Post on 24-Jun-2015
Literaturas de Língua Portuguesa
Literatura Guineense
Escola Secundária D. Afonso Henriques
Janeiro de 2010
Professora:
Isabel Cosme
Introdução…Neste trabalho, realizado no âmbito da disciplina de Literaturas de Língua Portuguesa, vamos trabalhar o poema “Nas noites de N’djimpol” de Hélder Proença, conhecendo assim um pouco da literatura Guineense. Começamos então por fazer uma breve introdução ao estudo da literatura da Guiné-Bissau, seguindo-se uma breve descrição da vida e obra de Hélder Proença, antes de apresentar-mos a análise do poema, incluído na obra de poesia “Não posso adiar a palavra”.
Introdução à Literatura Guineense
Dentre as antigas colónias portuguesas, a Guiné-Bissau é o país onde mais tardiamente a literatura se desenvolveu devido ao atraso do aparecimento de condições socio-culturais propícias ao surgimento de vocações literárias. Esse atraso deveu-se sobretudo ao facto da Guiné ser uma colónia de exploração e não de povoamento, tendo estado por um longo período sob a tutela do governo geral da colónia de Cabo Verde.
Poderemos distinguir quatro fases na literatura da Guiné em função do seu conteúdo: uma primeira fase anterior a 1945, uma segunda entre 1945 e 1970, uma outra entre 1970 e o fim dos anos 1980 e finalmente a fase iniciada na década de 1990.
III. Dos anos 1970 ao fim dos anos 1980
Uma literatura exclusivamente poética: da poesia de combate à poesia intimista
Com a independência do país, surge uma vaga de jovens poetas, cujas obras impregnadas de um espírito revolucionário, manifestam um carácter social. Os autores mais representativos são: Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwartz, Helder Proença, Francisco Conduto de Pina, Félix Sigá.
O colonialismo, a escravatura e a repressão são denunciados por esses autores que, no pós independência imediato apelam para a construção da Nação e invocam a liberdade e a esperança num futuro melhor. O tema da identidade é abordado através de diferentes situações: a humilhação do colonizado, a alienação ou assimilação e a necessidade de afirmação da identidade nacional.
Note-se porém que a questão de identidade não é apresentada como um factor de oposição entre o indivíduo e a sociedade na qual este evolui. Ela é analisada como um conflito pessoal do indivíduo, que consciente do seu desfasamento cultural em relação à sociedade de origem, procura identificar-se com as suas raízes, da qual foi afastado pela assimilação colonial. Por conseguinte, nesta abordagem não se põe em causa a pertença do indivíduo à sociedade em questão.
Embora o recurso ao crioulo seja marginal, os autores afirmam-se como cidadãos africanos
O Autor
“(…) É assim que vamos tecendo as nossas manhãs
de ferro e terra batida
São as cores da nossa vida
Onde a juventude se forja
- Ardente e gloriosa no peito palpitante do futuro – (…)”
Hélder Proença…Era escritor e ministro da defesa da Guiné-Bissau. Nos anos 70, envolveu-se no movimento independentista do seu país, abandonando os estudos liceais e partindo para a guerrilha em 1973. Após o 25 de Abril, regressou a Bissau, onde concluiu os seus estudos. Trabalhou como quadro no ministério da cultura, tendo sido ainda deputado na Assembleia Nacional Popular e membro do Comité Central do PAIGC. Colaborou em diversas publicações, como Raízes (cabo-verdiana), África (portuguesa), Libertação e O Militante, sendo as duas ultimas ligadas ao PAIGC.
começou a dedicar-se à literatura desde a adolescência, escrevendo poemas anticolonialistas, de afirmação da identidade nacional, que acompanharam a sua actividade política. Os textos desta fase foram reunidos no volume Não Posso Adiar a Palavra, editado apenas em 1982.
Morreu no dia cinco de Junho de 2009 assassinado na Guiné-Bissau.
Nas noites de N’djimpol
Nas noites de N’djimpol
vi a virtude dos homens sem amanhã...
légua a légua
conquistando o caudal do futuro.
Vi-os nas ondas tenebrosas
enfrentando e conquistando!
Vi braços robustos e livres
sonho campos loiros
espigas dardejando ao sabor do vento
brisas e pássaros cantando
sol e flautas beijando o suor fecundante.
Nas noites de N’djimpol
Vi a virtude dos homens sem amanhã...
légua a légua
conquistando o caudal do futuro...
Nas noites de N’djimpolVi-os nas ondas tenebrosas
enfrentando e conquistando
Sim,
Vi nas noites de N’djimpol
sonho mamãe terra
sonho compassos rítmicos no capinzal
dilatando a fé do homem-terra
o horizonte e o brilho das nossas mãos.
Oiço o grito das brisas loiras...
na imensidão farta dos campos
sim mamãe terra
firmemente sonho
na certeza gritante
de sermos loiros e fortes
como espigas e o sol
fortes e loiros…
Mamãe terra
Sonho mas juramos-te!
Nesta composição poética, o sujeito poético invoca a “mamãe terra”,apelando para a construção da nação, e reforçando a mensagem de esperança e liberdade. Por exemplo em “vi a virtude dos homens sem amanhã.../
légua a légua/ conquistando o caudal do futuro.” (vv.2,3,4), temos bem presente a visão de homens livres a lutarem por um futuro melhor, explorando e reconstruindo a sua identidade, a Nação.
Tema e Assunto…
Tema e Assunto…
Podemos assim dividir o poema em duas partes.Na primeira, que são as primeiras cinco estrofes, o sujeito poético descreve a luta dos homens pelaconquista, pela liberdade, pela identidade, reforçadospor vocábulos como “conquistar”, “virtude” e mesmo“futuro”.
Vemos aqui também uma aproximação dos Homens com a própria natureza, como se o homeme a terra vivessem em comunhão e lutassem, juntos,por uma identidade, que ainda está a ser explorada.
Na segunda parte do poema, que são as restantesduas estrofes, a mensagem do sujeito poético transmite,nomeadamente, uma vertente mais emocional, apelandoà esperança, à fé.
É quase como a confirmação de que terra (Guiné, nestecaso) e homem pertencem um ao outro, se fundem eafirmem os seus próprios valores, construíndo assim umaidentidade única e própria, para que o “sonho” se tornerealidade. “Sim,/ Vi nas noites de N’djimpol/ sonho
mamãeterra/ sonho compassos rítmicos no capinzal/ dilatando afé do homem-terra/ o horizonte e o brilho das nossasmãos.” (vv. 18,19,20,21,22,23).
Relação entre Homens e Natureza
Numa primeira fase, vemos nesta composiçãopoética uma aproximação dos homens com anatureza, através da sua fome pela luta e pelaconquista, explorando a terra e sentindo-a.
Essa relação vai ficando mais próxima, surgindoquase como uma fusão entre essas duasidentidades, em busca de uma identidade.
Encontramos assim expressões como: “Vi braçosrobustos e livres/(…) espigas dardejando ao sabor
dovento/ brisas e pássaros cantando/ sol e flautasbeijando o suor fecundante” (vv. 7,9,10,11), entreoutros…
Final…
O sujeito poético acaba o poema com uma
afirmação, concluíndo aquilo que já insinuava
Anteriormente, “(…) Mamãe terra/ Sonho mas
juramos-te!”.
Basicamente, a esperança de conseguir realizar o sonho torna-se quase palpável através da força da
natureza, fazendo com que o sujeito poético fique
convicto da sua vitória, deixando uma mensagem
positiva no ar.
Recursos Estilísticos…
Anáfora: “Vi” (vv. 2,5,7,13,16,19) – Reforça a imagemque o sujeito poético tem da conquista, da busca eda luta do seu ideal. Ele “vê” os homens a fazer isto eaquilo, porque é assim que se consegue alcançar opretendido. É assim que ele imagina o futuro.Imagem/: “Vi-os nas ondas tenebrosas/enfrentando econquistando!”Metáfora: “sol e flautas beijando o suor fecundante.”(v. 11) – Esta metáfora vem reforçar aproximidade entre a natureza e o homem. O sol
(natureza)e a as flautas (objecto musical [positivo] dos homens,unem-se harmoniosamente num só, para assim poderemcolher os frutos dos seus esforços (a luta)
Conclusão…Fazer este trabalho foi mais um novo desafio que
esta disciplina nos propôs. ;-) A literatura Guineense
é ainda tão recente, que realmente há muito pouca
informação acerca desta. O próprio Hélder Proença
parece só ser conhecido pelo facto de ter sido
assassinado, ao invés de o recordarem através do
Grande contributo que deu á evolução da literatura
Da Nação, o que é triste. Mas mesmo assim
Conseguimos espremer algum fruto da pesquisa
que fizemos, e cá está o resultado. Esperemos que
esteja razoável ;-P
Interactividade
A Literatura Guineense é das mais antigas em África
Esta afirmação é falsaEsta afirmação é verdadeira
A Guiné-Bissau era uma colónia de povoação, e Cabo Verde de exploração.
Esta afirmação é falsaEsta afirmação é verdadeira
A obra de Hélder Proença pertence a que fase da literatura Guineense?
I faseII faseIII faseIV fase
Essa fase caracteriza-se pela…
Literatura de carácter agressiva, de luta e guerra, denunciando a exploração e o colonialismo, lutando pela liberdade do país e afirmação nacional.
Pelo espírito revolucionário, manifestando um carácter social, apelando para a construção da Nação e invocando a liberdade e a esperança num futuro melhor.
O poema analisado, designa-se “Nas noites de N’djimpolo”, faz parte da colectânea de poesia…
“Não devo adiar a palavra”“Não posso retardar a palavra”“Não posso adiar as palavras”“Não posso adiar a palavra”“Não devo adiar os
pensamentos”
A mensagem do poema é de…
Combate, luta contra a opressãoCombate, luta contra o atraso
cultural; afirmação da Nação; Construção de identidade nacional
Esperança de liberdade e desejo de fuga
FIM
Trabalho realizado por:
Anna Miranda, Nº4, 12ºHVera Barbosa, Nº18, 12ºH
Bibliografia
http://www.didinho.org/resenhaliteratura.html
http://lusofonia.com.sapo.pt/guine.htm
Imagens: Motor de busca - www.google.pt