Post on 31-Jan-2020
Giselly dos Santos Peregrino
SECRETO E REVELADO, TÁCITO E EXPRESSO:
o preconceito contra/entre alunos surdos
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação.
Tese de Doutorado
Orientador: Marcelo Gustavo Andrade de Souza
Coorientadora: Wilma Favorito
Rio de Janeiro
Março de 2015
Giselly dos Santos Peregrino
Secreto e Revelado, Tácito e Expresso:
o preconceito contra/entre alunos surdos
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação. Aprovada pela Comissão Avaliadora abaixo assinada.
Prof. Marcelo Gustavo Andrade de Souza Orientador
Departamento de Educação – PUC-Rio
Prof.ª Wilma Favorito Coorientadora
INES
Prof.ª Sonia Kramer Departamento de Educação – PUC-Rio
Prof.ª Giovanna Marafon
Departamento de Educação – PUC-Rio
Prof.ª Celeste Azulay Kelman UFRJ
Prof.ª Anelice Astrid Ribetto
UERJ
Prof.ª Denise Berruezo Portinari Coordenadora Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas –
PUC-Rio
Rio de Janeiro, 03 de março de 2015.
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou
parcial do trabalho sem autorização da autora, do orientador e da
universidade.
Giselly dos Santos Peregrino
Giselly dos Santos Peregrino é licenciada em Letras pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em
Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio). Possui especialização em Educação de Jovens e
Adultos e em Educação Especial/Inclusiva: Deficiência
Auditiva/Surdez pela Universidade Gama Filho (UGF), além de
aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado para
Alunos Surdos e em Ensino de Língua Brasileira de Sinais pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Integrou o Grupo de
Estudos sobre o Cotidiano, Educação e Culturas (GECEC) da
PUC-Rio, sendo bolsista de doutorado da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Já atuou
como docente na educação básica da rede municipal de ensino do
Rio de Janeiro (RJ) e de Nova Iguaçu (RJ) bem como de
instituições privadas. Também atuou como tutora a distância em
curso de aperfeiçoamento no Currículo Mínimo oferecido aos
professores da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro e em
curso de especialização em Educação Especial: Deficiência
Auditiva/Surdez da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO). É professora de Língua Portuguesa e
Literatura no Colégio de Aplicação do Instituto Nacional de
Educação de Surdos (CAp/INES).
Ficha Catalográfica
CDD: 370
Peregrino, Giselly dos Santos
Secreto e revelado, tácito e expresso: o preconceito contra/entre alunos surdos / Giselly dos Santos Peregrino; orientador: Marcelo Gustavo Andrade de Souza; coorientadora: Wilma Favorito. – 2015.
247 f.; 30 cm Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, Departamento de Educação, 2015. Inclui bibliografia
1. Educação – Teses. 2. Preconceito. 3. Surdez. 4. Adultos Surdos. 5. Libras. 6. Professores. 7. Educação de Jovens e Adultos. I. Souza, Marcelo Gustavo Andrade de. II. Favorito, Wilma. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Educação. IV. Título.
Com carinho e esperança,
aos alunos surdos e seus professores.
Agradecimentos
“[...] o bom da vida é a partilha das pequenas coisas. Aprendi isso na
minha casa, com minha família, que foi o maior e melhor de todos os
livros que já li. Foi lá que eu aprendi a dividir o que tenho e o que sou.
Foi lá que eu aprendi a ser forte, mas também a ser frágil.”1
“É verdade que a ação nunca pode se dar em isolamento, dado que a
pessoa que começa alguma coisa só pode aventurar-se nela depois de
ter granjeado a ajuda de outros.”2
Como exprimir a delicadeza do afeto e da gratidão? No mosaico de mãos e
vozes, como mensurar o tamanho das amizades? É possível hierarquizar amores
ou citar nomes e sinais queridos? Como trazer à luz a impalpável saudade? Como
enfatizar o imensurável carinho? Como explicar a impagável e inapagável
presença? Como sobreviver ao labirinto de corações se me esquecer de alguém?
Começo pelo infinito, pela maior das gratidões e pelo maior dos amparos.
Sem este porto seguro, nada seria sequer iniciado, tampouco concluído. Começo
por Aquele sem O qual nenhum pensamento sopraria e nenhuma palavra brotaria
− DEUS, meu melhor orientador. Pela intercessão − e por que não coorientação?
−, agradeço à expressão mais bela da misericórdia e amor: NOSSA SENHORA!
“A saudade é o que faz as coisas pararem no Tempo”, poetizava Mario
Quintana... À vovó HELOISA, de quem herdei o amor plural pelo mundo e o
desejo de perscrutar o insondável e esperar pelo inesperado! E à vovó ANAIR,
com quem aprendi sobre os delicados e dedicados caminhos da fé. As duas já
voaram embora, mas alicerçaram, com ternura, todas as minhas conquistas.
Sou muitíssimo grata pelo amor, sem princípio nem fim, dos meus pais −
AGNALDO e ELIANA −, peregrinos responsáveis pelo meu novo início. A
partir deles, tomei amor pelas palavras e gestos, rendi-me aos livros, passei a ler o
mundo, formei-me moralmente... Trago, na bagagem da vida, seus ensinamentos a
partir do olhar. Como agradecer, simplesmente, por TUDO?
1 MELO, 2011, p. 72.
2 ARENDT, 2012, p. 183.
Ao companheiro de todas as horas, que torce e se contorce fazendo o
impossível para encher de leveza minha vida: LEANDRO, meu marido e amigo,
cujo apoio me favoreceu a realização da tese. Sem sua promessa antiga de sempre
haver (sor)riso, nenhum dia, durante o doutorado, seria suportável. Sua presença
alegre é fundamental, propiciando-me ideias, pondo em xeque minhas
descobertas, auxiliando diariamente em TUDO...! Foi meu orientador não
acadêmico e interlocutor privilegiado, com quem converso, todos os dias, sobre os
incalculáveis preconceitos de todos nós.
Ao meu avô poeta e filósofo VALTINHO, que tem mais experiências
narráveis do que todos que conheço. Dele herdei o apelo pelo não esquecimento,
pelo imaginado, pelo sem fim, pelo nada ampliado...
À minha irmã, GABRIELLY, pelos risos e sorrisos desmedidos que
fortalecem as pessoas. Mostra, com atos, que o amor/humor é indispensável na
experiência de um trabalho acadêmico.
Ao meu cunhado MAURICIO, por compreender que não sou da
informática, mas da “invencionática”. Sou grata pelos socorros tecnológicos.
Àqueles que me ensinam a simplicidade e foram companheiros de tese,
sentenciando-me como árvore. Seja sobre meus ombros, seja sobre os livros, lá
estavam acompanhando-me LILI, GUIZINHA e AGNILDO, amores com asas!
Ao INES, que me propiciou uma inesperada e inesquecível experiência
profissional. Ademais, em boa hora, proporcionou-me a licença para produzir,
com mais saúde e serenidade, esta tese.
À minha coorientadora, Prof.ª Dra. WILMA FAVORITO (DESU/INES),
por sua leitura amiga e por me permitir compartilhar histórias, questões e tensões.
Aos ALUNOS SURDOS DO CAp/INES (A1, A2, A3, A4 e A5) e seus
PROFESSORES (P1, P2, P3, P4 e P5), que se disponibilizaram a colaborar com a
pesquisa e sem os quais estas páginas não teriam vida... E àqueles que
impulsionaram a pesquisa, MEUS ALUNOS SURDOS desde 2010.
Aos professores do DEBASI/INES que me são bastante queridos:
ALESSANDRA GOMES, ALINE DIAS, AMANDA RIBEIRO, ANA LUÍSA
ANTUNES, ANGÉLICA NUERNBERG, CAROLINA MAIA,
CHRISTIANA LEAL, DANIELLE LINS, DANIELLE MACEDO, ISABEL
MALLET, JAQUELINE COSENDEY, LÍVIA BUSCÁCIO, LUIZ CARLOS
SOUZA, MARISE PÔRTO, REGINA CARDOSO, RONALDO OLIVEIRA
e VERÔNICA LOURO.
Ao intérprete de Libras RAMON LINHARES, pelas dicas preci(o)sas e
pela tradução do resumo da tese para o SignWriting.
Aos EDUCADORES DE JOVENS E ADULTOS (PEJA1, PEJA2,
PEJA3, PEJA4 e PEJA5), por gentil e prontamente consentirem contribuir com esta
pesquisa, oferecendo sua voz e pensamento.
À CAPES, pelos auxílios financeiros concedidos desde 2013 e que me
injetaram, em momento preciso, mais ânimo, fôlego e tranquilidade para concluir
este trabalho.
À PUC-Rio, que me recebeu em 2008 como mestranda e em 2011 como
doutoranda, agradeço pela bolsa VRAc. Sou grata, sobretudo, ao
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO com seus professores e demais
profissionais.
Ao meu orientador no doutorado, Prof. Dr. MARCELO ANDRADE, que
me recebeu cordialmente e incentivou a autonomia intelectual desde o início,
mostrando-me o lado humano do universo acadêmico. Ensinou-me que tolerar não
é pouco e que as diferenças nos constituem. Registro meu agradecimento pela
orientação cautelosa, diálogo e abertura fraterna à minha “desobediência”!
Aos colegas que deram/dão vida e voz ao GECEC, por toda a torcida e
pelas contribuições à minha pesquisa.
À Prof.ª Dra. ROSANA BINES (PUC-Rio), minha orientadora no
mestrado, que me sugeriu mudar de campo no doutorado, fazendo-me peregrinar
por outros territórios − não menos (po)éticos. Fez parte da minha caminhada
como pesquisadora.
À Prof.ª Dra. SONIA KRAMER (PUC-Rio), pela escuta sensível e
compreensão responsiva nas disciplinas e nos dois exames de qualificação.
À Prof.ª Dra. ALICE FREIRE (UFRJ), pelas sugestões acuradas no
primeiro exame de qualificação, em julho de 2013.
À Prof.ª Dra. CELESTE KELMAN (UFRJ), pela humildade no
compartilhamento de ideias, desde o segundo exame de qualificação, em outubro
de 2014.
À Prof.ª Dra. GIOVANNA MARAFON (PUC-Rio) e à Prof.ª Dra.
ANELICE RIBETTO (UERJ), por aceitarem participar da banca final e abrir-se
ao diálogo a partir da leitura desta tese.
Resumo
Peregrino, Giselly dos Santos; Andrade, Marcelo (orientador); Favorito,
Wilma (coorientadora). Secreto e Revelado, Tácito e Expresso: o
preconceito contra/entre alunos surdos. Rio de Janeiro, 2015. 247p. Tese
de Doutorado – Departamento de Educação, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.
Esta tese de doutorado partiu da hipótese de que juízos engessados acerca da
surdez continuam a ser repetidos nos enunciados e a ser sentidos por pessoas
surdas, apesar do avanço da discussão sobre as diferenças. A principal questão de
pesquisa é como se dá o preconceito contra/entre alunos surdos. Objetivou-se
compreender esse fenômeno, conceituando-o, identificando suas expressões nos
enunciados de professores, analisando como os estudantes surdos percebem e
avaliam esse processo e contribuindo para uma educação contra o preconceito.
Examinaram-se diferentes perspectivas sobre o conceito de preconceito – Gordon
Allport, Theodor Adorno & Max Horkheimer, Hannah Arendt, Arnold Rose,
Agnes Heller, entre outros. Sendo os preconceitos, por vezes, expressos no
discurso, a entrevista confirmou-se como procedimento fundamental. Os
participantes deste estudo foram: cinco alunos surdos adultos, cinco professores
de jovens e adultos surdos e cinco professores atuantes na Educação de Jovens e
Adultos (EJA) os quais nunca tiveram surdos como alunos. As entrevistas foram
ancoradas na abordagem sócio-histórica e, sendo semiestruturadas, partiram de
um roteiro norteador. Concluiu-se que estudantes surdos têm dificuldades para
perceber o preconceito por não compartilharem a língua com o sujeito
preconceituoso e, ao mesmo tempo, conseguem apreender o fenômeno por meio
de formações imaginárias e inferências. Observou-se que perceberam mais
preconceito contra si em escolas anteriores nas quais conviviam com alunos que
não são surdos. Por outro lado, registraram que, mesmo entre pessoas surdas, há
expressões de preconceito, comprovando que não são imunes a ele, mesmo
sofrendo com suas manifestações. Apontaram que costumam ou podem reagir ao
preconceito com desprezo, com diálogo, por meio de medidas judiciais,
responsabilização de Deus ou com violência física. Avaliaram que, mesmo em
tempos que supostamente valorizam a inclusão socioeducativa, ainda não há
entendimento, diálogo nem troca. Por sua vez, os professores elaboraram
concepções de preconceito que não se vinculam diretamente ao preconceito que
manifestam. Metade deles assumiu ser abertamente preconceituoso; no entanto,
seus discursos, coerentemente com o politicamente correto, traziam o preconceito
ora secreto, ora revelado; ora tácito, ora expresso. E, às vezes, tudo isso
simultaneamente, em um verdadeiro jogo de esconde-esconde. Concluiu-se que a
experiência com estudantes surdos não potencializa o preconceito, mas pode
favorecer seu fortalecimento ou sua desconstrução forçosa. A não experiência, por
outro lado, tende a propiciar a perpetuação de juízos passados e não reelaborados,
bloqueando, assim, (novas) vivências com o alunado surdo.
Palavras-chave
Preconceito; surdez; adultos surdos; Libras; professores; Educação de
Jovens e Adultos.
Abstract
Peregrino, Giselly dos Santos; Andrade, Marcelo; Favorito, Wilma. Secret
and Revealed, Implicit and Expressed: prejudice against/among deaf
students. Rio de Janeiro, 2015. 247p. Doctoral Thesis – Departamento de
Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
This doctoral thesis is based on the assumption that preconceived opinions
about deafness continue to be repeated in assertions and felt by deaf people,
despite the progress of discussions on differences. The main point of the research
is how prejudice originates against/among deaf students. The purpose is to
understand this phenomenon, describing it, identifying its expressions in the
discourse of teachers, analyzing how deaf students perceive and assess this
process and contributing to an education against prejudice. The prejudice concept
was examined through different perspectives − Gordon Allport, Theodor Adorno
& Max Horkheimer, Hannah Arendt, Arnold Rose, Agnes Heller, among others.
As prejudice is at times expressed in speech, interviews were regarded as an
essential procedure. The participants in this study were: five adult deaf students,
five teachers of deaf youngsters and adults, and five teachers engaged in
Educação de Jovens e Adultos (EJA) [Education of Youngsters and Adults] who
had never taught deaf students. Interviews were based on a socio-historical
approach and, being semi-structured, they followed a guiding script. The
conclusion was that deaf students have difficulty in perceiving prejudice because
they do not share the language with the prejudiced person but, at the same time,
they do notice the phenomenon through imaginary concepts and inferences. They
perceived more prejudice against them in previous schools in which they
interacted with students who were not deaf. On the other hand, they affirmed that
even among deaf individuals there are prejudiced expressions, which proves they
are not immune to prejudice, even suffering from it. They pointed out that they
may react to prejudice with disdain, through dialogue, by means of legal remedies,
blaming God or using physical violence. They affirmed that, even in times that
supposedly value socio-educative inclusion, there is still no understanding,
dialogue or change. In turn, teachers elaborate prejudice conceptions that do not
directly match the prejudice they express. Half of them assumed to be prejudiced;
however, in their discourse, consistent with the politically correct behavior, they
showed their prejudice either in a secret or revealed way; sometimes implied and
sometimes expressed. And, at times all that simultaneously, in a true hide-and-
seek game. The conclusion was that the experience with deaf students does not
increase prejudice, but it may favor either its strength or its forced deconstruction.
The lack of interchange, on the other hand, tends to reinforce the continuation of
past and not reelaborated judgments, thus blocking (new) personal experiences
with deaf students.
Keywords
Prejudice; deaf; deaf adults; Libras; teachers; Education of Youngsters and
Adults.
Sumário
1 PALCO DE ENCONTRO COM O PRECONCEITO E A SURDEZ ....... 24
1.1. DO SUSTO À ENTRADA NO PALCO .............................................................................. 24
1.2. NO LIMIAR DO DIÁLOGO .......................................................................................... 28
1.3. VOZES PRECEDENTES .............................................................................................. 31
1.4. BASTIDORES DA PESQUISA ....................................................................................... 47
2 EXPERIÊNCIAS DE ALUNOS SURDOS COM O PRECONCEITO ..... 75
2.1. PERFIL DOS ALUNOS SURDOS .................................................................................... 76
2.2. “É ASSIM: EU FICO SEM ENTENDER, MAS AS COISAS NÃO PARAM, CONTINUAM ACONTECENDO” 80
2.3. “PARA ELES, SIGNIFICA ‘MACAQUICE’, PROVOCAM COM ISSO” .......................................... 93
2.4. “ELES OLHAM OS SURDOS COMO COITADOS QUE SÃO MUDOS” ....................................... 103
2.5. “FALA! ABAIXA AS MÃOS E FALA!” .......................................................................... 111
2.6. “ESTOU ENTRE IGUAIS, OS OUTROS SÃO SURDOS COMO EU” .......................................... 128
2.7. “EU ‘DEIXO PARA LÁ’, DEIXO NAS MÃOS DE DEUS!” ..................................................... 148
2.8. “AINDA NÃO HÁ ENTENDIMENTO, DIÁLOGO, TROCA!” .................................................. 157
3 CONCEPÇÕES, EXPRESSÕES E PERCEPÇÕES DE PRECONCEITO
POR PROFESSORES ........................................................................... 160
3.1. PERFIL DOS PROFESSORES DE SURDOS ....................................................................... 161
3.2. PERFIL DOS PROFESSORES NA EJA ............................................................................ 165
3.3. “EU TERIA, DE REPENTE, UM MEDO PRÉVIO, UM PÉ ATRÁS PRÉVIO” ................................. 167
3.4. “A DEFICIÊNCIA GERA UMA DIFICULDADE COGNITIVA GRANDE” ....................................... 182
3.5. “ESTÁ TUDO DENTRO, INFELIZMENTE, DO MESMO PACOTE” ........................................... 203
3.6. “SE EU NÃO SEI QUEM É, EU TENHO PRECONCEITO CADA VEZ MAIS” ................................. 211
4 CONSIDERAÇÕES QUASE FINAIS .................................................. 216
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 226
APÊNDICE ............................................................................................. 239
A. ROTEIRO DE ENTREVISTA COM ALUNOS SURDOS ......................................................... 239
B. ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PROFESSORES DE SURDOS ADULTOS .................................. 240
C. ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PROFESSORES NA EJA ................................................... 242
D. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..................................................... 244
ANEXOS ................................................................................................ 245
A. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA DA PUC-RIO ........................................ 245
B. AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE SURDOS ............................................................... 246
C. ALFABETO MANUAL ............................................................................................. 247
Lista de siglas e abreviaturas
ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
A1 Aluno surdo 1
A2 Aluno surdo 2
A3 Aluno surdo 3
A4 Aluno surdo 4
A5 Aluno surdo 5
Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAp/INES Colégio de Aplicação do Instituto Nacional de Educação de Surdos
CODA Children of Deaf Adults (filhos ouvintes de pais surdos)
EJA Educação de Jovens e Adultos
F Feminino
GECEC Grupo de Estudos sobre o Cotidiano, Educação e Cultura(s)
GT 15 Grupo de Trabalho (n.º 15) de Educação Especial da ANPEd
INES Instituto Nacional de Educação de Surdos
LGBTTT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros
Libras Língua Brasileira de Sinais
L1 Primeira língua
L2 Segunda língua
M Masculino
P1 Professor de surdos 1
P2 Professor de surdos 2
P3 Professor de surdos 3
P4 Professor de surdos 4
P5 Professor de surdos 5
PEJA1 Professor na Educação de Jovens e Adultos 1
PEJA2 Professor na Educação de Jovens e Adultos 2
PEJA3 Professor na Educação de Jovens e Adultos 3
PEJA4 Professor na Educação de Jovens e Adultos 4
PEJA5 Professor na Educação de Jovens e Adultos 5
TILS/LP Tradutor e Intérprete de Libras / Língua Portuguesa
Índice de quadros
QUADRO 1: QUANTITATIVO DE PRODUÇÕES ACADÊMICAS (2008 A 2012) 28
QUADRO 2: SUJEITOS DE PESQUISA − QUANTITATIVO E CRITÉRIOS DE SELEÇÃO 58
QUADRO 3: CARACTERIZAÇÃO DOS ALUNOS SURDOS 76
QUADRO 4: CARACTERIZAÇÃO DOS PROFESSORES DE SURDOS ADULTOS 161
QUADRO 5: CARACTERIZAÇÃO DOS PROFESSORES NA EJA 165
QUADRO 6: ESCOLHAS DOS PROFESSORES − O QUE TEM E O QUE NÃO TEM
RELAÇÃO COM A SURDEZ 180
Quando contemplo no todo um homem situado fora e
diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente
vivenciáveis não coincidem. Porque em qualquer situação
ou proximidade que esse outro que contemplo possa estar
em relação a mim, sempre verei e saberei algo que ele, da
sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as partes
de seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar − a
cabeça, o rosto, e sua expressão −, o mundo atrás dele,
toda uma série de objetos e relações que, em função dessa
ou daquela relação de reciprocidade entre nós, são
acessíveis a mim e inacessíveis a ele. Quando nos
olhamos, dois diferentes mundos se refletem na pupila dos
nossos olhos. Assumindo a devida posição, é possível
reduzir ao mínimo essa diferença de horizontes, mas para
eliminá-la inteiramente urge fundir-se em um todo único e
tornar-se uma só pessoa.
Mikhail Bakhtin “A forma espacial da personagem”, in Estética da criação verbal
Por que prender a vida em conceitos e normas?
O Belo e o Feio... o Bom e o Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
Mario Quintana “Da perfeição da vida”, in Espelho Mágico
Repito: compreender não significa negar o ultrajante,
subtrair o inaudito do que tem precedentes, ou explicar
fenômenos por meio de analogias e generalidades tais que
se deixa de sentir o impacto da realidade e o choque da
experiência. Significa antes examinar e suportar
conscientemente o fardo que os acontecimentos colocaram
sobre nós − sem negar sua existência nem vergar
humildemente a seu peso, como se tudo o que de fato
aconteceu não pudesse ter acontecido de outra forma.
Compreender significa, em suma, encarar a realidade,
espontânea e atentamente, e resistir a ela − qualquer que
seja, venha a ser ou possa ter sido.
Hannah Arendt in Origens do Totalitarismo