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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
MARINA MONTE DE HOLLANDA DIÓGENES
ESQUINA 3
ESCOLA DE ARTES PERFORMATIVAS PARA A CIDADE DE NATAL/RN
Natal/RN
2014
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MARINA MONTE DE HOLLANDA DIÓGENES
ESQUINA 3
ESCOLA DE ARTES PERFORMATIVAS PARA A CIDADE DE NATAL/RN
Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito para a obtenção do grau de
Arquiteta e Urbanista, no semestre letivo 2014.2
Orientadora: Profª Bianca Carla Dantas de Araújo
Natal/RN
2014
Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte / Biblioteca Setorial de Arquitetura.
Diógenes, Marina Monte de Hollanda.
Esquina 3: escola de artes perfomativas para a cidade de Natal-RN/
Marina Monte de Hollanda Diógenes. – Natal, RN, 2014.
78f. : il.
Orientadora: Bianca Carla Dantas de Araújo.
Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura.
1. Escola de artes – Arquitetura – Monografia. 2. Edifício vertical –
Monografia. 3. Acústica – Monografia. 4. Flexibilidade – Monografia. 5.
Modulação – Monografia. I. Araújo, Bianca Carla Dantas de Araújo. II.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE15 CDU 727
3
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Suzete e Gutemberg, e
aos meus irmãos, João Victor e Dirceu,
por todo o apoio e amor incondicional. A
vocês eu dedico qualquer vitória
alcançada em minha vida.
4
AGRADECIMENTOS
Acima de tudo e de todos eu agradeço a Deus, pela capacidade por ele me
dada para chegar até aqui, por seu meu guia, meu protetor, e a base de tudo que
tenho e sou.
Aos meus pais, pelo apoio incondicional oferecido durante toda minha vida,
sempre incentivando e vibrando minhas conquistas acadêmicas, me ensinando o
melhor caminho para seguir, apoiando minhas decisões e estando comigo em todos
os momentos.
Aos meus irmãos, por se mostrarem grandes exemplos para mim, e pelo amor,
apoio e paciência demonstrados durante a realização desse trabalho,
Aos meus amigos de curso, em especial aqueles que estão comigo desde os
primeiros trabalhos em grupo, bem como suas respectivas famílias, que sempre
souberam receber e apoiar todas as dificuldades passadas por nós durante o curso.
A amizade construída na graduação vai muito além dos trabalhos acadêmicos
realizados nesses cinco anos, são laços construídos que durarão por toda a vida. A
Ana Luísa, Lorena, Heloisa, Mariana e Theo, eu só tenho a agradecer por serem o
que são, e por todos os aprendizados adquiridos juntos.
Aos demais amigos, que embora não estivessem por dentro dos assuntos
relacionados diretamente a este trabalho, souberam dar o apoio necessário para que
eu chegasse até aqui, vibrando minhas vitórias e lutando pelo meu sucesso.
A minha orientadora, Bianca Dantas, pela dedicação, paciência, e competência
retratada em todos os conhecimentos repassados para mim a fim de viabilizar a
execução desse trabalho, e aos demais professores da UFRN, que direta ou
indiretamente, contribuíram para a minha formação em Arquitetura e Urbanismo.
Por fim, agradeço a todos que de alguma maneira contribuíram para a
realização desse trabalho, bem como para o resultado alcançado durante os anos de
graduação.
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RESUMO
DIÓGENES, Marina Monte de Hollanda. Esquina 3: escola de artes performativas
para a cidade de Natal. Trabalho Final de Graduação (Graduação em Arquitetura e
Urbanismo) – Departamento de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2014.
Este trabalho tem como tema a elaboração do anteprojeto de uma escola de
artes performativas – teatro, dança e música – para a cidade de Natal/RN, estudando
aspectos teóricos de flexibilidade na arquitetura e conforto acústico e os colocando
em prática na execução do anteprojeto. Em seguida apresenta-se a caracterização do
terreno escolhido, sob os aspectos de condicionantes ambientais e legais, analisando
as aplicações do conceito desejado ao edifício. Como resultado final, esse trabalho
resulta em uma escola de teatro, dança e música, executada em um edifício vertical,
com blocos modulados e aplicando conceitos relacionados ao sistema construtivo no
campo da arquitetura.
Palavras-chave: Edifício vertical; Acústica, Flexibilidade; Modulação.
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ABSTRACT
This work has as the theme the preparation of the draft of a school of performing
arts, theater, dance and music to the city of Natal / RN, studying theoretical aspects of
flexibility in architecture and acoustic comfort and putting them into practice in
implementing the bill. Then it will introduce the characterization of the chosen site,
under the aspects of environmental and legal constraints, analyzing the applications of
the desired building concept. As a final result, this work results in a school for drama,
dance and music performed on a vertical building with modular and applying concepts
related to building system in the field of architecture blocks.
Keywords: Vertical building; Acoustics, Flexibility; Modulation.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Ambiente com divisórias em Drywall – Conceito de adaptação ............................................ 18
Figura 2: – Allianz Arena, Munich, Germany: Herzog and De Meuron – Conceito de transformação . 18
Figura 3: - Screen Machine 2, UK: Toutenkamion - Conceito de mobilidade ....................................... 19
Figura 4: SmartWrap Building, New York, USA: Kieran - Conceito de integração................................ 19
Figura 5: Quadro síntese dos conceitos de flexibilidade ....................................................................... 20
Figura 6: Utilização de materiais absorventes em auditórios ............................................................... 22
Figura 7: Utilização de materiais refletores .......................................................................................... 22
Figura 8: Transmissão do ruído aéreo ................................................................................................... 23
Figura 9: Transmissão do ruído de impacto entre pavimentos ............................................................ 23
Figura 10: Método Box-in-a-box ........................................................................................................... 23
Figura 11: Estrutura dos painéis de gesso acartonado ......................................................................... 24
Figura 12: Aplicação do gesso acartonado em paredes e forros .......................................................... 24
Figura 13: Esquema de gesso acartonado com aplicação de lã mineral ............................................... 25
Figura 14: Aplicação do isolante acústico no sistema de divisórias drywall ......................................... 25
Figura 15:Esquema de aplicação do piso flutuante .............................................................................. 26
Figura 16: Aplicação do Isover Optima Piso .......................................................................................... 27
Figura 17: Sala de espetáculo do Teatro Riachuelo .............................................................................. 28
Figura 18: Detalhe divisórias de gesso .................................................................................................. 29
Figura 19: Poltronas do Teatro Riachuelo ............................................................................................. 30
Figura 20: Difusores acústicos ............................................................................................................... 30
Figura 21: Localização dos painéis difusores ......................................................................................... 30
Figura 22: Configuração da plateia tradicional ..................................................................................... 31
Figura 23: Demarcação das poltronas a serem retiradas na configuração do show de pista .............. 32
Figura 24: Estruturas moduladas utilizadas para o novo palco ............................................................ 32
Figura 25: Fachada do Studio Corpo de Baile........................................................................................ 33
Figura 26: Sala de ensaio na sede anexo ............................................................................................... 34
Figura 27: Sala de aula de dança ........................................................................................................... 34
Figura 28: Sala de aula de ballet infantil ............................................................................................... 34
Figura 29: Sala de aula de dança ........................................................................................................... 34
Figura 30: Visão interna da entrada da escola ...................................................................................... 35
Figura 31: Espaço de convivência e lazer .............................................................................................. 35
Figura 32: Área comum de espera da sala de ensaio do anexo ............................................................ 35
Figura 33: Loja de artigos de dança ....................................................................................................... 35
Figura 34: Escola de Música da UFRN ................................................................................................... 36
Figura 35: Escola de Música da UFRN - Vista posterior e estacionamento........................................... 36
Figura 36: Sala de aula coletiva ............................................................................................................. 37
Figura 37: Sala de aula de piano............................................................................................................ 37
Figura 38: Pátio central de circulação entre os pavimentos ................................................................. 38
Figura 39: Pátio central com iluminação natural .................................................................................. 38
Figura 40: Porta acústica da sala de gravação ...................................................................................... 38
Figura 41: Utilização de materiais absorventes na sala de aula ........................................................... 39
Figura 42: The Lego House - Studio BIG ................................................................................................ 40
Figura 43: The Lego House, vista panorâmica ....................................................................................... 40
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Figura 44: Divisão administrativa de Natal/RN ..................................................................................... 43
Figura 45: Localização do bairro de Petrópolis e do terreno escolhido ................................................ 44
Figura 46: Dimensões do terreno de projeto ........................................................................................ 44
Figura 47: Pontos de interesse no entorno do terreno ........................................................................ 45
Figura 48: Aplicação da rosa dos ventos de Natal no terreno .............................................................. 45
Figura 49: Aplicação da carta solar de Natal no terreno ....................................................................... 46
Figura 50: Estudo de ruídos do terreno ................................................................................................ 47
Figura 51: Vagas de estacionamento de veículos ................................................................................. 49
Figura 52: Zoneamento vertical do edifício .......................................................................................... 51
Figura 53: Croqui inicial da proposta .................................................................................................... 55
Figura 54: Opção 01 - Térreo ................................................................................................................. 56
Figura 55: Opção 01 - 1º pavimento ..................................................................................................... 56
Figura 56: Opção 01 - 2º pavimento ..................................................................................................... 56
Figura 57: Opção 01 - 3º pavimento ..................................................................................................... 56
Figura 58: Opção 01 - 4º pavimento ..................................................................................................... 57
Figura 59: Opção 01 - volumetria em lego ............................................................................................ 57
Figura 60: Opção 02 em croqui - pavimento térreo .............................................................................. 58
Figura 61: Opção 02 em lego - pavimento térreo ................................................................................. 58
Figura 62: Opção 02 em croqui - 1º pavimento .................................................................................... 58
Figura 63: Opção 02 em lego - 1º pavimento........................................................................................ 58
Figura 64: Opção 02 em croqui - 2º pavimento .................................................................................... 58
Figura 65: Opção 02 em lego - 2º pavimento........................................................................................ 58
Figura 66: Opção 02 em croqui - 3º pavimento .................................................................................... 59
Figura 67: Opção 02 em lego - 3º pavimento........................................................................................ 59
Figura 68: Opção 02 em croqui - 4º pavimento .................................................................................... 59
Figura 69: Opção 02 em lego 4º pavimento .......................................................................................... 59
Figura 70: Opção final - volumetria em lego (Vista 01) ......................................................................... 59
Figura 71: Opção final - volumetria em lego 2 (Vista 02) ...................................................................... 59
Figura 72: Opção final - volumetria em maquete eletrônica (Vista 01) ................................................ 60
Figura 73: Opção final - volumetria em maquete eletrônica (Vista 02) ................................................ 60
Figura 74: Volumetria final do edifício .................................................................................................. 60
Figura 75: Chapas microperfuradas de aço ........................................................................................... 64
Figura 76: Pré-dimensionamento de colunas de aço ............................................................................ 66
Figura 77: Pré dimensionamento de vigas de aço ................................................................................ 67
Figura 78: Laje pré-moldada de concreto armado ................................................................................ 67
Figura 79: Parede convencional de alvenaria ....................................................................................... 69
Figura 80: Parede dupla de alvenaria .................................................................................................... 69
Figura 81: Divisórias no sistema drywall ............................................................................................... 69
Figura 82: Aplicação de isolamento acústico na vedação de drywall ................................................... 69
Figura 83: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - pavimento
térreo..................................................................................................................................................... 70
Figura 84: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 1º pavimento
............................................................................................................................................................... 71
Figura 85: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 2º pavimento
............................................................................................................................................................... 71
Figura 86: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 3º pavimento
............................................................................................................................................................... 72
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Figura 87: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 4º pavimento
............................................................................................................................................................... 72
Figura 88: Piso vinílico Acoustic - Fademac ........................................................................................... 73
Figura 89: Gesso acartonado com chapas perfuradas .......................................................................... 73
Figura 90: Manta Optima piso - Isover .................................................................................................. 74
Figura 91: Portas acústicas .................................................................................................................... 75
Figura 92: Esquema de composição da porta acústica ......................................................................... 75
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Programa de necessidades - Studio Corpo de Baile - Sede principal ................................... 34
Quadro 2: Programa de necessidades - Studio Corpo de Baile - Sede anexo ....................................... 34
Quadro 3: Prescrições urbanísticas do Plano Diretor ........................................................................... 48
Quadro 4: Programa de necessidades - pavimento térreo ................................................................... 51
Quadro 5:Programa de necessidades - 1º pavimento .......................................................................... 52
Quadro 6: Programa de necessidades - 2º pavimento ......................................................................... 52
Quadro 7: Programa de necessidades - 3º pavimento ......................................................................... 53
Quadro 8: Programa de necessidades - 4º pavimento ......................................................................... 53
Quadro 9: Peças do brinquedo lego ...................................................................................................... 54
Quadro 10: Dados urbanísticos do terreno e da edificação ................................................................. 65
Quadro 11: Modulação estrutural do edifício ....................................................................................... 66
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 13
1. FLEXIBILIDADE APLICADA À ARQUITETURA ................................................................. 16
2. CONFORTO ACÚSTICO .......................................................................................................... 21
3. ESTUDOS DE REFERÊNCIA .................................................................................................. 28
3.1. TEATRO RIACHUELO – NATAL/RN .............................................................................. 28
3.2. STUDIO CORPO DE BAILE ............................................................................................. 33
3.3. ESCOLA DE MÚSICA – UFRN ........................................................................................ 36
3.4. THE LEGO HOUSE – STUDIO BIG ................................................................................ 39
4. METODOLOGIA DE PROJETO .............................................................................................. 41
5. CONDICIONANTES PROJETUAIS ........................................................................................ 43
6.1. O TERRENO ........................................................................................................................... 43
6.1.1. Análise bioclimática ................................................................................................ 45
6.2. CONDICIONANTES LEGAIS ........................................................................................... 47
6.1.2. Plano Diretor de Natal (2007) ..................................................................................... 47
6.1.2. Código de Obras do Município de Natal (2004) ..................................................... 48
6.1.3. Norma de Acessibilidade NBR 9050/2004 ............................................................... 49
6.1.4. Código de Segurança e Prevenção contra Incêndio e Pânico do Estado do
Rio Grande do Norte ................................................................................................................ 49
7. METAPROJETO ............................................................................................................................ 51
7.1. PROGRAMA DE NECESSIDADES ..................................................................................... 51
7.2. PARTIDO ARQUITETÔNCIO ............................................................................................... 53
7.3. EVOLUÇÃO DA PROPOSTA ............................................................................................... 55
8. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO DO PROJETO ............................................. 61
8.1. DESCRIÇÃO GERAL DO EQUIPAMENTO ....................................................................... 61
8.1.1. Implantação e Cobertura (Prancha 01) ........................................................................ 61
8.1.2. Subsolos (Pranchas 02 e 03) ........................................................................................ 62
8.1.3. Pavimento térreo (Prancha 4) ....................................................................................... 63
8.1.4. Primeiro a terceiro pavimento (Pranchas 05, 06 e 07) .............................................. 63
8.1.5. Quarto pavimento (Prancha 08) .................................................................................... 64
8.1.7. Fachadas (Pranchas 11 e 12) ....................................................................................... 64
8.2. ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS ........................................................................................... 65
8.2.1. Índices urbanísticos ........................................................................................................ 65
8.2.1. Sistema Construtivo ........................................................................................................ 65
12
8.2.2. Dimensionamento dos reservatórios de água .................................................................... 68
8.2.3. Recomendações acústicas .................................................................................................... 68
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 76
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 77
13
INTRODUÇÃO
Teatro, música e dança, são, conjuntamente, conhecidos como artes
performativas, ou seja, as artes que se desenvolvem por meio da performance, onde
o espetáculo depende do corpo, da face, e da apresentação de um indivíduo ou grupo.
Diferente das artes plásticas, onde a interação com o artista ocorre através de um
objeto físico, a arte performativa é uma arte do espaço.
Essas três artes relacionadas à performance pessoal do artista podem ser
encontradas desde as culturas da antiguidade. Nos tempos modernos, o ensino das
atividades artísticas vem se mostrando cada vez mais importante para o
desenvolvimento humano e da sociedade, que valoriza a arte e suas diversas
modalidades de forma cada vez mais digna.
O prodigioso avanço tecnológico do atual panorama da sociedade contemporânea indica uma crescente valorização da capacidade de reinventar processos e formas e para a criação de novos meios de expressão e arte. Tal valorização aponta para uma mudança até hoje inusitada, ou seja, o mundo está premiando os criativos: atores, músicos, artistas visuais e corporais, entre muitos outros. Tudo isso deixa claro que a sociedade pós-industrial não é mais centrada na produção de bens materiais, mas na produção de informação, valores, estética, entretenimento. Isso quer dizer que estamos diante de uma sociedade que se humaniza (...). Muito mais tempo está e estará, cava vez mais, disponível para atividades prazerosas, convívio de lazer, de esporte, de atividades propriamente culturais. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2000, p.9).
Especificando cada uma das modalidades artísticas apresentadas, a dança
sempre esteve presente na história da humanidade. Na pré-história dançava-se pela
vida e pela sobrevivência. Com a evolução do homem, a dança obteve características
sagradas, os gestos eram místicos e acompanhavam rituais. Na Grécia, a dança
ajudava nas lutas e na conquista da perfeição do corpo, tornando-se profana na Idade
Média e ressurgindo como expressão de valor nos tempos do Renascimento.
Atualmente, no contexto educacional brasileiro, a dança é definida como
conteúdo da disciplina de Artes, e nas atividades rítmicas e expressivas de educação
física. No contexto desse trabalho, a dança aparecerá em seu conceito da disciplina
de artes, buscando o ensino da modalidade a fim de modificar a vida dos estudantes
para melhor, além de propor o nível profissionalizante para a carreira do dançarino.
14
O teatro, assim como a dança, surgiu a partir do desenvolvimento do homem,
através de suas necessidades. Ao longo do tempo, ele também foi evoluindo, sendo
uma das maiores fontes de entretenimento e cultura. O ensino do teatro, por sua vez,
é fundamental no processo da educação. A partir dele, as relações interpessoais
podem ser mais abertas, sendo utilizado por diversos programas de socialização.
Além disso, como carreira profissionalizante, o teatro abre portas para diversos
trabalhos artísticos no mercado de trabalho, sendo imprescindível como complemento
as outras artes, como a dança e a música.
A finalidade de representar, tanto no princípio quanto agora, era e é oferecer um espelho à natureza; mostrar a virtude seus próprios traços, à infâmia sua própria imagem, e dar à própria época sua forma e aparência. (HAMLET, Ato III, cena II).
A multiplicidade de fatores artísticos conduz a síntese teatral. Arte impura, por certo, captando aqui e ali todos os instrumentos capazes de produzir o maior impacto no espectador. A riqueza em sua composição torna teatro uma das artes mais sedutoras que alcança o público pela síntese ou pelo agrado superior de um ou outro elemento. Certos espetáculos obtêm êxito pela harmonia total da realização. (MAGALDI, 2002, p.10).
A música, por fim, apresenta-se como disciplina histórica, inserida na história
da arte e no estudo da evolução cultural dos povos. Como disciplina musical,
geralmente é uma divisão da musicologia e da teoria musical. Seu estudo, como
qualquer área da história é trabalho dos historiadores, embora frequentemente seja
realizado por musicólogos.
A relação do ser humano com a música apresenta grande caráter cultural,
apresentando características e denominações específicas para cada povo. Por sua
grande importância no contexto artístico e por ser peça fundamental das demais
modalidades artísticas, o estudo da música deve ser incentivado, seja para formação
pessoal, seja para profissionalização de músicos atuantes no mercado artístico.
Analisando a disponibilidade de equipamentos dessa tipologia na cidade de
Natal/RN, identifica-se que a grande maioria dos espaços destinados ao ensino das
artes estão localizados em construções adaptadas, em que a organização dos fluxos
e ambientes se encontra limitada por estruturas e barreiras já existentes. Assim, a
construção de um edifício que seja concebido e executado especialmente para tal
finalidade será de grande valia para a cidade, uma vez que o edifício será bem
preparado para seus usos.
15
Portanto, objetiva-se com esse trabalho o desenvolvimento do anteprojeto de uma
Escola de Artes Performativas (teatro, dança e música) para a cidade de Natal/RN,
executada em um edifício vertical, com pavimentos que visem aspectos de
flexibilidade e condicionantes de conforto ambiental.
Primeiramente, serão expostos os embasamentos teóricos quem nortearam o
desenvolvimento do projeto, aspectos esses relacionados com o conforto acústico e
a flexibilidade na arquitetura. Em seguida, serão apresentados os estudos de
referência diretos e indiretos realizados como técnicas de entendimento dos usos e
formas para o equipamento. Feito isso, será apresentada a metodologia de projeto
adotada, seguidos pelos condicionantes projetuais e finalmente a apresentação do
anteprojeto da escola de artes performativas.
16
1. FLEXIBILIDADE APLICADA À ARQUITETURA
Atualmente, devido as mudanças ocasionadas nos costumes e no cotidiano da
sociedade, assim como pelas necessidades associadas ao tempo e a tecnologia das
construções, faz-se necessário pensar em uma arquitetura que se adapte as
necessidades do usuário e do entorno, que visa cada vez aspectos como praticidade
e sustentabilidade.
Em Besseti (2002), a arquitetura é entendida como a arte de projetar edifícios
que devem ser construídos com a finalidade de atender as necessidades dos
usuários, buscando, dessa forma, o seu conforto, bem estar e segurança.
Villa (2008), entende a flexibilidade na arquitetura como “toda configuração
construtiva e formal que permita uma diversidade de formas de uso, ocupação e
organização do espaço, ao longo da vida do edifício, como resposta as múltiplas e
multáveis exigências da sociedade”.
Ao se pensar em flexibilidade na arquitetura, é importante analisar, então, as
alterações tanto a longo quanto a curto prazo, exigindo ambientes com múltiplas
funções para suprir o dinamismo das diversas atividades.
Assim, na medida em que um único ambiente pode ser utilizado para mais de
uma função específica, o conceito de flexibilidade está entrando em vigor. Por se
adequar as necessidades, esse sistema apresenta grande enfoque na
sustentabilidade, uma vez que evita a execução de obras e elimina custos para a
adequação de um determinado espaço.
Por flexibilidade entende-se aqui a capacidade de estruturas construídas, equipamentos, materiais, componentes, elementos e processos construtivos em atender a exigências e/ou circunstâncias de produção e/ou utilização multáveis, sem que para isso haja variações significativas na quantidade de recursos necessários à sua produção e/ou utilização. (DORFMAN, 2004)
De acordo com Teixeira (2011), a flexibilidade, ao ser aplicada em um projeto,
pode aparecer embasada sobre vários conceitos, como margem e excesso, como
metodologia de projeto com flexibilidade, mas também conceitos de técnicas de
aplicação, como adaptação, transformação, mobilidade e interação.
17
Trabalhar com o conceito de margem e excesso significa trabalhar com folgas
no dimensionamento dos ambientes, permitindo, assim, ampliação e multiplicidade de
usos sem precisar de reforma. Segundo Dorfman (2004), as folgas são definidas como
algo que “permitam a um edifício atender a um leque de funções o mais amplo
possível”. Entretanto, ele também afirma que as “folgas, por sua vez, exigem
montantes de recursos superiores àqueles necessários à garantia de desempenhos
ótimos”.
Assim, tem-se o conceito de margem e excesso com uma alternativa coerente
a aplicação da flexibilidade no projeto, no entanto, pode não condizer com aspectos
importantes como otimização e racionalização de materiais e custo, devendo assim
ser bem estudado e aplicado ao projeto.
Quanto as opções de técnicas de aplicação da flexibilidade na execução do
projeto, estas devem vir acompanhadas de um planejamento estrutural do edifício.
Assim, quando se busca fáceis modificações no layout e nos fluxos, deve-se propor a
utilização de materiais que permitam grandes vãos, como o aço, o concreto armado e
o concreto protendido. Assim, o sistema de modulação de uma edificação facilita a
liberdade projetual de um pavimento diferenciado, por exemplo, além de contribuir
para a racionalização da obra.
Inserido nesse contexto, o conceito de adaptação é, segundo Teixeira (2011),
um dos tipos de flexibilidade mais complexos por variar conforme a forma e o uso, e
também por não ter uma característica física identificável com os outros tipos. Do
ponto de vista prático, o conceito de adaptação é destacado pelo grande uso de
divisórias, que além de delimitar e integrar os ambientes, ainda permitem a
multifuncionalidade
18
Figura 1: Ambiente com divisórias em Drywall – Conceito de adaptação
Fonte: TEIXEIRA, 2011.
O Conceito de transformação, por sua vez, são as “alterações físicas que
modificam a aparência da edificação e refletem nas suas formas de uso”. (TEIXEIRA,
2011). Como exemplo desse tipo de aplicação, tem-se o uso de coberturas que se
abrem através de um sistema motorizado, cortinas nas fachadas se abrindo e
fechando, e o uso do Led (light-emitting diode) que permite a mudança na cor e
formação estética da fachada.
Figura 2: – Allianz Arena, Munich, Germany: Herzog and De Meuron – Conceito de transformação
Fonte: TEIXEIRA, 2011.
19
A flexibilidade alcançada por meio da mobilidade, é um conceito relacionado ao
movimento, ao deslocamento da edificação de um lugar para o outro, seja sobre rodas
ou de forma desmontável. Geralmente, tratam de espaços de uso temporário,
necessitando atuar, portanto, na edificação como um todo.
Figura 3: - Screen Machine 2, UK: Toutenkamion - Conceito de mobilidade
Fonte: TEIXEIRA, 2011.
Por fim, a flexibilidade também busca trabalhar com a interação entre os
ambientes internos, e também entre em relação com o entorno e paisagem construída
no presente ou no futuro. Esse conceito trabalha, então, com a parte interior e exterior
da edificação, preocupando-se em gerar uma composição harmoniosa do edifício com
o ambiente em que está inserido.
Figura 4: SmartWrap Building, New York, USA: Kieran - Conceito de integração
Fonte: TEIXEIRA, 2011.
20
Quando aos conceitos de técnicas da flexibilidade na arquitetura atual, Teixeira
(2011), sistematizou a aplicação de cada um no quadro síntese a seguir.
Figura 5: Quadro síntese dos conceitos de flexibilidade
Fonte: TEIXEIRA, 2011.
Além desses conceitos e técnicas, outra forma de se atingir a flexibilidade é por
meio do design, fazendo uso de materiais que permitam a mobilidade e adaptação do
local. Trata-se, portanto, da utilização de móveis multifuncionais, que completam a
arquitetura na aplicação do conceito de flexibilidade. Nos projetos contemporâneos,
observa-se que os edifícios vêm sendo projetados com vãos cada vez maiores,
cabendo ao mobiliário, portanto, a função de repartição dos ambientes.
A utilização do conceito de flexibilidade na arquitetura é, dessa forma, a
inclusão de uma responsabilidade social e ambiental no processo de projeto, uma vez
que além de otimizar os custos e a vida útil da edificação, ainda favorece as questões
da sustentabilidade, tão discutidas nos dias atuais.
21
2. CONFORTO ACÚSTICO
As questões referentes ao conforto acústico se apresentam, no campo da
arquitetura atual, como um dos fatores determinantes para a eficiência de um projeto
arquitetônico, sendo muitas vezes o principal objetivo de diversas decisões de projeto
adotadas. Segundo SCHMID (2005), a acústica é provavelmente o aspecto de maior
complexidade em um ambiente construído, uma vez que, numa mesma obra, deve
variar suas características para realçar efeitos diversos.
O conforto acústico existe quando o ambiente proporciona boa inteligibilidade da
fala (ou clareza musical) e ausência de sons indesejáveis no ambiente, criando uma
sensação de paz e bem-estar. Dependendo do caso, o conforto acústico pode
depender de uma boa absorção sonora, de um eficiente isolamento acústico, ou de
ambos simultaneamente. A partir disso, tem-se os conceitos de condicionamento e
isolamento acústico.
De acordo com Solon do Valle (2009), “condicionamento acústico consiste em criar
uma sonoridade agradável dentro de um ambiente, controlando a reverberação e os
ecos, consertando problemas modais e promovendo uma resposta frequente
adequada ao tipo de utilização”. Inserido nesse contexto, outro conceito bastante
importante é a reverberação, definida como o som que permanece no ambiente
mesmo depois que sua produção seja cessada. Esse fenômeno é combatido mediante
a inserção de objetos e superfícies absorventes, recuperando-se, assim, a clareza dos
sons gerados, perdendo-se em amplificação (VALLE, 2009).
Um dos fatores para trabalhar a adequação acústica é o tempo de reverberação
ótimo, que se define como o tempo de reverberação adequado para determinado
ambiente e atividade, expresso em segundos, que vai ser alcançado através do
equilíbrio entres os materiais refletores e absorventes utilizados.
22
Figura 6: Utilização de materiais absorventes em auditórios
Figura 7: Utilização de materiais refletores
Fonte: http://div-som.com.br/ Fonte: http:// scielo.br/
Assim, na acústica arquitetônica, é fundamental a combinação adequada entre o
ambiente sonoro e a atividade desenvolvida. Por exemplo, quando a atividade
principal destinada a um ambiente for a comunicação sonora, o ambiente deve
favorecer a transmissão da mensagem de forma mais direta possível. No caso de
ambientes que se destinem a atividades musicais, por outro lado, é necessário não só
o silêncio, mas também que o ambiente se adicione a atuação dos músicos e
instrumentos, para que o resultado desejável seja alcançado. Portanto, a sala deve
estar adequada acusticamente.
Dessa forma, identifica-se que as três modalidades praticadas na edificação
proposta neste trabalho, necessitam de uma atuação mútua entre um ambiente de
silêncio e um ambiente que também se some a atuação dos diversos fatores musicais,
a serem utilizados nas diversas atividades praticadas.
Além da preocupação com o condicionamento acústico dos ambientes, é
imprescindível a preocupação do projeto com o isolamento acústico entre os
ambientes e entre a edificação e o meio externo. De acordo com Valle (2009), “o
isolamento acústico consiste em não deixar passar som de dentro para fora, nem de
fora para dentro de um ambiente”. Para que o projeto seja isolado de forma eficiente,
ele deve ser preparado contra duas formas de transmissão sonora: a transmissão
aérea – pelo ar –, ou de impacto, transmitida através da estrutura (paredes, lajes e
pisos).
23
Figura 8: Transmissão do ruído aéreo
Figura 9: Transmissão do ruído de impacto entre pavimentos
Fonte: http://www.isover.com.br/ Fonte: http://www.isover.com.br/
No presente projeto, o edifício é tratado para ser isolado dessas duas maneiras.
Uma das formas conhecidas e eficazes de promover o isolamento acústico dos
ambientes é a Lei da Massa, que afirma que “quanto mais pesada a barreira acústica,
maior o impedimento para o som passar de um lado para o outro desta barreira”
(DBGRAUS). Além da Lei da massa, a lei da massa-mola-massa defende que “quanto
mais alternância de materiais com espessuras e densidades diferentes maior o
isolamento acústico”. (DBGRAUS).
Do ponto de vista prático, existem diversos métodos para trabalhar com paredes,
pisos e tetos, influenciando na escolha a necessidade de isolamento do ambiente,
aliada com a relação custo-benefício e a disponibilidade de espaço do equipamento.
O método Box-in-a-box, por exemplo, trata do mais perfeito método de isolamento
acústico, segundo Valle (2009). Ele consiste de uma “caixa” totalmente flutuante e
acusticamente isolada do prédio principal.
Figura 10: Método Box-in-a-box
Fonte: http:// territoriodamusica.com/
24
Embora seja a opção mais indicada do ponto de vista do isolamento acústico, o
sistema box-in-a-box não é perfeitamente viável a depender do tipo da edificação, uma
vez que apresenta elevado custo, estrutura pesada e considerável uso de espaço.
Assim, para a execução de um edifício mais leve e viável, pode-se optar por outras
alternativas em busca do eficaz isolamento e condicionamento acústico dos
ambientes.
Dessa maneira, seguindo o princípio do sistema massa-mola-massa, é possível a
utilização de materiais mais leves e de fácil instalação, como o uso do sistema de
drywall, composto por perfis metálicos, chapas de gesso acartonado e lã mineral em
seu interior.
Figura 11: Estrutura dos painéis de gesso acartonado
Figura 12: Aplicação do gesso acartonado em paredes e forros
Fonte: http:// 2mdivisorias.com.br/ Fonte: http:// 2mdivisorias.com.br/
As divisórias de gesso acartonado se destacam pelo bom resultado desde o
canteiro de obras, passando pelo consumidor final e o desempenho pós-ocupação.
Durante as obras, o sistema é favorecido pela redução da quantidade de material
transportado, facilidade de instalação, mínimo desperdício e redução da mão de obra,
com consequente redução de custo e tempo de execução da obra. (PLACO s/d).
Para o usuário, esse sistema se apresenta vantajoso por possibilitar maior
flexibilização nos layouts, pois as paredes não precisam ser locadas sobre vigas,
possibilidade de execução de paredes curvas, além de do ganho de até 4% da área
útil, resultado da redução das espessuras das paredes (CIOCCHI 2003). Além disso,
há a facilidade na execução da manutenção e da realização de reformas, boa
resistência ao fogo e capacidade de isolamento térmico (a camada de ar entre as
25
placas atua como isolante), e acústico, principalmente se utilizados os materiais
específicos no vazio interior, como lã mineral (PLACO s/d).
Figura 13: Esquema de gesso acartonado com aplicação de lã mineral
Fonte: http:// placo.com.br/
Figura 14: Aplicação do isolante acústico no sistema de divisórias drywall
Fonte: http://anovavisaodivisorias.com.br/
As divisórias de gesso acartonado consistem de duas ou três folhas compostas
por placas de gesso. As placas são fixadas a perfis metálicos próprios, e os espaços
entre as folhas devem ser preenchidos com lã de vidro/rocha a fim de melhorar o
isolamento acústico. (VALLE 2009).
Além do gesso acartonado, a madeira também pode ser utilizada como divisória
de ambientes para alcançar o isolamento acústico. Entretanto, por apresentar uma
massa específica equivalente a cerca de ¼ da do gesso, faz-se necessário a utilização
de espessuras maiores para se atingir o mesmo resultado. Logo, não se apresenta
26
como o material mais adequado como sistema construtivo ao tipo de equipamento,
mas o seu estudo é fundamental.
As estruturas de parede, piso e teto, devem ser mecanicamente desacopladas
da estrutura predial, uma vez que o ruído pode ser transmitido através das estruturas.
As paredes duplas, para que sejam realmente eficientes, devem ter seus montantes
pousados sobre tiras de borracha, de preferência do tipo neoprene de impacto.
(VALLE 2009).
Quanto ao isolamento necessário ao piso, é importante a utilização do piso
flutuante, sistema que evita a propagação do ruído para o restante da estrutura predial.
Além disso, outro sistema bastante indicado contra o ruído de impacto pode ser o
Isover Optima Piso (painel rígido, constituído por lã de vidro aglomerada com resina
sintética), a ser instalado entre a laje e o contrapiso durante a construção do edifício.
Figura 15:Esquema de aplicação do piso flutuante
Fonte: http:// territoriodamusica.com/
27
Figura 16: Aplicação do Isover Optima Piso
Fonte: http://www.isover.com.br/
Assim, objetivando a utilização de materiais leves, é bastante comum o uso da
madeira. Segundo Valle, pode-se usar duas chapas de compensado ou Wall de 20mm
sobreposta montadas sobre coxins. Além disso, recomenda-se a utilização de
espaçadores de madeira entre os coxins e as chapas do piso. Dessa forma, o sistema
se transforma em um “colchão de ar”, que é preenchido com lã de vidro ou de rocha
para se obter o efeito massa-mola-massa (VALLE 2009).
Atualmente, em consequência da necessidade relacionada ao conforto
sustentável e preocupação com o meio ambiente, encontra-se também a possibilidade
de isolamento através de materiais ecologicamente corretos, isto é, o reuso dos
materiais. Assim, o mercado vem propondo a utilização da raspa de pneu de borracha
como material isolante para preencher sistemas construtivos, além do isolamento com
o uso da lã de garrafa PET, a exemplo do Isosoft Piso (Trisoft).
Por fim, o teto também necessita da mesma preocupação das demais
estruturas, devendo ser apoiado sobre as paredes ou pendurado da laje original.
Assim, com a execução do teto flutuante, completa-se a vedação acústica do
ambiente, podendo ser construído em gesso ou em madeira (MDF). É importante frisar
que sob esse sistema de isolamento de forro é aplicado o forro acústico absorvente
ou refletor, a fim de condicionar acusticamente o ambiente.
28
3. ESTUDOS DE REFERÊNCIA
3.1. TEATRO RIACHUELO – NATAL/RN
O teatro Riachuelo foi inaugurado em dezembro de 2010, na cidade de Natal/RN,
no terceiro piso de lojas do shopping Midway Mall, pertencente ao grupo Guararapes
Confecções S.A. Apresenta uma área de aproximadamente 6.000 m² e se comporta
como um espaço cultural multiuso, uma vez que pode abrigar as mais diversas
modalidades culturais em sua programação.
Figura 17: Sala de espetáculo do Teatro Riachuelo
Fonte: Acervo do Teatro Riachuelo
Quanto ao seu sistema construtivo, encontra-se um diferencial, uma vez que
se trata de uma construção montada sobre uma estrutura pré-fabricada já existente.
Em relação ao projeto acústico do teatro, deve-se considerar os aspectos que
objetivam tanto o isolamento quanto o condicionamento acústico. O estudo de caso
realizado pela arquiteta Cecília Azevedo de Oliveira Sales, como projeto de pesquisa
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, identifica quais foram os métodos
e materiais utilizados no projeto do teatro para alcançar esses objetivos.
É importante observar que, devido a multiplicidade de usos no equipamento,
este deve ser trabalhado para obedecer as necessidades acústicas de todos os usos
pertinentes ao local, teatro, palestras, música, espetáculos, etc.
De acordo com o estudo de caso, o fechamento da sala de espetáculos se deu
a partir de paredes de gesso (drywalll) com acabamento tipo sanduiche, sendo
composta por duas placas e gesso + lã de rocha + três placas de gesso.
A depender do nível de isolamento desejado para cada ambiente, destacam-
se três tipos de paredes: três placas de gesso + lã de rocha + duas placas de gesso;
29
uma placa de gesso + lã de rocha + duas placas de gesso; e uma placa de gesso +
vazio + uma placada de gesso. Assim, são especificados os três tipos de paredes
usadas no esquema a seguir.
Figura 18: Detalhe divisórias de gesso
Fonte: SALES, 2011.
Prosseguindo com a especificação dos materiais, os ambientes internos que
precisavam de um nível de absorção maior foram tratados com painéis pendurados
em MDF laminado sobre placas de lã de vidro.
Além do trabalho realizado com paredes e forros, houve a preocupação quanto
a correta especificação do revestimento para absorver os impactos gerados sobre os
pisos, que são todos em chapas de aço – coeficiente de absorção quase nulo. Para
isso, tanto no interior da sala quanto nos ambientes de circulações sociais, adotou-se
o uso do carpete, material com ótimas propriedades absorventes.
Uma vez tratadas as paredes, forros e pisos, é necessária a preocupação
quanto aos acessos dos ambientes, destacando a importância do tratamento acústico
das portas. Dessa maneira, os ambientes que necessitam de um controle acústico
foram contemplados por portas de madeira maciça, acopladas com um a guilhotina
retrátil em sua face inferior. A guilhotina e a borracha disposta ao longo do batedor da
porta impedem a passagem das ondas sonoras através das brechas.
Em complemento, é imprescindível a especificação dos materiais adequados
que ocasionam a absorção do som, como cortinas e poltronas, por exemplo. No teatro,
as poltronas utilizadas são classificadas como “medianamente/ muito” estofadas,
revestidas em tecido e com espuma de alta densidade no assento e no encosto.
30
Assim, elas são responsáveis por absorver as vibrações do ar, e consequentemente
contribuir para o condicionamento acústico do ambiente.
Figura 19: Poltronas do Teatro Riachuelo
Fonte: SALES, 2011.
No contexto do condicionamento acústico, destaca-se a necessidade de
proporcionar o tempo ótimo de reverberação para um recinto, além da boa distribuição
sonora. Para isso, o teatro conta de painéis de madeira localizados nas laterais da
boca de cena, responsável por gerar reflexões sonoras em variadas direções, e
permitindo a inteligibilidade do som em todas as partes do teatro.
No forro, as placas perfuradas presentes no teto da sala de espetáculos,
apresenta função de absorção de parte do som emitido pela fonte, além de servirem
de apelo estético característico ao local.
Figura 20: Difusores acústicos
Figura 21: Localização dos painéis difusores
Fonte: SALES, 2011. Fonte: SALES, 2011.
31
Além do estudo de caso voltado para as questões de conforto acústico
referentes ao projeto, ele também apresenta aspectos de flexibilidade em seu
conteúdo. A casa de espetáculos, por possibilitar usos diversos, apresenta duas
possibilidades de layout, a configuração de plateia original, e a configuração pista.
O estudo de caso realizado por SALES (2011), afirma que a capacidade de
público do teatro Riachuelo nos moldes tradicional da plateia sentada, consiste de
1.504 pessoas, sendo 703 na plateia, 88 nas frisas, 216 nos camarotes, 407 no balcão
e 40 usuários destinados ‘as cadeiras extras/PNE.
Figura 22: Configuração da plateia tradicional
Fonte: SALES, 2011.
Para formatar a configuração pista, algumas fileiras precisam ser retiradas,
enquanto outras fileiras possuem poltronas de encostos rebatíveis, como
esquematizado na figura 23. Após a retirada dessas fileiras e o rebaixamento das
poltronas, praticáveis modulados são colocados, elaborados com o mesmo
revestimento da sala de espetáculos, para o fechamento da plateia inferior, nivelando-
a com o palco e o salão principal.
32
Figura 23: Demarcação das poltronas a serem retiradas na configuração do show de pista
Fonte: SALES, 2011.
Para alcançar essa flexibilidade, o teatro conta com estruturas moduladas de
1,20m x 2,00m, que são utilizadas tanto para o fechamento do fosso da plateia A,
quanto para a elevação do novo palco construído a cima do palco existente, para as
atividades na configuração pista.
Figura 24: Estruturas moduladas utilizadas para o novo palco
Fonte: Acervo do Teatro Riachuelo
Por todas as características e especificações exportas, identifica-se que o
teatro Riachuelo, além de ser referência cultural para a cidade, também se comporta
33
como um modelo de sistema construtivo, destacando as preocupações do projeto
quanto a funcionalidade, sistema estrutural e conforto acústico.
3.2. STUDIO CORPO DE BAILE
O Studio Corpo de Baile, inaugurado em 1997, atua como uma escola de dança
de diversas modalidades para crianças e adultos. A sede principal, localizada na Rua
Dr. Carlos Passos, 1738 – Morro Branco, Natal/RN, foi executada através de uma
residência preexistente, com adaptações e ampliações ao longo do tempo, incluindo
um anexo do outro lado da rua, afim de acolher novas turmas e modalidades.
Figura 25: Fachada do Studio Corpo de Baile
Fonte: Acervo pessoal
No total, a escola apresenta um público de aproximadamente 360 alunos,
divididos entres as diversas modalidades que a escola oferece, são elas: Ballet
clássico, jazz, dança contemporânea, dança de salão, dança de rua, dança flamenca
e sapateado. Além disso, são oferecidas aulas de yoga, além de uma parceria com o
Studio Corpo Pilates, academia de pilates situada no anexo do espaço físico da
escola.
Para abrigar adequadamente todas essas modalidades, e se adequar às
diversas idades e necessidades dos alunos, o programa de necessidades é definido
a seguir:
34
Quadro 1: Programa de necessidades - Studio Corpo de Baile - Sede principal
Programa de necessidades – Sede principal
Recepção 3 salas de aula Espaço Kids
Tesouraria Almoxarifado Lanchonete
Diretoria Vestiários Cantinho virtual
Gerência Lojas de artigos de dança Convivência
Sala dos professores Lanchonete Banheiros
Quadro 2: Programa de necessidades - Studio Corpo de Baile - Sede anexo
Programa de necessidades – Sede anexo
Entrada/convivência Vestiário Sala de Pilates
02 salas de aula Almoxarifado Banheiros
Figura 26: Sala de ensaio na sede anexo
Figura 27: Sala de aula de dança
Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal
Figura 28: Sala de aula de ballet infantil
Figura 29: Sala de aula de dança
Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal
35
Quanto aos fluxos observados, identifica-se a preocupação com o
entretenimento das crianças, em especial, buscando alcançar espaços que se
integrem e tragam divertimento e segurança. Quanto as salas de aula, observa-se a
ausência de técnicas que busquem o condicionamento acústico, sendo o som
proveniente das músicas atrapalhado pelos ruídos gerados externamente à sala de
aula.
Figura 30: Visão interna da entrada da escola
Figura 31: Espaço de convivência e lazer
Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal
Figura 32: Área comum de espera da sala de ensaio do anexo
Figura 33: Loja de artigos de dança
Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal
Nesse estudo de caso, especificamente, identifica-se o aproveitamento quanto
a definição do programa de necessidades, dos fluxos e dos próprios usuários que
utilizarão os espaços do equipamento projetado.
36
3.3. ESCOLA DE MÚSICA – UFRN
A escola de música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, projeto
do arquiteto Ubirajara Galvão, foi inaugurada em 27 de maio de 1991. O edifício é
localizado na entrada principal do Campus, próximo ao ponto de ônibus e com
estacionamento próprio para alunos e visitantes.
Figura 34: Escola de Música da UFRN
Fonte: Acervo pessoal
Figura 35: Escola de Música da UFRN - Vista posterior e estacionamento
Fonte: Acervo pessoal
O programa de necessidades do prédio é dividido em dois pavimentos,
apresentando 25 salas de aula, sendo 08 para aulas coletivas com equipamentos de
37
áudio, uma sala com equipamento de vídeo conferência e 16 salas para aulas e
estudos individuais de instrumento.
Em complemento, a Escola de Música da UFRN possui ainda 16 salas
destinadas exclusivamente para o estudo de instrumento, sendo 08 com pianos de
armário; um estúdio de gravação; um auditório com 250 lugares, 02 camarins, 02
banheiros, piano, sistema de projeção, sistema de sonorização, 08 rebatedores de
som móveis e devidamente climatizado; um mini-auditório climatizado com cerca de
80 lugares, piano, camarim e datashow; uma biblioteca especializa em música; uma
sala de multimídia; um laboratório de informática; além de uma instrumentoteca com
diversos instrumentos e equipamentos de multimídia.
Figura 36: Sala de aula coletiva
Figura 37: Sala de aula de piano
Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal
Além do setor educacional destinado a alunos e visitantes, o espaço físico do
edifício também conta com o setor administrativo e pedagógico da escola, com salas
de administração, direção, sala dos professores e demais necessidades específicas
ao bom desempenho da instituição.
Quanto aos fluxos, observa-se que o edifício é composto de vários pátios de
convivência, que permitem, além da iluminação natural, a integração entre os setores
e usuários do equipamento, resultando em um espaço que acolha os alunos e seus
talentos, que muitas vezes são retratados pelas trocas de informações e dons
musicais pelos corredores da escola.
38
Figura 38: Pátio central de circulação entre os pavimentos
Figura 39: Pátio central com iluminação natural
Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal
Outro aspecto fundamental na infraestrutura do equipamento se dá pela
preocupação com o isolamento e condicionamento acústico das salas de aula e
auditório. Identifica-se, por exemplo, nas salas de estúdio e gravação, uma grande
preocupação com o conforto acústico e qualidade sonora do ambiente, buscando-se
utilizar de materiais absorventes nas paredes, além do isolamento total de portas e
janelas.
Figura 40: Porta acústica da sala de gravação
Fonte: Acervo pessoal
39
Figura 41: Utilização de materiais absorventes na sala de aula
Fonte: Acervo pessoal
Esse estudo de caso, por fim, contribui na definição e organização do programa
de necessidades do equipamento proposto, assim como dos fluxos e organização dos
espaços projetados.
3.4. THE LEGO HOUSE – STUDIO BIG
O projeto da nova sede da Lego, realizado em 2012 pelo escritório de
arquitetura Studio BIG constitui de referência formal para o presente trabalho. O
edifício é composto por blocos sobrepostos que remetem aos blocos do próprio lego,
gerando dinamicidade na forma do edifício
O edifício de 7.600 m², com blocos fieis às proporções originais, possui a
estrutura de 30 metros de altura e conta com diversos pontos de acesso em diferentes
níveis, além de jardins na cobertura e uma praça pública de 1.900 m².
40
Figura 42: The Lego House - Studio BIG
Fonte: http:// blogdafal.com.br/
Essa dinamicidade da forma é o efeito desejado para a escola de artes
performativas projetada neste trabalho. Além disso, a utilização de cores, de
diferentes paginações de piso, e a preocupação de integração entre os usuários e a
edificação, são pontos positivos agregados ao projeto e quem devem ser refletidos
como referência projetual.
Figura 43: The Lego House, vista panorâmica
Fonte: http:// blogdafal.com.br/
41
4. METODOLOGIA DE PROJETO
O processo de concepção do anteprojeto da escola se baseia, neste
caso, na metodologia proposta por Elvan Silva, em sua publicação “Uma
introdução ao projeto arquitetônico”. Segundo SILVA (1984) o processo
projetual na arquitetura é representável por uma progressão, que parte de
um ponto inicial e evolui em direção a uma proposta de solução.
Dessa maneira, o autor divide as etapas de projeto em programa,
estudos, anteprojeto e projeto. Para o trabalho em questão, contudo, é
valido salientar que seu objetivo é o alcance do anteprojeto arquitetônico,
deixando de contemplar alguns pormenores necessários ao projeto
executivo final de um equipamento.
Seguindo a metodologia, inicialmente foi definido o programa de
necessidades do edifício, observando as particularidades de cada
modalidade e aplicando-as no projeto. Para isso, foram realizados os
estudos de referência diretos, que possibilitaram entender o comportamento
da tipologia do edifício, observando a lista de ambientes e espaços
disponíveis e como estes se comportam entre si e com os usuários.
Uma vez definido o programa de necessidades, parte -se para o pré-
dimensionamento dos ambientes, observando também as características do
terreno e identificação de possíveis limitantes projetuais, avaliação do s
recursos materiais disponíveis e identificação dos demais condicionantes
significativos (aspectos bioclimáticos, legislação per tinente, relação com o
entorno).
Após essas definições de projeto, pode-se pensar em formas para
aliar todas as variáveis necessárias ao projeto à solução adotada. Nesse
contexto, é definido o partido arquitetônico do edifício.
Partido, na arquitetura, é o nome que se dá a consequência formal de uma série de determinantes, tais como o programa do edifício, a conformação topográf ica do terreno, a orientação, o sistema estrutural adotado, as condições locais, a verba disponível, as condições das posturas que regulamentam as construções e, principalmente, a intenção plástica do arquiteto. (SILVA, 1984)
42
Definido o partido arquitetônico, elemento base para o
desenvolvimento dessa proposta, foram realizados diversos estudos e
zoneamentos objetivando aliar a solução formal desejada com os aspectos
funcionais e de conforto ambiental do edifício. Para isso, o conceito do lego ,
a ser melhor explicado no capítulo 07, se materializou, mostrando-se forte
aliado nesta etapa de concepção, em que os módulos representavam a
distribuição dos espaços, enquanto que o próprio edifício ia se
materializando enquanto forma e volume.
Assim, após diversos testes e mudanças em busca de favorecer a
maior quantidade de aspectos projetuais possíveis em uma única solução,
teve-se a definição do anteprojeto.
43
5. CONDICIONANTES PROJETUAIS
6.1. O TERRENO
O terreno escolhido para a execução do projeto localiza-se na cidade de Natal/RN,
local com considerável carência de equipamentos dessa tipologia. Inserido na Região
Administrativa Leste, mais precisamente no bairro de Petrópolis, o terreno está situado
na interseção da Avenida Deodoro da Fonseca com a Rua Mipibu, sendo atualmente
utilizado como estacionamento do supermercado Nordestão.
Figura 44: Divisão administrativa de Natal/RN
Fonte: SEMURB, 2011.
44
Figura 45: Localização do bairro de Petrópolis e do terreno escolhido
Fonte: SEMURB, 2011 (Editado pela autora)
O terreno apresenta uma área total de aproximadamente 2 297,84m², com
formato básico de um quadrilátero e topografia plana. O lote situa-se em uma
quadra margeada pela Avenida Deodoro da Fonseca, Rua Mipibu, Avenida
Floriano Peixoto e Rua Trairi.
Figura 46: Dimensões do terreno de projeto
Fonte: IDEMA, 2007 (Editado pela autora)
O seu entorno imediato apresenta uso do solo predominantemente comercial e
institucional, próximo a supermercado e lojas, escolas e hospitais, além de ser
45
contemplado pela presença do transporte público no local e pela existência de um
ponto de ônibus em frente do terreno, benefício este almejado para os usuários da
escola projetada
Figura 47: Pontos de interesse no entorno do terreno
Fonte: IDEMA, 2007 (Editado pela autora)
6.1.1. Análise bioclimática
Uma vez escolhido o terreno, a análise bioclimática deste se destaca como ponto
de partida para as primeiras decisões de projeto a serem adotadas. Tomando-se
conhecimento das trajetórias do sol e dos ventos predominantes, é possível identificar
as potencialidades do terreno, assim como a definição dos primeiros zoneamentos.
Figura 48: Aplicação da rosa dos ventos de Natal no terreno
Fonte: IDEMA, 2007 (Editado pela autora)
46
De acordo com o esquema da figura 48, e considerando que a rosa dos ventos da
cidade de Natal/RN apresenta a ventilação predominante originada da direção
sudeste observa-se que os ventos predominantes incidentes chegam em direção a
lateral do terreno, na frente que margeia a Rua Mipibu. Quanto à trajetória solar, o sol
nascente posiciona-se aos fundos do terreno, enquanto que o poente está voltado
predominantemente para a frente delimitada pela Avenida Deodoro da Fonseca.
Figura 49: Aplicação da carta solar de Natal no terreno
Fonte: IDEMA, 2007 (Editado pela autora)
Em relação aos aspectos sonoros provenientes do entono, identifica-se que
este não se constitui como uma área sensível ao ruído. Entretanto, a preocupação
com o isolamento acústico será necessária, uma vez que tanto o edifício pode se
comportar como fonte sonora para o entorno, como pode sofrer interferência do
grande ruído de tráfego existente no local.
Na fase de estudo do terreno, foram realizadas medições com o aparelho
medidor de pressão sonora em dois pontos distintos de seu perímetro, indicados na
figura 50. Realizadas as medições, pode-se inferir como a propagação dos ruídos,
principalmente do tráfego de veículos, impacta o terreno. Tal estudo também interfere
no zoneamento e nas decisões de projeto adotadas.
Analisando o esquema da figura 50, observa-se que os ruídos são mais
elevados nas zonas próximas a Avenida Deodoro da Fonseca e a Rua Mipibu, sendo
amenizados a medida que se aproximam da parcela posterior do terreno.
47
Figura 50: Estudo de ruídos do terreno
Fonte: IDEMA, 2007 (Editado pela autora)
6.2. CONDICIONANTES LEGAIS
O estudo da legislação incidente ao terreno é vital para os estudos iniciais de um
projeto arquitetônico. Devem ser analisados, para a legalização do projeto de acordo
com as normas, a regulamentação incidente estabelecida pelo Plano Diretor de Natal
(2007), o Código de Obras e Edificações do Município de Natal (2004), a norma de
acessibilidade NBR 9050/2004, e o Código de Segurança e Prevenção contra
Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte.
6.1.2. Plano Diretor de Natal (2007)
Em relação as prescrições urbanísticas presentes no plano diretor, identifica-
se que no macrozoneamento de uso da cidade Natal/RN, o bairro de Petrópolis é
considerado uma zona adensável. Sendo assim, apresenta coeficiente de
aproveitamento básico de 3,5.
Considerando, portanto, o coeficiente de aproveitamento básico do terreno em
3,5, e sabendo que sua área total é de aproximadamente 2 297,84m², a área total
construída do edifício pode alcançar, no máximo 8 042,44m².
Com relação ao gabarito máximo permito no local, o Plano Diretor estabelece
que, em zonas adensáveis, o gabarito máximo permitido é de 90 metros.
48
Considerando a proposta do edifício a ser projeto, é evidente que o gabarito será
bastante inferior ao máximo estabelecido.
Outro fator fundamental presente na regulamentação trata dos recuos mínimos
estabelecidos. Por se tratar de um edifício vertical, e considerando mais uma vez o
terreno localizado em uma zona adensável, as normas prescritas para os recuos são:
Por fim, o Plano Diretor também estabelece que a taxa de ocupação máxima,
assim como a taxa de impermeabilização máxima do terreno devem ser de 80%.
Quadro 3: Prescrições urbanísticas do Plano Diretor
Prescrições urbanísticas do Plano Diretor de Natal
Aproveitamento 3,5 x 2.297,94 = 8.042,44 m²
Gabarito máximo 90 metros
Recuos Frontal = 3 + H/10
Lateral = 1,5 + H/10
Permeabilidade 20% de 2.297,84 = 459,56 m²
Ocupação 80% de 2.297,84 = 1.838,27 m²
Fonte: NATAL, 2007 (Editado pela autora)
6.1.2. Código de Obras do Município de Natal (2004)
O Código de Obras do Município de Natal define algumas funções fundamentais
para a concepção do projeto, como a caracterização das vias da cidade, de modo que
a Avenida Deodoro da Fonseca é considerada via arterial, enquanto que a Rua Mipibu
é via local.
Das definições estabelecidas pelo Código de Obras fica determinado que:
A altura dos muros não deve ultrapassar 3,00 metros;
Podem ser admitidas dimensões mínimas de dois metros e quarenta
centímetros (2,40m) de largura e quatro metros e cinquenta centímetros
(4,50m) de comprimento para a vaga.
A rampa de acesso ao estacionamento tem inclinação máxima permitida de
20%, não podendo invadir o recuo frontal de 5,00 metros.
49
Para estacionamento de veículos pequenos e médios, em ângulo de 90º em
relação a via, a passagem prevista deve apresentar circulação de no mínimo
5,00 metros, para sentido único e duplo de direção.
Figura 51: Vagas de estacionamento de veículos
Fonte: NATAL, 2007
6.1.3. Norma de Acessibilidade NBR 9050/2004
A NBR 9050 define a inclinação máxima permitida para rampas acessíveis de
8,33 %, com necessidade de corrimãos. Quanto às escadas, elas devem ter largura
mínima de 1,20 m, sendo 1,50 m a largura recomendada. As portas, por sua vez,
devem ter vão livre de no mínimo 0,80 m e altura mínima de 2,10 m.
A norma de acessibilidade traz diversas definições que devem ser atentadas e
especificadas no projeto, como especificação de corrimãos, pisos táteis, e
especificações de banheiros. Na execução deste trabalho, todas as normas serão
consultadas durante toda a fase de exercício projetual.
6.1.4. Código de Segurança e Prevenção contra Incêndio e Pânico do Estado
do Rio Grande do Norte
O código de Segurança e Proteção contra Incêndio do Estado do Rio Grande
do Norte apresenta bastante importância de uso, sendo consultado sempre que
necessário. De acordo com o artigo 6, capítulo IV da norma, a escola de artes
performativas é classificada quanto a sua ocupação, como ocupação Reunião
50
Pública, edificações destinadas a exposição, teatros, cinema, auditórios e colégios,
centros de cursos diversos.
Para esse tipo de ocupação, portanto, o equipamento deve atender os
seguintes requisitos:
Todas as peças de decoração confeccionadas em material de fácil combustão,
deverão ser tratadas com proteção retardante à ação do calor;
Deverá dispor de renovação de ar ambiente através de ventilação natural;
Deverá dispor de sistema de iluminação de emergência;
Ambientes com mais de 100 lugares, além das aberturas normais de entrada,
deverão dispor de saídas de emergência com largura mínima de dois metros e vinte
centímetros (2,20m), acrescendo-se uma unidade de passagem (cinqüenta e cinco
centímetros) para excedentes de 100 pessoas;
Edificações com mais de um pavimento terão escadas com largura mínima de
um metro e sessenta centímetros (1,60m), para público de até 200 pessoas,
acrescendo-se uma unidade de passagem de cinqüenta e cinco centímetros (0,55 m),
para excedentes de 200 pessoas;
É obrigatória a utilização de guarda-corpo nas sacadas, rampas e escadas, em
material resistente, evitando-se quedas acidentais.
51
7. METAPROJETO
Uma vez identificados os principais aspectos relacionados ao terreno e
legislação incidente na área, as primeiras concepções de projeto começam a
aparecer.
7.1. PROGRAMA DE NECESSIDADES
O programa de necessidades da escola de artes performativas foi definido a
partir dos estudos de referência e pesquisas relacionadas ao tema. Quanto a divisão
dos setores entre os pavimentos do edifício, estes foram dispostos de modo a agrupar
as funções semelhantes em um mesmo espaço. Dessa maneira, cada modalidade
artística constituinte da escola ficou separada em um pavimento, com espaços
multiusos e de convivência compartilhados entre todos no pavimento térreo e no
ultimo pavimento.
Figura 52: Zoneamento vertical do edifício
Fonte: Elaboração da autora, 2014.
O programa de necessidades ficou definido da seguinte maneira:
Quadro 4: Programa de necessidades - pavimento térreo
AMBIENTE
Teatro
Camarim masculino
52
Camarim Feminino
Administração geral
Secretaria
Tesouraria
Lanchonete
Despensa
Banheiros
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Quadro 5:Programa de necessidades - 1º pavimento
1º Pavimento – Escola de Música
Administração
Sala dos professores
Estar/copa
Intrumentotéca
Sala de aula
Cabine de estudo individual
Estúdio
Gravação
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Quadro 6: Programa de necessidades - 2º pavimento
2º Pavimento – Escola de dança
Administração
Sala dos professores
Vestiário de funcionários
Sala de figurino
Sala de aula
Fisioterapia
Banheiros
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
53
Quadro 7: Programa de necessidades - 3º pavimento
3º Pavimento – Escola de teatro
Administração
Sala dos professores
Depósito
Sala de aula
Sala de oficinas
Sala de figurino
Banheiros
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Quadro 8: Programa de necessidades - 4º pavimento
4º Pavimento – Espaço multiuso
Biblioteca
Lanchonete
Despensa
Copa
Depósito
Loja
Convivência
Banheiros
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Uma vez definido o programa de necessidades e o pré-dimensionamento dos
ambientes, e separando cada modalidade por pavimento, foram realizados os
primeiros zoneamentos, que começaram a tomar forma na evolução da proposta.
7.2. PARTIDO ARQUITETÔNICO
Como abordado no item referente a metodologia de projeto adotada, capítulo 5
deste trabalho, a definição de partido arquitetônico é dada por SILVA (1984), como a
sequência formal de uma série de determinantes, considerando principalmente a
intenção plástica do arquiteto. Sendo assim, juntam-se aos demais determinantes –
54
atendimento a legislação, alcance do conforto ambiental e a boa relação funcional
entre os ambientes e os usuários – a intenção de um edifício composto por módulos.
A partir desse conceito, aplica-se que o projeto arquitetônico é norteado por um
conjunto de ideias centrais que irão influenciar diretamente nas decisões de projeto.
Assim, os princípios determinantes para o início do processo projetual foram:
Edifício constituído por cheios e vazios.
Estrutura modulada que viabilize a flexibilidade das paredes internas, buscando
a adaptação do edifício aos futuros avanços da tecnologia e das necessidades
dos usuários.
Zoneamento vertical executado de modo que as três modalidades artísticas
fossem separadas por pavimentos.
Integração do pavimento térreo do edifício com o entorno e seus usuários,
tornando o edifício convidativo para a população, que o teria como um grande
espaço de convivência e exposição.
Adequação do edifício com o terreno, a legislação urbanística e os
determinantes de insolação, ventilação e propagação de ruídos no entorno.
Essa série de determinantes e intenções preliminares de projeto resultou no
conceito principal que o norteou durante toda a fase de desenvolvimento e
evolução da proposta. Como conceito, portanto, têm-se o brinquedo lego e todas
as suas variações de montagem, sendo constituído por diversos módulos que se
encaixam formando inúmeras combinações.
Quadro 9: Peças do brinquedo lego
Fonte: http://revistafinal.com/
55
Uma vez definido qual conceito nortearia a evolução e o desenvolvimento do
projeto, foram realizados os primeiros estudos funcionais e formais do edifício,
buscando abranger a todos os condicionantes em uma mesma proposta. Para isso
o brinquedo lego se tornou forte aliado na concepção projetual, permitindo uma
análise simultânea entre o zoneamento em planta do edifício e sua respectiva
proposta volumétrica.
7.3. EVOLUÇÃO DA PROPOSTA
A ideia de trabalhar com módulos esteve presente desde o princípio da
concepção de projeto. Entretanto, ao longo do processo criativo este foi se
modificando para atender adequadamente as necessidades funcionais, espaciais e
formais do edifício. Com a proposta dos blocos de lego como principal metodologia de
criação, pode-se começar a pensar em soluções funcionais ao mesmo tempo em que
o volume do edifício ia sendo concebido.
Outro ponto que esteve presente desde o princípio, foi a ideia de uma área
pública no térreo, buscando a integração entre o edifício e os usuários do entorno, isto
é, pessoas que estivessem passando pelas ruas. Para isso, foi traçada a necessidade
de um espaço livre que pudesse ser utilizado pelos passantes para, por exemplo,
“cortar caminho” da Rua Mipibu para a Avenida Deodoro, e com isso, aproximar as
pessoas das variadas expressões artísticas.
Figura 53: Croqui inicial da proposta
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
56
A ideia inicial contava com a concepção de um edifico em um bloco quadrado,
que seria divido em dezesseis blocos de 9,60m x 9,60m. Esses blocos estariam
dispostos de modo a abrigar o programa de necessidades nos cinco pavimentos,
considerando sempre os espaços a não serem preenchidos em determinados
andares.
Para isso, iniciaram-se os zoneamentos através dos blocos do lego,
determinando quais seriam preenchidos em cada pavimento, de uma maneira em que
se adequasse as diversas necessidades formais e funcionais do edifício.
Figura 54: Opção 01 - Térreo
Figura 55: Opção 01 - 1º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 56: Opção 01 - 2º pavimento
Figura 57: Opção 01 - 3º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
57
Figura 58: Opção 01 - 4º pavimento
Figura 59: Opção 01 - volumetria em lego
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Após vários estudos, observou-se que a proposta inicial havia atingido a
intenção plástica desejada, entretanto, a modulação de 9,60 x 9,60 metros não se
apresentava como a melhor solução para a problemática do edifício, visto que este
apresentaria uma proporção bastante generosa em relação ao terreno, locando-se
nos limites dos recuos estabelecidos pelo plano diretor de Natal. Com essa proposta,
portanto, a intenção de estabelecer integração do pavimento térreo do edifício como
uma passagem entre os usuários do entono não se estabeleceria coerentemente,
buscando a necessidade de aliar os pontos positivos adquiridos nessa proposta com
as mudanças realizadas para melhor adequar a modulação.
Sendo assim, foram realizados cortes de áreas em excesso, assim como de
algumas circulações internas que se apresentavam superdimensionadas, objetivando
compatibilizar a solução funcional da edificação com a intenção plástica desejada.
Em seguida, identificou-se que a melhor solução adotada para a modulação
dos blocos do edifício seria 7,20 x 7,20 metros, que além de se apresentar
proporcional entre as dimensões do próprio prédio, também estaria melhor locado no
terreno, e consequentemente melhor relacionado com o entorno.
58
Figura 60: Opção 02 em croqui - pavimento térreo
Figura 61: Opção 02 em lego - pavimento térreo
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 62: Opção 02 em croqui - 1º pavimento
Figura 63: Opção 02 em lego - 1º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 64: Opção 02 em croqui - 2º pavimento
Figura 65: Opção 02 em lego - 2º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
59
Figura 66: Opção 02 em croqui - 3º pavimento
Figura 67: Opção 02 em lego - 3º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 68: Opção 02 em croqui - 4º pavimento
Figura 69: Opção 02 em lego 4º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 70: Opção final - volumetria em lego (Vista 01)
Figura 71: Opção final - volumetria em lego 2 (Vista 02)
Fonte: Elaborado pela autora, 2014 Fonte: Elaborado pela autora, 2014
60
Figura 72: Opção final - volumetria em maquete eletrônica (Vista 01)
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 73: Opção final - volumetria em maquete eletrônica (Vista 02)
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 74: Volumetria final do edifício
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
61
8. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO DO PROJETO
8.1. DESCRIÇÃO GERAL DO EQUIPAMENTO
O anteprojeto apresentado consiste de uma escola de artes performativas para
a cidade de Natal, intitulada “Esquina 3”, que objetiva tornar o ensino das artes mais
acessível para a população, que poderá dispor de diversas práticas e conhecimentos
em um mesmo equipamento.
O terreno escolhido apresenta área total de 2.297,84 m², com uma área
construída coberta total de 5.233,64 m². O edifício é constituído de um único bloco,
composto por cheios e vazios resultantes dos módulos vazios de cada pavimento. A
escolha do escalonamento dos blocos foi realizada para, além de se aliar aos
condicionantes ambientais do terreno (insolação, ventilação e ruído), tornar-se
harmônico com a esquina existente entre a Av. Deodoro da Fonseca e a Rua Mipibu.
As partes integrantes do projeto serão descritas a seguir:
8.1.1. Implantação e Cobertura (Prancha 01)
A implantação do edifício foi resolvida, a princípio, através das normas
estabelecidas em relação aos recuos mínimos. Além disso, era desejável desde o
princípio que o bloco do edifício apresentasse considerável distância em relação aos
seus recuos frontais. Após a locação do edifício no terreno, a prioridade foi tornar
realidade a ideia inicial de todo o projeto, uma passagem que interligasse os passeios
das duas vias e integrasse o prédio com o entorno e seus usuários. Destaca-se na
implantação a existência de vagas de estacionamento para deficientes (2% das vagas
necessárias totais) e idosos (5% das vagas totais).
Como meio de incentivar a utilização do transporte alternativo, a implantação
do edifício conta com a existência de bicicletários, utilizados nos próprios canteiros de
vegetação, que apresentam para isso ferros de segurança individual para cada
bicicleta.
A cobertura do edifício, por sua vez, é concebida por diversas lajes
impermeabilizadas em diferentes níveis, apresentando isolamento térmico e acústico
62
através da manta optima piso, da Isover, localizada abaixo do contra piso. Na
cobertura também se encontra o elemento utilizado para iluminação natural da área
comum de circulação entre os pavimentos (acima da escada circular em L). Além
disso, a cobertura também abriga o reservatório de agua superior, com espaço
necessário para abrigar duas caixas d’águas de fibra de vidro com capacidade de
15.000 litros, no volume acima da circulação vertical (escada enclausurada e
elevadores).
8.1.2. Subsolos (Pranchas 02 e 03)
O ponto de partida para a solução funcional dos sobsolos foram as restrições
urbanísticas em relação a área permeável mínima do terreno (20%). De acordo com
as normas estabelecidas pelo Código de Obras da cidade de Natal, considerando o
edifício como um equipamento de escola preparatória, faz-se necessário a proporção
de uma vaga a cada 50 metros quadrados. Sendo assim, o edifício necessita de 40
vagas de estacionamento, que foram divididas entre os dois subsolos. O acesso aos
subsolos é dado por uma rampa única (inclinação = 20¨%), com um patamar do
primeiro para o segundo subsolo.
No primeiro subsolo, além do espaço destinado a garagem (17 vagas de
carros), tem-se a presença do teatro multiuso, ambiente rebaixado por necessitar de
um elevado pé direito para escalonamento das poltronas. Em complemento, também
se encontra neste pavimento o reservatório inferior e a sala de gerador.
O segundo pavimento, por sua vez, apresenta toda a sua área livre para o
estacionamento de veículos, contando com 28 vagas de estacionamento de carros e
6 vagas para estacionamento de motos.
Quanto ao dimensionamento das vagas, este obedeceu ao estabelecido pela
norma do artigo 110, capítulo 7 do código de obras, afirmando que podem ser
admitidas dimensões mínimas de dois metros e quarenta centímetros (2,40m) de
largura e quatro metros e cinquenta centímetros (4,50m) de comprimento para a vaga.
63
8.1.3. Pavimento térreo (Prancha 4)
O pavimento térreo é, entre todos, o que mais se integra com a implantação do
edifício, apresentando seus ambientes bastante recuados para a criação da praça de
passagem e convivência no interior do prédio. Nesse pavimento, destaca-se a
necessidade da separação dos espaços entre público e privado para que se
alcançasse a organização e a segurança da escola. O maior diferencial do pavimento
térreo é o teatro multiuso, que originou a criação do foyer e da bilheteria, assim como
dos ambientes de apoios e lanchonetes. Outro elemento de destaque no pavimento
térreo é a escada curva em L, que se apresenta também nos demais pavimentos a
fim de propor a circulação vertical, integração visual entre os pavimentos, e quebra
das formas ortogonais presentes em toda a composição do edifício.
8.1.4. Primeiro a terceiro pavimento (Pranchas 05, 06 e 07)
Nesses pavimentos estão dispostos, de fato, o programa necessário a escola
de artes performativas.
O primeiro pavimento, que dá uso a escola de música, foi localizado dentro do
zoneamento vertical para se situar no pavimento mais baixo entre os destinados
especificamente ao ensino. Tal escolha se justifica pelo conforto acústico, uma vez
que a escola de música é grande geradora de ruídos e portanto, quanto mais
rebaixada estiver, menor o campo de propagação da onda sonora. As questões
referentes a acústica também se fizeram presentes no zoneamento, uma vez que as
salas de estúdio e gravação estão localizadas nos fundos do lote a fim de favorecer o
isolamento acústico dentro desses ambientes,
Em todos os pavimentos, optou-se por concentrar as salas de aula (ambientes
de longa permanência) para as melhores fachadas. Nos casos em que houve a
necessidade de locar uma sala de aula em uma fachada menos favorecida, esta teve
suas aberturas voltadas para a melhor direção possível, buscando-se a melhor
solução em relação ao conforto térmico do edifício.
Mais uma vez tem-se o elemento da escada como objeto de destaque em cada
pavimento, que buscam a integração e junção entre as diferentes artes.
64
8.1.5. Quarto pavimento (Prancha 08)
O último pavimento do edifício apresenta sua conformação de modo a gerar o
escalonamento desejado para o bloco do edifício em relação a esquina da Avenida
Deodoro da Fonseca e a Rua Mipibu. Os usuários que se deslocam através da escada
central são recebidos nesse pavimento pela área de convivência da lanchonete, local
destinado a troca de talentos e valores entre alunos e professores. Além disso, o
pavimento também conta com uma biblioteca das artes e loja de artigos específicos.
Assim, o edifício seria composto por ambientes próprios de cada escola artística
(primeiro a terceiro pavimento), mas também teria um espaço de uso comum a todos.
8.1.7. Fachadas (Pranchas 11 e 12)
Os elementos de fachada da edificação buscam um retorno ao conceito do lego
estabelecido no início do processo projetual, formado por módulos distintos de chapas
microperfuradas de aço galvanizado, impressas em cores. Esse elemento de fachada
é repetido durante todo o prolongamento do edifício, tornando-se como uma segunda
pele para o prédio. Para ser eficaz na questão de conforto e permitir a passagem de
ventilação, as chapas estão afastadas 50 cm da parede externa do edifício, sendo
sustentadas por perfis metálicos e moduladas em duas diferentes proporções (chapa
inteira e metade). Quanto as cores escolhidas, essas visam remeter o aspecto lúdico
referente às artes, assim como lembrar, mais uma vez, do conceito de lego escolhido
para o projeto.
Figura 75: Chapas microperfuradas de aço
Fonte: http:// chapasperfuradas.net/
65
8.2. ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
8.2.1. Índices urbanísticos
Como já explicado, o Plano Diretor de Natal estabelece diversos índices e taxas
que devem ser atingidos na execução do projeto arquitetônico. O quadro de dados
urbanísticos da escola de artes perfomativas, bem como do seu respectivo terreno
estão expostas na tabela a seguir:
Quadro 10: Dados urbanísticos do terreno e da edificação
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
8.2.1. Sistema Construtivo
Uma vez que se objetivava a execução de uma estrutura modulada que
viabilizasse a concepção da flexibilidade dos ambientes internos, alcançado pela
utilização de divisórias em drywall, a estrutura deveria ser modulada nas duas
direções da estrutura. Para permitir a execução de grandes vãos, mantendo uma
estrutura esbelta que pudesse ser aparente e participar da composição do edifício (em
66
especial no pavimento térreo), optou-se pela utilização da estrutura metálica, que se
diferencia por possuir menor dimensão das peças e redução de carga nas fundações,
além de apresentar maior facilidade de vencer grandes vão.
Quadro 11: Modulação estrutural do edifício
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Dessa maneira, o edifício é composto por pilares metálicos de secção circular
(por motivos formais do próprio edifício), e vigas metálicas de perfil I. Para o
dimensionamento desses elementos estruturais, foram utilizados os gráficos
disponíveis no livro A Concepção Estrutural e a Arquitetura, de Yopanan C. P. Rebello,
que determina o pré-dimensionamento dos pilares metálicos em relação a quantidade
de andares, e das vigas em relação ao vão (figura 76 e figura 77).
Figura 76: Pré-dimensionamento de colunas de aço
Fonte: REBELLO, 2000
67
Figura 77: Pré dimensionamento de vigas de aço
Fonte: REBELLO, 2000
A partir dos gráficos estudados, identifica-se a necessidade do pilar com 30cm
de diâmetro (para sustentação de cinco pavimentos + dois subsolos), e a viga metálica
perfil I com altura de 40 cm (para vencer o vão de 7,20 metros).
Em relação a laje escolhida, optou-se pela utilização da laje pré-moldada de
concreto armado (duplo T), apoiada sobre as vigas metálicas, com altura total de 30
cm e cobrimento de 10 cm, para atender as necessidades de isolamento de ruídos.
Figura 78: Laje pré-moldada de concreto armado
Fonte: http://lajespatagonia.com/
68
8.2.2. Dimensionamento dos reservatórios de água
Para o cálculo de dimensionamento dos reservatórios de água foi realizada a
previsão do número de alunos na escola, estimando-se a quantidade de 400 alunos.
Sabendo que o consumo diário por aluno é de 50 litros, tem-se que o consumo diário
de água no equipamento é de 20.000 litros.
Para prevenir possíveis interrupções no abastecimento pela rede de água, foi
calculado um volume capaz de suprir dois dias sem água, resultando em um volume
total necessário de 40.000 litros. Uma vez calculado o volume necessário, o valor total
deve destinar 60% para o reservatório superior, e 40% para o reservatório inferior.
Além disso, no reservatório superior, deve-se somar 15% do volume diário como
reserva para casos de incêndio (consumo diário = 20.000 litros). Assim, o volume
necessário de água, bem como a reserva de incêndio necessária, é dado pelo cálculo
a seguir.
Reservatório superior: 40.000 x 0,60 + 3.000 = 27.000 litros
Reservatório inferior: 40.000 x 0,40 = 16.000 litros.
Ao pesquisar nas opções do mercado, foi escolhida a caixa d’água de fibra de
vidro, da marca FortLev.
8.2.3. Recomendações acústicas
Como já dito, o edifício não só recebe a propagação de ruídos advindos do
entorno, como também se comporta como uma fonte sonora para as proximidades.
Para isso, o edifício conta com uma preocupação no sistema construtivo, optando por
quatro tipos diferentes de paredes para melhor atender as diferentes funções de cada
ambiente, especialmente relacionada as funções acústicas.
No projeto, portanto, são encontradas paredes convencionais de alvenaria
(espessura total = 15 cm), paredes duplas de alvenaria (espessura total = 25 cm), e
divisorias em drywall comuns, e divisórias em drywall com isolamento acústico entre
as chapas.
69
Figura 79: Parede convencional de alvenaria
Figura 80: Parede dupla de alvenaria
Fonte: http://fkcomercio.com.br/ Fonte: http://dicascaseiras.com/
Figura 81: Divisórias no sistema drywall
Fonte: http://cerpolo.com.br/
Figura 82: Aplicação de isolamento acústico na vedação de drywall
Fonte: http:/.lusole.com.br/
70
Os quatro tipos de divisórias existentes no projeto refletem as necessidades
estruturais e acústicas de cada ambiente. No pavimento térreo, o teatro é inteiramente
construído com alvenaria dupla, a fim de isolar o ambiente gerador de ruídos do
restante da edificação. As demais paredes, por sua vez, são de alvenaria
convencionar, se forem paredes externas, ou drywall, para as demais divisórias
internas dos ambientes
Figura 83: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - pavimento térreo
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
No primeiro pavimento, destinado ao ensino da música, identifica-se a
necessidade de isolamento acústico nas salas de estúdio e gravação e nas salas de
aula.
71
Figura 84: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 1º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 85: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 2º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
72
Figura 86: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 3º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Figura 87: Ambientes que apresentam sistema construtivo com isolamento acústico - 4º pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
73
Além do tratamento das paredes e vedações do edifício, há a preocupação do
isolamento acústico em relação aos pisos, forros e esquadrias do edifício, para
alcançar o isolamento acústico entre os ambientes, além dos mais diversos materiais
que venham a proporcionar o condicionamento acústico, como poltronas e cortinas no
teatro, materiais adequados pelas suas propriedades absorventes.
Piso Vinílico Acoustic – Fademac
Descrição: Piso vinílico da linha acoustic com PVC expandido, promovendo a
diminuição de ruídos em até 13Db.
Figura 88: Piso vinílico Acoustic - Fademac
Fonte: http://catalogodearquitetura.com.br/
Forro de gesso acartonado com chapas perfuradas
Descrição. Forro de gesso acartonado com o uso de placas perfuradas que
auxiliam na absorção acústica, que é acentuada com o uso de lã mineral ou de lã de
vidro no entreforro.
Figura 89: Gesso acartonado com chapas perfuradas
Fonte: http:// knauf.com.br/
74
Manta Optima Piso – Isover
Descrição: Material usado para evitar a propagação de ruídos de impacto entre
os pavimentos. A instalação é feita entre a laje e contrapiso durante a construção do
edifício. Na cobertura, essa manta também é utilizada para adquirir o conforto térmico
e qualidade sustentável da edificação, que é coberto por diversos níveis de lajes
impermeabilizadas.
Figura 90: Manta Optima piso - Isover
Fonte: http://www.isover.com.br/
Janela de PVC acústica
Descrição: Janela de PVC acústico de vidro laminado 10 mm. Sendo o PVC um
material que, naturalmente, não conduz o som, com a instalação de vidros laminados,
duplos ou triplos, há a redução de ruídos entre 24 e 36dB.
Fonte: http://fazfacil.com.br/
75
Portas acústicas
Descrição: Como o propósito das portas e janelas acústicas é fornecer uma
barreira na passagem de som de um ambiente para outro. As portas acústicas são
utilizadas em ambientes onde a transmissão sonora deve ser evitada, em especial no
teatro multiuso no térreo e nas salas de estúdio e gravação localizadas no primeiro
pavimento destinado a escola de música.
Figura 91: Portas acústicas
Fonte: http://vibrasom.ind.br/
Figura 92: Esquema de composição da porta acústica
Fonte: http://logismarket.ind.br/
76
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho final de graduação realizado consistiu na elaboração de um anteprojeto
de uma escola de artes performativas para a cidade de Natal/RN, realizado em um
edifício de 5 pavimentos e atentando a diversos aspectos importantes da arquitetura,
como a flexibilidade da forma e dos ambientes, além da preocupação com o conforto
ambiental.
Durante a fase de execução do trabalho foram encontradas algumas dificuldades,
como aliar os aspectos funcionais absorvidos pelos estudos de referencia diretos com
a intenção plástica e conceito desejado, sendo este o maior desafio durante toda a
fase de evolução da proposta e desenvolvimento do projeto.
Apesar das dificuldades encontradas, acredita-se que o objetivo do trabalho foi
alcançado, atingindo a fase de concepção e solução de alternativas referentes a etapa
de anteprojeto.
Por fim, é fundamental ressaltar todo o conhecimento adquirido durante a toda a
fase de pesquisa e elaboração do projeto, sintetizando e colocando em prática o
conteúdo estudado durante todo o curso, contribuindo também para o aprendizado de
novos temas e questões da arquitetura não aprofundados durante a graduação.
77
REFERÊNCIAS
_________. Prefeitura Municipal de Natal. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Urbanismo. Plano Diretor de Natal: Lei complementar n. 082, de 21 de jun. de 2007.
Natal: SEMURB, 2007, 55 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
CÍRICO, Luiz Alberto. Arquitetura flexível: Soluções de projeto para flexibilizar
espaços. Disponível em: <
http://www.fag.edu.br/graduacao/arquitetura/editoral/arquiteturaflexivel.PDF>.
Acesso em: 15 abr. 2014.
NATAL. Prefeitura Municipal de Natal. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
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