Post on 19-Nov-2015
PRESSUPOSTO S TEO LG ICO S
Como este curso trata de antropologia e
missiologia torna-se necessrio pontuarmos
os pressupostos teolgicos que seguiremos.
OBJ ET IVOS DA AULA
Entender que a ausncia de uma
comunicao vivel, inteligvel e
aplicvel do evangelho em outra
cultura ou segmento social tem gerado
duas consequncias desastrosas no
movimento missionrio mundial: o
sincretismo religioso e o nominalismo
evanglico
PROFESSO R
Prof. Esp. Gedeon J Lidrio Jr
Bacharel em Teologia, Ps-graduado em
Misso Urbana, Ps-graduado em
Informtica na Educao e Habilitado em
Antropologia Cultural.
A N T R O P O L O G I A C U L T U R A L E
M I S S I O N R I A
A p r e s e n t a o d a d i s c i p l i n a
Neste curso voc encontrar uma proposta de
pesquisa cultural atravs do mtodo Antropos
(mtodo de pesquisa sociocultural), que
composto por trs captulos maiores: o primeiro
lhe empresta o mesmo termo: Antropos (que visa
a pesquisa etnogrfica); o segundo o
Pneumatos (visando a pesquisa fenomenolgica)
e por fim o Angelos (de aplicabilidade teolgica a
partir de padres culturais definidos).
Baseado em Antropologia Missionria, de
Ronaldo A Lidrio
W W W . T E O L O G I A O N L I N E . C O M . B R Rua Martinho Lutero, 277 Gleba Palhano, Londrina, PR
Telefone (43) 3371 0240 - (43) 3371 0241 (43) 3371 0244
INTRODUO
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ANTES DE MAIS NADA ... uma introduo
Nosso objetivo ao expor neste curso o material de
Antropologia Missionria do INSTITUTO ANTROPOS (Prof.
Dr. Ronaldo A Lidrio) neste curso abordar a
antropologia como aliada no desenvolvimento de ideias,
fomentao de estudo e conhecimento humano e,
sobretudo como uma ferramenta prtica no processo de
adaptao pessoal, desenvolvimento de projetos e
exposio do evangelho no campo missionrio.
Nossa inteno foi preparar uma metodologia vivel e
compreensvel tanto para acadmicos e prticos, enquanto
na incumbncia de abordar um novo grupo tnico ou
segmento social. Ela direcionada especialmente para um
contexto tnico especfico apesar de estar sendo tambm
aplicada em diversos outros contextos, inclusive urbanos e
multiculturais.
Apresento o que foi desenvolvido que passou a chamar de
Mtodo Antropos de Pesquisa Sociocultural a partir de
uma metodologia mais incipiente na qual propunha a
observao de uma cultura especfica a partir de 4
dimenses distintas e complementares: a histrica, tica,
tnica e fenomenolgica. Apesar desta metodologia inicial
mostrar-se relevante e til tal abordagem omitia captulos
importantes no estudo de uma cultura como os atos da
vida e da providncia, alm de perceber tambm a
necessidade de uma abordagem mais detalhada em certas
reas da fenomenologia da religio como o totemismo, a
magia, os ritos e os mitos. Por fim seria necessrio tambm
desenvolver mais a aplicao dos processos de
comunicao e evangelizao a partir das hipteses e
concluses culturais. Desta forma, em 1996, ministrei a
primeira capacitao antropolgica com base na presente
metodologia, o Mtodo Antropos. Ele foi desenvolvido ao
longo de 9 anos enquanto morvamos com a tribo
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Konkomba-Bimonkpeln no nordeste de Gana e foram
aplicados, a partir dali, em dezenas de etnias em vrios
pases. Mais recentemente inseri ao longo do mtodo as
perguntas direcionadoras permitindo, assim, que voc use
tal questionrio direcionador como um roteiro de pesquisa
cultural. So, no total, 418 perguntas especficas.
Quando Hesselgrave1 afirma que contextualizar tentar
comunicar a mensagem, trabalho, Palavra e desejo de Deus
de forma fiel Sua Revelao e de maneira significante e
aplicvel nos distintos contextos, sejam culturais ou
existenciais, ele expe um desafio Igreja de Cristo:
comunicar o evangelho de forma teologicamente fiel e ao
mesmo tempo humanamente inteligvel e relevante. E este
talvez seja o maior desafio de estudo e compreenso
quando tratamos da evangelizao em contexto
intercultural.
O mtodo Antropos construdo sobre 3 amplas
abordagens. Para a primeira emprestamos o nome do
mtodo, Antropos, e trata do estudo etnogrfico do grupo
alvo. A segunda abordagem chama-se Pneumatos e
abranger a pesquisa fenomenolgica. Por fim a
abordagem Angelos ir propor a utilizao de suas
concluses para projetos de comunicao e evangelizao.
Estas 3 abordagens formam o presente mtodo.
Cdigos receptores
H uma clara diferena entre informao, interpretao e
associao. A informao uma mensagem transmitida a
outro, seja de forma verbal, no verbal, escrita, encenada
etc. Um indgena caador pode informar a um branco
urbano sobre o uso da intuio durante a caa. Apesar de
ser, em si, uma informao, no significa que ser
processada e compreendida devidamente. Isto porque s
1 Hesselgrave, David J. Plantar igrejas: Um guia para misses nacionais e
transculturais. So Paulo: Vida Nova, 1984.
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compreendemos informaes que possuam paralelo com
um valor j estabelecido.
A partir de tal paralelo geramos a interpretao e,
posteriormente, a associao. A interpretao, ou seja, a
decodificao da informao se d a partir dos cdigos
conhecidos, em nossa prpria cultura. Quando a
informao passada de forma prxima o suficiente
conseguimos decodifica-la usando os cdigos que j
possumos e utilizamos em nosso dia a dia. Quando tal no
funciona no h compreenso da informao, ou h m
compreenso. Quando funciona abre-se uma janela para a
associao. A associao se d quando, aps uma
informao ser recebida, compreendida e interpretada, o
receptor percebe um espao em sua vida ou sociedade
onde a mesma poderia lhe ser util. A associao, portanto,
a aplicao de elementos compreendidos e interpretados
da informao.
A comunicao, portanto, pode ser definida como um
processo em que uma informao (formal ou informal) seja
transmitida, decodificada, interpretada e associada ao
universo de quem a recebe. Isto independe, claro, de sua
aceitao ou rejeio.
Compreendemos uma mensagem quando conseguimos
decodifica-la. E para decodifica-la utilizamos os nossos
prprios cdigos. O processo de criptografia utilizado para
salvaguardar mensagens confidenciais semelhante. Uma
mensagem, em Portugus, por exemplo, passa por um
processo criptogrfico que a torna ilegvel. Para
criptografa-la, porm, necessrio a utilizao de um
cdigo pr-definido pois este deve ser o mesmo utilizado
para descodifica-la e assim torna-la idntica sua forma
original. Duas fontes distintas (quem envia e quem recebe)
precisa, portanto, partilhar o mesmo cdigo. As vezes,
quando tal mensagem cai em mos adversrias que
desejam l-la, o que fazem utilizar programas que
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possam descobrir o cdigo usado, ou um cdigo prximo.
Quando descobrem um cdigo prximo e o utilizam para
ler a mensagem, conseguem muitas vezes l-la mas no
com perfeio. Na guerra fria estes processos custaram
caro, pois transmitiam mensagens partidas ou com sentido
inexato. O fato que, quando mais prximo for o cdigo
mais perfeito ser a compreenso da mensagem.
Culturalmente falando possumos cdigos universais que
fazem com que a humanidade possa partilhar de valores
tambm universais. Possumos, porm, cdigos particulares
que definem nossa identidade social, grupal ou tnica. Tais
cdigos particulares fazem com que compreendamos bem
nossa prpria mensagem mas, se a transmitimos com
nossos prprios cdigos, aquele que a recebe ter incrvel
dificuldade para compreende-la. A no ser se o agente que
a recebe possui habilidade para interpretar os cdigos de
quem a envia.
Ao transmitirmos uma mensagem, ou a mensagem do
evangelho, por exemplo, precisamos, assim, pensar nos
cdigos receptores. Tais cdigos so, possivelmente, o
captulo principal na vida de algum que deseja transmitir
uma mensagem que seja plenamente compreendida. Tais
cdigos receptores envolvem a lngua, a cultura e o
ambiente.
O que propomos aqui, de forma ilustrativa, decodificar a
sociedade que h de receber nossa mensagem e utilizar
tais cdigos para traduzir tal mensagem antes de ser
enviada. Chegar de forma clara, compreensvel e aplicvel.
O trabalho, portanto, feito na fonte, ou seja, por aquele
que pretende transmiti-la.
O mtodo Antropos, de certa forma, est centrado em uma
base terica de busca dos cdigos receptores para o
manuseio da mensagem a ser transmitida, vestindo-a de
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tal forma que chegue bem ao que a recebe, mantendo seu
contedo, mas decoficando-a na fonte.
Um exemplo para podermos ilustrar de forma geral o
conceito. Entre os Konkombas de Gana, a expresso uja
significa homem. Usado, porm, no para definir o gnero
masculino, mas sim uma posio social, aquele que
casado, possui uma roa e possui filhos. Os que no sao
uja so ainda ubo, que traduzimos por crianas, mas
literalmente seriam crianas, adolescentes e jovens. No
cdigo lingustico e sociocultural Konkomba, portanto, no
possvel ser um uja, aceito pelos ujaman, homens da
tribo, sem que se possua esposa e filhos, o que
obviamente discrimina terrivelmente aqueles nesta
situao. Ao apresentarmos Jesus Cristo precisamos pesar
os cdigos de comunicao.
Nosso cdigo sociocultural prev e aceita um homem, ou
seja, um ser masculino parte da sociedade adulta de um
grupo, como sendo algum solteiro, sem filhos e sem roa.
Nossa medio se d to somente pela idade, apesar de
que homem em Portugus possua significado mais
extenso, para os quais acrescentamos outros cdigos,
como homem de verdade, por exemplo.
Para comunicarmos o significa de homem referindo-se a
Cristo para um Konkomba, teramos assim algumas
possibilidades. Uma delas comunicar em nosso cdigo,
ou seja, usando a expresso uja para Cristo, e explicar-
lhes nosso cdigo, ou mesmo o cdigo utilizado
socioculturalmente na tradio histrica bblica. Quem era
um homem para um judeu, quem um homem para um
brasileiro. Com isto ns oferecemos os cdigos como
chave para que possam nos entender. Os resultando so
obviamente pfios visto que nem sempre h um interesse
forte o suficiente do receptor para compreender a
mensagem transmitida. Tambm tais cdigos, to comuns
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para ns, certamente soam estranho ao ouvido de quem
os recebe em um primeiro momento.
Se utilizarmos seus prprios cdigos, porm, para vestir
nossa mensagem e transmiti-la de forma que faa sentido,
estaremos assim facilitando a comunicao (transmisso
de mensagem, interpretao e associao) bem como
estaremos assegurando o contedo da mensagem
transmitida. Aqui est um ponto de claro equvoco
daqueles que se contrape contextualizao da
mensagem com receio de que seu contedo seja
distorcido. A no contextualizao, ou m contextualizao
que certamente provocar a distoro. Desta forma,
evitando a contextualizao, o agente transmissor da
mensagem (imaginemos o missionrio, um professor ou
um pregador) sair da sala de aula com um sentimento de
que foi fiel raiz daquilo que tencionou transmitir. Porm
ser um sentimento equivocado pois na mente daqueles
que ouviram tal mensagem, enviada apenas com os
cdigos transmissores, ser, certamente, interpretada da
maneira mais estranha possvel.
Seria o equivalente a, simplesmente afirmarmos, usando
puramente nossos cdigos transmissores, que Yesu ye
uja, Jesus homem. A pergunta, talvez silenciosa, que
nos aguardar quem sua esposa e seus filhos, e onde
est sua roa.
Como desejvamos comunicar a Palavra de Deus de forma
fiel nos debruamos no estudo da cultura e parte deste
estudo nos levaria s categorizaes humanas. Ali (nos
cdigos socioculturais Konkombas) fomos descobrir que
h diversas formas atribudas ao uja, uma delas, o
ujabor que define o homem a partir de seu status de
envio e no de casamento. Um mensageiro, mesmo
solteiro, enviado com uma grande mensagem, poderia
conviver com o povo Konkomba como ujabor. Ao
comunicarmos Cristo como ujabor e Uwumbor abor
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homem e filho de Deus utilizvamos o cdigo do povo
na fonte, para comunicarmos algo que no desejvamos
que fosse mal compreendido. Houve boa compreenso e
base para o ensino que viria depois.
O relacionamento entre cdigos em um segundo
momento, quando uma mensagem nova transmitida,
um assunto tambm que nos interessa (quando um grupo
socioculturalmente definido passa a reconstruir alguns de
seus cdigos lingustica e culturalmente - a partir de
novas informaes recebidas) porm, por no ser essencial
para a exposio do presente mtodo deixaremos para
uma prxima oportunidade.
Ensino normativo e capacitao
Faamos, inicialmente, uma diferenciao entre ensino
normativo e capacitao. O ensino normativo objetiva a
transmisso de conhecimento e habilidade de
reconhecimento, bem como assimilao de valores. A
capacitao visa aplicar este conhecimento em
determinado contexto e circunstncia, fornecendo, assim,
um guia de interpretao e aplicabilidade em sua rea alvo
de estudo. Este curso , portanto, oriundo das capacitaes
antropolgicas, objetiva fomentar o uso da Antropologia
como instrumento aplicativo na dinmica da
evangelizao. Tanto provendo instrumentos facilitadores
de uma comunicao inteligvel e relevante, quanto
discutindo cuidados na preservao da cultura e
cosmoviso de um povo.
Entendo que o preparo missionrio clssico formado a
partir de um trip de estudos: missiologia, antropologia e
lingustica. Observando nossas escolas e centros de
formao missionria creio ser evidente que a antropologia
o p mais fraco. Organizaes missionrias tm
concludo que o retorno precoce de missionrios est
ligado majoritariamente a problemas relacionais internos
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(na equipe de trabalho) ou externos, com o povo alvo.
Porm, o fator que mais contribui para prejuzos
permanentes de comunicao do evangelho, bem como na
formao de igrejas sincrticas, a falta de anlise
sociocultural (antropolgica) no ambiente de trabalho.
Participo de uma consultoria missiolgica que se viu,
recentemente, envolvida com um sincretismo mgico, na
comunicao do evangelho entre um povo o qual
chamarei de Zweti. Trata-se de um grupo tnico africano
animista, centrado na manipulao de elementos naturais
(magia) e formado por diversos cls, todos totmicos. A
equipe missionria, a procura da terminologia e exemplo
cultural para o elemento perdo, compreendeu que este
estava ligado ao Batik, quando um pano sujo era lavado
em gua corrente por representantes da etnia, levando-os
a conclurem que seus atos impuros estavam perdoados.
Era uma prtica tradicional e realizada de maneira formal.
Durante algum tempo foi amplamente utilizado pela
equipe missionria para expor o conceito de perdo na
apresentao do evangelho. Percebeu-se recentemente,
porm, que esta cerimnia (Batik) era realizada apenas por
um cl na etnia, e um cl endogmico, ou seja, onde o
casamento ocorria apenas entre si, de forma restrita. Os
outros cls, exogmicos, no compreenderam que aquela
mensagem poderia ser direcionada a eles e se definiram
(perante a mensagem do evangelho) na categoria de
imperdoveis. Observando o fato percebemos que faltou,
neste caso, apenas uma breve etnografia e estudo
fenomenolgico, os quais poderiam facilmente evitar o
comprometimento da mensagem na comunicao do
evangelho.
Alvos gerais
Temos dois desafios medida que compreendemos
melhor a Antropologia e a usamos como instrumento de
aferio cultural.
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Primeiramente fazer uma ponte entre Antropologia e
Missiologia. Ou seja, conciliar os temas como instrumentos
que visam expor um evangelho fundamentado
biblicamente, de forma comunicvel, compreensvel e
aplicvel em um determinado contexto cultural.
Em segundo lugar gerar concluses e instrumentos que
nos ajudem a aplicar o conhecimento da antropologia na
facilitao desta comunicao do evangelho.
Alvos especficos
1. Expor a Antropologia e sua relevncia no contexto
missionrio.
2. Interligar o estudo etnogrfico, etnolgico e
fenomenolgico como mecanismos de mapeamentos
tnicos.
3. Desenvolver um 'roteiro cultural' que facilite a gerao
de estratgias evangelizadoras e promova cuidados no
trato cultural.
4. Capacitar pessoas chaves para reproduzirem o contedo
aqui proposto em suas reas de atuao como agncias e
campos missionrios, seminrios e cursos preparatrios,
preparo de equipes de campo ou grupos de pesquisa.
Metodologia
Para compreendermos melhor a metodologia a ser
utilizada devemos observar a existncia de vrias
abordagens para o estudo antropolgico. Franz Boas
descreve a sntese dos principais mtodos de estudo
antropolgico em seu artigo As limitaes do mtodo
antropolgico comparativo2. Alguns mtodos partem da
observao da sociedade ou segmento social. Outros
2 Boas, Franz. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
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possuem as idias, herdadas por outros estudiosos como
fundamento para a organizao do estudo. H mtodos
comparativos e outros categorizadores. Seguiremos neste
estudo uma abordagem mais etnolgica categorizadora
olhando para a Antropologia com a inteno de
desenvolver pastas que venham a nos ajudar na
compreenso da cultura alvo, percepo de seus
horizontes e limitaes sociais, assim como aberturas para
a comunicao de uma mensagem de forma relevante e
compreensvel.
Esta abordagem no a ideal para o desenvolvimento de
um ambiente terico acadmico, puramente gerador de
ideias. Porm a tenho encontrado como uma boa
alternativa para um estudo intencional com expectativas
conclusivas sob a orientao antropolgica.
H trs grandes blocos de mtodos utilizados para o
estudo antropolgico. O primeiro podemos chamar de
descritivos, o segundo de cognitivos e o terceiro de
categorizadores.
Os mtodos descritivos estudam o homem a partir da
observao da sociedade ou segmento social. So mais
etnogrficos e seguem a linha de pensamento de Levi-
Strauss3, Evans-Pritchard e Radcliffe-Brown. Desta forma
algum poderia descrever a praia do Boa Viagem, no
Recife, em um sbado de vero como um ajuntamento
humano sob ambiente adequado que aglomera cerca de
12.000 pessoas provindas de 23 nacionalidades que se
postam principalmente na areia, e no na gua, e
participam tanto dos esportes de praia quanto se
aglomeram nas barraquinhas onde so servidos lanches
tropicais incluindo peixes e crustceos. Ou seja, seria
utilizarmos a abordagem descritiva, daquilo que se v, da
forma como percebido, para expor um fato social.
3 Ver Levi-Strauss, Claude. O pensamento selvagem. Campinas: Papirus,
2002.
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Os mtodos cognitivos estudam o homem e suas ideias.
Seguindo a linha de pensamento de Mauss, Malinowsky e
Geertz4 estes mtodos descrevem, analisam e interpretam
ideias que formam os fatos sociais. A procura aqui no
por uma descrio do fato mas sim por um estudo das
ideias que o geram, motivam e perpetuam. Desta forma a
mesma praia de Boa Viagem poderia ser descrita por
algum como um movimento iniciado pelo desejo de
nivelao social e lazer onde todos, sem distino de cor e
classe socioeconmica partilham o ambiente e o que lhe
oferecido. Tal aglomerao se d sob a motivao do
divertimento e lazer, porm tambm se transforma em
ambiente de encontros e relacionamentos. A imagem
coletiva encontrada nesta praia confunde-se com a prpria
imagem brasileira que expe, como estereotipo, pessoas
alegres e festeiras, no afeitas ao trabalho mas ao lazer,
forte apelo sexual e um mundo organizado sob o comando
do entretenimento.
Os mtodos categorizadores estudam os fatos sociais
atravs de categorizaes explicativas. So mais
etnolgicos e seguem a linha de pensamento de Eliade,
Boas e Filoramo. Desta forma algum poderia descrever
esta praia de Boa Viagem como um movimento social
formado por grupos e ideias heterogneas. Estruturalmente
h ali cinco classes representadas: os frequentadores, que
participam de forma rotineira da praia, os transeuntes,
formado por turistas e outros frequentadores espordicos, os
comerciantes mveis, que caminham por toda a praia
vendendo seu produto, os comerciantes fixos, que possuem
ou administram barraquinhas em pontos permanentes, e os
funcionrios, que prestam servio geral como salva-vidas,
bombeiros e outros. Suas funes so assim definidas: ....
Neste curso voc encontrar uma proposta de pesquisa
cultural atravs do mtodo Antropos (mtodo de pesquisa
4 Ver Geertz, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001.
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sociocultural), que composto por trs captulos maiores:
o primeiro lhe empresta o mesmo termo: Antropos (que
visa a pesquisa etnogrfica); o segundo o Pneumatos
(visando a pesquisa fenomenolgica) e por fim o Angelos
(de aplicabilidade teolgica a partir de padres culturais
definidos). Apesar de utilizarmos o expediente descritivo e
cognitivo estes so principalmente mtodos
categorizadores. Os motivos para tal so trs: a) nem todos
os missionrios e pesquisadores tm acesso a um material
antropolgico mais amplo, fazendo com que o
desenvolvimento de categorias diminua as possibilidades
de disperso na pesquisa fornecendo, assim, roteiros a
serem seguidos; b) as categorizaes contribuem para o
registro dos fatos sociais e suas anlises, bem como futuro
processo de comparao com outros mtodos
antropolgicos; c) possibilita mais facilmente o
desenvolvimento de propostas teolgicas para
comunicao do evangelho de acordo com o perfil cultural
concludo.