Post on 13-Mar-2016
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revista técnico-profissionalFICHA FORMATIVA DE ILUMINAÇÃO o electricista
iluminação eficiente – o objectivo final?
No princípio da década de 80 do século passado, o petróleo estava a cerca de 10 dólares o barril. Mesmo com a actual reces-são o petróleo está cerca de quatro vezes mais caro e já se transaccionou perto dos 150 dólares. Por muito que nos custe, e se não se verificar uma mudança tecnológica que altere significativamente a situação ac-tual, o tempo da energia barata chegou ao fim. Em 150 anos consumimos metade das reservas de petróleo e a outra metade está menos acessível e é de pior qualidade. Se mantivéssemos o ritmo de crescimento do consumo teríamos petróleo para cerca de mais 30 anos. Claro que existem outras formas de energia, mas ou contribuem pou-co para as necessidades actuais e futuras e/ou a sua utilização é mais cara.
A tomada de consciência desta realidade levou os responsáveis pelas políticas ener-géticas a tentar implementar uma serie de medidas tendentes a utilizar mais eficiente-mente os recursos disponíveis.
A iluminação, assunto que nos ocupa neste artigo, é responsável por cerca de 20% do consumo de energia eléctrica e este valor aumenta substancialmente quando nos referimos ao sector terciário, chegando a
Henrique Luís Barata MotaEngº Electrotécnico . Director geral da Lledo Iluminação Portugal
Presidente do Conselho Cientifico do Centro Português de Iluminação
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representar mais de 50% do consumo de um edifício. Mas enquanto noutras áreas já se realizaram muitos melhoramentos no sentido de criar sistemas mais eficientes, na iluminação ainda há bem pouco tempo a lâmpada incandescente (só 5% do seu consumo é utilizado para obter luz) era a mais vendida em todo o mundo – em 2003 venderam-se cerca de 13 mil milhões de lâmpadas incandescentes (cerca de 72% de todas as lâmpadas vendidas). Neste momento está em curso uma medi-da para eliminar progressivamente o uso de lâmpadas incandescentes na iluminação geral. Mas existem muitas outras medidas a implementar, que neste artigo nos escu-samos de enumerar por não ser esse o seu objectivo principal. Acresce o facto de que a iluminação, além de constituir uma carga importante, contribui para aumentar a car-ga térmica de um edifício e portanto a obri-gar o sistema de refrigeração a funcionar mais tempo e com mais intensidade.
A Agencia Internacional de Energia está a desenvolver uma serie de medidas tenden-tes a tornar os edifícios mais eficientes. É assim que surge › ECBCS – Energy Conservation in Buildin-
gs and Community Systems
E no que respeita à iluminação › Annex 45 – Destinado a implementer a
“Energy-Efficient Future Electric Lighting for Buildings“
No que concerne à legislação europeia aque-las orientações tomam forma através de › Directive 2002/91/EC› EPBD – European Energy Performance
Building Directive› CEN/TC 169 Light and lighting
Muita legislação foi produzida neste âmbito. Neste artigo interessa-nos especialmente a EN 15 193 que introduzindo o LENI – Light Energy Numeric Indicator – permite deter-minar e comparar com as melhores práticas a energia consumida por um edifício ao uti-lizar iluminação artificial.
Em Portugal a legislação é essencialmente concentrada nos DL 78, 79, 80/2006 que englobam a certificação dos edifícios, os seus elementos passivos (comportamento térmico) e os activos (sistemas energéticos). Infelizmente a legislação não inclui todas as recomendações da norma supracitada, limitando-se a definir os perfis de consu-mo de cada local. Em particular não tem em atenção as condições de exploração –
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aproveitamento de luz do dia, existência de sistemas de controlo etc..- nem define quais os valores referência.
No entanto se a nossa legislação ainda é incompleta no domínio da iluminação, que como vimos tem um contributo muito gran-de para a ineficiência energética dos edifí-cios, não nos restam dúvidas que num futuro mais ou menos próximo ela vai ocupar uma parte importante das nossas preocupações. Quanto mais não seja porque para melhorar a eficiência energética e as consequentes classificações dos edifícios temos de nos socorrer das parcelas que mais podem con-tribuir para isso. E aqui a iluminação vai ter seguramente um papel preponderante pelas razões que já apontamos.
Se não duvido que em breve a eficiência energética na iluminação vai estar no cen-tro das nossas preocupações, temo que como em outros casos a moda pressione no sentido que se passe de um extremo a outro. Provavelmente podemos assistir a uma preocupação quase fundamentalista na eficiência, relegando para segundo pla-no aspectos relacionados com o conforto, aumento de produtividade e saúde dos uti-lizadores, etc…
Creio que existe razão para estar preocu-pado. A História, perdoem o pretensiosismo de utilizar a palavra com maiúscula para o tema em causa, está repleta de casos em que quando se liberta o pêndulo ele passa rapidamente para o outro extremo demo-rando longo tempo a encontrar o ponto de equilíbrio – a utilização indiscriminada da baixa luminância é um exemplo recente desta realidade. E neste cuidado não estou, felizmente, sozinho. Os responsáveis pelo anexo 45 a que acima me refiro, há já algum tempo detectaram esta tendência. Em ilumi-nação, como em outros assuntos, outros pa-íses levam-nos vantagem. Por isso enquanto que em Portugal ainda não incorporamos na legislação os aspectos relacionados com a eficiência, noutros locais já se começou a tentar conciliar essa eficiência – quantidade – com a qualidade da utilização.
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O grupo propõe a criação de um outro in-dicador – ELI (ergonomic lighting indicator) – que combina cinco aspectos relacionados com a qualidade:
› Performance – nível de iluminação na tarefa e no ambiente, deslumbramento, reprodução de cores, contraste e refle-xões, duração e qualidade da luz natural.
› Aparência – conjugação com a arqui-tectura, design das luminárias, impressão geral, visão do interior e do exterior.
› Conforto – Modelação a três dimensões, balanceamento da iluminação com o es-paço envolvente, adaptação do ambiente às circunstâncias, temperatura de cor.
› Emoção – mudanças de cor e brilho no espaço e no tempo, adaptação à tarefa e ao uso, sensação de segurança, ilumina-ção estimulante e energética.
› Individualidade – possibilidade de con-trolo individual, escolha de cenários.
Propõe-se que cada um dos factores seja classificado de 0 a 5 sendo o valor do ELI a
soma dos cinco factores. A classificação de um local será dada por um quociente entre o LENI e o ELI e o projecto será tanto melhor quanto menor for esse quociente.
Apresenta-se acima um exemplo de aplica-ção, fornecendo-se os resultados aplicados ao edifício donde aquele exemplo foi recolhido.
Em resumo – ainda que a eficiência ener-gética seja um aspecto importante num projecto de uma iluminação, não deve ser o único ponto a considerar. Deve sempre pro-curar-se que exista um balanceamento entre quantidade e qualidade. A metodologia que resumidamente se apresentou pretende ser uma solução para encontrar esse equilíbrio.
Com o apoio do
Centro Português de Iluminação