Post on 18-Dec-2014
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BoqueirãoSantos, 22 a 28 de Maio de 2010 Nº 790 ANO XXV EXEMPLAR CORTESIA
Editor Responsável
Jairo Sérgio de Abreu Campos
Diretor de Redação
Humberto Challoub
EM CIRCULAÇÃO DESDE 1986DISTRIBUIÇÃO EM BANCAS, COMÉRCIOE RESIDÊNCIAS DE SANTOS E REGIÃO
Du Zuppani/Divulgação
Luta pelapreservação
MATA ATLÂNTICA
SUL DE MINASEm meio a cidades pouco
habitadas, mas com ampla
rede hoteleira e
edificações, municípios
como Poços de Caldas e
Monte Sião destacam-se
no roteiro turístico. Página 9
A Mata Atlântica é o bioma mais rico em biodiversidade e também o
mais ameaçado em todo o planeta, com apenas 7% de sua área original
preservada. Em Bertioga (foto), a luta é pela proteção de Itaguaré,
região de restinga conectada até o sopé da Serra do Mar, a última praia
ainda conservada em todo litoral da região. Página 4
Luiz NascimentoetcCULTURA & VARIEDADES
FEIRÃO DA CAIXAProssegue até às 21 horas
de domingo (23), o 6º
Feirão Caixa da Casa
Própria, na AA dos
Portuários. Grande público
esteve presente na abertura
do evento, que este ano
disponibiliza mais de 10
mil imóveis para
comercialização. Página 6
Foto
s d
ivulg
ação
Divulgação
VIRADA
virada
culturalCINEMAFúria de Titãs é a principal
estreia nos cinemas,
levando o público a uma
jornada por mundos
desconhecidos. Página 10
Foto
s d
ivulg
ação
TEATROO comediante e
integrante do CQC,
Oscar Filho,apresenta o
stand up Putz Grill, no
próximo sábado (29),
no Teatro Serafim
Gonzalez, em Praia
Grande. Página 10
Manu Chao
(alto) e
Yamandu Costa
(ao lado) estão
presentes na
programação
regional da
Virada Cultural
Paulista que
acontece neste
final de
semana.Página 7
Luta pelapreservação
Sob constanteameaçaSob constanteameaça
cidadeBoqueirão - 22 a 28 de maio/2010 - 4
COMITIVA BELGATendo à frente o herdeiro do trono da Bélgica, príncipe Philippe (foto à direita), uma
missão econômica conheceu na última terça (18) os projetos de expansão do porto. O
grupo foi recepcionado pelo prefeito João Paulo Tavares Papa, na sede da autoridade
portuária. O encontro faz parte de ampla programação da comitiva no Brasil, cujo
objetivo é estreitar os laços comerciais entre os dois países. "A visita demonstra a
importância do município no cenário nacional e que o intercâmbio com a Bélgica vem
colaborando para a expansão do porto de Santos", disse o prefeito.
E
MEIO AMBIENTE
Divulgação/Secom-PMS
ste bioma, o mais rico
em biodiversidade, já
esteve presente em 17
estados brasileiros.
Hoje é o mais ameaçado em
todo o planeta, com cerca de
93% de sua formação original
já devastada.
Quando se pensa em biodi-
versidade, riquezas e belezas na-
turais de tirar o fôlego logo vem
à cabeça a Floresta Amazônica.
Mas engana-se quem acredita
que só existe esta floresta de
referência no Brasil e que é ne-
cessário viajar até lá para entrar
em contato intenso com a natu-
reza. A Mata Atlântica é o ecos-
sistema mais rico em biodiversi-
dade e está presente em toda a
costa do litoral paulista.
A fauna para se ter ideia
possui uma grande quantidade
de animais, com mais de 20 mil
espécies identificadas, sendo
oito mil endêmicas, ou seja, só
existem neste bioma. Já foram
identificados mais de 270 mamí-
feros e 298 aves. Muitas com
elevados riscos de extinção.
O ambiente destes animais
abrangia uma área de 1.300.000
km², ou seja, cerca de 15% do
território nacional, engloban-
do 17 estados brasileiros, atin-
gindo até o Paraguai e a Ar-
gentina. Porém, com os impac-
tos de diferentes ciclos de ex-
ploração e o constante cresci-
mento das cidades, este número
diminuiu bastante. Segundo da-
dos da Organização Não Gover-
namental (ONG) SOS Mata Atlân-
tica, atualmente apenas 7% deste
bioma original está preservado e
o litoral paulista é
a região onde se
encontra a maior
c o n c e n t r a ç ã o
desta mata.
O Parque Esta-
dual da Serra do
Mar, por exemplo,
vai da divisa de
São Paulo com o
Rio de Janeiro até
Itariri, no sul do es-
tado paulista. Com
aproximadamente
315 mil hectares,
contém a maior área
contínua de Mata
Atlântica preser-
vada do Brasil.
Cubatão, há pou-
cos minutos de
Santos, é um dos
núcleos adminis-
trativos. Das matas
do Núcleo brotam
nascentes que for-
mam riachos e rios
que garantem o
abastecimento de água.
“A população no geral não en-
xerga a riqueza que temos no nosso
litoral. Pesquisadores sempre des-
cobrem mais espécies, ainda não
identificadas. Uma espécie nova
de árvore, por exemplo, pode trazer
mais de 30 substâncias químicas,
que, se estudadas, podem virar
matéria-prima para produção de
produtos medicinais e artigos de
beleza. Temos um patrimônio quí-
mico enorme ainda para descobrir”,
explica a chefe regional do Ibama,
Ingrid Oberg.
O que falta, segundo Ingrid, é
a conscientização tanto do poder
público como da própria popula-
ção. “Toda esta área já é protegida
por diferentes leis como a da Mata
Atlântica e de Gerenciamento Cos-
teiro, mas ainda falta incentivar e
potencializar estas áreas para o uso
sustentável, que a longo prazo tra-
zem grande retorno econômico tam-
bém”, explica. Para ela, é preciso
mudar o conceito de que apenas
petróleo e grandes indústrias, por
exemplo, são economicamente im-
portantes para o desenvolvimento
da região.
“Quando se fala em preser-
var, o objetivo não é brecar o
desenvolvimento, mas buscar di-
ferentes maneiras de explorar es-
tas áreas de forma sustentável
que dêem retorno tanto para a
população local como para o go-
verno. Já
e x i s t e m
m u i t o s
p r o j e t o s
assim na
F l o r e s t a
Amazôni-
ca, que va-
lorizam a
fauna e flo-
ra nativa.
Por que
não incen-
tivar aqui
também?”,
c o m p l e -
menta.
Segun-
do o coor-
denador do
p r o j e t o
C o s t a
Atlântica,
do SOS
M a t a
Atlântica,
R a f a e l
Motta, que
trabalha há 15 anos em áreas mari-
nhas e costeiras, a preservação
destas áreas vai além do fator eco-
nômico. "Este bioma não traz bene-
fícios abrigando apenas os ani-
mais e plantas, mas também contri-
bui com conforto térmico e com a
própria oferta de água, por abrigar
nascentes, e com a proteção dos
manguezais, fundamental para o
desenvolvimento de peixes e tan-
tos outros animais", explica.
RetroportoO plano diretor de Santos,
porém, tem o projeto de expandir
a área portuária e transformar uma
área da Mata Atlântica, ao lado
esquerdo da Rodovia Cônego
Domênico Rangoni (Piaçaguera)
no sentido para Cubatão, em re-
troporto, área que armazena e dis-
tribui produtos que chegam no
porto. “O que perderemos de es-
pécies nativas que ainda nem fo-
ram catalogadas é enorme. Ainda
temos o costume de esquecer o
potencial da natureza”, avalia In-
grid.
O projeto já passou por audi-
ência pública, está em fase de ava-
liação e passará por análise pelos
conselhos municipais de Desen-
volvimento Urbano e do Meio
Ambiente. Segundo o coordena-
dor de Controle Ambiental de San-
tos, Alexandre Rezende, o Ibama
encaminhou novos dados sobre a
área que se pretendia construir o
retroporto. “Com isso observamos
que houve uma evolução em algu-
mas regiões e resolvemos estudar
melhor o local para minimizar im-
pactos ambientais, seguindo sem-
pre a legislação”, explica.
Segundo o secretário de Pla-
nejamento Bechara Abdalla Pes-
tana Neves, existe uma necessi-
dade em expandir a área portuá-
ria, cuja atividade triplicará em 15
anos. “Se observarmos a área in-
sular de Santos, nota-se que não
há mais espaço para crescermos.
Por isso utilizaremos a área con-
tinental, mas estamos mapeando
as melhores zonas possíveis de
estudo para a construção do re-
troporto e também de moradias
sustentáveis que servirão tanto
para famílias que precisam se mu-
dar de áreas de risco no Monte
Cabrão e Caruara, mas também
para atender a demanda da mão-
de-obra que surgirá com o empre-
endimento”, explica.
O ideal, para Bechara, é utilizar
áreas já descaracterizadas, onde o
impacto ambiental é menor. “Caso
seja necessário construir um pou-
co em áreas de proteção, a legisla-
ção ambiental
nos obriga a
compensar cin-
co vezes mais do
que destruir-
mos. Por exem-
plo, a cada me-
tro utilizado te-
mos que preser-
var mais cinco”,
ressalta. A pro-
posta, de acor-
do com ele, é que
os cerca de 90%,
definidos como
área de proteção
ambiental da
área continental
seja preservado
mesmo com a
construção do
retroporto e dos
prédios com se-
los verdes.
S e g u n d o
Bechara, o pro-
jeto ainda pas-
sará por audi-
ências públicas para que haja mai-
or participação da população. “Os
Conselhos Municipais também
estão atuando conosco. Depois
de mapearmos toda a área para
possível construção do retropor-
to, o projeto passará também por
avaliação pelos órgãos ambien-
tais para que seja feita o licenci-
ação ambiental”, conta.
BertiogaUma área que também ganhou
destaque nos últimos meses, mas
já vem sendo há algum tempo fonte
de estudo de diferentes organiza-
ções e pesquisadores, é a região de
Itaguaré, em Bertioga, área costei-
ra conectada ao sopé da Serra do
Mar, sendo cortada apenas pela
rodovia Rio-Santos. Esta é consi-
derada a última praia ainda conser-
vada em toda Baixada Santista.
ONGs e iniciativas civis pretendem
transformar a área, que compreen-
de 8.025 mil hectares, em uma Uni-
dade de Conservação Integral. Por
conta disso, até o final do ano o
local está congelado, ou seja, nin-
guém pode alterá-lo.
O Instituto iBiosfera - Conser-
vação e Desenvolvimento Susten-
tável realizou estudos sobre a bio-
diversidade, a economia, a situa-
ção fundiária e política local. Após
a realização desta pesquisas, foi
protocolado junto ao Ministério
do Meio Ambiente, na Secretaria
de Biodiversidade e Florestas, em
setembro de
2006, o pedi-
do de criação
de uma Unida-
de de Conser-
vação nas
restingas flo-
restais de
Bertioga.
O levan-
tamento iden-
tificou nesta
área 40 espé-
cies de anfí-
bios, 53 espé-
cies de rép-
teis, 25 espé-
cies de mamí-
feros de mé-
dio e grande
portes e seis
espécies de
m a m í f e r o s
a m e a ç a d o s
de extinção.
Além disto,
cerca de mil
espécies de
plantas, sendo que 44 são espéci-
es ameaçadas de extinção, além de
17 tipos de vegetação endêmica,
que só ocorre nos estados de São
Paulo e Rio de Janeiro.
Hoje, o local é uma das 35 ecor-
regiões prioritárias no mundo de
acordo com a
Rede WWF,
considerada
também área
i m p o r t a n t e
para a conser-
vação de
aves. Além da
WWF-Brasil,
a Fundação
Florestal do
Estado de São
Paulo, SOS
Mata Atlânti-
ca e Ecosurf,
de Itanhaém,
lutam em prol
da defesa des-
ta área, entre
outras insti-
tuições.
Para Luci-
ana Lopes Si-
mões, da
ONG WWF-
Brasil, a re-
gião é priori-
tária pois
apresenta características de res-
tinga originais, além de outras for-
mações vegetais. "Fazendo uma
comparação ao álbum da Copa,
que sempre existem aquelas figuri-
nhas mais raras, a área de Bertioga
é uma das que faltam para comple-
tar a cartela de unidades de conser-
vação em São Paulo", brinca, com
seriedade, Luciana.
Com o objetivo de proteger
de forma inteligente toda esta área,
existe um abaixo-assinado para que
a população também participe na
proteção deste bioma, que possui
muitas riquezas além de apenas
servir para o setor imobiliário, prin-
cipal segmento econômico interes-
sado pelo local. A adesão impres-
sionou com 500 assinaturas ape-
nas nas primeiras cinco horas. Hoje
já são mais de 6 mil assinaturas e o
movimento continua na internet
pelo site www.wwf. org.br.
"É claro que quando uma área
se torna unidade de preservação,
junto vem toda uma burocracia e
também uma questão financeira,
pois é preciso indenizar o dono
da área. Afinal, o dono precisa ser
ressarcido da maneira mais ade-
quada, pois muitos destes lo-
tes de terra foram comprados
há mais de 20 anos, quando
não se falava em leis ambien-
tais. A preservação precisa
estar aliada ao desenvolvimen-
to sem que ninguém seja preju-
dicado", explica.
Para Ingrid, é preciso pen-
sar exatamente o que fazer nes-
ta área. "Temos dois tipo de
unidades, a de proteção inte-
gral e as de uso sustentável. A
primeira não pode se mexer em
nada; já no segundo caso, exis-
te há possibilidade de ser utili-
zado de forma sustentável,
como no caso dos seringuei-
ros", explica. Ingrid lembra que
muitos defendem também que o
trecho da estrada que corta a
região costeira da Serra do Mar
seja transformado em ponte, para
que se forme um corredor natural
de passagem dos animais.
Parque das NeblinasEm Bertioga, na divisa en-
tre o município de Mogi das Cru-
zes, encontra-se também o Par-
que das Neblinas, com um traba-
lho que merece destaque. A uma
hora e meia de São Paulo, o par-
que é um laboratório de educa-
ção ambiental a céu aberto. Ad-
ministrado pelo Instituto Ecofu-
turo e localizado em uma antiga
Fazenda do grupo Suzano, o par-
que é uma ótima opção para os
amantes do ecoturismo.
Segundo o gerente de proje-
tos ambientais do Instituto Eco-
futuro – que administra o parque
- Paulo Groke, na década de 40 e
50, a região recebeu um grande
impacto ambiental, por conta de
uma mineradora
de carvão. De-
pois da década
de 70, com a com-
pra da fazenda
pelo grupo Su-
zano, começou
um tratamento
especial para
restabelecer as
áreas da Mata
Atlântica. “Com
este trabalho,
criamos em 1999
a Ong Ecofutu-
ro e também o
parque, consi-
derado hoje um
Posto Avança-
do da Biosfera
da Mata Atlân-
tica. Hoje temos
uma área de
RPPN dentro do
espaço do par-
que”, conta.
A mata, se-
gundo Groke,
não é original. “Mas estamos no
caminho para a recuperação ple-
na da área. Desde 88 que este
bioma vem sendo protegido. O tra-
balho não foi apenas dentro do
parque, mas em todo o entorno,
modificando a cultura da comuni-
dade local”, explica. A Ong lançará
nos próximos meses um programa
de incentivo para quem quiser criar
uma RPPN - Reserva Particular do
Patrimônio Natural, que demanda
certos procedimentos, como levan-
tamentos da fauna e flora da área e
nível de conservação.
EventosNos dias Mundial da Biodiver-
sidade, comemorado neste sába-
do, e Nacional da Mata Atlântica,
na próxima quinta-feira (27), a SOS
Mata Atlântica promove até do-
mingo (24), das 9h às 18 horas, na
Arena de Eventos ao lado da
marquise do Parque Ibirapuera,
em São Paulo, o 6º Viva Mata,
com o objetivo de mostrar inicia-
tivas e projetos em prol da Mata
Atlântica. A WWF-Brasil e Eco-
surf, participam também do even-
to promovendo o abaixo-assina-
do de Bertioga.
NARA ASSUNÇÃODA REDAÇÃO
"A população no
geral não enxerga a
riqueza que temos
no nosso litoral."
INGRID OBERGCHEFE REGIONAL DO IBAMA
"A preservação
precisa estar aliada
ao desenvolvimento
sem que ninguém
seja prejudicado"
LUCIANA LOPES SIMÕESONG WWF-BRASIL
"Qualquer
proprietário pode
transformar suas
terras, contribuindo
com a preservação."PAULO GROKE
INSTITUTO ECOFUTURO
Fotos Du Zupanni/Divulgação
A Mata Atlântica é considerada uma das áreas
mais ricas em biodiversidade, porém também é
a mais ameaçada em todo o planeta, com cerca
de 93% de sua formação original já devastada