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ESTUDOS REGIONAIS ACADÊMICOS X PLANEJAMENTO REGIONAL: A
CONTRIBUIÇÃO DA MONITORIA EM GEOGRAFIA REGIONAL
Tereza Raquel Muniz de Paulo1
trmp.raquel@gmail.com – UFS
Gilmar Santos de Andrade2
gilmarfla11@gmail.com – UFS
Núbia Dias dos Santos3
nubisantos85@gmail.com – UFS
GT6: Educação: formação, ensino e prática docente.
RESUMO
O presente trabalho visa contribuir no debate acerca dos estudos regionais acadêmicos e o
planejamento regional, as suas potencialidades e fraquezas, dando visibilidade e importância
ao Programa de Monitoria da Universidade Federal de Sergipe, com foco na monitoria de
Geografia Regional. A metodologia está baseada em levantamento bibliográfico, uso de
procedimentos técnicos e didáticos no ensino de Teoria da Região e Regionalização do DGE
– UFS, tendo como principais contribuintes Bezzi (2004), Andrade (1993) e Lencione (2010).
Desta forma como resultado entende-se a importância da monitoria em disciplinas de
densidade para a formação de profissionais da Geografia.
PALAVRAS-CHAVE: Teoria, Planejamento, Monitoria, Região, Regionalização.
O presente artigo é um dos frutos do Programa de Monitoria em Geografia da
Universidade Federal de Sergipe que teve como alicerce a disciplina de Teoria da Região e
1 Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Bacharelanda pela mesma Universidade.
Participou do Programa de Monitoria em Geografia Regional no ano de 2013. Atualmente é estagiária pelo
Programa de Educação Ambiental em Comunidades Costeiras. DGE/UFS 2 Bacharelando em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Atualmente cursa a disciplina de Teoria da
Região e Regionalização do Departamento de Geografia. Foi integrante do Laberur – Laboratório de Estudos
Rurais e Urbanos – DGE/UFS. 3 Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Professora do Departamento de Geografia da
mesma universidade nas disciplinas de Teoria da Região, Geografia Agrária, Geografia Rural, e Estágio
Supervisionado. Coordenou o Campus Avançado Xingó como experiência de interiorização das ações da UFS no
sertão sergipano. Atuou no programa Xingó parceria da CHESF, SUDENE, CNPq com as instituições Federais
de Ensino Superior do Nordeste, na área de abrangência da Hidroelétrica Xingó.
Regionalização ofertada pelo departamento de Geografia da mesma academia, ministrada
pela Professora Drª. Núbia Dias dos Santos orientadora da referida monitoria. Este trabalho se
fundamenta nos estudos e debates realizados nas aulas da disciplina, na revisão bibliográfica
da mesma, bem como nas leituras complementares almejando analisar a importância da
monitoria, em especial de Geografia Regional, na contribuição da formação dos graduandos
(bacharelado e licenciatura) de Geografia da UFS.
Esta disciplina é de fundamental importância, já que ela introduz a categoria de análise
região para o corpo discente, demonstrando uma densidade e complexidade, já que antecede
(no ano de 2013) para ambas as graduações as disciplinas de Análise e Gestão de Bacias
Hidrográficas, Geografia Urbana, Geografia Agrária, Geografia do Brasil, Geografia Regional
dos Países Centrais e Periféricos. Geografia de Sergipe, Geografia da África, Geografia Rural,
Geografia Econômica, Planejamento Rural, Planejamento Urbano e Regional.
Para tanto, durante a monitoria na disciplina, foram feitas leituras com as turmas
acerca do conceito de região, e deslindou-se o papel das regionalizações acadêmicas e a
regionalização enquanto forma de intervenção no espaço geográfico, interpretando
ulteriormente a intervenção do Estado em Sergipe e na Região Nordeste, a partir da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE, enquanto legitimador de
relações de poder no crescimento e desenvolvimento – desigual e combinado – em rede, e as
condições/ações dos sujeitos nos (re)arranjos dos territórios.
Os procedimentos metodológicos concebidos ao longo da disciplina foram os
seguintes procedimentos técnicos e didáticos, como levantamento bibliográfico e documental
durante os dois semestres de execução da monitoria; análise das aulas ministradas pela
docente e detecção das potencialidades e fragilidades dos discentes da graduação;
disponibilização de horários semanais para retirada de dúvidas; acompanhamento das
avaliações, com escrita de artigos e apresentação dos mesmos pelos grupos.
Um dos resultados deste trabalho, além de ressaltar a importância da categoria de
análise região na Geografia e na busca de entender o contexto das ações regionais do Estado
atualmente, é destacar a importância das atividades da monitoria em Geografia no processo de
ensino e aprendizagem no nível superior, para a formação de professores e geógrafos,
enquanto um exercício discente respaldado por Lei no Brasil (BRASIL. Lei nº 5.540, 1968).
1 – A categoria de análise Região e as Regionalizações: Contribuição para o
desenvolvimento da ciência geográfica
O nascimento da região enquanto conceito está claro que se deu antes da instituição da
Geografia enquanto ciência. Existia e existe no senso comum enquanto vocábulo utilizado
cotidianamente (ainda que passe despercebido no cotidiano de muitas pessoas) para explicar
posicionamento de ações, objetos, processos e relações, tanto no espaço geográfico, como até
mesmo de outras coisas e questões, como partes do corpo e também em obras da literatura
nacional.
Já como categoria de análise4, como os pesquisadores das ciências humanas e sociais
aplicadas atualmente conhecem, surge com o nascimento da Geografia no séc. XIX, com
Emmanuel Kant. Lencione (2003), ao fazer uma releitura da História do Pensamento
Geográfico, lembra-se que Kant, fundador desta ciência na academia, “afirma que o espaço
geográfico é de natureza diferente do espaço matemático, por que se divide em regiões que se
constituem no substrato da história dos homens.” (idem, p. 79). Esse fato demonstra que a
realidade e o espaço são socialmente construídos no efêmero por sujeitos sociais históricos
distintos.
1.1 – Regionalização Acadêmica X Planejamento Regional
Há uma distinção, ou até mesmo uma relação dialética entre os estudos regionais
acadêmicos da Geografia com o propósito de entender processos, mensurar problemas,
construir teorias e propor soluções com vista a atender às necessidades da própria comunidade
acadêmica bem como as necessidades coletivas de uma realidade sócioespacial; destoando
dos objetivos, não raramente, de outros estudos regionais que possuem interesses diretamente
ligados à propostas de inovações e promoção de desenvolvimentos e integrações.
Essas regionalizações, diferentemente das de caráter acadêmico, não possuem a
preocupação de compreender a complexidade de uma realidade regional com a intenção de
teorizar, caracterizar os aspectos desta realidade, mas sim a compreensão para a expansão de
uma determinada relação de poder, como explica Haesbaert (2010):
4 Há que se atentar para a diferença existente entre as categorias e os conceitos dentro da ciência geográfica.
Enquanto a categoria é um princípio fundamental para se obter um aspecto do espaço geográfico, o conceito
refere-se as características de um objeto único (concreto ou abstrato) da realidade. Tal discussão é abordada pelo
geógrafo Antonio Bernardes (2011), no seu estudo “Quanto às categorias e aos conceitos”.
Trata-se aí de uma noção mais normativa de região, não tanto – ou apenas –
preocupada de reconhecer “o que é” efetivamente a região enquanto realidade
empírica ou desdobrá-la e avalia-la enquanto instrumento analítico, mas em propor
ações efetivas, caminhos, “indicar futuro” ou um devir (delineando novas conexões)
das configurações regionais, de modo a adequá-las a determinados propósitos político-
econômicos, vinculando-se, portanto, de alguma forma, também, ao chamado
planejamento regional. (HAESBAERT, 2010, p.103)
Neste sentido, o planejamento regional – desde o seu nascimento até o ensejo das
relações locais e globais na busca por um desenvolvimento econômico em rede – quando
organizado e dirigido por sujeitos sociais históricos como o Estado e/ou empresas privadas é
estratégico para que o que se deseja, enquanto representação da realidade, seja de fato
concretizado. É o estudo das lógicas regionais para agir e modificar o território –
concretamente e abstratamente - de acordo com o que é visado, interessante para alguém. É a
apropriação do espaço – enquanto planejamento regional – por meio da representação. Para
Raffestin (1993, p. 2) “Qualquer projeto no espaço que é expresso por uma representação
revela a imagem desejada de um território, de um local de relações.”
Ainda que haja diferenças entre os estudos regionais acadêmicos e o planejamento
regional – Estatal ou Privado – se assemelham no que diz respeito na possibilidade existente
dos estudos científicos serem inclusos no planejamento regional, ou não. Há ainda que se ter o
cuidado como deslinda Haesbaert (2010) em não confundir o papel do Geógrafo, com o do
gestor; muito menos confundir os estudos regionais construídos pela Geografia, com a mera
aplicação do conhecimento.
Nota-se, contudo, uma valorização do desenvolvimento da economia no atual modo de
produção predominante, em detrimento da inclusão social das populações. Isto é perceptível
principalmente na organização socioespacial das cidades, e na expansão de determinadas
relações de produção no campo. “Todos os compartimentos da ação humana repousam sobre
e produzem as „regiões‟. A vida econômica determina às áreas de mercado, as zonas de
produção, as bacias de mão-de-obra, as construções econômicas regionais.” (PASSOS e
MORO, 2003, p. 5).
Consequentemente, os estudos, e principalmente o planejamento regional no Brasil
desde o séc. XX se apresentam para gestores do Estado e de corporações nacionais e
multinacionais como um dos principais meios de intervenção no espaço. Ora sob a
justificativa de resolução de problemas “ambientais” que impediam - ou impedem - o
desenvolvimento das comunidades locais – como fenômenos climáticos - (problemas esses
causados muito mais pela má distribuição da riqueza), ou com o pretexto para resolver
entraves de integração dos mercados locais aos mercados regionais, nacionais e mundiais.
Para se compreender as políticas de planejamento regional – na escala nacional e
estadual – em Sergipe, se faz necessário um resgate histórico do cenário político, econômico e
socioespacial ao qual este estava inserido antes do início do séc. XXI. Necessário por que a
organização espacial dos objetos, dos sujeitos, das relações e dos processos na atualidade é
resultado da história dos movimentos em conjunto dos objetos, dos sujeitos e a suas relações
com o trabalho e dos processos do pretérito.
A fim de não se prolongar, ainda vale citar aqui que é a conjunção destes fatores
agindo de maneiras singulares nos espaços que formam as regiões nas diferentes escalas. Tais
fatores podem ser analisados de maneira a não enxergar a região como mero construto
intelectual, somente como artifício para entender a realidade; bem como não a entendes
apenas como fato empírico (concreto); nem somente como ferramenta da ação política, mas
como a imbricação de realidade empírica, artifício e instrumento de poder – região artefato,
possibilidade de entendimento da totalidade destes agentes para desvendar a região
(Haesbaert, 2010) e consequentemente as regionalizações.
2 - Sergipe e sua inserção nas políticas de desenvolvimento regional nacional no séc. XX:
uma retrospectiva esclarecedora.
Situado nas áreas de povoamento antigo, com a economia fortemente estruturada no
setor primário, o estado de Sergipe nas diversas regionalizações de economistas, estatísticos,
sociólogos, ora uniu-se com outros estados para formar a região do Brasil Oriental, de acordo
com a regionalização baseada na lógica natural, em 1913; ora fez parte do Este, em 1938, a
partir da divisão regional proposta pelo Conselho Nacional de Estatística. Posteriormente, o
Conselho Nacional de Geografia, em 1941, estabelece uma outra divisão regional do país,
dividindo-o em cinco grandes regiões, a saber: Região Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-
Oeste. Sergipe foi incluso na região Leste com a Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de
Janeiro e Distrito Federal, por este órgão pelo critério da homogeneidade das características
físicas. Tal divisão foi aceita, ulteriormente, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística.
Apenas esta regionalização foi adotada pelo governo nacional, à época, justamente
para facilitar a gestão pública. Enfim, em 1968, a unidade federativa de Sergipe, é
incorporada à atual Região Nordeste, com a Bahia. É inegável, entretanto, uma variedade de
regionalizações, organizadas e sugeridas por diversos profissionais e intelectuais de diversas
áreas do conhecimento – incluindo o sociólogo sergipano Silvio Romero – antes da década de
40. Sobre esta diversidade concordamos com Bezzi (2004), quando explica que “A existência
dessa variedade de propostas deve ser interpretada pela ausência, até os anos 30, de um
Estado Nacional realmente integrado e da consequente importância da vida local e regional,
que caracterizaram o Brasil no início do séc. XX.” (BEZZI, 2004, p. 94).
Dos critérios utilizados para regionalizar o Brasil, até a regionalização oficial, vale
destacar algo já constatado por autores como Bezzi (2004) e observados em Passos e Moro
(2003), a predominância da utilização das regiões naturais, como critério de análise. Sobre os
critérios de delimitação regional em escala mundial, Passos e Moro (2003), ao explicaram
sobre as lógicas regionais elucidam:
Em termos operativos, habitualmente os critérios de delimitação regional do mundo
são: (a) a importância do meio natural; (b) a herança histórica e cultural... (c) o nível
de desenvolvimento econômico como critério de regionalização e (e) as zonas de
transição, com países e povos situados na intersecção de unidades regionais.
(PASSOS E MORO, 2003, p. 5)
A hegemonia das regiões naturais deu-se sob a justificativa da estabilidade que esse
critério proporcionaria aos estudos regionais, devido ao fato dos limites das regiões
perdurarem ao longo dos anos, o que facilitaria a vida de gestores e pesquisadores, uma vez
que tal opção traria vantagens na comparação de dados ao longo de épocas. Isto leva a crer
que as regionalizações até então discutidas e elaboradas por diversos sujeitos, não tinham
necessariamente a preocupação de atender as demandas regionais, mas de incorporá-las aos
projetos de integração – somente – econômica entre as diversas localidades do país.
Voltando-se para a realidade da época do estado de Sergipe, devido à fertilidade do
solo dos seus vales e estuários – como o solo massapê do vale do Rio Cotinguiba – é desde a
época da colonização portuguesa produtor de cana-de-açúcar em larga escala ao longo do
litoral, por meio da concentração da terra em latifúndios. Possui produção pecuária – em
grandes extensões de terra, tanto na faixa Agrestina, beirando o Sertão, como na própria
região Sertaneja do estado.
O cultivo da cana-de-açúcar absorvia muito mais mão de obra assalariada que a
pecuária. Ante a hegemonia destas atividades, havia uma agricultura camponesa, distribuída
em todo o estado, que a depender das condições para além das ambientais, como as condições
políticas, econômicas e sociais produziam mandioca, feijão, milho, frutas e verduras, bem
como produção em menor escala de gado, ovinos, caprinos e aves; pescadores artesanais
quando então são também camponeses. Quando estes não estavam (e pode-se dizer que hoje
ainda) migrando temporária ou permanentemente para centros regionais necessitados de mão-
de-obra à baixos custos; ou dependendo da boa vontade das oligarquias – grandes
proprietários rurais e industriais, muitas vezes no comando da máquina do Estado.
Uma grande massa assalariada vivendo nas imediações e periferia da cidade de
Aracaju, vendendo sua força de trabalho para atender as necessidades comerciais, industriais e
familiares da burguesia residente na capital. Ainda ao lado destes cidadãos, coexistiam
trabalhadores desempregados, a fazer os chamados “bicos” ainda na periferia da cidade, e os
trabalhadores sem-terra, que ora trabalhavam em grandes propriedades rurais, ora tornavam-
se mendicantes.
De um modo geral, esta era a realidade que ocorria – ainda que de maneiras singulares
– em boa parte dos estados que juntos o IBGE e o Governo Federal se convencionaram a
chamar de Nordeste, marcado pela concentração fundiária, como explica Andrade (2004) nas
páginas do seu livro A terra e o homem do Nordeste:
A grande concentração fundiária tornou-se um dos mais graves problemas do
Nordeste, sobretudo nas áreas de elevadas densidades demográficas, como a mata, e
o agreste. Tal fato tornou a região açucareira da mata uma área de forte tensão social
e de choques entre proprietários e assalariados. (ANDRADE, 2004, p. 121)
Ao lado destas questões, no ano de 1952 e depois no ano 1958 duas grandes secas que
finalmente fizeram instituições públicas atentarem para o problema e tomar algumas medidas
para uma “resolução” destes problemas, sobretudo de ordem sócio espacial. A primeira, foi a
criação do Banco do Nordeste e para a ação deste novo agente, foi estabelecido um polígono
que abrange, como é sabido por grande parte da população, da comunidade acadêmica e dos
gestores. Este polígono de ação também incluiu a porção sertaneja do estado de Sergipe.
Certamente um banco não resolveu um problema tão complexo quanto o da questão regional
nordestina. Para todos os efeitos, no ano de 58, outra seca abateu sobre a região, fazendo com
que o governo central se volte novamente para aquele espaço,
Levando-o a criar uma comissão que desenvolveria a Operação Nordeste (Openo) e
proporia a criação de um grupo de trabalho para o desenvolvimento da região. Este
grupo de trabalho elaborou um diagnóstico sucinto da região, demonstrando que o
grande problema da mesma não era de ordem climática, como se afirmava, mas de
ordem econômica, face ao atraso em que se encontrava em relação às outras regiões
brasileiras e ao de a economia, planejada à nível nacional, fazer com que a região
mais pobre subsidiasse o desenvolvimento das regiões economicamente mais
desenvolvidas. (ANDRADE, 1993, p. 6-8).
Aqui se chega a um ponto crucial da análise. É perceptível então que um dos
principais problemas em relação à situação do estado de Sergipe socioeconomicamente
falando, bem como aos demais estados da região Nordeste, ora é pela organização interna da
economia – concentração da riqueza em detrimento duma população necessitada de trabalho
digno, com maior controle dos bens de produção para se emancipar – ora pela organização da
produção sócio espacial da nação. Se além da questão de que maneira como a riqueza do
estado de Sergipe foi historicamente explorada, existe uma questão externa, é interessante
mencionar a questão inter-regional na relação centro-periferia que existe no Brasil.
No Brasil, se configurou a partir da última metade do séc. XIX para o início do séc.
XX a criação de um eixo hegemônico em relação às outras regiões – como o atual Nordeste -
estados e cidades do país. Trata-se do eixo Rio-São Paulo, com destaque para São Paulo –
centro de primeira ordem, ou seja de importância nacional. Este centro passou a exercer
domínio sobre os demais por motivos político-econômicos levando à resultados de
desigualdades sócio espaciais em escala nacional. Toda uma infraestrutura com o apoio do
Estado foi implantada para a expansão da cafeicultura, deixando os demais espaços do país
em outro plano, ou até mesmo no esquecimento. A implantação desta infraestrutura, mais o
uso da força assalariada na cafeicultura proporcionou um aumento nas trocas monetárias
naquele lugar, fazendo com que essa mão de obra assalariada fosse à procura de bens
manufaturados, proporcionando a industrialização do eixo primeiro que as demais regiões.
Podemos aqui associar a relação que existe entre a região Sudeste com a região
Nordeste a partir de uma das teorias de localização e desenvolvimento regional: a Teoria
Centro-Periferia. Nota-se que no Brasil houve um desenvolvimento econômico unipolar
espacialmente falando. Neste caso, “quando a estrutura fosse unipolar seria mais flagrante a
tendência generalizada do centro crescer a expensas da periferia.”(SILVA, 1976, p. 13).
Constata-se que o Estado Nacional Brasileiro, não teve uma preocupação de
desenvolver as outras regiões, sobretudo o Nordeste, para manter a acumulação de riqueza das
oligarquias cafeeiras, e posteriormente dos donos das Indústrias Nacionais, que à época
concentravam-se principalmente no Sudeste. Destarte, não houve um planejamento regional a
nível nacional que colocasse enquanto prioridade uma integração e um desenvolvimento
autêntico, como explicitou Andrade (1993) ao apontar as devidas soluções para o melhor
desenvolvimento do Nordeste:
[...] os recursos que dispõe o nordeste são de grande importância, necessitando
apenas receber uma maior racionalização na exploração que deve ser feita não só
visando o crescimento e a melhoria técnica da produção como, sobretudo, a
contribuição para o bem-estar da população regional e o verdadeiro
desenvolvimento da população. (ANDRADE, 1993, p. 21-22)
Ainda sobre a relação centro-periferia existente entre a região central – Sudeste, e a
região descensional – neste caso, o Nordeste, pode-se inferir que é uma relação de dominação,
uma vez que a primeira região domina a decisão sobre a distribuição sócio espacial dos
recursos, levando por vezes somente à uma mera extração da riqueza – tanto no sentido da
força produtiva como dos recursos naturais, em benefício - na situação brasileira, um
benefício somente econômico e concentrador - da região central. No séc. XX, foi a partir das
duas grandes secas, e por intermédio da pressão das lideranças regionais que o governo
central voltou seus olhos para o Nordeste, criando um órgão que tentou agir para uma maior
mudança efetiva da realidade desigual sob a qual estava esta região –agora aos moldes da
atual fase de expansão do capitalismo – a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste.
Então a SUDENE criada em 1959 com o papel de integrar a região nordeste ao
restante do país, desenvolvendo-a economicamente, retirando da “situação de abandono
secular em que se encontrava a Região, em relação às políticas nacionais de promoção do
desenvolvimento, o que vinha resultando no seu atraso crescente, diante dos avanços
realizados nas áreas mais desenvolvidas do País.” (SUDENE, 2013). A Openo foi
transformada em Codeno – Comissão de Desenvolvimento do Nordeste, sendo um grupo de
estudos de análises dos problemas regionais do NE, que se transformou na então SUDENE.
O diagnóstico feito por esse corpo técnico foi claro, uma vez que evidenciava a
pobreza e a depressão ao qual a região passava como histórica e não como de origem
climática. Ao analisar a proposta deste órgão, e a ação deste, tanto no Nordeste, como no
próprio estado de Sergipe, é notável que a SUDENE, a princípio possuía um caráter
revolucionário, uma vez que a partir deste diagnóstico, chegou ao problema chave do
subdesenvolvimento regional, entretanto, por falhas de natureza tacanha, bem como outras de
maiores - que tiveram consequências até hoje, o mesmo para os acertos –, e, devido às
coligações de forças (como a ditadura militar), se rendeu aos interesses de poucos, mesmo
sendo um órgão federal público, mantido por verbas públicas.
Em Sergipe, bem como nos outros estados do Nordeste, nos anos de atuação da
SUDENE, a estrutura fundiária se manteve concentrada, não houve uma preocupação de se
implantar indústrias que transformassem os bens minerais na própria região, a industrialização
– ainda que tenha reduzido a dependência do eixo Rio-São Paulo – não gerou a quantidade de
empregos esperada, bem como a riqueza produzida pela própria região e sua população foi
toda exportada para outros unidades federativas ou para o exterior. No quesito educação, o
número de escolas de ensino superior e básico, à época, ampliou, entretanto com a qualidade
do ensino reduzida, uma vez que a educação não foi voltada para o desenvolvimento verídico.
Os ecos deste declínio no ensino parecem não ter sido solucionado ainda neste séc. XXI. Na
saúde, a melhora foi evidente, permitida pela preocupação com a distribuição de água (ainda
que paliativamente), ambulatórios, hospitais etc. Naquele momento, não houve uma
preocupação maior por parte do poder público com os monumentos, com a preservação da
arquitetura das cidades nordestinas e em Sergipe como São Cristóvão e Laranjeiras – no vale
do Cotinguiba - que datam desde a época da colonização, nem com a preservação de festas
populares e com as culturas locais e regionais.
Pode-se afirmar que, as medidas tomadas pela SUDENE, após a ditadura militar
visavam muito mais o subsídio para grandes empresas privadas nacionais e internacionais
agirem na região, e no que tocou em benefício para a população, estas tiveram um caráter
muito mais compensatório. A inicial preocupação com uma reforma na estrutura fundiária
esvaiu-se, importando-se muito mais com a melhoria das técnicas de produção, como explica
um dos relatórios do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPE – PIMES, em
parceria com o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Governo Federal e a
SUDENE em 1984:
Neste contexto, até a própria política de desenvolvimento regional que tem assumido
um caráter compensatório, pode ser considerada como um conjunto 00de ações
tomadas pelo Estado para viabilizar, facilitar ou acelerar a expansão capitalista nas
áreas periféricas do país, contudo, nesse processo os principais beneficiários não tem
sido as populações residentes (ou migrantes atraídos pelas novas oportunidades de
emprego geradas) nestas regiões, mas as empresas integrantes do complexo
industrial, comercial financeiro, sediadas no centro hegemônico da economia
nacional ou no exterior. (PIMES, 1984, p. 49)
Ainda no início, a SUDENE cometeu outro erro ao não dar prioridades aos técnicos,
intelectuais e profissionais especialistas que trabalhavam na região de longa data, que causou
choques entre os planos de desenvolvimento e a realidade do Nordeste (Andrade, 1993) o que,
mesmo com todas as limitações e entraves, não impediu de dar uma grande contribuição aos
estudos regionais sobre o nordeste, contribuindo em certa medida para a fomentação de
estudos da região pela Ciência Geográfica. Já no século XXI, por intermédio da Medida
Provisória n°2.146-4 de 4 de Maio de 2001, a SUDENE teve seu fim, onde foi substituída
pela Agência de Desenvolvimento do Nordeste, que não teve suas influências e poder tão
importantes como outrora havia tido a Superintendência.
O Brasil ainda não viu uma política de Desenvolvimento Regional inclusivo, que
permitisse a reprodução digna da família camponesa no campo, nem acabasse com a situação
de miséria e violência das capitais nordestinas, em prol da manutenção do poder de uma
classe que está inserida, inclusive no próprio Estado, para que persista o desenvolvimento
desigual promovido pela globalização da economia.
3. A importância das atividades de Monitoria na Disciplina de Teoria da Região e
Regionalização
O programa de monitoria da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de
Sergipe é essencial na formação dos profissionais das diversas áreas que este atinge, pelo fato
de fazer com que o discente, agora enquanto monitor reveja a disciplina pela qual passou
novamente, porém com outro grau de amadurecimento, com outro olhar sobre os conteúdos a
serem ministrados pelo professor, e com a preocupação de facilitar o processo de ensino-
aprendizagem ampliando mais o diálogo entre educando e educador. A monitoria em
Geografia Regional foi imprescindível para uma aproximação entre discentes, docente, teoria
e o que já havia sido colocado em prática até então. O Programa de Monitoria, em especial de
Geografia Regional, é de suma importância para o ensino e o aprendizado de todos os
envolvidos na disciplina, inclusive para o monitor. Segundo Dantas (2014):
“A monitoria no ensino superior tem se caracterizado como incentivadora,
especialmente, à formação de professores. As variadas atividades que ocorrem mediante a
relação teoria e prática necessitam configurar-se em trabalhos acadêmicos estimuladores de
múltiplos saberes inerentes aos componentes curriculares, contribuindo para a formação crítica
na graduação e na pós-graduação, e despertar, no formando, o interesse pela docência na
educação superior.” (DANTAS, 2014, p. 3)
Diante deste entendimento que a disciplina teve três momentos durante os dois
semestres de execução (2013.1 e 2013.2 com integrantes da licenciatura e do bacharelado) da
monitoria. O momento de leitura da bibliografia da ementa, as discussões, e a construção de
uma análise em grupos de três ou quatro pessoas, e cada participante escolheria um município
(do estado de Sergipe, ou outro de sua origem) para fazer uma análise sobre a dinâmica
sócioespacial observando as ações do Estado, do Capital e as relações que os homens
estabeleciam entre si e a natureza, com o intuito de despertar um olhar sobre as teorias
regionais, as ações de planejamento, e o papel do Estado nos discentes.
Foi possível notar que a partir das orientações da professora com a monitora, e da
monitora, com os discentes, um ciclo de debates, entendimentos, avaliações em grupo, os
alunos matriculados na disciplina, principalmente os alunos do semestre noturno, que tem o
perfil de trabalhadores assalariados durante o dia, puderam alcançar uma aprendizagem mais
efetiva, pois as dúvidas referentes às bibliografias, pelo caráter complexo de muitas, eram
sanadas de forma informal, durante momentos semanais disponibilizados pela monitora.
Deste modo, o programa ganha maior realce ainda para as graduações em licenciatura plena,
uma vez que o monitor da disciplina está diretamente ligado à aprendizagem dos discentes,
podendo observar dificuldades e facilidades juntamente ao professor.
Nesta direção, o professor aprende com os seus alunos e com o monitor da disciplina,
os alunos aprendem com o professor e com o monitor, e o monitor reaprende com ambas as
partes, pela questão dos seres humanos serem eternos processos e inacabamentos. Em se
tratando da Geografia, a compreensão da História do Pensamento Geográfico, bem como a
Filosofia desta ciência, e o entendimento sobre as categorias de análise (pilares da disciplina)
são essenciais. Conhecer da organização do espaço mundial, e da história da formação dos
diversos países, incluindo o Brasil, e como a Geografia esteve envolvida nestes processos
enquanto meio de produção de novas realidades.
A disciplina de Teoria da Região e Regionalização, além de agregar um pouco de
todas estas temáticas (a partir da categoria de análise “região”), pretende demonstrar o
desenvolvimento da Teoria da Geografia Acadêmica Mundial e Brasileira, elencando com as
outras categorias de análises, buscando as principais concepções sobre a região e de que
maneira as regionalizações a partir das representações e as possíveis intervenções no espaço, a
partir da concepção de sujeitos. Assim, a disciplina de Teoria da Região e Regionalização é
fundamental para que os graduandos possam compreender, posteriormente, outras disciplinas
ofertadas pelo curso de Geografia, e em seguida, e em seguida a realidade com a lente
geográfica, seja enquanto professor seja enquanto bacharel.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Manuel Correia. O Nordeste e a Questão Regional. Série Princípios, Editora
Ática: São Paulo, 1993.
BERNARDES, Antonio. Quanto às categorias e aos conceitos. Revista Formação Online, n.
18, volume 2, p. 39-62, jan./jun., 2011
BEZZI, Meri Lourdes. Região: uma (re)visão historiográfica – da gênese aos novos
paradigmas. Editora da UFSM, 2004.
BRASIL. Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE. Disponível em
<http://www.sudene.gov.br/sudene#instituicao sudene> Acesso em: 08/10/2013 - 20:49
CARVALHO, G. L. Região: A evolução de uma categoria de análise na Geografia. Boletim
Goiano de Geografia v. 22, n° 01, jan./jun. 2002.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. Série Princípios, Editora Ática:
São Paulo, 1990.
DANTAS. Otília Maria. Monitoria: Fonte de saberes à docência Superior. Revista
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