-teste do MEM..48
Grfico 13 - Pontuaes obtidas na evocao no pr-teste do MEM.49
Grfico 14- Pontuaes obtidas na evocao no ps-testeMEM49
Grfico 15- Pontuaes obtidas na linguagem no pr-teste do MEM....49
Grfico16- Pontuaes obtidas na linguagem no ps-teste do MEM49
Grfico 17- Pontuaes total obtidas pr teste do MEM..50
Grfico 18- Pontuaes total obtidos ps teste do MEM.50
Grfico 19 - Anlise das mdias - orientao pr e ps teste......50
Grfico 20 - Anlise de mdias da reteno vs Fases....52
Grfico 21 - Anlise de mdias da ateno/ Clculo vs Fases..53
XII
Grfico 22 - Anlise de mdias da evocao vs Fases54
Grfico 23- Anlise de mdias da linguagem vs Fases..55
Grfico 24- Anlise de mdias do pr e ps teste ...56
XIII
ndice de Figuras
Pg.
Figura 1-Determinantes do envelhecimento ativo (de acordo com OMS, 2005).14
Figura2-Domnios comportamentais e psicolgicos do envelhecimento ativo(adaptado
Fernandez-Ballesteros, 2003).............15
Figura 3 - Esquema geral dos sistemas de Memria de Pousada & Fluente
(2007)24
XIV
1
Introduo
A evoluo que ocorreu na psicologia do desenvolvimentodeixou de se restringir
apenas infncia e adolescncia e encarou o envelhecimento como um fenmeno que
ocorre ao longo de todo o ciclo vida (Fonseca, 2007).
De acordo Magalhes (2011) o modelo atual de desenvolvimento humano ao longo
do ciclo da vida, com a evoluo das diferentes capacidades, para as quais contribuem
vrios fatores, no unidirecional, nem universal, nem irreversvel. Apesar de algumas
capacidades se poderem deteriorar, outras mantm-se e podem ser inclusive
enriquecidas.
A memria a funo superior mais estudada no mbito do envelhecimento normal
e se umas capacidades declinam com o passar dos anos, outras mantm-se bem
preservada ,de acordo com Garcia (2009).
Os estudos sobre a plasticidade cognitiva demonstram que o crebro tem a
capacidade de modificao e de adaptao e que atravs dos programas de treino
cognitivo se pode preservar um bom nvel de eficincia nas pessoas idosas bem como
possibilitar a recuperao dos processos cognitivos.
Em Portugal, os estudos sobre o treino da memria em idosos institucionalizados
ainda so escassos. Deste modo, o presente estudo pretende responder pergunta qual o
efeito de um programa de treino cognitivo em idosos institucionalizados sem
diagnstico de demncia?
O estudo foi realizado no lar da Santa Casa de Misericrdia de Mondim de Basto,
com idosos sem diagnstico prvio de demncia.Como instrumento de recolha de dados
utilizou-se o questionrio scio demogrfico e aplicou-se o MEM. A amostra foi de
catorze indivduos.
A presente investigao foi dividida em duas partes. Na primeira refere-se o
enquadramento terico que, de alguma forma, deu suporte investigao realizada. Para
tal, no primeiro ponto, abordou-se o processo Envelhecimento Humano,
designadamente os aspetos relacionados com o envelhecimento demogrfico, tanto a
nvel internacional como a nvel nacional. Segue-se a descrio do que a velhice e o
envelhecimento,bem como teorias explicativas do envelhecimento as biolgicas e as
2
psicossociaise a institucionalizao. Por fim, explanou-se a cognio, com
referncia aos sistemas da memria e s alteraes provocadas pela idade, a nvel
cognitivo. De seguida abordou-se a inteligncia, ateno, a plasticidade cognitiva, bem
como atividades que podem ser realizadas ao nvel do treino cognitivo e, por fim, fez-se
a reviso de alguns estudos.
Na segunda parte, referente ao estudo emprico, onde se expe e justifica a
metodologia utilizada para alcanar o objetivo da presente investigao, apresentam-se
e analisam-se os resultados obtidos, seguindo-se adiscusso dos mesmos, pretendeu-se
dar conta das principais concluses retiradas dos resultados analisados.
3
ParteI- Enquadramento Terico
4
5
1. Envelhecimento Demogrfico
De acordo com Fernandez-Ballesteros, Pinquarty eTorpdalh (2009), o
envelhecimento da populao no apenas um fenmeno demogrfico da europa mas
sim um fenmeno mundial.
Na atualidade, o envelhecimento populacionaltem-se vindo a construir como um
tema fundamental no apenas pela relevncia do processo, mas tambm pelas
consequncias multidimensionais que o encerra(Dias & Rodrigues, 2012).
A longevidade, o limite mximo de vida e a expectativa de vida so trs conceitos
bsicos, apontados por Vega & Martinez (2000), para se referir ao tempo que vive um
indivduo. Quanto longevidade, esta uma caracterstica que define as pessoas que
vivem muitos anos e que superam a expectativa mdia de vida. O citado conceito diz
respeito expectativa de uma determinada populao, relativamente esperana mdia
de vida. Uma pessoa longeva aquela que tem uma idade entre a expectativa mdia de
vida da sua populao e o limite mximo de vida da espcie (Vega & Martinez 2000).
Em relao ao segundo conceito, o limite mximo de vida, ele refere-se ao nmero
mximo de anos que j viveu um indivduo da espcie e pode ser designado de perodo
de vida ou expetativa de vida mxima potencial (Vega & Martinez 2000). No que
concerne ao terceiro e ltimo conceito, a expetativa de vida diz respeito ao nmero de
anos que se prev que um indivduo ir viver. De acordo com os autores citados em
ltimo, a expectativa de vida tambm pode denominar-se por esperana mdia de vida e
o valor da mesma pode depender dos fatores ambientais, de acontecimentos externos ao
indivduo, da incidncia de doenas, dos avanos mdicos e tecnolgicos. A esperana
mdia de vida no deixou de aumentar, incrementando, assim, o envelhecimento
demogrfico que se regista, em quase todos os pases do mundo (Naes Unidas, 2010).
De acordo com Naes Unidas (2010), em 2000, havia 600 milhes de pessoas com
mais de 60 anos, nmero trs vezes superior ao ano de 1950, e em 2009 havia cerca de
700 milhes de pessoas idosas. No ano de 2050, estima-se que chegar a 2 bilies de
pessoas com mais de 60 anos, o que significa que vai triplicar num espao de cinquenta
anos (Naes Unidas, 2010). Esta estimativa tambm apresentada pela Organizao
Mundial de Sade (OMS, 2011).
6
De acordo com o INE (2002), o envelhecimento demogrfico definido pelo
aumento da proporo das pessoas idosas na populao total. Aumento esse que se
consegue em detrimento da populao jovem e/ou em detrimento da populao em
idade ativa, o que tem vindo a aumentar em Portugal. Nazareth (2009) considera que o
envelhecimento demogrfico se divide em dois tipos: envelhecimento na base da
pirmide e envelhecimento no topo da mesma. Enquanto o primeiro diz respeito
diminuio da percentagem de jovens, o segundo refere-se ao aumento da percentagem
de pessoas de idade mais avanada. No entanto, estes fenmenos de envelhecimento
esto interligados, uma vez que quando a populao mais jovem comea a diminuir
(base da pirmide), os restantes grupos de idades aumentam a sua importncia
(Nazareth, 2009). Como tal, leva a um duplo envelhecimento (INE, 2011). Portugal, em
1970, tal como a maioria dos pases europeus, apresentava um duplo envelhecimento,
apesar de nesta altura ser um dos pases mais jovens do contexto europeu,
envelhecimento, esse, que ocorreu no perodo a seguir ao fim da Segunda Guerra
Mundial (Nazareth, 2009). Consequentemente, as pirmides etrias em Portugal tm
vindo a sofrer alteraes. Em 1981, 25% da populao pertencia ao grupo etrio mais
jovem e a populao mais idosa (com mais de 65 anos) representava 11,4%. Mas esta
tendncia inverteu-se e, em 2011, o grupo etrio dos mais jovens (0-14 anos)
representava 15% da populao e a faixa etria dos idosos representava cerca de 19 %
(INE, 2011). Segundo as previses do INE (2009), em 2060, residiro em Portugal 271
idosos por cada 100 jovens, mais do dobro do valor projetado para 2009 (116 idosos por
cada 100 jovens). O envelhecimento populacional a nvel geogrfico no se processou
uniformemente segundo os resultados provisrios do INE (2012) pois cerca de um tero
dos idosos encontra-se na regio Norte, sendo de 31% do total da populao idosa,
seguindo-se as regies Centro e Lisboa, ambas com pesos prximos de 26%. Nas
regies do Alentejo, Algarve, Autnomas da Madeira e dos Aores encontram-se,
respetivamente 9,1%; 4,4%; 2%; 1,6% dos idosos residentes no pas.
Em relao fertilidade, as Naes Unidas (2010) consideram que improvvel
que volte a alcanar os altos nveis que foram caractersticos do passado e, ainda, que os
pases em desenvolvimento tero menos tempo para se adaptar s consequncias deste
fenmeno de envelhecimento. Os nveis de fecundidade na sociedade portuguesa caram
drasticamente, permanecendo a nveis inferiores para renovar as geraes futuras
(Carrilho & Patrcio 2010). Este facto e a longevidade, segundo os mesmos autores,
repercutem-se na composio etria da populao e assinalam um processo de
7
envelhecimento demogrfico. Projees recentes de Portugal indiciam que os idosos
tm vindo a aumentar significativamente ao longo dos tempos, sendo que, em 2011, a
proporo de populao com 65 ou mais anos era de 19%, contrastando com os 8 %, em
1960 e os 16% na dcada anterior (INE, 2011).
O envelhecimento demogrfico acompanha alteraes a vrios nveis na sociedade,
de acordo Fontaine (2000), Oliveira (2005) e INE (2011). A nvel econmico, o
consequente aumento dos reformados implica menos receitas para o estado; a nvel
social, envolve a necessidade de criar infraestruturas adequadas, tais como redes de
apoio a idosos; a nvel cultural, surge a necessidade de criar de condies no sentido de
que os idosos otimizem as oportunidades e capacidades, uma vez que tm um aumento
significativo do tempo de lazer; por fim, a nvel mdico exige-se mais cuidados e gastos
com medicao. O envelhecimento da populao torna-se um fator determinante para a
necessidade de tomar medidas para aumentar o seu impacto positivo e diminuir o
impacto negativo que esteja subjacente(Sequeira, 2010).
8
2. Noes gerais sobre o envelhecimento
A palavra velhice deriva de velho, do latim veclus, vetulusm,que por sua vez,
definida por uma pessoa de muita idade (Fernndez-Balesteros, 2004). Hamilton (2002)
expe que a velhice era extremamente rara nos tempos pr-histricos.ParaSpar e La Rue
(2005) a delimitao do perodo que corresponde velhice no consensual.O mesmo
autor considera que o envelhecimento apresenta vrias alteraes, tanto a nvel
psicolgico como biolgico, sucedendo de forma gradual, ao longo do ciclo vital e,
como consequncia, no possvel delimitar uma data exata para que a pessoa possa ser
considerada velha. No entanto, a OMS delimita a idade dos 65 anos como um marco
cronolgico para a definio de pessoa idosa, correspondendo idade da reforma.
Ao longo da histria o envelhecimento no foi das reas que mais ateno mereceu,
o que resultou, em parte, das estruturas sociais vigentes, nas quais o nmero de crianas
e jovens eram, na maioria das vezes, ultrapassado pelo nmero de idosos (Vega &
Martinez, 2000).De acordo com autores supracitados o envelhecimento representa para
alguns indivduos a entrada num ciclo que pode ter uma elevada durao, tendo em
conta que a expectativa de vida tem aumentado neste ltimo sculo.
Mdenes e Cabaco(2008) referem queo envelhecimento pode ser descrito como um
processo universalque afeta todos os seres humanos.Tem origem na conceo do ser,
desenvolve-se aos longos dos anos e termina, inevitavelmente, na morte.Uma das
consequncias forosas dos seres vivos o envelhecimento, variando de indivduo para
indivduo, o qual um processo contnuo de degradao(Fontaine 2000). No sendo
uma caracterstica especfica dos tempos modernos, como expe Hamilton (2002), nos
ltimos anos, ganhou grande importncia. Foi a dcada de 80 que marcou um ponto
importante no estudo do envelhecimento(Fonseca 2006). Ainda neste perodo, comeou
a ganhar um estatuto cientfico, com abordagem transversal de uma multiplicidadede
cincias, como a bioqumica, a medicina, a demografia, o direito, a psicologia, a
sociologia e a poltica (Fonseca, 2006).Este estudo justificado pelo aumento
significativo de pessoas com mais de 65 anos de idade na sociedade atual e, como
referem as estatsticas demogrficas,o envelhecimento populacional continuar a
aumentar, o que torna pertinente criar estratgias, aes reabilitativas epreventivas que
9
possam retardar problemas decorrentes do avanar daidade (Mdenes& Cabaco,
2008).
De acordo com Spar e La Rue(2005), envelhecer um processo constante ao longo
da vida, que no ocorre apenas em determinada poca da vida, pelo que, definir quando
somos velhos nem sempre um processo fcil.No entanto, o envelhecimento pode ser
definido de vrias formas, no existindo apenas uma nica forma de o descrever. De
vrias definies possveis destacaram-se as seguintes:
Yates (1993), referido por Fonseca(2006, p.58), define o envelhecimento
como um processo termodinmico de quebra de energia, geneticamente
determinado e condicionado sob o ponto de vista ambiental, deixando para trs
resduos que progressivamente aumentam a probabilidade de ocorrncia de
doenas e outras situaes de instabilidade dinmica, que por fim resultam na
morte.
O Ministrio da Sade (2004) define envelhecimento como um processo de
mudana progressivo da estrutura biolgica, psicolgica e social dos indivduos que,
iniciando-se mesmo antes do nascimento, desenvolve-se ao longo da vida (p.3)
Fontaine (2000 p. 23)faz referncia ao envelhecimento como sendo
um processo diferencial (muito varivel de individuo para indivduo) que
revela simultaneamente dados objetivos (degradaes fsicas, diminuio
tendencial dos funcionamentos percetivos e mnsicos etc.) e tambm dados
subjetivos que constituem de fato a representao que cada pessoa faz do seu
envelhecimento.
Fonseca (2010) define envelhecimentocomo um perodo do ciclo de vida emque a
generalidade das caractersticas pessoais(biolgicas, psicolgicas e sociais) muda
deuma forma relacionada entre si, orientando-seprogressivamente para a construo de
umaimagem de si mesmo como idoso (p.125).
Do que indicado por Fontaine (2000) e Oliveira (2008) resulta que cada indivduo
pode ter diversas idades,sendo elas: idade cronolgica,idade biolgica, idade
psicolgica e idade social e cultural. Para Fontaine (2000), a idade cronolgicadiz
respeito idade que est presente no bilhete de identidade e a idade biolgica est
ligada ao envelhecimento orgnico. A idade social determinada por aspetos culturais e
10
histricos que influenciam as expectativas da sociedade e dos familiares relativamente
pessoa (Oliveira, 2008; Fontaine, 2000). A idade psicolgica est relacionada com
competncias comportamentais a que cada pessoa recorre para responder s alteraes
ambientais, a qual compreende as capacidades mnsicas (memria), as capacidades
intelectuais(inteligncia) e motivaes para o empreendimento(Fontaine, 2000, p.25).
Oliveira(2008) expe que a idade cultural apresenta diferentes particularidades, pois
enquanto nas sociedades africanas a pessoa velha adquire uma grande valorizao
social, nas ocidentais verifica-se precisamente o contrrio.
Schroots eBierren (1980), referidos por Fonseca (2006),identificam trs
componentes doenvelhecimento:a componente biolgica (senescncia), que resultada
vulnerabilidade crescente de uma maior probabilidade de morrer; o envelhecimento
social relativoaos papis sociais apropriados s expetativas da sociedade para este nvel
etrio (p.55) e o envelhecimentopsicolgicodefinido pela sua capacidade de
autorregulao do indivduo face ao processo de envelhecimento (p.56).
Oenvelhecimentopode ser encarado como a ocorrncia de uma srie de processos,
com padres diferenciados, pelo queBusse (1999) os separa emprimrio esecundrio: o
envelhecimentoprimrio descrito como um processo intrnseco ao organismo e
depende de fatores adquiridos ou hereditriose o secundriodepende de fatores
ambientais que provocam traumas ou doenas. Neste sentido, o envelhecimento
secundrio, apesar do estar relacionado com a idade, pode no ser causado diretamente
por ela, o que leva a que seja reversvel (Busse, 1999). Tal distino tambm feita por
Berger (2001) e Mailloux-Poirier (1995), os quais acrescentam, ainda, que
envelhecimento e doena no so sinnimos.Aos padres de envelhecimento,Bierrene
Schroots, (1996), referidos por Fonseca (2006),acrescentam um novo padro de
envelhecimento, o envelhecimentotercirio, referindo-se s rpidas alteraes que
ocorrem na velhice, rpido, antecede a morte.
Para Fernndez-Balestreros (2009),a ltima fase da vida que se vive a
velhice.Viver implica estar inserido num meio, ao qual torna-se necessrio a adaptao
ao mesmo. Nessa existncia ocorrem alguns acontecimentos negativos, mas tambm um
conjunto de oportunidades. De acordo com autor citado em ltimo, a evoluo da
espcie humana trouxe tambm a possibilidade de nos adaptarmos com flexibilidade,
diversidade e mudanas a novas situaes.Posada(2005) refere que a psicologia
evolutiva estuda a evoluo e alteraes que ocorrem no comportamento ao longo da
vida. Na maior parte das vezes, apenas referem alteraes positivas at meia-idade, a
11
partir da poucos autores dedicaram ateno, referindo apenas em alguns casos como
uma poca onde apenas se vivenciam perdas.Esta perspetiva,j em desuso, considera
que o ciclo de vida humanopode ser representado por uma curva em forma de U
invertido, na qual assistimos a ganhos desde que nascemos, estabilizando pela meia-
idade, e no final de vida ocorre um declnio, onde predominam, na sua maioria, perdas.
Nos finais dos anos 70 surge, na psicologia evolutiva, o ciclo vital onde se estudam as
mudanas que ocorrem independentemente da idade na qual o indivduo se encontra
(Posada, 2005). Neste ponto, destaca-se Erikson(1997) que considera que o ciclo de
vida humana constitudo por oitos estdios psicossociais, em que cada etapa se baseia
sempre na anterior, estes estdios permanecem ligados a sistemas somticos, no qual se
mantm pendentes de processos psquicos da personalidade e do domnio moral do
processo social. A ltima crise dos oito estdios, segundoErikson(1997), designa-se por
integridade vs. desespero, na qual se pretende alcanar sabedoria. O desespero resulta,
na maioria das vezes, da ausncia do envolvimento dos idosos em algumas atividades,
nas quais participar assume importncia para o idoso, evitando que este no se sinta
estagnado na vida, da ser fundamental que o idoso mantenha o papel de av. Na
perspetiva do ciclo vital a manuteno e regulao da perda so dois aspetos que
dominam o desenvolvimento na velhice, contribuindo para a importncia de ter em
conta que ganhos e perdas no acontecem apenas nas idades anteriores mas sim ao
longo da vida (Cardoso & Rocha, 2010).
Na opinio deNeri (2006), a forma mais completa para encarar o envelhecimento
a noo de curso de vida ou life-span, uma vez que permite observar o desenvolvimento
como um processo contnuo, multidirecional de mudanas gentico-biolgicas e
socioculturais de natureza normativa e no normativa, marcada por perdas e ganhos
concorrentes e por interatividade entre o indivduo e a cultura (Neri, 2006,p. 19).Para
um envelhecimento com xito importante apresentar nveis elevados de bem-estar
psicolgico(Pal & Fonseca, 2005).
2.1. Paradigma Contextualista
Fonseca (2007) descreve quatro teorias que procuram explicar o desenvolvimento
humano no decurso da vida, sendo elas: abordagem ecolgica deBronfenbrenner (1979),
contextualismo desenvolvimental deDixon, Lerner (1992), teoria da ao e do controle
de deBrandtstadter (1984) e perspetiva desenvolvimental do ciclo da vida de Baltes
12
(1987, 1993, 1997, 1999, 2005). Quanto abordagem ecolgica, ela indica que o
desenvolvimento decorre na sequncia de mudanas duradouras e estveis, resultantes
da interao do indivduo com o meio, responsabilizando o indivduo pelo seu prprio
desenvolvimento. No contextualismo desenvolvimental, os indivduos so produtores
do seu prprio desenvolvimento, sobressaindo as ideias de plasticidade e de natureza
interativa do desenvolvimento (indivduo cultura). Por outro lado, a teoria da ao e
do controle refere que a ao individual e social, que regula o desenvolvimento e o
indivduo, esfora-se para atingir determinados fins ou objetivos desenvolvimentais
criando condies ecolgicas artificiais de acordo com as suas capacidades e
competncias. Na perspetiva desenvolvimental do ciclo da vida, o desenvolvimento
resulta da interao entre os fatores biolgicos, culturais e histricos, dando relevo a um
desenvolvimento por oscilaes atravs de uma alternncia permanente entre ganhos e
perdas desenvolvimentais.
De acordo com Fonseca (2010), o recurso a mecanismos de seleo, otimizao e
compensao (SOC), funciona como uma forma de o indivduo continuar o seu
desenvolvimento de uma forma adaptativa na sua interao com o meio, maximizando
os ganhos e minimizando as perdas.
De acordo com Fonseca (2010), o modelo SOC procede da convico de que o
curso da vida supe alteraes regulares em termos de objetivos e do sentido da prpria
vida, requerendo, tais alteraes, que se faam mudanas sistemticas na distribuio de
recursos.
O ciclo de vida decorre em duas fases, nas quais se processam alteraes de
objetivos e sentido da prpria vida. Enquanto na primeira fase da vida se investe em
ganhos desenvolvimentais, na segunda fase centram-se na manuteno dos mesmos e na
reparao de eventuais perdasFonseca (2010).
Os mecanismos do modelo SOC so considerados processos universais de
regulao do desenvolvimento que podem variar na expresso dofentipoedepender do
contexto socio-histrico e cultural (Freund&Baltes, 2009). Os mesmos autores referem
que a seleo tem a ver com a especificao de uma determinada via, ou conjunto de
vias, para o desenvolvimento. Esta especificao seletiva supe a limitao de uma srie
de alternativas dentro das possibilidades da plasticidade, determinadas por
condicionantes biolgicos e culturais. A seleo tambm tem em conta o facto dos
recursos como o tempo e a energia serem limitados ao longo do ciclo vital. Assim, tais
recursosservem para estabelecer limitaes que permitem a especificao e a
13
diferenciao.Fonseca(2010) salinta quea seleo quando o indivduo seleciona um
dado percurso desenvolvimental de entre um leque de oportunidades, base para a
aquisio de novos recursos. Para Freund eBaltes (2009), a otimizao refere-se
aquisio, aplicao e integrao de recursos implicados na concretizao para alcanar
nveis de desempenho mais elevados. Na velhice, a otimizao das potencialidades
uma das razes para investir tempo e energia em programas aprendizagem ao longo da
vida, sendo este um requisito para envelhecer com xito e ativamente(Freund&Baltes,
2009). A compensao diz respeito gesto das perdas, ou sejaao balano entre os
ganhos e as perdas com o recurso aos meios disponveis(Freund&Baltes, 2009), o que
vai de encontro da opinio de Fernndez-Ballesteros (2009), quando refere que a
compensao um mecanismo para equilibrar as perdas sofridas e, apesar disso, manter
um bom desempenho. Dado que tanto a compensao como a otimizao requerem um
esforo individual e envolve um processo cuidadoso e seletivo, antes de decidir o que se
deve otimizar e o que se deve compensar, este processo complexo requer a tomada de
decises e a resolues de problemas (Fernndez-Ballesteros, 2009). Para Oliveira
(2005), o modelo referenciado anteriormente permite um envelhecimento bem-
sucedido, uma vez que possibilita a seleo do que mais importante, otimizando-oe
usando eventuais compensaes. Para Neri (2006) significa simplesmente fazer e ser o
melhor possvel com os recursos que se dispe (p. 27). Para Baltes e Smith (2004),
citado por Fonseca (2010) o modelo SOC adquire a sua expressividade mais
significativa na meia-idade, altura em que a perceo do envelhecimento comea a fazer
se sentir de forma irremedivel (p.30). Assim em cada caso de envelhecimento bem-
sucedido, existeuma apropriao criativa, individualizada, esocialmente apropriada, dos
mecanismos de seleo, otimizao e compensao (Baltese Baltes, 1990 citado por
Fonseca 2010).
2.2. Envelhecimento Ativo
Quando a Organizao Mundial de Sade (OMS),em 2002,adotou o termo
Envelhecimento Ativo definindo-o como como um processo deotimizao das
oportunidades de sade,participao e segurana, com o objetivo demelhorar a
qualidade de vida medida que as pessoas ficam mais velhas (OMS, 2002,p.12). Nessa
altura ainda poucos reconheciam a importncia que hoje universalmente se atribuiu ao
envelhecimento.O Parlamento Europeu e a Comisso Europeia determinaram que o ano
14
de 2012 fosse o ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre
Geraes(Fonseca, 2012).A expresso ativoalude participao contnua nas questes
sociais, econmicas, culturais e civis, no s das pessoas saudveis e fisicamente ativas,
mas tambm daquelas que apresentam alguma doena ou sejam fisicamente
incapacitados (OMS, 2002). Como mencionamBauz eBennassar(2010), o
envelhecimento ativo baseia-se essencialmente nos direitos humanos das pessoas idosas
e nos princpios das Naes Unidas de independncia, participao,
dignidade,assistncia e realizao das suas aspiraes.
A figura 1apresentaum conjunto de fatores que interferem no envelhecimento ativo
estabelecidos pela OMS (2002), representados de modo circular, uma vez que indicam
as vrias direes em que os mltiplos sistemas atuam (Fernndez-Ballesteros 2009).
O envelhecimento ativo depende, segundoRibeiro &Pal (2011), de uma
diversidade de fatores assinalados de determinantes, onde se incluem os determinantes
da esfera pessoal; comportamental; econmica; meio fsico; sociais e, por ltimo, os da
esfera da disponibilizao dos servios sociais e de sade. A Organizao Mundial de
Sade (2002) expe que, quer a cultura, quer o gnero so fatores determinantes
transversais. Os valores culturais e as tradies determinam muito como uma sociedade
Figura 1- Determinantes do envelhecimento ativo
Fonte: Envelheciemnto Ativo uma Poltica de Sade (p.19), Organizao Mundial de Sade (2005), Organizao Pan-
Americana da Sade.
15
encara as pessoas idosas e o processo de envelhecimento. Por outro lado, encontra-se o
gnero, poisem muitas sociedades as mulheres jovens e adultas tm um estatuto social
inferior ao dos homens.
A figura 2 apresenta os quatro domnios do envelhecimento ativo em que se
organizam as condicionantes psicolgicas e comportamentais, como: a sade
comportamental e boa forma fsica; timo funcionamento cognitivo; autorregulao
emocional e motivacional; alto funcionamento social.
Figura 2 Domnios comportamentais e psicolgicos do envelhecimento ativo
Fonte: Envejeciemnto Activo Contribuciones de la Psicologia, Fernndez-Ballesteros, R. (2009). Madrid: Pirmide.
Em Portugal tm sido desenvolvidos programas de envelhecimento ativo, como o
ProgramaNacional para a Sade das Pessoas Idosas,emitido em 2004, pela Direo
Geral de Sadecom finalidade de adequao dos cuidados s necessidades das pessoas
idosase promoo do desenvolvimento de ambientes capacitadores(MS, 2004).O
Programa de Ao 2012, includo no Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da
Solidariedade entre Geraes (2012),tem como principais medidas e iniciativas
asOportunidades e Ganhos em Sade ao Longo da Vida; Acessibilidade para Todos/as
Dentro e Fora de Casa; Segurana Social Perante Eventualidades da Vida; Conhecer,
Ganhar Mais Sabedoria e Divertir-se; Novas Tecnologias de Informao e
16
Comunicao Informao til e Oportuna, Voluntariado e o dilogo entre Geraes
(GP, 2012).
Em suma, o envelhecimento ativo pode ser considerado como o produto do
processo de adaptao que ocorre ao longo da vida, atravs do qual se pode alcanar um
timo funcionamento fsico, cognitivo, emocional-motivacional e social (Fernndez-
Ballesteros, 2009).Para o caminho do envelhecimento ativo devem-se conjugar as
experincias universais do envelhecimento com estratgias individuais de compensao
e preveno que otimizem o equilbrio entre ganhos e perdas na vida adulta
tardia(Ribeiro & Pal, 2011).
2.3. Teorias do envelhecimento
As teorias que explicam o envelhecimento, na opinio deVega e Martinez (2000),
Rossel, Herrera & Rico (2004) e Mailloux-Poirier (1995), so mltiplas e envolvem
teorias biolgicas eteorias psicossociais. Assim sendo, de forma a entender o processo
de envelhecimento, sero apresentadas algumas teorias divididas em duas categorias: as
biolgicas e as psicossociais, as quais referem uma srie de etapas ou estdios na vida
do ser humano.
Teorias Biolgicas
De acordo com Busse e Blazer (1996),o envelhecimento biolgico no diz
respeito apenas aos ltimos anos da vida, pois pode iniciar-se logo na conceo. Este
tipo de envelhecimento envolve as alteraes fsicas que se manifestam na idade adulta,
tendo como consequncia um decrscimo na eficincia do funcionamento e termina na
morte. Para Fonseca (2006), o envelhecimento biolgico um processo cujos efeitos
so visveis mas cujo mecanismo interno permanece,em grande medida, desconhecido
(p.56).
Mailloux-Poirie(1995) e Vega e Martinez (2000)agrupam as teorias biolgicas do
envelhecimento em: Teoria imunitria; Teoria gentica; Teoria do erro na sntese
proteica; Teoria do desgaste; Teoria dos radicais livres; Teoria neuro-endcrina.
Segundo a Teoria Imunitria, o envelhecimento resulta de alteraes que levam o
sistema imunitrio a atacar as clulas do prprio organismo (Mailloux-Poirie, 1995). O
mesmo apontado por Busse e Blazer (1999) quando referem queno envelhecimento se
17
verifica uma diminuio na eficincia dos mecanismos de proteo,o que diminui a
vigilncia do sistema imunitrio. A destruio do sistema imunolgico resulta numa
maior incidncia de doenas na populao idosa(Busse& Blazer, 1999). Hamilton(2002)
sintetiza esta teoria com o facto do sistema imunitrio ter uma menor capacidade de
produzir anticorpos, o que diminui a sua capacidade de combater as infees. O sistema
imunitrio identifica de forma errada clulas do corpo como agentes infeciosos,
acabando por atac-las.
No que concerne Teoria gentica, o envelhecimento encarado como tendo uma
base gentica e a vida do indivduo vem programada na clula ou nos genes da espcie.
Assim, o limite mximo da vida encontra-se geneticamente programado(Mailloux-
Poirie, 1995; Vega & Martinez, 2000). Esta programao, ou estes processos,
encontram-se nas molculas do ADN dos genes dos indivduos. Rossel, Herrera &
Rico(2004) referem que existe um certo nmero de divises celulares predefinido, o que
implica uma limitao na reproduo celular (limite de Hayflick).
A Teoria do erro na sntese proteica, explica o envelhecimento como consequncia
da morte celular, a qual resulta da acumulao de mudanas acidentais que acontecem
num determinado lugar ao longo da vida nas clulas(Mailloux-Poirie, 1995; Vega &
Martinez, 2000). Estas mudanas aleatrias ou mutaes podem afetar as molculas de
ADN que deixam de se reparar ou acontecem de uma forma muito rpida que no
podem reparar-se. Estas mutaes acumulam-se no corpo celular e a clula perde a
capacidade para funcionar e para dividir-se. Os erros podem tambm produzir-se na
transcrio do ADN para o ARN ou na traduo do ARN para as protenas (Mailloux-
Poirie, 1995; Vega & Martinez, 2000).
Segundo a Teoria do Desgaste, o organismo encarado como uma mquina que
sofre um desgaste natural,indo de encontro ao que acontece com o envelhecimento
humano.Existem aspetos como a atividade, o trabalho e o exerccio, que no aceleram o
envelhecimento ou a morte. No entanto existem alguns aspetos que podem estar
relacionados com o desgaste natural, como a exposio solar, a exposio radiao ou
o lcool (Mailloux-Poirie, 1995 e Vega & Martinez, 2000).
Umasubteoria do envelhecimento biolgico a dos radicais livres (Vega &
Martinez, 2000). Tendo por base a citada subteoria, Vega e Martinez (2000) salientam,
que o radical livre reduz a eficcia celular e causa a acumulao de resduos na clula.
Estes radicais livres podem ser produzidos pelo calor extremo, pelas interaes
oxidativas ou pela radiao. De acordo com o autor supracitado, o processo de
18
envelhecimento e a morte prematura do organismo devem-se ao facto de existir uma
acumulao excessiva de radicais livres que danificam a membrana e outros
componentes da clula, acelerando o processo de envelhecimento e produzindo uma
morte prematura do organismo (Vega & Martinez, 2000).
Segundo a Teoria Neuro-endcrina, o envelhecimento est relacionado com o
fracasso ou insuficincia do sistema endcrino, no que se refere coordenao das
diferentes funes do corpo e grande parte das funes neuro - endcrinas diminuem
com idadeMailloux-Poirie(1995).Vega & Martinez (2000) referem que o sistema
endcrino controla as atividades do corpo atravs das hormonas, as quais regulam
muitos processos metablicos,so produzidos nas glndulas endcrinas e transportadas
atravs da corrente sangunea. Enquanto estes mecanismos hemostticos no esto
deteriorados, o corpo consegue manter a sua capacidade de raciocinar em situaes que
implicam stress. A morte pode acontecer pela incapacidade do organismo autorregular
as mudanas que se produzem no corpo(Vega & Martinez, 2000).
A Teoria Geodinmica (Yates, 1998), destacada por Vega e Martinez (2000),consta
duma aproximao alternativa s teorias anteriores. No inclui apenas as teorias
celulares, mas refere-se ao envelhecimento em geral. De acordo com os mesmos
autores, esta teoria explica o envelhecimento pela acumulao da entropia, ou seja a
desordem perante a ordem. O envelhecimento definido desta forma, ainda de acordo
com Vega e Martinez (2000), um processo oposto ao desenvolvimento.Vega &
Martinez (2000)ainda referem que a destruturao, a desorganizao, o desequilbrio,
entre outros, no se estruturam, organizam ou equilibram, como acontece com o
desenvolvimento, mas acumula-se. Esta acumulao de desordem uma fora, uma
energia negativa que constitui a base do envelhecimento.
Tomando por base aTeoria do sistema nervoso, Vega e Martinez (2000) explicam o
envelhecimento com a perda de eficincia de alguns mecanismos. Assim, pode-se
distinguir envelhecimento normal e envelhecimento patolgico do sistema nervoso. Em
relao ao envelhecimento citado em ltimo, ele acarretar o aparecimento de certo tipo
de demncias, mas s algumas pessoas so afetadas. O envelhecimento do sistema
nervoso deteta-se a vrios nveis, entre eles est: alterao do nmero e tamanho dos
neurnios e do tamanho dos mesmos, da estrutura neuronal, do ncleo dos neurnios, da
morfologia das dendrites, do peso e morfologia do crebro, dos sistemas de sada e
entrada dainformao, das sinapses, dos neuro - transmissores, das estruturas
intracelulares.
19
Teorias Psicossociais
De acordo com a Teoria da desvinculao, com o envelhecimento ocorre separao
fsica, psicolgica e social (Rossell, 2004e Mailloux-Poirie, 1995). O envelhecimento
implica um afastamento recproco do idoso relativamente sociedade em que est
inserido e esta, por sua vez, tambm o rejeita. Neste sentido, a sociedade fora o idoso a
isolar-se, o que o leva a desligar-se do mundo, a diminuir as obrigaes e atividades,
circunscrevendo-se famlia e aos amigos. Os princpios bsicos desta teoria so: o
envelhecimento implica um afastamento do idoso relativamente sociedade e da
sociedade em relao ao mesmo; o envelhecimento tem uma vertente psicolgica, uma
vertente social e a desvinculao saudvel para o indivduo (Mailloux-Poirie, 1995).
Busse& Blazer (1999) so da opinio que os idosos acabam por ter um desvio da
ateno do mundo exterior para o mundo interno, para os prprios sentimentos e
pensamentos. No entanto, existe tambm uma separao social, que tem por base um
decrscimo das suas relaes sociais, relaes que mantinham com a famlia, com igreja
e com a comunidade em que est inserido(Busse& Blazer (1999).
Segundo a Teoria da atividadeHavighurst (1987) os idosos devem-se manter ativos,
de modo a conseguirem uma melhor qualidade de vida(Mailloux-Poirie, 1995). Neri
(2001) aborda esta teoria referindo que o individuo ao envelhecer se depara com
alteraes relacionadas com as suas condies anatmicas, psicolgicas e de sade que
so especficas desta etapa da vida.No entanto, as suas necessidades sociais e
psicolgicas permanecem as mesmas de antes. Paraenvelhecer com xito, de acordo
com a teoria citada em ltimo, a pessoa deve permanecer ativamente na
sociedade.Enquadrado na referenciada teoria, Rossell (2004) expe os princpios
bsicos do envelhecimento, sendo eles a satisfao da vida vincula-se a papis
familiares, sociais e laborais; o prolongamento da atividade prolonga a idade adulta e a
meia-idade; preciso valorizar a atividade e atribuir ao idoso papis apreciados
socialmente; a atividade depende do estado de nimo; por fim, a satisfao est
vinculada com o tipo de atividade.
Tendo em considerao a Teoria da continuidade,Mailloux-Poirie (1995) fazem
referncia existncia de uma continuidade no comportamento do idoso.
De acordo com a Teoria da subcultura, Rossel, Herrera e Rico (2004), consideram
que os idosos interacionam mais com os indivduos da mesma idade ou prxima, de que
20
com indivduos de outras idades, pois apresentam mais afinidades, desde a forma de
pensar, sentir, executar e perspetivar a vida.
Segundo a Teoria do grupo minoritrio, Rossel, Herrera e Rico (2004) so da
opinio que os idosos vm-se obrigados a ingressar num grupo, o qual apresenta
caractersticas negativas como os de todas as minorias, segregao, pobreza e auto
estima baixa, entre outros.
Na Teoria das tarefas, o desenvolvimento entendido de modo a ter um
envelhecimento bem-sucedido(Rossel, Herrera & Rico,2004). Esta teoria apresenta os
perodos: incio da idade adulta(30-40 anos), ondeocorre concentraodas energias na
consolidao profissional, social e familiar;maturidade (40-50anos), etapa em que o
indivduo se afirma, continuando com as suas responsabilidades sociais e cvicas e
fortalece as suas relaes sociais; ltimos anos da maturidade (50-60 anos), aqui os
indivduos retificam a sua posio e corrigem os seus papis, existem perdas, papis
novos e adequao ao seu novo grupo idade.
21
3. Institucionalizao
Em Portugal os idosos representam, cada vez mais, uma faixa etria
significativa, como apontam as estatsticas do envelhecimento
demogrfico.Assim,Lemos (2000) declara que as sociedades desenvolvam mecanismos
que possam assegurar qualidade de vida dos que envelhecem. Neste sentido,Pal (1997)
classifica as redes de apoio ao idoso classificando-asem redes de apoio formaise
informais.Ser feita a referencias redes formais pois o estudo desenvolve-se numa
instituio dessas redes formais (lar de idosos).
A Segurana Social, em 1996,definiu os lares de idosos como uma resposta social
de alojamento coletivo, de carcter coletivo, em que este pode ser de carcter
permanente ou temporrio, destinado a idosos que perdem a sua autonomia/
independncia. A definio de Lar de Idoso est consagrada no Despacho Normativo n
12/98 de 25 de Fevereiro. Considera-se lar o estabelecimento em que sejam
desenvolvidas atividades de apoio social a pessoas idosas, atravs do alojamento
coletivo, de utilizao temporria ou permanente, com fornecimento de alimentao,
cuidados de sade, higiene e conforto, fomentando o convvio e propiciando a animao
social e a ocupao dos tempos livres dos utentes(Bonfim, Garrido, Saraiva, & Veiga,
1996). ainda objetivo dos lares proporcionar aos idosos servios para o seu bem-estar
biopsicossocial, fornecer condies que permitam um retardar do envelhecimento,
devem fomentar as relaes interfamaliares e potenciar a integrao social.
Os autoresSousa, Figueiredo e Cerqueira(2004)referem que a institucionalizao
ocorre com base em trs parmetros. O primeiro, aps a morte do conjugue, o idoso
passa a viver sozinho e teme necessitar de auxlio e no o ter. Em segundo, quando o
idoso sofre de uma doena ou queda e a casa no se encontra adequada para a nova
situao. Por fim, quando a sua localizao geogrfica fica num local isolado e este
pensa em morar num local mais adequado, como, por exemplo, a casa do filho. A casa
representa para o idoso uma dimenso global de independncia pessoal de segurana,
privacidade, identidade entre outras. Inserido numa comunidade tambm est associado
as rotinas e sair implica alteraes nos costumes de vida. A casa
22
pode tambm surgir como um local de vulnerabilidade (Sousa, Figueiredo &
Cerqueira 2004)Para os autores supracitados, a institucionalizao para o idoso, uma
etapa que fica marcada pela sada da sua casa. De acordo com Hernandis e Martinez
(2005), nesta fase o idoso tem que se adaptar a novas situaes, a novas relaes
sociais, bem como a uma estruturao das rotinas dirias, em que as atividades
dependem das normas que regulam a vida dos residentes e existe maior controlo sobre
os aspetos vitais e perda de certas liberdades individuais. Ainda de acordo com os
ltimos autores, no processo de institucionalizao o idoso confrontado com alguns
desafios inerentes institucionalizao, existindo um abandono do seu lugar, diminui o
contacto com os seus familiares e vizinhos, dos seus animais de estimao e muitos dos
seus pertences. Torna-se, assim, fundamental dar especial ateno institucionalizao,
de forma a proporcionar uma melhor qualidade de vida do idoso. Para Mdenes e
Cabaco (2008), importante criar programas que apontem para a manuteno das
capacidades cognitivas e funcionais nos idosos institucionalizados, permitindo ter uma
melhor auto estima e qualidade de vida. Estes programas devem ter um carcter
multidisciplinar e, na opinio de Calero(2003), a implementao de programas
cognitivos numa instituio (centro de dia, lares, entre outros) requer poucos recursos e
tem considerveis benefcios.
23
4. Cognio
4.1. Memria
A memria a funo superior mais estudada no mbito do envelhecimento normal
e se umas capacidades declinam com o passar dos anos, outras mantm-se bem
preservada de acordo com Garcia (2009).
De acordo com Fernandez& Fluente (2005), a memria um sistema que permite
ao organismo obter e representar a informao, mant-la durante perodos variveis de
tempo, recuper-la e us-la de forma adequada, no momento oportuno. A memria
pode-se definir como a capacidade dos animais para adquirir, reter e utilizar
conhecimentos e habilidades(Ruiz-Vargas, 2008). Segundo Belsky (2001), mais do que
qualquer outro problema, a memria o que mais personifica a velhice.Yanguas,
Leturia, Leturia eUriarte(2002) destacam que as funes cognitivas so aquelas funes
e processos pelos quais o individuo recebe, armazena e processa a informao relativa a
si mesmo eaos outros que esto em seu redor. De entre as vrias funes destacam-se a
ateno, a perceo, a memria, a orientao e o juzo. Os autores supracitados em
ltimo referem que a memria a funo cognitiva mais importante, pois est
relacionada com as mudanas globais e intelectuais das pessoas idosas e desempenha
cada vez mais um papel importante, sendo bsica para a resoluo de problemas e para a
adaptao ao meio. necessrio diferenciar vrios tipos de memria, como funcionam e
como so afetadas com a idade porque no se pode falar de um deterioro de memria
unvoco (Yanguas, Leturia, Leturia&Uriarte2002). Schaie e Willis(2003),referenciam
trs grandes sistemas que configuram a memria humana: a memria sensorial, a
memria a curto prazo e memria a longo prazo.De acordo com Marchand(2001), a
distino entre os sistemas de memria baseia-se na durao da informao armazenada
e na capacidade de armazenamento.
A figura 3 resume as estruturas do sistema de memria.
24
Figura 3 - Esquema geral dos sistemas de Memria
Fonte: Psicologa De La Vejez (2007) In: Triad, Carmen y Villar, Feliciano,Psicologa De La Vejez. Madrid.
Alianza Editorial.
A Memria sensorial, de acordo com Pousada & Fluente (2007),regista o estmulo
do exterior, durante fraes de segundos e antes de desaparecer. Na opinio de
Mailloux-Poirier (1995), o sistema responsvel pela receo inicial da informaopois
um mecanismo sensitivo que permite conservar uma cpia do estmulo durante dois
segundos(p.177). Este sistema de memria,com o envelhecimento, sofre algumas
transformaes, atingido particularmente a fixao das impresses sensoriais (Mailloux-
Poirier, 1995).
A Memria Curto Prazo,para Baddeye(2009)eSchaie eWills(2003),est relacionado
com a reteno de pequenas quantidades de informao e mantm-na de forma
consciente. Berger(1995)refere queeste sistema de memria muito limitadoe permite
reter um nmero de telefone durante poucos segundos, os necessrios para o marcar. O
mesmo autor refere que a capacidade de memria aproximamente de cinco palavras
ou sete nmeros consecutivos(Berger, 1995, p. 178).Para Garca, Gonzleza, Ceballos,
Daza, Carbonell eGarca (2008),no processo de envelhecimento, a memria a curto
prazo parece no ter demonstrado um declive associado idade, na ausncia de
demncia. No entanto,Baddelye (2009) defende que as pessoas mais velhas tm
especial dificuldade de armazenar diversos itens de novas informaes na mente
enquanto analisam de maneiras complexas, principalmente quando aparece material que
25
desvie a sua ateno (p. 418).Schaie eWills(2003)aludem que a memria a curto prazo
pode ser divida em memria primria e memria de trabalho.Memria primriaimplica
manter na mente uma pequena quantidade de informao como um nmero de telefone,
tendo uma capacidade muito pequena e sendo muito breve. Se for necessrio recordar a
informao mais tarde, ento esta informao tem que passar a memria de trabalho.
Amemria de trabalho, conforme refereBaddeley (2009), um sistema de memria que
serve de base nossa capacidade de manter as coisas em mente ao realizarmos tarefas
complexas (p. 22).A memria de trabalho tambm est implicada quando necessrio
manipular a informao para resolver um problema ou tomar uma deciso (Schaie &
Wills, 2003).O envelhecimento, neste tipo de memria, est associado a um declnio das
aptides, nomeadamente quando essencial a manipulao ativa da informao, por
exemplo quando se pede para repetir os nmeros por ordem inversa(Spar & La Rue,
2005).
A memria a longo prazopossui uma grande capacidade de armazenamento de
informao, a qual pode reter-se durante longos perodos de tempo (Schaie & Wills,
2003), ou mesmo durante uma vida inteira (Berger, 1995).Quando a informao
codificada transferida para a memria a longo prazo e onde se mantm at que seja
necessria(Vega & Martinez, 2000).Triad&Villar(2007) referem que o sistema de
memria a longo prazo constitudo por dois subsistemas: a memria declarativa e a
memria no declarativa. O estudo com pessoas mais velhas tem demonstrado
resultados impressionantes, como o caso dum estudo em que os idosos recordaram
nomes ou fotografias de mais de 70% dos colegas da escola, passado quase 50
anos(Spar & La Rue, 2005).A memria episdica uma memria virada para o
passado, no se verificando em mais nenhum sistema de memria, e permite aos seres
humanos lembrar-se do seu passado e das experincias(Tulving, 2002).De acordo
Belsky(2001) e Rossell (2004)a memria episdica permite recordar acontecimentos
especficos.Na opinio deGarca, Gonzleza, Ceballos, Daza, Carbonell &Garca
(2008), parece existir uma deteriorao associada idade, na recordao dos
acontecimentos recentes. Esta deteriorao verifica-se essencialmente quando a tarefa
da memria episdica a que se prope a pessoa implica um esforo de recuperao e
codificao da informao importante, isto quando a execuo desta tarefa requer a
memria de trabalho (Garca, Gonzleza, Ceballos, Daza, Carbonell &Garca, 2008).
Baddelye(2009)definiu a memria semnticacomo o sistema que permite armazenar
o conhecimento sobre o mundo. ParaFernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero&
26
Trraga (2009),a memria semntica a parte do sistema da memria humana que se
refere aos conhecimentos de temas, como conceitos, o significado das palavras e o
conhecimento do mundo que nos rodeia, como atos, aes, eventos e pessoas. Em
relao memria semntica, esta mantm-se de maneira estvel (Ruiz-Vargas,
2008).ParaBelsky(2001), a memria procedimental ou implcita est relacionada com a
informao que memorizamos e recordamos automaticamente, sem refletir nem pensar
de forma consciente. Este sistema de memria inclui vrios tipos de aprendizagens
como as emoes e muitas destrezas fsicas. Uma vez que se aprende uma destreza
bsica (por exemplo, andar de bicicleta), este tipo de memriatorna-nos capazes de
recordar automaticamente essa atividade, sem necessitar dum esforo consciente,
quando este estmulo se apresenta de novo (Belsky 2001).A Metamemria, de acordo
com Yanguas, Leturia, Leturia, eUriarte, (2002), consiste na forma como cada pessoa
percebe a sua memria. Nas pessoas idosas ocorre um fenmeno de retroalimentao, o
feedback e auto-justificao nas dificuldades da execuo.Ametamemria um
fenmeno multidimensional que implica quatro reas principais: o conhecimento real
sobre o funcionamento da memria, o uso das estratgias de memria, a autoeficcia da
memria e a afetividade relacionada com a memria (depresso, ansiedade)(Schaie &
Willis, 2003).
4.2. Ateno
Para os autores Fernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero e Tarraga (2009), a
memria e ateno formam parte do que se denomina de cognio, ou seja do conjunto
dos processos mentais que permitem elaborar a informao que se recebe e utiliza para
dar respostas s necessidades.Vega e Martinez (2000) definem a ateno como a energia
ou a capacidade necessrias para apoiar o processamento cognitivo, sendo a mesma
dividida em quatro categorias diferentes: ateno mantida,ateno dividida, ateno
seletiva e mudana de ateno. A ateno mantida consiste em manter a ateno na
tarefa que se est a realizar durante um determinado perodo de tempo; aateno
dividida quando se est a realizar duas tarefas ao mesmo tempo; a ateno seletiva
quando se selecionam sinais importantes, de um conjunto de estmulos, isto encontrar,
de forma seletiva, a informao que relevante e ignorar aquela que no se considera
um requisito prvio para o desenvolvimento de uma conduta realmente adaptativa e
afetiva; a mudana de ateno onde se alterna entre duas fontes de informao. Todas
27
estas categorias so importantes em qualqueretapa da vida. A ateno um processo
complicado e onde intervm muitos fatores, como, por exemplo, os idosos precisam de
mais tempo para processar a informao, mas com um tempo adequado de preparao,
muitas diferenas de idade nas tarefas de ateno desaparecem(Vega & Martnez,
2000). Oliveira(2008) e (Mdenes & Cabaco, 2008) so da opinio que paramemorizar
necessrio prestar ateno, por isso, os idosos devemrealizar exerccios de forma a
treinar a ateno e a controlar os distratores, porque uma memria eficaz depende do
nvel de ateno adequado.
4.3. Inteligncia
Wechsler (1939) citado por Rossell,(2004) descreveu a inteligncia como a
capacidade global do sujeito para atuar adequadamente, pensar razoavelmente e
relacionar-se efetivamente com o meio envolvente.A inteligncia implica a capacidade
para adaptar-se, ou aprender a adaptar-se, a novas situaes atravs de respostas
adequadasFernndez- Ballesteros et al (2003 pg.50).
De acor do com Horn (1970), citado por Belsky (2001) a inteligncia cristalizada ou
pragmtica: refere-se categoria de inteligncia que reflete a base de conhecimentos de
uma pessoa, a sua cultura, experincia, ou seja a quantidade de informao acumulada. .
Esta depende da experincia acumulada e no se deteriora com o passar do tempo, mas
pode ser melhorada (Hernandis & Martnez, 2005).
A inteligncia fluida ou mecnica a categoria de inteligncia que reflete a
capacidade de raciocinar, bem como a rapidez perante problemas novos, ou seja as
destrezas no esto to dependentes da experincia. medida que o tempo passa as
estruturas nervosas vo-se deteriorando, observando-se um declnio ao nvel do
funcionamento da inteligncia fluida.
4.4. Plasticidade cognitiva
A OMS (2005) refere queno processode envelhecimento normal,
algumascapacidades cognitivas, como a aprendizagem e a memria diminuem, com a
idade. No entanto, os avanos dasneurocinciasmostraram evidncias favorveis
plasticidade neuronal (Oliva, Dias & Reis 2009). De acordo com LeDoux (2002),
28
referenciadopelosautores citado em ltimo,o crebro humano composto por um grande
nmero deneurnios intrinsecamente interligados que permitem a regulao de funes
bsicas, como respirao e tarefas elaboradas.
Para Klautau, Winograd e Bezerra (2009), o conceito de plasticidade cerebral
refere-se s alteraes criativas produzidas no sistema nervoso como resultado da
experincia, de leses ou de processos degenerativos(p. 556).Estaneuroplasticidade, na
opinio deFernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero e Trraga (2009),est presente ao
longo de toda a vida, dado que a aprendizagem produz mudanas no crebro. A
plasticidade resulta, assim, de novos arranjos, modificaes e funcionamento das
estruturas do sistema nervoso, em funo das experincias vividas pelo
indivduo(Klautau, Winograd&Bezerra, 2009; Oliva, Dias& Reis, 2009).Neste sentido,
a capacidade de plasticidade, que a maioria das estruturas do crebro possui, permite-
lhe, perante estmulos, adaptar-se ao meio (Oliva, Dias & Reis 2009).A epignese
expressa o facto de o crebro no ser indiferente s condies ambientais, uma vez que
este um sistema que se transforma a partir da relao do corpo com o meio,
reorganizando-se perante desafios e alteraes impostas em seu entorno (Klautau,
Winograd& Bezerra, 2009). Neste sentido,com as experincias, ocorre aquisio de
conhecimentos e informaes pelo sistema nervoso, o que provoca modificaes em
diferentes locais do crebro, como salienta Oliva, Dias, e Reis(2009). De acordo com os
autores citados em ltimo, a plasticidade manifesta-se, assim, nos comportamentos de
aprendizagens, mas tambm nos de memria.Azevedo e Teles (2011)referenciam
queexistem alteraes neuronais (a perda ou mau funcionamento de neurnios)
decorrentes do processo normal de envelhecimento ou de doenas. Assim sendo, para os
mesmos autores, o crebrono uma estrutura rgida, mas tem plasticidade, que
possibilita a recuperao do mau funcionamento dos neurnios criando novas
conexes entre estes, ou levando outros neurnios a tomarem o lugar daqueles que
morreram(Azevedo & Teles, 2011, p. 78).
Pelo facto do crebro ter capacidade de modificao e de adaptao,Yanguas,
Leturia eLeturia (2002) salientam que caracterstica importante para realizao de
programas de treinamento cognitivo.Neste sentido, a plasticidade cerebral, por meio dos
citados programas, pode preservar um bom nvel de eficincia nas pessoas idosas e
possibilita a recuperao dos processos cognitivos (Fontaine, 2000;Pea, 2009).Como
expem Fernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero& Trraga (2009),as investigaes
sobre a plasticidade cognitiva so baseadas em modelos experimentais que adotam o
29
formato do prteste - treino - ps teste e tm sido desenvolvidos principalmente com
idosos saudveis. Os principais resultados, de tais investigaesapontam que os idosos
saudveis melhoram substancialmente o rendimento cognitivo depois do treinamento
nas reas cognitivas.Para os mesmos autores, aspetos da vida diria, ao longo da vida,
como a estimulao fsica e social, a escolarizao e a carreira profissional so
determinantes tanto para a capacidade de reserva cerebral, como para a reserva
cognitiva.
30
5. Estratgias de treino cognitivo
medida que se tem um maior conhecimento sobre o funcionamento da
memria possvel desenvolver programas que permitem aos idosos melhorar a sua
memria(Fernndez-Ballesteros, Fresnedo, Martinez& Zamarrn, 1999).Para Azevedo
& Teles(2011) apesar de existir um declnio cognitivo associado idade este pode ser
revertido, ou retardado, atravs do uso de programas de treino cognitivo, com diferentes
exerccios para cada funo cognitivacomo refere Triad & Villar(2007). Os programas
de treinamento cognitivo tm como objetivo levar a cabo uma interveno global, para
o qualso criados exerccios que colocam em ao os diferentes processos mentais,
como perceo, linguagem, ateno e memria, de forma a mant-los ativos, fortalecer
as conexes e as redes neuronais subjacentes (Triad & Villar, 2007).Estes programas
so geralmente estruturados na base dos mecanismos da memria, nas capacidades
intelectuais com que se relacionam e nos fatores que influenciam o seu
desempenho(Montorio & Izal, 2000).O treinamento cognitivo consiste num conjunto de
estratgias e tcnicas que se ensinam, praticam e aplicam, com o objetivo de otimizar os
processos e as atividades que foram ensinadas (Hernandis, 2010). Deste modo, o clculo
mental uma das funes que, sem estar alterada, a mais resistente perda de uso
(Serrano, S/D).De acordo com Kawashima (2005)as tarefas simples (fichas de clculo
tipo tabuada) estimulam mais o crebro do que a resoluo de um problema de clculo
complicado. O mesmo autor no seu livro apresenta um conjunto de imagens obtidas por
(imagiologia) onde se pode ver atravs das cores que quase todas as regies do crebro
esto ativadas. Ao contrrio na resoluo de problemas complicados as imagens
mostram o crebro apagado.
Nos idosos os recursos para as tarefas de ateno parecem estar diminudos (Pena,
et al.,2001),pelo facto de a ateno ser um pr-requisito para qualquer processamento de
informao, justifica-se realizar algumas sesses nos programas de treino
cognitivo(Fernndez-Ballesteros, Fresnedo, Martinez & Zamarrn, 1999). Por sua vez,
torna-se pertinente a realizao de exerccios de linguagem que consistem no processo
de codificar a informao na memria e na recuperao da mesma.Mas com o
31
envelhecimento ocorrem alteraes no processo de compreenso e h diminuio da
fluidez verbal(Triad & Villar, 2007). Assim a realizao de exerccios de linguagem
tem como objetivo aumentar a fluidez verbal e favorecer a evocao atravs da
linguagem (Penaet al 2001). importante treinar, por meio de exerccios, a funo
cognitiva relacionada com a orientao espacial e temporalpara que seja mantida ou
estimulada, uma vez que uma das funes que facilmente so afetadas por certos
transtornos cognitivos (Triad & Villar, 2007). Existem exerccios que permitem
manter ou estimular esta capacidade(Serrano,S/D). De acordo com Belsky (2001), as
mnemotcnicas so estratgias para a estimulao da memria com a funo de facilitar
a memorizao e a recordao, convertendo a informao com mais significado. So
tcnicas de diversos tipos, como, por exemplo, a elaborao de uma lista em categorias
significativas. Outra tcnica consiste em utilizar a imaginao para memorizar uma
informao marcante. Pode-se, ainda, recorrer a ajudas externas que consiste em
lembretes externos, como, por exemplo, calendrios e listas, que ajudam a recordar.
Para trabalhar a estimulao da memria a longo prazo pode-se recorrer a exerccios de
memria autobiogrfica, atravs da tcnica da reminiscncia, que permite o acesso
informao armazenada no crebro (Serrano S/D). A reminiscncia,constaduma tcnica
teraputica com o objetivo de ativar e atualizar a memria episdica a longo prazo.A
reminiscncia atravs do livro autobiogrfico, tem por base o desenvolvimento de um
livro estruturado que permite recorrer aos dados mais importantes da biografia da
pessoa, ao longo do seu ciclo vital(Pea, 2009). De acordo com Triad e Villar (2007)
pode utilizar tcnicas gerais como especficas que tratam de otimizar os trs processos
bsicos que implicam a recordao, sendo eles: a codificao da informao, a sua
reteno e manuteno na memria e a sua recuperao posterior, no momento em que
os indivduos precisam. Estas estratgias gerais so utilizadas de forma combinada,
dando lugar a tcnicas que permitem, por exemplo, aprender a reter informaes
especficas(Triad& Villar 2007).
32
6. Treino cognitivo: reviso de alguns estudos
As alteraes que ocorrem na memria, decorrentes do envelhecimento esto bem
documentadas. Existem cada vez mais programas de treino de memria em idosos e
vrios estudos apontam os seus benefcios. De seguida, expem-se alguns estudos que
envolveram programas de treino de memria, bem como algumas das suas concluses.
Souza e Chaves (2003) concretizaram um estudo, com o objetivo de analisar o
efeito da estimulao da memria sobre o desempenho do Mini Exame do Estado
Mental (MEM) e observar a correlao sociodemogrfica com o desempenhocognitivo.
A amostra envolveu quarenta e seis idosos saudveis. O treino da memria baseou-se
em atividades como palestras, aplicao de jogos, atividades e exerccios de raciocnio
de diferentes tipos de memria. Os exerccioseram essencialmente compostos por
resoluo de problemas, clculos, memorizao visual e leitura. Foi realizado em oito
sesses, com a durao de duas horas cada. Os resultados indicam que a maioria dos
participantesapresentou um aumento estatisticamente significativo nos pontos do MEM
aps o treino de memria.
Um estudo de Garca eGonzlez (2005) teve como objetivo analisar os efeitos de
um programa de treino de memria em idosos. A amostra abarcou noventa e oito
idosos, dos quais cinquenta e nove faziam parte do grupo experimental e trinta e novedo
grupo de controlo. Os sujeitos selecionados pertenciam a lares de idosos e aos Servios
Psicolgicos da Universidade de Granada. Aps a aplicao deprogramas de treino da
memria, os resultados indicam que ogrupo de controlo melhoram ou mantiveram o seu
rendimento cognitivo, enquanto os idosos que no participaram demonstraram um
declive nas suas funes.
Um outro estudo foi levado a cabo por Yassuda, Batistoni, Fortes eNeri (2006) com
o objetivo de estudar os efeitos de um programa de treino de memria episdica. O
estudoenvolveu uma amostra de sessenta e nove idosos saudveis. Os resultados deste
estudo insinuaram que os idosos que participaram no treino intensificaram o uso de
estratgias ensinadas.
33
Um estudo concretizado por Souza, Borges, Vitria eChiappetta, (2009) vem
reforar a importncia do treino da memria em idosos institucionalizados. Realizaram
uma investigaoprospetiva, observacional e transversal, com idosos cujas idades
estavam compreendidas entre os 65 e 98 anos. Para avaliar a capacidade cognitiva
foram utilizadas lista de palavras, fluncia verbal, evocao de lista de palavras e
reconhecimento da lista de palavras. Os resultados do estudo sugerem que as mulheres
tm melhor desempenho em atividades que envolvia habilidades. J na prova
relacionada com a evocao,os resultados apontam para que sejam os idosos mais
jovens a ter melhor desempenho. Por fim, os idosos com maior escolaridade que
parecem ter melhor o desempenho nas habilidades que envolvam linguagem.
Carvalho, Neri eYassuda (2010) realizaram um estudo com objetivo de verificar o
efeito do treino de memria em idosos. A amostra reuniu cinquenta e sete
idosossaudveis. Os resultados indicam que o treino de memria episdica, envolvendo
a aprendizagem e a prtica com a estratgia de categorizao, promoveu a melhoria
significativa no desempenho em tarefa da memria episdica e um maior uso da
estratgia treinada.
Em Portugal a investigao sobre a estimulao cognitiva ainda diminuta. No
entanto, alguns estudos tm sido realizados. Rodrigues (S/D) realizou um estudo com
objetivo de verificar se a exposio a um programa de estimulao cognitivatem efeitos
a nvel das capacidades de memria, de abstraolgica, de rapidez psicomotora e de
organizao. O programa de treino foi constitudo por um total de sete sesses
estruturadas, onde foram trabalhadas competncias cognitivas vrias,como a memria, a
ateno, a coordenao motora eas competncias de abstrao lgica. A amostra
englobou 47 idosos, de ambos os sexos, com idadescompreendidas entre os 65 e 89
anos e de diferentesnveis de escolaridade (0 a 3 anos e 4 a 7 anos).Os resultados
apontaram para melhorias significativas no desempenho dos idosos, aps a realizao
do programa de treino de memria.
Castro (2011), realizaram um estudo com o objetivo de verificar o impacto do
programa de estimulao cognitiva no desempenho cognitivo e na sintomatologia
depressiva, de um grupo de idososinstitucionalizados.O programa decorreu em
dezasseis sesses de estimulao cognitiva. Este estudo embarcou uma amostra
constituda de quinze idosos,divididos pelo grupo experimental e grupocontrolo, sendo
que o primeiro composto por 8 participantese os segundo por7. No qual obtiveram
melhorias significativas no desempenho cognitivo dos idosos.
34
Para simplificar a comparao entre alguns estudos realizados sobre o treino de
memria, com pretenses semelhantes do presente estudo, foi realizado um quadro
sntese, que a seguir se expe.
Tabela 1- Resultados de alguns estudos do treino cognitivo.
Autores Participantes Resultados
Sousa & Chaves (2003)
Perfil das Habilidades cognitivas no Envelhecimento Normal
46 idosos sem
demncia
Melhora significativa na pontuao
do MEM.
Garcia& Gonzales (2005)
Eficacia de un programa de entrenamiento en memoria en el
mantenimiento de ancianos con y
sin deterioro cognitivo
98 idosos sem
demncia
Melhoraram ou mantiveram o
rendimento cognitivo
Calero& Navarro (2006)
Perfil das habilidades cognitivas no envelhecimento normal
133idosos sem
demncia
Melhora para os participantes do
grupo experimental significativa na
execuo cognitiva e memria de
trabalho. Controle piora nos testes
Yassuda, Batistoni, & Andra
Garofe Fortes (2006)
Treino de Memria no Idoso Saudvel: Benefcios e
Mecanismos
69 idosos sem
demncia
No ps-teste o Grupo Experimental
apresentou melhor desempenho na
recordao de texto e maior uso de
estratgias.
Sousa, Borges, Vitria &Chiappetta
(2009)
Perfil das habilidades cognitivas no envelhecimento normal
98 idosos sem
demncia
As mulheres mostraram melhor
desempenho, nas habilidades, j na
evocao foram os idosos mais
jovens que tiveram melhor
pontuao, enquanto os idosos com
mais escolaridade tiveram melhor
desempenho na habilidade e na
linguagem.
Carvalho, Neri, &Yassuda, (2010) 57 idosos sem
demncia
Melhoria significativa no
desempenho da memria episdica.
Rodrigues (2008)
Efeito da estimulao cognitiva em Idosos
47 idosos sem
demncia
Melhorias significativas no
desempenho dos idosos aps a
realizao do programa de treino das
capacidades cognitivas.
Castro (2011)
Programa de estimulao cognitiva em idosos
Institucionalizados
15 idosos sem
demncia
Melhorias significativas no
desempenho cognitivo.
35
Em suma, os estudos acima referenciados indicam que a plasticidade cognitiva
permanece noenvelhecimento. Os idosos, quando estimulados,podem apresentar melhor
desempenho em tarefascognitivas.
36
37
Parte II - Estudo emprico
Treino cognitivo em Idosos Institucionalizados sem Demncia.
38
39
1. Metodologia
1.1. Questo de Investigao
Qual o efeito de um programa de treino de cognitivo em idosos institucionalizados
sem diagnstico de demncia?
1.2. Objetivo da investigao
Tendo em conta a reviso bibliogrfica que sustenta este trabalho, props-se a
realizao de uma investigao com o seguinte objetivo geral:
Avaliar o efeito do programa de estimulao cognitivacom a aplicao do
Mini Exame Mental (MEM)aps treino.
1.3. Tipo de estudo
O presente estudo quantitativo, longitudinalquasi-experimental de acordo com
Pais Ribeiro (2007).
1.4. Seleo da amostra
Numa amostra no probabilstica, a probabilidade de qualquer elemento ser includo
na amostra desconhecida (Ribeiro 1999).
A amostra dos idosos participantes no estudo foi obtida atravs do tipo de
amostragem no probabilstica,Os casos que participaram no estudo foram selecionados
atravs da aplicao do Mini Exame Mental. No decorrer do programa de treino, seis
indivduos desinteressaram-se, pelo que amostra ficou apenas com catorze indivduos.
40
1.5. Critrios de incluso
Os critrios de incluso determinados tiveram em conta a escolha do treino que nos
propusemos a efetuar:
Ter idade 65 anos;
Estar institucionalizado;
No apresentar diagnstico de demncia
Estar capacitado em atividades que envolvam clculo.
1.6. Caracterizao daAmostra
Na tabela 2 caracteriza-se sumariamente a situao pessoal dos idosos participantes
no estudo.
Tabela 2- caracterizao da amostra
Caracterstica Escala f
Gnero Masculino
Feminino
2
12
Idade
70-75
76-80
81-95
95 ou mais anos
2
4
8
0
Escolaridade
Nenhuma
Ensino Primrio
Ensino Secundrio
Ensino Superior
10
12
0
0
Profisso Exercida
Agricultor (a)
Comerciante
Domstica
8
1
5
Atividades
Fsica
Manuais
Fsica e outros
Manuais e outros
Atividade social
Outros
1
2
3
5
1
2
Institucionalizao
1-2
3-4
5-6
7-8
9 ou mais
5
2
2
2
3
41
A amostra foi constituda maioritariamente por elementos do sexo feminino, doze e
dois do sexo masculino(ver grfico1).
Grfico 1 - Caracterizao dos participantes em funo do gnero
Relativamente idade dos elementos envolvidos na amostra a mdia de idades
de 83,5 (ver grfico2)
Grfico 2 - Caracterizao dos participantes em funo da idade
A amostra apresentou uma maior preponderncia da no escolaridade, doze, e
dois tinham o primeiro ciclo (ver grfico3).
Grfico 3 - Caracterizao dos participantes em funo da escolaridade
O grupo predominantemente representado por domsticas e agricultores, sendo
respetivamente cinco e nove elementos (ver grfico 4).
42
Grfico 4 - Caracterizao dos participantes em funo da profisso exercida
Os participantes realizam essencialmente atividades manuais (ver grfico 5).
Grfico 5 - Caracterizao dos participantes em funo das atividades
Pode-se verificar que a maioria, cinco participantes, est entre um e dois anos
institucionalizado, seguido de trs idosos que esto h mais de nove anos. Os restantes
idosos esto entre os trs e oito anos institucionalizados (ver grfico 6).
Grfico 6 - Caracterizao dos participantes em funo dos anos de institucionalizao
1.7. Instrumentos de recolha de dados
Considerando que a maioria dos participantes no era alfabetizada, para recolha de
dados demogrfico, optou-se pela tcnica de inqurito por entrevista (estruturada), uma
vez que Marconi & Lakatos (1999) referem que se trata de uma tcnica que pode ser
utilizada em todos os segmentos da populao, nomeadamente em no alfabetizados.A
43
recolha dos dados foi realizada pela investigadora, a qual registou as respostas dos
entrevistados e cuja durao, em mdia, foi de trinta minutos.
De seguida, expe-se uma breve descrio de cada instrumento utilizado.Para
alcance do objetivo do presente estudo, tornava-se pertinente a recolha de dados que
possibilitassem caracterizar os sujeitos na sua dimenso pessoal, social e profissional.
Neste sentido, construiu-se um instrumento que incluiu: questes fechadas com vrias
opes de resposta,para dar possibilidade aos inquiridos de emitirem
opiniesparticulares e, no caso de serem diferentes das previstas, acrescentou-se
aopooutras.As questes referiam-se idade, estado civil, habilitaes
literrias,profisso exercida, ocupao/ cio, problemas de sade, necessidade de tomar
algum medicamento, os anos e motivos e iniciativa de institucionalizao.
O instrumento utilizado para o rastreio cognitivo foi o Mini ExameMental, como j
foi exposto. De acordo com Sequeira (2010), oMini Exame Mental (1975) o
instrumento de rastreio cognitivo mais utilizado