Rádio Digital na Faixa de Onda Média e as Peculiaridades da ...

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CADERNOS CCOM

VOLUME VI

JOSÉ MARCIO RODRIGUES VIANA

Rádio Digital na Faixa de Onda Médiae as Peculiaridades da Cobertura

por Onda de Superfície

COORDENADOR GERALMurilo César Ramos

PROJETO GRÁFICONúcleo de Multimídia e Internet – NMI/UnB

EQUIPE EDITORIALPreparação de originaisDaniela Garrossini e Maria do C. Rigon

RevisãoCatarina Felix

Editoração EletrônicaSuhelen Chaves e Luciana Lobato

CapaCristiane Arakaki

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB

EDITORA FACULDADE DE TECNOLOGIA - FTCampus Universitário Darcy Ribeiro,Asa Norte – Brasília – DF – BrasilCEP: 70910-900 – Caixa Postal: 04386Fone: +55 (61) 3307-2305 / 3307-2300 Fax: +55 (61) 3273-8893e-mail: ftd@unb.br

V614r Viana, José Marcio Rodrigues.

Rádio Digital na Faixa de Onda Média e as Peculiaridades da Cobertura por Onda de Superfície / José Marcio Rodrigues Viana; Lúcio Martins da Silva (Orientador). – Brasília: Faculdade de Tec-nologia/UnB, 2008.

107 p.: Il. – (Cadernos CCOM; Volume VI). ISBN: 1. Telecomunicações. 2. Rádio Digital. I. Título. II. José Marcio Rodrigues Viana. III. Centro de Políticas, Direito, Economia e Tecnologias das Comunicações (CCOM). IV. Lúcio Martins da Silva (Orientador).

CDU 654.19

CENTRO DE POLÍTICAS, DIREITO, ECONOMIA E TECNOLOGIAS DAS COMUNICAÇÕES - CCOM

Série: CADERNOS CCOM - VOLUME VI

Monografia defendida como requisito de aprovação no V Curso de Especialização em Regulação de Telecomunicações da UnB, em 26 de julho de 2006.Orientador: Lúcio Martins da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Bibliotecária responsável: Catarina Felix dos Santos Soares CRB 514/1ª região)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Possível configuração de canais AM em uma mesma localidade ...................................................................................................... 18

Figura 1.2 Audiência no meio rádio ........................................................ 22

Figura 1.3 Evolução das outorgas dos serviços de radiodifusão ............ 22

Figura 1.4 Participação dos meios de comunicação no bolo publicitário .................................................................................................. 23

Figura 1.5 Participação do rádio no bolo publicitário ........................... 24

Figura 1.6 Investimento publicitário entre 2000 e 2005 ....................... 24

Figura 1.7 Modulação no rádio AM ......................................................... 26

Figura 1.8 Deformação do sinal AM ......................................................... 27

Figura 1.9 Modulação FM ........................................................................ 27

Figura 1.10 Propagação da onda de superfície ........................................ 28

Figura 1.11 Propagação da onda ionosférica ........................................... 29

Figura 2.1 Máscara espectral .................................................................... 33

Figura 2.2 Modo híbrido sistema AM IBOC ............................................ 37

Figura 2.3 Modo todo digital - sistema AM IBOC .................................. 38

Figura 2.4 Modo multicast - sistema digital DRM ................................. 40

Figura 2.5 Modo multicast adjacente- sistema digital DRM .................. 40

Figura 2.6 Modo simulticast - sistema digital DRM ............................... 41

Figura 3.1 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OE – Pot. 1 kW ...................................................................................................... 55

Figura 3.2 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OS – Pot. 1 kW, solo 1 mS/m ................................................................................................. 56

Figura 3.3 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OE – Pot. 5 kW ...................................................................................................... 57

Figura 3.4 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OS – Pot. 5 kW - Solo 1 mS/m ........................................................................................................ 58

Figura 3.5 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OE – Pot. 30 kW .................................................................................................... 59

Figura 3.6 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OS – Pot. 30 kW – Solo 1 mS/m ............................................................................................. 60

Figura 3.7 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OE – Pot. 1 kW ...................................................................................................... 61

Figura 3.8 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OS – Pot. 1 kW – Solo 1 mS/m ............................................................................................. 62

Figura 3.9 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OE – Pot. 5 kW ...................................................................................................... 63

Figura 3.10 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OS – Pot. 5 kW – Solo 1 mS/m ............................................................................................. 64

Figura 3.11 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OE – Pot. 30 kW .................................................................................................... 65

Figura 3.12 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OS – Pot. 30 kW, solo 1 mS/m ................................................................................................. 66

Figura 3.13 Cobertura de Ribeirão Preto/SP - propagação por OE – Pot. 5 kW ...................................................................................................... 67

Figura 3.14 Cobertura de Ribeirão Preto/SP - propagação por OS – Pot. 5 kW , solo 3 mS/m ........................................................................................ 68

Figura 3.15 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Norte ... 71

Figura 3.16 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Nordeste ........................................................................................................ 72

Figura 3.17 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Centro-Oeste ............................................................................................................ 73

Figura 3.18 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Sudeste ........................................................................................................ 74

Figura 3.19 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Sul ........ 75

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 Visão geral do PBOM ................................................................ 19

Tabela 1.2 Potência de operação das rádios AM ..................................... 20

Tabela 1.3 Porcentagem de rádio AM e população por região brasileira ........................................................................................................ 21

Tabela 2.1 Espúrios de alta freqüência .................................................... 32

Tabela 2.2 Número de emissoras com transmissão digital IBOC nos EUA ...................................................................................................... 36

Tabela 2.3 Número de emissoras com transmissão digital DRM ........... 41

Tabela 3.1 Valores de condutividade equivalente do solo brasileiro ..... 48

Tabela 3.2 Predição de cobertura urbana obtida pela OS e pela OE .... 50

Tabela 3.3 Predição de cobertura rural obtida pela OS e pela OE .......... 52

Tabela 3.4 Porcentagem de rádio AM na Região Norte ......................... 71

Tabela 3.5 Porcentagem de rádio AM na Região Nordeste ..................... 72

Tabela 3.6 Porcentagem de rádio AM na Região Centro-Oeste ............ 73

Tabela 3.7 Porcentagem de rádio AM na Região Sudeste ..................... 74

Tabela 3.8 Porcentagem de rádio AM na Região Sul .............................. 75

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9

1 A RADIODIFUSÃO SONORA ANALÓGICA AM ........................................ 13

1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 13

1.2 HISTÓRICO ............................................................................................ 13

1.3 CANALIZAÇÃO DA FAIXA DE FREQUÊNCIA EM ONDA MÉDIA ....... 17

1.4 CENÁRIO ATUAL DA RÁDIO AM .......................................................... 19

1.5 MODULAÇÃO AM .................................................................................. 25

1.6 PROPAGAÇÃO NA FAIXA DE ONDA MÉDIA ...................................... 28

2 SISTEMAS DE RADIODIFUSÃO DIGITAL ............................................... 31

2.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 31

2.2 MOTIVAÇÕES E OPÇÕES PARA A DIGITALIZAÇÃO ........................... 33

2.3 SISTEMA EUREKA 147 ........................................................................ 35

2.4 SISTEMA – ISDB-TSB ........................................................................... 35

2.5 SISTEMA AM IBOC ................................................................................ 36

2.6 SISTEMA DRM ....................................................................................... 39

3 RÁDIO DIGITAL NA FAIXA DE OM E DE VHF ........................................ 43

3.1 PREDIÇÃO DE COBERTURA DAS ONDAS DE SUPERFÍCIE E ESPACIAL ...................................................................................................... 49

3.1.1 Cobertura Urbana ............................................................................... 50

3.1.2 Cobertura Rural ................................................................................. 52

3.2 PREDIÇÃO DE COBERTURA URBANA E RURAL CONSIDERANDO O PERFIL DO TERRENO .................................................................................. 53

3.2.1 Exemplo 1 - Brasília/DF - Relevo Suave, Solo de 1mS/m ............... 55

3.2.1.1 Onda Espacial - Canal 201 - Potência de 1kW/90m ................. 55

3.2.1.2 Onda Superfície – Freq. 1070 kHz - Potência de 1kW .................... 56

3.2.1.3 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 5kW/150m ............... 57

3.2.1.4 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 5kW ................ 58

3.2.1.5 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 30 kW/150m ........... 59

3.2.1.6 Onda superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 30 kW ............ 60

3.2.2 Exemplo 2 – Cascavel/PR - Relevo Suave, Solo de 1mS/m ........... 61

3.2.2.1 Onda Espacial – Canal 201 - Potência de 1kW/90m ................. 61

3.2.2.2 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 1kW ............... 62

3.2.2.3 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 5kW/150m .............. 63

3.2.2.4 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 5kW ............... 64

3.2.2.5 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 30 kW/150m ............ 65

3.2.2.6 Onda Superficie – Freq. 1070kHz - Potência de 30 kW ............ 66

3.2.3 Exemplo 3 – Ribeirão Preto/SP – Relevo acidentado e solo de 3mS/m ............................................................................................. 67

3.2.3.1 Onda Espacial – Canal 201 - Potência de 5 kW/150m ............. 67

3.2.3.2 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 5kW, Solo de 3mS/m ............................................................................................. 68

3.2.3.3 Conclusões Acerca da Cobertura por Onda de Superfície e por Onda Espacial .............................................................................................. 69

3.2.4 Mapa de Condutividade do Solo Brasileiro ...................................... 70

3.2.5 Região Norte ...................................................................................... 71

3.2.6 Região Nordeste ................................................................................. 72

3.2.7 Região Centro-Oeste ......................................................................... 73

3.2.8 Região Sudeste .................................................................................. 74

3.2.9 Região Sul .......................................................................................... 75

3.3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA OPERAÇÃO NOTURNA DA RÁDIO AM .................................................................................................... 76

CONCLUSÕES ............................................................................................... 77

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 81

ANEXO A – ARTIGOS PERTINENTES AO TEMA TRATADO ...................... 85

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INTRODUÇÃO

A radiodifusão em onda média (OM) é a modalidade de serviço de radiodifusão sonora que opera na faixa de freqüência de 525 kHz a 1705 kHz, popularmente conhecida como rádio AM. Durante vários anos, esse veículo de comunicação ocupou lugar de destaque, em uma época deno-minada “os tempos áureos do rádio”. Contudo, esse prestígio começou a declinar com o surgimento da televisão e das rádios FM, com sinal imune à interferência atmosférica e com maior largura de banda, capaz de irradiar sinais de áudio de excelente qualidade.

A partir desses acontecimentos as emissoras AM passaram a enfrentar forte concorrência até então inexistente, assim como puderam melhor avaliar suas reais condições técnicas frente à qualidade de áudio ofere-cida pelas concorrentes em FM.

Ao longo dos anos essa limitação técnica resultou em baixa audiência e em um menor interesse na outorga para novas emissoras do serviço. Em compensação, observa-se um crescente aumento no número de emisso-ras FM, o que tende a acirrar a concorrência na radiodifusão sonora e agravar ainda mais as dificuldades hoje enfrentadas.

A tecnologia digital anuncia uma recepção livre de interferências e melhoria da qualidade do sinal, de forma que a rádio AM passaria a ter um sinal robusto e semelhante àquele oferecido pelas FMs. Reconhece-se a necessidade de modernização de estúdios, da planta transmissora, de melhoria na programação, de investimento em pesquisas para melhor identificar e atender seu público, cativar novos ouvintes e diversificar o conteúdo. Porém, se todas essas providências forem tomadas, mas o sinal não apresentar um áudio robusto e de boa qualidade, tudo o que for implementado continuará a chegar depreciado ao ouvinte. A trans-missão digital pode significar um passo importante para a melhoria do áudio em AM.

Os radiodifusores AM têm manifestado interesse específico na transmis-são híbrida ou simultânea, na qual seja possível combinar o sinal ana-lógico e o digital na mesma faixa de freqüência em uso pela emissora. Solução igualmente interessante do ponto de vista de planejamento, devido ao congestionamento do espectro radioelétrico. Pode-se afirmar

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que há um clamor nacional para que o sistema digital a ser adotado pelo Brasil para a radiodifusão sonora deva permitir a transmissão simultâ-nea, solução imperativa para a rádio AM.

No entanto, a tão almejada digitalização na mesma freqüência sujeitará as emissoras às mesmas restrições técnicas inerentes à faixa de onda média, condição que leva inquietações e incertezas ao radiodifusor, o qual, em não vislumbrando a digitalização como solução, pode predesti-nar o correspondente serviço no Brasil à estagnação e até à extinção. Em contrapartida, um possível deslocamento das 1707 emissoras AM para outra faixa de freqüência, além do problema da inexistência de canais disponíveis, exigiria todo um empenho e dificuldades jurídicas para a nova outorga.

Há que se levar também em consideração que ocorreria a descontinui-dade do serviço atualmente prestado, a perda da audiência cativa e de receita, aumento dos custos de implantação, trabalho de marketing e estímulo para os ouvintes sintonizarem a estação em nova freqüência, e principalmente, a interrupção do serviço em regiões somente atendidas pela propagação por onda de superfície e ionosférica, inerentes à faixa de onda média.

Ante o panorama descrito, procurou-se reunir alguns dados e informa-ções relevantes ao assunto que permitissem uma melhor compreensão da problemática envolvida na digitalização desse veículo de comunica-ção. O trabalho está estruturado em cinco capítulos. O Capítulo 2 traz um breve histórico desse serviço radiofônico, alguns aspectos do geren-ciamento do espectro de freqüência, especificamente no que tange à canalização na faixa de onda média, alguns aspectos do cenário atual da radiodifusão sonora, implicações da modulação AM na qualidade do serviço e considerações da propagação na referida faixa.

O Capítulo 3 aborda os sistemas de radiodifusão digital, especialmente os sistemas In-Band On-Channel (IBOC) e Digital Radio Mondiale (DRM), por atenderem a transmissão simultânea tão almejada pelos radiodifusores.

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A proposta do trabalho está abordada no Capítulo 4, que expõe a ques-tão acerca da operação da rádio digital na faixa de onda média e na faixa de VHF, destacando as propagações por onda de superfície e por onda espacial (propagação em visibilidade e difração) suas implicações na penetração do serviço na área urbana e rural.

Por fim, as conclusões subseqüentes estão relatadas no Capítulo 5.

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1 A RADIODIFUSÃO SONORA ANALÓGICA AM

1.1 INTRODUÇÃO

Neste Capítulo, após a citação de alguns fatos marcantes, serão abor-dadas determinadas características do serviço de radiodifusão sonora em onda média, como a potência de operação típica das emissoras, a cobertura média, a distribuição de estações por região brasileira, dados e indicadores referentes à audiência e à outorga, as propriedades básicas da propagação por onda de superfície e ionosférica, o desempenho da modulação em amplitude e a possível influência destas peculiaridades para o cenário atual do serviço AM no Brasil.

1.2 HISTÓRICO

Tudo começou no ano de 1863, em Cambridge, Inglaterra, quando James Clerck Maxwell demonstrou teoricamente a existência das ondas ele-tromagnéticas. Em seguida, no ano de 1887, o físico alemão Henrich Rudolf Hertz, partindo da Teoria de Maxwell, detectou pela primeira vez as ondas de rádio, hoje chamadas ondas hertzianas. Foi o ponto de par-tida para uma série de experiências que culminaram, posteriormente, na invenção do rádio, que se tornou um meio de comunicação baseado na difusão de informação sonora por ondas eletromagnéticas (hertzianas) em diversas freqüências.

O uso das ondas eletromagnéticas para a propagação de informação sonora acontece no início do século XX graças à invenção da válvula radioelétrica (triodo), criada em 1906, nos EUA, por Lee De Forest. A válvula triodo permitiu a ampliação dos sinais elétricos, viabilizando a audição de sons complexos transmitidos por ondas hertzianas.

No Natal de 1906, a radiodifusão foi inaugurada no mundo: De Forest e Reginald Aubrey Fessenden transmitiram, nos EUA, números de canto e solos de violino. Outras transmissões pioneiras foram realizadas nos anos seguintes.

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As emissoras de rádio desenvolvem-se de fato após a I Guerra Mundial. Durante o conflito, a transmissão das ondas eletromagnéticas ficou sob o controle do governo dos países em guerra. Esse atraso na implantação da radiodifusão para o grande público, no entanto, foi compensado pelos avanços feitos no período, que facilitam o crescimento das estações de rádio no pós-guerra.

Em apenas uma década, a radiodifusão espalhou-se por todo o mundo. Em 1919 foi criada a primeira grande empresa norte-americana de tele-comunicações, a Radio Corporation of América (RCA), seguida da Natio-nal Broadcasting Company (NBC), em 1926, e da Columbia Broadcasting System (CBS), em 1927. Na Europa foram implantadas várias empresas de grande porte, entre as quais a italiana Radiotelevisione Italiana (RAI), em 1924; a inglesa British Broadcasting Corporation (BBC), em 1927; e a francesa Radio France Internationale (RFI), em 1931. O número de receptores também aumenta drasticamente: nos EUA, por exemplo, os aparelhos de rádio subiram de 50 mil, em 1922, para mais de 4 milhões, em 1925.

No Brasil, a rádio AM alcançou enorme popularidade. As emissoras pro-fissionalizam-se, os transmissores e aparelhos receptores tornaram-se cada vez mais potentes. Apareceram os programas de música popular, que lançaram ídolos como Carmem Miranda e Orlando Silva. Surgiram também os programas de humor, de auditório, que contaram com a par-ticipação do público e as novelas. (1)

Dentre os fatos marcantes da rádio AM brasileira, destacam-se: (2)

Em 7 de setembro de1922 ocorreu a primeira transmissão oficial da rádio AM no Brasil, com o discurso do Presidente da República, Epitácio Pes-soa, em comemoração ao centenário da independência do Brasil. Foram importados 80 receptores, especialmente, para o evento. (3)

Edgard Roquete Pinto, considerado pai do rádio brasileiro, e Henry Morize fundaram, em 20 de abril de 1923, a primeira rádio AM brasileira: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada para atuar sem fins comerciais.

Em 1932, o Decreto n.º 21.111, de 1º de março, que regulamentou o Decreto nº 20.047, de maio de 1931, primeiro diploma legal sobre a radiodifusão, define o rádio como “serviço de interesse nacional e de finalidade educativa”. No mesmo ano, o Decreto nº 21.111, autorizou a

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veiculação de propaganda pelo rádio, tendo limitado sua manifestação, inicialmente, a 10% da programação.

O Brasil assinou, em 1935, o Acordo Sulamericano de Radiocomuni-cações, o qual distribuiu os canais das freqüências de 600, 720, 740, 800, 860, 880, 940, 980, 1000, 1040, 1100, 1220 e 1280 kHz para uso exclusivo no Brasil. Nesse mesmo ano, a Rádio Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, criou vários programas de notícias.

Em 1936, foi fundada a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que permane-ceu como a primeira em audiência por mais de vinte anos.

O Decreto-Lei n.º 2.073, do Presidente Getúlio Vargas, criou as Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União no ano de 1940, que entre outras ações, encampou a Rádio Nacional, de propriedade do grupo A Noite. Dois anos antes havia sido inaugurado o programa “A Hora do Brasil”.

Em 1941, surgiu o Repórter Esso, criado pela Rádio Nacional, durante a II Guerra Mundial. O programa ficou no ar até 1968.

Dois fatos marcaram o ano de 1942: a criação do Grande Jornal Falado Tupi, da Rádio Tupi, de São Paulo; e uma primeira transmissão de uma radionovela – “Em busca da felicidade”, feita pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Já a primeira transmissão televisa do Brasil foi realizada em 1950, pela PFR-3 TV Difusora, depois TV Tupi, de São Paulo. Outras emissoras tam-bém foram entrando no ar, como a TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1951, e a TV Paulista, no ano seguinte. A TV Record e a TV Excelsior também apareceram por essa época. A popularização da televisão no Brasil ocor-reu no final da década de 50.

A cidade do Rio de Janeiro foi palco da primeira transmissão de FM no Brasil em 1955, operando em caráter experimental na extinta Rádio Imprensa. Na década de 1960 surgiram algumas rádios explorando a fre-qüência e oferecendo música ambiente para hotéis, escritórios e outros interessados.

Em 27 de agosto de 1962, o Presidente João Goulart assinou a Lei n.º 4.117/62 que instituiu o Código Brasileiro de Telecomunicações, e, em 12 de novembro de 1963, pelo Decreto n.º 52.795, de 31 de outubro de 1963, aprovou o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão.

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Os primeiros circuitos integrados possibilitaram o início da miniaturiza-ção dos receptores de rádio no ano de 1964.

Em 1966, pela Resolução n.º 11, foi aprovada a Norma Técnica NTC-19 – Cálculo das Intensidades de Campo e das Interferências entre Emis-soras de Radiodifusão de Ondas Médias. Em seguida, pela Portaria do Ministério das Comunicações n.º 557, de 3 de dezembro de 1971, esta Norma foi modificada e intitulada NTC-19A.

A Portaria Ministerial n.º 359, de 24 de março, aprovou, em 1976, o primeiro Plano Básico de Distribuição de Canais de Radiodifusão Sonora em Onda Média – PBOM. No mesmo ano, pela Portaria n.º 360, de 24 de março, foram estabelecidas as condições para enquadramento das emis-soras às novas características técnicas aprovadas pelo referido Plano Básico. E, ainda nesse ano, a Portaria n.º 1048, de 10 de setembro, apro-vou a nova norma técnica referente ao serviço de radiodifusão sonora em onda média intitulada–“Normas Técnicas para Emissoras de Radiodi-fusão Sonora em Ondas Médias”. (4)

A Conferência Administrativa Regional de Radiodifusão em Ondas Médias – CARR81, foi realizada pela União Internacional de Telecomu-nicações na cidade do Rio de Janeiro, em 1981. Esta Conferência teve por objetivo estabelecer as condições e procedimentos, em âmbito inter-nacional, para coordenação de alteração de características técnicas de emissoras dos países da Região 2 (toda América). Em decorrência, foi aprovado o Acordo Regional para o Serviço de Radiodifusão em Onda Média e o Plano Regional de Distribuição de Canais de Radiodifusão Sonora em Onda Média ou Plano do Rio de Janeiro, ambos dispositivos ainda em vigor. (5)

Em 1988, também na cidade do Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência Admi-nistrativa Regional de Radiocomunicações para estabelecer um Plano do Ser-viço de Radiodifusão na faixa de 1605 kHz a 1705 kHz na Região 2. (5)

Em setembro de 2005, foram publicados os primeiros atos da Anatel que autorizaram emissoras executantes do serviço de radiodifusão sonora em onda média a realizar testes do Sistema de Radiodifusão Sonora Digital IBOC – In-Band On-Channel. (6)

17

1.3 CANALIZAÇÃO DA FAIXA DE FREQUÊNCIA EM ONDA MÉDIA

Em virtude de as emissoras de radiodifusão terem surgido de forma desordenada, logo começaram a surgir interferências. Em conseqüência, tornou-se necessária a atribuição de faixas de freqüências e a emissão de autorização de maneira que as transmissões radiofônicas pudessem ocorrer de forma harmoniosa. Deste modo, os governos se organizaram em nível internacional em uma associação denominada International Telecomunications Union – ITU, que é um órgão da Organização das Nações Unidas – ONU especializado em telecomunicações. Assim, foram padronizadas internacionalmente faixas de freqüências atribuídas a determinados serviços.

A faixa de freqüência de 535 kHz a 1705 kHz está atribuída, em âmbito internacional e nacional, ao serviço de radiodifusão sonora em onda média. Contudo, o uso de cada freqüência desta faixa pelas emissoras teria ainda que atender a determinados procedimentos e critérios técni-cos regulamentados nos âmbitos nacional e internacional.

Em 24 de março de 1976, pela Portaria n.º 359, o Ministério das Comu-nicações aprovou o primeiro Plano Básico de Distribuição de Canais de Radiodifusão Sonora em Onda Média – PBOM, o qual, após estudos de viabilidade técnica, distribuiu canais para localidades brasileiras, de sorte que as emissoras ao providenciarem seu enquadramento às novas características técnicas estabelecidas nesse primeiro Plano, passariam a operar de forma otimizada e protegida contra interferências.

Em 10 de setembro do ano de 1976, foi aprovada, pelo Ministério das Comunicações, a Portaria n.º 1048, norma técnica referente ao serviço de radiodifusão em onda média intitulada “Normas Técnicas para Emissoras de Radiodifusão Sonora em Ondas Médias”, que estabeleceu os procedi-mentos e critérios técnicos a serem cumpridos nos pedidos de inclusão ou de modificação de canal já existente no PBOM.

A partir de 1997, conforme disposto na Lei n.º 9.472, de 16 de julho de 1997, Lei Geral de Telecomunicações, em seu artigo n.º 211, coube à Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel elaborar e manter os respectivos planos de distribuição de canais, dentre eles o PBOM.

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Os critérios que regem as inclusões ou modificações de canais do PBOM estão estabelecidos pelo Regulamento Técnico para a Prestação do Ser-viço de Radiodifusão Sonora em Onda Média e em Onda Tropical (faixa de 120 m). Assim, toda emissora AM que pretenda modificar determinada característica técnica aprovada no PBOM, tem que apresentar estudo de viabilidade técnica, conforme critérios e procedimentos estabelecidos no aludido Regulamento Técnico e no Acordo internacional pertinente. (8)

Após análise pela Anatel e constatada a viabilidade técnica, a preten-são é submetida a comentários, por meio de Consulta Pública. Em não havendo objeção fundamentada, a proposta de modificação é aprovada por meio de um Ato da Agência, que aprova as novas características técnicas no PBOM.

Quando se trata de interessado em uma nova rádio AM, primeiramente verifica-se se, no PBOM, existe ou não canal vago para a localidade desejada. Caso haja canal vago, isto é, ainda não explorado por emis-sora, o interessado solicita ao Ministério das Comunicações a abertura de edital de licitação visando a outorga do canal.

Caso não haja canal vago, o interessado precisa contratar um profissio-nal habilitado para que seja elaborado estudo que demonstre a viabili-dade técnica de determinado canal proposto. Confirmada a viabilidade técnica e após o procedimento de Consulta Pública, o canal proposto é incluído no PBOM, ficando, assim, à disposição para pedido de abertura de edital pelos interessados em sua outorga.

Em linhas gerais, os critérios técnicos vigentes permitem que em uma mesma localidade, sem se levar em consideração a distribuição de canais das localidades próximas, é possível a coexistência de rádios AM ope-rando em freqüências afastadas de, pelo menos, 30 kHz, conforme ilustra a Figura 1.1.

540

Canais adjacentes que devem ser mantidos desocupados

550 560 570

30kHz 30kHz

580 590 600 610 620 630 1690640 1700

CanalOcupado

CanalOcupado

CanalOcupado

CanalOcupado

Figura 1.1 Possível configuração de canais AM em uma mesma localidade[8].

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1.4 CENÁRIO ATUAL DA RÁDIO AM

Inicialmente, vale lembrar os propósitos dos Serviços de Radiodifusão. O Código Brasileiro de Telecomunicações, aprovado pela Lei n.º 4.117/1962, define que o Serviço de Radiodifusão é destinado a ser recebido direta e livremente pelo público em geral, e compreende a radiodifusão sonora e televisão.

Por seu turno, o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão, aprovado pelo Decreto n.° 52.795/63, dispõe que os Serviços de Radiodifusão têm finalidade educativa e cultural, mesmo em seus aspectos informativo e recreativo, e são considerados de interesse nacional, sendo permitida, apenas, a exploração comercial dos mesmos, na medida em que não prejudique esse interesse e aquela finalidade.

Neste contexto, a radiodifusão sonora em onda média insere-se como a modalidade de Serviço de Radiodifusão que opera na faixa de freqüência de 525 kHz a 1705 kHz, usando modulação de amplitude (em inglês, amplitude modulation – AM) com banda lateral dupla (em inglês, dou-ble side band – DSB). No Brasil, é popularmente conhecido como rádio AM.

A Tabela 1.1 oferece uma visão geral do número de emissoras em opera-ção e o número de canais vagos que podem ser objeto de licitação para a outorga de novas rádios AM (7).

Tabela 1.1 Visão geral do PBOM(7)

Faixa de Freq. kHz

Modulação No de emissoras em operação

No de canais no Plano Básico

No de canais vagos no Plano

Básico

535 a 1605 AM-DSB 1.707 2.157 450

1605 a 1705 AM-DSB nenhuma Não planejado -

Para conhecer melhor a cobertura das rádios AM, elaborou-se a Tabela 1.2.

20

Tabela 1.2 Potência de operação das rádios AM(7)

Níveis de Potência das rádios AM - Operação diurna e noturna

Potência - P Operação Diurna Operação Noturna

N.º Emissoras % N.º Emissoras %

P < 1 kW 771 45,2 1495 87,6

1 kW < P < 10 kW 785 45,9 178 10,4

10 kW < P <50 kW 130 7,6 19 1,1

50 kW < P 21 1,3 15 0,9

Total 1707 100 1707 100

Observa-se que, no período diurno, 45,2 % das estações operam com potência de 0,25 kW a 1 kW, cujo raio do contorno protegido, que deli-mita a área de serviço para a qual o campo da onda de superfície está protegido contra interferências objetáveis, varia entre 11 km (obtido pela freqüência. de 1590 kHz e potência de 0,25 kW) e 47 km (540 kHz e 1 kW), o que indica cobertura em âmbito local.

Ainda no mesmo período, 45,9 % operam com potência entre 1 kW e 10 kW, sendo que o raio do contorno protegido varia entre 15 km (1590 kHz e 1 kW) e 80 km (540 kHz e 10 kW), o que indica a possibilidade de cobertura regional. À noite, verifica-se que 87,6 % operam com potência de 0,25 kW a 1 kW, cujo raio do contorno protegido varia entre 8 km (1590 kHz e 0,25 kW) e 32 km (540 kHz e 1 kW), indicando cobertura local.

Adicionalmente, vale também destacar a distribuição de emissoras AM e população por região brasileira, conforme expõe a Tabela 1.3.

21

Tabela 1.3 Porcentagem de rádio AM e população por região brasi-leira(7)

Região Emissoras População

Número % Estimativa para 1/7/2005

%

Sudeste 536 31,4 78.472.017 42,6

Sul 462 27,1 26.973.511 14,6

Nordeste 422 24,7 51.019.091 27,7

Centro-Oeste 172 10,0 13.020.767 7,1

Norte 115 6,8 14.698.878 8,0

1707 100 184.184.26 100

No passado, mesmo operando com potências mais modestas do que as encionadas na Tabela 1.2, a rádio AM ocupou, durante muitos anos, um lugar de destaque que lhe conferiu os tempos áureos do rádio. Esse prestígio começou a declinar quando surgiu a televisão nos anos 60, logo seguida pelas primeiras emissoras de FM nos anos 70, com sinal imune à interferência atmosférica e com maior largura de banda capaz de irradiar sinais de áudio de excelente qualidade. A partir desses acon-tecimentos, a rádio AM passou a enfrentar uma concorrência acirrada e a sofrer críticas atribuídas principalmente à qualidade de áudio oferecida aos ouvintes. (9)

Dentre as emissoras do Serviço de Radiodifusão Sonora, sem dúvida, a rádio AM é a que enfrenta as piores condições de concorrência, pois disputa a mesma área de serviço com as estações de FM e de Televisão. A situação de desvantagem vem conferindo a esse veículo de comunica-ção um baixo índice de audiência no meio rádio nas principais capitais, conforme pode ser observado na Figura 1.2. (10) (11)

22

Área Urbana - Capitais

AM

FM

Salva

dor

Recif

e

P. Aleg

re

Gde. S

. Pau

lo

Gde. R

io

Forta

leza DF

Curit

iba

B. Hori

zont

e

Audiên

cia M

édia

181614121086420

Índi

ce %

Figura 1.2 Audiência no meio rádio (11)

Acredita-se que, como reflexo dessa situação, há um menor interesse por novas outorgas de emissoras AM, cujo número de estações mantém-se praticamente estável desde o ano de 1988, como mostra a Figura 1.3. (7)

TV FM OM RADCOM

2.7502.5002.2502.0001.7501.5001.2501.000

750500250

0

N d

e ou

torg

aso

Figura 1.3 Evolução das outorgas dos serviços de radiodifusão(7)

A título de ilustração, buscou-se parte de um artigo que trata da questão referente à audiência do rádio AM após o surgimento da televisão e do rádio FM:

“Mudanças no Rádio (1960-1980) - Nas décadas de 1960 e 1970, a televisão se popularizou, reduzindo a influência, a audiência e uma fatia significativa do bolo publicitário do rádio. Quanto ao rádio, surgiram as emissoras que trans-mitiam em FM e que se popularizaram na década de 70. A programação era exclusivamente musical e se constituía no acontecimento de maior impacto no negócio radiofô-nico desde o surgimento da televisão. As transmissões em

23

FM produziram uma mudança profunda na oferta pro-gramática do rádio brasileiro e também repercutiram no âmbito dos investimentos publicitários, reanimados com as vantagens da segmentação da audiência que propor-cionava a oferta de conteúdos especializados”(9)

A qualidade do áudio oferecida pela rádio AM tem sido apontada como a principal razão pela qual esse veículo de comunicação não consegue melhorar a audiência. Parte de um artigo, transcrito abaixo, faz menção a esse problema.

“O problema do AM não é a sua produção, que segue em alto nível ao longo dos anos, mas a péssima qualidade de sua transmissão. É praticamente impossível sintonizar emissoras de AM nos carros. Jamais se ouviu uma emis-sora desta freqüência sintonizada em lojas ou escritórios. Restrito aos domicílios, em poucos anos, o ouvinte típico dos programas jornalísticos de AM usará pijama de seda, apoiado em bengala com suporte de madrepérola ”(10)

Além desta situação, vale mencionar que, dentre os meios de comunica-ção que reúne o rádio, jornal, outdoor, revista, televisão e televisão por assinatura, o meio rádio tem uma participação pouco representativa no bolo publicitário nos últimos anos, à frente apenas do outdoor, conforme atesta a Figura 1.4. (11)

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Rádio

Jorna

l

Outdo

or

Revis

ta TV

TV Assi

natu

ra

50454035302520151050

Porc

enta

gem

%

Figura 1.4 Participação dos meios de comunicação no bolo publicitário (11)

24

Dando-se ênfase ao meio radiofônico no mercado publicitário, verifica-se que sua participação mantém-se entre 2% e 3%, no período conside-rado, como representa a Figura 1.5. (11)

2000

2001

2002

2003

2004

2005

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

Porc

enta

gem

%

Rádio

Figura 1.5 Participação do rádio no bolo publicitário (11)

Para o mesmo período, observa-se que o investimento publicitário mais que dobrou, conforme Figura 1.6. (11)

R$35

R$25

R$15

R$5

Milh

ões

2000 2001 2002 2003 2004 2005

Figura 1.6 Investimento publicitário entre 2000 e 2005 (11)

Ante um cenário com pouca lucratividade do meio rádio no mercado publicitário, o que fazer para revitalizar as 1707 rádios AM? Será que a transmissão digital na mesma freqüência é, de fato, a solução mais conveniente? Será que oferecer a oportunidade para as emissoras se deslocarem para outra faixa de freqüência, na qual possam usufruir as vantagens da modulação em FM, é a solução?

25

Diante de tais questionamentos, surgem dúvidas quanto ao futuro da rádio AM. O que poderia ser feito para revitalizar esse veículo de comu-nicação? Será que a fragilidade da modulação em amplitude é a grande responsável por esse quadro?

1.5 MODULAÇÃO AM

Conceitualmente, o propósito de um sistema de comunicação é trans-mitir sinais portadores de informação, denominados sinais-mensagens ou sinais de banda básica, através de um meio de transmissão ou canal. Em geral, para que se tenha uma comunicação efetiva e eficiente, os sinais-mensagens não podem ser transmitidos diretamente pelo meio de transmissão.

Ao invés disso, uma onda portadora, cujas propriedades são mais ade-quadas ao meio em questão, é modificada para representar e transportar a mensagem. Este processo pelo qual alguma característica de uma onda portadora é variada de acordo com o sinal-mensagem é chamado de modulação.

O sinal-mensagem é nomeado como modulante e o sinal que resulta do processo de modulação é denominado sinal modulado. Na variação de alguma característica do sinal modulado está representado o sinal-men-sagem. No receptor, o sinal-mensagem ou sinal modulante é recuperado ou extraído do sinal modulado por um processo chamado demodula-ção.

Historicamente, o primeiro tipo de modulação em sistema de comuni-cação foi a modulação AM. Essa técnica permitiu o uso de circuitos de extrema simplicidade na demodulação, o que foi de grande relevância para o barateamento dos receptores, sobretudo após a descoberta do transistor, o que possibilitou a rápida penetração e popularidade do rádio no Brasil. A referida modulação, com uma largura de banda de apenas 10 kHz, permite a transmissão de sinais de áudio de qualidade satisfató-ria, com um espectro que ocupa a faixa de 50 Hz a 5 kHz.

O fenômeno ocorre porque a amplitude da onda portadora varia pro-porcionalmente a informação, música ou voz, que se deseja transmitir,

26

razão pela qual é chamada de modulação em amplitude, conforme ilus-tra a Figura 1.7.

Rádio AM

áudiomensagem

sinal elétrico

onda portadora

Portadora (de 540 a 1700 kHz)

sinal modulado

Transdutor

Mod

ulad

or

Figura 1.7 Modulação no rádio AM

Em razão de a informação estar contida na variação da amplitude e das possíveis interferências também terem influência sobre essa mesma componente, a modulação AM passa a apresentar uma elevada sensibi-lidade a ruídos originados na alta atmosfera terrestre ou no espaço exte-rior fora do controle humano ou, ainda, nos agrupamentos residenciais ou industriais sem ou de difícil controle também pelo homem. Como exemplo, cita-se os ruídos provenientes de raios e relâmpagos no próprio local de recepção ou do acionamento de chaves, interruptores elétricos e o funcionamento de lâmpadas fluorescente e seus reatores próximos ao receptor.

Além disso, as interferências provocadas pelas tempestades ocorrem continuamente em toda a extensão do globo, principalmente nas zonas tropicais, assim o ruído atmosférico tem participação ininterrupta na degradação do sinal da rádio AM, o que provoca a deformação do sinal modulado e, conseqüentemente, a perda de qualidade, o que pode ser facilmente observado ao sintonizar um receptor AM. A Figura 1.8 ilustra a deformação do sinal modulado.

27

Rádio AM

áudiomensagem

sinal elétrico

onda portadora

Portadora (de 540 a 1700 kHz)

sinal modulado ruído

Transdutor

Mod

ulad

or

sinal interferido

Figura 1.8 Deformação do sinal AM

Em conseqüência dessa maior sensibilidade ao ruído e das limitações da largura de faixa de 10 kHz, a rádio AM analógica não consegue reu-nir todas as condições favoráveis para oferecer um áudio de qualidade semelhante àquela oferecida pelas emissoras em FM.

A título de complementação, vale acrescentar que na modulação em freqüência - FM, ao invés de se aplicar variação à amplitude, o sinal modulante varia a freqüência da portadora. Assim, a modulação em fre-qüência torna-se mais imune a interferências provocadas por ruídos, pois a amplitude ao ser modificada não altera a informação. A Figura 1.9 mostra essa modulação.

Modulação FM

sinal modulante(sinal de informação)

Portadora

Modulador FMsinal FM

Figura 1.9 Modulação FM

28

Além da imunidade ao ruído, a modulação FM oferece a disponibilidade de uma largura de banda de 200 kHz, que permite a transmissão de sinais de áudio com espectro que ocupa a faixa de 50 a 15 kHz. Características que atribuem à radio FM uma excelente qualidade de áudio.

1.6 PROPAGAÇÃO NA FAIXA DE ONDA MÉDIA

Na faixa de onda média (OM), as ondas de rádio se propagam de dois modos básicos:

• na forma de onda de superfície ou terrestre, nos períodos diurno e noturno, e

• na forma de onda ionosférica ou onda celeste, apenas no período noturno.

Durante o dia, o modo dominante é a onda de superfície. A onda ele-tromagnética tende a seguir o contorno da terra. A difração da onda faz com que ela se propague ao longo da superfície da terra e o sinal atinja regiões além do horizonte visual. A onda de superfície ou terrestre é atenuada com a distância, devido à absorção de sua energia pela terra. A Figura 2.10 expõe o fenômeno da atenuação. Basicamente, a atenuação é função da freqüência de operação e do valor da condutividade do solo (terra ou água) por onde a onda se propaga. Quanto menor a freqüência e maior a condutividade do solo, maior será a área coberta pela onda de rádio OM.

Antenatransmissora Dezenas de Km

Onda de superfície

Terradia e noite

Figura 1.10 Propagação da onda de superfície

Com o sol ativo a onda ionosférica sofre acentuada absorção na camada D (80 km), com ionização máxima ao meio dia ou na parte inferior da

29

camada E (100 a 120 km), de forma que a onda ionosférica pode ser desprezada durante o dia. À noite, a camada D desaparece, a camada E diminui e as camadas F1 e F2 (150 a 400 km) se fundem em uma única camada F, tornando-se um meio predominante no provimento de reflexão de modo que a onda é curvada de volta para a terra, conforme ilustra a Figura 1.11 abaixo.

Onda ionosférica

E

D

F2

F1

F

E

Terra - dia

Onda ionosférica

Terra - noite

Figura 1.11 Propagação da onda ionosférica

Devido a essa propriedade e para evitar interferências à noite, 87,6 % das rádios AM têm que operar com potência noturna igual ou inferior a 1 kW, o que resulta em uma menor cobertura no período. Assim, na operação noturna, o sinal da emissora, além da propagação por onda terrestre, possui também a componente de onda ionosférica, a qual, por reflexão na ionosfera, pode atingir e ainda provocar interferências a longas distâncias.

Após a abordagem das peculiaridades do serviço radiofônico AM e, con-seqüentemente, dos prováveis problemas hoje enfrentados, é pertinente considerar os sistemas disponíveis para a digitalização da radiodifusão sonora e as possíveis perspectivas de solução.

31

2 SISTEMAS DE RADIODIFUSÃO DIGITAL

2.1 INTRODUÇÃO

Como se sabe, o rádio já não ocupa mais o lugar de destaque que ocupou no passado, assim como não se pode afirmar que a migração do formato analógico para o digital aumentará a audiência e o faturamento das emis-soras. Todavia a digitalização apresenta-se como uma alternativa ímpar que pode revitalizar, especialmente, a rádio AM e oferecer as condições mínimas de sobrevivência em um cenário digitalmente competitivo.

A Era Digital oferece oportunidades de novos comércios com a trans-missão de dados, ainda que a largura de faixa da rádio AM restrinja esta atividade a algumas informações relacionadas com a programação veiculada. Isso realmente poderá ser proveitoso para os radiodifusores que souberem focar sua programação nos interesses do público. (12)

O cenário que se avizinha exige a modernização dos estúdios e da planta transmissora, melhoria na programação, investimento em pesquisas para melhor identificar seu público ouvinte, diversificação de conteúdo e aprofundamento na segmentação para um perfil de público. Porém, se toda essa melhoria ocorrer, mas a transmissão não assegurar a entrega de um sinal robusto e com excelente qualidade, tudo o que for imple-mentado continuará a chegar depreciado ao ouvinte.

A tecnologia digital anuncia a solução para a fragilidade da modulação AM, pois as distorções que resultam na perda de qualidade do sinal analó-gico, no sinal digital acarretam erros, todavia passíveis de correção, o que dá origem a uma recepção livre das interferências. Priorizada a melhoria do áudio, a tecnologia digital surge com uma solução que representa a oportunidade ímpar para melhoria da transmissão da rádio AM.

Os radiodifusores têm manifestado interesse específico em uma solução que possibilite a continuidade do serviço analógico por tempo inde-terminado, e que permita uma introdução economicamente viável da transmissão digital. Nesse sentido, apóiam a solução que contemple a transmissão híbrida ou simultânea (simulcast), na qual seja possível combinar o sinal analógico e o digital na mesma freqüência em uso pela emissora.

32

A transmissão simultânea diminui as dificuldades e custos da mudança do analógico para o digital por várias razões:

I. Permite a introdução dos sinais digitais em um espectro já congestio-nado.

II. No período de transição, o radiodifusor poderá manter o sinal ana-lógico no ar, o que permitirá a continuidade da audiência e receita, enquanto a audiência do sistema digital ainda não está consolidada.

III. Redução de custos de implantação da transmissão digital, uma vez que parte da estrutura hoje existente poderá ser utilizada também pela transmissão digital, sem que seja necessário desativar a transmissão analógica. Poder compartilhar, por exemplo, a antena transmissora é fundamental, uma vez que se trata de uma antena cara e que requer um terreno de grandes dimensões para a sua instalação.

IV. Não há a necessidade de todo um trabalho de marketing e estímulo junto aos ouvintes para sintonizarem a estação em uma nova freqüência e em um novo receptor. No período de transição, as emissoras não teriam que custear uma estação analógica e outra digital.

De forma a não implicar interferência sobre o sinal analógico da pró-pria emissora e das demais que operam em canais adjacentes, o sinal digital, na transmissão simultânea, é alocado em formato que atenda as exigências de emissões espúrias máximas estabelecidas no Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em Onda Média e em Onda Tropical, conforme descreve a Tabela 2.1. (8)

Tabela 2.1 Espúrios de alta freqüência (8)

Afastamento entre a freqüência do espúrio e a da Portadora (kHz)

Nível máximo em relação ao nível da Portadora sem modulação (dB)

de 10,2 a 20, inclusive -25

Maior que 20 até 30, inclusive -35

Maior que 30 até 60, inclusive -(5+1 dB/kHz)

Maior que 60 até 75, inclusive -65

Maior que 75 -[73+P(dBk), para potências até 5kW, inclusive

-80 para potências maiores que 5 kW

33

A referida Tabela pode ainda ser apresentada por meio de uma más-cara espectral, ilustrada na Figura 2.1, máscara que delimita as emissões espúrias máximas, e que, portanto, é freqüentemente mencionada no processo de digitalização, em virtude desta restringir o nível do sinal digital na transmissão simultânea.

0

-20

-20 -10 +10 +20 +30 +40 +50 +60 +70+750

5kHz

Afastamento entre a frequência de espúrio e da portadora (kHz)

Nív

el m

áxim

o em

rela

ção

ao n

ível

da

port

ador

a se

m m

odul

ação

DB)

-75-70 -60 -50 -40 -30

-25

-60-65-73

-80

-35-40

Figura 2.1 Máscara espectral (8)

Considera-se indispensável que o padrão a ser adotado permita a trans-missão simultânea de, pelo menos, um sinal analógico e um sinal digital, ambos contendo a mesma informação de áudio e transmitidos por um único sistema irradiante. Esta reivindicação é também importante do ponto de vista de planejamento, uma vez que o congestionamento do espectro radioelétrico não permite a alocação de novos canais para as 1707 emissoras AM, seja na mesma ou em outra faixa de freqüência.

2.2 MOTIVAÇÕES E OPÇÕES PARA A DIGITALIZAÇÃO

A rádio AM necessita da digitalização para melhor atender seu público que vem sendo influenciado por novos e poderosos serviços de entre-tenimento e informações como a internet, CDs, Home Theater e iPod, que oferecem áudio digital de excelente qualidade (13). A digitalização proporciona melhoria do áudio, possibilidade de informação relacionada com a programação, economia de energia, devido ao menor consumo

34

na transmissão do sinal e convergência com as demais plataformas já operando digitalmente.

A expectativa é que a digitalização atenda as seguintes condições:

• transição suave da tecnologia analógica para digital;

• melhoria na recepção e áudio de boa qualidade, superior à disponível com transmissão analógica;

• manutenção da atual área de cobertura diurna e noturna;

• oferecer novos serviços – não de forma prioritária, mas a tecnologia deve suportar serviços relacionados com e sem interatividade que permi-tam o usuário obter e solicitar informações digitais variadas;

• mobilidade e portabilidade – o rádio é, em essência, um objeto de uso pessoal, portátil e móvel. O sistema de transmissão digital deve manter a recepção com qualidade em veículos trafegando em estradas e dentro de cidades com alta densidade de edificações, devendo ter baixo consumo para viabilizar a recepção portátil. Modelos de receptores com capaci-dade de sintonia na faixa expandida do serviço (1605 a 1705 kHz);

• universalidade de acesso – a radiodifusão sonora atinge praticamente 100% da população brasileira independentemente da classe social, por-tanto, essa característica deve ser mantida; e

• equipamentos baratos e acessíveis.

Mundialmente, existem quatro Sistemas de Radiodifusão Sonora Digital em funcionamento:

I. Sistema Eureka 147 – Digital Audio Broadcasting - DAB, europeu.

II. Sistema ISDB-TSB, japonês.

III. Sistema IBOC DSB – iBiquity, americano.

IV. Sistema DRM – Digital Radio Mondiale, europeu.

35

2.3 SISTEMA EUREKA 147

É o sistema “A” descrito na Recomendação ITU-R BS.1114 (Systems for terrestrial digital sound broadcasting to vehicular, portable and fixed receivers in the frequency range 30-3 000 MHz)(14). É um sistema mul-tiprograma, isto é, combina vários programas (tipicamente seis ou mais) para formar um grupo. Assim, seria necessário agrupar emissoras para formar um grupo, o que não é aderente ao modelo de concorrência da radiodifusão brasileira.

Além disso, foi desenvolvido para operar na faixa de 30 MHz a 3 GHz, mais usado em VHF – Banda III (174 a 240 MHZ) e UHF – Banda L (1452 a 1492 MHz), portanto, freqüências distintas daquelas atualmente em uso pelas rádio AM. Conseqüentemente, implicam na necessidade das atuais emissoras implementarem uma nova estação e uma nova planta transmissora para acomodar a transmissão digital. Acredita-se que por estas razões este não tenha despertado o interesse dos radiodifusores brasileiros.

2.4 SISTEMA – ISDB-TSB

É o sistema “F” descrito na Recomendação ITU-R BS.1114 (14), conhe-cido como ISDB-TSB (Integrated Services Digital Broadcasting – Terres-trial), testado em campo e demonstrado nas faixas de 189-192 MHz e 2,535-2,655 GHz. Trata-se de um sistema flexível, concebido para prover transmissão digital com alta robustez, mesmo para a recepção móvel, de áudio de alta qualidade e de dados. Desenvolvido pelo Japão sem que se tenha notícia de acompanhamento por outras nações, especificamente no que se refere ao seu uso para radiodifusão sonora.

Assim, como o sistema Eureka 147, o sistema ISDB-TSB foi desenvolvido para operar em faixas de freqüências distintas daquelas atualmente em uso pelas rádios AM, razão pela qual também não despertou o interesse dos radiodifusores brasileiros.

36

2.5 SISTEMA AM IBOC

O sistema AM IBOC (In-Band On-Channel) é o segundo sistema descrito na Recomendação ITU-R BS.1514-1 (15). Foi desenvolvido pelas empre-sas americanas USA DIGITAL RADIO e LUCENT DIGITAL RADIO, que, posteriormente, unificadas, deram origem à iBiquity Digital Corporation. O sistema IBOC DSB foi projetado para funcionar na mesma faixa de freqüência e no mesmo canal em operação pela rádio AM e FM. Foi con-cebido originalmente para funcionar nos modos de transmissão híbrida e totalmente digital.

O modo híbrido, que compreende transmissão analógica e digital simul-tânea, despertou grande interesse dos radiodifusores brasileiros, em vir-tude de permitir a continuidade do serviço analógico e, ao mesmo tempo, a introdução economicamente viável da transmissão digital.

Esse sistema foi aprovado em âmbito internacional, em abril de 2001 pela União Internacional de Telecomunicações – UIT, e, em 2002, pela Comissão Federal de Comunicações – FCC, órgão regulador dos Estados Unidos da América. O sistema IBOC AM DSB foi intitulado pelos con-sumidores americanos de HD Rádio ou HD-R - Rádio de Alta Definição. Nos EUA, diversas emissoras AM já estão operando com essa tecnologia, conforme Tabela 2.2 abaixo: (16) (17)

Tabela 2.2 Número de emissoras com transmissão digital IBOC nos EUA (16) (17)

Rádio Digital na Faixa de Onda Média

Total Emissoras AM Analógicas

N.° do FCC IBOC

% N.° do iBiquityIBOC

%

4758 109 2,3

111 – no ar 2,3

106 – fora ar 2,2

217 4,5

37

O HD Rádio utiliza compressão de áudio proprietária da Lucent Techno-logies, denominada PAC – Perceptual Áudio Coder, que usa uma técnica de modelamento psico-acústico do comportamento do ouvido humano, tecnologia proprietária para a codificação de áudio monofônico.

No sistema AM IBOC há dois modos de operação denominados Híbrido e Digital. O primeiro contempla a transmissão simultânea de sinais AM. Os sinais digitais utilizam OFDM com modulação digital QAM. O sistema permite a transmissão de dados contendo informações de interesse do ouvinte, como: dados da música, do autor, do locutor, informações de tráfego, do tempo, etc.

O IBOC é um sistema proprietário e ainda não se sabe ao certo os cus-tos de licenciamento para o radiodifusor. Tem também a questão dos fabricantes nacionais de equipamentos transmissores e receptores: não se sabe em que base a iBiquity licenciará a fabricação de equipamentos para o sistema IBOC.

A maior parte da informação digital é transmitida em uma primeira fase, em seis blocos independentes, sendo dois primários, dois secundários e dois terciários. Essa configuração visa atender as exigências de emissões espúrias máximas estabelecidas pelo Regulamento Técnico, delimitadas em uma máscara espectral, conforme ilustra a Fig. 2.2.

Os terciários sobrepõem-se à própria modulação analógica, enquanto que os primários são dispostos na metade inferior do canal adjacente inferior e na metade superior do canal adjacente superior, e os secundá-rios ocupam o restante da faixa de freqüências destinada a esses canais adjacentes. Assim, na primeira fase, a transmissão IBOC-AM invade inteiramente a banda dos canais adjacentes. A taxa de transmissão nessa fase pode chegar a 36 kbps.

5 10 15 20kHzPrimário Secundário Terciário 0

0 dBc

-25 dBc

-35 dBc

MáscaraEspectral

Digital Digital Digital Digital Digital

Analógico

Figura 2.2 Modo híbrido sistema AM IBOC(17)

38

Na segunda fase da implantação, o sistema será modificado, cessando a transmissão analógica, e destinando-se o respectivo espectro à transmis-são digital, acrescido da metade superior do canal adjacente inferior e da metade inferior do adjacente superior, reduzindo um terço a largura da banda de freqüências ocupada, conforme a Figura 2.3. Nessa fase aumenta a taxa de transmissão que pode chegar a 61 kbps.

5 10 kHz0

Digital DigitalDigital

Figura 2.3 Modo todo digital - sistema AM IBOC(17).

Os receptores colocados no mercado estão preparados para a recepção dos sinais exclusivamente digitais transmitidos na segunda fase. Merece ser observado que, à noite, a propagação se faz por reflexão ionosfé-rica, alcançando grandes distâncias, razão pela qual a potência de trans-missão das estações é normalmente reduzida para que não venham a interferir nas demais emissoras que operam na mesma freqüência. Como a proteção noturna é dirigida especificamente às emissoras co-canais, essas tornam-se vulneráveis às interferências provocadas pelo espalha-mento lateral derivado da transmissão digital das estações que operam em modo híbrido nos canais adjacentes.

A expectativa é que já na primeira fase do IBOC-AM (transmissão híbrida) espera-se uma considerável melhoria na qualidade do som rece-bido, que passa a ser semelhante ao oferecido pelas atuais emissoras FM. Em conseqüência da pequena largura de banda, 30 kHz ou 20 kHz, a transmissão de dados é extremamente limitada, resumindo-se a algumas informações relacionadas com a programação veiculada.

39

2.6 SISTEMA DRM

DRM (Digital Radio Mondiale) é um dos sistemas para a transmissão digital de áudio em freqüências abaixo de 30 MHz descritos pela Reco-mendação ITU-R BS.1514-1 (System for digital sound broadcasting in the broadcasting bands below 30 MHz). (15)

Trata-se de um sistema flexível que pode ser utilizado em canais de largura de faixa de 9 ou 10 KHz ou múltiplos destes, 18 ou 20 KHz. Com a largura de faixa de 10 kHz a taxa de transmissão varia de 6,1 kbps a 34,8 kbps, dependendo da modulação usada (16-QAM a 64 QAM), taxas suficientes para propiciar ao ouvinte um áudio monofônico com quali-dade muito superior àquela oferecida pelas transmissões atuais. Usando canais com largura de banda de 20 kHz, no modo todo digital, a taxa de transmissão varia de 13 kbps a 72 kbps, dependendo da modulação usada, o que pode proporcionar um áudio estereofônico com qualidade comparável àquela oferecida pelas FMs.

É um sistema desenvolvido por um consórcio de diversas entidades da Europa e dos Estados Unidos, originalmente concebido apenas para transmissões em ondas curtas. O sucesso dos primeiros testes foi tão grande, conferindo qualidade de FM às ondas curtas, sem desvaneci-mentos ou chiados, que foi decidido estender o padrão também para a faixa de onda média.

O sistema DRM foi desenvolvido somente para freqüências abaixo de 30 MHz (onda média, tropical e curta). Possui algumas características interessantes:

• é um sistema não proprietário, o que significa que provavelmente o seu licenciamento pode ter um custo menor tanto para o radiodifusor quanto para os fabricantes nacionais de equipamentos; e

• é um sistema flexível que oferece vários modos de transmissão, possi-bilitando seu uso em onda média, onda tropical e ondas curtas. Oferece também vários modos de codificação de fonte (áudio e voz), que usam codificadores do padrão MPEG-4.

O sistema DRM foi concebido originalmente de forma a operar, durante a fase de transição, em multicast, ou seja, uma emissora necessita de um

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canal para transmitir sua programação com sinais analógicos (P1 A) e outro canal para transmitir sua mesma programação em digital (P1 D), conforme esquema ilustrativo da Figura 2.4:

P1 DP1 A

10kHz 10kHz

Figura 2.4 Modo multicast - sistema digital DRM (18)(19)

De acordo com os critérios técnicos de planejamento definidos na Reco-mendação ITU-R BS 1615 (18), o sistema DRM permite, também, que estes dois canais possam ser adjacentes, conforme apresentado na Figura 2.5 abaixo.

P1 DP1 A

10kHz 10kHz

P2 DP2 A

10kHz 10kHz

Figura 2.5 Modo multicast adjacente- sistema digital DRM(17)(19)

Entretanto, esta configuração exige a utilização de duas freqüências portadoras para a transmissão de uma mesma programação, uma para os sinais analógicos e outra para os sinais digitais. Adicionalmente, a transmissão destes dois sinais a partir de uma única planta transmissora somente é possível mediante a utilização de técnicas complexas de mul-tiplexação dos transmissores analógico e digital em um único sistema irradiante.

Além disso, em face do congestionamento do espectro radioelétrico, mesmo essa configuração não garantiria o atendimento de todas as emissoras AM com um novo canal digital na fase de transição.

Para solução deste inconveniente, o sistema DRM apresenta ainda a con-figuração mostrada na Figura 2.6, a qual permite que uma programação transmitida em analógico e digital possa utilizar uma única portadora, como é feito no sistema IBOC.

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P1 D

5kHz

P1 D

5kHz

P1 A

10kHz

Figura 2.6 Modo simulticast - sistema digital DRM (19)

Aparentemente esta configuração é a que mais se assemelha com o sis-tema IBOC, porém, apresenta diferença sobre o sistema norte-americano devido à menor ocupação do espectro radioelétrico. O sistema IBOC necessita de 30 kHz para a transmissão de sua programação durante a fase de transição contra os 20 kHz do DRM.

Outra expectativa acerca do sistema DRM diz respeito aos efeitos cau-sados pela propagação ionosférica, uma vez que esse sistema foi con-cebido, inicialmente, para atender as estações de ondas curtas, as quais dependem deste modo de propagação. Desta forma, espera-se que estes efeitos não prejudiquem tanto a funcionalidade do sistema DRM no perí-odo noturno, como vem ocorrendo com o sistema IBOC.

Na Europa, algumas emissoras AM já operam no modo digital, não simultâneo, em determinados horários, conforme pode ser observado na Tabela 2.3. (19)

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Tabela 2.3 Número de emissoras com transmissão digital DRM (19)

Transmissão Digital Sistema DRM Nº UTC Dias Freq.

KHzDestino Potência

kWPrograma Língua Site

1 0000-2400

diário 594 Europa 10 Glas Hrvatske

various Deanovec

2 0400-2200

diário 693 Berlin 250 VoR (Simulcast)

various Oranienburg

3 0000-2400

diário 729 NE Ger-many

1 DLF German Putbus

4 0000-2400

diário 855 Berlin 10 DLF German Berlin-Britz

5 0000-2400

diário 1008 Prov. Hunan

4 Economic Ch.

Chinese Chang Sha

6 0500-2300

diário 1296 Europe 70 BBCWS English Orfordness

7 0000-2400

diário 1386 West Sussex

lp Tests English Hickstead

8 0000-0400

diário 1440 Europe 120 RTL Radio German Marnach

9 0400-0430

diário 1440 Europe 120 RTL Radio German Marnach

10 0800-1700

diário 1440 Europe 240 RTL Radio German Marnach

11 0000-2400

diário 1485 SW Ger-many

0.3 SWR Das Ding

German Kaiserslau-tern

12 0000-2400

diário 1485 Berlin 1 Oldiestar Radio

German SFN Berlin

13 2310-0100

diário 1530 Europe 60 Vatican Radio

various Santa Maria

14 1800-1900

diário 1548 SE Asia 100 DW English Trincomale

15 0700-0915

Seg-Sab

1611 Europe 25 Vatican Radio

various Santa Maria

16 0915-1610

diário 1611 Europe 25 Vatican Radio

various Santa Maria

17 2100-2310

diário 1611 Europe 25 Vatican Radio

various Santa Maria

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3 RÁDIO DIGITAL NA FAIXA DE OM E DE VHF

A transmissão digital simultânea tornou-se imperativa para a rádio AM. Todavia, a tão almejada transmissão digital na mesma freqüência pode sujeitar as emissoras às mesmas restrições inerentes à faixa de onda média. O problema da modulação AM, poderá ser contornado com a nova tecnologia, entretanto, as características de propagação por onda de superfície e ionosférica irão se manter, assim como a faixa estreita de 30 kHz, no modo híbrido, e de 20 kHz, no modo todo digital, que implicam no uso de baixa taxa de transmissão digital (máximo 72 kbps). Permanecerá, ainda, a questão acerca da propagação dependente da con-dutividade do solo e do baixo valor dessa condutividade nos grandes centros.

Estas questões certamente levam incertezas aos radiodifusores, os quais, em não vislumbrando a digitalização como solução dos problemas enfrentados, podem predestinar a rádio AM no Brasil à estagnação e, quem sabe, à extinção.

Questões envolvendo a digitalização da rádio AM na mesma freqüência estão abordadas com propriedade em um texto do Eng. Higino Germani (20), transcrito parcialmente a seguir:

“ Desde as primeiras pesquisas a respeito, sempre ouvimos falar em sistemas ‘in band’, ou seja, ocupando o mesmo canal que as AM’s atuais. Examinemos as características deste canal:- largura de cada canal de apenas 10kHz: o que podemos esperar de banda tão estreita e ainda compartilhada com um sinal analógico?- faixa de OM de 535 KHz a 1705 KHz: a relação entre a freqüência mais baixa e a mais alta é de cerca de 3 vezes, o que demonstra características de propagação muito diferentes entre as freqüências ‘baixas’ e as ‘altas’; dependência da condutividade do solo a qual tem valores cada vez menores em função do aumento da urbanização; propagação diurna pelo solo e noturna pelo solo e pela ionosfera o que gera sinais interferentes a longas distân-cias.

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- sistemas de transmissão que exigem áreas de vários hec-tares próximas às áreas urbanas, o que se torna cada vez mais difícil.- necessidade de potências cada vez maiores para compen-sar a queda de condutividade e nível de ruído elevado (característico da faixa).- necessidade de torres irradiantes altas, devido ao grande comprimento de onda o que conflita cada vez mais com a proteção dos aeródromos.Com estas características, perguntamos: Porque insistir em sistema ‘in band’? Os ouvintes não terão que adquirir um novo receptor para ouvir os sinais digitais? Como a resposta é obviamente afirmativa, cremos que boa parte das argumentações da opção ‘in band’ cai por terra. Será verdadeiramente viável que, após um certo período de transição, o sinal analógico deixará de ser transmitido, permanecendo apenas o digital? Ou será que, para cobrir deficiências da cobertura digital teremos que manter no ar permanentemente trambolhos de dezenas de quilowatts com alto consumo de energia elétrica?Não será possível criarmos uma Nova Radiodifusão em todos os sentidos e não apenas inserir as técnicas digitais no Rádio existente ?Com a criação de mais dois canais de Radio Comunitária (87,7 e 87,5 MHz) estamos ‘invadindo’ a banda do canal 6 de TV. Já com o canal ‘oficial’ de RadCom (88,7 MHz) o conflito com o canal 6 já existia e agora se tornou maior ainda. É de se prever que o futuro nos aponta para a extinção do canal 6 de TV.Com isto, resulta que teremos uma maravilhosa banda de 6 MHz (de 82 a 88 MHz) e na faixa de VHF (a melhor para a radiodifusão, quer em termos de comprimento de onda quer em termos de características de propagação), à disposição para criarmos uma Nova Radiodifusão.Podem fazer idéia de quantos canais exclusivamente digi-tais e o que será possível fazer nos mesmos em termos de qualidade de áudio e informações suplementares (dados) numa banda de 6 MHz na faixa de 82 a 88 MHz ? É tudo os que sonham com o Rádio Digital pediram ao Criador ....” (20)

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Em conseqüência das restrições técnicas inerentes à faixa de onda média, surge a proposta de deslocamento das emissoras para outra faixa de freqüência, opcionalmente para a faixa VHF (Very High Frequency) ocupada pelos canais 5 e 6 de televisão que serão desocupados com a migração das televisões para a transmissão digital. Assim sendo, a faixa de VHF ofereceria às atuais rádios AM a possibilidade de uso da modu-lação em FM.

Sabe-se, no entanto, que a propagação na faixa de VHF, ocorre por onda espacial, apresenta limitações de cobertura, a qual se destina princi-palmente às áreas urbanas. Áreas que se encontram bem servidas e até mesmo congestionadas por diversas mídias de informação e entreteni-mento. Uma suposta migração da rádio AM para a faixa de VHF poderia significar a descontinuidade da cobertura atual, assim como priorizaria o atendimento da área urbana. Sendo assim, será que a concentração de elevado número de emissoras destinadas a uma mesma área de cobertura é a melhor solução para rádio AM?

De certa forma, o elevado nível de ruído nos grandes centros condicio-nou a rádio AM a ter seu nicho de mercado e seu diferencial nas regiões rurais e mais afastadas, as quais, na maioria das vezes, são atendidas adequadamente somente por meio da onda de superfície e inosférica.

Os modos de propagação inerentes à faixa de freqüências de onda média poderão ser úteis também para a cobertura digital, cujo sinal ao se pro-pagar contornando a superfície da terra e obstáculos porventura exis-tentes no percurso, poderá oferecer atendimento, além da área urbana, à periferia das grandes cidades, às áreas rurais e regiões circunvizinhas, assim como, à noite aos lugares longínquos. Há regiões nas quais o sinal transmitido por meio da propagação por onda espacial (propagação em visibilidade e difração), inerentes à faixa de VHF, não atinge ou atinge de forma inadequada.

A proposta de deslocamento para outra faixa de freqüência pode com-prometer o atendimento do seu público cativo, o que significaria a perda de penetração e de receita, sobretudo da zona rural. (21)

O possível deslocamento das emissoras para outra faixa de freqüência é uma proposta atraente, todavia, de difícil implementação prática, pois se trata de uma nova freqüência e nova outorga que afastam as vantagens da transmissão simulcasting. Acredita-se que a preferência pela trans-

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missão simultânea decididamente manifestada pelos radiodifusores AM, indica o desejo de aproveitar ao máximo a infra-estrutura atualmente utilizada, o que, na melhor das hipóteses, ainda exigiria gastos apreciá-veis na digitalização.

A título de exemplo, já que a questão custos foge ao escopo do trabalho, durante o 18º Congresso da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão – AGERT, ocorrido em outubro de 2005, foi anunciado o gasto de US$ 38.000 para a digitalização de uma rádio AM com instalações modernas, e de US$ 67.000 para uma FM nas mesmas condições, auto-rizadas a realizar os testes do sistema IBOC.

Ressalte-se que o último valor incorrido refere-se a uma emissora FM já instalada e que faz uso de uma infra-estrutura em excelentes condi-ções. Quanto não seriam os custos incorridos para a implantação de uma nova emissora FM digital? Será que as atuais rádios AM, dentre as quais 87,6 % operam em condições modestas e com potência diurna igual ou inferior a 10 kW, suportariam prontamente esse novo ônus sem um correspondente aumento de receita? Haveria aumento de receita apenas pela transmissão digital? De que forma as emissoras iriam conciliar a manutenção da atual cobertura analógica e de receita, com a implanta-ção de uma nova emissora digital em outra faixa freqüência?

São questões de extrema complexidade. Ademais, do ponto de vista social, vale destacar que somente pela utilização otimizada das diversas faixas de freqüências atribuídas ao serviço de radiodifusão é que se tem a possibilidade de atingir o “público em geral”, especialmente, em um País de dimensões continentais como o Brasil, cuja maioria da população tem o rádio como principal veículo de informação, entretenimento e cultura.

O sinal AM atinge lugares não cobertos adequadamente pela rádio FM, sobretudo nas áreas rurais, que absorve o maior volume de vendas de receptores AM, conforme artigo extraído do Jornal O Estado de São Paulo – Economia, de 19/9/2004: (20)

“A indústria está voltando a se interessar pelo produto porque ele tem um mercado eclético e cativo: do vigilante ou freqüentador dos campos de futebol, passando pela população rural, a altos executivos. Acácio Queiroz, de 56 anos, presidente para a América Latina da Ace Segu-

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radora, se considera um ‘dinossauro do rádio’. Começa o dia escutando noticiário pelo rádio enquanto faz a barba e se prepara para ir ao trabalho. ‘Das 6h às 8h, quando não tem horário político, ouço rádio’, diz ele, que repete a dose após as 23h. Em seu escritório na Avenida Paulista, ele tem um rádio de mesa, que liga nos intervalos das reuniões. Apesar de ter acesso a outros aparelhos eletrô-nicos, Queiroz considera o rádio mais prático, além do fato de a informação ser em tempo real. Ele conta que criou produtos voltados para a população de baixa renda tomando conhecimento das necessidades dessas cama-das por meio do rádio. A idéia de lançar um seguro da conta de luz para quem perdeu o emprego nasceu ouvindo rádio. As indústrias farejam um potencial maior de mer-cado para o produto. A Dynacom, por exemplo, se prepara para dobrar a produção atual de 15 mil rádios por mês a partir de 2005 com a expansão da fábrica de Manaus. ‘O rádio não morreu’, diz o gerente Comercial, Eduardo Barrinha. Desde 2002 no mercado, a companhia produz um modelo que pesa 164 gramas e custa R$ 28. A partir de 2005, lançará três modelos. Negocia também parcerias para fabricar rádios com a marca de clubes de futebol. Barrinha destaca que a maior parte das vendas do pro-duto se concentra em cidades do interior. No Estado de São Paulo, essa fatia chega a 70%. O supervisor geral da Lojas Cem, Valdemir Colleone, confirma que os maiores volumes vão para a zona rural. Na sua rede, que tem força nas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais, para cada 3 TVs vendidos, 1 rádio portátil é comercializado. ‘O rádio portátil nunca esteve fora de linha. O consumo é certo’, afirma Colleone. Empresários dizem que o princi-pal problema do mercado é o contrabando, que deve girar volume equivalente ao do mercado formal.”

A universalidade de acesso ao rádio deve ser mantida com a digitali-zação. A radiodifusão sonora atinge praticamente 100% da população brasileira independentemente da classe social. Talvez conservar o dife-rencial da cobertura da área rural e da maior penetração do sinal da rádio AM seja a alternativa mais apropriada e economicamente viável para essas emissoras.

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Nesse sentido, buscou-se conhecer um pouco mais a penetração pro-porcionada pela propagação por onda de superfície. Como se sabe, essa forma de propagação depende da condutividade do solo e da freqüência utilizada pela emissora. Quanto menor a freqüência e maior a conduti-vidade, maior será a área coberta, e sem sofrer influência significativa do relevo.

Vale comentar que a condutividade equivalente do solo brasileiro foi aproximada para 5 valores diferentes: 1, 3, 10, 30 e 5000 mS/m, con-forme exposto na Tabela 3.1, portanto, serão os valores considerados no trabalho. (22)

Tabela 3.1 Valores de condutividade equivalente do solo brasileiro (22)

Condutividade do Solo Brasileiro

mS/m

Condutividade adotada mS/m

Tipo de Solo

menor que 1,7 1 Terrenos montanhosos, cidades, área resi-dencial e industrial

de 1,7 até 5,4 3 Terrenos pastorais, arborização pouco densa, morros, colinas, elevações suaves, areia, terras arenosas secas, praias, terra rochosas, pedregosas, elevações íngremes

de 5,4 até 17,3 10 Pântanos, brejos, florestas, matas e bosques, terras de agricultura, solos ricos e lavrados, terrenos ondulados , rios, lagos, água doce

maior que 17,3 30 Não especificado

Água do Mar 5000 Mar, água salgada

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3.1 PREDIÇÃO DE COBERTURA DAS ONDAS DE SUPERFÍCIE E ESPACIAL

Para a predição da cobertura obtida por meio da propagação por onda de superfície (OS) e por onda espacial (OE), em visibilidade e difração, foram realizados exercícios teóricos utilizando os critérios técnicos estabeleci-dos pelo Regulamento Técnico para Emissoras do Serviço de Radiodifu-são Sonora em Freqüência Modulada e pelo Regulamento Técnico para a Prestação do Serviço de Radiodifusão Sonora em Onda Média e em Onda Tropical (faixa de 120 m).(8)(23)

Procurou-se analisar o atendimento das áreas urbana e rural para ambos os modos de propagação. Foram utilizadas as intensidades de campo de 66 dBµ (2 mV/m) para atendimento da área urbana e 54 dBµ (0,5 mV/m) para a área rural, conforme definido no Regulamento Técnico de FM. Vale lembrar, entretanto, que tal Regulamento não assegura proteção contra interferência para cobertura da área rural, somente o contorno delimitado pelo campo de 66 dBµ é protegido.

Visando facilitar a comparação entre as coberturas obtidas, foram utili-zados os mesmos valores de Potência Efetivamente Irradiada (em inglês, Effective Radiated Power – ERP) estabelecidos no Regulamento Técnico de FM. Para o cálculo das coberturas obtidas por OE, foi utilizado o canal 201 (88,1 MHz) por apresentar melhor propagação, e para propagação por OS, foi utilizada a freqüência de 1070 kHz, por se tratar da freqüên-cia intermediária da faixa de onda média. Freqüências inferiores a esta resultam em um maior raio de cobertura, enquanto que as superiores em um menor raio.

Primeiramente, avaliou-se apenas o raio de cobertura da área urbana e rural obtido por meio da propagação por OS, para a faixa de onda média, e por OE, para a faixa de VHF, sem, contudo, levar em consideração o perfil do terreno, que para este último modo de propagação exerce grande influência.

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3.1.1 Cobertura Urbana

A Tabela 3.2 mostra a predição de cobertura obtida com o cálculo do raio da cobertura da área urbana (contorno protegido) utilizando a propaga-ção por OS e por OE, considerando pontos onde a intensidade de campo é igual a 66 dBµ (2 mV/m).

Tabela 3.2 Predição de cobertura urbana obtida pela OS e pela OE (8)(23)

CONTORNO URBANO

Propagação por Onda EspacialCanal 201

Propagação por Onda de Superfície

Canal 1070 kHz

Potência (ERP)(kW)

Altura de Referên-

ciaSobre o Nível Médio

da Radial (m)

Distância Máxima ao Contorno Pro-tegido de 66dBmRAIO DE COBER-TURA URBANA

(km)

Condutividade do Solo (mS/m)

1 3 10 30

Raio do Contorno Protegido 66dBm RAIO DE COBERTURA URBANA (km)

100 600 78,6 41 65 123 222

75 450 67,3 39 60 114 211

60 300 54,3 37 57 111 202

50 150 38,5 35 55 107 195

30 150 34,8 31 49 96 175

15 150 30,2 26 41 83 152

5 150 23,8 20 32 65 118

3 90 16,6 18 29 57 103

1 90 12,7 13 23 45 75

0,3 60 7,5 10 17 33 52

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OBS:

1) No caso da OS - para valores de potência diurna acima de 50 kW (classe A) o Regulamento Técnico estabelece o campo de 54 dBm para o contorno protegido, entretanto, procurou-se manter sempre o campo de 66 dBm, uma vez que esse valor é válido para todas as potências de emissoras FM.

2) Para OS utilizou-se a freq.=1070kHz e Campo Característico de 310 mV/m para todos os casos.

3) Para OE o raio do contorno protegido foi obtido pelas Curvas da Recomendação 1546 ado-tadas pelo Regulamento Técnico para Emissoras do Serviço de Radiodifusão Sonora em Freqü-ência Modulada, as quais resultam raios ligeiramente superiores aos obtidos pelas curvas FCC (50,50).

COMENTÁRIOS:

1) Com a condutividade do solo igual a 1 mS/m, potência igual ou infe-rior a 3 kW e altura de 90 m acima do nível médio da radial, a propa-gação por OS apresenta raio de cobertura próximo daquele obtido com a OE. Para potência acima de 5 kW, a OE passa a trabalhar com altura acima de 150 m sobre o nível médio da radial, e desta forma, a OE tem maior alcance do que a OS. Todavia, sem se levar em consideração o perfil do terreno.

2) Com a condutividade do solo igual ou superior a 3 mS/m, a OS passa a ter maior alcance. Apenas para as potências de 75 kW e 100 kW, referenciadas à altura de 450 m e 600 m sobre o nível médio da radial, respectivamente, é que a OE tem maior contorno, contudo às custas de uma elevada altura. Para os demais casos, por exemplo, para a potência de 0,3 kW e solo de condutividade igual a 30 mS/m, o raio do contorno assume valor 7 vezes superior àquele obtido pela OE. Ressalte-se, entre-tanto, que o mapa de condutividade do solo brasileiro não apresenta um número elevado de regiões com alta condutividade (10 mS/m ou 30 mS/m) e tampouco regiões de grande extensão territorial (dezenas de km) com um mesmo valor de condutividade.

3) Vale destacar que 87,6 % das emissoras AM possuem potência diurna igual ou inferior a 10 kW e potência noturna igual ou inferior a 1 kW, situação na qual a OS propicia melhor cobertura.

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3.1.2 Cobertura Rural

Nesta etapa, procurou-se avaliar o raio da cobertura rural verificado, conforme dispõe o Regulamento Técnico para Emissoras do Serviço de Radiodifusão Sonora em Freqüência Modulada (23), isto é, região na qual a intensidade de campo é inferior a 66 dBm e superior a 54dBm. Os resultados dessa avaliação são mostrados na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 Predição de cobertura rural obtida pela OS e pela OE (8)(23)

CONTORNO RURAL

Propagação por Onda EspacialCanal 201

Propagação por Onda de Superfície

Canal 1070 kHz

Potência (ERP)(kW)

Altura de Referên-

ciaSobre o Nível Médio

da Radial (m)

Distância Máxima ao Contorno Pro-tegido de 66dBmRAIO DE COBER-TURA URBANA

(km)

Condutividade do Solo (mS/m)

1 3 10 30

Raio do Contorno Protegido 54dBm RAIO DE COBERTURA RURAL (km)

100 600 109,1 81 119 204 349

75 450 96,7 76 112 194 334

60 300 81,8 72 107 187 322

50 150 63,3 69 103 180 314

30 150 58,2 61 92 165 291

15 150 51,6 51 79 145 259

5 150 42,1 39 61 118 213

3 90 30,3 35 54 106 193

1 90 24,0 27 42 83 154

0,3 60 15,3 20 32 64 116

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OBS:

1) Para OS utilizou-se a freq.=1070kHz e Campo Característico de 310 mV/m para todos os valores de potência.

2) Para propagação por OE, utilizou-se o canal 201 que apresenta melhor propagação. O raio de cobertura foi obtido pelas Curvas da Recomendação 1546 adotadas pelo Regulamento Técnico para Emissoras do Serviço de Radiodifusão Sonora em Freqüência Modulada, as quais resultam raios ligeiramente superiores aos obtidos pelas curvas FCC (50,50).

COMENTÁRIOS:

1) Condutividade do solo menor do que 3 mS/m – A propagação por OS tem desempenho semelhante ao por OE, contudo, sem se levar em consideração o perfil do terreno.

2) Condutividade igual ou superior a 3 mS/m – A propagação por OS passa a ter um desempenho muito superior àquele obtido pela OE, prin-cipalmente para solo com condutividade de 10mS/m e 30 mS/m.

3) Tendo em vista que 87,6 % das emissoras AM possuem potência diurna igual ou inferior a 10 kW, e potência noturna igual ou inferior a 0,25 kW, verifica-se, novamente, que a OS apresenta melhor performance para cobertura da área rural para o perfil das emissoras AM.

3.2 PREDIÇÃO DE COBERTURA URBANA E RURAL CONSIDERANDO O PERFIL DO TERRENO

Em complementação aos exercícios anteriores, nessa etapa, procurou-se avaliar alguns casos de cobertura urbana e rural proporcionada pela propagação por OS e por OE, considerando-se agora o perfil do terreno. Os cálculos foram realizados utilizando-se do programa computacional de Análise de Interferências utilizado pela Agência – Versão 1.1, que emprega os critérios do Regulamento Técnico para Emissoras do Serviço de Radiodifusão Sonora em Freqüência Modulada. (23)

Os cálculos empregam o método ponto a ponto para predição das man-chas de cobertura que identificam os pontos nos quais a intensidade de campo é igual ou superior a 66 dBµ (2 mV/m), que define a cobertura

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urbana, e intensidade de campo superior a 54 dBµ (0,5 mV/m) e inferior a 66 dBµ, que define a cobertura rural.

O método de cálculo ponto a ponto considera todos os obstáculos como gume-de-faca e arredonda o obstáculo principal (difração por múltiplos obstruções e coeficiente K da curvatura da Terra = 4/3), e utiliza base de dados de relevo digitalizado com resolução de 33 segundos (1000 m). (25)

Apesar de ser um exercício teórico, buscou-se utilizar as mesmas coor-denadas geográficas do local de instalação, onde está concentrado o maior número de emissoras de FM instaladas na localidade considerada. Empregou-se, no programa, a configuração que assegurasse a altura máxima sobre o nível médio do terreno em cada radial, contudo, com a correspondente correção da potência ERP para que, assim, fosse respei-tada a distância máxima ao contorno protegido estabelecido no Regu-lamento Técnico de FM (23) Desta forma, buscou-se empregar exemplos que representassem as melhores condições possíveis para instalação na faixa de VHF.

Considerou-se, inicialmente, localidades que se encontram em solo com condutividade igual a 1 mS/m, pior caso para propagação por OS, e com relevo suave, melhor situação para OE.

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3.2.1 Exemplo 1 - Brasília/DF - Relevo Suave, Solo de 1mS/m

3.2.1.1 Onda Espacial - Canal 201 - Potência de 1kW/90m

Figura 3.1 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OE – Pot. 1 kW(23)

OBS:

1) As manchas na cor vermelha correspondem à intensidade de campo do sinal igual ou superior a 2 mV/m (66 dBµ), e na cor verde, à intensidade igual ou superior a 0,5 mV/m, levando-se em consideração o relevo da região.

2) A emissora com 1 kW de potência atende todo o contorno protegido teórico de raio de 12,7 km, área urbana. A cobertura da área urbana ocorre de forma homogênea, já a rural se dá de forma esparsa.

COMENTÁRIOS:

1) A emissora com 1 kW de potência atende todo o contorno prote-gido teórico de 12,7 km de raio, a irradiação é praticamente homogênea. Percebe-se que a potência de 1 kW permite a cobertura de pontos fora do contorno protegido teórico, contudo, região sem direito à proteção contra interferências.

2) O perfil do terreno não permite uma cobertura homogênea da área rural, sobretudo no setor de 0º a 180º em relação ao norte verdadeiro,

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conforme indica as manchas na cor verde, de intensidade de campo igual ou superior a 0,5 mV/m.

3.2.1.2 Onda Superfície – Freq. 1070 kHz - Potência de 1kW

Figura 3.2 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OS – Pot. 1 kW,

solo 1 mS/m(8)

COMENTÁRIOS:

1) A operação da emissora com 1 kW de potência em região de solo com condutividade igual a 1 mS/m possibilita uma cobertura urbana também homogênea e raio do contorno protegido de 13 km, próximo daquele obtido pela OE.

2) Quanto à cobertura rural, a OS apresenta melhor penetração do que a OE, pois atende localidades não cobertas adequadamente pela OE, por exemplo, Sobradinho/DF, à nordeste do Plano Piloto (na direção de 45°).

57

3.2.1.3 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 5kW/150m

Figura 3.3 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OE – Pot. 5 kW(23)

COMENTÁRIOS:

1) A emissora operando com 5 kW de potência ERP aumenta seu con-torno protegido, de 12,7 km para 23,8 km, todavia, o perfil, mesmo suave, não permite uma irradiação e cobertura homogênea. Percebe-se que o aumento da potência, de 1 kW para 5 kW, e do raio do contorno protegido, de 12,7 km para 23,8 km, fez surgir novas áreas de sombra.

2) O perfil do terreno não permite boa penetração do sinal para cober-tura da área rural. Note-se, ainda, que as manchas verdes são esparsas e praticamente coincidentes com as manchas vermelhas, o que indica um atendimento praticamente restrito à área urbana.

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3.2.1.4 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 5kW

Figura 3.4 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OS – Pot. 5 kW -

Solo 1 mS/m(8)

COMENTÁRIOS:

1) O aumento da potência para 5 kW mantém a cobertura homogênea e sem o surgimento de áreas de sombra. Entretanto, para condutividade de 1 mS/m o contorno protegido, na cor vermelha, é menor do que aquele obtido pela OE, circunferência na cor preta.

2) A propagação por OS possibilita uma irradiação uniforme, sinal com penetração homogênea e melhor cobertura da área rural do que a pro-pagação por OE.

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3.2.1.5 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 30 kW/150m

Figura 3.5 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OE – Pot. 30 kW(23)

COMENTÁRIOS:

1) A emissora operando agora com 30 kW de potência ERP continua não atendendo todo o novo contorno protegido teórico, assim como surgiram novas áreas de sombra. A cobertura da área urbana se dá de forma precária.

2) A cobertura da área rural apresenta um quadro pior e com manchas ainda mais esparsas.

3) A emissora, mesmo com a potência ERP de 30 kW, não resolve o pro-blema de áreas de sombra existentes anteriormente com a potência de 5 kW. O aumento de potência não soluciona o problema, assim como faz surgir novas áreas dentro do contorno protegido.

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3.2.1.6 Onda superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 30 kW

Figura 3.6 Cobertura de Brasília/DF - propagação por OS – Pot. 30 kW – Solo 1 mS/m(8)

COMENTÁRIOS:

1) O aumento da potência para 30 kW oferece um conseqüente aumento do raio do contorno protegido. Deste modo, as áreas anteriormente aten-didas passam a usufruir de um sinal com maior intensidade de campo e novas áreas são inseridas ao novo contorno protegido. O contorno pro-tegido para condutividade de 1 mS/m, identificado na cor vermelha, é ligeiramente inferior àquele obtido pela OE, circunferência na cor preta.

2) A propagação por OS permite um atendimento uniforme e uma cober-tura mais abrangente do que a propagação por OE.

3) Percebe-se que em relevo suave e de baixa condutividade do solo, 1 mS/m, a propagação por OS e por OE apresentam semelhanças em ter-mos de raio do contorno protegido. Todavia, a OS oferece uma cobertura homogênea e melhor atendimento das áreas urbana e rural.

61

3.2.2 Exemplo 2 – Cascavel/PR - Relevo Suave, Solo de 1mS/m

3.2.2.1 Onda Espacial – Canal 201 - Potência de 1kW/90m

Figura 3.7 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OE – Pot. 1 kW(23)

OBS: 1) As manchas na cor vermelha correspondem à intensidade de campo do sinal igual ou superior a 2 mV/m (66 dBµ), e na cor verde, igual ou superior a 0,5 mV/m, levando-se em consideração o relevo da região.

COMENTÁRIO:

A emissora com potência ERP de 1 kW não atende todo o contorno pro-tegido teórico, em virtude do perfil, mesmo suave, impedir tal intuito. A cobertura tanto da área urbana como rural ocorre de forma esparsa.

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3.2.2.2 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 1kW

Figura 3.8 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OS – Pot. 1 kW – Solo 1 mS/m(8)

COMENTÁRIOS:

1) Novamente, observa-se que a propagação por OS permite uma cober-tura mais homogênea e com abrangência (raio do contorno protegido), em solo de condutividade igual a 1 mS/m e operação com potência de

1 kW, próxima daquela obtida pela OE.

2) A área rural é melhor atendida pela OS. Verifica-se que algumas loca-lidades não cobertas adequadamente pela OE, por exemplo, Corbélia/PR, é atendida pela OS.

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3.2.2.3 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 5kW/150m

Figura 3.9 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OE – Pot. 5 kW(23)

COMENTÁRIOS:

1) A emissora com potência ERP de 5 kW não atende todo o novo con-torno protegido teórico, o perfil, mesmo suave e com possibilidade de irradiação uniforme em todas as direções, impede esse propósito. A cobertura tanto da área urbana como rural se dá de forma esparsa.

2) A emissora, mesmo com o aumento da potência, não consegue aten-der áreas do contorno protegido não cobertas com a potência de 1 kW, por exemplo, o setor de 90º (NV) e 180° (NV).

3) No caso da propagação por OE, o aumento de potência não resolve o problema de áreas de sombra.

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3.2.2.4 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 5kW

Figura 3.10 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OS – Pot. 5 kW – Solo 1

mS/m(8)

COMENTÁRIOS:

1) No caso da OS, o aumento da potência para 5 kW continua oferecendo uma cobertura homogênea e sem surgimento de áreas de sombra. Em solo de condutividade igual a 1 mS/m, o contorno protegido, na cor vermelha, é menor do que aquele obtido por OE, identificado na circun-ferência de cor preta.

2) A propagação por OS apresenta melhor desempenho, principalmente, para atendimento da área rural do que a OE.

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3.2.2.5 Onda Espacial – Canal 201 – Potência de 30 kW/150m

Figura 3.11 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OE – Pot. 30 kW(23)

COMENTÁRIOS:

1) A operação com potência ERP de 30 kW, não permite à emissora atender todo o novo contorno protegido teórico de 34,8 km de raio. A cobertura da área urbana e rural se dá de forma esparsa.

2) Mesmo com potência de 30 kW, a emissora não consegue atender determinadas áreas do contorno protegido, áreas igualmente desatendi-das com a potência de 5 kW.

3) Novamente, o aumento de potência não resolveu o problema de áreas de sombra.

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3.2.2.6 Onda Superficie – Freq. 1070kHz - Potência de 30 kW

Figura 3.12 Cobertura de Cascavel/PR - propagação por OS – Pot. 30 kW, solo 1 mS/m(8)

COMENTÁRIOS:

1) O aumento da potência para 30 kW oferece acréscimo para o raio do contorno protegido. Desta maneira, as localidades anteriormente aten-didas passam a ter melhor sinal e novas localidades são inseridas ao novo contorno protegido. Para condutividade de 1 mS/m, o contorno protegido, na cor vermelha, é ligeiramente menor do que aquele obtido por OE, circunferência na cor preta.

2) Apresenta cobertura rural em melhores condições do que por OE.

3) Percebe-se que em relevo suave e de baixa condutividade do solo, 1 mS/m, a propagação por OS e por OE apresentam semelhanças em termos de alcance do raio do contorno protegido. A diferença ocorre na distribuição homogênea do sinal quando se leva em consideração o perfil do terreno.

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3.2.3 Exemplo 3 – Ribeirão Preto/SP – Relevo acidentado e solo de 3mS/m

3.2.3.1 Onda Espacial – Canal 201 - Potência de 5 kW/150m

Figura 3.13 Cobertura de Ribeirão Preto/SP - propagação por OE – Pot. 5 kW(23)

COMENTÁRIO:

Assim como já observado, a emissora com 5 kW de potência ERP não consegue atender todo o contorno protegido teórico, assim como a cobertura das áreas urbana e rural se dá de forma esparsa.

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3.2.3.2 Onda Superfície – Freq. 1070kHz - Potência de 5kW, Solo de 3mS/m

Figura 3.14 Cobertura de Ribeirão Preto/SP - propagação por OS – Pot. 5 kW , solo 3 mS/m(8)

COMENTÁRIOS:

1) Quando se trata de solo com condutividade igual ou superior a 3 mS/m, que é o caso presente, a OS passa a oferecer maior raio do contorno protegido e melhor cobertura da área urbana e rural. O contorno prote-gido, na cor vermelha, é maior do que aquele obtido por OE, identificado na circunferência de cor preta.

2) A OS permite maior e melhor penetração do sinal, principalmente, na área rural.

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3.2.3.3 Conclusões Acerca da Cobertura por Onda de Superfície e por Onda Espacial

1) Condutividade do solo menor do que 3 mS/m e relevo suave: para o mesmo valor de potência, a onda de superfície apresenta boa penetração do sinal e raio para o contorno protegido menor do que aquele obtido pela propagação por onda espacial. O relevo mesmo suave impõe uma distribuição não homogênea do sinal por onda espacial.

2) Condutividade do solo menor do que 3 mS/m e relevo acidentado: a onda de superfície apresenta menor raio para o contorno protegido do que aquele obtido pela propagação por onda espacial. O relevo aciden-tado impõe severas restrições à distribuição do sinal por onda espacial, a cobertura se dá de forma muito esparsa e há formação de zonas de sombra.

3) Condutividade maior do que 3 mS/m e relevo suave: a onda de super-fície apresenta raio do contorno protegido maior do que aquele obtido pela propagação por onda espacial. O relevo mesmo suave não permite uma distribuição uniforme do sinal irradiado, o que resulta em uma cobertura esparsa para onda espacial.

4) Condutividade maior do que 3 mS/m e relevo acidentado: a onda de superfície apresenta raio do contorno protegido maior do que aquele obtido pela propagação por onda espacial. O relevo acidentado impõe severas restrições à distribuição do sinal por onda espacial, a cobertura ocorre de forma não homogênea e muito esparsa, há a formação de diversas áreas de sombra.

5) O solo de condutividade menor do que 3 mS/m oferece limitações à propagação por onda de superfície, assim como o relevo acidentado à propagação por onda espacial. Contudo, as restrições impostas à onda de superfície podem ser solucionadas com o aumento de potência, o que não se verifica para a propagação por onda espacial. Em solo de condutividade maior do que 3 mS/m, a onda de superfície apresenta per-formance muito superior à onda espacial. A onda de superfície permite maior penetração do sinal, principalmente, nas áreas rurais, não forma áreas de sombra, o aumento de potência certamente resulta em maior

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raio do contorno protegido e cobertura de novas áreas não atingidas anteriormente com a operação da emissora com menor potência.

6) Vale advertir que existem dúvidas acerca do mapa de condutividade do solo brasileiro, o qual, em algumas regiões, pode indicar valores de condutividade do solo não verificados na prática, valores que podem variar para mais ou para menos. Assim, não se pode afirmar com total segurança que em todo o território nacional a onda de superfície oferece melhor cobertura do que a onda espacial, pois a condutividade do solo é fundamental para essa afirmação.

3.2.4 Mapa de Condutividade do Solo Brasileiro

Os exercícios indicaram a importância da condutividade do solo brasi-leiro para uma maior penetração da rádio AM. Conforme mencionado anteriormente, a condutividade equivalente do solo brasileiro foi apro-ximada para 5 valores diferentes: 1 mS/m, 3 mS/m, 10 mS/m, 30 mS/m e 5000 mS/m (esta última refere-se à condutividade do mar).

Os cálculos indicaram que no solo com condutividade igual a 1 mS/m a onda de superfície tem raio do contorno protegido semelhante ao obtido pela propagação por onda espacial, e que, para condutividade igual ou superior a 3 mS/m, o desempenho da propagação por onda de superfí-cie passa a ser muito superior ao da onda espacial. Assim, procurou-se destacar, na cor amarela, no mapa de condutividade do solo brasileiro, as regiões que apresentam condutividade igual a 1 mS/m, para as quais, não se levando em consideração o relevo do terreno, o contorno prote-gido obtido pela propagação por onda de superfície assemelha-se àquele obtido pela onda espacial, regiões nas quais não haveria superioridade significativa da onda de superfície.

As demais regiões, cujo valor de condutividade é igual ou superior a 3mS/m, a propagação por onda de superfície apresenta desempenho muito superior ao obtido pela onda espacial.

Com base na Tabela 2.3 do Capítulo 2, verificou-se também a porcen-tagem de emissoras em operação na região considerada e que prova-velmente são favorecidas com a melhor cobertura proporcionada pela

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condutividade do solo igual ou superior a 3mS/m, e para as quais, a pro-pagação por onda de superfície é extremamente relevante para a maior cobertura.

3.2.5 Região Norte

Tabela 3.4 Porcentagem de rádio AM na Região Norte(7)

Região Emissoras População

Número % Estimativa para 1/7/2005 %

Norte 115 6,8 14.698.878 8,0

Figura 3.15 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Norte (8)

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3.2.6 Região Nordeste

Tabela 3.5 Porcentagem de rádio AM na Região Nordeste(7)

Região Emissoras População

Número % Estimativa para 1/7/2005 %

Nordeste 422 24,7 51.019.091 27,7

Figura 3.16 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Nordeste(8)

73

3.2.7 Região Centro-Oeste

Tabela 3.6 Porcentagem de rádio AM na Região Centro-Oeste(7)

Região Emissoras População

Número % Estimativa para 1/7/2005 %

Centro-Oeste

172 10,0 13.020.767 7,1

Figura 3.17 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Centro-Oeste (8)

74

3.2.8 Região Sudeste

Tabela 3.7 Porcentagem de rádio AM na Região Sudeste (7)

Região Emissoras População

Número % Estimativa para 1/7/2005 %

Sudeste 536 31,4 78.472.017 42,6

Figura 3.18 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Sudeste (8)

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3.2.9 Região Sul

Tabela 3.8 Porcentagem de rádio AM na Região Sul(7)

Região Emissoras População

Número % Estimativa para 1/7/2005 %

Sul 462 27,1 26.973.511 14,6

Figura 3.19 Solo de condutividade igual a 1 mS/m na Região Sul(8)

76

3.3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA OPERAÇÃO NOTURNA DA RÁDIO AM

À noite, a rádio AM tem restrições de cobertura provocadas pela propa-gação por onda ionosférica que sujeita 87,6 % das emissoras a operar com potência igual ou inferior a 1 kW. Em conseqüência, a cobertura noturna é reduzida, restringindo-se apenas à área urbana da cidade para a maioria das emissoras.

De acordo com o Regulamento Técnico(8), apenas as emissoras classifi-cadas como classe “A”, que possuem potência superior a 50 kW, aprovada no PBOM, estão protegidas contra interferências em sua área de serviço delimitada pela onda ionosférica durante 50% do tempo.

As demais emissoras, nas classes “B” e “C”, estão protegidas, no período noturno, somente em sua área de serviço delimitada pela onda de super-fície. Assim, já convivem com essa restrição há muitos anos sem atribuir a esse fato o ponto nefrálgico da prestação do serviço. Sabe-se que após as 18h há o predomínio da televisão que consolidou seu lugar de líder de audiência principalmente no “horário nobre” entre 20h e 22h. Ante esse quadro, acredita-se não haver maiores pretensões da maior parte das rádios AM na busca de audiência no período noturno, o que, inclusive, justificaria a redução de potência para diminuir o consumo e gastos com energia elétrica.

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CONCLUSÕES

A modulação em amplitude, por ser mais sensível ao ruído, impõe sérias restrições à qualidade do áudio da rádio AM. A baixa audiência, a pequena participação no bolo publicitário e uma concorrência cada vez mais acirrada nos meios de comunicação projetam um futuro pouco promissor para a rádio AM analógica.

A digitalização surge como uma alternativa de solução para o problema da modulação. Se os testes em curso confirmarem essa propriedade, a transmissão digital passa a ser de extrema relevância para a rádio AM. Ainda, se a transmissão simultânea analógico-digital não implicar perda significativa da atual área de serviço, a digitalização na mesma freqüên-cia torna-se imperativa, pois reúne uma transição economicamente viá-vel, a manutenção da audiência e de receita e, sobretudo, o diferencial da cobertura por meio da onda de superfície.

Observou-se que, mesmo em solo de condutividade menor do que 3 mS/m, a onda de superfície apresenta boa penetração do sinal e raio do contorno protegido próximo daquele obtido pela propagação por onda espacial, todavia, mesmo em relevo suave, este último modo de propa-gação apresenta uma distribuição não homogênea do sinal.

E, ainda, quando se trata de solo de condutividade menor do que 3 mS/m e relevo acidentado, a onda de superfície propicia melhor cobertura, pois o relevo acidentado impõe sérias restrições à distribuição do sinal propagado por onda espacial, o que resulta em uma cobertura esparsa e na formação de zonas de sombra.

A situação passa a ser mais favorável para onda de superfície quando o solo é de condutividade igual ou superior a 3 mS/m. A onda de superfí-cie passa a apresentar maior raio do contorno protegido do que aquele obtido por meio da propagação por onda espacial. Mesmo em relevo suave, a onda espacial não permite uma distribuição uniforme do sinal, o que implica uma cobertura esparsa.

A propagação por onda de superfície passa a propiciar melhor cobertura ainda quando se trata de solo com condutividade igual ou superior a 3 mS/m e o relevo é acidentado. Nessa situação, o raio do contorno

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protegido é superior àquele obtido pela propagação por onda espacial, e, além disso, o relevo acidentado impõe sérias limitações à distribuição do sinal por onda espacial de forma que a cobertura é não homogênea, extremamente esparsa e com formação de diversas áreas de sombra.

Verificou-se, ainda, que o solo de condutividade menor do que 3 mS/m oferece restrições à propagação por onda de superfície, assim como o relevo acidentado à propagação por onda espacial, contudo, as restrições impostas pela condutividade do solo ao primeiro modo de propagação podem ser solucionadas com o aumento de potência, alternativa que não soluciona o problema de áreas de sombra provocadas pelo relevo acidentado quando a propagação é por meio da onda espacial.

Em solo de condutividade igual ou superior a 3 mS/m, a onda de super-fície passa a apresentar maior penetração do sinal do que a propagação por onda espacial, principalmente nas áreas mais distantes e rurais. Não provoca áreas de sombra, assim como o aumento de potência resulta em maior área de cobertura, com distribuição homogênea do sinal, o que permite a cobertura de novas áreas, anteriormente não atingidas com o uso de potência menor de operação.

De acordo com o mapa de condutividade do solo brasileiro, somente na Região Norte predomina o solo de condutividade igual a 1 mS/m, portanto, performance moderada da propagação por onda de superfí-cie, destaca-se apenas a melhor penetração do sinal. As demais regiões possuem diversas áreas com solo de condutividade igual ou superior a 3 mS/m, o que propicia uma eficiente cobertura por meio da propaga-ção por onda de superfície. De modo especial, observa-se que o solo da Região Sul oferece tais propriedades, de modo que as emissoras desta região usufruem toda a vantagem da onda de superfície.

De certa forma, as emissoras na faixa de onda média, por necessitarem de terrenos de grandes dimensões para acomodar seu sistema irradiante, encontram-se, na maioria das vezes, instaladas fora da área urbana das cidades. Em conseqüência disso e do maior ruído urbano, acabam ofe-recendo melhor serviço e, portanto, se destacando nas áreas rurais e localidades circunvizinhas.

O Brasil, de dimensões continentais, oferece as mais diversas oportuni-dades para a exploração dos serviços de radiodifusão. Não fosse assim, a rádio AM com todas as dificuldades advindas da transmissão analógica

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não teria resistido todos esses anos. As oportunidades, porém, desafiam a criatividade, a melhoria da qualidade, a diversidade de programação e, porque não, a utilização do modo de transmissão que melhor atenda seu nicho de mercado.

A transmissão digital na faixa de onda média apresenta-se como uma alternativa ímpar e de extrema relevância para o radiodifusor AM, que poderá manter o atendimento de seu público alvo. No entanto, o desem-penho do digital no modo simulcast necessita de confirmação nos testes práticos, pois, além das expectativas quanto à sua performance, existem dúvidas quanto ao real valor da condutividade do solo brasileiro, ques-tão que é preponderante para a maior penetração da onda de superfície.

Adicionalmente, sabe-se que a digitalização da rádio AM exige ainda outras considerações técnicas e econômicas não abordadas no trabalho. No entanto, trata-se de um momento crucial que pode significar a revi-talização ou não desse veículo de comunicação.

Vale destacar que as dúvidas acerca da real condutividade do solo brasi-leiro, principalmente nos grandes centros, onde a urbanização tem efeito prejudicial para o sinal da rádio AM, levantam a questão da necessidade de se realizar estudos de procedimentos de medidas adequados às con-dições brasileiras e que permitam melhor conhecimento da verdadeira condutividade do solo do nosso País.

Outra questão relevante e que poderia agregar valor ao presente traba-lho, refere-se ao estudo do ruído proveniente dos aglomerados residen-ciais e industriais, que se estende desde as mais baixas freqüências até cerca de 1 GHz e sua intensidade decresce com o aumento da freqüência, alcançando valores ponderáveis na faixa de onda média.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) BIOZOTTI, Paulo Daniel. A História do Rádio. São Paulo: Rede Inte-grada de Comunicação, [s.d]. Disponível em: <http://www.rederic.com.br/Telas/historia.htm>. Acesso em: 15/01/2006.

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(3) PINTO, Edgard Roquete. Edgar Roquete Pinto, Pioneiro do Radio, fala sobre a primeira transmissão no Brasil. In: A era de ouro do radio no Brasil: Gravações dos anos dourados do radio brasileiro - Especiais e Depoimentos. Disponível em: <http://www.locutor.info/audioEradeOuro.html>. Acesso em 23/1/2006.

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(5) INTERNATIONAL Telecomunication Union. Disponível em: <http://www.uit.org>. Acesso em: 02 fev. 2006.

(6) UIT-R. Recomendación UIT-R BS.1514-1: Sistema para radiodifu-sión sonora digital en las bandas de radiodifusión por debajo de 30 MHz. (Cuestión UIT-R 217/10)

(7) ANATEL. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br>. Acesso em: 15 jan. 2006.

(7) IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2006.

(8) BRASIL. Ministério das Comunicações. Resolução n.°116/1999, de 25 de março de 1999. Regulamento Técnico para Prestação do Serviço de Radiodifusão Sonora em Onda Média e em Onda Tropical (faixa 120 m). Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 mar. 1999.

(9) REIS, Clovis. A evolução histórica da publicidade radiofônica no Brasil (1922-1990). In: ENCONTRO NACIONAL DA REDE ALFREDO DE CARVALHO, 2., 2004, Florianópolis. Disponível em: <http://www.jorna-

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lismo.ufsc.br/redealcar/cd/grupos%20de%20trabalho%20de%20historia%20da%20midia/historia%20publicidade%20e%20propaganda/CLOVI-SALCAR.doc>. Acesso em: 23 jan. 2005.

(10) SOUZA, Gilberto. A extinção do Rádio AM: Os resultados de março de 2004. Radio Agencia. Disponível em: < http://www.radioagencia.com.br/noticia.php?noticia=2808&categoria=3>. Acesso em: 01 mar. 2004.

(11) ALMANAQUE IBOPE. Disponível em: <http://www.almanaqueibope.com.br>. Acesso em: 23 jan. 2006.

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(13) TEIXEIRA JR., Sérgio. Podcasting: Mudanças na radiodifusão sonora? Exame, 22 jun. 2005.

(13) MÜZELL, Rodrigo. Um iPoderoso objeto de desejo: Aparelho digital que toca música e cabe dentro do bolso vira febre. Zero Hora, Rio Grande do Sul, 16 out. 2005.

(14) UIT-R. Recommentation ITU-R BS.1114-3: Systems for Terrestrial Digital Sound Broadcasting to Vehicular, Portable and Fixed Receivers in the Frequency Range 30-3000 MHz. International Telecommunications Union, Radiocommunications Sector, 1994-2002.

(15) UIT-R. Recomendación UIT-R BS.1514-1: Sistema para radiodifu-sión sonora digital en las bandas de radiodifusión por debajo de 30 MHz. (Cuestión UIT-R 217/10)

(16)FEDERAL Communications Commission – FCC. Disponível em: <http://www.fcc.gov.>. Acesso em 19 jan. 2006.

(17) IBIQUITY Digital Corporation. Disponível em: <http://www.ibiquity.com . Acesso em: 10 jan. 2006

(18) UIT-R. Recomendación UIT-R BS.1615: Parâmetros de planifica-tión para la radiodifusión sonora digital em frecuencias inferiores a 30 MHz.

(19) DIGITAL Radio Mondiale. Disponível em: <http://www.drm.org.> Acesso em: 10 jan. 2006.

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(19) GERMANI, Higino. Rádio Digital: uma outra opção não seria pos-sível?. Sulrádio Consultoria de Radiofusão, fev. 2005. Disponível em: <http://www.sulradio.com.br/destaque_radio_digital_higino.asp>. Acesso em: 12 jan. 2006.

(20) FORUM Nacional pela Democratização da Comunicação. Rádio Digital: a um passo da democracia nas ondas sonoras. Observatório da Imprensa, v. 12, n.341, 09 ago. 2005. Disponível em: < http://observato-rio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=341IPB002> . Acesso em: 12 jan. 2006.

(21) CHIARA, Márcia de. Rádio mantém espaço e mercado cativo no País: Aparelho nem consta das estatísticas, mas vendas anuais chegam a 1 milhão. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 19 set. 2004. Caderno Economia.

(22) BRASIL. Ministério das Comunicações. Resolução n.º 11/66, de julho de 1967. NTC Cálculo das Intensidades de Campo e das Interferências entre Emissoras de Radiodifusão de Ondas Médias, Brasília, DF, 1967.

(22) BRASIL. Ministério das Comunicações. Normas Técnicas para Emissoras de Radiodifusão Sonora em Ondas Médias (Portaria MC n.º 1.048, de 10/9/1976). Brasília, DF, 1976.

(23) BRASIL. Resolução nº 67, de 12 de janeiro de 1998. Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em Freqüência Modu-lada. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Poder Execu-tivo, Brasília, DF, 13 nov. 1998.

(24) UIT-R Recommendation ITU-R P.1546: Method for point-to-area predictions for terrestrial services in the frequency range 30 to 30000 MHz, 2001.

(25) ASSIS, M.S. A Simplified solution to the problem of multiple diffrac-tion over rounded obstacles. IEEE Transactions on Antennas and Pro-pation, v. 19, mar. 1971. p. 292.

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ANEXO A – artigos pertinentes ao tema tratado

NOTÍCIA Nº 1

A extinção do Rádio AM – por Gilberto Souza

A extinção do Rádio AM – Os resultados de março de 2004

Uma das teorias mais recentes, e aceitáveis, para o desaparecimento dos dinossauros, diz que um imenso meteoro chocou-se com o planeta Terra há bilhões de anos. Devido à explosão, uma gigantesca nuvem matou as plantas e os bichinhos morreram todos de fome, sufocados, desorienta-dos. Pobrezinhos! É a vida. Graças a isso, nós mamíferos estamos aqui, podendo escrever o resto da história.

Ainda não houve colisão, mas um grande meteoro está por chegar às emissoras de AM de São Paulo e, por extensão, de todo o Brasil. Sim, a freqüência de AM, que nos ensinou a todos a amar o rádio, está com seus dias contados. Com apenas 16% do total de ouvintes do rádio (474.375 ouvintes), o AM tem audiência inferior à soma das três emissoras de FM com maior audiência (Tupi, Transcontinental e Band).*

Problema maior que a pouca audiência, que vem caindo ano a ano, é a idade avançada dos ouvintes de AM. Das 24 primeiras colocadas, apenas 5 emissoras não têm a maioria de seu público (>= 50%) acima de 50 anos. Todas, porém, têm mais de 60% de seus ouvintes com idade superior a 40 anos. A ausência de ouvintes entre 15 e 29 anos indica que a freqüência não se renova. A sobrevivência do AM depende da própria sobrevida de quem o ouve.

As emissoras jornalísticas contam com boa concentração de ouvintes nas classes A e B (acima de 60%). Na média, o AM tem predomínio C, D e E. Embora seja forte e convincente, o argumento das emissoras deste gênero de possuírem o target ideal para revendas de automóveis, bancos e tantos outros produtos e serviços, tem de ser aproveitado logo, pois a transferência de público para o FM dá-se em passos largos.

Primeira a mudar-se para o FM, a CBN vê sua audiência em freqüência modulada (FM) ser duas vezes maior que a sua em amplitude modulada

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(AM). O perfil da CBN no FM (por convenção, tratamos AM e FM como termos masculinos, embora sejam abreviaturas de expressões femininas) é também mais jovem: 34% de seus ouvintes têm entre 20 e 39 anos. No AM, apenas 12% estão nesta faixa etária. Estranha à primeira vista, a entrada do sisudo Jornal da Manhã na adolescente Jovem Pan 2 pro-vocou efeito inverso ao que muitos poderiam esperar: a audiência do horário subiu.

No caso da Jovem Pan 2, a troca do público muito jovem por um mais adulto trouxe ainda a vantagem de envelhecer um pouco o perfil médio da emissora, o que deve estar ajudando o seu departamento comercial. A Rádio Bandeirantes, tradicionalíssima nas ondas de AM tenta, nos 90,9 MHz, encontrar ela também seu espaço no FM.

Repórteres competentes, comentários profundos, plástica de ótima qua-lidade. As emissoras citadas são todas excelentes. Rivalizam com as tele-visões abertas e substituem os melhores jornais da capital para os que têm pouco ou nenhum tempo para se informar. O problema do AM não é a sua produção, que segue em alto nível ao longo dos anos, mas a pés-sima qualidade de sua transmissão. É praticamente impossível sintonizar emissoras de AM nos carros. Jamais se ouviu uma emissora desta fre-qüência sintonizada em lojas ou escritórios. Restrito aos domicílios, em poucos anos, o ouvinte típico dos programas jornalísticos de AM usará pijama de seda, apoiado em bengala com suporte de madrepérola.

Quanto aos outros formatos do AM, restarão num canto de nossa memó-ria as vozes marcantes daqueles velhos comunicadores. O caipira que nos acordava com um canto de galo e um balde de água fria. O senhor que opinava sobre tudo. As rezas que curavam todos os males.

Sentiremos saudades de todos os que nos fizeram amar tanto o rádio.

Até a próxima!

* fonte: IBOPE – Grande São Paulo, março/2004, segunda a sexta, 6h00às19h00

Gilberto Souza é diretor da AB 25+ Pesquisas e Estratégias de Mídia, empresa especializada na área de pesquisa de rádio.

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NOTÍCIA Nº 2

Mudanças no Rádio (1960-1980) - Nas décadas de 1960 e 1970, a televisão se popularizou, reduzindo a influencia, a audiência e uma fatia significativa do bolo publicitário do rádio.

Informação: Caros Ouvintes - 31/08/2005

Por Clóvis Reis

A quota de participação do rádio nos investimentos publicitários baixou dos 23,6% registrados em 1958 para 13,2% em 1970, enquanto a televi-são subiu de 24,7% para 39,6% no mesmo período (ORTRIWANO, 1985, p. 66). A perda de espaço provocou uma reação do rádio.

Em geral, as emissoras abandonaram as produções artísticas de grandes orçamentos e ingressaram no formato de música e informação. Sem des-frutar da mesma importância nos lares, a alternativa para o rádio foi a audiência nos carros e na rua, beneficiada com o desenvolvimento das indústrias de transistores e de automóveis.

Simões (1990, p. 192) afirma que os anos 1960 foram o momento mais delicado para a sobrevivência econômica do rádio, porque não se altera-ram as tendências nos investimentos publicitários. Ampliou-se a vanta-gem da televisão no ranking dos meios e as emissoras de rádio custavam a vencer as dificuldades.

Para agravar ainda mais a situação, o país entrou em uma fase de estag-nação econômica e de grandes problemas políticos. Esta foi a etapa da propaganda ideológica e o rádio, a exemplo dos outros meios, difundia mensagens de apoio ao governo federal, enfatizando suas realizações administrativas.(PINHO, 1998, p. 32)

Em 27 de agosto de 1962, o governo implantou o Código Brasileiro de Telecomunicações e fixou em 25% da programação diária o tempo máximo permitido para a difusão de publicidade no rádio e na televisão. Apesar das diversas atualizações da legislação, este índice continua em vigor até hoje. Outro fato importante do período foi a inauguração da TV Globo, em 1965, que rapidamente se consolidou como uma organização de grande prestígio.

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Quanto ao rádio, surgiram as emissoras que transmitiam em FM e que se popularizaram na década de 70. A programação era exclusivamente musical e se constituía no acontecimento de maior impacto no negócio radiofônico desde o surgimento da televisão.

As transmissões em FM produziram uma mudança profunda na oferta programática do rádio brasileiro e também repercutiram no âmbito dos investimentos publicitários, reanimados com as vantagens da segmen-tação da audiência que proporcionava a oferta de conteúdos especiali-zados.

O setor se reorganizou e deu sinais de recuperação. Entretanto, a recon-quista do espaço no mercado se produzia mais lentamente do que era esperado e o rádio terminou os anos 70 com 8% de participação no bolo publicitário. (ORTRIWANO, 1985, p. 66)

Clóvis Reis. Doutor em Comunicação, Clóvis Reis é professor de Redação Publicitária e Produção Publicitária em Rádio no Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda da FURB - Universidade Regional de Blumenau. Além disso, é articulista do Jornal de Santa Catarina.

NOTÍCIA Nº 3

VALOR ECONÔMICO | EMPRESAS | 07/10/2004

Rádio Globo chega aos 60 com receita em alta

Heloisa Magalhães Do Rio

A Rádio Globo está completando 60 anos. O aniversário é em 2 de dezembro, mas as comemorações já começaram. Domingo, no Maracanã, no Rio, haverá música e futebol show - com time de ex-jogadores versus artistas -, mas o Sistema Globo de Rádio já vem festejando também os bons resultados do grupo. O faturamento das 13 emissoras vem subindo. Em 2003, atingiu R$ 95 milhões e este ano a expectativa é de fechar em R$ 115 milhões. A margem de geração operacional de caixa, por sua vez, deve ficar em 23% em 2004, enquanto em 2001 foi de 16,1%. Em 1998 era negativo.

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A fatia das 13 rádios no mercado publicitário subiu de 14% para 20% nos últimos cinco anos. O universo é de 3 mil emissoras em todo o país. O diretor-geral do Sistema Globo de Rádio, Rubens Campos, explica que, independentemente da chegada de novas mídias, como a internet, a população brasileira está ouvindo mais rádio. Entre 1997 e 2004, o total de ouvintes aumentou em 6%.

As emissoras atingem diferentes camadas, mas vêm conquistando um importante ouvinte, aquele que Campos classifica como o adulto jovem, na faixa superior a 18 anos, que poderia ser absorvida pela internet, mas não dispensa o rádio. “Eles querem ficar informados. O rádio atinge camadas variadas, porque é, antes de tudo, companhia. Leva notícias, esclarece, faz vibrar com o resultado do futebol. É como uma espécie de amigo.”

A Rádio Globo, presente no Rio, São Paulo e Minas Gerais, e com 15 afiliadas, nasceu no Rio e, para Campos, é um dos símbolos da cidade. Esse espírito gerou a criação do Globomóvel, que visita bairros do Rio, ouve, ajuda inclusive a tirar dúvidas variadas, consultando advogados, por exemplo. Hoje está apenas no Rio, mas Campos diz que irá chegar a São Paulo também.

A Rádio Globo atinge 2,7 milhões de fluminenses e a média de audiência por minuto é de 151 mil ouvintes. E bem diversificados: um terço é de pessoas das classes A-B, outro terço da C e a terceira parte da E. “Repro-duz bem o Brasil”, diz o diretor-geral. Ele conta que o responsável pelo pico de audiência da Rádio Globo é o programa “Momento de Fé”, com o padre Marcelo Rossi. Entre 9h e 10h da manhã, atinge uma média de 809 mil ouvintes. Mas a proposta é oferecer programação abrangente, do esporte às notícias, passando pelos comentários e discussões em torno dos temas do dia-a-dia.

No estúdio da Rádio Globo, ontem, ao meio-dia, corria debate acalorado comandado pelo radialista Loureiro Neto. O assunto era a desistência de Moreira Franco (PMDB) à disputa no segundo turno pela Prefeitura de Niterói. Notícia é o filão de sucesso e garante o destaque para a CBN, emissora que lidera em rentabilidade entre as do grupo. Responde por 45% do negócio. Campos, que assumiu o comando das rádios em 1999, conta que a CBN , sucesso de público e de publicidade, não foi reco-nhecida inicialmente pelo anunciante. A estratégia foi de montar uma

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espécie de parceria, reunindo comentaristas e anunciantes. Foi assim que nasceram os comentários bem-humorados e criativos de Artur Xexéo e Carlos Heitor Cony , os polêmicos de Arnaldo Jabor, entre outros.

NOTÍCIA Nº 4

O ESTADO DE S. PAULO | ECONOMIA | 19/09/2004

Rádio mantém espaço e mercado cativo no País.

Aparelho nem consta das estatísticas, mas vendas anuais chegam a

1 milhão

MÁRCIA DE CHIARA

Na era virtual, o velho radinho ainda tem mercado garantido ao lado de eletrônicos sofisticados, como TV de plasma e computadores que só faltam falar. Tanto é que as poucas marcas existentes têm planos para aumentar a oferta do produto e lançar novos modelos nos próximos meses. Calcula-se que são vendidos por ano cerca de 1 milhão de rádios no País, embora o item nem conste das estatísticas do setor eletroeletrô-nico. Os volumes podem parecer reduzidos se comparados à produção de TVs, que somou no ano passado 5,4 milhões de unidades. Já o mercado de computadores pessoais gira cerca 3 milhões de aparelhos por ano.

A indústria está voltando a se interessar pelo produto porque ele tem um mercado eclético e cativo: do vigilante ou freqüentador dos campos de futebol, passando pela população rural, a altos executivos. Acacio Quei-roz, de 56 anos, presidente para a América Latina da Ace Seguradora, se considera um “dinossauro do rádio”. Começa o dia escutando noticiário pelo rádio enquanto faz a barba e se prepara para ir ao trabalho. “Das 6h às 8h, quando não tem horário político, ouço rádio”, diz ele, que repete a dose após as 23h. Em seu escritório na Avenida Paulista, ele tem um rádio de mesa, que liga nos intervalos das reuniões.

Apesar de ter acesso a outros aparelhos eletrônicos, Queiroz considera o rádio mais prático, além do fato de a informação ser em tempo real.

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Ele conta que criou produtos voltados para a população de baixa renda tomando conhecimento das necessidades dessas camadas por meio do rádio. A idéia de lançar um seguro da conta de luz para quem perdeu o emprego nasceu ouvindo rádio.

As indústrias farejam um potencial maior de mercado para o produto. A Dynacom, por exemplo, se prepara para dobrar a produção atual de 15 mil rádios por mês a partir de 2005 com a expansão da fábrica de Manaus. “O rádio não morreu”, diz o gerente Comercial, Eduardo Bar-rinha. Desde 2002 no mercado, a companhia produz um modelo que pesa 164 gramas e custa R$ 28. A partir de 2005, lançará três modelos. Negocia também parcerias para fabricar rádios com a marca de clubes de futebol.

Barrinha destaca que a maior parte das vendas do produto se concentra em cidades do interior. No Estado de São Paulo, essa fatia chega a 70%. O supervisor geral da Lojas Cem, Valdemir Colleone, confirma que os maiores volumes vão para a zona rural. Na sua rede, que tem força nas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais, para cada 3 TVs vendi-dos, 1 rádio portátil é comercializado. “O rádio portátil nunca esteve fora de linha. O consumo é certo”, afirma Colleone. Empresários dizem que o principal problema do mercado é o contrabando, que deve girar volume equivalente ao do mercado formal.

Fábrica - A NKS, que importa da China 30 mil aparelhos por mês, deci-diu investir R$ 27 milhões numa fábrica em Salvador para montar rádios a partir de 2005. “Esse mercado cresce cerca de 6% ao ano”, diz o sócio da empresa, Antonio Alves. A expectativa é dobrar os volumes quando a fábrica estiver a todo vapor. Hoje a empresa trabalha com dois modelos de rádio portátil: um que pesa 80 gramas e custa R$ 19 e outro de 200 gramas, que sai por R$ 40. “Temos estudos para lançar outros mode-los.”

A Semp Toshiba é outra que se prepara para lançar um segundo modelo de rádio de mesa em 2005. A empresa, que nasceu produzindo rádio, interrompeu a linha nos anos 90 e voltou a fabricá-lo em 2002, quando a companhia completou 60 anos. Segundo o presidente do grupo, Afonso Antônio Hennel, vale a pena investir no rádio porque como o País tem dimensões continentais e a maioria da população é de baixa renda, o item tem mercado garantido.

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A Motobras produz no País sete modelos de rádio, dois portáteis e cinco de mesa, e quer lançar outros nos próximos meses. Fundada em 1993, a fábrica em Brasópolis (MG), com 160 funcionários, produz 30 mil apa-relhos por mês, dos quais 90% de portáteis. De acordo com a empresa, o mercado potencial para o produto é muito grande, mas os impostos que recaem sobre a produção limitam a expansão das vendas. Do preço médio de R$ 42 no varejo, R$ 20 se referem a impostos, informa a com-panhia.

NOTÍCIA Nº 5

CORREIO BRAZILIENSE | BRASIL | 11/10/2003 |

Pobre, porém chique

Pesquisa divulgada pelo IBGE mostra que, no país, melhoraram os índi-ces de saneamento básico, acesso à educação e a bens de consumo, como telefones e computadores. Mas a renda da população caiu

Lilian Tahan e Fabíola Góis

Da equipe do Correio

O Brasil vive duas realidades que não combinam. Na última década, o brasileiro experimentou itens básicos de conforto, tecnologia e infra-estrutura. Usa mais água tratada, tem luz elétrica em casa, fala ao celular e até acessa a Internet. As melhorias, no entanto, não ocorreram porque o salário da população aumentou. Pelo contrário, foram os bens não duráveis que ficaram mais baratos. E as políticas públicas tornaram-se mais abrangentes. Mas o brasileiro continua pobre. Os dados que mostram a contradição nas condições de vida da população brasileira estão no relatório da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2002, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE).

O levantamento revela que a maioria dos brasileiros conquistou uma vida mais digna, mesmo com os salários mais baixos. No período de 1992 a 2002, caiu pela metade o número de casas feitas de material não

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durável, como madeirite, papelão e taipa. Dentro de uma casa construída de tijolo, oito em cada dez brasileiros têm acesso à água encanada e quase todas as pessoas (96,7%) usam luz elétrica. De cada dez domicílios, pelo menos seis têm linha telefônica. Em 1992, essa proporção era de dois aparelhos para cada lar. A televisão e a geladeira também tornaram-se itens básicos e de fácil acesso. Até o celular, que há poucos anos era privilégio de empresários, tornou-se figurinha fácil nas mãos do taxista, da faxineira, do operário.

Competitividade - Especialistas em desenvolvimento humano ouvidos pelo Correio explicam que as melhorias reveladas pelo Pnad 2002 disfar-çam uma sociedade ainda muito injusta. O trabalhador teve redução de salário de 12,3% nos últimos seis anos, mas faz força para atualizar-se à vida moderna. ‘‘Os salários continuam baixos, mas o acesso a produtos não duráveis tornou-se possível em decorrência da maior competitivi-dade provocada pela abertura de mercado e pelas privatizações ocorridas na última década’’, explica Ricardo Caldas, cientista político da Univer-sidade de Brasília.

O economista e secretário de trabalho do estado de São Paulo, Márcio Pochmman, afirma que a maior parte da população brasileira paga um alto preço para viver a realidade da sociedade urbana. ‘‘Ele troca um prato de comida saudável por um cachorro-quente, mas paga a presta-ção de um celular pré-pago’’, compara o economista. Pochmman explica que na cidade, onde boa parte da população trabalha como autônoma, o acesso à comunicação rápida e ao transporte é uma necessidade tão importante quanto alimentação.

A análise de Pochmman é coerente com o crescimento do índice de residências que têm telefone celular, mas não dispõe de linha fixa. De 2001 para 2002, cresceu em 15,4% a quantidade de chefes de família que têm apenas telefone móvel. E com uma característica curiosa. De cada dez celulares — das 39 milhões de linhas habilitadas no país — apenas três são de aparelhos pós-pagos. O brasileiro troca um prato de comida saudável por um cachorro-quente, mas paga a prestação de um celular pré-pago. Márcio Pochmman, economista e secretário de trabalho do estado de São Paulo.

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Soberania do rádio mais perto do fim

Os brasileiros estão gradativamente decretando o fim da era do rádio. Pela primeira vez, o resultado de uma pesquisa apontou que o número de aparelhos de televisão superou o de rádios. De 1992 a 2002, o percentual de residências com televisores subiu de 74% para 89,9%. A explicação para essa mudança de comportamento é o fato de a TV ser um entrete-nimento barato e que atende às necessidades dos espectadores. Essa é a opinião do presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), Paulo Machado de Carvalho Neto. ‘‘A TV se expandiu porque apresenta uma programação de boa qualidade e gratuita, atualmente qualquer outro entretenimento sai caro’’, disse.

Em 1992, o percentual de casas com aparelhos de rádio atingiu seu ápice — 90,4%. Depois, entre 1996 e 1998, houve uma queda, chegando a 87,9% em 2002 — período da última pesquisa. De acordo com a pesquisa, o Rio de Janeiro é o estado que possui o maior percentual de casas com aparelhos rádio e TV — 97,7% têm televisores e 95,2% possui aparelhos de rádio. O atual desafio da Abert, que reúne representantes de cerca de 3 mil empresas de rádios e 300 de TV, é modificar alguns programas transmitidos por emissoras de televisão apontados pelo Ministério da Justiça como inadequados. É a campanha que ficou conhecida como o combate à baixaria na TV devido ao uso de imagens, expressões e até mentiras na sua programação. (RG)

NOTÍCIA Nº 6

SULRADIO – Consultoria em Radiodifusão - Fev/2005,

Eng. Higino Germani* - CREA 686-DF

Já fazem algumas décadas que ouvimos falar que o futuro do Rádio AM e FM será a digitalização. No entanto, esta espera já está por demais longa...

Os esforços concentram-se no Rádio AM e com razão : as emissoras de FM proporcionam qualidade de áudio muito boa e tem disponíveis sub-

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canais que, em sua grande maioria, ainda não foram suficientemente explorados.

Desde as primeiras pesquisas a respeito, sempre ouvimos falar em sis-temas “in band”, ou seja, ocupando o mesmo canal que as AM’s atuais. Examinemos as características deste canal :

- largura de cada canal de apenas 10 KHz : o que podemos esperar de banda tão estreita e ainda compartilhada com um sinal analógico?

- faixa de OM de 535 KHz a 1705 KHz : a relação entre a freqüência mais baixa e a mais alta é de cerca de 3 vezes, o que demonstra carac-terísticas de propagação muito diferentes entre as freqüências “baixas” e as “altas”; dependência da condutividade do solo a qual tem valores cada vez menores em função do aumento da urbanização; propagação diurna pelo solo e noturna pelo solo e pela ionosféra o que gera sinais interferentes a longas distâncias.

- sistemas de transmissão que exigem áreas de vários hectares próximas às áreas urbanas, o que se torna cada vez mais difícil.

- necessidade de potências cada vez maiores para compensar a queda de condutividade e nível de ruído elevado (característico da faixa).

- necessidade de torres irradiantes altas devido ao grande comprimento de onda o que conflita cada vez mais com a proteção dos aeródromos.

Com estas características, perguntamos : Porque insistir em sistema “in band” ?

Os ouvintes não terão que adquirir um novo receptor para ouvir os sinais digitais?

Como a resposta é obviamente afirmativa, cremos que boa parte das argumentações da opção “in band” cai por terra.

Será verdadeiramente viável que, após um certo período de transição, o sinal analógico deixará de ser transmitido, permanecendo apenas o digi-tal ? Ou será que, para cobrir deficiências da cobertura digital teremos que manter no ar permanentemente trambolhos de dezenas de quilo-watts com alto consumo de energia elétrica ?

Nos vemos em situação semelhante ao advento da máquina a vapor nas embarcações : inicialmente as instalaram em veleiros com resultados

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obviamente desastrosos; ou então com o advento do motor a combustão interna: não foi projetado um automóvel e sim instalado o motor em carruagens, no lugar dos cavalos... Estaríamos agora colocando turbinas em veleiros ou em carruagens ?!

Não será possível criarmos uma Nova Radiodifusão em todos os sentidos e não apenas inserir as técnicas digitais no Rádio existente?

Onde reside a maior dificuldade? Na faixa de operação desta Nova Radiodifusão. Em que freqüências as estações exclusivamente digitais operariam ?

Cremos que, sem querer, esta nova faixa está surgindo ao natural:

Com a criação de mais dois canais de Radio Comunitária (87,7 e 87,5 MHz) estamos “invadindo” a banda do canal 6 de TV. Já com o canal “oficial” de RadCom (88,7 MHz) o conflito com o canal 6 já existia e agora se tornou maior ainda. É de se prever que o futuro nos aponta para a extinção do canal 6 de TV.

Com isto, resulta que teremos uma maravilhosa banda de 6 MHz (de 82 a 88 MHz) e na faixa de VHF (a melhor para a radiodifusão, quer em termos de comprimento de onda quer em termos de características de propagação), à disposição para criarmos uma Nova Radiodifusão.

Podem fazer idéia de quantos canais exclusivamente digitais e o que será possível fazer nos mesmos em termos de qualidade de áudio e informa-ções suplementares (dados) numa banda de 6 MHz na faixa de 82 a 88 MHz ? É tudo os que sonham com o Rádio Digital pediram ao Criador.

Como operacionalizar isto ?

Ora, existe um Plano de Canais para TV Digital em elaboração. Certa-mente está prevista uma solução para o canal 6 (no Plano de Geração de TV no Brasil existem apenas 24 outorgas !).

Estabelecida a nova canalização de canais digitais (de 82 a 88 MHz) – deixando obviamente uma margem para os canais de RadCom – e estabelecidas as Normas Técnicas correspondentes, estes canais seriam objeto de “leilões”, primeiramente para os atuais radiodifusores que dese-jarem operar digitalmente e, posteriormente, para outros interessados.

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Parte do valor arrecadado nestes leilões seria canalizado para indenizar os custos de migração para outro canal dos atuais concessionários de TV que operam no canal 6. Com um cronograma bem estabelecido, pode-se fazer com que esta migração coincida com a implantação da TV Digital o que evitará prejuízos às empresas que operam no canal 6.

Os radiodifusores que operarem digitalmente desativarão suas estações analógicas quando julgarem que o mercado de receptores digitais já atingiu a grande maioria do público. O próprio público será beneficiado pois terá tempo de sobra para trocar de receptores (e esgotar a vida útil dos atuais).

Quanto aos receptores, não cremos que possa haver dificuldade em seu desenvolvimento e produção uma vez que a faixa de operação é de tec-nologia dominada e será equipamento exclusivamente digital sem a parte analógica. Existirá tempo mais que suficiente para o desenvolvimento deste novo receptor na área industrial paralelamente à implantação das regras para o novo serviço de tal forma que não venha a ocorrer nova-mente o desastre que foi a implantação do AM Estéreo quando havia emissoras mas não havia receptores no mercado...

Um grande debate a respeito poderia ser levado a efeito pelo Poder Con-cedente para se avaliar os prós e contras de cada opção existente para a efetiva implantação do RÁDIO DIGITAL de forma segura, viável eco-nômica e empresarialmente – e não só tecnicamente – a qual venha a contemplar o público com todos os recursos e possibilidades que a NOVA RADIODIFUSÃO nos acena.

* Higino Germani é engenheiro eletrônico e presta consultoria para empresas de radiodifusão

NOTÍCIA Nº 7

Podcasting: Mudanças na radiodifusão sonora?*

www.sulradio.com.br

Informação: QUADRANTE - RTE 27.05 (29/06/05)

Há uma nova onda na Internet, uma mistura de rádio, diários online e MP3, formando uma distribuição de áudio recebida nos computadores e transferida para os iPod e similares.

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A palavra inglesa podcast foi criada pelo americano Adam Curry, o inventor do sistema, pela composição das palavras iPod (da Apple) e de broadcasting (transmissão, difusão). Há quem veja o podcasting como uma ameaça a radiodifusão sonora, considerando-a ser a maior transfor-mação no rádio em quase 100 anos! A BBC (do Reino Unido) já experi-mentou o formato e permite que os interessados baixem o programa dos seus computadores. Também, empresas de renome, como as americanas GM, Ford, Procter & Gamble, Time Warner, a holandesa Heineken e a sueca Volvo, consideram os podcasts como um meio alternativo para publicidade.

Existem diversos sites na Internet com feição de radiodifusoras, mas os podcasts têm a vantagem de poderem ser ouvidos sem que o ouvinte esteja preso ao computador. Ademais, os conteúdos são automaticamente enviados ao computador e daí aos tocadores de MP3.

Qualquer internauta com um pouco de conhecimentos técnicos e um microfone pode criar seus podcasts e distribuí-los pela Internet.

Uma rápida comparação entre esses programas e as estações de radiodi-fusão mostra o seguinte:

Radiodifusão Podcast

Transmissão ao vivo Transmissão sob demanda

Precisa de autorização do Governo Implantação livre de autorização

Exige grande investimento de infra-estrutura

Pode ser produzida por software grátis

Alcance limitado Alcance ilimitado (via Internet)

Como qualquer novidade que surja na Internet – este tem uns seis meses – é necessário que os radiodifusores observem a sua aceitação pelo público e pelas agências de publicidade, antes de um entusiasmo maior, ou preocupação descabida.

Um Guia de Podcasting

Ouvir podcasts:

È simples. Os programas são arquivos no formato MP3. Basta baixá-los e ouvir no computador ou num tocador de MP3. Pode-se “assinar” deter-

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minadas rádios e, quando houver um novo programa, ele é transferido para o micro do interessado.

Produzir um programa de rádio:

Basta um microfone, um provedor para armazenar os podcasts e um pouco de paciência. No guia abaixo, encontram-se indicações de sof-twares e sites para encontrar e escutar podcasts ou criar uma emissora caseira de rádio.

Para encontrar:

Primeiro visita-se os sites que reúnem links para os podcasts existen-tes. A maioria é americana, mas em alguns têm divisão por país ou língua. Também é possível selecionar pelo tipo de programa (musical, de entrevistas, comentários políticos e assim por diante). Eis alguns dos principais podcasts.

Podcast Alley - fonte para programas de rádio com um excelente fórum de criadores de podcasts. Em inglês.

ipodder - um diretório completo. Permite buscar por região ou por língua. Em inglês. Procuram-se programas em português em “Languages”.

Link - do jornal O Estado de S.Paulo com uma seção destinada a listar podcasts brasileiros. Em português.

Feeds - lista podcasts brasileiros e feeds de noticiosos.

Para buscar automaticamente:

A grande vantagem do podcasting sobre as rádios online tradicionais é que programas podem ser enviados para o computador automaticamente, basta baixar um software conhecido como agregador. Nele incluem-se as que se quer acompanhar; havendo atualização nos sites o agregador busca os novos podcasts automaticamente. Os principais agregadores são gratuitos e alguns enviam os podcasts direto aos iPod.

iPodder - mais conhecido para automatizar a busca por podcasts com computadores Macintosh e sincronizar automaticamente com iPods.

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iPodder.NET- Versão para PC do iPodder; funciona integrado ao Gratuito.

Feed Demon - similar ao iPodder, mas sincroniza com out de MP3, além do iPod. Custa US$ 29,95.

Para produzir:

Gravar o próprio programa de rádio é relativamente simples. Os itens básicos são: um microfone, um programa capaz de gravar o áudio e con-vertê-lo para o formato MP3 e um servidor na Internet para armazenar e disponibilizar o podcast.

Programas de gravação:

Audacity - O gravador e editor de áudio são gratuitos. É um dos softwa-res mais utilizados para criar podcasts.

Sparks! - é um tudo-em-um. Funciona como agregador e permite a grava-ção e edição de programas. O uso desta última função custa US$ 10.

PodProducer - grava e edita programas de rádio Internet. Ainda nas versões de teste, pode apresentar defeitos. Gratuito.

Armazenagem:

Feito o programa, é preciso colocá-lo em um servidor da Internet para ser baixado por qualquer internauta. Serviço pago com muitas variações Aqui vai apenas três sugestões. Alguns servidores são especializados em facilitar a vida dos usuários.

Libsyn - um dos preferidos dos podcasters. Com pacotes específicos para armazenar programas de rádio. Os preços são mensais e em dólares.

Locaweb - O maior provedor para sites do país. Não tem um serviço especial para podcasts, mas pode abrigá-los. Os preços variam de 29 a 90 dólares por mês.

GoDaddy - oferece preços muito competitivos com interface específica para podcasters. O pacote básico custa dez dólares.

* Resumo adaptado do artigo de Sérgio Teixeira Jr., na revista Exame de 22/06/05.

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NOTÍCIA Nº 8

RÁDIO DIGITAL - A um passo da democracia nas ondas sonoras.

Informação: Observatório da Imprensa - 09/08/2005

FNDC

Reproduzido do e-Fórum nº 58 (5 a 11/8/2005), boletim de divulgação do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

Mas o passo que está para ser dado pode ser para frente ou para trás. Entrevista com o engenheiro Higino Germani mostra como o Brasil pode definir de forma açodada a transição do serviço de radiodifusão sonora, criando uma situação de fato que tende a contribuir para tornar os canais de rádio ainda mais inacessíveis a novos atores e dificultar a reestruturação desta mídia tão fundamental para a cidadania. Em pleno andamento dentro dos órgãos de governo, este debate está distante de diversos atores interessados e, ainda mais, dos cidadãos.

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciou esta semana que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) liberará em breve a implantação do rádio digital em 12 capitais brasileiras, em caráter experimental. “Nós já temos condições técnicas para fazer a rádio digi-tal funcionar”, disse o ministro, que também é proprietário de emissora de rádio. O anúncio surpreendeu as entidades e organizações ligadas à democratização da comunicação pelo fato de não ter havido, até hoje, um chamamento à discussão pública sobre como deverá se dar esta tran-sição tecnológica no Brasil.

A digitalização do serviço de radiodifusão sonora, uma realidade em poucos países do mundo, permitirá ao ouvinte de rádio receber um sinal de melhor qualidade, bem como ler textos noticiosos e ter acesso a infor-mações sobre programação e outros serviços interativos de texto. Mas, assim como se dá no caso da transição da TV aberta, existem opções econômicas, sociais e tecnológicas a serem feitas que podem resultar em um processo de desenvolvimento e implantação mais ou menos demo-crático, mais ou menos custoso, mais ou menos excludente.

Com essa realidade batendo à porta dos brasileiros, o esperado era que ocorresse um debate público sobre os novos conceitos de produção de

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conteúdos, canalização e interatividade, que são os grandes desafios na migração das tecnologias de comunicação social eletrônica. Prevale-cendo o silêncio, pode imperar a posição defendida pelo lobby de um grupo de empresas norte-americanas que quer ver o padrão In-Band On-Channel (Iboc) de rádio digital em alta definição implantado no Brasil de forma rápida. O canto da sereia [conheça as empresas que financiam este lobby mundial clicando aqui] deste conglomerado parece ter seduzido boa parte dos empresários do setor e de autoridades públicas, uma vez que o comparativo entre o Iboc e os padrões europeus (DAB e DRM) e o japonês (ISDB Tn) de rádio digital está passando ao largo das principais decisões. Ao contrário da TV Digital, onde a Anatel realizou testes de campo e de laboratório com todos os padrões existentes, no rádio a situação é outra.

Soluções alternativas para a implantação do rádio digital existem. Para apresentar algumas delas, dentro de uma perspectiva democrática, o e-Fórum entrevista nesta edição o engenheiro eletrônico Higino Ger-mani, diretor técnico da Fundação Cultural Piratini Rádio e Televisão. Nos anos 1970, ele foi chefe da área técnica de Radiodifusão no antigo Departamento Nacional de Telecomunicações e diretor técnico da Rádio Nacional de Brasília (atual Radiobrás) para a implantação da 1ª Etapa do Sistema de Alta Potência em Ondas Médias e Ondas Curtas. Conce-beu, projetou e implantou o primeiro sistema de Radiovias no Brasil, na BR-290, em 2003. Germani é responsável técnico pelo projeto de mais de 300 emissoras de rádio, TV e retransmissoras e aproximadamente o mesmo número em projetos de sistemas de radiocomunicação.

Em fevereiro deste ano, ele publicou o estudo “Rádio Digital: Uma Outra Opção Não Seria Possível”, cujas linhas principais são abordadas abaixo. Solicite uma cópia do estudo escrevendo para (imprensa@fndc.org.br).

O que o senhor pensa sobre essa decisão da Anatel anunciada pelo ministro?

Higinio Germani – Aparentemente, as experiências seriam baseadas no IBOC (In-Band On-Channel), ou seja, um sinal digital inserido junta-mente com o sinal analógico nas emissoras de ondas médias (AM). Vejo como muito boa iniciativa pois os possíveis problemas e vantagens fica-rão demonstrados nas experiências.

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No estudo divulgado em fevereiro, o senhor defende a utilização do canal 6 do VHF para alocar as emissoras digitais de rádio. Por quê? Quantas estações digitais caberiam neste canal sem que houvesse risco de interferência?

H.G. – A Anatel já está realocando os canais 6 de TV. A banda do canal vai de 82 a 88 MHz e fica, portanto, ao lado da faixa de FM (88 a 108 MHz). Já existem três canais de rádio comunitária dentro do canal 6 de TV (87,9; 87,7 e 87,5 MHz); o que fazer com o restante da banda? Ora, a faixa é ideal para propagação de rádio com comprimento de onda bem adequado. Seria possível inserir nesta faixa mais de uma centena de canais digitais com 50 KHz de largura cada um, o que possibilitaria efetivamente criarmos uma nova radiodifusão e não uma adaptação da faixa antiga de AM (1 MHz) para a era digital com todos os seus incon-venientes.

Por que o senhor condena o padrão americano Iboc?

H.G. – Não condeno. Apenas existem questões ainda não respondidas, como, por exemplo: Como as emissoras vão operar com um delay (atraso no sinal) da ordem de 8 segundos? Qual a vantagem de operarmos na mesma faixa de AM atual se os receptores terão que ser compulsoria-mente substituídos? Teremos que sempre pagar royalties pelo sistema? Como fica a interferência em canais adjacentes durante o dia e durante a noite? Todas são questões muito importantes e sérias e que exigem res-posta antes de adotarmos qualquer sistema. As experiências autorizadas serão de grande ajuda para esclarecer estes pontos.

Dependendo do padrão digital estabelecido, poderá ficar inviável às rádios comunitárias, em termos materiais, migrarem para o sistema digi-tal uma vez que quase não possuem acesso a fontes de financiamento. Como ficarão essas rádios que não puderem se digitalizar?

H.G. – Creio que o horizonte de implantação do rádio digital ficará em no mínimo 5 anos, talvez 10 anos. Neste período, os custos devem cair e se tornarem mais acessíveis. Não acredito em rádio digital para as emissoras de FM, pois o ganho de qualidade não será tão compensador em relação à situação atual.

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E os receptores, será difícil produzi-los? Quais serão as vantagens da digitalização para os cidadãos?

H.G. – O rádio não terá mais ouvintes e sim assinantes (se isto vai ser cobrado ou não, é impossível saber agora). Cada assinante se cadastrará na emissora e dará suas preferências em termos de informação, música, etc. O rádio avisará antecipadamente que informação do interesse do ouvinte vai vir (ou aumenta o volume automaticamente, ou liga sozinho, ou ainda grava a informação). Tudo isto é possível através de técnicas digitais já dominadas. O custo do receptor (atualmente da ordem de US$ 70) deve cair à medida que o sistema for implantado.

Se a Anatel permitir a implantação do rádio digital já em setembro esta-remos (ouvintes de rádio) preparados para receber a programação?

H.G. – “Remember” o AM estereo! Muitas emissoras investiram um bom dinheiro em sistemas de transmissão estereofônicos e o resultado foi: “Esqueceram o receptor!!!” Espero que no caso da digitalização da radio-difusão não aconteça o mesmo. É necessário e indispensável que fábricas de receptores digitais sejam implantadas paralelamente à implantação de emissoras digitais. Estas fábricas têm que existir no Brasil, caso contrá-rio, o preço será inacessível à maioria dos brasileiros.

Do ponto de vista da democratização da comunicação, qual padrão de rádio digital pode promover maior inclusão?

H.G. – Aquele que proporcionar o maior número de emissoras e maior pluradidade na programação. Do antigo “broadcast”, migramos para o “narrowcast”. Da programação eclética, migramos para a programação segmentada. Da segmentada, migraremos, compulsoriamente, para o “personalcast”. Os radiodifusores se transformarão, também compulso-riamente, em radioinformadores. Se os atuais radiodifusores tivessem aberto espaço em suas grades de programação para programas comuni-tários, o fenômeno “Rádio Comunitária” não teria surgido.

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NOTÍCIA Nº 9

Um iPoderoso objeto de desejo.

Informação: Zero Hora - 16/10/2005

Aparelho digital que toca música e cabe dentro do bolso vira febre

RODRIGO MÜZELL

Ele move internautas, que criam sites dedicados ao seu culto. Move pessoas normais, que ganharam uma companhia turbinada para fazer atividade física ou trabalhar ao som de música. Move o gênio da tec-nologia Steve Jobs e a sua Apple novamente em direção à liderança de um mercado disputado por todos os gigantes da indústria da inovação. Apesar de ser um objeto, quem tem um o chama sempre pelo nome próprio: iPod.

Um iPod é um mp3 player, aparelhinho que toca músicas gravadas e cabe no bolso. A definição é simplória, não informa que dá para gravar fotos, ver TV, falar ao telefone e guardar arquivos de computador nos vários modelos da família, que custam entre R$ 690 e R$ 2.990. Mas a simplicidade da idéia foi a chave para a transformação do produto em mania de americanos, europeus e, cada vez mais, brasileiros.

O fato de ser tão fácil de mexer e ter desenho tão simples e bonito criou uma legião de fanáticos. Quem usa um fica maravilhado - diz o analista de mercado José Carlos Rezende, da Shopping Brasil, que, aliás, também tem um iPod.

Fones de ouvido brancos são a marca registrada dos usuários - em cida-des como Nova York, equivalem a um “não perturbe” tácito nos metrôs, um aviso de que a pessoa navega em sua própria trilha sonora. Mas, para a maquiadora Paula Ferrary, 36 anos, o iPod serve para compartilhar o estado de espírito. Em desfiles cuja preparação pode levar até quatro horas, Paula liga seu iPod Nano em caixinhas de som (um dos vários acessórios disponíveis) e põe som ambiente até que outro dono de iPod plugue o seu e varie o cardápio musical. Funcionou inclusive para “criar um clima” para uma foto de anúncio, diz:

- A modelo representava um DJ. Então, colocamos uma trilha sonora, e a foto ficou bem melhor.

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Simplicidade e visual são receita de sucesso

O presidente da Apple Computer, Steve Jobs, retirou a empresa de um período de dificuldades com o iMac - computador hoje com uma legião de fãs mundo afora, apesar de ter apenas uma fração do mercado. A receita de sucesso do iPod, segundo Rezende, é fruto de conceitos vindos do micro de Jobs: ser o mais simples e o mais bonito possível.

- Não tem um dia que não vejo alguém no trabalho desejando, olhando na Internet e dizendo “mas esse é tão lindo”. Existem muitas outras opções, mas o iPod virou cult - conta o publicitário Gabriel Dall’Agnol, 27 anos.

Com um adaptador para usar no carro e quase todos os 20 GB de capa-cidade do iPod ocupados, Dall’Agnol já pensa no próximo aparelho. Seu iPod “definitivo” teria mais espaço, visor colorido, câmera fotográfica e vídeos. A idéia é comprar um novo e deixar o atual para a irmã.

- Tenho mais de 4,8 mil músicas no aparelho. Lotou - diz Dall’Agnol.

(rodrigo.muzell@zerohora.com.br)

Saiba mais O que é

O iPod é o mais famoso tocador de MP3 - arquivos digitais de música. O mercado está em expansão: marcas como Sony e Creative têm aparelhos com grande capacidade de armazenamento de músicas. Para ouvir, basta transformar CDs em arquivos MP3 ou baixar da Internet e transferi-los para o aparelho por um cabo.

O pulo do gato

Há também uma razão econômica para a febre do iPod nos Estados Unidos, opina José Carlos Rezende, da Shopping Brasil. Steve Jobs con-seguiu fazer um tocador de MP3 que não assustasse a indústria fonográ-fica, aterrorizada pelos prejuízos com a troca de músicas pela Internet.

- O modelo de negócio foi apoiado por todas as gravadoras grandes - afirma o analista de mercado.

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Esse modelo é simples: a Apple criou uma loja de música virtual, o iTunes, que também é um competente programa para tocar músicas no computador. Comprar uma música legalizada custava barato - US$ 0,99 - e a transferência para o aparelho é fácil. O iTunes bateu recordes de venda de música na Internet.

Quase um x-tudo

A última versão do iPod, lançada na semana passada, é mais um passo para chegar a um aparelho que reúna todo o entretenimento possível na palma da mão - um media center. O iPod agora pode rodar vídeos em uma tela de 2,5 polegadas, e a Apple tem contratos para a transmissão de clipes e seriados norte-americanos, baixados pelo iTunes. A novidade deve chegar ao Brasil em novembro.

Mil acessórios

Várias bugigangas ampliam a utilidade do iPod. Capinhas coloridas, um fone cujo fio é também usado para pendurar o aparelho no pescoço, uma base que carrega a bateria, transfere músicas e conecta o portátil a um aparelho de som. Um dos mais úteis é o iTrip, transmissor que envia as músicas do iPod para o rádio do carro.