Post on 20-Nov-2018
Memórias dos “JOPAGICOS”: esporte estudantil no Pará (1964-1970).
ANDERSON RODRIGO TAVARES SILVA1
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo efetuar um estudo das relações entre história e
memória a partir do cenário de institucionalização dos Jogos Paraenses Ginásio-colegiais
(“JOPAGICOS”), com o intuito de compreender este processo como uma das estratégias
executadas pelo regime civil-militar2 visando conquistar legitimidade junto à comunidade
estudantil em Belém-PA. Partindo das memórias de ex-alunos dos cursos ginasial e colegial,
pretende-se analisar as diversas vivências desses sujeitos com o processo de invenção de
tradições3 proporcionado pela apropriação dos referidos jogos pelo estado a partir de 1964.
Desse modo, busca-se contribuir para o debate historiográfico acerca desse período, em
especial sobre as relações entre sociedade e ditadura, abordando o referido contexto histórico
a partir das suas conexões com o esporte.
Foram realizadas entrevistas, em caráter semi-estruturado (HOLANDA e MEIHY, 2010:
39), com ex-alunos de educandários de Belém. A seleção dos entrevistados foi feita a partir de
matérias dos jornais “O Liberal” e “Folha do Norte” onde foi identificada, a partir de 1964, a
recorrência de diversas reportagens contendo listas com os nomes completos de alunos
campeões nas diversas modalidades esportivas praticadas nos Jogos Paraense Ginásio-
Colegiais, o qual recebeu de um cronista da época, Lauro Souza, o famoso apelido de
“JOPAGICO”4(SOUZA, 1965). As entrevistas evidenciam as lembranças consideradas
relevantes da infância-adolescência dos ex-alunos, tendo como ponto culminante a
participação nos supracitados jogos, principalmente na edição em que conseguiram ser
campeões. Bem como questões relacionadas ao cotidiano dos “estudantes-atletas” no contexto
dos anos iniciais do regime civil-militar.
1 Professor da SEDUC/PA, Mestre em Planejamento do Desenvolvimento (NAEA/UFPA) 2 O termo “regime civil-militar” está relacionado a algumas abordagens que apontam uma participação ativa da
sociedade civil tanto no golpe de 1964 quanto no regime que se seguiu. Cf. AARÃO REIS (2014: 21);
CORDEIRO (2015: 332). 3 Cf. HOBSBAWM e RANGER (1997: 9). 4 Segundo pesquisas em edições dos jornais “O Liberal” e “Folha do Norte” entre os anos de 1955 e 1971,
identificou-se pela primeira vez esta expressão na mídia impressa em um artigo de Lauro Souza do ano de 1965.
2
As memórias desses ex-estudantes podem também ajudar a compreender um pouco
mais do cenário esportivo paraense na década de 1960 para além do futebol, visto que boa
parte dos estudos dedicados ao tema na região norte e no Brasil como um todo são voltados à
investigação de nuanças ligadas ao universo do “esporte bretão”. Somente no Pará é possível
identificar um crescente número de pesquisas voltadas ao tema do futebol, especialmente
sobre o clássico Remo x Paysandu, o qual é objeto de diversos estudos, tanto de caráter
memorialístico5 quanto histórico6.
HISTÓRIA DO ESPORTE OU HISTÓRIA ATRAVÉS DO ESPORTE?
Diante da armadilha metodológica identificada por Barros no prefácio de “Pesquisa
histórica e história do esporte” (BARROS, 2013: 12-13), pretende-se efetuar aqui uma
discussão em via de mão dupla. Ou seja, sobre a história do esporte e sobre história através do
esporte.
Esta dupla perspectiva será importante para uma melhor compreensão do objeto
investigado, visto que os “JOPAGICOS” foram um fenômeno esportivo estudantil marcante
na vida de milhares de adolescentes que participaram dos jogos ao longo das décadas de 1950
e 1960. Bem como, é um fenômeno histórico ainda pouco explorado, mas que apresenta
grandes possibilidades tanto para historiadores do esporte como também para outras áreas do
conhecimento, como a Educação Física.
Em o “Histórico da escola Superior de educação física do Pará 1970 – 1985”, Santos
menciona o crescimento do número de participantes dos “JOPAGICOS”, ao longo das
décadas de 1950 e 1960, como um dos principais incentivadores para a criação do Curso
Superior de Educação Física no Pará (implementado a partir da segunda metade da década de
1960) e a construção da ESEFPa – Escola Superior de Educação Física do Pará (inaugurada
oficialmente em 1970) (SANTOS, 1985). A disseminação do esporte nas escolas teria
5 Segundo Mary Del Priore, desde o século XIX é possível encontrar livros que descrevam a trajetória de
pioneiros de algum esporte no Brasil. Contudo, a autora aponta marcantes diferenças entre livros que considera
memorialísticos em relação aos estudos desenvolvidos pela subdisciplina História do Esporte, a qual começou a
se configurar a partir da década de 1970. A principal delas seria a falta de uma preocupação em discutir de forma
mais crítica as fontes utilizadas (DEL PRIORE, 2009: 9-10). 6 Como dito acima, há uma quantidade crescente de estudos voltados ao tema do futebol no Pará. Dentre eles,
podemos-se citar: (GAUDÊNCIO, 2007); (MONTEIRO, 2009).
3
evidenciado uma carência de profissionais da área de Educação Física que só seria sanada
com a formação de novos professores.
Além disso, Santos descreve a existência de uma dificuldade dos organizadores dos
“JOPAGICOS” em conseguir realizar os certames em piscinas, ginásios e pistas de atletismo,
espalhados pela cidade de Belém. O sucesso crescente dos jogos no meio estudantil levava a
uma necessidade imediata de maior centralização dos jogos a partir da reunião das disputas de
todas as modalidades esportivas em um único local.
A partir de 1964, com a institucionalização dos jogos pelo regime civil-militar, a
partir do decreto do Decreto nº 4444, de 2.8.1964, do Governador do Estado, Tenente-
Coronel Jarbas Passarinho, o qual “oficializava” os Jogos e nomeava o professor Nagib
Coelho Matni Presidente dos “JOPAGICOS”, fica mais evidente a participação efetiva do
Estado na organização dos jogos. Segundo matéria do jornal Folha do Norte, o decreto teria
sido lido na íntegra por seu presidente na cerimônia de abertura dos jogos daquele ano,
realizada no estádio da Tuna, o Souza, em homenagem à primeira edição realizada no mesmo
local uma década antes (FOLHA DO NORTE, 1964)7.
Em matéria do dia 9/9/1964, do jornal Folha do Norte, noticia-se que a reunião para a
organização do desfile das escolas participantes dos jogos na solenidade de abertura seria
realizada na sede do DEFRE (Departamento de Educação Física, Recreação e Esportes),
departamento recentemente criado e subordinado à Secretaria de Educação e Cultura (FOLHA
DO NORTE, 1964). Localizado dentro do Grupo Escolar Dr. Freitas, o D.E.F.R.E., como era
comumente chamado, passou a contar, a partir deste período, com comissões e diretoria que
funcionavam integralmente durante todo o período de duração dos jogos.
Alguns dos principais objetivos do novo regime ao efetuar a institucionalização dos
“JOPAGICOS” podem ser identificados a partir de autores que já analisaram o processo de
institucionalização dos jogos estudantis em outros estados brasileiros. Segundo Linhares, ao
discorrer sobre a temática dos diferentes usos políticos do esporte, um elemento a ser
destacado diz respeito ao Estado não se restringir às práticas esportivas consideradas
profissionais. Linhares aponta para a relevância de se olhar o esporte também enquanto uma
7 A primeira edição dos JOPAGICOS, segundo Santos (1985) e pesquisas em jornais do período, foi realizada no
ano de 1955e teve suas cerimônias de abertura e encerramento realizados no estádio da Tuna Luso. Os estádios
de remo e Paysandu também foram utilizados para estes cerimoniais ao longo da década de 1960.
4
prática pedagógica e cívica para disciplinar o uso do corpo pela juventude (LINHARES,
2009: 333).
Segundo Drumond, os jogos estudantis, universitários e secundaristas, já ocorriam no
eixo sudeste do país desde a Era Vargas (DRUMOND, 2009: 234). Ainda assim, Oliveira
considera que a institucionalização dos Jogos Estudantis em todo o Brasil pelo regime militar
corrobora não apenas para a disciplinarização do uso do corpo, como também para fortalecer
o poder econômico, político e simbólico do Brasil no cenário internacional (OLIVEIRA,
2009: 388).
A tentativa dos governos brasileiros desse período em transformar o país numa
potência olímpica, também refletiria o contexto da Guerra Fria onde as duas principais
potências esportivas do mundo eram as mesmas que dividiam a hegemonia política,
econômica e ideológica no planeta, Estados Unidos e União Soviética (SIGOLI e JUNIOR,
2004: 113) 8.
A partir do regime militar, segundo Oliveira, o esporte ganharia um novo patamar de
importância, pois passaria a ser visto como:
(...) uma esfera de cultura capaz de dar visibilidade política aos feitos da ditadura
brasileira no âmbito internacional, além de poder contribuir com a educação de um
tipo de sensibilidade adequada a um regime que apagava as diferenças, silenciava as
vozes dissonantes, torturava e matava em nome da segurança nacional. O esporte (...)
seria capaz de amainar os ânimos, arrefecer os impulsos contestatórios, canalizar a
energia juvenil que pretendesse questionar a ordem vigente. (OLIVEIRA, 2009: 389)
Assim, é possível perceber que a adoção do esporte estudantil como política de Estado
pelo regime civil-militar possuía objetivos bastante ousados, os quais acabaram fracassando
na ampla maioria dos casos, com exceção do futebol. A partir da conquista da copa do mundo
de 1970, este esporte foi amplamente utilizado como capital simbólico pelo regime civil-
militar, inclusive com a organização de uma mini-copa chamada de Taça Independência em
1972 para festejar o sesquicentenário da independência do Brasil (CORDEIRO, 2015). Ainda
assim, Oliveira aponta que o último meio século da história do esporte no Brasil possuí uma
8 Segundo Sigoli e Júnior, a Guerra Fria pode ser compreendida como a divisão do mundo, pós 2ª Guerra
Mundial, em dois blocos políticos e militares antagônicos, caracterizando uma divisão bipolar do poder. Estando
de um lado o bloco socialista liderado pela União Soviética e de outro o bloco capitalista liderado pelos Estados
Unidos. O esporte, nesse contexto, seria uma importante arma simbólica utilizada por ambos os blocos para
reafirmar o prestígio político e a soberania dos dois blocos. Cf. SIGOLI e JUNIOR (2004: 113).
5
grande participação de grupos políticos ligados ao regime inaugurado pelo golpe civil-militar
de 1964.
Oliveira (2009) aponta que a maioria dos estádios e ginásios esportivos construídos
neste período (os quais não teriam sido poucos), leva o nome de figuras políticas ligadas ao
regime civil-militar. Em Belém, podemos citar como exemplo o estádio “mangueirão”,
inaugurado em 1970 com o nome do ex-governador do estado (de 1966-1971 e de 1979-1983)
Alacid Nunes (MONTEIRO, 2007: 112).
Não obstante, o principal objetivo deste artigo não é identificar as motivações que
levaram o novo regime instaurado a utilizar o esporte estudantil para fins políticos. Embora,
este seja um campo muito rico que ainda possuí muitos aspectos a serem explorados pela
historiografia. Mas, a partir do uso da metodologia da história oral, busca-se compreender
como o grupo mais numeroso a vivenciar este período histórico rememora suas vivências por
meio da participação em edições do “JOPAGICOS”.
Segundo Hobsbawm, um aspecto relevante dos movimentos populares é confrontar
“aquilo que as pessoas comuns se lembram dos grandes acontecimentos, em contraste com
aquilo que seus superiores acham que deveriam se lembrar” (HOBASBAWM, 1997: 287). Ao
analisarmos os relatos de ex-participantes dos “JOPAGICOS” é possível identificar alguns
aspectos quase imperceptíveis em outros tipos de documentos mais tradicionais. Sendo o
principal deles, a possibilidade de nos aproximar dos possíveis significados que os referidos
jogos tinham para estes participantes. Quais representações estes sujeitos construíram sobre
seu passado a partir de sua participação nos “JOPAGICOS”?
As entrevistas evidenciam alguns elementos relevantes acerca dos jogos e da cidade de
Belém neste período, como: práticas de sociabilidades, identidades e rivalidades entre
educandários; as condições das “praças” esportivas de Belém na década de 1960; como se
dava a prática de esportes nos educandários. Assim como aspectos referentes ao contexto
histórico dos anos iniciais do regime civil-militar em Belém.
QUANDO EU FUI CAMPEÃO DOS JOPAGICOS...
José Maria Fragoso Toscano falou bem humorado ao telefone à noite e no dia seguinte
chegou radiante ao seu local de trabalho onde o aguardava para uma entrevista. Toscano é um
6
advogado de uma firma conceituada em Belém. Trabalha em um escritório de tamanho
vultoso no décimo segundo andar de um prédio no centro da cidade desde a década de 1980 e
ainda não pensa em se aposentar, embora já acumule 66 aniversários. Decidiu fazer direito
após ter feito todo o “científico” na área das ciências biológicas no Colégio Estadual Paes de
Carvalho, após ingresso mediante “teste de admissão” em 1966. Dizia que “às vezes a gente
deve ouvir a mãe da gente”9 e assim, tal qual a virada da noite para o dia, decidiu seguir os
conselhos maternos e arriscar o vestibular para o curso de Direito na Universidade Federal do
Pará, mais conhecida como UFPA (TOSCANO, 2015).
A trama que nos interessa na vida deste cidadão está relacionada ao fato dele ter
vivenciado intensamente um período relevante para o atual trabalho: ele foi aluno de várias
escolas de Belém entre as décadas de 1950 e 1960 e possui muitas lembranças sobre o seu
período de estudante. Mas uma delas, claramente, lhe é muito especial!
Ao mostrar um recorte de jornal do ano de 1965, encontrado após uma pausa no meio
da entrevista para procurá-lo entre pastas no escritório, Toscano apresenta uma matéria
contendo uma imagem sua ao lado de mais quatro estudantes com o título “Ases da natação
colegial” (O LIBERAL, 1965). A matéria, guardada como se fosse o próprio troféu,
parabenizava-o pela conquista do título do “JOPAGICOS” de natação, na modalidade 100
metros costas daquele ano.
Já outro entrevistado mal se lembra de algum dia ter conquistado o título dos
“JOPAGICOS” em alguma modalidade. Eurico Queiroz, professor de educação física e
arquiteto, ex-professor de educação física do grupo educacional Dr. Freitas10 e atualmente
servidor público da CODEM (Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área
Metropolitana de Belém), foi campeão do nado peito (100 metros) no mesmo ano de 1965 pelo
Colégio Estadual Paes de Carvalho, mas ao perguntar sobre as motivações que me levaram a
entrevistá-lo confessa que “faz tanto tempo que já havia até esquecido que um dia fui
campeão dos jopagicos” (QUEIROZ, 2015)11.
9 Concedida por Toscano, José Maria Fragoso. Entrevista I. [21 de maio. 2015]. Entrevistador: Anderson
Rodrigo Tavares Silva. Belém, 2015. 1 arquivo .mp3 (25 min.). 10 Sede do DEFRE durante a década de 1960. 11 Concedida por Queiroz, Eurico Fernando de. Entrevista I. [8 de junho. 2015]. Entrevistador: Anderson
Rodrigo Tavares Silva. Belém, 2015. 1 arquivo .mp3 (40 min.).
7
Exceção feita a Eurico Queiroz, é mais frequente lembrar-se da participação nos
“JOPAGICOS”, do que “esquecer”. Visto que é comum encontrarmos em redes sociais e
blogs relatos de caráter memorialístico sobre ex-participantes e de alguns jogos, como por
exemplo, a disputa de basquete que teria terminado com o placar de 2x0, algo incomum para
este esporte, e com uma cesta “contra” (CASCAES, 2011).
Recentemente o jornalista esportivo Edson Matoso prestou uma homenagem no
facebook a um amigo, Edson Fontes. Chamando-o carinhosamente de “goleirinho”, Matoso
descreve-o como “um baita goleiro de salão dos tempos dos JOPAGICOS pelo SOUFRAN
(E. E Souza Franco)” (MATOSO, 2013).
SÓ LEMBRO DE TER PARTICIPADO DESTA EDIÇÃO...
No entanto, os entrevistados são unanimes em relatar que só lembravam de ter
participado de uma edição dos “JOPAGICOS”. Ao ser indagado se teria participado de mais
de uma edição dos jogos, Toscano responde que: “praticamente, só essa”. Somente ao final da
entrevista, ao ser perguntado novamente se teria participado de outra edição, complementa
dizendo que lembrava de ter participado da edição de 1966, mas que havia começado a
trabalhar e por isso tornou-se inviável “conciliar a prática de esportes com o trabalho e a
escola” (TOSCANO, 2014).
Por outro lado, os entrevistados rememoram com facilidade de outros grandes
campeões dos “JOPAGICOS”. Toscano comenta o feito da cantora de nome Jane Duboc, a
qual teria sido campeã dos jogos em diversas modalidades como “natação; arco e flecha;
basquete; vôlei; era uma atleta completa” e complementa relatando que a ex-aluna do colégio
Gentil chegou a ser eleita a rainha dos “JOPAGICOS” (TOSCANO, 2015). Já Eurico Queiroz
cita Maria Mercês, três vezes campeã na modalidade basquete feminino pelo Colégio Gentil.
Assim, evidencia-se que as memórias destes campeões são claramente selecionadas a
partir dos campeonatos conquistados por eles e por terceiros. Sendo que, além de si próprios,
apenas outros(as) grandes campeões(ãs) são mencionados. E não apenas “qualquer” campeão,
mas frequentemente ex-participantes que teriam conquistado mais títulos do que o
entrevistado.
8
ERA UMA GRANDE FESTA, MAS ACABOU...
“O JOPAGICO era, de fato, jogos que movimentavam a cidade. Eram competições
entre escolas. Aí depois os jogos foram entrando numa situação de declínio e
lamentavelmente acabaram.” (TOSCANO, 2015). Assim, com um misto de euforia e lástima,
José Toscano, ex-campeão do nado costa (100 metros) dos jogos em 1965, pela Fundação
Educacional Visconde de Souza Franco, apresenta sua memória acerca dos jogos. Outros
entrevistados, como Eurico Queiroz, reinteram a imponência dos jogos ao afirmar que “Os
JOPAGICOS, na época, era muito grande. Eram grandes eventos. O pessoal ia com muita
afluência.” (QUEIROZ, 2015).
Dois elementos chamam atenção nas falas acima: o primeiro é sobre a grande
quantidade de alunos participantes e o segundo é a afirmação de que os jogos teriam acabado.
A realização das cerimônias de abertura e encerramento em estádios de futebol nos dá
uma ideia da quantidade de alunos participantes, bem como de pessoas que compareciam para
prestigiar este evento. Em uma matéria escrita pelo cronista Lauro Souza em 1965, este
descreve a inscrição de 32 estabelecimentos de ensino naquela edição dos jogos (SOUZA,
1965). Considerando que, a partir de 1964, as cerimônias de abertura foram realizadas durante
a semana do feriado em homenagem à independência do Brasil, pode-se inferir que havia a
presença de um grande público, predominantemente formado por alunos e professores dos
educandários e pais dos alunos.
Como dito anteriormente, a edição inicial dos “JOPAGICOS” ocorreu no ano de 1955.
Sendo institucionalizado pelo regime civil-militar em 1964. Contudo, em 1971, o governo do
estado do Pará, a partir da reforma da grade curricular da educação básica, substituiu os níveis
ginasial e colegial pelo primeiro e segundo graus. A partir daí, os “JOPAGICOS” foram
extintos e em seu lugar foi criado o “JEP’s” (Jogos Estudantis Paraense). Dessa forma, os
“JOPAGICOS” não teriam literalmente acabado, conforme relata José Toscano, mas tão
somente passado por uma adequação da nomenclatura à nova matriz curricular implementada
pelo regime civil-militar para a educação básica.
No entanto, mais importante do que confrontar relatos de ex-participantes com fontes
impressas é buscar perceber quais influências tais periódicos exerceram sobre os
9
entrevistados, e como elas vão sendo reelaboradas por estes sujeitos a partir do confronto
entre o que leram e o que vivenciaram.
O caso de José Toscano (ao parar a entrevista para buscar um recorte de jornal)
apresenta fortes indícios de que as publicações nos jornais da época sobre os “JOPAGICOS”
possivelmente tiveram considerável influência sobre o processo de construção das memórias
dos entrevistados e, por isso, não podem ser desprezados. Apesar disso, também não se pode
ignorar a presença na fala dos entrevistados de uma construção de representações que
dificilmente poderiam ser encontradas em fontes impressas, visto que ao rememorar suas
vivências o entrevistado privilegia os significados pessoais a partir de sua participação no
evento em decorrência do evento em si (PORTELLI, 1997: 7).
ERA TUDO FEITO DE IMPROVISO...
Carlos Domingues Gomes nasceu no dia 30/06/1949, no dia da entrevista apresentava
evidentes sinais de problemas de saúde, como dificuldade na fala. Disse que estava com
passagem marcada para São Paulo a fim de realizar tratamento. Afirmou também que os
remédios fortes que estava tomando o impediam de lembra-se de muita coisa. Ainda assim,
deu grandes contribuições ao presente estudo ao comentar a prova de ciclismo, realizada em
1965, onde conseguiu obter a sexta colocação pelo Colégio Moderno12.
Gomes lembra que “tudo era feito na marra. A escola não cedia bicicleta, nem nada”.
O percurso da prova era feito ao longo da Avenida Almirante Barroso, uma das principais da
cidade, e que ganhou uma medalha pela sexta colocação, “mas que seus filhos deram fim e
não sabe mais onde está” (GOMES, 2015).
Gomes, em seu relato, lembra-se de outro aspecto relevante sobre os “JOPAGICOS”:
a falta de espaços esportivos em Belém na década de 1960. O caso de Gomes era até menos
grave em relação a outros esportes, visto que bastava o fechamento de uma avenida para se
realizar a prova. No entanto, a ênfase dada pelo entrevistado à falta de equipamentos nos leva
a necessidade de tentar compreender quais eram as condições de treino desses estudantes.
Gomes lembra com mágoa de sua prova. Pois, não havia treinado, sua bicicleta era
velha e no meio do percurso, quando estava na terceira colocação, teve que parar para
12 Concedida por GOMES, Carlos Domingues. Entrevista I. [3 de junho. 2015]. Entrevistador: Anderson
Rodrigo Tavares Silva. Belém, 2015. 1 arquivo .mp3 (12 min.).
10
recolocar a corrente. A parada lhe rendeu a perda de três posições e do pódio da competição.
Gomes também não possuía um local de treino seguro, pois as avenidas só eram fechadas em
dias de competição.
Já Toscano e Queiroz eram atletas de natação do Clube do Remo. Segundo os
mesmos, o clube de natação com os melhores professores da cidade. Mesmo lá, a piscina era
semi-olímpica (25 metros) e durante o “JOPAGICOS” os “estudantes-atletas” precisavam se
deslocar para o bairro do Souza para competir na recém-inaugurada piscina da Tuna Luso, até
então a única piscina olímpica de Belém.
Os jogos de basquete, vôlei e futebol de salão eram disputados, segundo os
entrevistados, nos ginásios do Clube do Remo (Serra Freire) e do Grupo Escolar Dr. Freitas,
sede do DEFRE, pois eram os únicos ginásios com cobertura. Nesses ginásios as condições
também pareciam ser precárias, visto que uma reportagem do jornal “O Liberal” de setembro
de 1970 relata “dezenas de estudantes feridos após desabamento da arquibancada do ginásio
Serra Freire por excesso de lotação” (O LIBERAL, 1970).
Queiroz relata que por causa da falta de ginásios, as rodadas de jogos de várias
modalidades eram realizadas em um único local, o que levava a reunião de uma grande
aglomeração de jogadores e torcedores de dezenas de educandários em ginásios com
arquibancadas pequenas e mal conservadas. Além disso, a reunião de aglomerados de
torcedores de colégios diferentes nesses ginásios ocasionava outros problemas além do risco
de desabamento: o acirramento de rivalidades.
MEU PRINCIPAL COMPETIDOR ERA...
Eurico Queiroz conta que havia “rivalidades sadias” entre alguns educandários, as
quais eram inflamadas durante os “JOPAGICOS” em decorrência das torcidas que
compareciam em grande quantidade para prestigiar as partidas. Queiroz cita a rivalidade entre
os colégios Paes de Carvalho x IEP (Instituto de Educação do Pará), onde os primeiros
possuíam o apelido de “Xaréu”, enquanto os segundos eram chamados de “Piramutaba”
(ambos peixes típicos dos rios da região amazônica).
Queiroz lembra que, salvo raras exceções, não ocorriam brigas entre as torcidas e o
clima do ginásio era de “muita amizade”. Toscano e Gomes também lembram de terem feito
11
muitas amizades durante os “JOPAGICOS”. Contudo Toscano, em determinado momento da
entrevista, é enfático ao afirmar que “o meu grande competidor nesta prova era o Expedito
Raposo do Magalhães Barata” (TOSCANO, 2015).
Toscano lembra que havia uma expectativa muito grande em cima de competidores
que treinavam em clubes para que estes conquistassem medalhas para suas escolas. Percebeu-
se também que os estabelecimentos estudantis que conseguiam mais medalhas eram
premiados e podiam ser “agraciados” com “melhorias” do governo, especialmente as escolas
públicas estaduais.
No ano de 1964, a Escola Estadual Magalhães Barata foi a grande campeã dos
“JOPAGICOS” no total de títulos pelo masculino. No ano seguinte o governo do estado
começou a efetuar obras de construção de uma quadra poliesportiva dentro da escola.
Contudo, o não cumprimento dos prazos para a finalização das obras aparentemente levou um
grupo de estudantes a ameaçar não apoiar a candidatura do sucessor e aliado de Jarbas
Passarinho ao governo do estado, Alacid Nunes.
Em algumas pequenas notas denominadas de “Tópicos Estudantis”, escritas pelo
cronista Carlos Nobre, percebe-se uma polêmica em torno da finalização das obras de
construção da referida quadra relacionada à criação do Comitê Estudantil Pró Alacid –
CESAN. Este comitê buscava fomentar o apoio de movimentos estudantis secundaristas para
a eleição de Alacid Nunes ao governo do Estado e de Stélio Maroja para a Prefeitura de
Belém naquele ano.
Em matéria do dia 24 de agosto de 1965, Carlos Nobre conclama os alunos do CEMB
(Colégio Estadual Magalhães Barata) a “participar ativamente da campanha pela construção
de tua praça de esportes (...)”, argumentando que a “Secretaria de Educação mandará executar
na referida quadra a instalação de tabelas de concreto.”. E conclui convocando os estudantes
do CEMB (Colégio Estadual Magalhães Barata) e demais escolas para “participar ativamente
da luta pela vitória de Alacid Nunes ao Govêrno do Estado e Stélio Maroja a Prefeitura de
Belém.” (NOBRE, 1965).
Dessa forma, buscava-se claramente barganhar o apoio dos estudantes do Colégio
Magalhães Barata às candidaturas acima citadas, as quais eram diretamente apoiadas pelo
12
atual governador Jarbas Passarinho, por meio do cumprimento da promessa de finalização de
sua quadra de esportes.
Já os alunos, por sua vez, aproveitaram o período de efervescência política ocasionada
pela véspera da eleição para garantirem o cumprimento da obra. Pois para os alunos, a
finalização da quadra de esportes não era vista como um “benefício”, mas como obrigação do
estado.
Alessandro Portelli, ao efetuar uma análise do cenário esportivo de uma cidade
industrial italiana no contexto de ascensão do regime fascista, salienta que a expansão do
controle social do regime, visando à expansão do consenso, teria levado a um cenário de
bipolaridade tal onde “qualquer atividade espontânea acabava assumindo, mesmo que
vagamente, uma conotação antifascista.” (PORTELLI, 2010, p. 146). Este contexto teria
fortalecido no esporte um fenômeno comum a todas as relações “paternalistas”: “aquilo que as
classes dominantes apresentam como uma oferta generosa é recebida pelos dominados como
uma obrigação, um direito previsto.” (PORTELLI, 2010.p. 146-147).
Percebe-se então que as rivalidades entre atletas e entre as escolas eram vistas por
estes, salvo “exceções”, como algo importante para elevar o nível de competitividade dos
jogos. Ao chamar seu principal rival de “competidor”, Toscano evidencia uma diferença entre
esporte e competição onde se deveria vencer o competidor, mas respeitar o esportista, que às
vezes era parceiro de treino no clube ou colega de escola. O entendimento dos entrevistados
sobre os “JOPAGICOS” era o de uma “grande festa” onde os amigos se reuniam para
competir e fortalecer seus laços de amizade a partir do esporte.
EU FAZIA OPOSIÇÃO À DITADURA...
Segundo Almeida e Weis, o contexto político inaugurado com “Revolução de Março”
e a institucionalização apenas parcial do regime durante os primeiros anos, criaram um
ambiente político com regras cambiantes e bastante móveis. “Nesse ambiente, fazer oposição
podia significar uma infinidade de coisas.” (1998, p. 327-328).
Possivelmente Toscano não era um tipo de oposicionista da ala mais radical. Mas
relata ter participado de várias passeatas e manifestações contra a ditadura. Por estudar no
13
Paes de Carvalho, que ficava em frente a um quartel da Polícia, Toscano rememora que em
toda manifestação os estudantes tinham embates com a polícia militar.
Toscano também cita várias lideranças políticas oriundas do Paes de Carvalho de sua
época de estudante. Sendo a principal delas, o atual senador Jader Barbalho. Este relata que “o
Jader foi presidente do grêmio” e complementa dizendo que “nós éramos politizados e
engajados” (TOSCANO, 2015). Para compreendermos melhor o engajamento político de
Fragoso e dos estudantes do Colégio Estadual Paes de Carvalho no contexto político pós-
golpe de 1964, é importante recorrermos à outra entrevista.
Edna Maria Ramos de Castro é professora da UFPA e concedeu entrevista à
professora Edilza Fontes para um projeto intitulado “Anos de chumbo e a UFPA”13. Conta
que concluiu seu colegial em 1964 no Paes de Carvalho e nesta escola que haviam duas
opções de curso: o “científico” e a formação “clássica”.
Por optar em fazer a formação clássica, tinha boa parte da carga horária da grade
curricular voltada para as disciplinas da área de ciências humanas. Algumas delas eram vistas
exclusivamente neste colégio, como filosofia. E em todas se discutia bastante política. Castro
já fazia parte do movimento estudantil antes de ingressar no CEPC, mas ressalta que o
ingresso neste educandário lhe proporcionou novas perspectivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Portelli, é “lugar-comum atribuir parte do poder das classes dominantes ao
fato de que suas ideias são as ideias da sociedade.” (2010: 155). Contudo, há pouco
conhecimento empírico sobre como tais ideias se tornam dominantes. Esta pequeno estudo
busca mostrar como tentativas de imposição de comportamentos podem ser importantes
artifícios políticos de controle em regimes de exceção, especialmente por meio da educação
cívica a partir do uso de símbolos e rituais, a qual é bastante comum e “importante em
momentos de mudança política e social ” (CARVALHO, 1990: 11).
13 Concedida por Castro, Edna Maria Ramos de. Entrevista I. [20 de agosto. 2014]. Entrevistadora: Edilza Joana
Fontes. Belém, 2014. 5 arquivos .mp3 (70 min.).
14
No entanto, é impossível impor ideias. Pois conforme Portelli, “pode-se obrigar todos
os operários a terem carteirinha do Partido Fascista ou a participar de comícios, mas não se
pode obrigá-los a pensar como o regime quer.” (2010: 155)
Nesse sentido, percebe-se que o processo de institucionalização dos JOPAGICOS pelo
novo regime, apesar de, aparentemente, ter se tornado um instrumento ideológico de grande
apelo junto à juventude estudantil paraense, haja vista a participação crescente dos
educandários e do público nas cerimônias de abertura/encerramento e jogos propriamente
ditos, não conseguiu fazer com que alguns estudantes abrissem mão de suas concepções
políticas, como por exemplo, lutar contra a supressão de direitos políticos e civis por parte dos
governantes que tomaram poder no Brasil a partir do golpe de 1964.
Portanto, se para o governo os jogos possuíam um objetivo político, para a maior parte
dos estudantes tinham outros significados ligados a questões como: amizade, competição e
festa. Além disso, a institucionalização dos jogos, aparentemente levou apenas a uma
apropriação da organização dos “JOPAGICOS” pelo estado, pois não se percebe uma grande
mudança no nível de investimentos visando a melhoria da qualidade dos jogos ao longo da
década de 1960.
15
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de e WEIS, Luiz. Carro zero e pau de arara: o cotidiano
da oposição de classe média ao Regime Militar. In. SCHUARCZ, Lilia Moritz (Org.).
História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea. P. 319-410.
BARROS, José D’Assunção. Prefácio. In: MELO, Victor Andrade de; Drumond, Maurício;
Fortes, Rafael e Santos, João Manuel Casquinha Malaia. Pesquisa histórica e história do
esporte. Rio de Janeiro: 7 letras, 2013. P. 11-19.
CARVALHO, José Murilo. A formação da almas: o imaginário da República no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CORDEIRO, Janaina Martins. A ditadura em tempos de milagre: comemorações, orgulho
e consentimento. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.
16
DEL PRIORE, Mary. Apresentação. In: DEL PRIORE, Mary e MELO, Victor Andrade de
(orgs.). História do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Unesp 2009.
P. 9-12.
DRUMOND. Maurício. O esporte como política de Estado: Vargas. In: DEL PRIORE, Mary
e MELO, Victor Andrade de (orgs.) História do esporte no Brasil: do Império aos dias
atuais. São Paulo: Unesp 2009. p. 213-244.
GAUDÊNCIO, Itamar Rogério P. Diversão, Rivalidade e política: o RE X PA nos festivas
futebolísticos em Belém do Pará (1905 – 1950). Dissertação (Mestrado) - Universidade
Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em
História Social da Amazônia, Belém, 2007
HOBSBAWM, Eric. A história de baixo para cima. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). Sobre
história. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. P. 280-300.
HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terence (Org.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro:
Paz e terra, 1997.
LINHARES, Meily Assbú. Esporte e escola: astúcias na “energização do caráter” dos
brasileiros. In: DEL PRIORE, Mary e MELO, Victor Andrade de (orgs.) História do esporte
no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Unesp, 2009. p. 331-358.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como
pensar. São Paulo: Contexto, 2010.
MONTEIRO, Sinei Soares. Futebol, Ditadura e Trabalho: uma análise das relações
políticas e sociais no campo desportivo paraense (1964 – 1978). Dissertação (Mestrado) -
Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-
Graduação em História Social da Amazônia, Belém, 2009.
NASCIMENTO, Vanderson C. Escola Superior de Educação Física do Estado do Pará:
uma análise das concepções pedagógicas em sua gênese (1960- 1970). Assunción
(Paraguay): Universidad Autónoma de Assunción, 2010.
OLIVEIRA, Marcus Aurélio T. O esporte brasileiro em tempos de exceção: soa a égide da
Ditadura (1964-1985). In: DEL PRIORE, Mary e MELO, Victor Andrade de (orgs.). História
do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Unesp 2009. p. 387-416.
17
PORTELLI, Alessandro. Esporte, trabalho e política numa cidade industrial. In: PORTELLI,
Alessandro (Org.). Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e voz, 2010. P. 131-158.
PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente. Revista do Programa de
Estudos Pós-Graduação em História, n.º 14, São Paulo, 1.997.
REIS FILHO, Daniel Aarão. A ditadura faz cinquenta anos: história e cultura política
nacional-estatista. In: REIS FILHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo e MOTTA, Rodrigo
Patto Sá (orgs.). A ditadura que mudou o Brasil: 50 anos depois do golpe de 1964. Rio de
Janeiro: Zahar, 2014. P.11-29.
SANTOS, Carlos Ubiratan. Histórico da escola Superior de educação física do Pará 1970 -
1985. Belém: ESEFPa, 1985.
SIGOLI, Mário André; JUNIOR, Dante de Rose. A história do uso político do esporte. R.
bras. Ci. e Mov. Brasília v. 12 n. 2 p. 111-119 junho 2004.