Post on 27-Mar-2016
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LARANJAIS DE GELO Ruan Libardoni
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
L694l Libardoni, RuanLaranjais de gelo. / Ruan Libardoni. – Pelotas,
2012.98p. : il. ; 14 x 20 cm
1. Literatura Brasileira. 2. Poesia Brasileira. I. Título.
CDD 869.91
Ficha Catalográfica elaborada pelaBibliotecária Carla Michelle de Macedo Rodrigues - CRB-10/1657
1ª edição
sumário
-10-
-36-
-16-
-12-
-38-
-18- -40-
-20- -42-
-22- -44-
-24- -46-
-26- -48-
-28- -50-
-30- -52-
-32- -54-
-34-Introdução
Ponteiros
Cidade
Letras - Carnavalescença
Quintana
Ventilador Moinhos de Vento
Falta Estrada
Espelhos Copacabana
Bahia Bicicleta
Adeus de mão Erico
Cabernet Cidade Baixa
Dois mil e onze Lembranças
Garota de Ipanema Palcos
Insônia
-58- -80-
-60- -82-
-62- -84-
-64- -86-
-66- -88-
-68- -90-
-70- -92-
-72- -93-
-74- -95-
-76- -97-
-78--56-
Terraço Telhados
Valentina Vento
São Pedro Tinta
Poeminha de bidê Carnavalescença
Insônia II Bailarina
Noite Videiras
Planeta Lembranças
Fotografia Quadrinhos
Contínuo esboço Poema da Paula
Álvaro Chaves Rogério Nascente
GuriSaudade
À pequenina Valentina.
1 0
Este livro tem duas partes aparentemente distintas. A
primeira, onde granjeei meu olhar vernáculo e simples de
um observador, está em suas mãos. A segunda, chamada
Carnavalescença, é a junção de algumas canções de minha
autoria. Logo mais você descobrirá como encontrá-las no
mundo virtual. A ordem pode ser levemente invertida, ou
perfeitamente unida.
Não sou poeta, apenas vejo poesia nas coisas, nas cores,
nos momentos, sentimentos e aventuras. Cresci sozinho,
enquanto a mãe trabalhava e meu pai se distanciava. Talvez
foi nessa época que comecei a criar um jeito tristonho de ser,
e que trago até hoje. Apesar dos anos, ainda não sei lidar com
a solidão, quiçá a felicidade, que vai e vem, como as ondas na
areia da praia.
Muito menos possuo o tom calmo dos pássaros na voz,
apenas gosto de compor. Foi nas composições que dediquei
o maior tempo da minha vida, me faz tão bem quanto um
amor. Estou, cada vez mais, procurando as ruas pequenas pra
caminhar, onde não haja iniquidade humana. Não é que eu
introdução
1 1
não goste de pessoas ao meu redor; é, sim, porque o silêncio
anda me fazendo bem. Meu amigo imaginário, o Eugênio,
frequentemente conversa comigo, coisas de um mundo mais
tranquilo, sem pressão (coisa que me faz mal).
Reuni neste livro poesias curtas, desarrimadas de apegos
formais. Deixo nas próximas folhas um pouco do meu coração
e de tudo que vivi (vivo). Saliento que algumas poesias de duas
linhas viraram canções de duas páginas, as quais apresento no
meu Sarau – Carnavalescença.
Observação: você não encontrará a palavra Carnavalescença
no dicionário; é a mistura de carnaval com convalescença,
estado que medeia entre uma doença e o restabelecimento da
saúde, no meu caso, psicológica. Sigo vivendo meu carnaval
solitário, pouco a pouco gostando mais das manhãs, dos
pequenos detalhes, do desapego apegado, do sonho acordado.
Foi com extrema alegria que recebi, numa tarde ensolarada
de setembro de 2012, as ilustrações do amigo e designer Rafael
Peduzzi, rapaz talentoso, profissional e de alma transparente.
Agradeço desde já a grande e indispensável ajuda com os
horizontes deste livro, tenho a certeza absoluta que Laranjais
de Gelo só foi “publicado” porque tive o seu apoio de ponta a
ponta.
Ruan Libardoni
Pelotas, Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul, 2012
Carnavalescençaacesse o conteúdo virtual deste livro em
www.soundcloud.com/laranjaisdegelowww.facebook.com/laranjaisdegelo
1 7
medo tênue rumoreja
a cada passo desarrimado
essas ruas tão vazias
calejam minha alma
alertam devaneios
sou assim, meio urbano
desconexo de família
solitário por essência
beat por virose
1 9
quando ontem é quase hoje
e hoje meio amanhã
sendo eu de todo fim
me sinto quase eterno
mas meio menor
2 1
quando guri
me faltava um pedaço
olhando meus colegas
do pai ganhar abraço
foi quando criei
meu amigo imaginário
dei nome e fino rosto
Eugênio sem bom gosto
agora que cresci
continuo ao seu lado
um tanto solitário
mas bem acompanhado
2 3
achei que a mores roubados era m os mel hores
até que rouba ra m meu a mor. .
. .e f iquei t ão sol itá r io
2 5
quero rua!
junto contigo até não poder mais
ah! noite conspícua..
em tuas ladeiras desacentuadas
que me levam a outro lugar
morena
parto sem despedidas
seguindo o vento
morena
não chores por mim
prefiro partir a deixar-te me segurar
sou feito de areia
e tua peneira deixou-me passar
morena
2 7
de cima do arranha-céu
as cores são bonitas
as dores
despedidas
e as nuvens camafeus
2 9
se procurar dentro de algo que não há, é mera fantasia
procurar fora daquilo que há, é pura ilusão
3 1
um mosquito invadiu meu quarto
como tu em minha vida
pensei ser boa companhia
e percebi que foste apenas um modo de me manter acordado
3 3
hoje f u i ao ba r
beber e re lembra r
e de t udo que passou
não v i e la passa r
3 5
noite polar
só!
sob sombras de maios desertos
cor-
-rente
dor-
-mente
me prendo em mil nós de corda
enredando pouco a pouco
fico preso em nós mentais
só!
em olhos vermelhos de doces maios
3 7
terra à v ista!
o relógio mostra o tempo ao avesso
cai à tarde
e traz a cor dourada
as pessoas são assim
um lume perigoso
se o vento aperta o sopro
se apagam no vazio
3 9
quando entro no hotel..
..vou ao últ imo andar
quanto mais subo degraus..
..sinto o céu se aproximar
4 1
odneviv àtse ale euq missa è
sanabru sairànimul ed seõhlim sêrt essof es omoc
oirf olugnâ mu ed otrauq od ortned arp odnahlo
odagapa sueda mun anaisrep a ehcef ele euq odem ed odnemert
ela apaga a luz..
..em silêncio
descalça..
..e deita
..ahnizos
4 3
cruzei o guaíba em sentido sul
num passatempo cícl ico..
..em desventura míst ica
de um lado a cidade chora
numa contingência épica..
..emoldurada tácita
mas levo cheiro de arruda
em suposta rea l idade
daquela canceriAna
mais bonita da cidade
4 5
boemia desmedida
it inerante e lunática
varo a noite entre copos
e com o sol vem a saudade
boemia desregrada
constante a legria
varo a noite em sinfonia
e de manhã cai a verdade
fora tudo i lusão!
fora apenas metade.
4 7
tem gente que não espera da gente
ma is do que tombos
ma is do que desespero
me perg u nto se essa gente
sabe ser como a gente
ma is do que pla nos
ma is do que son hos
4 9
cá em Antares
os mortos falam
os vivos calam
cá em Santa Fé
os homens matam
os hóspedes rezam
cá na Noite
os cadáveres se desenham
e as memórias se apagam
cá no Campo
os olhos lavram
os lírios choram
cá em Porto Alegre
os silêncios caem
os céus escurecem
5 1
em pedaços me desfaço naquelas ruas nestes maços
em pedaços desesperados aqueles braços desencontrados
em pedaços destas vírgulas despedaçadas eu me valho
em pedaços enluarados de fumaça a cidade embriagada
em pedaços e espaços sublinhados dos cigarros encharcados
ah! se tu me encaixasse na tua vida pedaço por pedaço
morena..
5 3
meus cadernos de infância
têm poucas exatas
porém têm aventuras
e estórias de fantasmas
meus cadernos de infância
têm poucos números
porém têm expedições
e contos de libertinagem
meus cadernos de infância
têm poucas tabuadas
porém têm revolução
de um guri desajustado
5 5
há tantos palcos pra tocar
e silêncio pelo ar
que dói meu coração
machuca o violão
e dá vontade de chorar
5 7
sou o mundo mais triste do homem
sou o homem mais triste do mundo
5 9
dar-se-ia um nó
pra prender a felicidade
mas ela teima em partir..
..e me deixa com saudade
dar-se-ia um tiro
pra matar a tristeza
mas ela é bicho da seda..
..e alegra a realeza
6 1
me encheu o coração
ela veio pra me tirar da solidão
valentina
6 3
quando passo lá
a casa não está
viro bicho
sinto saudade
aquele monte de entulho
onde havia vida de verdade
6 5
acho que fez um ano
me deu vontade de sorrir..
..sorriso grande de feliz
acho que a terra concluiu a translação
me deu vontade de seguir..
..seguindo estrelas de anis
6 7
acordo encharcado
assustado e apático
nem Deus por perto
ou um pingo de coragem
nem Clarice
nem Drummond
ou sussurros pelo ar
chamando pra viagem
6 9
a r u a é mud a
o g r ito é meu
7 1
fui longe
lá na ponta
e de lá..
..olhei pra cá
fui alto
lá no topo
e de lá..
..olhei seus olhos
fiquei feliz
de vê-la me espiar
é a moça mais bonita
que está a me esperar
7 3
foi de um todo ruim
o que de um pouco morremos
de um tanto de sonhos
7 5
quando sussurrávamos que não saberíamos viver sem o outro
tinha sim
ironicamente
um lamentar de mentira na voz
7 7
bicicleta..
..bicicleta
não tinha rodinhas..
..não era completa
bicicleta..
..bicicleta
eu caia de montão..
..e me esfolava pelo chão
7 9
tento amar à fino trato
e te ganho em linha reta
se em vezes vago errante
no más deixo poeira
vivo em voo falso
me perdendo na cidade
sou poema de gaveta
que perdeu a virgindade
8 1
minha casa era no alto do morro
cresci olhando os telhados da cidade
solitário como a lua
banhando o mundo de saudade
8 3
gosto de ser canceriano
e de sentir saudade
o mesmo guri
que brincava à vontade
que jogava super mário
na maior felicidade
8 5
quanto menos escrevo..
..mais ásperas minhas mãos ficam
8 7
vejo a rua inteira festejar
gosto dos para lelepípedos
pois deixam o bloco passar
abro a porta e saio devagar
gosto das ca lçadas
que me deixam navegar
8 9
ficou de um cinza
nosso lunático girassol
lembranças que restaram
fui vender no balaio
pra que um dia de agosto
quando fores comprar vinis
livros ou memórias
veja nossa caixa de vento
e todo aquele nada
valha alguns trocados
e tudo daquela caixa
sirva para nada
9 1
deixaria cair
soubesse eu..
..não fosse juntar
deixaria partir
soubesse eu..
..não fosse buscar
deixaria pra trás
soubesse eu..
..não fosse chorar
9 2
meu avô por parte de pai, quando bebia umas taças de vinho
de olhar brilhante, declamava: Vim aos quatro anos da Itália!
de trem.
***
Dizem que o tempo da viagem de Pelotas a Porto Alegre, de
carro normal, é duas horas e meia. De ônibus, três horas e
quinze. No meu Chevette ano 88 azul bebê, seis horas crava-
das. Se não acontecer imprevistos. Abri a ventarola e lá fomos
nós, eu, o “chevis”, e o violão. Estacionei em frente a casa dela,
sentei em cima do capô e toquei minhas canções.
Só pra ela..
lembranças
9 3
ganhei meu primeiro computador aos quatorze anos
e até hoje não fechei o “úôórdi”
***
as pessoas que me visitam ficam encantadas com o cantar dos pássaros
me perguntam de onde vem
eu fecho os olhos
***
comprei meu primeiro violão poucos dias antes do atentado às torres gêmeas
naquela manhã, com o instrumento no colo e os olhos na televisão
percebi que as coisas não são feitas apenas de simetria e exatidão
a “alma” do violão, a estrutura dos prédios, a engenharia da aeronave
não serve para nada sem a sensibilidade humana as conduzindo
***
sou daqueles que deixam de pagar a conta de luz para publicar um poema
deixam de comprar “modalomanías” para gravar uma canção
ou aventuramente morrer de amor
quadrinhos
9 5
"e por um ano sentiu saudade
por um ano ônibus lotado e fone de ouvido no mudo
um ano tentando ver além do que os pixels poderiam lhe mostrar
ISO alto, tantos grãos nos olhos que pesavam e chegavam a cair
alegria ilimitada por vinte e cinco centavos
várias cores pelo quarto e,
a certeza de que ninguém nunca a fez sorrir por três minutos e
cinquenta e um segundos seguidos"
Anna Paula Arruda
9 7
... pois o que se passa é intenso
quase em um não sentir
diminuto ou imenso
chegar e partir
........ mas um tanto melhor
Rogério Nascente
Título
Autor
Produção
Projeto gráfico
Fotografias
Ilustrações
Tipografia
Formato
Papel
Número de páginas
Laranjais de Gelo
Ruan Libardoni
Rafael PeduzziRuan Libardoni
Rafael Peduzzi
Rafael Peduzzi
14x20cm
Sulfite 90g/m² (miolo)Sulfite 180g/m² (capa)
98
Família BodoniFamília MinionDiversas (manuais)
Daniela Lopes