Post on 30-Dec-2014
description
1
TECNOLOGIAS DIGITAIS E PRÁTICA PROJETUAL
EM PREEXISTÊNCIA CRÍTICA: ESTUDO EM SABARÁ-MG
Maisa Mazzini (a) Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento / UFES
Renata Hermanny de Almeida (b) Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento / UFES
Jaqueline Pugnal da Silva (c) Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento / UFES
(a) maisa_mazzini@hotmail.com (b) renatahermanny@gmail.com (c) jaquepugnal@yahoo.com.br
RESUMO
O artigo discute o uso de tecnologias digitais, identificando e diferenciando-as segundo vantagens e desvantagens, e
discutindo a contribuição das mesmas para a teoria e a prática arquitetônica, ambas problematizadas pela inserção de
nova arquitetura em áreas críticas. Entre as tecnologias identificadas e analisadas, destaca-se o Wikimapps, aliado à
ferramenta Google Street View. De fácil manuseio e visualização, estas apresentam possibilidade de estudos e
simulações com expressivo potencial de suporte ao planejamento. Com a criação do mapa no Wikimapps, são
analisados elementos participantes da constituição espacial da cidade de Sabará - MG, por meio da seleção de Áreas
de Estudo, visando facilitar o acesso às informações, e associadamente contribuir em iniciativas modificadoras da
configuração. Assim, reconhece-se a importância destas tecnologias frente ao par temático Antigo-Novo. Elaborado
para a cidade de Sabará, sitio histórico dotado de particularidade histórica e urbana, o mapeamento tem capacidade de
adaptação para situações diferenciadas. O que pode reduzir ou ampliar sua potência é o quadro político e social de
cada situação urbana, ou seja, o nível de abertura e transparência dos agentes públicos e o nível de interesse e
envolvimento da sociedade civil.
Palavras-chave: Tecnologias Digitais. Planejamento Urbano. Intervenção Arquitetônica. Preexistência crítica.
ABSTRACT
The article discusses the use of digital technologies, identifying and differentiating according advantages and
disadvantages, and discussing the contribution of these to the architectural theory and practice, both problematized by
the insertion of new architecture in critical areas. Among the technologies identified and analyzed, stands out the
WikiMapps, associated with Google Street View tool. Easy handling and visualization, they present opportunities for
study and simulations, with significant potential planning support. With the creation of map in the WikiMapps, are
analyzed elements participants of the spatial constitution of the city of Sabará - MG, by selecting Areas of Study, to
facilitate access to information, and in association contribute to configuration change initiatives. Thus, it recognizes the
importance of these technologies in relation to the Old-New pair. Elaborated for the city of Sabará, historic site endowed
with historical and urban particularity, the mapping has the ability to be adapted to different situations. What can reduce
or enlarge their power is the political and social cadre of each urban situation, in other words, the level of openness and
transparency of public agents and the level of interest and involvement of civil society.
Keywords: Digital technologies. Urban planning. Architectural intervention. Critical preexistence.
1 . INTRODUÇÃO:
O principal objetivo deste artigo é desenvolver um suporte, de base cartográfica e escrita,
que auxilie o estudo de novas construções inseridas em locais preexistentes. Ou seja, utilizar
2
tecnologias digitais para exemplificar, espacializar, analisar e identificar a relação Antigo/Novo em
cidades brasileiras, e, desta forma, pensar a nova arquitetura em zonas críticas da cidade,
buscando compreender a melhor maneira de intervir, pois, como adverte Santos (2008), nem todo
antigo e nem todo novo são convenientesi.
A discussão acerca do par de temas Antigo/Novo tem início no século V, quando surge a
palavra moderno, sendo utilizada para significar “agora, recentemente”, apresentada como uma
tentativa de estabelecer a distinção entre os contemporâneos e o período anterior, numa “[...]
época de transição entre Antiguidade romana e pagã e o mundo cristão” (PAGOTO; RAMOS;
SOUZA, 2009, p. 241), não indicando nenhum privilégio entre um ou outro. Segundo Compagnon
(2003), moderno surge para designar o que é presente, atual, contemporâneo daquele que fala, e
não o que é novo. Ou melhor, mais do que novo, moderno define o que está na moda, o que ainda
é atual. A crescente valorização do moderno em oposição ao antigo ocorre na França, na
transição entre os séculos XVII e XVIII (COMPAGNON, 2003), a partir do evento literário
conhecido como a querela dos antigos e dos modernos, iniciado em 1687, quando Charles
Perrault envia um poema à Academia Francesa de Letras, questionando e assegurando que “[...]
não via nada no tempo de Augusto, de mais de mil e seiscentos anos atrás, que fosse tão melhor
do que ocorria na França sob o reinado do Rei Sol” (MODERNOS, acesso em 15 set. 2010).
No campo da arquitetura, o embate entre os valores do antigo e do novo pode ser
reconhecido na preservação dos monumentos, consagrada no contexto das transformações
urbano-arquitetônicas iniciadas no século XVII. No entanto, sua consolidação se dá no decorrer da
primeira metade do século XX, como crítica ao urbanismo moderno de linhagem funcionalista e à
associada ruptura das cidades tradicionais. Numa perspectiva crítica, para Colquhoun (2004), as
obras do passado são preservadas como emblemas de um momento suplantado, e de valorização
decorrente de sua antiguidade, e não por fornecer modelos para a arquitetura normativa.
No Brasil, a discussão sobre a preservação tem expressão normativa com o Decreto-Lei
nº25, de 30 de novembro de 1937, e a criação Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional,
atual IPHAN. Em escala mundial, neste período, eventos com temática concernente à proteção do
patrimônio culminam em documentos, recomendações e cartas conclusivas, conhecidas como
Cartas Patrimoniais, que expressam o pensamento preservacionista.
Mas, é evidente que o urbano apresenta um grande potencial de dinamismo e de
transformação, porém, cidades com preexistência diferenciada não suportam toda e qualquer
atividade geradora de grandes impactos em sua condição configuracional, sendo necessário o
reconhecimento das características urbano-arquitetônicas que as compõem e contribuem para
sua preservação, no processo de inserção de uma arquitetura contemporânea (SILVA, 2012).
Referenciado nesse marco conceitual, este artigo se propõe ampliar a discussão quanto ao
uso de tecnologias digitais como suporte ao planejamento urbano. Este objetivo segue o
pensamento de Godoy e Soares Filho (2007) ao considerarem a disponibilização de ferramentas
3
de representação da dinâmica urbana uma oportunidade diferenciada para estudo urbanístico,
especialmente aquele visando a elaboração de planejamento e projeto de intervenção.
A utilização de tecnologias digitais como suporte ao planejamento urbano visa à melhoria
na comunicação entre os gestores e a própria sociedade, e facilita o armazenamento e utilização
de dados espaciais. Segundo Moura (acesso em: 18 Ago. 2011), o gerenciamento eletrônico de
documentação (GED) surge da necessidade, de instituições e empresas, em lidar com o
armazenamento e o manuseio de grande quantidade de dados, e, assim, eliminar o acúmulo de
impressos; permitir o acesso facilitado às informações; e criar um acervo de dados com
segurança. O avanço tecnológico recente colabora para a utilização destes recursos, pois a folha
do mapa, forma de registro de dados espaciais, é considerada limitada em função da quantidade
de informação possível de ser representada, diferentemente dos recursos gráficos
disponíveis(PEREIRA; SILVA acesso em 02 jan. 2012).
Como resultado, espera-se desenvolver um material de referência a estudantes,
pesquisadores e profissionais da área da Arquitetura e do Urbanismo e às instituições públicas de
planejamento e preservação, como prefeituras municipais e governos estaduais, e institutos de
preservação do patrimônio cultural. Vale lembrar, o objetivo não é ditar um único caminho para a
utilização de tecnologias digitais no auxílio ao planejamento urbano, e nem tão pouco limitar este
processo ao objeto da experimentação a seguir apresentado, mas, sim, mostrar as possibilidades
de utilização de tecnologias digitais em áreas urbanas com preexistência diferenciada.
2 – MATERIAIS E MÉTODOS
A partir da leitura de artigos referentes ao tema de programas de representação gráfica
identifica-se um número significativo de estudos sobre a geomática e a geoinformação, no Brasil,
principalmente desenvolvidos nas duas últimas décadas. Dentre os vários tipos de tecnologias
digitais identificadas, cita-se o Google Street View; CityEngine, UrbanSim, Google Maps e
Wikimapp, analisados a partir da estruturação de um quadro comparativo, visando ressaltar suas
vantagens e desvantagrens, e, posteriormente, exemplilicá-los, utilizando-se uma base territorial
hipotética. Entre os recursos estudados, são escolhidos o Wikimapps, por ser um mapa interativo
online gratuito, que permite o compartilhamento de informações de fácil manuseio; e o Google
StreetView, por permitir monitorar ruas, bairros, cidades e países, a partir de uma visão de 360º
em sentido horizontal e 290º em sentido vertical, simulando um passeio virtual.
Realizada a seleção dos dois programas, visando a elaboração cartográfica e a aplicação
de modelos de representação espacial aos mesmos, escolhe-se a cidade de Sabará como base
territorial da experimentação das tecnologias escolhidas, adotando-se como base de dados da
dissertação de mestrado de Jaqueline Pugnal da Silva (2012); com a finalidade de exemplificar
como as tecnologias digitais podem colaborar no planejamento urbano. Além de contar com
estudos em andamento, a cidade é selecionada por nela existirem bens arquitetônicos tombados,
4
condição exigente de análises de técnicos do IPHAN, visando o controle de alterações. Neste
contexto, o estudo se apresenta como um suporte para a Prefeitura Municipal de Sabará e o
IPHAN, na medida em que contribui para suas análises. Assim, é criado um mapa interativo
localizando os monumentos tombados pelo IPHAN, pela Prefeitura Municipal de Sabará, por meio
do Plano Diretor Municipal - PDM, e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico -
IEPHAN e as áreas vazias, com potencial para a implantação de nova arquitetura.
Das áreas vazias identificadas, são selecionadas 04 (quatro) para o desenvolvimento do
mapeamento de informações preliminares: localização, dimensões e identificação das edificações
tombadas vizinhas. Com a finalidade de aprofundar o estudo acerca do entorno urbano, e facilitar
a compreensão do mesmo no processo de inserção de nova arquitetura, também são inseridos os
registros realizados a partir da caracterização arquitetônica de edificações vizinhas a monumentos
protegidos por tombamento (volumetria, implantação, materiais).
Para esta análise, adota-se a metodologia proposta por Silva (2012) para a identificação de
elementos constituintes da relação Antigo-Novo, reconhecidos nos discursos das Cartas
Patrimoniais, documentos que orientam e estabelecem normas e procedimentos na elaboração de
legislação patrimonial e urbanística referente à preservação (LAPA, 2011). Evidencia-se que
esses elementos são referentes às relações formais externas da edificação em comparação à
preexistência, identificáveis na morfologia do lugar, ou seja, no “[...] estudo da configuração e da
estrutura exterior do objeto” (LAMAS, 1992). São eles: Volumetria, Cor, Densidade, Materiais,
Proporção, Implantação, Altura, Escala e Textura. Segundo a organização proposta por Silva
(2012), estes elementos se agrupam em três categorias, formando Grupos de Elementos
norteadores da análise do entorno urbano realizado nesta etapa do estudo: o Grupo 01, intitulado
como Forma, é constituído pelos elementos Volume, Proporção, Escala e Altura, e caracteriza a
composição volumétrica da nova arquitetura, relacionando-se ao que Gracia (2001) indica como
forma – massa, que ocupa os vazios dos espaços urbanos; o Grupo 02, intitulado Ocupação, é
constituído pelo elemento Implantação, correspondente à disposição e à localização da edificação
no lote e, portanto, segundo Gracia (2001), se refere à ocupação do tecido urbano; o Grupo 03,
Aparência, é constituído pelos elementos Material, Densidade, Cor e Textura, que compõem a
estética da edificação, ou, como indicado por Gracia (2001), os aspectos plásticos da arquitetura.
A análise arquitetônica objetiva reconhecer a configuração topo e morfológica das
edificações presentes na vizinhança das áreas de estudo selecionadas, a fim de garantir a
harmonia na relação Antigo/Novo no processo de inserção de arquitetura contemporânea, sem
que a cidade com preexistência diferenciada, histórica e urbanisticamente, perca características
urbano-arquitetônicas participantes da sua constituição espacial.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
5
Para a primeira etapa, utiliza-se o programa Wikimapps, uma iniciativa da empresa
WikiNova, formada por pesquisadores em Computação da Universidade Federal de Fortaleza e
com colaboração do Laboratório de Engenharia do Conhecimento. O Wikimapps se trata de um
serviço criado a partir de mapas digitais, com a finalidade de mapeamento colaborativo,
alimentado por usuários a fim de compartilhar informações – escritas, vídeos e/ou imagens. A
utilização deste serviço ocorre a partir da criação de um cadastro no site www.wikimapps.com, e
definição de um título para o mapa interativo (no caso, Sabará- MG). Após a sua realização, o
então administrador pode escolher a região no qual o usuário será direcionado assim que acessá-
lo. O mapa pode ser editado, portanto, atualizando-o quando necessário com novos marcadores
(localizando determinados elementos no mapa), ou, ainda, reconstituindo os já existentes.
Após a criação do mapa interativo (Figura 1), a exemplificação prossegue apresentando a
localização dos bens tombados a nível federal pelo IPHAN, estadual, pelo IEPHA, e municipal, a
partir do PDM de Sabará, e, como suporte ao planejamento urbano, identificando terrenos vazios
na cidade, e são, portanto, áreas propícias à implantação de nova arquitetura. A intenção é tornar
conhecida a proximidade destes terrenos a monumentos históricos, cujas contribuições para a
configuração urbana- espacial e para a identidade de Sabará são de grande importância. É ainda
importante frisar, como se trata de um estudo exemplificador, apenas alguns terrenos são
identificados, ou seja, não se trata de um estudo detalhado de todos os terrenos disponíveis para
a inserção do novo em Sabará.
Figura 1. Mapa da Cidade de Sabará-MG feito através dos aplicativos propiciados pelo Wikimapps
e apresentando os bens tombados e terrenos vazios existentes.
Na Figura 1, é possível identificar os elementos definidos nesta primeira etapa, por meio da
seguinte associação: os ícones cinzas são referentes aos terrenos vazios encontrados no
município de Sabará; os bens tombados são identificados por imagens referentes à eles, sendo as
bordas amarelas e vermelhas para monumentos tombados a nível municipal e estadual,
6
respectivamente; os ícones amarelos representam as áreas de estudo definidas para a segunda
etapa da experimentação, as quais são melhor detalhadas a seguir.
A cada um dos bens tombados a nível federal, são acrescidas suas respectivas
informações, tais como o nome, a localização, a data de construção, a data de tombamento, o
número do processo e o Livro do Tombo no qual se encontra, seu uso e proprietário atuais, e uma
descrição, acessíveis quando do interesse do próprio usuário, e após a seleção através do cursor
nos ícones dos bens tombados. Por conseguinte à seleção, o Wikimapps conduz a uma nova
página (Figura 2) que contém, além das informações acima citadas, fotos específicas dos
monumentos, e, também, permite a interação do usuário por meio de comentários. Quanto aos
bens tombados em nível municipal e estadual, as páginas não detalham e/ou aprofundam os
dados. Estes são a apenas localizados no mapa interativo.
Figura 2. Página contendo informações, fotos e comentários de cada monumento. (Fonte:
ANDRADE, 2012) .
7
A segunda etapa da experimentação prossegue com a seleção de 04 (quatro) áreas não
edificadas, identificadas no mapa para a inserção de informações preliminares como a
localização, as dimensões da área, e a caracterização arquitetônica das edificações vizinhas,
segundo a metodologia dos Grupos de Elementos, proposta por Silva (2012). Aliado às
informações escritas, fotos são inseridas, com a utilização do recurso do Google Street View, a fim
de possibilitar a visualização do terreno e seu entorno.
O recurso do Google Street View, oferecido pela Google através de sistemas de
mapeamento (Google Maps), permite monitorar ruas, bairros, cidades e países, a partir de uma
visão de 360º em sentido horizontal e 290º em sentido vertical, simulando um passeio virtual. É
importante frisar, o passeio virtual pode ser realizado apenas em locais previamente mapeados. O
mapeamento é feito por ruas, a partir da coleta de imagens por câmeras especiais, junto a um
sistema de Global Position System (GPS), identificando localização exata de cada fotografia. Após
as coletas, as imagens são enviadas para a central, passando por uma “costura”, formando,
assim, o passeio virtual. Criado em 2007, Google Street View, mapeia as ruas das cidades
brasileiras em 2009, sendo que o serviço só pôde ser acessado em 2010. As primeiras cidades
mapeadas são Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. E na América Latina, o Brasil foi o
pioneiro.
É importante ressaltar, complementarmente, essas são informações preliminares, inseridas
a fim de iniciar um debate acerca do tema, identificando informações relevantes, e que devem ser
expostas publicamente, como auxílio à população, assim como a profissionais, que buscam
informações sobre o terreno em que se planeja construir. As fotos podem ser vistas como base
para estudos volumétricos, identificados por Moura (acesso em: 18 Ago. 2011) como um método
útil em processo de aprovação de projeto.
Dentre os critérios de seleção das áreas, estão: a proximidade com monumentos
identificados por sua importância histórica e, também, seu papel enquanto referência na cidade de
Sabará; a localização em pontos estratégicos na cidade, ou seja, são áreas residenciais
privilegiadas ou que apresentam intenso comércio, potencializando a demanda por nova
arquitetura; e a dimensão das áreas, em si, pois são propícias a receber edificação de grande
escala. Em seguida, as áreas são intituladas como Áreas de Estudo, a fim de facilitar a
compreensão da experimentação.
Na Área de Estudo 01, localizada na Rua Nossa Senhora da Conceição, identificam-se
duas possibilidades de seu aproveitamento, sendo a primeira (a) resultante do remembramento de
lotes, com área de aproximadamente 1.994m², e a segunda (b) resultante de seu parcelamento
em três lotes de diferentes tamanhos, com aproximadamente 767 m², 381 m² e 846 m² cada
(Figura 3). De configuração urbana marcada pelo predomínio de edificações térreas construídas
em diferentes períodos históricos, entre as quais se situam edificações com aspecto colonial e,
pontualmente, construções contemporâneas, a área está referenciada pela Igreja Nossa Senhora
8
da Conceição, e, com menor nível de distinção, pelo Chafariz da Confraria, bem tombado em nível
municipal, posicionado junto à praça local, denominada Praça Getúlio Vargas. A praça possui sua
configuração formal aproximadamente triangular, seguindo o traçado das ruas que a delimitam, e,
em conjunto com um canteiro, resultante da confluência da Rua Nossa Senhora da Conceição e
da Rua João Francisco Ferreira, posicionado face à Área de Estudo 01, forma os espaços
públicos existentes no entorno urbano.
A
B
Figura 3. Demarcação da Área de Estudo 01, onde (a) é o remembramento de lotes; e (b) o
parcelamento da área em três lotes. (Fonte: Google Maps).
A Área de Estudo 02 (Figura 4) está localizada na Rua São Francisco, e possui uma área
total de aproximadamente 340 m². A configuração urbana é marcada pelo predomínio de
edificações térreas de aspecto colonial, transformadas por reformas pontuais como a construção
de terraços e/ou a aplicação de materiais contemporâneos como a telha de fibrocimento. O
entorno tem como referência a Igreja São Francisco, tombada pelo IPHAN, de relevante caráter
monumental derivado de sua escala e implantação sobre um patamar acima do nível da rua. O
espaço público existente neste entorno é delimitado pelo canteiro posicionado face à Área de
Estudo 02, resultante do alargamento da Rua São Francisco.
Figura 4. Demarcação da Área de Estudo 02. (Fonte: Google Maps. )
9
A Área de Estudo 03 (Figura 5) está localizada na esquina da Rua Dom Pedro II com a
Rua da República, e possui área total de aproximadamente 282 m². A configuração urbana é
marcada pelo Conjunto da Rua Dom Pedro II, tombada a nível federal em 1965 como conjunto
arquitetônico e urbanístico, onde estão situadas algumas das mais importantes construções
históricas da cidade, com um acervo arquitetônico de 150 (cento e cinquenta) edificações
coloniais, sendo 03 (três) tombadas isoladamente.
Figura 5. Demarcação da Área de Estudo 03. (Fonte: Google Maps.)
A Área de Estudo 04 (Figura 6) está localizada na esquina da Rua Nossa Senhora do Ó, e
possui área total de aproximadamente 543 m². De configuração urbana marcada pelo predomínio
de edificações térreas construídas em diferentes períodos históricos, entre as quais se situam
edificações com aspecto colonial e, pontualmente, construções contemporâneas, a área está
referenciada pela Igreja Nossa do Ó, tombada a nível federal pelo IPHAN. Seu entorno urbano
tem como espaço público o canteiro resultante do alargamento da Rua Nossa Senhora do Ó, que
se estende até o adro da Igreja do Ó.
Figura 6. Demarcação da Área de Estudo 04. (Fonte: Google Maps).
Quanto à caracterização arquitetônica do entorno urbano das áreas de estudo, como
mencionado, orientou-se pela metodologia dos Grupos de Elementos proposta por Silva (2012).
As informações obtidas nesta análise, referentes aos elementos que constituem a forma, a
10
implantação e a aparência das edificações vizinhas das áreas de estudo, acrescidas de fotos em
vários ângulos adquiridas no Google StreetView, encontram-se disponibilizadas em suas
respectivas páginas, como exemplificado na Figura 6, no mapa interativo criado no Wikimapps,
podendo ser acessadas online por meio da seleção de seus ícones. Este acesso poderá ser
realizado após a ativação do mapa no domínio www.wikimapps.com, seguindo os seguintes
passos: solicitar a pesquisa com nome Sabará-MG e selecionar o link resultante.
Figura 6. Exemplo de interface da página de uma das áreas de estudo no mapa do Wikimapps.
A decisão por não incorporar a este artigo as fichas de cada um dos bens tombados e
correspondentes áreas de estudo decorre do entendimento de sua inoperância e associada
diminuição do potencial da ferramenta utilizada neste estudo. Acrescente-se ainda que, pela
possibilidade de seu conteúdo ser permanentemente ampliado e/ou transformado, não se justifica
sua “cristalização” em um de seus estágios. Situação que significaria o enfraquecimento de seu
potencial de estar em contínua reconstituição.
4 – DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
Os recursos computacionais analisados e utilizados na experimentação apresentam tanto
pontos fortes, que podem ser explorados por pesquisadores e interessados em produzir análises
11
das mais diversas, quanto deficiências, que cabe serem ressaltadas neste escrito a fim de ampliar
a discussão da eficiência dessas e outras tecnologias digitais no âmbito do planejamento urbano.
Em primeiro lugar, o Google Street View e o Wikimapps são serviços online, disponíveis
gratuitamente, de fácil manuseio e visualização, dotados de expressiva capacidade de
visualização de mapas com nitidez. Diferenciam-se, entretanto, pois enquanto um propicia a
manipulação de informações gerando mapeamentos de conteúdos diversos vinculados a objetivos
específicos, por meio do Wikimapps, o outro, possibilita a visualização de localidades, com
informações previamente capturadas por meio do Google Street View, tendo por base o mapa do
Google Maps, permitindo um passeio virtual pelo objeto de interesse de estudo. Ambas, portanto,
são ferramentas complementares e têm suas particularidades potencializadas quando em
interação.
Vale ressaltar, o Wikimapps não é um programa de simulação, não ensaia a inserção de
novo edifício em área crítica da cidade. Sua potência é permitir virtualmente uma primeira
aproximação, e, assim, antecipar o contato físico do lugar para, então, conhecer a realidade sobre
a qual se deseja atuar. Limita-se à análise da configuração formal e não ao fenômeno da
modificação. No entanto, para que o mapa tenha credibilidade em suas informações, é necessária
uma dupla atualização: das informações em si, visando fortalecer sua capacidade de renovação; e
da base oferecida pelo Google Street View, visando a eficiência de sua operação.
Especificamente, a primeira atualização, exige do administrador do mapa o conhecimento do
lugar.
Ainda que possibilite, se assim desejar o administrador, a interação de usuários através da
abertura das informações, e com isso a descentralização da administração do mapa, o Wikimapps
não é uma ferramenta “amigável”, no sentido de não permitir a interface gráfica com uma
diversidade significativa de programas e ferramentas, como, por exemplo, o AutoCad.
Assim, dentre os novos paradigmas e concepções do espaço e do tempo, no cenário de
representação do espaço urbano, pautados por Almeida (2007) - a reciprocidade, simultaneidade,
interatividade, intemporalidade, recursividade-, conclui-se que o Wikimapps, aliado ao Google
Street View, intercepta-se ao paradigma da interatividade, uma vez que permite ao “homem” ser
parte integrante e agente modificar do universo virtual, e não mero expectador; e, ao paradigma
da intemporalidade, pois possibilita a atividade de gestão e tomada de decisões,
independentemente da presença física e simultânea dos agentes envolvidos.
Conclui-se que essas tecnologias seguem o pensamento de Moura (acesso em: 18 Ago.
2011), uma vez que, com a sua utilização, as análises acerca da cidade se tornaram mais fáceis e
precisas, complementando e amparando o planejamento urbano, e, assim, colaborando para a
visualização de dados, entendimento das informações, e diagnóstico de possíveis problemas e
tomadas de decisões. Cabe ressaltar ainda que, apesar de elaborado tendo a cidade de Sabará
como objeto empírico, dotado de particularidade histórico-urbanística, o mapeamento apresenta
12
expressiva capacidade de adaptação em situações diferenciadas. O que pode alterar, reduzindo
ou ampliando sua potência, em realidade, é o quadro político e social de cada situação urbana, ou
seja, o nível de abertura e transparência dos agentes públicos, de um lado; e o nível de interesse
e envolvimento da sociedade civil, de outro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, C. M. de. O diálogo entre as dimensões real e virtual do urbano In: BATTY, M. Geoinformação em urbanismo: cidade real x cidade virtual. São Paulo: Oficina de textos, 2007. p. 19-31. ANDRADE, A. C. de. Mapeamento de situações de inserção de nova arquitetura em contexto com preexistência crítica: estudo de caso na cidade de Sabará-MG. Vitória: Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, UFES, 2011. Relatório Parcial. COLQUHOUN, A. Modernidade e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura. 1 ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. COMPAGNON, A. Os cinco paradoxos da modernidade. 2 ed. Belo Horizonte: UFMG, 2003. GODOY, M. M. G.; SOARES FILHO, B. S. Modelagem da Dinâmica Intra- urbana no Bairro Savassi, em Belo Horizonte. In: BATTY, M. Geoinformação em urbanismo: cidade real x cidade virtual. São Paulo: Oficina de textos, 2007. p. 286-302. GRACIA, F. de. Construir en lo construido: La arquitectura como modificación. 3 ed. Madrid: NEREA, 2011. LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/ Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 1993. MODERNOS contra antigos, a querela do século XVII. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2009/08/12/000.htm>. Acesso em: 15 Set. 2010. MOURA, A. C. M. Geoprocessamento na gestão e no planejamento urbano. 2 ed. Belo Horizonte: Ana Clara Moura, 2005. v. 1. 294p. PAGOTO, C.; RAMOS, E.; SOUZA, A. O. O prestígio do novo na modernidade literária. In: Celli-Colóquio de estudos linguísticos e literários. 3 ed. São Paulo: Maringá, 2007. SILVA, J. P. da. Modelo de inserção de nova arquitetura em áreas urbanas diferenciadas. Experimentação em Sabará, MG. Vitória: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Espírito Santo, 2012. Dissertação Mestrado.
Nota i O desenvolvimento deste assunto iniciou-se no subprojeto de pesquisa intitulado “Mapeamento de situações de inserção de nova arquitetura em contexto com preexistência crítica: estudo de caso na cidade de Sabará-MG”, o qual se insere na pesquisa Cidade no Brasil: o lugar do passado em intervenções urbanas, 1950-2010, consolidada em 2008 e desenvolvida pelo Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento – Patri_Lab,com coordenação da professora Renata Hermanny de Almeida.