Post on 30-Jul-2018
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO: “A VEZ DO MESTRE”
ENSINO DA LÍNGUA INGLESA EM ESCOLAS DE
NÍVEL FUNDAMENTAL E MÉDIO
SILVANA SOUZA FERNANDES
ORIENTADOR
CELSO SANCHES
RIO DE JANEIRO
JUNHO/2003
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO: “A VEZ DO MESTRE”
ENSINO DA LÍNGUA INGLESA EM ESCOLAS DE
NÍVEL FUNDAMENTAL E MÉDIO
Silvana Souza Fernandes
OBJETIVOS:
Fazer um relato e uma análise
do ensino da Língua Inglesa,
não só da minha experiência
como professora de Inglês, mas
também da experiência de
outros professores, além de
conhecer e discutir as
opiniões de alguns alunos de
escolas de nível fundamental e
médio.
Rio de Janeiro
Junho/2003
Agradecimentos
A Deus - pelo privilégio
de fazer esse curso.
Aos meus pais – que
proporcionaram todos os
recursos para a minha
formação. E em especial,
a minha mãe, pelo
exemplo de amor e
perseverança.
Ao meu filho – pela
compreensão, por não
poder dedicar-lhe toda a
minha atenção, em função
dos estudos.
Aos professores – que
tanto se empenharam na
minha formação.
Aos meus alunos – pelo
estímulo a continuar a
aprender sempre.
Dedico este trabalho
de pesquisa ao meu
filho Matheus e
todos que acreditam
na Educação como
fator primordial
para mudança da
nossa realidade.
“Creio que os humanos
são seres superiores
neste planeta. Os
humanos têm o
potencial não só para
criar vidas felizes
para si mesmos, mas
também para ajudar
outros seres. Nos
dispomos de uma
capacidade criativa
natural, e é
importantíssimo ter
consciência desse
fato”.
Dalai-lama
RESUMO
Atualmente o ensino de Língua Inglesa em escolas de
nível fundamental e médio levanta uma série de
questionamentos, uma vez que o contexto ensino-
aprendizagem se dá em situações formais desfavoráveis ao
ensino de uma Língua Estrangeira.
As turmas superlotadas, a carga horária mínima
oferecida, objetivos mal definidos, a não
contextualização do ensino, a ausência de recursos
interdisciplinares – em função da discriminação existente
por parte dos profissionais das demais disciplinas, a
lenda de que a Língua Inglesa não reprova, entre outros.
As desculpas mais comuns dos alunos são apontadas
aqui, como também não podemos deixar de mencionar o fato
de que muitos profissionais mal preparados para
desempenhar suas funções, deveriam estimular seus alunos,
possibilitando-lhes um vôo mais alto, subestimam-lhes a
capacidade de dar continuidade e o próprio envolvimento
com a língua, limitando-lhes os conteúdos.
Em linhas gerais, iremos apontar algumas
deficiências na formação dos profissionais de Língua
Inglesa, bem com, no nosso sistema educacional. Também
apresentaremos uma série de entrevistas individuais com
alunos e professores de inglês, e o preenchimento de um
questionário por parte dos alunos de inglês.
A partir das entrevistas, ficou claro que o inglês
que é ensinado nas escolas é fortemente criticado pelos
alunos, que, na maioria das vezes mostram um grande
desinteresse pela disciplina.
Objetivando a desmistificação do ensino de Língua
Inglesa, é apresentada sua relevância e importância no
processo educacional como um todo, viabilizando uma nova
compreensão da linguagem, desenvolvendo maior consciência
ao funcionamento da sua própria língua materna,
aumentando a percepção da própria cultura, promovendo a
tolerância diante das diferenças, contribuindo na
construção da cidadania do aluno, bem como na construção
de sua visão crítica de mundo.
METODOLOGIA
A metodologia que foi empregada para a execução
deste trabalho consistiu, inicialmente, na realização de
uma pesquisa bibliográfica e documental, que tinha por
objetivo determinar o que existia na literatura em
relação ao ensino da Língua Inglesa em escola de ensino
fundamental e médio. Em seguida, foi realizada uma série
de entrevistas individuais, com alunos e professores de
inglês.
Tentei captar a realidade como ela é, segundo a
opinião de alunos e professores de inglês, selecionando
seus aspectos mais relevantes; ao mesmo tempo, procurei
não perder de vista os textos teóricos. Apesar de minha
larga experiência neste assunto e de ter minha opinião
formada, procurei ser sempre imparcial, não deixando que
alunos e professores fossem influenciados pela minha
opinião pessoal.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1
O PROBLEMA 4
UM DESAFIO CONSTANTE 5
MITOS DE PROFESSORES 9
UMA DEFICIÊNCIA DO NOSSO SISTEMA EDUCACIONAL 11
DIFICULDADES NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA 13
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA PARA A
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
16
O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA COM CONSCIÊNCIA CRÍTICA 18
PESQUISA DE CAMPO 21
CONCLUSÃO 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS 25
ANEXOS 26
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ........................................ 1
1- O Problema ..................................... 4
2- Um Desafio Constante
2.1 Desculpas dos alunos
2.1.1 “Não consigo aprender Inglês”......... 5
2.1.2 “Não tenho talento para aprender
Inglês” ..............................
5
2.1.3 “Não gosto de aprender Inglês” ....... 6
2.1.4 “Não tenho que aprender Inglês” ...... 7
2.1.5 “Falar Inglês é coisa para quem quer
se exibir” ...........................
7
2.1.6 “Não tenho ouvido musical” ........... 7
3- Mitos de Professores
3.1 “Certos alunos não têm mesmo jeito” ........
9
3.2 “Meu inglês é igual ao de um americano (ou
inglês)” ...................................
10
3.3 “Estudo inglês há anos e já sei o bastante”. 10
4- Uma Deficiência do Nosso Sistema Educacional ... 11
5- Dificuldades no Ensino da Língua Inglesa
5.1 Língua Inglesa: elemento descartável do
currículo ..................................
13
5.2 Objetivos mal planejados ................... 13
5.3 Ausência de conhecimento de mundo .......... 14
6- A Importância do Ensino da Língua Inglesa para a
Construção da Cidadania ........................
16
7- O Ensino da Língua Inglesa com Consciência
Crítica ........................................
18
8- Pesquisa de Campo – Entrevistas com Professores
e alunos – Resultados e Análises ...............
21
Conclusão ......................................... 23
Referências Bibliográficas ........................ 24
Referências Documentais ........................... 25
Anexos
A- Modelo do questionário submetido a alunos de
Inglês .........................................
26
B- Amostras das declarações de professores e alunos
de Inglês ......................................
27
C- Comprovantes de entrada no teatro .............. 30
D- Comprovante de participação no 3º ENCONTRO DE
PROFISSIONAIS DE LÍNGUA INGLESA DO RIO DE
JANEIRO ........................................
31
E- Comprovante da visita à Bienal do Livro – Rio .. 32
INTRODUÇÃO
A questão da democratização do conhecimento tem
feito parte dos debates sobre os rumos da Educação
Brasileira. O acesso ao conhecimento torna-se,
crescentemente, uma das maiores exigências no campo da
cidadania. No Brasil, esta necessidade se acirra, devido
aos longos períodos de elitização educacional, exclusão e
desigualdade social.
O acesso à uma língua estrangeira tem importante
papel num mundo globalizado. Somos obrigados a conhecer
uma língua usada hoje, em todo o mundo, para a
comunicação entre pessoas de diferentes culturas: a
Língua Inglesa. Esta não é prioridade exclusiva de
ingleses ou americanos (em geral sequer pensamos em
australianos, neozelandeses, indianos...).
A aprendizagem da Língua Inglesa é uma possibilidade
de aumentar a auto-percepção do aluno como ser humano e
como cidadão, permite ao estudante aproximar-se de várias
culturas e, conseqüentemente, propiciam sua integração
num mundo globalizado. Por isso, ela deve centrar-se em
sua capacidade de se engajar e engajar outros no discurso
de modo a poder agir no mundo social e globalizado.
Para que isso seja possível, é fundamental que o
ensino da Língua Inglesa seja balizado pela função social
deste tipo de conhecimento na sociedade brasileira. Tal
função está, principalmente, relacionada ao uso que se
faz da Língua Inglesa via leitura, embora se possa também
considerar outras habilidades comunicativas em função da
especificidade da Língua Inglesa nas condições existentes
2
no contexto escolar. Além disso, ainda que seja desejável
uma política de pluralismo lingüístico, condições
pragmáticas apontam a necessidade de considerar três
fatores para a orientar a inclusão da Língua Inglesa no
currículo: fatores relativos à história, comunidades
locais e à tradição.
O contato do inglês com a língua materna nas
diferentes culturas gera dificuldades específicas de
aprendizagem, oriundas das diferenças de estrutura,
vocabulário e pronúncia entre as línguas. O ideal é que a
Língua Inglesa seja ensinada com a simulação de situações
reais em aula, os caminhos para desenvolver o
conhecimento de inglês são traçados diversamente pelos
alunos, de acordo com as facilidades e dificuldades que a
sua língua materna impõe no curso do processo de
aprendizagem.
De um modo geral, o que o ensino da Língua Inglesa
proporciona é o aumento do conhecimento sobre a linguagem
que o aluno construiu, inclusive sobre sua própria língua
materna; por meio de comparações com a Língua Inglesa em
vários níveis; e a possibilidade de o aluno, ao se
envolver nos processos de construir significados nesta
língua, se constitua em um ser discursivo no uso da
Língua Inglesa; sem, contudo, ser abandonado o senso
crítico, o fator fundamental em qualquer relação ensino-
aprendizagem. No que compete ao ensino de Língua Inglesa
especificamente em escolas da rede pública, a discussão
tem sido ampla nos meios acadêmicos e educacionais.
Antes, a discussão era em torno da garantia da
permanência dessa disciplina no currículo. Com a Nova Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no entanto,
que prevê o ensino de uma Língua Estrangeira, como
3
disciplina obrigatória no ensino fundamental a partir da
5ª série. (art. 26, § 5).
4
1- O PROBLEMA
A discriminação da disciplina Língua Inglesa em
relação às outras disciplinas do currículo do ensino
fundamental e médio é fator preponderante. A própria
comunidade escolar não privilegia o ensino de Língua
Inglesa, bem como os próprios profissionais da área,
pois, muitas vezes, mal preparados, descontextualizam e,
o que é pior, subestimam a capacidade de seus alunos,
limitando-lhes os conteúdos.
Freqüentemente, ouvimos expressões tais como ”Língua
Inglesa não reprova”, “para que vou estudar Inglês se mal
falo Português”. E quando se trata de uma comunidade
carente então ... questionamentos do tipo “eu nunca terei
chance de viajar para os Estados Unidos ou para qualquer
outro país cujo idioma falado é o Inglês, por que vou
estudá-lo?
Além disso, a carga horária destinada ao ensino de
uma Língua Estrangeira é reduzida, raramente ultrapassa
dois tempos semanais.
5
2- UM DESAFIO CONSTANTE
Os professores de Língua Estrangeira, bem como
aqueles que lecionam as demais disciplinas do currículo
das escolas regulares, vivem dia-a-dia um constante
desafio. Seguem enumerados abaixo alguns muito comuns que
os docentes ouvem ao entrar na sala-de-aula de escolas
regulares, em geral no início do ano letivo, que
funcionam como verdadeiros desestimulantes num primeiro
momento. Seguem, também, possíveis explicações para tais
questionamentos, segundo o Profª Cristina Schumacher
(Inglês Urgente! Para Brasileiros, 1999).
2.1 Desculpas dos alunos
2.1.1 “Não consigo aprender inglês”
Essa é uma desculpa clássica. Aos que usam essa
desculpa e tentam, ou, por causa dela, não tentam
aprender inglês, ela funciona como uma auto-sugestão
extremamente para que o aluno, de fato, não aprenda. E é
disso que o professor precisa convencer o aluno.
2.1.2. “Não tenho talento para aprender inglês. Tem gente que nasce com talento para aprender a tocar violão, estudar matemática, e tem gente que tem jeito para inglês”.
De fato. E ainda bem que é assim. No mundo existem
pessoas com as aptidões mais diversificadas, e isso
contribui para que tudo fique mais interessante.
6
O aluno pode até não ter jeito para inglês, só que
dificilmente não terá jeito para comunicar-se.
O que pode bem ser o caso do aluno é a resistência a
expor-se a ser continuamente corrigido, porque não
colocou o “s” na terceira pessoa, ou, então, porque fez
uma pergunta sem usar o “do”, etc.
2.1.3 “Não gosto de aprender inglês. Odeio inglês”
Essa desculpa é grave. É grave porque, na linha de
auto-sugestão, é ainda mais poderosa do que “não
consigo”. Ao dizer que “não consegue” aprender inglês, o
aluno está trabalhando com a premissa da incapacidade; ao
dizer que “não gosta”, está aplicando sua vontade para
ajudar-lhe na auto-sabotagem.
Mas existe uma vantagem aí: a vontade é poderosa.
O aluno passará a gostar de aprender inglês quando
vir nesse processo um resultado claro, constante e
diretamente relacionado com suas necessidades
comunicativas. Quanto mais conhecimento da língua inglesa
revelar ao aluno possibilidades de expandir seus
conhecimentos, de crescer profissionalmente e, sobretudo,
quanto mais ela servir para que ele se aproxime das
coisas de que sempre gostou, maior será seu
reconhecimento a utilidade do inglês em sua vida e, por
conseqüência, maior será a vontade de o aluno aprender.
Normalmente os alunos que usam essa desculpa para
não estudar inglês, passaram pela desculpa do “não
consigo”. Aquela, levada às suas previsíveis e discutidas
conseqüências, conduz a esta.
7
2.1.4 “Eu tenho que aprender inglês”
Pura tirania. É usada a expressão “ter que” toda
hora, com referência aos mais diversos compromissos.
Usando-a, é esquecida completamente como é a relação com
dado compromisso. Ou seja, a obrigação rouba o próprio
relacionamento com as coisas: não tem opção, é obrigado.
Reconheça: cada vez que o aluno diz que “tem que”
aprender inglês, maior fica a distância entre “ele” que
não providencia a aprendizagem e “ele” que “tem que”
aprender.
A fim de anular essa desculpa, deve-se mostrar ao
aluno tirano que ele quer aprender inglês porque quer
enriquecer a vida, e não porque “ele” está mandando.
2.1.5 “Falar inglês é coisa para quem quer se exibir”
Há uma tradição cultural brasileira de que tudo o
que é da Europa ou dos Estados Unidos é melhor. Quando a
referência é a escola pública então, essa desculpa é
muito mais comum.
Imagine um aluno de uma comunidade carente falando
suas primeira palavras em inglês? A exibição, o equívoco,
são traços do comportamento humano e nada têm a ver com a
língua inglesa.
2.1.6 “Não tenho ouvido musical”
Essa é uma desculpa muito relacionada com a
dificuldade de pronunciar. Como mais uma desculpa que não
serve, basta pensar que uma língua não é uma música. Se o
8
aluno tiver sotaque, isso não será uma falha, mas uma
forma de identidade.
9
3- MITOS DE PROFESSORES
3.1 “Certos alunos não têm mesmo jeito”
Existem alunos que são verdadeiros desafios. Gente
com grande dificuldade, que colocou por terra as boas
intenções do corpo docente e o fez desistir, ou quase
isso.
Realmente, há alunos que têm extrema dificuldade.
No entanto, o grande problema a esse respeito é a
falta de flexibilidade na expectativa que o professor tem
quanto ao desempenho dos seus alunos. Algumas pessoas,
fatalmente, não conseguirão ir além de um determinado
limite e isso não está certo nem errado. São limites com
que qualquer ser humano se depara em sua capacidade se
posto prova em outras áreas “para as quase não tem
jeito”.
É uma crueldade excluir uma pessoa de um processo
porque ela não o acompanha de acordo com a expectativa
que o professor traz, empacotada debaixo do braço. Algum
padrão comunicativo este aluno, com dificuldades, vai
conseguir desenvolver, e o sucesso dele depende muito da
flexibilidade dos professores. Por razões de aptidão
pessoal e de objetivos de aprendizagem, é preciso, por
parte dos professores, realismo nas expectativas de
resultados do processo de ensino.
10
3.2 “Meu inglês é igual ao de um americano (ou inglês)”
Com a dedicação, a intimidade com a língua e a
pronúncia poderão ser impecáveis, mas a identidade
cultural irá, mais cedo ou mais tarde, trair esse
professor.
3.3 “Estudo inglês há anos e já sei o bastante”
É impossível estar pronto com o conhecimento de uma
língua. Evidentemente, quanto mais tempo o professor
estiver em contato, mais saberá.
A grande verdade, para qualquer língua que seja, é
que tudo é muito dinâmico, e que nunca ninguém sabe tudo.
Ficar pensando que já se sabe o bastante pode fechar as
portas à aprendizagem de coisas novas. O docente monta um
pedestal de conhecimento que julga alto, e que sempre é,
de fato, muito mais baixo do que pensa.
“Sei que nada sei” (Sócrates, s:d). Não será o
professor de inglês, que saberá o que sabe.
11
4- UMA DEFICIÊNCIA DO NOSSO SISTEMA
EDUCACIONAL
Embora proficiência em inglês seja hoje uma
necessidade básica na formação do indivíduo, nosso ensino
fundamental e médio, tanto na rede pública quanto na rede
particular, mostra uma alarmante incapacidade de
proporcioná-la.
Esta incapacidade está evidentemente demonstrada na
grande quantidade de cursos existentes. Aprendemos
Português, Matemática, História e Geografia na escola e,
raramente, precisamos freqüentar cursos paralelamente
para suprir defasagens nessas áreas. Entretanto, para
suprirmos a necessidade de proficiência em inglês, temos
que investir muito tempo e dinheiro em cursinhos de
idiomas, sem, ao menos, ter a garantia de alcançarmos o
resultado almejado. Todos sabemos que uma grande parcela
dos professores não têm a habilidade com a língua que
devem ensinar. Muitos professores não possuem um pré-
requisito fundamental - a fluência na língua. E, se nos
reportarmos ao interior, a situação é bem mais crítica,
pois o despreparo é ainda maior. O problema está muitas
vezes nos cursos de letras das universidades, pois,
priorizam o estudo formal do idioma. Este problema revela
uma deficiência do nosso ensino. Os ensinos fundamental e
médio continuam atolados numa abordagem quase igual à do
início do século, presos no método de tradução e
gramática, carentes de professores proficientes no
idioma. O Ministério da Educação precisaria rever as
12
grades curriculares dos cursos de letras existentes no
Brasil.
13
5- DIFICULDADES NO ENSINO DA LÍNGUA
INGLESA
5.1 Língua Inglesa: elemento descartável do currículo
A primeira observação a ser feita é que o ensino da
Língua Inglesa (ou de qualquer Língua Estrangeira) não é
visto como elemento importante na formação do aluno, como
um direito que lhe deve ser assegurado. Ao contrário,
freqüentemente, a Língua Inglesa não tem lugar
privilegiado no currículo, sendo ministrada, em algumas
regiões, em apenas uma ou duas séries do ensino
fundamental. Em outras, tem o status de simples
atividade, sem caráter de promoção/reprovação. Em alguns
estados, ainda, a Língua Inglesa é colocada fora da grade
curricular, em Centros de Línguas, fora do horário
regular e fora da escola. Fora, portanto, do contexto da
educação global do aluno.
5.2 Objetivos mal planejados
Quanto aos objetivos, vê-se total falta de clareza.
A maioria das propostas prioriza o desenvolvimento da
habilidade de compreensão escrita, mas esta opção não
parece decorrer de uma análise de necessidades dos
alunos, nem de uma concepção explícita da natureza da
linguagem e do processo de ensino-aprendizagem de
línguas, nem ainda de sua função social. Há contradições
entre a opção priorizada e os conteúdos e atividades
sugeridos. Essas contradições aparecem também no que diz
respeito à abordagem escolhida. A maioria das propostas
14
situa-se dentro da abordagem comunicativa do ensino de
línguas, mas os exercícios propostos, em geral, exploram
de forma behaviorista pontos ou estruturas gramaticais
não-contextualizados.
Todas as propostas apontam para as circunstâncias
difíceis em que se dá o ensino-aprendizagem da Língua
Inglesa: falta de materiais adequados, classes
excessivamente numerosas, número reduzido de aulas por
semana e ausência de ações formativas contínuas junto ao
corpo docente.
5.3 Ausência de conhecimento de mundo
A ausência de conhecimento de mundo pode apresentar
grande dificuldade no engajamento discursivo,
principalmente se não dominar o conhecimento sistêmico na
interação oral ou escrita na qual estiver envolvido. Por
exemplo, a dificuldade para entender a fala de alguém
sobre um assunto que desconheça pode ser maior se o aluno
de Língua Inglesa tiver problemas com o vocabulário usado
e/ou com a sintaxe. Por outro lado, esta dificuldade será
diminuída se o assunto já for do conhecimento do aluno.
No ensino de Língua Inglesa, este problema de
conhecimento de mundo referente ao assunto de que se fale
ou sobre o qual se leia ou escreva, pode também ser
complicado caso seja culturalmente distante do aluno. Por
exemplo, considerem-se as dificuldades que um aluno
iniciante brasileiro de Língua Inglesa, pouco
familiarizado com a cultura inglesa, enfrentaria para ler
um texto em inglês que descrevesse o ritual que envolve
uma refeição da Família Real Britânica. Ou um aluno que
esteja lendo um texto sobre a vida dos aborígenes no
15
passado e no presente (considerando-se que inglês não se
fala somente na Inglaterra e nos Estados Unidos).
Ao mesmo tempo, é este tipo de conhecimento que
pode, com o desenvolvimento da aprendizagem em nível
sistêmico, colaborar no aprimoramento conceptual do
aluno, ao expô-lo a outras visões do mundo, a outros
modos de ver a vida social e política, à possibilidade de
reconhecer outras experiências diferentes como válidas.
16
6- A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA LÍNGUA
INGLESA PARA A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
A aprendizagem da Língua Inglesa em escolas
regulares, como contribuição ao processo educacional como
um todo, vai muito além da aquisição de um conjunto de
habilidades lingüísticas. Leva a uma nova compreensão da
linguagem, aumenta a compreensão de como a linguagem
funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento
da própria língua materna.
Outro aspecto a ser considerado, do ponto de vista
educacional, é a função interdisciplinar que a Língua
Inglesa pode desempenhar no currículo. O benefício
resultante é mútuo. Os estudo das outras disciplinas,
notadamente da História, da Geografia, das Ciências
Sociais, da Arte, passa a ter outro significado se em
certos momentos forem proporcionadas atividades
conjugadas com o ensino da Língua Inglesa. Esta é uma
forma de viabilizar na prática de sala de aula a relação
entre a Língua Estrangeira e o mundo social, isto é, como
fazer uso da linguagem para agir no mundo social.
A aprendizagem da Língua Inglesa em escolas
regulares não é só um exercício intelectual em
aprendizagem de formas e estruturas lingüísticas em um
código diferente; é, sim, uma experiência de vida. O
papel educacional da Língua Inglesa é importante, desse
modo, para o desenvolvimento integral do indivíduo,
devendo o ensino ser visto em termos de proporcionar ao
aluno essa nova experiência de vida. Experiência que
deveria significar uma abertura para o mundo, tanto o
17
mundo próximo, fora de si mesmo, quanto o mundo distante,
em outras culturas. Assim, contribui-se para a construção
e o cultivo, pelo aluno, de uma competência não só no uso
de uma Língua Estrangeira, mas também na compreensão de
outras culturas.
18
7- O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA COM
CONSCIÊNCIA CRÍTICA
O aprendizado de uma segunda língua, aqui em
destaque a Língua Inglesa, tem um papel primordial no
processo educacional como um todo, conforme anteriormente
citado.
Ao mesmo tempo, ao desenvolver uma apreciação dos
costumes e valores de outras culturas, desenvolvemos a
tolerância diante das diferenças de maneira de expressão
e de comportamento. Isto significa dizer que respeitamos
as outras culturas mas não significa dizer que tenhamos
que abandonar nossas raízes para a incorporação de outras
idéias, conforme alertam alguns compositores da nossa
música popular. "Raspas e restos me interessam..."
(Cazuza e Frejat, Menor Abandonado).
Cabe aqui recorrer ao conceito de Paulo Freire
“(...)educação como força libertadora" (Pedagogia da
autonomia: saberes necessários à prática educativa, 1996)
aplicando-o ao ensino da Língua Inglesa. Uma ou mais
Línguas Estrangeiras que concorram para o desenvolvimento
individual e nacional podem ser também entendidas como
força libertadora tanto em termos culturais quanto
profissionais.
Poder participar da competição profissional e
econômica em termos iguais, tanto interna quanto
externamente, faz as pessoas aprenderem a escolher. Mas,
para isso, é necessário ter olhos esclarecidos para ver.
Isto significa despojar-se de qualquer tipo de falso
nacionalismo, pois este pode ser um empecilho para o
19
desenvolvimento pleno do cidadão no seu espaço social
imediato e no mundo. A aprendizagem da Língua Inglesa
aguça a percepção e, ao abrir a porta para o mundo, não
só propicia acesso à informação, mas também torna os
indivíduos e, conseqüentemente, os países mais bem
conhecidos pelo mundo. Essa é uma visão de ensino de
Língua Inglesa como uma força libertadora de indivíduos e
de países. Também se deve considerar o desenvolvimento de
uma consciência crítica sobre a linguagem como parte
desta visão lingüística como libertação.
A aprendizagem da Língua Inglesa, tendo em vista o
seu papel hegemônico nas trocas internacionais, desde que
haja consciência crítica deste fato, pode colaborar na
formulação de contra-discursos em relação às
desigualdades entre países e entre grupos sociais
(homens, mulheres, brancos, negros, falantes de línguas
hegemônicas e não-hegemônicas, etc.). Assim, os
indivíduos passam de meros consumidores passivos de
cultura e de conhecimento a criadores ativos: o uso da
Língua Inglesa é uma forma de agir no mundo para
transformá-lo. A ausência dessa consciência crítica no
processo de ensino-aprendizagem de inglês, no entanto,
colabora na manutenção do status quo em vez de colaborar
em sua transformação.
Portanto, a Língua Inglesa nas escolas regulares não
tem papel meramente decorativo, no sentido de que possa
ser suprimida sem afetar a educação global dos
indivíduos. É parte integrante da educação formal, que
envolve um complexo processo de reflexão sobre a
realidade social, política e econômica, com valor
intrínseco importante no processo de capacitação que leva
à libertação em face das imposições das forças
20
dominantes, ou seja, é parte do processo de construção da
cidadania.
21
8- PESQUISA DE CAMPO – ENTREVISTA COM
PROFESSORES E ALUNOS – RESULTADOS E
ANÁLISES
A coleta de dados de campo correspondeu à maior,
principal e mais importante etapa deste projeto.
A coleta de dados de campo consistiu em entrevistas
individuais com professores, conversas informais com
alunos e preenchimento de questionários por alunos. No
total, foram mais de 10 professores de inglês, e mais de
50 alunos, de escolas públicas e particulares do Rio de
Janeiro. Algumas das declarações de alunos e professores
estão transcritas em anexo, assim como o modelo do
questionário que foi submetido aos alunos. Basicamente,
professores e alunos foram indagados a respeito da sua
opinião geral sobre as aulas de inglês que ministravam e
assistiam, respectivamente. As entrevistas terminaram
sempre com as opiniões de professores e alunos sobre o
que poderia ser feito para tornar as aulas de inglês mais
atrativas para ambos. (Ver declarações e questionário em
anexo).
A pesquisa comprovou exatamente o que tenho
observado ao longo de minha vida no magistério. O ensino
da Língua Inglesa não é levado muito a sério. As aulas
são voltadas para a compreensão escrita, calcadas numa
abordagem quase igual a do início do século, presas ao
método de tradução e gramática.
Alunos e professores das redes pública e particular
foram unânimes quanto aos recursos audiovisuais para o
22
ensino de idiomas, pois tornaria as aulas mais
interessantes. Também abordaram a questão da prática oral
que não é enfatizada. Eles alegaram o grande número de
alunos em uma mesma turma, o que reduz a possibilidade de
uma participação ativa de todos os alunos e o reduzido
número de aulas semanais dedicados ao ensino de inglês,
impedindo a realização de uma série de atividades.
23
CONCLUSÃO
Num mundo globalizado em que vivemos, é
incontestável a necessidade do aprendizado de uma língua
estrangeira. Diante do poderio dos Estados Unidos, apesar
de a Língua Inglesa não ser propriedade dos americanos,
ela é a língua atualmente utilizada comercialmente.
Para navegar pelo mundo virtual ou físico, saber
inglês é preciso. Assim sendo, o professor dessa
disciplina, ao contrário de se conformar como sendo um
profissional descartado e discriminado, deve encarar os
problemas buscando superá-los.
Visando alcançar melhores resultados sob o ponto de
vista educacional, o corpo docente deve se unir e
caminhar rumo à interdisciplinaridade, facilitando o
engajamento da disciplina Língua Inglesa com as demais.
É indiscutível o papel educacional do ensino da
Língua Inglesa em escolas regulares, sobretudo, para o
desenvolvimento integral do indivíduo, devendo o ensino
ser visto em termos de proporcionar ao aluno essa nova
experiência de vida, essa nova visão de mundo; atividades
fundamentais no processo de libertação e no processo de
formação de verdadeiros cidadãos, levando-os à reflexão
sobre a realidade social, política e econômica.
24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Júlia Falivene. A invasão cultural norte-
americana. São Paulo:Moderna, 1988.
DEMO, Pedro. A nova LDB:ranços e avanços. 13ª ed. São
Paulo: Papirus, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996.
___________. Educação como prática da liberdade. 25ª ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
GIMENEZ, T. N., Reis. Formação de professores de inglês:
uma avaliação. Boletim do Centro de Letras e Ciências
Humanas, Londrina, n. 24, pp. 87-105, 1993.
PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das
diferenças. 2ªed. São Paulo: Artmed, 2001.
___________. Dez novas competências para ensinar. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
SCHUMACHER, Cristina. Inglês urgente! Para brasileiros.
Rio de Janeiro:Campus, 1999.
SILVA, Tomaz Tadeu (org.). Alienígenas na sala de aula.
Petrópolis, RJ:Vozes, 1995.
VASCONCELLOS, C.S. Construção do conhecimento em sala de
aula. São Paulo: Libertad, 1995.
WERNECK, H. Se você finge que ensina, eu finjo que
aprendo. Petrópolis:Vozes, 1993.
25
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394, de
20 de dezembro de 1996.
Parâmetros Curriculares Nacionais - Língua Estrangeira.
Versão Preliminar para Discussão. Ministério da Educação
e do Desporto. Brasília. Outubro/1997.
26
ANEXO
A- Modelo do questionário submetido a alunos de Inglês
A seguir é apresentado o questionário que foi
entregue a alunos de inglês de escolas particulares e
públicas.
1. O que você acha do ensino de Língua Inglesa que é
dado na sua escola?
2. Você gosta da maneira com que o inglês é ensinado na
sua escola? Por quê? O que você sugeriria para
melhorá-lo?
3. O que você acha que poderia ser mudado para tornar as
aulas de inglês mais atrativas e interessantes para
os alunos?
27
B – Amostras das declarações de professores e alunos de inglês
Declaração 1: Rita de Cássia, 38 anos, professora de
inglês da rede pública.
O ensino de Língua Inglesa é precário. Deveríamos
ter mais tempo de aulas por semana e número reduzido de
alunos em cada turma. Ter salas apropriadas para o uso de
vídeo e som para que a conversação pudesse ser explorada.
Declaração 2: Maria das Graças, 40 anos, professora de
inglês da rede pública.
O ensino de Língua Inglesa é bom, levando em
consideração a precariedade das instalações físicas da
escola e o nível de interesse dos alunos.
Gosto da maneira como a língua é ensinada, pois
trabalhamos com inglês instrumental. Para melhorar o
nível das aulas, deveríamos ter debates sobre assuntos do
interesse de cada turma; idas à embaixadas ou lugares que
mostrassem a história ou a cultura inglesa.
Declaração 3: Paloma de Lima – 14 anos, aluna do ensino
fundamental da rede pública.
Não temos livros. A professora passa a matéria no
quadro, mas, às vezes, ela dá umas folhas mimeografadas.
Acho que deveríamos assistir fitas de vídeo e aulas com
música.
Declaração 4: Nathaly Vitorino – 14 anos, aluna do ensino
fundamental da rede particular.
28
O nível das aulas de inglês é muito bom, pois a
maioria dos alunos faz curso de inglês. Mas deveríamos
ter aulas com mais músicas, clipes e jogos.
Declaração 5: Tatiana Cristina – 16 anos, aluna do ensino
médio da rede particular.
As aulas são monótonas; os professores não sabem
prender a atenção dos alunos. O ensino é muito fraco e o
material também. As aulas deveriam ser mais dinâmicas e
mais práticas.
Declaração 6: Diego de Souza – 17 anos, aluno do ensino
médio da rede pública.
O inglês é trabalhado de forma muito superficial.
Aprofundam a gramática, parte massante, e não trabalham a
oralidade. Deveria dar maior ênfase para o inglês como
língua falada. Assim, despertaria maior interesse pela
língua.
Declaração 7: Mayara de Luca – 14 anos, aluna do ensino
médio da rede pública.
A qualidade do ensino de Língua Inglesa não é das
melhores. O ensino é voltado para a escrita, tornando as
aulas muito rotineiras e chatas. Deveriam ser trabalhados
textos modernos, retirados de entrevistas, folhetos sobre
assuntos atuais que nos ajudassem a vencer os desafios em
nosso futuro trabalho.
Declaração 8: Thiago Felipe Macedo – 17 anos, aluno do
ensino médio da rede pública.
O ensino da Língua Inglesa não é muito extenso. A
carga horária é insuficiente. Seria interessante para os
29
alunos a apresentação de filmes e músicas atuais como
também textos cujos temas sejam de interesse popular.
30
C- Comprovantes de entrada no teatro
31
D- Comprovante de participação no 3º ENCONTRO DE LÍNGUA INGLESA DO RIO DE JANEIRO
32
E- Comprovante da visita à Xlª Bienal do Livro – Rio