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PERCEPÇÃO DO ESTRESSE, DESCONFORTO CORPORAL E QUALIDADE DE VIDA EM OPERADORES DE CAIXA DE SUPERMERCADO: A EUTONIA COMO
FERRAMENTA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR.
Autores:Clarissa Araujo
Tiótrefis Gomes FernandesLarissa Bastos TavaresVera Maria da Rocha
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Número 29Colección Veracruz
PERCEPÇÃO DO ESTRESSE, DESCONFORTO CORPORAL E QUALIDADE DE VIDA EM OPERADORES DE CAIXA DE SUPERMERCADO: A EUTONIA COMO
FERRAMENTA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR.
Autores:Clarissa Araujo
Tiótrefis Gomes FernandesLarissa Bastos TavaresVera Maria da Rocha
Esta obra é resultado de uma pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Estresse Ocupacional e Variações na Percepção do Desconforto Corporal do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) entre os anos 2004 e 2005 em Natal (RN/Brasil).
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ISBN: 978-84-937289-7-7DP: PM 1402-2011
Ediciones de la Fundació Càtedra IberoamericanaCra de Valldemossa, Km 7.5 07122 Palma de Mallorca
© del texto y de la edición: Fundació Càtedra Iberoamericana
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ÍNDICE
RESUMOABSTRACT
1. INTRODUÇÃO1.1. Estresse
1.1.1. Respostas do estresse1.1.1.1. Respostas fisiológicas1.1.1.2. Percepção do estresse1.1.1.3. Respostas deletérias do estresse
1.2. Desconforto corporal1.3. Qualidade de vida1.4. Função de operadores de caixa de supermercado
1.5. Relaxamento e eutonia2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral2.2. Objetivos Específicos
3. JUSTIFICATIVA4. METODOLOGIA
4.1. Caracterização da pesquisa4.2. População e amostra4.3. Instrumentos4.4. Materiais4.5. Procedimentos4.6. Análise dos dados
5. RESULTADOS5.1. Perfil da amostra
5.2. Percepção do estresse5.3. Desconforto corporal5.4. Qualidade de vida5.5. Percepção do estresse x Qualidade de vida
6. DISCUSSÃO6.1. Percepção do estresse6.2. Desconforto corporal
6.2.1. Desconforto corporal e ambiente de trabalho
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6.2.2. Percepção do desconforto corporal e Eutonia6.3. Qualidade de vida6.4. Percepção do estresse x Qualidade de vida
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
SOBRE OS AUTORESREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
Nos estudos realizados sobre os efeitos do estresse no ambiente de trabalho, a função de operador de
caixa de supermercado é um dos grupos ocupacionais apontados como susceptíveis a efeitos deletérios. Em
virtude disso, o presente estudo objetivou investigar as variações dos índices de estresse percebido, desconforto
corporal e indicadores de qualidade de vida em operadores de caixa de supermercado submetidos ao relaxamento
baseado nos princípios da Eutonia. É uma pesquisa do tipo experimental de grupo único com amostra de nove
indivíduos. Foram realizadas 10 intervenções, com freqüência semanal, e 2 avaliações (pré e pós-período de
intervenção), que constaram de um questionário de identificação geral, Questionário do Estresse Percebido de
Levenstein (QEPL) na sua forma Recente, protocolo adaptado de Zabel e McGrew (1997) e o Medical Outcomes
Studies 36-item Short-Form (MOS SF-36) para avaliar a qualidade de vida (QV). Verificou-se que houve uma
redução estatisticamente significativa do índice de estresse percebido (IEP inicial: 0,49; IEP final: 0,37); discreta
diminuição do número de queixas de desconforto corporal (inicial: 59; final: 57) e aumento dos níveis de
sensibilidade destes desconfortos (inicial: 609; final: 675), sendo ambos com pouca significância estatística, e
aumento estatisticamente significativo dos indicadores de QV (inicial: 494,59; final: 611,46). Concluiu-se que a
técnica de relaxamento empregada foi eficaz para a diminuição do IEP e melhoria da percepção na qualidade das
queixas de desconforto corporal. Ademais, sugere-se que a mesma tenha participação na melhoria de indicadores
de QV.
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ABSTRACT
In studies carried out about the effect of stress in the workplace, the function of supermarket cashier is
an occupational group pointed out as susceptible to deleterious effects. So, the present study aimed to investigate
variations of perceived stress indices, bodily discomfort and quality of life indicators in supermarket cashiers
submitted to relaxation based on the principles of Eutony. It is an experimental research of only one group with a
sample composed of nine individuals. Ten interventions were carried out, once a week, and 2 evaluations (before
and after the period of intervention), which consisted of a general identification questionnaire, Perceived Stress
Questionnaire of Levenstein (PSQ) in its Recent form, adapted protocol of Zabel and McGrew (1997) and the
Medical Outcomes Studies Short-Form 36-item (MOS SF-36) to evaluate the quality of life. It was verified that
there was an statistical significant reduction of the perceived stress index (initial: 0,49; final: 0,37); low
reduction of the number of bodily discomfort complaints (initial: 59; final: 57) and increase on their sensitivity
levels (initial: 609; final: 675), both with low statistical significance, and statistically significant increase of
quality of life indicators (initial: 494,59; final: 611,46). It was concluded that the relaxation technique used was
efficient on the reduction of perceived stress index and improved the perception of the quality of bodily
discomfort complaints. Furthermore, it is suggested that the technique can participate in improving the quality of
life indicators.
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1. INTRODUÇÃO
O trabalho é uma das fontes de satisfação de diversas necessidades humanas, como auto-realização,
manutenção de relações interpessoais e sobrevivência. Por outro lado, também pode ser fonte de adoecimento
quando contém fatores de risco para a saúde e o trabalhador não dispõe de instrumental suficiente para se
proteger desses riscos (MURTA E TRÓCOLLI, 2004).
Um fator relevante na saúde pública brasileira é a presença de queixas de algias e/ou doenças crônicas
decorrentes de alterações dos mecanismos fisiológicos e comportamentais do organismo em resposta às
condições físicas e psicossociais em que os trabalhadores são submetidos, resultando no que conhecemos como
“estresse ocupacional”. Independente dos fatores desencadeantes, o estresse, sobre a saúde humana, produz
respostas com algumas características que permitem identificar não apenas o grau de gravidade, como também
as dimensões fisiológicas, psicológicas, orgânicas, sociais implicadas, entre outras (MINISTÉRIO, 2001).
Um tema importante na recente pesquisa psicossomática tem sido o efeito do estresse no andamento da
doença (LEVENSTEIN et al, 1993). As doenças do estresse são freqüentemente classificadas como perturbações
psicossomáticas ou “distúrbios psicossomáticos” os quais se referem a condições patológicas físicas causadas ou
agravadas por fatores psicológicos (KAPLAN e SADOCK, 1992). Para compreendermos a relação existente
entre as condições estressoras do ambiente de trabalho e a qualidade de vida de operadores de caixa de
supermercado, primeiramente levaremos em consideração os conceitos e fatores determinantes de estresse, as
implicações sobre a saúde e os mecanismos fisiológicos e as intervenções que minimizam os efeitos deletérios
do estresse, dentre elas a Eutonia como um instrumento disponível à Fisioterapia para intervenção nesse campo
de ação.
1.1. Estresse
Derivado da engenharia, o termo estresse se refere à ação de forças físicas sobre estruturas mecânicas.
O que se observa é que conceituar o estresse tem sido abstrato para a biologia e medicina, chegando a um
consenso que uma definição precisa ainda é difícil (CARLSON, 1994; SAPOLSKY, 2000).
Tal termo foi adotado pelos biólogos para definir um evento ou situação, de natureza física ou
psicológica, que cria um estado de desequilíbrio do organismo ou a resposta elaborada por nosso corpo a essa
perturbação, ou ambos (CARLSON, 1994; SAPOLSKY, 2000). A frase “reação de luta ou fuga” também foi
introduzida para fazer referência às reações fisiológicas que nos prepara para um esforço extremo requerido para
lutar ou fugir, ou seja, quando um animal é submetido a estímulos agudos, ameaçadores da homeostase,
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inclusive medo, fome, dor e raiva, o corpo deste animal apresenta uma reação em que se prepara para a luta ou
para a fuga (MELLO FILHO et al, 1992; CARLSON, 1994; GUYTON e HALL, 1996).
Considera-se que o estresse é o reconhecimento de um estressor, que cria uma ameaça à homeostase,
podendo determinar um estado de inquietude e tensão patogênicos em níveis físico e/ou psicológico, sendo as
suas respostas de caráter adaptativo com a finalidade de neutralizar o estressor e restabelecer essa homeostase
(MACFADDEN, 1999; CHROUSOS et al, 1997 apud NELSON, 2000). Segundo Silva (1976), Nelson (2000),
Siegel e Cheu (2001), o termo estresse inclui o agente estressor, a resposta ao estresse e o mecanismo fisiológico
entre esse agente e sua resposta.
Nesse sentido, a resposta fisiológica ao elemento estressor é dividida em três componentes:
comportamental, autonômico e endócrino, que tem como finalidade a manutenção da homeostase, sendo,
portanto, adaptativa para o organismo (McEWEN, 2000; SAPOLSKY, 2000; LOVALLO e THOMAS, 2000).
No entanto, quando os organismos são submetidos a agentes estressores de elevada magnitude e/ou de longa
duração, essa resposta pode se tornar deletéria culminando com o aparecimento de alguns distúrbios que incluem
danos ao tecido muscular (atrofia muscular), amenorréia, infertilidade e impotência sexual, diminuição no
crescimento e no reparo tecidual, inibição da resposta inflamatória, diminuição da sensibilidade à insulina, que
aumentam os riscos de diabetes, hipertensão, hiperlipidemia e hipercolesterolemia, que associados ao aumento
da pressão arterial, favorecem o surgimento de desordens cardiovasculares (MEANEY et al, 1993; CARLSON,
1994; NELSON, 2000; LOVALLO e THOMAS, 2000; SAPOLSKY, 2000; MCEWEN, 2000).
De acordo com Selye (1993), considerado o pioneiro na pesquisa moderna sobre o estresse, a exposição
prolongada do indivíduo a estressores resulta em adaptação, sendo essa resposta classificada como Síndrome
Geral de Adaptação – GAS (General Adaptation Syndrome). A GAS é dividida em três estágios: a) reação de
alarme, consiste na detecção do agente estressor, b) resistência, associada à reação ao agente estressor, e c)
exaustão, caracterizada pelo término da resposta ao estresse e o início do estresse patológico, que em casos
extremos pode levar a morte. Na verdade, a fase de exaustão não ocorre freqüentemente.
Durante a Reação de Alarme é acionado o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que desencadeia respostas
mais lentas e prolongadas e que desempenha um papel crucial na adaptação do organismo ao estresse ao qual se
encontra submetido. Nessa fase o organismo se prepara para a reação de luta ou fuga, e os sintomas presentes
dizem respeito ao preparo do corpo e da mente para preservação da vida (MELLO FILHO et al, 1992; LIPP,
2003).
Se os agentes estressantes desaparecem, tais reações tendem a regredir; no entanto, se o estímulo
continua presente por tempo indeterminado, inicia-se a fase de Resistência, caracterizada basicamente pela
reação de hiperatividade córtico-supra-renal e é quando o organismo tenta uma adaptação, em virtude de sua
tendência da busca da homeostase interna. Nessa fase, as reações são opostas àquelas que surgem na de Alarme,
e muitos dos sintomas iniciais desaparecem dando lugar a uma sensação de desgaste e cansaço (ibidem).
Se os estressores continuarem a agir, ou se tornarem crônicos e repetitivos e o indivíduo não encontrar
estratégias para lidar com essa ameaça, o organismo exaure sua reserva de energia adaptativa e a fase de
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Exaustão se manifesta, surgindo desordens fisiológicas as quais originam as doenças (MELLO FILHO et al,
1992; LIPP, 2003).
Uma quarta fase da resposta ao estresse foi identificada recentemente por Lipp (2003), na padronização
do Inventário de Sintomas de Estresse para adultos de Lipp, a qual foi denominada de Quase-Exaustão, por se
encontrar entre as fases de Resistência e Exaustão. Essa fase consiste de um enfraquecimento do indivíduo que
não mais consegue se adaptar ou resistir ao estressor. Nessa fase, inicia-se o surgimento de quadros patológicos,
no entanto não tão graves quanto na fase de Exaustão. Segundo a autora, nessa fase mesmo apresentando
desgaste e outros sintomas, o indivíduo ainda consegue trabalhar e atuar na sociedade até certo ponto.
Dentro do citado, quando em contato com um mecanismo estressor, o organismo lança mão de
respostas distintas em busca da homeostase, sendo este tópico de tamanha necessidade para a compreensão da
temática abordada no presente estudo.
1.1.1. Respostas do estresse
1.1.1.1. Respostas fisiológicas
O eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA) é o principal responsável pelo controle da resposta aos
estressores físicos e psicológicos (LOVALLO E THOMAS, 2000; DOMES et al, 2001). Diante de um
evento ameaçador, quando há uma tendência à quebra na homeostase ocorre a ativação do hipotálamo, um
complexo formado de células e fibras nervosas que funciona como uma ponte entre o cérebro e o sistema
endócrino. A excitação de células neuroendócrinas da eminência média do hipotálamo promove a liberação
do fator de liberação de corticotropina (CRF), que é secretado no Sistema Porta-Hipotalâmico-Hipofisário,
ativa as células corticotróficas da hipófise anterior, promovendo a liberação do hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH). Este atua na camada intermediária do córtex das adrenais, a zona fasciculada,
promovendo a secreção do cortisol (SELYE, 1993; GUYTON e HALL, 1996; SAPOLSKY, 2002). Por outro
lado, a porção medular das adrenais faz parte da divisão simpática do Sistema Nervoso Autônomo, e libera
adrenalina e noradrenalina na corrente sangüínea as quais são responsáveis pela rápida resposta
neurovegetativa ao estressor (Tavares, 2004).
A finalidade do cortisol é aumentar a disponibilidade energética para o organismo “lutar ou fugir” frente à
situação estressora (GUYTON e HALL, 1996). Alguns outros efeitos estão associados a hormônios como a
adrenalina, noradrenalina, serotonina, endorfinas, esteróides gonadais entre outros, e consistem no aumento
da entrada de oxigênio nos tecidos, diminuição do fluxo sangüíneo nos sistema gastrointestinal e reprodutivo,
diminuição da digestão, do crescimento, da resposta imune, da função reprodutiva e da percepção dolorosa,
além de influenciar o mecanismo de consolidação da memória (NELSON, 2000).
A curto prazo, essas respostas fisiológicas ao estresse são de caráter adaptativo e ajudam o indivíduo a
enfrentar situações de emergência. A longo prazo, essas respostas tendem a ser prejudiciais ao organismo
(SELYE, 1936, 1937; SAPOLSKY, 1992, 1994 apud NELSON, 2000). Deve-se salientar que ambas as respostas
podem afetar interações hormônio-comportamentais (NELSON, 2000).
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Contudo, deve ser considerado que o modo de perceber os acontecimentos exerce grande influência na
reação do indivíduo frente às diferentes situações da vida, principalmente em relação aos aspectos psicossociais.
Isso sugere que não é apenas a situação em si que leva ao estresse, visto que deve ser considerado que a reação
frente a ela e o modo de percebê-la, dependendo da estrutura e dinâmica de personalidade do indivíduo, são
fatores contribuintes dessa resposta (MACFADDEN, 1999).
1.1.1.2. Percepção do estresse
De acordo com Guerra et al (2001), as características pessoais de um determinado indivíduo tais como seu
gênero, sua idade, seus traços de personalidade, sua situação social, dentre outras, bem como suas
características genéticas, parentais e sócio-familiares, são fatores que possivelmente influenciam a resposta
fisiológica a estressores (físicos e psicológicos) em humanos. Dentro dessa mesma abordagem, Carlson
(1994), acrescenta a capacidade de percepção e a reatividade emocional de cada indivíduo, ou seja, as
diferenças individuais de temperamento ou a experiência com uma situação particular fazem com que um
estressor promova um impacto severo ou não; sendo neste caso, a percepção do indivíduo o fator
predominante.
Uma das variáveis que determina se um estímulo aversivo causará uma reação de estresse é o grau ao
qual a situação pode ser controlada. Para Carlson (1994), situações que permitem algum controle são menos
prováveis de produzir sinais de estresse que aquelas nas quais outras pessoas não a controlam.
Segundo Kudielka, Hellhammer e Kirschbaum (2000), homens e mulheres apresentam estratégias de
enfrentamento do estresse diferentes. Heim, Ehler e Hellhammer (2000) e Powell et al (2000), classificam o sexo
masculino com uma melhor habilidade na resolução de uma situação ameaçadora imediata, enquanto que as
mulheres elaboram por mais tempo essa resposta; sugerindo, portanto, diferentes padrões de percepção de
estresse com relação ao gênero. Esse fato pode justificar a afirmação de Powell et al (2000), sugerindo que as
mulheres referem maiores queixas relacionadas ao estresse como: dores musculoesqueléticas crônicas, exaustão,
tensão e depressão. Al’Absi et al (2002) observaram diferenças entre os gêneros quanto à percepção dolorosa em
seu estudo, no qual encontraram uma associação entre variáveis hemodinâmicas e a percepção dolorosa apenas
em mulheres, demonstrando preditores fisiológicos diferentes para a percepção dolorosa em homens e mulheres.
Barros e Nahas (2001), em seu estudo para avaliar a prevalência de comportamentos de risco, percepção
de estresse e auto-avaliação do nível de saúde, também apontaram as mulheres como o gênero com maior
percepção de estresse, através da escala de 4 pontos de Likert (1= raramente estressado, 2= às vezes estressado,
3= quase sempre estressado e 4= excessivamente estressado). Para ambos os gêneros, a percepção de níveis
elevados de estresse foi diretamente proporcional à percepção negativa da condição de saúde.
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Um instrumento com a finalidade de avaliar o nível de estresse percebido foi desenvolvido por
Lenvenstein et al (1993). Este questionário enfatiza percepções cognitivas mais do que estados emocionais ou
eventos de vida específicos. O mesmo foi validado para a língua portuguesa por Costa e Costa (2004).
Como exposto, segundo Mello Filho et al (1992) e Lipp (2003), se o individuo atinge níveis elevados de
estresse, e estes se tornam cronificados, o enfrentamento deste indivíduo pode ficar prejudicado frente a essa
ameaça, levando a uma exaustão, em nível adaptativo. Isso faz surgir desordens fisiológicas as quais originam as
doenças.
1.1.1.3. Respostas deletérias do estresse
O estresse em si não é patológico, refere-se a uma reação natural do organismo quando colocado diante
de uma situação ameaçadora. No entanto, em situações quando o mecanismo estressor persiste, essa resposta
pode causar danos, já que alguns fatores como os de caráter genético (níveis de pressão arterial basal elevados)
ou ainda, de caráter fisiológico (concentrações hormonais) e psicológicos (percepção do estressor e estados de
ansiedade e humor), influenciam de forma direta para que a resposta a um mecanismo estressor torne-se deletéria
(TAVARES, 2004).
Os efeitos patológicos do estresse crônico envolvem processos cardiovasculares, metabólicos,
reprodutivos, digestivos, imunes e anabólicos. A eficácia da função cognitiva diminui sob estresse, em
particular, o estresse severo ou crônico leva a uma total depressão da função intelectual, incluindo distúrbios
cognitivos, situações de falta de interpretação, pensamentos padrões de ineficácia e improdutividade, além de
indecisão (SAPOLSKY, 1994; BROWN,1997 apud NELSON, 2000).
Algumas patologias musculoesqueléticas estão possivelmente relacionadas com distúrbios no funcionamento
do eixo HHA. Para Jones, Rollman e Brooke (1997), o estresse pode ser um fator que induz dores
musculoesqueléticas, como resultado de uma não regulação psicobiológica. De acordo com Guimarães
(1999), a dor é parte integrante da vida, presente desde o nascimento até a morte, consistindo na forma mais
antiga de manifestação de estresse. A autora refere a dor como uma experiência complexa e
multidimensional, sendo as características individuais e as variáveis psicossociais, aspectos mediadores do
processo doloroso.
1.2. Desconforto corporal
A percepção do desconforto corporal é algo complexo e tem influência de experiências prévias e do
contexto no qual o estímulo nocivo ocorre. Via interconexões neurais, o sistema nervoso central (SNC) é capaz
de modular e controlar essa percepção, como forma de reduzir seu impacto sobre o organismo, prevenindo e/ou
minimizando os sintomas. Além disso, a influência de fatores comportamentais, cognitivos e afetivos, e,
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sobretudo, a tensão muscular podem ser adicionados a um dano tecidual e contribuir para o aumento da
intensidade e persistência do desconforto, tornando-o crônico (SILVA e VIEIRA, 2001).
Devido à subjetividade imbuída neste aspecto, Zabel e McGrew (1997) apud Silva e Vieira (2001)
criaram um protocolo de avaliação da percepção dos diversos desconfortos corporais relacionados à atividade
laboral, como forma de contribuir para uma melhor mensuração desta temática. Esse protocolo relaciona áreas
do corpo humano com a intensidade do desconforto, que varia numa escala numérica de 0 a 10, na qual o “zero”
representa a ausência de sintoma e o “dez” significa um desconforto insuportável (SILVA e VIEIRA, 2001).
Estudos realizados por Lundberg et al (1999), revelam uma associação entre fatores psicossociais no
local de trabalho e desordens musculoesqueléticas, não sendo estas determinadas somente pela demanda física,
mas também por fatores cognitivos, os quais podem conduzir ao estresse mental causador, segundo o mesmo
autor, do aumento na tensão muscular.
As condições dolorosas, especialmente as crônicas, apresentam um forte componente associado às
respostas emocionais de ansiedade, humor e depressão, resultando em distúrbio no ciclo sono-vigília, no
trabalho, na mobilidade, na socialização do indivíduo, fatores esses que de forma direta interferem nas condições
de saúde do indivíduo e em sua qualidade de vida (WATSON, 1996; GUIMARÃES, 1999).
1.3. Qualidade de vida
Num sentido amplo do termo, The WHOQOL Group (1995) apud Seidl e Zanon (2004) define
qualidade de vida como a percepção do indivíduo acerca da sua posição na vida, no contexto da cultura e dos
sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
Quando relacionado à saúde, o termo qualidade de vida parece implicar os aspectos mais diretamente
associados às enfermidades ou às intervenções em saúde, onde a maioria dos autores faz referência ao impacto
da enfermidade na qualidade de vida (Seidl e Zannon, 2004). Para Guiteras e Bayés (1993), qualidade de vida é a
valoração subjetiva que o indivíduo faz dos diferentes aspectos de sua vida, em relação ao seu estado de saúde.
Esse conceito se assemelha ao de Cleary et al (1995), o qual afirma que a qualidade de vida se refere aos
diversos aspectos da vida de uma pessoa que são afetados por mudanças no seu estado de saúde, e que são
significativos.
Na literatura médica e social não existe um consenso acerca dos itens que devem ser investigados na
avaliação da qualidade de vida de um indivíduo. Existem muitas divergências em relação a esse aspecto, porém,
há uma concordância entre os pesquisadores acerca de suas características, que incluem subjetividade,
multidimensionalidade e bipolaridade (THE WHOQOL, 1995; PASCHOAL, 2000).
A primeira considera a percepção da pessoa sobre seu estado de saúde e sobre os aspectos não-médicos
do seu contexto de vida, ou seja, considera como o indivíduo avalia sua situação pessoal em cada uma das
dimensões relacionadas à qualidade de vida, sem ignorar a existência fatores externos às pessoas, presentes no
meio e nas condições de vida e de trabalho (ibidem).
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O aspecto multidimensional do termo se refere ao reconhecimento de que a qualidade de vida é formada
por diferentes dimensões. Para o WHOQOL (1995), esta avaliação deve incluir seis domínios principais: saúde
física, estado psicológico, níveis de independência, relacionamento social, características ambientais e padrão
espiritual.
A bipolaridade, última característica citada, refere-se às dimensões positivas e negativas que o construto
possui. Mobilidade, autonomia, dentre outros, são exemplos de dimensões positivas, diferentes da dor e
dependência, por exemplo, que são consideradas dimensões negativas (PASCHOAL, 2000).
Paschoal (2000) acrescenta ainda uma quarta característica ao construto, que é a mutabilidade, visto
que, como já foi dito, a avaliação da qualidade de vida muda com o tempo, lugar e contexto cultural e,
individualmente, muda conforme o estado de espírito ou humor da pessoa, o que aumenta a dificuldade de
aferição.
Quanto à avaliação da qualidade de vida, Seidl e Zannon (2004) afirmam que os termos “qualidade de
vida” e “estado de saúde” aparecem na literatura muitas vezes quase como sinônimos. Essas autoras concluíram
que os dois construtos são diferentes e alertam que determinados instrumentos que avaliam a percepção do
estado de saúde não devem ser usados para a avaliação da QV; pois o primeiro atinge uma maior predição com
os aspectos relacionados a aspectos físicos – variáveis como dor, fadiga e energia, enquanto o segundo (QV)
apresenta um alto poder de predição em relação à saúde mental/ bem-estar psicológico.
Um questionário para avaliação da qualidade de vida que foi validado, traduzido e adaptado
culturalmente para a língua portuguesa é o Medical Outcomes Studies 36-item Short-Form (MOS SF-36). Este
trabalho de validação, realizado por Ciconelli et al (1999), foi composto por cinqüenta (50) pacientes portadores
de artrite reumatóide. Este questionário é um instrumento multidimensional, que avalia a qualidade de vida
através de oito (8) domínios distintos, porém inter-relacionados, os quais são: capacidade funcional, aspectos
físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Isto garante
ao questionário um caráter culturalmente universal, pois respeita a importância da avaliação de condições físicas,
psicológicas e sociais do indivíduo (SOUZA, 2001).
Com relação à influência do trabalho na qualidade de vida, Lipp (2001) afirma que o homem vive hoje
de modo muito diferente de antigamente e esses novos hábitos, principalmente nas relações homem-trabalho,
nem sempre representam avanços do ponto de vista da qualidade de vida.
Segundo Couto (1987) apud Lipp e Tanganelli (2002), o estresse ocupacional interfere na qualidade de
vida modificando a maneira como o indivíduo interage nas diversas áreas da sua vida. Na área familiar pode
ocorrer alta incidência de desajustamentos, pois caso haja pouco tempo dedicado à família em função do alto
investimento no trabalho acarretará falta de suporte e apoio quando necessário. Na área social, pode ocorrer o
isolamento e a conseqüente falta de amigos. Culturalmente, pode ocorrer rigidez comprometedora do
desempenho em função da grande resistência a mudanças desenvolvida. A criatividade fica prejudicada e um
empobrecimento de valores pode ocorrer, principalmente se a pessoa assume uma forte tendência a buscar ou a
se manter no poder, no caso pode ser a manutenção de um emprego.
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Ainda para Lipp e Tanganelli (2002), torna-se claro que o estresse, excessivo e contínuo, pode, além de
ter um efeito facilitador no desenvolvimento de inúmeras doenças, propiciar um prejuízo para a qualidade de
vida, alterando a produtividade do ser humano.
No Brasil tem se realizados trabalhos científicos com uma série de profissões envolvidas com estresse
ocupacional (policiais militares, bancários, professores, médicos, magistrados, entre outros), segundo Murta e
Tróccolli (2004); no entanto pouco se sabe sobre a influência deste fator na qualidade de vida de operadores de
caixa de supermercado.
1.4. Função de operadores de caixa de supermercado
De acordo com Lipp (2003), as exigências do dia-a-dia do indivíduo, como os problemas de trabalho,
perda de uma posição na empresa, não concessão de um objetivo de trabalho, perda de dinheiro ou dificuldades
econômicas, notícias ameaçadoras, dentre outras, podem ser classificados como mecanismos estressores
externos. É geralmente suposto que experiências estressantes são más, sendo necessário formas para prevenir ou
reduzir o estresse. Contudo, algumas pesquisas têm mostrado que o estresse pode ter conseqüências desejáveis
(MELLO FILHO et al, 1992). Isso porque há múltiplas dimensões de estresse, algumas das quais estão
associadas com resultados positivos de trabalho. Especificamente, estresse relacionado ao desafio ocasiona
resultados desejáveis, tais como satisfação com o trabalho e menos busca por outro emprego, enquanto estresse
relacionado à limitação leva a associações negativas desses mesmos resultados (BOSWELL, OLSON-
BUCHANAN e LePINE, 2003).
A relação sobre carga de trabalho e influência sobre as decisões do cargo (condições físicas e
psicossociais do trabalho) foi abordado ainda por Lundberg et al (1999) quando estressores crônicos
relacionados à ocupação do indivíduo, como as altas rotinas de trabalho e a pouca influência sobre as decisões
do cargo, tem efeito negativo sobre a saúde física e mental dos empregados, pela ocorrência de queixas
associadas à fadiga, absenteísmo e exaustão.
Dentre os variados grupos ocupacionais, os operadores de caixa, protagonistas deste trabalho, chamam a
atenção quanto à sua atividade. Um traço que singulariza esta atividade é a multiplicidade de operações que eles
realizam. Estas diferentes operações realizadas por esses operadores implicam em ações manuais incessantes,
porém diversificadas (BRANDIMILLER, 1994).
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Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações, este grupo de operadores manipula caixa registradora
em casas comerciais, normalmente de auto-serviços, como nos supermercados, digitando teclas e efetuando
operações correlatas, para calcular e cobrar cuidadosamente o valor das mercadorias adquiridas pelos clientes
(BRASIL, 2003).
Mais especificamente, o operador de caixa efetua as operações de abertura da caixa, como limpeza,
atualização de datas, checagem de valores e outras, valendo-se de sua experiência e seguindo rotinas para deixá-
la nas condições requeridas pelo trabalho; procura o código de barras das mercadorias, passa-o pela leitora óptica
do caixa (alguns produtos devem ser digitados) e registra os preços de cada e o valor total da compra,
determinando a quantia a ser paga pelo cliente; cobra esse valor, recebendo-o em espécie, cheque ou debitando
no cartão de crédito do cliente; passa o troco devido; recolhe o dinheiro posteriormente para o cofre das
empresas; faz o balanço do caixa ao final do expediente, comparando o valor total registrado na fita e os valores
disponíveis, para assegurar a exatidão da cobrança descrita. Também pode desempenhar outras tarefas, como
prestar informações ao cliente, remarcar preços, repor produtos, receber embrulhos e vasilhames, contar moedas
e outras próprias do comércio (BRASIL, 2003; CRUZ et al, 2000).
Os componentes cognitivos da tarefa realizada pelos caixas de supermercado, semelhantemente aos
caixas de banco, são bastante relevantes, visto que essa tarefa exige, embora com menos intensidade, os usos
intensivos, freqüentes e prolongados de funções mentais como atenção, concentração, memória, raciocínio,
tomada de decisão e comunicação (FERREIRA, 1992 apud INAOKA e PAIVA, 2002).
Para Lundberg et al (1999), a população de operadores de caixas de supermercados é susceptível a
desordens corporais de natureza musculoesquelética, tendo em vista a grande pressão imposta pelo trabalho, a
limitada influência sobre as tarefas a serem executadas e a participação em tarefas repetitivas de curta duração,
fatores estes que são determinantes no surgimento dessas desordens e considerados estressores físicos e
psicossociais. Neste mesmo estudo, os autores comprovaram suas afirmações por meio de parâmetros
fisiológicos (pressão arterial sistólica e diastólica, batimentos cardíacos e níveis de adrenalina e noradrenalina).
A fim de intervir para a resolução destes problemas laborais, a Fisioterapia tem enfatizado
procedimentos reabilitativos/curativos ou até mesmo intervenções no ambiente de trabalho, em contraste com os
preventivos e os que focalizam suas atenções no trabalhador, o qual também merece um olhar mais altruísta por
parte da prática fisioterapêutica.
Embora arranjos do ambiente organizacional produzam possivelmente resultados rápidos e eficazes na
promoção da saúde do trabalhador (STOKOLS, 1992 apud MURTA E TRÓCCOLI, 2004), intervenções focadas
neste público podem também contribuir para a prevenção de doença, ao atuarem como ferramenta auxiliar em
programas multidisciplinares de promoção de saúde no trabalho. O modo como a pessoa lida com as
circunstâncias geradoras de estresse exerce grande influência sobre sua saúde, modulando a gravidade do http://www.uib.es/catedra_iberoamericana
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estresse resultante. Por isso programas focados no trabalhador devem incrementar os recursos individuais de
enfrentamento ao estresse (MURTA E TRÓCCOLI, 2004).
1.5. Relaxamento e eutonia
Dentre os variados procedimentos que podem ser utilizados pela Fisioterapia, deve ser considerada a
prática do relaxamento induzido; pois tenta preparar não só o corpo do indivíduo, mas a sua corporeidade como
um todo, para melhor se adaptarem às demandas associadas à sobrevivência e reprodução. É nesse sentido onde
se busca a Medicina Psicossomática quando o aspecto psicológico do indivíduo torna-se fundamental no
processo saúde/ doença (Bio, 1999).
Para Stoyva e Carlson (1993) as técnicas de relaxamento consistem nas melhores formas não
farmacológicas no tratamento de desordens relacionadas ao estresse. Isto porque atuaria como redutor da
resposta ao estresse por modular a intensidade dessa resposta ou ainda por auxiliar no retorno ao estado
fisiológico basal após a cessação do estímulo estressor. Assim, várias técnicas vêm sendo sugeridas, de acordo
com as diferentes tradições culturais e intelectuais, com o objetivo de diminuir os sintomas relacionados ao
estresse, como a insônia, as dores de cabeça, a hipertensão e a ansiedade crônica.
Reynolds, Taylor e Shapiro (1993) encontraram que, dentre os componentes de combate ao estresse
avaliados (informação sobre estresse, relaxamento, assertividade, reestruturação cognitiva, manejo de tempo e
suporte social), os que tiveram um alto impacto positivo foram, principalmente os que envolveram o
autoconhecimento e definição de problemas.
Segundo Vishnivetz (1995), estudos dentro de uma perspectiva ‘somatopsíquica’ evidenciam que o
estado do corpo afeta o funcionamento emocional, intelectual e reflexivo, ou seja, a consciência de todas as
atividades psicossociais do indivíduo. A Medicina Psicossomática enquanto uma nova ideologia sobre a saúde,
sobre a produção da saúde e sobre as práticas de saúde procura estabelecer a importância dos fatores
psicogênicos nas doenças de adaptação, reconhecendo a importância da ação por eles exercida nas doenças desse
tipo (BIO, 1999; SILVA, 1976).
Uma técnica de relaxamento que envolve estas duas abordagens é a “eutonia” (do grego eu = bom,
justo, harmonioso, e tonos = tônus, tensão), que foi criada em 1957 por Gerda Alexander para expressar a idéia
de uma tonicidade harmoniosamente equilibrada, em adaptação constante e consciente, ajustada ao estado ou à
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atividade do momento (ALEXANDER, 1991). Segundo Vishnivetz (1995), eutonia é uma educação psicofísica
que objetiva despertar e cultivar a consciência da unidade psicofísica que cada indivíduo é.
Para Brieghel-Muller (1987), não é necessário apenas um relaxamento (descontração muscular) para um
domínio satisfatório do corpo, mas a aquisição de um equilíbrio tônico. Segundo Vishnivetz (1995), um dos
objetivos principais da eutonia, no âmbito físico, é a regularização do tônus muscular pelo indivíduo, de modo
que este possa atuar com o tônus e a energia adequados e necessários a cada situação de sua vida. No âmbito
psicológico, a prática da eutonia permite ao indivíduo o autoconhecimento, processo que é facilitado pela
observação atenta e minuciosa dos eventos corporais pessoais. Isto requer a ampliação da percepção, que
envolve proprioceptores da sensibilidade superficial e profunda, elementos cognitivos, consciência da posição e
direção da estrutura esquelética no espaço, além da distribuição das tensões em sua estrutura neuromuscular.
Vishnivetz (1995) afirma que esta técnica trabalha com a capacidade humana de se mover e se deslocar
no espaço e desenvolve a consciência dessa capacidade; e isto não só melhora a qualidade do movimento do
indivíduo, como a pessoa em sua totalidade, uma vez que a técnica engloba os seguintes princípios: o tato
consciente, a consciência do espaço interno do volume corporal, o contato consciente, a percepção da estrutura
óssea, o microestiramento, o transporte, o repousser e o movimento eutônico (distribuição harmônica do tônus e
tensão necessários para cada grupo muscular executar o movimento). O estímulo consciente da pele e do sentido
do tato é um trabalho com o fim de desenvolver a consciência da sensibilidade superficial e profunda, que é o
ponto de partida de qualquer experiência na prática da eutonia. Cabe ao eutonista orientar o indivíduo a dirigir
gradualmente sua atenção para cada parte do seu corpo, solicitando-lhe que observe: o apoio que o solo
proporciona ao corpo, a pressão que suas diferentes partes exercem contra o chão, a posição espacial de um
segmento em relação ao outro, o roçar da roupa na pele. Este trabalho é denominado “inventário” e deve ser
realizado a cada vez de modo diferente, para evitar a mecanização.
Segundo esse mesmo autor, durante o trabalho de aplicação do inventário, a atenção é dirigida tanto
para as partes do corpo apoiadas, como aquelas que não tocam o chão. O posicionamento do indivíduo deve
variar, para que observe as mudanças nos diferentes segmentos e apoios ou na pressão contra o chão. Por fim,
pede-se a pessoa que sinta todo o corpo simultaneamente e observe quais partes sentem e quais não sentem.
Essas mudanças vivenciadas permitem conhecer o corpo como uma estrutura organizada dinamicamente e
susceptível a contínuas mudanças de estado.
Segundo Brieghel-Muller (1987), o inventário é um exercício de base de relaxamento global. Para
proceder com o relaxamento, é preciso aprender e adotar a passividade inicialmente, para o repouso muscular, e
alterná-la com a atividade, proporcionando, desta forma, uma função ideal do organismo e tornando os
movimentos fáceis; isto caracteriza a eutonia como um relaxamento ativo. Para esse primeiro exercício de
relaxamento consciente, devemos indicar, ao sujeito, uma posição de repouso agradável e ausência de
movimentos por um tempo que pode variar de um minuto a meia hora ou mais.
De acordo com Vishnivetz (1995), a eutonia desenvolve a consciência do espaço interno do corpo
através de um trabalho cuidadoso, integrador e profundo sobre a pele, articulações, ossos e órgãos internos.
Assim, as impressões recebidas a partir das diversas partes do corpo se inter-relacionam e se interligam em uma
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organização perceptiva mais complexa e integrada, na qual intervêm os receptores exteroceptivos,
proprioceptivos e viscerais. Assim, como cada parte do corpo precisa habitar e ocupar um espaço determinado, é
impossível começar um processo dessa ordem, de conhecimento do corpo, sem reconhecer seus limites,
conteúdos e sensações que provém dessa experiência vital.
O espaço interno pode começar a ser trabalhado pela sensibilização da superfície da pele. Daí a pessoa
varia a concentração de sua atenção e percorre as diversas dimensões do corpo. Uma seqüência possível é: sentir
os limites do espaço da região escolhida (largura, comprimento, espessura e profundidade) e perceber o conteúdo
da região: tecidos, ossos e articulações (forma, movimento e função).
Segundo Vishnivetz (1995) o exercício é realizado primeiramente em posição estática, geralmente
deitada. Pode-se repetir o processo em outras posições, até conseguir manter a percepção do movimento durante
o movimento e os deslocamentos no espaço e assim, com a prática regular, poder aplicá-la durante as atividades
cotidianas. Deste modo, este trabalho, realizado de forma ordenada e com a precisão propostas pela eutonia,
estimula os receptores, de tal modo que completam a percepção do espaço interno, estabelecendo, assim, a
localização adequada dos diferentes órgãos. A experiência do espaço interno estimula a pele, sob a qual estão
contidos muitos órgãos sensoriais, entre eles, os mecanorreceptores, que ativam a regularização do tônus
muscular e aumentam a conscientização dos limites do corpo e suas três dimensões. Assim, os efeitos do
trabalho regular sobre a percepção do espaço interno são: expansão dos órgãos internos, maior desenvoltura ao
se mover no espaço e aumento da autoconfiança.
Tendo em vista que a ocupação de operador de caixa de supermercado é uma função com diversas
exigências físicas e mentais, potencialmente estressoras, e que esta população está susceptível a apresentar
desordens musculoesqueléticas resultantes do estresse ocupacional, com conseqüente comprometimento da
qualidade de vida, surgiu o seguinte questionamento: o relaxamento, baseado nos princípios da eutonia, interfere
sobre os índices de estresse percebido, desconforto corporal e sobre a qualidade de vida de operadores de caixa
de supermercado?
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2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Investigar as variações dos índices de estresse percebido, desconforto corporal e indicadores de
qualidade de vida em operadores de caixa de supermercado submetidos ao relaxamento baseado
nos princípios da Eutonia.
2.2. Objetivos Específicos
Verificar a existência de variações nos índices de estresse percebido nos trabalhadores submetidos
à técnica aplicada;
Observar o comportamento das queixas de desconforto corporal nos indivíduos submetidos à
técnica aplicada;
Analisar o comportamento dos indicadores de qualidade de vida nos indivíduos submetidos à
técnica aplicada.
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3. JUSTIFICATIVA
A saúde do trabalhador é uma área de abrangência multiprofissional e que tem sua importância no
sistema de saúde pública brasileira, principalmente em nível de atenção primária. Neste sentido, a Fisioterapia
propõe uma série de procedimentos que envolvem tanto a adequação física do ambiente ao trabalhador quanto o
cuidar do indivíduo. Neste enfoque, percebe-se a carência de estudos que comprovem a real eficácia de técnicas
que minimizem o efeito do estresse ocupacional.
Diante dos resultados apresentados por Tavares (2004) e Costa e Costa (2004) com a mesma população
do presente estudo, percebeu-se que a mesma está submetida ao estresse ocupacional e que apresenta queixas
importantes de desconforto corporal, como também alto índice de estresse percebido. Portanto, procurou-se
realizar uma intervenção que pudesse influenciar positivamente os indivíduos nestes aspectos, assim como
conhecer o impacto e a relação destes com a qualidade de vida.
Sobre a escolha da técnica, observou-se que há carência de literatura quanto a evidências científicas a
respeito de seus efeitos, os quais são apontados como sendo de caráter global (físico e psicológico) do indivíduo.
Por isso, tendo como norte no processo de construção profissional a Fisioterapia baseada em evidências,
surgiu a necessidade de investigar a influência do relaxamento, tendo como base os princípios da eutonia, numa
população de operadores de caixa de supermercado submetida a estresse ocupacional.
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4. METODOLOGIA
4.1. Caracterização da pesquisa
Este estudo faz parte de uma pesquisa maior e se caracteriza por ser do tipo pré-experimental de grupo
único, com avaliações pré e pós-teste.
4.2. População e amostra
O universo da pesquisa é representado pelos operadores de caixa de supermercado da cidade de Natal –
RN. O processo de seleção do grupo amostral foi por contingência, de acordo com a anuência de participação
dos trabalhadores de uma rede de supermercados colaboradora, que conta com um total de 6 (seis) lojas.
O estudo contou com um total de 30 (trinta) operadores que aceitaram participar voluntariamente da
pesquisa, mediante a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram incluídos aqueles que
respeitaram os seguintes critérios: participar de pelo menos 70% do número total de intervenções; trabalhar no
turno diurno, e estar na função a pelo menos 1 (um) ano. Foram excluídos aqueles que não participaram da
intervenção por três vezes consecutivas ou que gozaram de férias no período de intervenção. De acordo com os
critérios descritos apenas 9 (nove) indivíduos foram utilizados para análises.
4.3. Instrumentos
Foi elaborado um termo por meio de um ofício emitido pela coordenação do projeto, que faz parte do
Curso de Fisioterapia da UFRN, para ser entregue à diretoria geral das empresas, solicitando a realização da
pesquisa (anexo 1). Um termo de consentimento de participação da pesquisa elaborado de acordo com os
requisitos da resolução CNS 196/96 e suas Complementares foi entregue a cada participante da pesquisa, antes
de iniciar qualquer procedimento da pesquisa (anexo 2).
Para a realização das fotos dos participantes durante as intervenções e posterior divulgação, foi entregue
uma declaração de uso de imagem a qual foi assinada pelos voluntários que estavam de acordo com os termos
descritos (anexo 3).
Para investigação do perfil epidemiológico da amostra foi utilizado um inventário de identificação
geral, elaborado pelos pesquisadores e validado através de um estudo piloto (Anexo 4). Este contém questões de
identificação; outras relacionadas ao trabalho, e questões relacionadas à condição geral de saúde.
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O Questionário do Estresse Percebido de Levenstein - QEPL, validado para língua portuguesa por Costa
e Costa (2004), foi utilizado para avaliar o nível de estresse percebido. Este questionário é composto por 30
questões objetivas (LEVENSTEIN et al, 1993). O mesmo pode ser aplicado na forma Geral ou Recente,
mantendo o mesmo formato, sendo alteradas apenas as instruções para o seu preenchimento, onde na forma
Geral o sujeito faz referência ao seu último ano ou os últimos dois anos, e na forma Recente ao seu último mês.
No presente estudo foi utilizada a versão Recente deste questionário (anexo 5).
Para responder a este questionário, existe uma escala do tipo Likert de quatro pontos: “quase nunca”,
“algumas vezes”, “muitas vezes” e “quase sempre”. Um número é atribuído a cada célula e reflete a direção da
atitude do respondente em relação a cada afirmação proposta.
Para avaliar de maneira qualitativa e quantitativa a percepção de desconforto corporal, foi utilizado o
questionário adaptado de Zabel e McGrew (1997), o qual permite a discriminação do desconforto corporal em
oito itens (dor, fadiga, queimação, formigamento, fraqueza, dormência, sensação de peso e outros); da
sensibilidade em uma escala categórica e numérica, sendo ausente (zero), perceptível (1, 2 e 3), moderada (4, 5 e
6), severa (7 e 8) e insuportável (9 e 10), e a(s) região(ões) corporal(is) acometida(s) (anexo 6).
A fim de avaliar a qualidade de vida, foi aplicado o questionário Medical Outcomes Studies 36-item
Short-Form (MOS SF-36). O MOS SF-36 (anexo 7) é um instrumento multidimensional, formado por 36 itens
que avaliam as seguintes dimensões: capacidade funcional (desempenho nas atividades da vida diária – AVD´s –
4 itens); aspectos físicos (impacto da saúde física na realização das AVD´s – 10 itens); dor (relacionando o
impacto desta com a realização das AVD´s – 2 itens); estado geral de saúde (percepção subjetiva do estado geral
da própria saúde – 5 itens); vitalidade (percepção subjetiva do estado de saúde – 4 itens); aspectos sociais
(reflexo do impacto da condição de saúde nas atividades sociais – 2 itens); aspectos emocionais (reflexo do
estado emocional na realização das AVD´s – 3 itens); e saúde mental (escala de humor e bem-estar – 5 itens) e
há um item único sobre percepção de alteração de saúde nos últimos 12 meses (Mudança de Saúde). Seu escore
varia de 0 a 100, onde o 0 corresponde ao pior estado geral de saúde e 100 ao melhor estado (WARE, 1997 apud
MENESES, 2002; CICONELLI et al, 1999; CASTRO et al, 2003).
4.4. Materiais
Foram requeridos, em cada uma das lojas:
o 1 (uma) sala climatizada com espaço suficiente para o número de seus participantes para a
aplicação da técnica;
o 40 colchonetes (cedidos pela empresa para a utilização no estudo);
o Cópias dos questionários de avaliação;
o 12 (doze) bolas pequenas de borracha da marca Mercur;http://www.uib.es/catedra_iberoamericana
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o 1 câmera fotográfica digital Canon A-200.
4.5. Procedimentos
Inicialmente, foi elaborado um termo por meio de um ofício que foi entregue à diretoria geral da
empresa, solicitando a realização da pesquisa (anexo 1), o qual foi devidamente aprovado pela mesma.
O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFRN, sob o parecer nº
021-2005, tendo sido iniciada a intervenção logo após esse resultado.
O treinamento da técnica de relaxamento eutonia ocorreu, inicialmente, em uma das salas do
Departamento de Fisioterapia da UFRN, e posteriormente numa sala do Núcleo de Yoga da mesma instituição,
nas quais os pesquisadores foram submetidos à técnica de eutonia acompanhado por orientações posteriores por
professoras, idoneamente capacitadas. Os pesquisadores fizeram, como parte do treinamento, a aplicação da
técnica em voluntários do “Grupo de Pesquisa em Estresse Ocupacional e Variações na Percepção do
Desconforto Corporal” do curso de Fisioterapia sob orientação, para dirimir dúvidas e padronizar procedimentos.
Após reunião feita com os pesquisadores, gerentes das lojas e a gerência de Recursos Humanos da
empresa, foi realizada uma avaliação estrutural e de dinâmica de funcionamento das seis lojas, a fim de verificar
a viabilidade destas para a participação da pesquisa. Foi realizada uma avaliação estrutural e de dinâmica de
funcionamento das seis lojas, a fim de verificar a viabilidade destas para a participação da pesquisa. Nesta
avaliação, foi constatado que uma loja não dispunha de uma sala climatizada com espaço adequado para a
realização das intervenções, enquanto as outras cinco lojas permitiam o uso da sala de reunião, viabilizando a
prática.
Antes de iniciar as atividades práticas foi realizada uma reunião com os funcionários do turno matutino,
na sala de reunião em cada uma dessas lojas, após o período de trabalho a fim de tornar públicos os objetivos e a
dinâmica da pesquisa. Na mesma ocasião foi recolhida a assinatura de um termo de consentimento livre e
esclarecido pelos funcionários que aceitaram participar da pesquisa voluntariamente, e foi dado início à primeira
avaliação com a aplicação dos seguintes instrumentos: inventário de identificação geral, QEPL, questionário
adaptado de Zabel e McGrew e MOS SF - 36.
Todas as visitas às lojas foram previamente agendadas com a administração das mesmas. As
intervenções foram efetuadas uma vez por semana obedecendo a um intervalo mínimo de 5 (cinco) dias, com
duração média de 20 a 30 minutos cada, por no mínimo 2 (dois) meses e meio, totalizando 10 (dez) práticas.
Alguns estudos, como os de Kabat-zin, Lipworth e Burney (1985) e o de Blanchard et al (1982) apud Carlson e
Stoyva (1993), revelam que com o mesmo tempo de prática do estudo atual, o uso da técnica de relaxamento
apresenta resultados significativos na redução de dores crônicas.
Durante as intervenções, os participantes foram solicitados a permanecerem deitados ou sentados
confortavelmente (de acordo com a prática), retirarem acessórios que causem algum desconforto e a ajustarem
suas vestimentas a fim de contribuir para o melhor aproveitamento da técnica. Em seguida, os pesquisadores
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davam início à técnica propriamente dita que consiste numa série de comandos verbais os quais vão
possibilitando o relaxamento e o autoconhecimento dos voluntários.
A técnica de relaxamento, assim como cada avaliação, foi realizada pelos próprios pesquisadores,
devidamente treinados para cada etapa. Os pesquisadores (aplicadores da técnica) fizeram um revezamento entre
as lojas, de forma que cada loja não recebeu por duas semanas consecutivas o mesmo aplicador; a fim de
minimizar as diferenças interaplicador. A seqüência de práticas foi previamente definida observando os
princípios da eutonia e a complexidade das atividades, partindo-se das atividades de menor mobilidade para as
de maior mobilidade.
As práticas, com exceção da final, observaram uma dinâmica comum na atividade inicial envolvendo
comandos dirigidos a um inventário, atividade principal, estiramentos e relato final voluntário dos participantes.
A seguir encontra-se a seqüência de atividades feitas:
- A primeira prática objetivou a percepção consciente das diferentes partes do corpo (ossos, músculos e
vísceras), bem como a observação do ritmo respiratório próprio. Com os praticantes em repouso na posição
deitada em decúbito dorsal, foi dado seqüência aos comandos a partir dos dedos dos pés ascendendo até cabeça e
face (anexo 8).
- A segunda e terceira práticas objetivaram a percepção das partes do corpo palpáveis, a partir do
próprio tato, e dos movimentos articulares. A 2ª enfatizou os membros inferiores, pelve e abdômen, e a 3ª os
membros superiores, pescoço, face, além da percepção dos diferentes movimentos das principais articulações
(anexos 9 e 10, respectivamente).
- A quarta visou a percepção da diferença entre o estado de contração e o de repouso dos principais
músculos de todos os segmentos corporais e membros, com mobilização dos joelhos, coluna lombar, punhos,
cotovelos, ombros e cabeça (anexo 11).
- A quinta enfatizou a observação do estado muscular (encurtamento/estiramento) em determinadas
posturas para posições de controle (ver figuras abaixo) (anexo 12).
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Figura 1
Figura 2
Figuras 1 e 2: Posições de controle do ombro, das cinturas pélvica e escapular, do tórax e do pescoço.
Figuras 3 e 4: Posições de controle dos músculos da nuca, das costas, das coxas e das pernas.
- A sexta permitiu uma continuidade do que foi proposto na intervenção anterior (anexo 13), evoluindo
para posições mais elaboradas. Foram repetidas as posições de controle anteriores (figuras 1, 2, 3 e 4) e
realizadas as posições das figuras 5, a fim de permanecer na postura ereta sentada, e 6 adaptada (sem cruzar as
pernas uma sobre a outra) para cada lado.
Figuras 5 e 6: Posições de controle dos quadris, dos joelhos, dos tornozelos, dos pés e das cinturas pélvica e
escapular.
- Na sétima, após observar-se maior confiança e conhecimento entre os participantes, desenvolve-se
posições de controle de maior complexidade, em duplas (anexo 14). Todos os movimentos e/ou posições foram
realizados com alternância entre as duplas (figuras 7 a 15).
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Figura 3 Figura 4
Figura 5 Figura 6
Figura 7 Figura 8
Figura 11
Figuras 7 a 12: Movimentos de controle dos joelhos, quadris e coluna.
Figura 13: Movimento de controle para membros superiores.
Figuras 14 e 15: Movimentos de controle para coluna cervical e torácica.
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Figura 9Figura 10
Figura 12
Figura 13
Figura 14Figura 15
Figura 11
- A oitava prática visou a realização de movimentos de controle (figuras 16 a 18). Foi solicitado aos
participantes que percebessem o estiramento muscular, tônus, força e outros aspectos envolvidos com os
princípios da eutonia (anexo 15).
Figura 16: Movimento de controle para ombros.
Figura 17: Movimento de controle para ombros com dissociação de cinturas.
Figura 18: Movimento de controle para quadris.
- Na nona intervenção foram realizados “exercícios de contato”, com utilização de uma bolinha de
borracha sob as diversas regiões corporais, momento em que os praticantes, em decúbito dorsal, observavam a
pressão e o estado muscular nos diferentes contatos com a bola de borracha utilizada para cada um. Os
comandos foram dados orientando a colocação da bola sob as regiões trabalhadas (panturrilha, parte posterior
das coxas, nádegas, coluna lombar, coluna torácica baixa e alta, na região do músculo trapézio, ombros e http://www.uib.es/catedra_iberoamericana
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Figura 16
Figura 17
Figura 18
pescoço) (Anexo 16), como demonstrado nas figuras 19, 20 e 21 (adaptado – utilização da bola no lugar do
bastão).
Figuras 19 a 21: Exercícios de contato.
- Na décima prática objetivou-se a ampliação do tato pela percepção da palpação de diferentes partes do
corpo, feita por no máximo oito aplicadores simultaneamente e observando as orientações orais dos
pesquisadores (Anexo 17).
O QEPL, o questionário adaptado de Zabel e McGrew e o MOS SF – 36 foram reaplicados após a
décima intervenção, porém em dia distinto da última atividade prática.
Durante o período de intervenção, 2 (duas) das 5 (cinco) lojas que iniciaram a pesquisa apresentaram
problemas em relação a continuidade das práticas no prazo pré-determinado, sendo então excluídas da amostra.
4.6. Análise dos dados
Os dados coletados foram analisados através do programa estatístico Statistica 6.0 e submetidos ao
procedimento não-paramétrico Wilcoxon Matched Pairs Test em virtude do número da amostra. Este é um teste
de observações pareadas utilizado para revelar a significância estatística dos dados colhidos.
Entre as variáveis estresse percebido e qualidade de vida foram realizadas regressões simples e
múltiplas. O procedimento Backward Stepwise foi utilizado para a seleção das variáveis independentes
(qualidade de vida) da regressão múltipla, as quais não podem apresentar relação significativa com a variável
dependente (estresse percebido) e nem correlação entre si. Após essa seleção, as variáveis foram submetidas a
um teste de regressão a fim de indicar o nível da correlação do conjunto das variáveis da regressão múltipla,
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Figura 19
Figura 20
Figura 21
podendo indicar o nível de predição para cada relação estabelecida entre as análises dependendo do nível de
correlação obtido. Porém estes resultados não são apresentados neste trabalho devido ao pequeno tamanho
amostral e inconsistência dos resultados, mas que merece atenção em estudos futuros.
Os resultados obtidos foram encaminhados à administração da rede de supermercado com as possíveis
sugestões de aprimoramento da política da empresa quanto à saúde de seus trabalhadores.
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5. RESULTADOS
Os dados coletados, de acordo com a metodologia exposta anteriormente, estão organizados em grupos.
Estes representam, seqüencialmente, a caracterização da amostra quanto aos dados pessoais relevantes, os fatores
de riscos familiares, os aspectos relacionados ao trabalho, queixas e satisfação no mesmo – apesar da análise do
perfil da amostra não estar nos objetivos propostos, ela servirá para futura discussão em aspectos relevantes do
estudo. Em seguida os dados correspondentes à percepção do estresse, desconforto corporal e qualidade de vida.
5.1. Perfil da amostra
A caracterização dos participantes da investigação foi realizada segundo os critérios de sexo,
escolaridade, estado civil e filhos, inclusos no inventário de identificação geral. Evidenciou-se que dentre os
nove participantes 67% eram do sexo feminino e 33% do masculino; 89% tem como nível de escolaridade o
ensino médio completo e 11% o ensino superior incompleto; 88% dos participantes são solteiros e 22% casados;
67% não possui filhos e 33% possui (tabela 1).
Tabela 1: Distribuição dos voluntários por gênero, escolaridade, estado civil e presença de filhos.
Variáveis f f%
Sexo
Masculino 3 33%
Feminino 6 67%
Escolaridade
Ensino Médio completo 8 89%
Ensino Superior incompleto 1 11%
Estado Civil
Solteiro 7 78%
Casado 2 22%
Filhos
Não 6 67%
Sim 3 33%
FONTE: dados coletados pelos pesquisadores.
Com relação a questões gerais relacionadas à saúde, 67% dos participantes afirmou não ter atividades
de lazer e 33% tem esse tipo de atividade; 89% não pratica atividade física, enquanto apenas 11% pratica; 44%
não possui parentes que apresentam alguma doença crônica e 56% possui parentes com estas doenças, sendo elas
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) com 60% dos que responderam possuir esse tipo de parente, diabetes com
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20% e mais de uma das opções listadas (HAS, diabetes, câncer, artrose, artrite e outras) com também 20%. Estes
resultados estão expressos na tabela 2.
Tabela 2: Distribuição dos voluntários quanto à presença de atividades de lazer, prática de atividades físicas e
parente com doença crônica.
Variáveis f f%
Atividade de lazer
Sim 3 33%
Não 6 67%
Atividade física
Sim 1 11%
Não 8 89%
Parente com doença crônica
Não 4 44%
Sim 5 56%
*HAS 3 60%
*Diabetes 1 20%
*Mais de uma 1 20%
FONTE: dados coletados pelos pesquisadores; *Dentre os que responderam “Sim”.
Foram também colhidas informações sobre o trabalho. Quando questionados quanto ao tempo que
desempenham a função de operador de caixa de supermercado, 33% respondeu trabalhar há um período de 1 a 2
anos e 11 meses, 33% de 3 a 4 anos e 11 meses, 11% de 5 a 6 anos e 11 meses e 22% trabalha há mais de 7 anos.
Quanto à realização de outra atividade na empresa, exceto ser operador de caixa, apenas 11% não realiza outra
atividade, enquanto 89% respondeu positivamente, sendo as atividades citadas as de embalagem, panfletagem e
mais de uma. 56% dos voluntários apresentam outra tarefa fora da empresa e todos responderam que são
atividades domésticas. Todos afirmaram ter apenas uma pausa durante o turno de trabalho cuja duração variou de
até 20 minutos (67%), entre 21 e 40 minutos (11%), entre 41 e 60 minutos (11%) e mais de uma hora (11%).
Durante a pausa, 78% responderam fazer refeição, 11% afirmaram cochilar e 11% realizam outra atividade
(tabela 3).
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Tabela 3: Distribuição dos voluntários quanto às questões relacionadas ao trabalho.
Variáveis f f%
Tempo que trabalha como caixa
[1 – 3[ 3 33%
[3 – 5[ 3 33%
[5 – 7[ 1 11%
[7 ou mais 2 22%
Outra atividade na empresa
Sim* 8 89%
Não 1 11%
Outra atividade fora da empresa
Sim** 5 56%
Não 4 44%
Quanto tempo de pausa
0 – 20] 6 67%
]20 – 40] 1 11%
]40 – 60] 1 11%
[60 ou mais 1 11%
O que faz nas pausas
Refeição 7 78%
Cochilar 1 11%
Outra atividade 1 11%
FONTE: dados coletados pelos pesquisadores; * Embalagem, panfletagem e mais de uma atividade;
** Tarefas domésticas.
Quanto a queixas relacionadas com o trabalho, todos referiram alguma queixa álgica durante ou após o
mesmo; quanto à posição que causa desconforto, 67% responderam sentir dor quando sentados, 22% em
ortostatismo e 11% em ambas as posições; 44% afirmou permanecer por mais de 6 horas na posição de
desconforto. Sobre o absenteísmo, 44% respondeu nunca haver sofrido, enquanto mais da metade da amostra
(56%) afirmou já haver se ausentado do trabalho por motivo de doença, dos quais 20% apenas uma vez, 40% por
2 vezes, 20% por 3 vezes e 20% por mais de 5 vezes (tabela 4).
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Tabela 4: Distribuição dos voluntários quanto à dor e absenteísmo no trabalho.
Variáveis f f%
Posição que causa desconforto
Sentado 6 67%
Em pé 2 22%
Ambas 1 11%
Quanto tempo fica nessa posição
Em torno de 1 hora 1 11%
Em torno de 2 horas 1 11%
Em torno de 3 horas 1 11%
Em torno de 4 horas 1 11%
Em torno de 5 horas 0 0%
Mais de 6 horas 4 44%
Não respondeu 1 11%
Absenteísmo
Não 4 44%
Sim 5 56%
* Uma 1 20%
* Duas 2 40%
* Três 1 20%
* Quatro 0 0%
* Mais de cinco 1 20%
Fonte: dados coletados pelos pesquisadores; *Dentre os que responderam “Sim”.
Com relação à satisfação profissional, 67% da amostra está satisfeita com o ambiente de trabalho; 78%
está satisfeita com a atividade laboral desempenhada, porém 78% não se sentem realizados profissionalmente
(tabela 5).
Quando questionados sobre a renda salarial total, todos os participantes do estudo afirmaram possuir
renda em torno de 1 a 2 salários mínimos.
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Tabela 5: Distribuição dos voluntários quanto à satisfação profissional.
Variáveis f f%
Satisfação com o ambiente de trabalho
Sim 6 67%
Não 3 33%
Satisfação com a atividade de trabalho
Sim 7 78%
Não 2 22%
Realização profissional
Sim 2 22%
Não 7 78%
FONTE: dados coletados pelos pesquisadores.
5.2. Percepção do estresse
Na análise do Questionário de Percepção do Estresse de Levenstein, os Índices de Estresse Percebido
(IEP) derivados das pontuações variam de “0” (o mais baixo nível de estresse possível) a “1” (o mais alto nível
possível de estresse). Na avaliação inicial, o valor do IEP médio da amostra foi de 0,49 e na avaliação final, os
valores dos IEP médios para a amostra em geral foram de 0,37 (tabela 6).
Tabela 6: Pontuações do Índice de Estresse Percebido.
NMédia
Desvio Padrão P - valorIEP inicial IEP final
Indivíduos 9 0,49 0,37 0,08 0,03
Observou-se na população em questão, que o Índice de Estresse Percebido (IEP) ao qual estão
submetidos, inicialmente, foi de 0,49 e após o período de intervenção houve redução desse índice para 0,37
(p<0,05).
5.3. Desconforto corporal
As variáveis avaliadas em relação ao desconforto corporal foram o número de queixas em geral, a
região acometida, o nível de sensibilidade e o tipo de desconforto.
Todos os voluntários apresentaram algum desconforto antes do início do período de intervenção e após
a conclusão do mesmo.
Quanto às regiões com maior número de queixas, dentre as 59 avaliadas inicialmente, a amostra
apresentou-se da seguinte forma: pernas 16%, pescoço 14%, coluna lombar 10%, mão/punho direito e esquerdo
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com 10% em ambos. À reavaliação, o número de queixas foi de 57, das quais as pernas, pescoço, coluna lombar
e mão/punho direito e esquerdo obtiveram 14%, 12%, 9% e 5%, respectivamente.
As regiões que não apresentaram queixas inicialmente foram: abdome, cotovelo direito e esquerdo e
pelve. Na reavaliação, foi verificado 2% de queixas no abdome, 5% nos cotovelos direito e esquerdo e 4% na
região pélvica. Esses dados, bem como os de todas as outras regiões analisadas estão nas figuras 22 (tronco
superior e membros superiores) e 23 (tronco inferior e membros inferiores).
Número de queixas de desconforto corporal(tronco superior e MMSS)
8%
16%
10%
4%
4%
2%
3%
0%
0%9%
14%
5%Pés
Pernas
Nádegas
Pelve
Coluna lombar
Abdome
FinalInicial
Figura 22: Distribuição dos voluntários quanto à região corporal (tronco superior e membros superiores)
que apresenta sintomatologia dolorosa.
Número de queixas de desconforto corporal (tronco inferior e MMII)
10%
10%
5%
8%
14%
7%
5%
5%
9%
4%
5%
0%
0%
8%
2%
5%
5%
4%
7%
12%
Mão/punho E
Mão/punho D
Antebraço E
Antebraço D
Cotovelo E
Cotovelo D
Ombro E
Ombro D
Pescoço
Cabeça
FinalInicial
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Figura 23: Distribuição dos voluntários quanto à região corporal (tronco inferior e membros inferiores)
que apresenta sintomatologia dolorosa.
Segundo o questionário aplicado para avaliação de desconforto corporal, a intensidade da sensibilidade
dos desconfortos é classificada em cinco categorias: ausente, perceptível, moderada, severo e insuportável.
Inicialmente, os níveis de sensibilidade referentes ao número de 59 queixas apresentou-se da seguinte
forma: perceptíveis 48%, moderadas 41%, 6% severo e 5% insuportáveis. Na reavaliação, esses níveis de
sensibilidade referentes ao número de 57 queixas foram percebidos como 33% perceptível, 39% moderada, 19%
severo e 9% insuportável (figura 24).
Nível de sensibilidade
48%41%
6% 5%
19%9%
39%33%
Perceptível Moderada Severa Insuportável
InicialFinal
Figura 24: Distribuição dos voluntários quanto ao nível de sensibilidade referido.
Percebe-se uma diminuição das categorias “perceptível” e “moderada” e um aumento das categorias
“severo” e “insuportável”, após o período de intervenção realizado.
O somatório inicial dos níveis de sensibilidade dos desconfortos foi de 609 e ao final do período de
intervenção o valor desse somatório foi de 675.
Na observação estatística da variação do número de queixas total e do nível total de sensibilidade não
foi encontrada significância, sendo 0,10 > p < 0,05.
5.4. Qualidade de vida
O questionário MOS SF – 36 resulta na avaliação de 8 domínios, os quais são: capacidade funcional,
limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, limitação por aspectos
emocionais e saúde mental. Os resultados do comportamento destes domínios estão expostos na tabela 7.
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Tabela 7: Escore dos domínios do MOS SF – 36.
Domínios Inicial Final P – valor
Capacidade funcional 72,22 81,67 0,128
Limitação por aspectos físicos 72,22 88,89 0,115
Dor 47,33 63,00 0,097
Estado geral de saúde 51,33 73,11 0,017*
Vitalidade 46,11 68,89 0,011*
Aspectos sociais 63,89 79,17 0,074
Limitação por aspectos emocionais 81,48 85,19 1,000
Saúde mental 60,00 76 0,079
Somatório 494,59 611,46 0,015*
* p < 0,05.
Foi verificado aumento na pontuação de todos os domínios quando comparados os escores iniciais e
finais, porém apenas para os indicadores “estado geral de saúde” e “vitalidade” a diferença foi estatisticamente
significativa (p < 0,05), além do somatório dos valores dos indicadores de QV.
6. DISCUSSÃO
6.1. Percepção do estresse
Mediante os resultados expostos, com relação à percepção do estresse, é possível verificar que o valor
da média do IEP inicial foi de 0,49. Segundo Levenstein et al (1993), em seu estudo de desenvolvimento do
questionário do estresse percebido (QEPL na língua portuguesa) realizado em uma população heterogênea,
composta por grupos de pacientes com problemas gastroenterológicos e de profissionais da área da saúde;
quanto mais o valor do questionário estiver próximo de 1,0 (um) maior será o nível de estresse percebido e
quanto mais próximo de 0,0 (zero) menor será esse nível. Como o valor do IEP inicial do presente estudo
encontra-se aproximadamente na metade do intervalo citado, pode-se inferir que a população em questão
apresenta sinais modestos de estresse, de acordo com o questionário utilizado.
Costa e Costa (2004), no seu trabalho de validação do QEPL para a língua portuguesa realizado com
152 operadores de caixa de supermercado, mostraram uma média do Índice do Estresse Percebido (IEP), na
forma Recente do questionário, de 0,62; o que levou as autoras concluírem que a população estava submetida a
uma situação de potencial estresse, diferenciando dos achados do presente estudo.
De acordo com alguns dados referentes à caracterização da amostra, verifica-se que a maioria da
amostra realiza outra atividade na empresa (além de operador de caixa), possui dupla jornada de trabalho, não
tem atividade de lazer, nem pratica atividade física, não se sente realizada profissionalmente, obtém uma baixa
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renda salarial e que todos apresentam desconforto corporal relacionado ao trabalho. Esses fatores, de acordo com
Lundberg e Frankenhaeuser (1999), Boas (2003), Ebrecht et al (2003) e Costa e Costa (2004), tornam o
indivíduo mais susceptível ao desenvolvimento de estresse ocupacional.
Contudo, também foi encontrado no presente estudo que em relação à satisfação profissional, 67% estão
satisfeitos com o ambiente de trabalho e 78% estão satisfeitos com a atividade laboral desempenhada. Segundo
Boswell, Olson-Buchanan e Lepine (2003), a satisfação do trabalho está ligada positivamente ao nível de
percepção de estresse ocupacional. Considerando a multicausalidade de agentes estressores, é possível que esses
valores de satisfação encontrados estejam compensando os resultados de estressores ocupacionais negativos
comentados acima; o que pode justificar em parte o valor inicial do IEP encontrado no presente estudo.
Com relação ao comportamento dos níveis de IEP antes e após a intervenção, verifica-se que houve
significativa redução, variando de 0,49 para 0,37. Percebe-se com isto que a técnica de relaxamento empregada
parece ser eficaz na redução desse índice. Carlson e Stoyva (1993) ressaltam que para o controle ou
administração do estresse é importante a questão da “controlabilidade”, isto é, a percepção do indivíduo de
influência sobre a situação estressora, ou sua reação a ela. Esses autores também afirmam que o relaxamento é
um exemplo de procedimento para administração do estresse que trabalha a idéia de aumento do controle, ou até
a sensação dele. Portanto, é possível que o tipo de relaxamento empregado no presente estudo, o qual enfatiza o
trabalho da conscientização corporal, tenha promovido uma maior percepção corporal dos agentes estressores,
bem como uma maior sensação de controle sobre os mesmos, o que pode ter acarretado em um maior poder de
controlabilidade do estresse.
6.2. Desconforto corporal
6.2.1. Desconforto corporal e ambiente de trabalho
Quanto à relação entre desconforto corporal e ambiente de trabalho, cujos dados foram obtidos a partir
do questionário de identificação geral, foi evidenciado que todos os participantes da amostra referiram alguma
queixa álgica durante ou após o trabalho; 67% responderam sentir dor quando sentados e 55% afirmou
permanecer em torno de 4 horas ou mais nesta posição. Mais da metade da amostra (56%) afirmou já haver se
ausentado do trabalho por motivo de doença, dos quais 40% por 2 vezes. Dias (2001), refere a profissão de
operadores de caixa de supermercado como bastante exaustiva, tendo em vista a grande exigência de atenção
necessária durante o registro dos artigos, podendo gerar tensão muscular e consequentemente o adoecimento,
com o decorrer do tempo.
Mello Filho et al (1992) inferem que a maior predisposição e ocorrência de manifestações de doença em
um meio de trabalho constituem índices importantes para se verificar o nível de saúde deste meio, não somente
em termos higiênico-sanitários, mas também em termos de saúde social, comprometendo biologicamente o
indivíduo. Ademais, Nahit et al (1993) que analisaram sujeitos de ocupações diversas, verificaram que demandas
de estresse psicológicos estão associadas com o dobro de risco da dor relatada, enquanto aspectos de demanda de
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39
trabalho estão associados com o aumento casual dessa dor. Dentro dessa abordagem, podemos supor que apesar
dos indivíduos investigados não terem apresentado escores do IEP característicos de populações sujeitas a
condições elevadas de estresse psicossocial, os indicativos de presença de dor sugerem que a população em
estudo encontra-se em condições de estresse físico de caráter laboral, as quais podem comprometer
biologicamente os indivíduos em questão. É possível que o Questionário do Estresse Percebido de Levenstein
(QEPL), utilizado no presente estudo, pode não ser totalmente adequado para avaliar a influência de
comprometimentos físicos no nível de estresse percebido.
Quando analisadas as questões sobre a atividade laboral, 66% dos participantes trabalham como
operador de caixa de supermercado há um período de 1 a 4 anos e 11 meses. Todos afirmaram ter apenas uma
pausa durante o turno de trabalho, cuja duração predominante foi de até 20 minutos (67%), sendo que 78%
respondeu fazer refeição neste tempo. Segundo a empresa, a duração da pausa varia (de 20 minutos a 1 hora) de
acordo com a necessidade da mesma, ou seja, com uma grande demanda de clientes, a duração das pausas é
diminuída. Isso vai de encontro ao recomendado pela Legislação de Segurança e Medicina do Trabalho (LSMT),
a qual garante ao trabalhador que possui tarefas com exigência de esforço repetitivo o direito a "uma pausa de 10
minutos para cada 50 minutos trabalhados, não deduzidos na jornada normal de trabalho" de seis (6) horas-dia,
no caso do operador de caixa de supermercado. (INFORMATIVO da LSMT apud MARTINS e DUARTE,
2000).
Esses dados sugerem que a pausa não se constitui em “pausa de repouso”, pois os trabalhadores, em sua
maioria, fazem sua refeição nesse intervalo. A dinâmica atual das pausas pode ser um dos causadores dessa
queixa álgica, somando-se a isso o fato de que a coluna lombar foi uma das regiões com maior número de
referência nessa população. Considerando esse aspecto, o MINISTÉRIO (2001) observou que em indivíduos
estressados e tensos, a atividade muscular normal, de repouso, é mais elevada do que a média, como
conseqüência, a pressão entre os discos que separam as vértebras lombares seria maior, podendo resultar em
patologias da coluna.
6.2.2. Percepção do desconforto corporal e Eutonia
Na avaliação do desconforto corporal, investigado através do questionário adaptado de Zabel e
McGrew, evidenciou-se em números absolutos uma diminuição discreta da quantidade de queixas quando
comparados os momentos antes e depois da intervenção (antes – 59 queixas; depois – 57 queixas), mas não
havendo diferença estatística relevante.
Murta e Troccoli (2004) em seu trabalho de pesquisa em estresse ocupacional com funcionários de um
hospital utilizaram um programa de intervenção baseado no modelo cognitivo-comportamental, o qual envolvia
a prática do relaxamento; a intervenção foi conduzida ao longo de 24 sessões (um ano), com periodicidade
quinzenal e duração de 40 minutos. Apesar de a avaliação ter sido por relatos verbais, os resultados mostraram
uma grande eficácia no nível de satisfação com a técnica e desenvolvimento de habilidades de solução de
problemas. Da mesma forma, os estudos citados por Carlson e Stoyva (1993), como o de Kabat-zin, Lipworth e
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40
Burney (1985) que realizaram um estudo com meditação e relaxamento em 10 semanas, e o de Blanchard et al.
(1982) que utilizou apenas o relaxamento, com 10 sessões num período de 8 semanas, apresentaram resultados
significativos na redução de dores crônicas.
Para estas comparações deve-se considerar as diferenças metodológicas utilizadas nos estudos com
relação às populações utilizadas nos estudos, os protocolos utilizados para a avaliação da eficácia da técnica, as
diferentes técnicas utilizadas, o número de sessões as quais os sujeitos foram submetidos, podendo-se supor
portanto, que as diferentes técnicas de relaxamento podem necessitar de tempos distintos para que o indivíduo
adapte-se e seja capaz de identificar melhora em termos de desconforto corporal. Como no presente estudo o IEP
se mostrou diminuído, é possível que haja uma tendência de que a técnica utilizada para a população em questão,
consiga atingir resultados físicos favoráveis após um período maior de intervenção.
As regiões com maior número de queixas, tanto na avaliação inicial quanto na final, foram: pernas,
pescoço, coluna lombar e mão/ punho direito e esquerdo. Na avaliação final surgiram regiões com queixas que
não foram relatadas na primeira avaliação, as quais foram: abdome, cotovelo direito e esquerdo, e a região
pélvica. Esses resultados não apresentaram nenhum significado estatístico, o que nos revela que a intervenção
não alterou a distribuição de queixas por regiões do corpo.
A avaliação do desconforto corporal também evidenciou que, antes da aplicação da técnica de
relaxamento, a maioria das queixas de desconforto eram perceptíveis (48%) ou moderadas (41%), porém já
havia referências nos níveis severo (6%) e insuportável (5%). Após a realização das práticas, as categorias
perceptível e moderada também sofreram redução (33% e 39%, respectivamente), enquanto houve aumento nos
níveis severo e insuportável (19% e 9%, respectivamente). Além disso, a diferença entre o nível de sensibilidade
total (somatório) antes e depois da intervenção no grupo apresentou uma tendência a aumento desse nível após o
período estudado (0,10 > p < 0,05).
Vishnivetz (1995) afirma que a prática da eutonia permite ao indivíduo o autoconhecimento e que isto
requer um processo de ampliação da percepção (sensibilidade superficial e profunda, consciência da posição e
direção da estrutura esquelética no espaço e distribuição das tensões em sua estrutura neuromuscular), ou seja,
melhora da “consciência corporal”. Isto sugere que a técnica empregada tende a tornar seus participantes mais
sensíveis a quantificação de cada um de seus desconfortos corporais, tanto na quantificação do escore geral da
sensibilidade do desconforto (somatório), quanto na classificação de suas queixas (discriminação em níveis de
sensibilidade). É provável que esta população consiga atingir resultados mais significativos quanto ao nível de
sensibilidade do desconforto após um período maior de intervenção.
6.3. Qualidade de vida
De acordo com os resultados identificados, há evidências de que existe diferença estatística entre o
somatório dos indicadores de QV inicial (494,593) e QV final (611,463), tendo, portanto, o somatório dos
indicadores de QV inicial apresentado menor escore quando comparado ao final; isto nos mostra, com relação
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41
aos itens investigados no instrumento, uma melhora na QV geral do grupo que foi submetido à técnica de
relaxamento.
Todos os indicadores de QV presentes e analisados do MOS SF – 36 mostraram aumento quando
comparados os valores inicial e final; porém os que apresentaram valor significativo, estatisticamente, foram: o
Estado Geral de Saúde (P-valor = 0,017<0,05), com valores de suas médias variando de 51,33 para 73,11, e
Vitalidade (P-valor = 0,011<0,05), com valores de suas médias variando de 46,11 para 68,88.
Diante desses resultados, podemos supor que o relaxamento utilizado pode ter influenciado na melhoria
da percepção do estado geral de saúde e da vitalidade dos participantes. Carlson e Stoyva (1993) dizem que a
sensação de controle é um importante fator não apenas no enfrentamento do estresse, mas para a saúde em geral
(estado geral de saúde).
Fernandes (1996) apud Souza (2001), afirma que qualidade de vida no trabalho é relevante para o ser
humano, pois o nível de satisfação com ele trará influências em seu cotidiano, o que afeta a auto-estima e
conseqüentemente sua produtividade. Sendo assim, infere-se que a técnica de relaxamento utilizado no presente
estudo tende a refletir positivamente na qualidade de vida e, conseqüente, produtividade destes funcionários
dentro de suas funções na empresa.
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42
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo permitiu inferir sobre efeitos da técnica de relaxamento Eutonia sobre uma população
de operadores de caixas de supermercado. A população em estudo apresentou índices mais baixos de estresse
percebido e melhor percepção na qualidade das queixas de desconforto corporal após as práticas. Os resultados
também apontam para uma possível influência da técnica empregada na melhoria de indicadores de qualidade de
vida como estado geral de saúde e vitalidade.
Reconhecendo as limitações deste trabalho, principalmente em sua validade externa, sugere-se que haja:
uma continuidade do estudo com um tempo maior de intervenção e número amostral maior; uso de grupo
controle; realização de análises de parâmetros fisiológicos para a mesma técnica ou com outras que visem à
corporeidade do indivíduo submetido a estresse laboral, e aplicação da Eutonia em outras populações
potencialmente submetidas a estresse.
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43
SOBRE OS AUTORES
Esta pesquisa foi realizada entre os anos 2004 e 2005 pelo Grupo de Pesquisa em Estresse Ocupacional e
Variações na Percepção do Desconforto Corporal do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) em Natal (RN/Brasil). Este grupo esteve em atividade entre os anos 2002 e 2006 e
entre as pesquisas mais relevantes publicadas se encontram:
Comportamento de parâmetros fisiológicos de homens e mulheres em condições de estresse laboral
submetidos à técnica watsu. Dissertação de mestrado em Fisiologia. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
Tradução para a língua portuguesa e validação do Questionário de Percepção do Estresse de Levenstein.
Monografia de graduação em Fisioterapia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Influência dos princípios da eutonia na percepção do estresse, desconforto corporal e qualidade de vida
em operadores de caixa de supermercado. Monografia de graduação em Fisioterapia. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
Perfil dos trabalhadores da saúde do HUOL quanto à presença da síndrome de burnout e de desconforto
corporal. Monografia de graduação em Fisioterapia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Clarissa Araujo
clafisio@yahoo.com.br
Fisioterapeuta graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2000-2005) e especialista em
Fisioterapia em Atenção Primaria e Saúde Comunitária (2006-2007) pela Universidade das Ilhas Baleares
(Espanha). Atualmente é doutoranda na Universidade das Ilhas Baleares (Espanha), dedicando-se à qualidade de
vida familiar e à atenção precoce em Fisioterapia.
Tiótrefis G. Fernandes
tiotrefis@yahoo.com.br
Fisioterapeuta graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2000-2005), especialista em
Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde (2010-2011) pela
FIOCRUZ (Brasil) e docente da Universidade Federal do Amazonas desde 2006. Atualmente é doutorando pelo
programa de ciências médicas da Universidade de São Paulo, dedicando-se à epidemiologia de doenças
cerebrovasculares e atuação da Fisioterapia na atenção primária à saúde.
http://www.uib.es/catedra_iberoamericana
44
Larissa Bastos Tavares
Fisioterapeuta graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1995 – 2000) e Mestre em
Psicobiologia pelo Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2002 – 2004).
Atualmente é doutoranda na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) (Vila Real – Portugal) na
área de Avaliação e Prescrição de Atividades Físicas.
Vera Maria da Rocha
Possui graduação em Educação Física pela Universidade de Passo Fundo (1979), graduação em Fisioterapia pela
Universidade Federal de Santa Maria (1983), especialização pela Escola Nacional de Saúde Pública -
ENSP/Fiocruz (2006), mestrado em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria
(1997) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2002). É tutora em EAD
pela ENSP/Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente é docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
http://www.uib.es/catedra_iberoamericana
45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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estresse em trabalhadores da indústria. Revista de Saúde Pública, v. 35, n. 6, p. 554-563. 2001.
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