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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM
SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E NÃO-ADERENTES A
UM PROGRAMA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS.
PAULA BEATRIZ SCHMIDT AFFINI
Itajaí, (SC) 2009.
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PAULA BEATRIZ SCHMIDT AFFINI
SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM
SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E NÃO-ADERENTES A
UM PROGRAMA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS.
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí
Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal
Itajaí SC, 2009
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DEDICATÓRIA
Aos meus queridos e amados: Ursula, Paulo, Sula,
William, Gustavo e Marcio, que me apoiaram,
incentivaram e “suportaram” durante este período.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ser a razão maior de todas as coisas, por me criar e capacitar para tal
jornada!
Ao meu querido professor orientador Dr. Eduardo José Legal, que como
expressão de sua simplicidade atende simplesmente por Legal. Obrigada pelas
incontáveis orientações sempre repletas de conversas interessantes e bem
humoradas, pelo conhecimento compartilhado, pelo incentivo e paciência durante
todo esse processo!
Aos meus amados pais Paulo e Ursula, por terem me ensinado a importância da
educação, e me incentivado para o estudo. Por terem não só “paitrocinado” essa
façanha, mas por terem durante esse processo me possibilitado tempo para o
estudo e me consolado e aquietado nos momentos de extrema ansiedade. A
minha irmã predileta Sula e ao meu “cunhadinho” William, por terem
compreendido minha ausência durante este período mágico e único que é a
gestação! E não por último, ao meu “lindinho” Marcio, por ter não só me apoiado,
animado e suportado, como também por ter acreditado que dias melhores viriam!
Ao Cláudio, Raquel e Carlene da Acadêmia Company por tornarem essa pesquisa
viável, estando sempre dispostos a me receber e auxiliar no desenrolar da
mesma. E claro aos meus queridos participantes, sem vocês esse trabalho
certamente não seria concluído!
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SUMARIO
RESUMO ................................................................................................................ 6
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8
2 EMBASAMENTO TEÓRICO .............................................................................. 10
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 24
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................. 27
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 48
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 51
7 ANEXOS ............................................................................................................ 54
7.1 Anexo 1 ........................................................................................................... 54
8 APÊNDICES ...................................................................................................... 55
8.1 Apêndice ......................................................................................................... 55
8.2 Apêndice ......................................................................................................... 56
8.3 Apêndice ......................................................................................................... 57
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SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM
SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E NÃO-ADERENTES A
UM PROGRAMA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal Defesa: Novembro de 2009.
Resumo: O presente trabalho teve por objetivo investigar os benefícios de um programa de exercício físico
regular sobre os sintomas de ansiedade, depressão e estresse em um grupo de sujeitos
sedentários. A pesquisa foi realizada com um grupo composto por sete pessoas sedentárias que
se submeteram a um programa de prática de exercícios físicos três vezes por semana em um
período de dois meses (nove semanas). Foram mensurados os sintomas de ansiedade, depressão
e estresse em três momentos distintos: antes do início do programa, um mês após o início do
programa e dois meses após o início do programa. Para as medidas de ansiedade foi utilizado o
BAI (Inventário de Ansiedade de Beck); para os sintomas depressivos, o BDI; e, por fim, para os
sintomas de estresse, o Inventário de Sintomas de Estresse. Associações positivas entre a prática
de exercícios físicos e a redução de sintomas foram encontradas nos sintomas de ansiedade,
depressão e estresse entre os indivíduos que permaneceram no programa por 9 semanas, porém,
para os não aderentes, os sintomas tenderam a aumentar. Apesar de não ser possível realizar
testes estatísticos devido a pequena amostra, é possível relacionar a redução dos sintomas com a
prática regular de exercícios físicos.
Palavras-chave: 1. Exercícios Físicos 2. Ansiedade 3. Depressão
4. Estresse
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Sub-Área de concentração (CNPq) Membros da Banca
______________________________________ Professor convidado
______________________________________ Professor convidado
________________________________________ Professor Orientador
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1 INTRODUÇÃO
A prática regular de exercícios físicos apresenta correlações negativas com
sintomas psicológicos, e positivas com o funcionamento do sistema imune. Ou
seja, estresse, humor, ansiedade e cognição apresentam escores diminuídos em
indivíduos que praticam algum tipo de exercício físico regularmente. Contudo,
problemas relacionados a composição da amostra e ao abandono (não
aderência) dificultam a análise de como ocorrem estes benefícios (ARAÚJO;
MELLO; LEITE, 2005).
Os efeitos benéficos dos exercícios físicos sobre o comportamento são
apontados em diversos estudos nas áreas de Psicologia, Educação Física e
Medicina. Porém poucos trabalhos investigam os efeitos e mecanismos pelos
quais estes exercícios podem promover melhoras psicológicas e biológicas
(ARAÚJO; MELLO; LEITE, 2005). Menos estudos ainda, existem sobre o que faz
as pessoas aderirem ou não a prática regular de atividades físicas.
De modo geral, os principais benefícios apontados na literatura
especializada dizem respeito ao tratamento dos transtornos de humor, ansiedade,
depressão e estresse, bem como melhoras no desempenho cognitivo
(WEINBERG; GOULD, 2008).
Neste sentido, compreender a relação entre exercícios físicos e aspectos
psicológicos, é de suma importância para a sociedade contemporânea, visto que
esta é afligida constantemente por transtornos de humor como a ansiedade e a
depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão é classificada
como sendo a doença que mais incapacita o ser humano no século XXI. Diante
disso Mello; Boscolo; Esteves e Tufik (2005), pontuam que o exercício físico pode
acarretar diversos benefícios físicos e mentais ao ser humano, proporcionando
assim uma melhor qualidade de vida.
O tratamento para a depressão e ansiedade consiste geralmente em
psicoterapia e o uso de farmacoterápicos, representando este último um elevado
custo, e efeitos colaterais como a dependência, por este motivo, a prática regular
de exercícios físicos poderia representar um tratamento alternativo e
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complementar de baixo custo, com baixos ou inexistentes efeitos colaterais, e uma
melhora significativa na qualidade de vida dos indivíduos.
Uma revisão bibliográfica sobre os efeitos do exercício físico nos sintomas
de ansiedade, depressão e estresse, realizada por Salmon (2001) indica que os
resultados mais consistentes dos estudos que relacionam a prática de exercício
físico com aspectos psicobiológicos, indicam efeitos antidepressivos e ansiolíticos
bem como menor vulnerabilidade ao estresse.
Diante do exposto anteriormente, a presente pesquisa teve como propósito
investigar os efeitos da prática regular de exercícios físicos sobre sintomas de
estresse, depressão e ansiedade em sujeitos sedentários. Pretendeu, também,
avaliar os motivos da aderência e não aderência, a fim de compreender as
características cognitivas e motivacionais envolvidas nesse processo.
Para tanto foram levantados os sintomas de depressão, ansiedade e
estresse dos participantes do programa de exercício físico regular, antes do início
do programa, um mês após o início do programa e dois meses após o início do
programa. Estas medidas foram comparadas ao longo do tempo das medições.
Para os participantes, tanto os que se mantiveram quanto aqueles que se
desligaram da prática de exercícios físicos, foram levantados os fatores ligados a
aderência e não aderência aos mesmos.
Esta monografia relata o caminho teórico e prático deste estudo, seus
resultados e conclusões.
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2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1. Exercícios físicos e Atividade física
Ao relacionar aspectos psicobiológicos a prática de exercícios físicos, faz-
se necessário esclarecer e diferenciar os conceitos de exercício físico e atividade
física, visto que estes freqüentemente são considerados como sinônimos, quando
tecnicamente não o são. A atividade física refere-se a qualquer movimento
corporal que resulte em consumo de energias produzido pelos músculos
esqueléticos, já o exercício físico envolve movimentos corporais planejados,
estruturados e repetitivos realizados com a finalidade de melhorar ou manter
componentes da boa forma física (VEIGAS; GONÇALES, 2009).
São diversos e variados os tipos de exercícios físicos existentes. O
exercício pode ser praticado em grupos ou individualmente, pode ter a finalidade
de um desporto competitivo, ou ser praticado apenas como uma atividade de
lazer; pode ser aeróbico, anaeróbico; crônico ou agudo (CASPERSEN; POWEL;
CHRISTENSON, 1985 apud RIBEIRO, 1998)
Compreende-se por exercício aeróbico aquele que é produzido com baixa
intensidade em um longo espaço de tempo. Já o anaeróbico refere-se ao exercício
físico produzido com muita intensidade em um período breve período de tempo
(VEIGAS; GONÇALES, 2009).
2.2 Exercícios Físicos e Aspectos Psicobiológicos:
De acordo com Veigas e Gonçalves (2009), a busca pelo aumento da
qualidade de vida tem sido enfatizada nas sociedades contemporâneas, estando
esta qualidade relacionada com a alimentação, situação sócio-econômica, meio
ambiente e, não por último, com a prática regular de exercícios físicos.
Ainda de acordo com os mesmos autores, a prática de exercícios físicos
acarreta um impacto positivo na redução dos riscos de doenças cardiovasculares,
obesidade, diabetes, hipertensão arterial e obtenção de benefícios psicológicos
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como o controle dos níveis de ansiedade e estresse, bem como a redução dos
sintomas depressivos.
Diversos estudos apontam diferenças significativas entre sujeitos
praticantes de exercício físico e indivíduos sedentários, sendo que os sujeitos
fisicamente ativos apresentam níveis mais baixos de depressão, hostilidade e
ansiedade, enquanto a falta de exercícios físicos regulares revela-se um fator
importante para o aparecimento de depressão e ansiedade (VEIGAS;
GONÇALES, 2009).
Os estudos acerca da relação entre exercícios físicos e os aspectos
psicobiológicos começaram a ser descritos na literatura apenas a partir da década
de 70, tendo como modelo o exercício aeróbico e suas repercussões sobre humor
e ansiedade (MELLO et al., 2005).
A prática regular de exercícios físicos traz resultados positivos para o sono
e seus possíveis distúrbios, bem como para os aspectos psicobiológicos e
transtornos de humor, como a ansiedade e a depressão, e também para aspectos
cognitivos, como memória e aprendizagem (MELLO et al.; 2005).
O exercício físico pode ser considerado uma intervenção não
medicamentosa, para o tratamento de distúrbios psicobiológicos, visto que sua
prática acarreta em alterações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas (MELLO et
al.; 2005).
A relação entre exercícios físicos e seus efeitos ansiolíticos e
principalmente anti-estressantes é largamente conhecida. Porém há carência no
exame destas evidências para que o exercício físico possa de fato ser utilizado na
prevenção e no tratamento dos distúrbios de ansiedade e estresse (TAYLOR,
2000).
A presente revisão tem por objetivo, abordar os benefícios da prática
regular de exercícios físicos para os sintomas de ansiedade, depressão e
estresse, visto que esta atividade pode produzir efeitos ansiolíticos,
antidepressivos e proteger a saúde física e mental (ARAÚJO; MELLO; LEITE,
2005).
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2.3. Exercícios físicos e a Ansiedade
A ansiedade pode, atualmente, ser definida e conceituada tanto como um
sintoma, quanto como uma patologia, que envolve aspectos multifatoriais de
caráter somático ou cognitivo. Manifestações de ansiedade normalmente ocorrem
em situações que denotem algum perigo eminente originado por alguma situação
ameaçadora em específico, ou, simplesmente por alterações no meio ambiente,
relacionadas ao processo de desenvolvimento econômico, social e cultural
(ARAÚJO et al; 2005).
De acordo com Dalgalarrondo (2000, p. 107) a ansiedade
caracteriza-se:
[...] como estado de humor desconfortável, uma apreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação interna desagradável. A ansiedade inclui manifestações somáticas e fisiológicas (dispnéia, taquicardia, vaso constrição ou dilatação, tensão muscular, parestesias, tremores, sudorese, tontura, etc.) e manifestações psíquicas (inquietação interna, apreensão, desconforto mental, etc.).
Ao conceituar a ansiedade, faz-se necessário a diferenciação entre a
Ansiedade-Estado e a Ansiedade-Traço. A primeira refere-se a um estado de
humor variável, caracterizado por sentimentos subjetivos de apreensão e tensão,
conscientemente percebidos. A segunda refere-se à parte da personalidade do
indivíduo, sendo deste modo, uma tendência ou disposição comportamental
adquirida que influencia o comportamento, fazendo com que o indivíduo perceba
circunstâncias normais como ameaçadoras, quando de fato não há nenhum perigo
físico ou psicológico objetivo (WEINBERG e GOULD, 2008).
Os estudos realizados por Lion (1978 apud ARAÚJO et al., 2005),
investigaram os efeitos da corrida sobre os sintomas de ansiedade, comparando
três pacientes crônicos com um grupo controle que recebeu a mesma atenção,
porém sem o programa de corrida. Este consistia em corridas intercaladas com
caminhadas três vezes por semana, durante dois meses. Os resultados indicaram
que os indivíduos do grupo de corrida apresentavam valores significativamente
menores que o grupo controle em relação à ansiedade-traço, avaliada pelo
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inventário de Ansiedade Traço-Estado. Lion (1978 apud ARAÚJO et al., 2005),
sugeriu que a corrida, seguida de períodos de relaxamento, reduz a ansiedade e
diminui os níveis de tensão cognitiva e somática.
Os experimentos de Morgan (1973 apud MELLO et al, 2005) demonstraram
uma redução nos escores de ansiedade. Morgan (1973) determinou os estados
de ansiedade pelos escores do inventário do Estado-Traço de Ansiedade (STAI)
antes e após o exercício. Ele observou que, quando 15 homens adultos corriam
por quinze minutos, a ansiedade diminuía abaixo da linha basal imediatamente
após a corrida e permanecia diminuída por vinte minutos.
Os estudos de O´Connor (1995 apud MELLO et al, 2005) demonstraram
que o nível de ansiedade que um indivíduo possuía antes de começar um
programa de exercício físico, bem como o tempo de recuperação após esse
exercício, interferiam nas respostas de ansiedade ao exercício máximo, visto que
nos primeiros 5 minutos após a prática do exercício, o nível de ansiedade
encontrava-se elevado, só diminuindo de 10 à 15 minutos depois que o exercício
foi realizado.
Araújo, Mello e Leite, 2007 citam os estudos de Manger e Motta (2005) no
qual indivíduos que sofriam de estresse pós-traumático apresentaram redução
significativa dos sintomas de ansiedade após doze sessões de exercícios físicos
aeróbicos.
Servan-Schreiber (2004) cita os estudos de DiLorenzo e Bargman (1995),
sobre os benefícios da prática de exercícios com o uso de uma bicicleta
estacionária para a ansiedade, concluindo que a maioria dos participantes se
sentiam mais cheios de energia e também mais relaxados depois de pedalar em
bicicletas estacionárias, e que os benefícios ainda eram evidentes depois de um
ano.
Brown, Morgan e Raglin (1993 ARAÚJO et al.; 2005), estudaram
componentes fisiológicos, utilizando cicloergometria, para avaliar os efeitos da
atividade física nos níveis de ansiedade e pressão arterial em indivíduos
normotensos e hipertensos, concluindo que os exercícios físicos aeróbicos
produziam redução da ansiedade.
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Calfas e Taylor (1994) revisaram 11 trabalhos que relacionavam a prática
regular de exercícios físicos com os sintomas de ansiedade. Os estudos
revisados foram todos realizados com pessoas jovens e o efeito redutor
encontrado na redução dos sintomas de ansiedade foi mínimo. Dos 11 estudos
revisados, apenas quatro contavam com um grupo controle.
Long e Van Stavel (1995) revisaram 40 pesquisas nesta mesma temática.
Dos 40 estudos revisados, todos realizados com adultos saudáveis (acima de 18
anos de idade), o efeito do exercício físico em reduzir a ansiedade foi moderado
nos grupos que praticavam exercício aeróbico, e um pouco menor nos grupos que
praticavam exercícios não aeróbicos.
Mc Donald and Hodgon (1991), por sua vez, revisaram 22 estudos que
demonstraram efeitos redutores de ansiedade quando o exercício físico realizado
era aeróbico. Os efeitos redutores de ansiedade foram aparentes apenas em
participantes do sexo masculino, jovens e de meia idade.
Petruzzelo, Landers, Hatfield, Kubitz e Salazar (1991), realizaram uma
meta-análise sobre os efeitos redutores de ansiedade decorrentes da prática de
exercício físico intenso e crônico. Nesta análise mais de 100 estudos foram
abarcados, entre os principais resultados encontrados, destaca-se a associação
da prática de exercício físico com a redução dos sintomas de ansiedade, quando o
exercício é aeróbico, resultados estes independentes de idade e condições de
saúde de seus participantes. Quanto ao estado de ansiedade, o exercício está
associado com a redução dos sintomas, mas o resultado encontrado assemelha-
se com o de terapias similares, como por exemplo, o relaxamento. Outro fator
observado nesta revisão refere-se à necessidade dos programas de treinamento
terem duração superior a 10 semanas, e as sessões de exercício durarem no
mínimo 21 minutos, para que ocorra a ativação a redução nos estados de
ansiedade e na ansiedade traço, ou seja, para que haja mudanças significativas
na ansiedade.
Wipfli, Rethorst e Landers (2009), revisaram 49 estudos. Nestes
observaram que os indivíduos que participaram de grupos praticantes de
exercícios físicos apresentaram maior redução nos níveis de ansiedade, do que os
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indivíduos que compunham grupos controle. Grupos que foram submetidos a um
programa de exercícios físicos também demonstraram maior redução dos
sintomas de ansiedade, do que aqueles que receberam outras formas de
tratamento para ansiedade.
Em todos estes estudos não há referência às causas da não aderência ao
tratamento, apesar de citarem que a amostra inicial (em alguns deles) era maior
do que a que finalizou.
2.4 Exercícios Físicos e a Depressão:
Segundo a Organização Mundial da Saúde, neste início do século XXI a
depressão representa a quarta maior causa de perda de anos de vida sadios.
Além disso, é classificada como sendo o transtorno doença que mais incapacita o
ser humano, e gera um risco de vida por suicídio de até 15% (ZUNKEL, 2003 apud
BALLONE, 2006).
Através da Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), a depressão,
em seus episódios típicos, implica em um humor deprimido, perda de interesse e
prazer nas atividades, energia diminuída e processos de culpa ou negativismo.
De acordo com Mutrie (2000); Coyle e Santiago (1995 apud VIEIRA;
ROCHA; PORCU, 2008) e Goodwin (2003 apud VIEIRA; ROCHA E PORCU,
2008), revisões epistemológicas sobre a relação entre exercícios físicos e
sintomas de depressão, indicam que a depressão está intimamente ligada com a
inatividade física, sendo que os indivíduos que mantém um vida fisicamente ativa
são menos propensos a desenvolver depressão.
Farmer; Locke; Moscicki; Dannenberg; Larson e Radloff (1988 apud
MUTRIE, 2000), demonstraram através de seus estudos ao longo de oito anos,
que mulheres que realizavam pouco ou nenhum exercício físico eram duas vezes
mais propensas a desenvolver depressão do que aquelas que praticavam
exercícios físicos regularmente. A mesma associação foi realizada com homens,
porém sem resultados significativos. Os estudos realizados por Camacho,
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Roberts, Cazarus, Kaplan & Cohen (1991, apud MUTRIE, 2000) também
apontaram relação entre inatividade física e a incidência de depressão.
A depressão está sempre associada a pensamentos obscuros e
pessimistas (SERVAN-SCHREIBER, 2004). O esforço físico põe fim, pelo menos
por um tempo, à torrente de pensamentos depressivos, os quais raramente
surgem de modo espontâneo durante o exercício. A maioria das pessoas que
pratica jogging, ou corre, afirma que depois de quinze ou vinte minutos de esforço
contínuo atinge um estado no qual seus pensamentos são espontaneamente
positivos e até mesmo criativos. Essa observação pode ser explicada através da
hipótese da distração, que sugere que o desvio (promovido pelos exercícios) de
estímulos não prazerosos ou de queixas somáticas dolorosas leva à melhora do
afeto e do bem-estar (MORETTI; CARO, 2006).
Lopes (2001 apud MELLO et al.; 2005) observou os efeitos de oito
semanas de exercícios físicos aeróbicos nos níveis de serotonina e depressão
entre mulheres de 50 e 72 anos. Os resultados indicaram que houve redução do
percentual de gordura, alteração nos níveis plasmáticos de serotonina, sugerindo
que essa relação entre exercício físico e a mobilização de gordura proporciona às
mulheres uma melhora nos estados de humor.
Vieira, Rocha e Porcu (2008), realizaram um ensaio clínico analisando a
influencia do exercício físico (Hidroginástica, três vezes por semana), na
depressão clínica em 18 mulheres com idade média de 43,33 anos, todas com
diagnóstico de depressão moderada. Dentre os principais resultados observados
por este estudo destaca-se a significativa redução dos níveis de depressão. Não
houve a redução do quadro patológico da doença para a normalidade, mas
observou-se a melhora de outros fatores de humor subjacentes aos sintomas da
doença, entre eles, a redução da tensão, raiva, fadiga e confusão, bem como o
aumento do vigor.
As repostas encontradas nas pesquisas que relacionam a redução dos
sintomas depressivos em decorrência da prática regular de exercícios físicos,
parecem ser influenciadas pelo tipo e intensidade do exercício praticado. Viera et
al., (2008) citam os apontamentos realizados por Landers (1999) e Martinsen; Lorr
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e Dopplerman (1989) em que o exercício de predominância aeróbica e de
intensidade moderada são apontados como os mais eficazes na redução dos
níveis de depressão devido as respostas psicofisiológicas agudas e crônicas.
Nos estudos de Cooper (1982, apud BALLONE, 2006), o exercício físico,
em particular o chamado aeróbico, realizado com intensidade moderada e longa
duração (a partir de 30 minutos), propicia alívio do estresse ou tensão, devido ao
aumento da taxa de um conjunto de hormônios denominados endorfinas. Essas
endorfinas são substâncias elaboradas pelo próprio Sistema Nervoso Central e
agem aliviando o impacto estressor do ambiente. Por causa disso as endorfinas
podem prevenir ou reduzir transtornos depressivos, conforme se comprova por
vários estudos (BALLONE, 2006).
Neste sentido Cheik; Reis; Heredia; Ventura; Tufik; Antunes e Mello (2003)
verificaram em seus estudos que os níveis de depressão e ansiedade reduziram
significativamente após intervenção com exercícios físicos moderados. Em um
estudo realizado com adolescentes obesas, conduzido por Stella; Vilar; Lacroix;
Fisbreg; Santos; Mello e Tuffik (2005) observou-se que o grupo que fora
submetido aos exercícios aeróbicos com intensidade moderada apresentaram
melhoras nos níveis de depressão em relação ao grupos que foram tratados com
atividades físicas de lazer e de musculação, demonstrando deste modo, que para
haver redução dos níveis de depressão, faz-se necessário a aplicação de um
programa sistematizado e organizado de exercícios físicos.
Veigas et al., (2008) inferem que os efeitos de uma única sessão de
exercícios físicos sobre o humor, manifestos através das sensações de
relaxamento e bem estar percebidas pelo cérebro, são sentidas por pelo menos
duas horas após a pratica do exercício. Estas sensações são decorrentes da ação
da -endorfina e dopamina liberadas na corrente sanguínea logo após o termino
da sessão de exercícios.
Um estudo realizado por Antunes; Stella; Santos; Bueno e Mello (2005),
analisou o efeito de um programa de exercícios fiscos com bicicleta ergométrica
sobre os escores de depressão, ansiedade e qualidade de vida em idosos
sedentários. Neste estudo 46 voluntários sedentários com idade entre 60 e 75
18
anos, foram distribuídos aleatoriamente em grupo controle e experimental. Os
voluntários que compuseram o grupo experimental foram submetidos a um
programa de exercício com bicicleta ergométrica três vezes por semana. Após
seis meses o grupo experimental obteve redução significativa dos escores de
depressão e ansiedade, bem como o aumento da qualidade de vida, enquanto no
grupo controle não foram encontradas alterações significativas neste escores,
demonstrando assim que um programa de exercícios físicos aeróbicos regulares
pode promover modificações favoráveis nos escores indicativos de depressão e
ansiedade e melhorar a qualidade de vida de idosos.
Resultados têm demonstrado que o exercício aeróbico melhora a aptidão e
diminui os sintomas depressivos, principalmente se são aplicados programas
prolongados e regulares, como por exemplo, durante 12 semanas. Esta melhora
pode ser resultado tanto de mecanismos fisiológicos, quanto comportamentais
associados com exercício aeróbico (BALLONE, 2006).
Weinberg e Gould (2008) citam os estudos de Griest, Klein, Eischens e
Faris (1978) realizados com indivíduos sedentários distribuídos aleatoriamente em
grupo de corrida e em grupo de psicoterapia. Os indivíduos que compuseram o
grupo de corrida se encontravam com um treinador três vezes por semana e
realizavam sessões de corrida de 45 minutos. Já os sujeitos do grupo de
psicoterapia, realizaram um sessão por semana com um psicoterapeuta. Após 10
semanas os indivíduos que compuseram o grupo de corrida apresentaram
diminuição significativa nos escores de depressão, comparáveis aos melhores
resultados decorrentes das sessões de psicoterapia.
Ainda de acordo com os mesmos autores (2008), faz-se necessário
pontuar que as relações entre exercícios físicos e depressão, apontadas na
literatura são correlacionais, o que significa que o exercício está relacionado com
a redução dos sintomas depressivos, mas não é a causa das alterações na
depressão.
De modo geral, as revisões mais consistentes nesta temática encontradas
na literatura, apontam que os efeitos positivos do exercício são percebidos em
todas as faixas etárias, condições de saúde, raças, situações socioeconômicas e
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gêneros. O exercício físico regular é apontado como tão efetivo quanto a
psicoterapia na redução dos sintomas depressivos. Quanto à duração do
programa de treinamento, os maiores efeitos antidepressivos ocorrem quando o
treinamento tem no mínimo 9 semanas de duração, sendo que tanto os exercícios
aeróbicos quanto os anaeróbicos estão associados com a redução da depressão
(WEINBERG e GOULD, 2008).
2.5. Exercícios Físicos e o Estresse:
O estresse crônico envolve sensações de pressão, de perda do controle,
da experiência de vivenciar uma situação sem solução aparente, bem como
sintomas fisiológicos como: dor ou desconforto no peito, agitação, insônia, fadiga,
dispepsia, dor de cabeça, queixas gastrointestinais, diminuição do apetite,
aumento da pressão arterial, tensão muscular, dor nos músculos e articulações e
disfunções sexuais. Isso tudo devido a presença de uma sobrecarga ou ameaça,
que desencadeiam tais reações a fim de provocar uma resposta de fuga ou luta
(ZIMPEL, 2005).
De acordo com McGrafth (1970, apud Weinberg e Gould (2008), o estresse
ocorre:
[...] quando há um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e psicológicas impostas a um indivíduo e sua capacidade de resposta, em condições nas quais a falha em satisfazer tais demandas tem conseqüências importantes (p.100).
Ainda de acordo de acordo com este autor, o estresse consiste em quatro
etapas inter-relacionadas, sendo elas: 1- a demanda ambiental; 2-a percepção da
demanda; 3- a resposta ao estresse e 4- as conseqüências comportamentais. Na
primeira etapa do processo de estresse, estabelece-se algum tipo de demanda ao
indivíduo, podendo ser esta tanto física, quanto psicológica. A segunda etapa
refere-se ao modo como o indivíduo perceberá a demanda física ou psicológica,
se ele a considerará ameaçadora ou não. A terceira refere-se ao tipo de resposta
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física ou psicológica que do indivíduo frente ao evento estressor. A última etapa
refere-se ao comportamento real do indivíduo sob estresse.
Segundo Zimpel (2005), o modo de vida da sociedade contemporânea
marcada pela impaciência e pela pressão de realizar as tarefas com mais eficácia
em um tempo cada vez menor, contribui em muito para o aumento significativo de
pessoas cada vez mais estressadas. Diante do postulado acima, estudos indicam
que o exercício físico é um grande aliado na redução do estresse.
De acordo com Sacks (1997) a atividade física regular pode não apenas
contribuir para a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, como pode
eliminar os efeitos do estresse.
Estudos realizados por Holmes e Roth,1985; Light, Obrist, James e
Strogatz, 1987, apud Salmon (2001) indicam que indivíduos que praticam
exercício físico regularmente quando expostos a estímulos estressores
apresentam respostas cardíacas mais baixas e pressão arterial também mais
baixas do que indivíduos sedentários expostos aos mesmos estímulos
estressores, confirmando assim que a prática regular de exercícios físicos está
relacionada com a redução da vulnerabilidade ao estresse.
Os estudos de Brooke e Long (1987), apud Salmon (2001), demonstraram
que em sujeitos praticantes de atividade física regular, expostos a situações
estressantes do dia-a-dia, os níveis de noradrenalina se recuperam mais rápido
bem como os sintomas de ansiedade, em comparação com sujeitos não
praticantes de atividade física.
Enquanto a psicoterapia pode ajudar a aliviar os efeitos estressores que já
aconteceram, a prática regular de atividade física pode reduzir a vulnerabilidade
aos eventos estressores que ainda ocorrerão (Salmon, 2001).
De acordo com Veigas e Gonçalves (2009) em relação ao estresse, o
exercício físico age facilitando a adaptação a situações geradoras de estresse,
sendo deste modo considerado um estratégia de coping, ou seja, uma estratégia
para controlar, reduzir ou tolerar exigências internas ou externas estressantes
impostas a um indivíduo.
21
Os mesmos autores (2009), pontuam que os estudos que relacionam a
pratica de exercícios fiscos com a menor vulnerabilidade ao estresse, não
apontam diferenças significativas nas variáveis sexo, idade, local de residência,
estado civil e situação socioeconômica.
Estudos sugerem que o efeito redutor do exercício nos sintomas de
estresse não ocorre somente pelos benefícios cardiovasculares que o mesmo
proporciona, mas que ele é capaz de ajudar a saúde física como um todo. No
início os estudos que apontavam como resultado a redução dos sintomas de
estresse se concentravam na corrida como forma de provocar esses benefícios.
Quanto a isso, Sacks (1997) pontua que qualquer atividade física, seja ela
aeróbica ou anaeróbica, pode fazer com que seus participantes se sintam mais
relaxados e concentrados desde que a atividade seja adequada às habilidades
físicas, bem como prazerosa para o indivíduo.
2.6. Aderência e Não Aderência ao Exercício físico
Os benefícios decorrentes da prática do exercício físico, sobre os sintomas
de ansiedade, depressão, vulnerabilidade ao estresse, estados de humor e
cognição, assim como os benefícios físicos no controle do peso corporal, na
mobilidade de articular-se, na redução de lipídeos, na resistência física, na força
muscular, na pressão arterial, entre outros, são amplamente conhecidos pela
população em geral. Muitas pessoas em busca desses benefícios, e do desejo de
preservar, ou resgatar a juventude exercitam-se (SABA, 2001). Mas de acordo
com Weinberg e Gould (2008), de fato, poucas são as pessoas que participam
regularmente de exercícios físicos.
Estudos estatísticos realizados nos EUA indicam que 50% das pessoas que
iniciam um programa de exercícios físicos, desistem após 6 meses de
treinamento, mesmo tendo experimentado os benefícios psicológicos e fisiológicos
do exercício físico, entre eles a redução da tensão e da depressão, o aumento da
22
auto-estima e a diminuição no risco de doenças cardíacas (WEINBERG; GOULD,
2008).
Neste sentido, a aderência, quando relacionada à prática de exercício
físico, pode ser conceituada como o comprometimento dos praticantes de
exercícios físicos com uma rotina programada de treinamento (SABA, 2001). Este
autor ainda pontua:
A aderência do praticante ao exercício físico descreve nesse sentido, a concepção de um plano estruturado de prática de atividades e exercícios físicos durante toda a vida. O grande desafio que se impõe para o desenvolvimento do nível atual da prática de exercício físico é fazê-lo parte constante do cotidiano da pessoa (p.62).
De acordo com Weinberg e Gould (2008), antes de comentar sobre os
porquês da não aderência ao exercício físico, faz-se necessário falar sobre os
motivos que levam a busca pelo exercício. Dentre os principais motivos elencados
por estes autores, encontram-se: o controle do peso; a redução do risco de
doenças cardiovasculares, a redução dos sintomas de estresse e de depressão, a
satisfação gerada pelo exercício, a elevação da auto-estima, a oportunidade de
socialização, etc. Saba (2008) destaca que um dos fatores elementares para a
manutenção de uma rotina de exercícios físicos, rumo a aderência, refere-se ao
prazer que a modalidade de exercício é capaz de proporcionar ou indivíduo
praticante. Outro elemento importante é a sensação de satisfação decorrente dos
ganhos no bem-estar físico e psicológico, que tornam o indivíduo mais seguro em
expor-se em ambientes públicos, como academias de ginástica.
Saba (2001) pontua fatores determinantes para aderência a prática de
exercício físico. Entre os principais fatores determinantes encontram-se fatores
pessoais como: histórico pessoal do indivíduo com o exercício, a ocupação, fumo,
obesidade, nível educacional, idade dos participantes, grau de apreciação, auto
motivação e auto eficácia; Fatores ambientais como: apoio do companheiro,
facilidade de acesso ao local, reforço social e percepção. O último fator apontado
por este autor como relevante para a aderência, refere-se as característica do
exercício físico praticado, ou seja, a percepção da intensidade do exercício
23
realizado, e características do corpo técnico, principalmente no que se refere a
conscientização dos participantes quanto as razões de ser fisicamente ativo.
Dentre os motivos mais freqüentes utilizados para justificar a não aderência
ao exercício físico encontram-se: a falta de tempo; a falta de energia, que
freqüentemente é mais mental do que física e a falta de motivação. Outras razões
atribuídas para justificar a não aderência referem-se: ao fato das prescrições de
atividade física serem baseadas em dados de condicionamento, não considerando
o preparo psicológico dos indivíduos para exercitar-se; ao fato da maioria das
prescrições serem restritivas, não contribuindo para o aumento da motivação para
o exercício regular, e prescrições baseadas em princípios de intensidade, duração
e freqüência, o que pode ser desafiador demais para pessoas que iniciam a
prática de exercício físico (WEINBERG; GOULD, 2008).
Saba (2001) e Souza (2009), ao estudarem os motivos de aderência e não
aderência em academias de ginástica destacam o desejo e a busca desenfreada
por um corpo perfeito dentro dos padrões estéticos atuais, como um dos fatores
relacionados com a não aderência e a alta rotatividade nas academias. Isso
porque, de modo geral, o marketing das academias está focado para o alcance do
corpo perfeito em espaço curto de tempo, e não para o desenvolvimento de um
estilo saudável de vida, para toda a vida.
24
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 Participantes da pesquisa
A amostra foi composta por sete sujeitos, sendo quatro do sexo masculino
e três do sexo feminino, com idade entre 13 e 27 anos, sedentários e residentes
no município de Balneário Camboriú, inscritos em uma academia localizada nesta
mesma cidade e que se voluntariaram a participar da pesquisa. Para participação
na pesquisa o indivíduo deveria estar sem realizar exercícios físicos regulares
(menos de 2 vezes por semana) por um período mínimo de 6 meses, não poderia
apresentar problemas cardiovasculares e não fazer uso de medicação
psicotrópica. Quanto à freqüência na academia considerou-se como aderente o
indivíduo que alcançou pelo menos 75% de freqüência durante o período de
coleta de dados.
3.2 Instrumento
Para a coleta de dados foram utilizados três instrumentos na forma de auto-
relatório: o Inventário de Depressão Beck (BDI), o Inventário de Ansiedade Beck
(BAI) e o Inventário de Sintomas de Estresse. O Inventário de Beck para
Depressão (BDI) constitui uma forma objetiva para medir as manifestações
comportamentais da depressão. É composto por 21 questões, cada qual com
quatro alternativas com valores atribuídos de 0 a 3 e o escore deste questionário é
dado pela somatória do total de alternativas. Os itens referem-se à tristeza,
pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa,
sensação de punição, autodepreciação, auto-acusações, idéias suicidas, crises de
choro, irritabilidade, retração social, indecisão, distorção da imagem corporal,
inibição para o trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de
peso, preocupação somática, diminuição de libido (CUNHA, 2001). Inventário
Beck de Ansiedade (BAI) foi proposto por Beck para medir os sintomas comuns de
ansiedade, o inventário consta de uma lista de 21 sintomas com quatro
alternativas cada um, em ordem crescente do nível de ansiedade (CUNHA, 2001).
25
O Inventário de Sintomas de Estresse trata-se de um questionário no formato
auto-relatório onde são listados 30 sintomas físicos e psicológicos que estão
associados a reação de stress. Esta escala foi elaborada por Peixoto (2004) para
“investigar os sintomas de estresse mais freqüentes e de maior intensidade
apresentado pelos docentes” (p. 32), sujeitos na pesquisa desta autora. Ao lado
de cada sintoma o respondente deve marcar a freqüência com que cada um deles
se apresenta no indivíduo. Esta freqüência varia em uma escala ordinal de cinco
intervalos: “0” (nunca), “1” (raramente), “2” (às vezes), “3” (muitas vezes), e “4”
(sempre).
3.3 Coleta dos Dados
Para a coleta de dados, entrou-se em contato com academias da região,
explicando o projeto de pesquisa, tendo aceitado apenas uma delas na localidade
de Balneário Camboriú. Em parceria com a secretaria da academia, foi realizado o
levantamento dos alunos novos inscritos na academia. Através da avaliação física
realizada pela academia, foi possível detectar os alunos novos que estavam no
mínimo seis meses sem praticar regularmente exercícios físicos. Dos alunos
novos levantados sete se encontravam no perfil necessário para a pesquisa, ou
seja, estavam sem praticar exercício físico por pelos menos seis meses, não
faziam uso de medicamentos psicotrópicos e não apresentavam problemas
cardiovasculares, ou qualquer outra restrição para a prática de exercício físico,
sendo estes atestados por exame médico como pré-requisito para o ingresso
nesta academia.
Os inventários foram aplicados nos sete participantes antes do início do
programa de exercício físico, um mês após o início e dois meses após o início do
programa. Em cada re-teste, os participantes responderam um formulário de
freqüência do mês (apêndice 3) e no último re-teste responderam um
questionário sobre os motivos da aderência conforme apêndice 1. Para os
participantes que durante o período de dois meses vieram a desistir do programa
de exercícios físicos, foi aplicado um questionário de desligamento, no qual foram
investigados os fatores ligados à desistência (apêndice 2). Considerou-se como
26
aderente o indivíduo que obteve no mínimo 75% de freqüência durante os dois
meses.
3.4 Análise dos Dados
Devido ao pequeno número da amostra, os dados foram submetidos a uma
análise descritiva, comparando individualmente os escores obtidos nos três testes
por cada participante no início do programa, um mês após o início e dois meses
após o início, a fim de averiguar se houve ou não melhora nos sintomas de
ansiedade, depressão e estresse nos participantes da pesquisa
Os dados sobre a aderência e abandono do treinamento também foram
computados e analisados a partir da freqüência dos motivos relatados,
comparando-os com os apontados pela literatura.
27
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os dados do estudo foram analisados de acordo com os sintomas
levantados pelos instrumentos utilizados: BDI, BAI e Sintomas de Estresse (SE).
Deste modo, dado o pequeno número de participantes optou-se pela análise
individual comparando os escores obtidos nos três testes por cada participante no
início do programa, um mês após o início e dois meses após o início.
Os resultados seguem a seguinte ordem de apresentação: 1) dados gerais
da amostra e dos exercícios realizados, 2) sintomas de depressão, 3) sintomas de
ansiedade, 4) sintomas de estresse, 5) Dados de Aderência e 6) Dados de não
Aderência.
O gênero e idade dos participantes segue conforme tabela 1.
Tabela 1: Dados demográficos dos participantes do estudo.
Participantes Faixa etária Sexo
P1 17 anos Masculino
P2 13 anos Masculino
P3 25 anos Masculino
P4 20 anos Feminino
P5 25 anos Feminino
P6 21 anos Feminino
P7 27 anos Masculino
A média de idade dos participantes foi de 21,14 anos, sendo que apenas
dois participantes tinham idade abaixo de 20 anos de idade (P1 e P2). A amostra
foi composta por um número quase igual de sujeitos do sexo masculino e feminino
(4 e 3 respectivamente).
A freqüência e tipo de exercício praticado pelos participantes durante os
dois meses foram monitorados através do preenchimento do questionário de
freqüência conforme apêndice 3.
28
A freqüência obtida pelos participantes no primeiro mês de exercícios
físicos variou entre três vezes por semana (P1; P2; P3; P4 e P7) e mais de quatro
vezes por semana (P5 e P6) conforme o demonstrado na tabela 2.
Quanto ao tipo de exercício praticado, observa-se que predominantemente
os participantes realizaram exercícios anaeróbicos (P1; P2; P4; P6 e P7). O
participante P3 praticou apenas exercícios aeróbicos, e os participantes P4; P5 e
P6 praticaram ambas as modalidades de exercício, também conforme a tabela 2.
De acordo com Barros Neto (2009) a atividade aeróbica refere-se ao
exercício contínuo, dinâmico e, na maioria das vezes, prolongado que estimula a
função dos sistemas cardiorrespiratório e vascular e o metabolismo, porque
aumenta a capacidade cardíaca e pulmonar para suprir os músculos com energia,
consumindo, desta forma, oxigênio. De acordo com esse autor exercícios como
caminhar, andar, pedalar, nadar, dançar ou qualquer atividade que obrigue a
pessoa a sustentar seu peso corporal enquanto se movimenta são exercícios
aeróbicos. Já a atividade anaeróbica refere-se basicamente ao um exercício de
alta intensidade e curta duração que contempla fundamentalmente os músculos,
utilizando uma forma de energia que independe do uso de oxigênio e que não
obrigatoriamente está associado com o movimento. Deste modo, exercícios como
musculação, corrida de cem metros rasos, saltos, arremesso de peso, são
exemplos de atividades anaeróbicas.
A freqüência obtida pelos participantes no segundo mês de exercícios
físicos variou entre três vezes por semana (P1; P2; P5 e P6). Em comparação
com o primeiro mês, observa-se que os participantes P5 e P6 reduziram sua
freqüência semanal de quatro para três vezes por semana, e o participante P3
reduziu de 3 para 2 vezes na semana. Os participantes P1, P2 mantiveram a
mesma freqüência do primeiro mês. A freqüência dos participantes P4 e P7 não
consta na tabela, pois os mesmos realizaram apenas um mês (cinco semanas) de
academia e segundo seus próprios relatos não estão mais praticando qualquer
outra modalidade de exercício físico regular. Os dados de aderência e não
aderência destes participantes serão descritos e analisados nos itens 4.5 Dados
de Aderência e 4.6 Dados de não Aderência, do presente capítulo.
29
A modalidade de exercício físico praticado pelos participantes no segundo
mês permaneceu igual ao do primeiro mês conforme as tabela 2.
Tabela 2: Freqüência de exercício físico e modalidade praticada realizadas pelos participantes durante os dois meses de duração do estudo.
Participantes Freqüência
Semanal
Modalidade de exercício praticado
Mês 1 Mês 2 Mês 1 Mês 2
P1 3X 3x Esteira (15 min) e
Musculação (60
min)
Esteira (15 min) e
Musculação (60
min)
P2 3X 3x Esteira (15 min) e
Musculação (60
min)
Esteira (15 min) e
Musculação (60
min)
P3 3X 2x Caminhadas
intercaladas com
corrida (50 min)
Caminhadas
intercaladas com
corrida (50 min)
P4 3x - Musculação (50
min) e Bike indoor
(50 min)
-
P5 Mais de
4x
3x Caminhadas
intercaladas com
corrida (30 min) e
musculação (60
min)
Caminhadas
intercaladas com
corrida (30 min) e
musculação (60
min)
P6 Mais de
4 x
3x Caminhadas
intercaladas com
corrida (30 min)
Caminhadas
intercaladas com
corrida (30 min)
P7 3 x - Esteira (15 min)
musculação (60
min)
-
30
A freqüência e duração das sessões de exercício físico obtida pelos
participantes nas nove semanas da coleta,foi entre três a quatro vezes por
semana com duração variando entre 50min e 90 min. De acordo com Saba (2001)
a entidade científica norte-americana American College of Sports Medicine,
recomenda que o exercício físico praticado de modo seguro seja realizado de três
a cinco vezes por semana, com duração entre 20 a 60 minutos em atividades
aeróbicas. Ainda sobre a freqüência, Servan-schreiber (2004) pontua que
diversas pesquisas indicam que a quantidade mínima para se obter ganhos da
prática de exercício é de vinte minutos, três vezes por semana.
Quanto ao tipo de exercício físico praticado pelos participantes, observa-se
o predomínio da musculação. Saba (2001) afirma que a musculação é uma das
atividades mais importantes e prediletas dos freqüentadores de academias. O
mesmo autor pontua que ao analisarmos as atividades preferidas por sexo,
constamos que o sexo masculino prefere atividades como musculação, lutas e
esportes com bola, enquanto o feminino tende às atividades rítmicas como
hidroginástica, ginástica localizada. De acordo com Souza (2009) Esteira, Bike,
Musculação, Ginástica Localizada, Alongamento e Spinning, são modalidades
praticadas pela maioria dos freqüentadores de academia de ginástica.
4.1 O efeito dos exercícios sobre os sintomas de depressão
De modo geral, no primeiro mês de exercícios físicos foi possível observar
uma redução significativa nos sintomas depressivos em quatro participantes (P1,
P3, P5 e P6, a manutenção dos mesmos escores em dois participantes (P2 e P4),
e o aumento dos sintomas depressivos em um participante (P7), conforme pode
ser observado na figura 1.
31
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Escores BDI
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
Participantes
Sintomas Depressivos BDI I, II e III
Antes
1 mês
2 meses
Figura 1: Escores BDI no início do programa de exercícios físicos um mês após o início, e dois meses (9 semanas) após o início.
Comparando os escores obtidos antes do início do programa de exercícios
físicos e ao final dos dois meses (nove semanas) verificou-se a redução dos
escores de depressão nos participantes P1; P2; P3; P5 e P6, conforme o
demonstrado na figura 1. Os participantes P4 e P7 realizaram apenas um mês de
exercício físico regular, sendo que no momento da terceira aplicação do inventário
de Beck para depressão, estavam há um mês sem praticar nenhum exercício
físico. Na terceira aplicação observou-se o aumento dos escores de sintomas
depressivos, o que pode estar relacionado com o abandono da prática de
exercício.
Analisando os resultados obtidos na segunda aplicação (coluna vinho) dos
instrumentos, com os resultados obtidos na terceira aplicação (coluna amarela),
constata-se a diminuição dos escores de sintomas depressivos nos participantes
32
P1, P2 e P5, a manutenção dos mesmos escores no participante P6. Houve
aumento nos escores de sintomas depressivos na participante P4, que conforme
descrito no parágrafo acima realizou apenas um mês de exercícios físicos
regulares.
A redução dos sintomas depressivos e a relação com a prática de
exercícios físicos é apontada na literatura por diversos estudos. De acordo com
Veigas e Gonçalves (2009) sujeitos fisicamente ativos apresentam níveis mais
baixos de depressão, hostilidade e ansiedade, enquanto a falta de exercícios
físicos regulares revela-se um fator importante para o aparecimento de depressão
e ansiedade.
Segundo Mello et al. (2005), a prática regular de exercícios físicos traz
resultados positivos para o sono e seus possíveis distúrbios, bem como para os
aspectos psicobiológicos e transtornos afetivos, como a ansiedade e a depressão,
e também para aspectos cognitivos, como memória e aprendizagem.
Pesquisas realizadas por Vieira, Rocha e Porcu (2008) com mulheres
apresentando quadros depressivos de leve a moderado, obtiveram como
principais resultados a redução significativa dos sintomas de depressão,
observando-se a melhora de fatores subjacentes aos sintomas da doença, entre
eles, a redução da tensão, raiva, fadiga e confusão, bem como o aumento do
vigor.
As repostas encontradas nas pesquisas que relacionam a redução dos
sintomas depressivos em decorrência da prática regular de exercícios físicos,
parecem ser influenciadas pelo tipo e intensidade do exercício praticado. Viera et
al. (2008) citam os apontamentos realizados por Landers (1999) e Martinsen; Lorr
e Dopplerman (1989) nos quais o exercício de predominância aeróbica e de
intensidade moderada são apontados como os mais eficazes na redução dos
níveis de depressão devido as respostas psicofisiológicas agudas e crônicas.
Neste sentido o aumento dos sintomas depressivos observado no
participante P7 pode estar relacionado com o tipo e intensidade do exercício
praticado, visto que a redução dos sintomas depressivos conforme o apontado
33
pela literatura tende a ser maior quando o exercício praticado é superior a três
vezes por semana, e é de intensidade moderada.
De acordo com Weinberg e Gould (2008) a prática de exercício físico
produz maiores efeitos antidepressivos quando o programa de exercícios tem
duração mínima de nove semanas. Considerando que os participantes no
momento da segunda aplicação de testes, estavam com cinco semanas de prática
regular de exercícios físicos, a manutenção dos escores depressivos nos
participantes P2 e P4, pode estar relacionada com a curta duração do programa
de exercício físico. Contudo, na terceira aplicação verificou-se o efeito preconizado
por Weinberg e Gould (2008), pelo menos para o P2, já que a participante P4
havia abandonado o programa.
A literatura aponta que os benefícios sobre os sintomas depressivos
independem se a modalidade de exercício praticado for aeróbica, ou anaeróbica,
mas diversos autores como Cheik; Reis; Heredia; Ventura; Tufik; Antunes e Mello
(2003) Stella; Vilar; Lacroix; Fisbreg; Santos; Mello e Tuffik (2005) indicam que
maior redução dos sintomas depressivos ocorre quando o exercício realizado for
aeróbico e de intensidade moderada. Neste sentido Stella; Santos; Bueno e Mello
(2005), apontam que um programa de exercícios físicos aeróbicos regulares pode
promover modificações favoráveis nos escores indicativos de depressão e
ansiedade e melhorar a qualidade de vida de seus praticantes, conforme
observado nos participantes nos participantes P1, P2, P3, P5 e P6.
34
4.2 O efeito dos exercícios sobre os sintomas de ansiedade
Quanto aos sintomas de ansiedade, no primeiro mês, observou-se a
redução dos escores do BAI em quatro sujeitos (P1; P2; P3 e P6) e o aumento dos
escores em três sujeitos (P4; P5 e P7) conforme figura 2.
0
5
10
15
20
25
30
35
Escores BAI
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
Participantes
Sintomas de Ansiedade BAI- I,II e III
Antes
1 mês
2 meses
Figura 2: Escores BAI no início do programa de exercícios físicos, um mês após o início e dois meses (9 semanas) após o início.
Comparando os escores obtidos antes do início do programa de exercícios
físicos e ao final dos dois meses (nove semanas) verificou-se a redução dos
35
escores de ansiedade nos participantes P1; P2 e P6. Por outro lado houve
aumento dos escores nos participantes P3, P4 e P5. Os participantes P4 e P7
realizaram apenas um mês de exercício físico regular, sendo que no momento da
terceira aplicação do inventário de Beck para ansiedade, estavam há um mês sem
praticar nenhum exercício físico. Na terceira aplicação observou-se o aumento dos
escores de sintomas de ansiedade no participante P7, o que pode estar
relacionado com o abandono da prática de exercício. Houve redução dos
sintomas de ansiedade na participante P4, se os escores forem comparados com
os obtidos na segunda aplicação do inventário, mas considerando os escores
obtidos antes do início do programa de exercícios físicos com os obtidos ao final
das semanas, contata-se o aumento destes escores.
Revisões sobre os efeitos do exercício na promoção da saúde numa
perspectiva psicológica, concluíram haver evidências de que o exercício físico
está associado com a redução dos estado de ansiedade, principalmente quando
este é capaz de proporcionar a distração da atenção dos pensamentos que
provocam a ansiedade, ou que auxiliam na redefinição do significado subjetivo da
excitação. A associação entre a redução dos sintomas de ansiedade e prática
regular de exercícios físicos é amplamente contemplada em diversos estudos. De
acordo com revisões realizadas por Taylor (2001) os efeitos redutores nos
sintomas de ansiedade como decorrência da prática de exercícios físicos são de
baixo a moderado, e referem-se principalmente a redução da ansiedade traço. Os
efeitos redutores mais consistentes do exercício físico sobre a ansiedade são
encontrados na ansiedade traço. Estes efeitos redutores são encontrados tanto
em paciente clínicos como não-clínicos.
Outro fator apontado em diversas pesquisas refere-se à necessidade dos
programas de treinamento terem duração superior a 10 semanas, e as sessões de
exercício durarem no mínimo 21 minutos, para que ocorra a ativação da redução
nos estados de ansiedade e na ansiedade traço, ou seja, para que haja mudanças
significativas na ansiedade (MUTRIE, 2000; SERVAN-SCHREIBER, 2004).
Esta observação pode estar relacionada com o aumento dos escores no
primeiro mês de exercícios físicos nos participantes P4, P5 e P7, e ao final dos
36
dois meses (nove semanas) nos participantes P3 e P5. De acordo com o
demonstrado na tabela 1, o participante P3 reduziu sua freqüência de 3 para 2
vezes por semana. A literatura aponta que para redução de sintomas depressivos
e de ansiedade faz-se necessário o mínimo de 3 sessões semanais com duração
superior a 20 minutos (SERVAN-SCHREIBER, 2004).
Deste modo, o aumento dos sintomas de ansiedade na participante P4
pode estar relacionado com a duração do programa de treinamento (sendo que a
mesma praticou apenas 1 mês ou 5 semanas) de exercício físico regular, bem
como a necessidade de uma duração superior a nove semanas (dois meses) no
caso dos participantes P3 e P5.
Quanto à intensidade do exercício praticado, autores como Becker (2000),
Godoy (2002) Hall, Ekkakis, Petruzzello (2002) Araújo, Mello, Leite (2007) citados
por Veigas e Gonçalves (2009) e Mello, Boscolo, Esteves, Tufik (2005) sugerem
que o nível moderado é o mais adequado, já que a prática de exercício de nível
severo está associada com a experimentação de estados afetivos negativos,
assim como ao aumento da produção de ácido láctico que poderá possibilitar a
ocorrência de ataques de pânico em indivíduos com transtorno de ansiedade. A
presente pesquisa não teve controle sobre a variável intensidade do exercício
praticado, sendo que desta forma, o aumento dos sintomas de ansiedade no
participante P3 pode também estar associado à realização de exercícios de
intensidade severa. Já em relação a modalidade de exercício físico, os estudos
existentes não são taxativos em afirmar que a redução dos sintomas ocorre
apenas quando o exercício realizado é aeróbico ou anaeróbico, mas de modo
geral a maioria deles indica que a maior redução dos sintomas ocorre quando o
exercício realizado é aeróbico e de intensidade moderada, conforme o descrito
acima.
37
4.3. O efeito dos exercícios sobre os sintomas de estresse psicológico
Analisando os escores obtidos no inventário de sintomas de estresse, no
primeiro mês, constata-se a redução significativa dos sintomas em cinco
participantes (P1; P2; P3; P5 e P7) e o aumentos dos escores de estresse em dois
participantes (P4 e P6).
0
10
20
30
40
50
60
Escores
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
Participantes
Sintomas de Estresse I, II e III
Antes
1 mês
2 meses
Figura 3: Escores Inventário de Sintomas de Estresse no início do programa de exercícios físicos, um mês após o início, e dois meses (9 semanas) após o início.
Analisando os resultados coletados após o primeiro mês do programa de
exercícios físico (coluna vinho) com os obtidos após os dois meses (nove
semanas) (coluna amarelo), observou-se a redução dos escores de sintomas de
estresse nos participantes P2, P5 e P6, a manutenção dos mesmos escores no
participante P1, bem como o aumento dos sintomas nos participantes P3 e P7.
38
Comparando os escores obtidos no início do programa de exercícios físicos
com os obtidos após os dois meses (9 semanas) do início do programa, verificou-
se a redução dos sintomas de estresse nos participantes P1, P2, P3, P5 e P6, a
manutenção dos mesmo escores na participante P4, que como já pontuado, no
momento da realização do terceiro teste, havia abandonado a prática regular de
exercícios físicos há um mês.
Ao analisar os escores de estresse obtidos pelo participante P7, que como
já citado não aderiu ao programa, estando no momento da terceira aplicação do
inventário de Sintomas de Estresse há um mês sem exercitar-se, verificou-se que
houve a redução dos sintomas de estresse, se compararmos os escores obtidos
antes do início do programa de exercícios físicos. Ao comparar os escores obtidos
por este participante um mês após o início da atividade e os escores obtidos na
terceira aplicação, constata-se o aumento dos sintomas de estresse, fato que
pode estar associado com o êxodo do programa.
De acordo com Sacks (1997) o exercício físico regular pode não apenas
contribuir para a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, como pode
eliminar os efeitos do estresse. Neste sentido, Godoy (2002) pontua que o
exercício físico pode possibilitar a redução da ansiedade e depressão, pode
melhorar o auto-conceito, auto-imagem, auto-estima, e entre outros, aumentar a
capacidade de lidar com fatores psicossociais de estresse e diminuir os estados
de tensão. Os estudos realizados por Holmes e Roth,1985; Light, Obrist, James e
Strogatz, 1987 (todos apud SALMON, 2001) também constataram que a prática
regular de exercícios físicos está relacionada com a menor vulnerabilidade ao
estresse.
Veigas e Gonçalves (2009) pontuam que em relação ao estresse, o
exercício físico age facilitando a adaptação a situações geradoras de estresse,
sendo deste modo considerado um estratégia de coping, ou seja, uma estratégia
para controlar, reduzir ou tolerar exigências internas ou externas estressantes
impostas a um indivíduo.
Na presente pesquisa não foram analisadas diferenças significativas na
redução dos sintomas em relação às variáveis sexo e idade. Porém, Veigas e
39
Gonçalves (2009) também apontaram que a redução dos sintomas de estresse
em decorrência do exercício físico, não apresentou diferenças significativas nas
variáveis sexo, idade, local de residência, estado civil e situação socioeconômica.
Sacks (1997) e Weinberg e Gould (2008) destacam que para a redução
dos sintomas de estresse é fundamental que a atividade escolhida seja prazerosa
ao indivíduo, sendo este critério mais importante do que o tipo de modalidade
praticada, ou seja, tanto exercício aeróbicos, quanto anaeróbicos são capazes de
reduzir os sintomas de estresse , deste que proporcionem prazer ao indivíduo,
fato este que também foi observado na presente pesquisa, visto que todos os
participantes que aderiram ao programa apresentaram redução dos sintomas de
estresse.
40
4.5. Dados de Aderência
Os fatores de aderência foram levantados através do questionário para
aderentes, conforme o apêndice 1. Neste questionário, inquiriu-se os participantes
sobre: as opiniões relativas ao treinamento na academia; os motivos que o
levaram a praticar exercícios; os motivos pelos quais se mantiveram na atividade;
se percebiam mudanças, e quais eram; e por último se houve algum fator
estressante ou evento atípico nesse período.
Os dados coletados nesse questionário serão apresentados nas tabelas 4
(Opiniões relativas ao treinamento), 5 (Motivos que levaram a prática de exercícios
físicos), 6 (Motivos pelos quais se mantiveram na atividade), 7 (Mudanças
percebidas) e 8 (Fatores estressantes, ou eventos atípicos durante este período) e
referem-se aos participantes P1; P2; P3; P5 e P6, que obtiveram freqüência
mínima de 75%.
Cabe ressaltar que a aderência estudada neste item (4.5) refere-se à
aderência ao treinamento de exercícios físicos com duração de nove semanas (2
meses).
Tabela 4 - Opiniões dos participantes relativas ao treinamento executado.
Participantes 1. Opiniões sobre o treinamento
P1 Muito Bom.
P2 Muito Bom.
P3 Muito Bom.
P5 Satisfatório- poderia ter mais acompanhamento do instrutor.
P6 Satisfatório- poderia ter mais acompanhamento do instrutor.
De acordo com esta tabela, observa-se que 60% dos participantes (P1; P2
e P3) avaliam positivamente o treinamento prescrito na academia, enquanto 40%
(P5 e P6) dos participantes aderentes consideram que o treinamento poderia ser
melhor, se houvesse maior acompanhamento dos alunos no momento do
exercício
41
Tabela 5- Motivos que levaram os participantes a prática de exercícios físicos
Participantes 2. O que o motivou a participar?
P1 Melhora da estética
P2 Melhora da estética
P3 Melhora da qualidade de vida
P5 Melhora da estética
P6 Melhora da estética
A tabela 5 demonstra que 20% dos participantes aderentes (P3) iniciaram a
prática de exercícios físicos em busca de qualidade de vida, enquanto 80% dos
participantes (P1; P2; P5; P6) buscaram o exercício físico para melhorar a estética
corporal.
De acordo com Souza (2009) e Saba (2001) um das razões que levam as
pessoas ao exercício físico é a busca por um ideal estético, ideal este que está
presente no próprio marketing das academias, já que o fitness, melhoria da forma
física, é muito mais enfatizado nesses centros de prática esportiva do que o
conceito de wellness, ou seja, bem-estar.
Em uma pesquisa que investigou o comportamento de aderência de
mulheres em academias, constatou-se que dentre os motivos mais citados para
iniciar a prática de exercícios físicos, encontram-se a redução da gordura corporal
e a busca por uma melhor estética corporal (SOUZA, 2009). Weinberg e Gould
(2008) ainda citam como principais razões que levam as pessoas a iniciarem a
prática de exercícios: o controle de peso, a redução dos riscos de doenças
cardiovasculares, a redução do estresse e da depressão, a satisfação
proporcionada pelo exercício, a elevação da auto-estima, e oportunidade de
socialização.
42
Tabela 6- Motivos pelos quais os participantes se mantêm na atividade
A tabela 6 demonstra que os participantes se mantiveram na atividade
principalmente para a manutenção da boa saúde, expressa nas falas dos
participantes P1 e P3; pelo prazer proporcionado pela prática, demonstrado nas
falas dos participantes P2 e P6, e pela busca de concretizar um ideal estético
apontada pelos participantes P1, P2 e P5. Constata-se que dos 5 participantes
considerados aderentes, 3 apontam como razões para manterem-se na atividade,
a busca ou concretização de um ideal estético. De acordo com Souza (2009) uma
das razões pelas quais as pessoas mais buscam exercitar-se se refere à
aproximação de um ideal estético, sendo que este quando não alcançado
freqüentemente se torna um fator de não aderência. Saba (2001), verificou em
seus estudos, que ao longo dos anos, os indivíduos com maior tempo de prática
de exercícios físicos tendem a manter-se na atividade como uma forma de buscar
uma melhor qualidade de vida e não citam a melhoria da forma física com a razão
de continuarem exercitando-se, como ocorre com as pessoas que praticam
exercícios físicos regulares por menos tempo.
Berger e Mcinman (1993), Robertson e Mutrie (1989) e Wankel (1988)
todos citados por Saba (2001), apontam a importância do prazer gerado pela
atividade, a manutenção da saúde e a busca por um ideal, bem como a prática de
atividade em grupo com uma das razões mais citadas pelos aderentes à prática de
exercícios físicos.
Participantes 3. Por que se mantém na atividade?
P1 “Pra não ser sedentário e para melhor a estética do meu corpo”(SIC)
P2 “Porque me sinto bem”(SIC)
P3 “Para melhor a saúde e esteticamente” (SIC)
P5 “Porque obtenho o resultado (estético) que quero”(SIC)
P6 “Por que me faz bem” (sic)
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Tabela 7- Mudanças percebidas pelos participantes em seu corpo.
Na tabela 7 podemos observar que dentre os motivos mais citados pelos
participantes encontram-se os ganhos físicos adquiridos pelo exercício. Apenas
um participante relatou motivos com aumento da disposição para tarefas.
A prática regular de exercícios físicos pode proporcionar inúmeros
benefícios aos seus participantes, dentre os principais benefícios destacados pela
literatura encontram-se efeitos positivos sobre o sono, transtornos de humor,
memória, aumento da auto-estima, manutenção da autonomia, aumento do bem
estar social, melhora na auto-imagem, redução do isolamento social, redução da
pressão arterial, controle do peso corporal, aumento da força muscular e da
resistência física, diminuição da massa gorda e aumento da massa magra,
elevação do metabolismo entre outros (SOUZA, 2001; MELLO et al., 2005).
Participantes 4. Percebe mudanças? Se sim, quais foram?
P1 “Sim. Meus braços e pernas estão desenvolvendo”(SIC)
P2 “Sim. Meus braços estão mais definidos”(SIC)
P3 “Sim. Estou mais disposto ao longo do dia.” (SIC)
P5 “Sim, emagreci 5 kg”(SIC)
P6 “sim. Perdi peso.” (SIC)
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Tabela 8- Fatores estressantes ou eventos atípicos relatados pelos participantes durante o período de treinamento.
Observa-se na tabela 8, que dos cinco participantes aderentes, apenas a
participante P6 relatou a ocorrência de um evento estressante ou atípico nesse
período, o que pode estar relacionado com o aumento dos sintomas de estresse
desta participante, constatados na aplicação do segundo inventário de sintomas
de estresse, conforme figura 5.
4.6 Dados de não aderência
Dos sete participantes, dois (P4 e P7) realizaram apenas um mês de
exercício físico, não obtendo deste modo a freqüência mínima de 75% para serem
considerados aderentes. Os motivos relacionados ao abandono foram coletados
através do questionário para os não aderentes (apêndice 2), juntamente com os
motivos que levaram estes a exercitarem-se e as opiniões sobre o treinamento.
Estes dados serão apresentados na tabela 9 (Opiniões sobre o treinamento), na
tabela 10 (Motivos que levaram a prática de exercícios físicos) e na tabela 11
(Motivos do abandono).
Participantes 5. Houve algum fator estressante neste período? Algum evento atípico?
P1 Não.
P2 Não.
P3 Não.
P5 Não.
P6 “sim. Doença familiar.” (SIC)
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Tabela 9- Opiniões dos participantes não aderentes sobre o treinamento Participantes Opiniões sobre o treinamento
P4 “Nas primeiras semanas achei que não houve muita atenção do profissional
de educação física, pois o treino era algo padrão e não específico para mim.
Depois eu mudei de profissional e o treino foi mais adequado”(SIC).
P7 “Às vezes sentia que o treino não era adequado para as minhas condições
físicas, achava que me davam muito mais peso do que eu poderia agüentar.
Faltou mais orientação dos profissionais”(SIC).
De acordo com a tabela 9, é possível observar que ambos os participantes
consideraram o treino insatisfatório, principalmente no que tange a orientação dos
profissionais da academia, sendo que ambos apontaram que gostariam de ter
mais supervisão na realização dos treinos. De fato, Saba (2001) elenca que a falta
de orientação dos profissionais de educação física é uma dos fatores associados à
desistência da prática de exercícios físicos.
Outro fator apontado na Tabela 9 refere-se à queixa de o treino passado ser
padrão e não considerar as condições físicas e, principalmente, psicológicas dos
indivíduos. Na literatura específica Weinberg e Gould (2008) e Saba (2001)
também elencam estas queixas como motivos para a não aderência. Segundo
Dishman (1993), Berger e McInman (1993) citados por Saba (2001), este fator
pode ser relacionado com a desistência, à medida que são interpretados pelos
indivíduos como barreiras à prática de exercícios, visto que podem gerar
sentimentos de incapacidade, bem como lesões musculares.
46
Tabela 10- Motivos que levaram os participantes não aderentes a prática de exercícios físicos Participantes 2. O que o motivou a participar?
P4 “Iniciei para melhorar a minha saúde” (SIC).
P7 “Melhorar desempenho físico, perder gorduras e ganhar massa magra”
(SIC).
A Tabela 10 demonstra as razões pelas quais os referidos participantes
buscaram exercitar-se. Nela a participante P4 destaca a busca pela melhora da
saúde, e o participante P7 a busca pela melhoria da forma física, o que segundo
Saba (2001), Weinberg e Gould (2008), entre outros, constitui-se um dos
principais motivos que levam as pessoas a iniciarem a prática de exercícios
físicos.
Tabela 11. Motivos do abandono do treinamento pelos participantes não aderentes
Participantes 3. Motivos do abandono
P4 “Deixei a atividade física, pois não me sentia muito motivada em sair de
casa para ir à academia. Foram vários os motivos, mas o principal foi à
distância da academia.” (SIC).
P7 “Por motivos de saúde. Tive que realizar uma cirurgia, a qual necessitava de
um tempo de repouso” (SIC).
De acordo com os relatos dos participantes P4 e P7 constata-se que a
primeira atribui a desistência principalmente a falta de motivação e a distância da
academia, enquanto o segundo atribui a desistência a motivos de saúde. Dentre
as razões mais atribuídas para não exercitar-se encontram-se: a falta de tempo, a
falta de energia e a falta de motivação (SABA, 2001; WEINBERG;GOULD, 2008).
Vários são os fatores que influenciam na aderência a pratica de exercícios
físicos. O prazer que se obtém da prática, a sensação de satisfação originada
pelos ganhos no bem-estar físico e psicológico, o envolvimento do praticante com
exercícios no seu histórico pessoal, a auto-motivação, e autoconfiança dos
47
participantes são fatores que influenciam beneficamente o comportamento de
aderência. O papel da auto-motivação, é citado por autores como Souza (2009),
Saba (2001), Weinberg e Gould (2008), entre outros, como um dos fatores
determinantes para o comportamento de aderência. De acordo com Saba (2001,
p.66) a auto-motivação:
[...] significa realizar atividades impulsionado pelas crenças pessoais, sem grande dependência de incentivos externos como a aparência, saúde, ou reconhecimento social. A auto-motivação é mais pronunciada quando o indivíduo não guia suas ações pela falha e toma a atividade a que se propõe como um elemento de prazer do seu cotidiano.
Saba (2001) propõe alternativas para melhorar a auto-estima dos alunos de
academia, e conseqüentemente contribuir para o aumento do comportamento de
aderência a atividade física, entre as alternativas citadas, destaca-se a realização
de exercícios físicos com menor grau de exigência, visto que exercício com maior
exigência poderá gerar sentimentos de incapacidade.
Outro fator relevante para a aderência a programas de exercício físico, de
acordo com Saba (2001), refere-se à facilidade de acesso ao local da prática,
sendo que quando esta facilidade não ocorre, este se torna um fator de não
aderência, o que pode ser verificado na presente pesquisa através da fala da
participante P4.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve por objetivo verificar os benefícios de um programa
de exercício físicos de duração de nove semanas, sobre os sintomas de
ansiedade, depressão e estresse em sujeitos não praticantes de exercícios
físicos. Verificou-se através dele, que a prática regular de exercícios físicos
apresenta associações positivas na redução dos sintomas estresse, ansiedade e
depressão.
As associações foram observadas em relação ao exercício físico e os três
conjuntos de sintomas estudados. Contudo, para os sintomas de estresse e
depressão, os cinco participantes considerados aderentes (P1, P2, P3, P5 e P6)
obtiveram maior redução ao final das nove semanas (dois meses) de exercícios
físicos.
Quanto aos sintomas de ansiedade, também foram observadas
associações positivas, mas não tão expressivas, já que três dos cinco
participantes considerados aderentes apresentaram redução destes sintomas.
Verificou-se também o aumento dos sintomas de ansiedade em dois participantes
considerados aderentes (P3 e P5). Este aumento, conforme o descrito na análise
dos dados, pode estar relacionado com a intensidade do exercício praticado, pois
os exercícios de alta intensidade são capazes de aumentar os sintomas de
ansiedade. Neste sentido, apontamos aqui uma falha da presente pesquisa, já que
a variável intensidade dos exercícios praticados pelos participantes, não foi
controlada. Deste modo, sugere-se que pesquisas posteriores controlem esta
variável, visto que a literatura aponta que os transtornos de humor apresentam
melhores correlações quando o exercício realizado é de intensidade moderada. Já
os exercícios de alta intensidade podem influenciar no aumento dos níveis de
ansiedade, e possibilitar a ocorrência de ataques de pânico em indivíduos com
transtorno de ansiedade, por exemplo. Exercícios intensos também podem
contribuir para o abandono da prática de exercícios físicos regulares (HALL;
EKKAKIS; PETRUZZELLO, 2002; ARAÚJO; MELLO; LEITE, 2007 apud VEIGAS;
GONÇALVES, 2009).
49
Nesta pesquisa também foram verificados os motivo de aderência, no caso
dos participantes P1, P2, P3, P5 e P6, e não aderência dos participantes P4 e P7
ao programa de exercícios físicos. Através desta verificação constatou-se que
entre os motivos mais citados pelos aderentes para continuarem a prática,
destaca-se a busca pela concretização de um ideal estético, seguido da
manutenção da boa saúde e do prazer proporcionado pela prática.
Em relação a não aderência, constatou-se que os participantes não-
aderentes (P4 e P7) atribuíram a desistência a falta de motivação, a distância da
academia, e a problemas de saúde. Também verificou-se que estes participantes
não estavam satisfeitos com o treino recebido.
Cabe ressaltar que o projeto original da presente pesquisa, pretendia contar
com uma amostra de 30 pessoas, sendo 15 do grupo experimental e 15 do grupo
controle, e o exercício praticado previsto seria caminhada, de intensidade baixa a
moderada, garantindo desta forma mais propriedade aos dados coletados. O
projeto inicial foi inviabilizado devido ao número insuficiente de voluntários,
passando desta forma para os procedimentos metodológicos da presente
pesquisa.
De modo geral, apesar dos percalços, foi possível obter, pelo menos,
dados compatíveis com a literatura, no entanto, neste, como na maioria dos
estudos que o precederam, o tamanho da amostra é um problema a ser
ainda superado.
Os resultados desta pesquisa foram verificados na amostra composta
por sete participantes, sendo deste modo necessários estudos com
populações mais amplas, afim de que se possa afirmar com mais
propriedade os efeitos do exercício físico sobre os sintomas de ansiedade,
depressão e estresse, bem como os motivos de aderência e não aderência
dos participantes. Sugere-se também que pesquisas posteriores tenham
controle sobre a variável intensidade do exercício realizado pelos
participantes, possuam um grupo controle, e estendam a duração do
programa para mais que dez semanas, visto que a literatura indica que os
50
melhores efeitos sobre os sintomas depressivos, de ansiedade e estresse
são encontrados a partir desse período.
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6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, S. R. C.; MELLO, M. T.; LEITE, J. R. Transtornos de ansiedade e exercício físico. Rev.Bras. Psiquiatria., São Paulo, 2005. Disponível em:. Acesso em: 09/03/07.
ARAUJO, S. R. C.; MELLO, M. T.; LEITE, J. R.. Anxiety disorders and physical exercise. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 29, n. 2, June 2007 . Disponível em:. Data de acesso: 19/10/2009. Epub Nov