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I
DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
Douglas D’Agostini
ANÁLISE MORFOLÓGICA DE PAISAGEM URBANA EM RUA DE PORTO ALEGRE:
estudo de ordem e arranjo como princípios do Designno projeto de mobiliários urbanos.
Porto Alegre
2011
II
DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
Douglas D’Agostini
ANÁLISE MORFOLÓGICA DE PAISAGEM URBANA EM RUA DE PORTO ALEGRE:
estudo de ordem e arranjo como princípios do Designno projeto de mobiliários urbanos.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Design.
Orientadora Prof. Drª. Lígia Maria Sampaio de Medeiros
Porto Alegre
2011
III
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D127a D’Agostini, Douglas Análise morfológica de paisagem urbana em Rua de Porto
Alegre: estudo de ordem e arranjo como princípios do design no projeto de mobiliários urbanos / Douglas D’Agostini. – Porto Alegre, 2011.
167 f.: il.; 30 cm.
Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário Ritter dos Reis, Mestrado em Letras, Porto Alegre, 2011.
Orientadora: Profª. Dra. Ligia Maria Sampaio de Medeiros.
1. Sinais e placas de sinalização – Projetos – Porto Alegre (RS). 2. Comunicação visual – Projetos – Porto Alegre (RS). 3. Morfologia urbana – Porto Alegre (RS). I. Medeiros, Ligia Maria Sampaio de.
CDU 711.68
Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis
IV
DOUGLAS D’AGOSTINI
ANÁLISE MORFOLÓGICA DE PAISAGEM URBANA EM RUA DE PORTO ALEGRE:
estudo de ordem e arranjo como princípios do Designno projeto de mobiliários urbanos.
Dissertação de Mestrado defendida e aprovada como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Design, pela banca examinadora constituída por:
_____________________________ Drª. Lígia Maria Sampaio de Medeiros
_____________________________ Drª. Raquel Rodrigues Lima
_____________________________ Dr. Marcos Brod Junior
PORTO ALEGRE 2011
V
À minha esposa Alessandra,
inspiração para minha persistência.
VI
Agradeço ao UniRitter pela estrutura oferecida para a realização deste trabalho. Aos
professores do Mestrado, que contribuíram com suas experiências acadêmicas ao
longo das aulas. Em especial aos professores Dr. Vinícius Gadis Ribeiro, Drª Silvia
Bertagnolli e Dr. Sidnei Renato Silveira, pelas orientações sempre pertinentes.
Aos colegas de Mestrado, pela amizade construída e pelos momentos de alegria
vividos neste período.
À professora Drª Raquel Rodrigues Lima, que foi fundamental em suas
considerações sobre este trabalho.
Ao professor e amigo Dr. Marcos Brod Junior, pelos conselhos e por me incentivar a
ingressar no Curso de Mestrado em Design.
Aos Mestres, orientadores e amigos, Dr. Luiz Vidal de Negreiros Gomes e Drª Lígia
Maria Sampaio de Medeiros, pelo conhecimento generosamente compartilhado e o
privilégio de poder ouvir suas palavras durante os momentos como aluno e
Orientando do Mestrado em Design.
Em especial à minha esposa Alessandra, pelo carinho e apoio durante este período
de dedicação a esta pesquisa. E, a Deus.
VII
I look for what needs to be done. After all, that’s how the universe designs itself.
R. Buckminster Fuller
VIII
RESUMO
As inúmeras transformações ocorridas nas estruturas das cidades, ao longo dos
últimos séculos, aumentaram as discussões sobre o ambiente em que os seres
humanos vivem. Dentro dessa perspectiva, um dos pontos mais relevantes diz
respeito à forma como entendemos o contexto urbano e, mais especificamente, o
estabelecimento de uma comunicação visual entre a cidade e seus habitantes. Se
por um lado, o excesso de suportes visuais representa um grau elevado de nossa
evolução em termos comunicacionais, através de códigos precisos e já assimilados,
por outro, questiona-se o caráter funcional dessa verdadeira almágama de
informações visuais dispostas no ambiente de uma cidade. Esta pesquisa busca
questionar o caráter funcional da comunicação visual de elementos do mobiliário
urbano no trajeto da Rua dos Andradas, em Porto Alegre, com o intuito de revelar
um processo de análise da paisagem urbana mediado por princípios do Design.
Palavras–chave: Cidade, Comunicação Visual, Design, Design em Ambientes.
IX
ABSTRACT
The many changes occurring in the structures of cities over the last centuries, have
increased discussions about the environment in which humans live. Within this
perspective, one of the most relevant with regard to how we understand the urban
context and more specifically, the establishment of a visual communication between
the city and its inhabitants. On the one hand, excessive visual media represents a
high degree of communication in our evolution, through accurate and codes already
assimilated the other hand, questioned whether the functional character of this true
amalgam visual information arranged in a city environment . This research seeks to
question the functional nature of visual communication elements of street furniture in
the path of the Andradas Street, in Porto Alegre, in order to reveal a process of
analysis of urban landscape mediated by Design principles.
Key - Words: City, Visual Communication Design, Environmental Design.
X
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
CAPÍTULO I
1.1 A CIDADE ......................................................................................................................... 6
1.1.1 Origens Urbanas .......................................................................................................... 7
1.1.2 A Cidade Moderna ..................................................................................................... 10
1.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ........................................................................................... 12
1.2.1 Transformação Tecnológica ..................................................................................... 14
1.2.2 Mobilidade Social ...................................................................................................... 16
1.2.3 Aumento Populacional e Concentração Urbana .................................................... 19
1.2.4 Alteração nos Padrões de Consumo ....................................................................... 22
1.3 A CIDADE DE PORTO ALEGRE ................................................................................... 25
1.4 A RUA DOS ANDRADAS ............................................................................................... 28
1.4.1 Aspectos da Ocupação da Rua dos Andradas ....................................................... 31
CAPÍTULO II
2.1 PAISAGEM URBANA ..................................................................................................... 35
2.1.1 A Visão Serial da Paisagem Urbana ........................................................................ 38
2.1.2 Classificação dos Elementos Urbanos .................................................................... 39
2.1.3 Elementos de Vegetação no Ambiente Urbano ...................................................... 42
2.1.4 Elementos Complementares no Ambiente Urbano ................................................ 44
2.1.5 Mobiliário Urbano ...................................................................................................... 46
2.2 ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO .................................................................................. 50
2.2.1 Campos Visuais na Escala Urbana .......................................................................... 53
2.3 POLUIÇÃO VISUAL NA PAISAGEM URBANA .............................................................. 55
2.3.1 Definição de Termos ................................................................................................. 57
2.3.2 Conceitos de Poluição Visual ................................................................................... 61
2.3.3 Aspectos da Poluição Visual .................................................................................... 70
2.3.4 Aspecto Psicofisiológico da Poluição Visual ......................................................... 71
2.3.5 Aspecto Jurídico da Poluição Visual ....................................................................... 75
2.3.6 A Poluição Visual da Publicidade no Ambiente Urbano ........................................ 76
2.4 COMUNICAÇÃO VISUAL ............................................................................................... 79
2.4.1 Pesquisa em Comunicação Visual ........................................................................... 82
2.5 PERCEPÇÃO DA MENSAGEM VISUAL ....................................................................... 83
XI
CAPÍTULO III
3.1 METODOLOGIA ............................................................................................................. 88
3.1.1 Metodologia de Pesquisa .......................................................................................... 94
3.1.2 Metodologia Geral ..................................................................................................... 95
3.1.3 Metodologias Específicas ....................................................................................... 100
3.1.4 Método de Pesquisa ................................................................................................ 108
CAPÍTULO IV
4.1 RECORTE DA PESQUISA ........................................................................................... 112
4.2 LEVANTAMENTO DE DADOS NA RUA DOS ANDRADAS ........................................ 113
4.3 COLETA DE DADOS .................................................................................................... 115
4.3.1 Trecho A – Rua General Salustiano / Rua General Portinho ............................... 116
4.3.1.1 Principais Características do Trecho A ................................................................... 117
4.3.1.2 Elementos Urbanos do Trecho A ............................................................................ 117
4.3.2 Trecho B – Rua General Portinho / Rua General Bento Martins ......................... 118
4.3.2.1 Características do Trecho B ................................................................................... 118
4.3.2.2 Elementos Urbanos do Trecho B ............................................................................ 119
4.3.3 Trecho C – Rua General Bento Martins / Rua Caldas Júnior .............................. 120
4.3.3.1 Características do Trecho C ................................................................................... 121
4.3.3.2 Elementos Urbanos do Trecho C ........................................................................... 121
4.3.4 Trecho D – Rua Caldas Júnior / Rua General Câmara ......................................... 121
4.3.4.1 Características do Trecho D ................................................................................... 122
4.3.4.2 Elementos Urbanos do Trecho D ........................................................................... 123
4.3.5 Trecho E – Rua General Câmara / Rua Marechal Floriano Peixoto .................... 123
4.3.5.1 Características do Trecho E ................................................................................... 124
4.3.5.2 Elementos Urbanos do Trecho E ............................................................................ 124
4.3.6 Trecho F – Rua Marechal Floriano Peixoto / Rua Doutor Flores ......................... 124
4.3.6.1 Características do Trecho F ................................................................................... 125
4.3.6.2 Elementos Urbanos do Trecho F ............................................................................ 126
4.3.7 Trecho G – Rua Doutor Flores / Avenida Independência .................................... 126
4.3.7.1 Características do Trecho G ................................................................................... 127
4.3.7.2 Elementos Urbanos do Trecho G ........................................................................... 127
4.4 AVALIAÇÃO DOS DADOS COLETADOS .................................................................... 128
CAPÍTULO V
5.1 ANÁLISE FORMOLÓGICA SEGUNDO PRINCÍPIOS DO DESIGN ............................ 129
5.1.1 As relações de Figura e Fundo na Paisagem urbana .......................................... 131
5.1.2 As relações de Similaridade na Paisagem Urbana ............................................... 133
XII
5.1.3 As relações de Acessibilidade na Paisagem Urbana ........................................... 135
5.2 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ................................................................................ 137
5.2.1 Análise do Trecho A da Rua dos Andradas .......................................................... 140
5.2.2 Análise do Trecho B da Rua dos Andradas .......................................................... 142
5.2.3 Análise do Trecho C da Rua dos Andradas .......................................................... 145
5.2.4 Análise do Trecho D da Rua dos Andradas .......................................................... 148
5.2.5 Análise do Trecho E da Rua dos Andradas .......................................................... 149
5.2.6 Análise do Trecho F da Rua dos Andradas .......................................................... 152
5.2.7 Análise do Trecho G da Rua dos Andradas .......................................................... 154
5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ANÁLISES ................................................................ 157
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 159
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 163
1
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, busca-se o desenvolvimento de uma análise morfológica da
composição visual formada pela paisagem urbana e os elementos do mobiliário
urbano que, identificados como produtos desenvolvidos através de um projeto, e
fabricados de maneira seriada, são dispostos ao longo do trajeto da Rua dos
Andradas, localizada no Centro da cidade de Porto Alegre. O objetivo é sistematizar
um conjunto de procedimentos que, acredita-se, poderão ser úteis ao planejamento
de espaços urbanos melhores. Para isso, considera-se que a incidência, bem como
o acúmulo desses mobiliários, como postes de iluminação, lixeiras, bancos, placas
de sinalização, etc., quando inseridos de maneira mal planejada no contexto urbano,
podem prejudicar visualmente a ordem e o arranjo do ambiente de uma cidade.
Dentro dessa perspectiva, levam-se em conta os parâmetros de projeto, aparados
por Princípios do Design, e que podem ser associados às principais correntes
teóricas sobre a análise do espaço urbano, de modo a contribuir ao conhecimento
do projetista que trabalha para melhorar esses ambientes.
No artigo “A questão da ética e da estética no meio ambiente urbano ou porque
todos devemos ser belezuras” publicado em 2001 no sítio virtual Vitruvius, os
autores Minami & Guimarães Júnior afirmam: “Quando se pensa numa cidade,
pensa-se sempre em funcionalidade. (...) Embora a preocupação com a
funcionalidade seja a mais evidente, é certo que não deve ser a única” (MINAMI,
GUIMARÃES JR, 2001, disponível em http://www.vitruvius.com.br)
Desta forma, além da questão funcional é importante que se estabeleça uma
orientação estética da paisagem urbana, mesmo que este conceito seja subjetivo.
Os elementos que compõem o cenário urbano devem estar ordenados de
forma harmônica, que possa ser apreciada. A função estética da paisagem
urbana deve ser levada em conta pela Administração em toda e qualquer
intervenção urbanística e sua proteção e garantia devem ser disciplinadas
em lei. (MIMANI; GUIMARÃES JR., 2001)
Sabe-se que o compromisso e cuidados com a paisagem urbana ultrapassam as
questões funcionais e estéticas de uma cidade. Neste sentido, “aspectos culturais,
ecológicos, ambientais e sociais devem ser considerados” iniciando-se uma
2
complexa discussão, que envolva diversos níveis de participação, e entendimento
tanto dos interesses público quanto privado, afinal, como reforçam os autores,
... o julgamento de padrões estéticos será sempre subjetivo, e a imposição
de um padrão oficial de estética seria autoritária. Algum grau de consenso,
no entanto, pode haver em relação à beleza de elementos naturais em geral
(vegetação, céu, lagos, rios e praias) e até de elementos artificiais
(monumentos, prédios históricos com características marcantes de
determinado estilo e fachadas visualmente desobstruídas). (MIMANI;
GUIMARÃES JR., 2001)
Dentro dessa perspectiva, o presente estudo busca compreender as formas como
poderiam ser atendidos os interesses públicos e privados na adequação visual de
ambientes urbanos que possuem a concentração de elementos do mobiliário urbano
que, de alguma forma, prejudicam o funcionamento dos mesmos e acabam
provocando, conseqüentemente, pela falta de ordem e arranjo, a degradação da
paisagem urbana de nossas cidades.
A abordagem aqui adotada entende o Design em sua concepção mais ampla,
aquela onde o projeto representa uma possibilidade de intervenção completa em
ambientes, comunicações e artefatos, como recomenda Potter (2002). Desta forma,
engenheiros, arquitetos e desenhistas industriais considerando suas competências
particulares, mas objetivando a convergência de seus esforços, poderiam contribuir
como orientação ao planejamento visual dos espaços públicos, visando assim trazer
maior equilíbrio aos ambientes urbanos.
Algumas iniciativas já foram observadas no Brasil para uma ordenação do ambiente
urbano. No ano de 2007, na cidade de São Paulo, foi implementada a Lei “Cidade
Limpa” com a proposta de evitar o uso indiscriminado de elementos publicitários nas
vias públicas daquela cidade. O intuito da lei não foi proibir a manifestação visual de
anunciantes, mas sim, promover a reorganização dos suportes das mensagens,
realocando-os adequadamente para que não interferissem de forma agressiva na
paisagem urbana. Esse planejamento se estende para a ordem e arranjo de outros
elementos urbanos tais como abrigos de ônibus, relógios de rua, cabines telefônicas,
entre tantos outros que, hoje em dia, fazem parte do espaço onde os cidadãos de
uma cidade transitam.
3
Em Porto Alegre, no início de 2011, por iniciativa da ApDesign – Associação dos
Profissionais em Design do Rio Grande do Sul – abriu-se também a possibilidade de
uma discussão mais aberta sobre o efeito da falta de ordenação na comunicação
visual da cidade. A campanha “Quero Ver Porto Alegre” foi lançada visando não
apenas chamar a atenção da população e de autoridades para os problemas
decorrentes do caos instaurado por mensagens visuais no ambiente urbano, mas
também, promover ações que protejam a paisagem característica da cidade.
Anterior a esta iniciativa da ApDesign, em 2005, através da Secretaria Municipal do
Meio Ambiente de Porto Alegre – SMAM –, havia sido lançada a campanha “Porto
Visual Alegre”, com a intenção de, entre outras coisas, promover a educação de
lojistas quando da utilização letreiros em suas fachadas. Entretanto, hoje, não se
percebem os resultados das atividades realizadas por esse programa devido à
descontinuidade no processo educacional dos grupos de lojistas e à falta de
fiscalização permanente.
A respeito disso, possuímos leis federais, estaduais e municipais, que de alguma
forma protegem os direitos dos cidadãos em usufruir de uma paisagem urbana
menos degradada, mesmo em termos visuais. Ou seja, os mecanismos legais estão
fixados, mas não são cumpridos. Entretanto, não podemos dizer que somente a falta
de fiscalização justifica esses problemas. Na verdade, o projeto e desenho dos
elementos urbanos, tais como lixeiras, sinalização viária, postes de iluminação, entre
outros, se impõe como um assunto a ser debatido, como forma de avaliarmos o
estado atual de implementação desses artefatos no ambiente urbano.
O objetivo principal deste estudo, portanto, concentra-se em uma análise
morfológica da paisagem urbana na Rua dos Andradas, em que se destaque a
utilização de parâmetros para a avaliação do impacto visual do mobiliário urbano
quando inserido em locais específicos do trajeto desta via, que está localizada no
centro de Porto Alegre. As noções de ordem e arranjo serão exploradas como
princípios fundamentais para o projeto desses elementos urbanos e sua composição
dentro do cenário urbano. Para isso, utilizaremos um conjunto de Princípios de
Design recomendados por Lidwell et. al. (2003) na avaliação dos diferentes cenários
urbanos encontrados nesta via.
4
Uma base conceitual e teórica para o estudo foi estabelecida a partir da explanação,
ainda que resumida, sobre o desenvolvimento das cidades, e como a forma de viver
nelas se alterou ao longo dos tempos, ressaltando momentos chave de seu
crescimento. O Capitulo Um deste trabalho, então, apresenta algumas referências
históricas para o entendimento dessa evolução. São apresentados os dados sobre a
formação das aldeias antigas, as revoluções urbanas, as características das cidades
modernas, e as transformações aceleradas após a Revolução Industrial.
Considerações são feitas a respeito do aumento vertiginoso da população nas
cidades e como esse fato demográfico nos atinge como cidadãos e como
profissionais de atividades projetuais. Entende-se que, se por um lado, o aumento
no número de pessoas morando numa cidade pode conduzir ao caos urbano, por
outro lado, é justamente essa demanda exige estudos e ações cada vez mais
responsáveis e eficientes para lidar com a complexidade do problema.
A cidade de Porto Alegre é apresentada brevemente em sua história e
características para posicionar o leitor no contexto do trabalho, bem como se traça a
formação da paisagem urbana da Rua dos Andradas ao longo do tempo. Registros
fotográficos do percurso realizado na Rua dos Andradas foram incluídos nesta
pesquisa, pois essas imagens serão relevantes para a análise em seções
posteriores.
No Capítulo Dois, a complexidade percebida na paisagem urbana contemporânea é
examinada a partir de conceitos sobre a poluição visual. A revisão da literatura sobre
o assunto naturalmente conduziu a uma organização de termos que seriam
contemplados no discurso aqui construído. Desta forma, o segundo capítulo
apresenta não apenas os conceitos de poluição visual segundo autores que vêm se
dedicando ao tema, como inclui considerações sobre aspectos psicofisiológicos e
jurídicos relacionados a ela. Comenta-se, particularmente, a poluição decorrente dos
excessos de informação publicitária no ambiente urbano. Considerações são feitas
sobre o papel que a comunicação desempenha no mundo moderno e sobre a
responsabilidade dos profissionais que se encarregam do projeto de mensagens e
seus suportes físicos.
O Capítulo Três descreve a metodologia da pesquisa aqui empreendida. Inicia-se
pontuando as dificuldades em se posicionar uma pesquisa desenhística no contexto
5
acadêmico, muito mais familiarizado com pesquisas científicas e humanísticas
(CROSS, 2007). Traça-se um panorama das metodologias gerais e específicas
apropriadas à pesquisa proposta, detalhando-se seus procedimentos e técnicas para
coleta, registro e análise dos dados.
No Capítulo Quatro serão apresentados os dados da coleta de informações
realizada na Rua dos Andradas, como a delimitação da abrangência do que seria
estudado e tomado como dado importante para esta pesquisa. Descrevem-se de
maneira geral as impressões sobre o funcionamento desta via, aspectos relevantes
de sua paisagem e morfologia. Apresenta-se a divisão dos Trechos e a identificação
de suas características de funcionamento, onde se descreve também o cenário
urbano, formado por suas paisagens e os elementos que a compõe.
O Capítulo Cinco contribui com a convergência dos principais conceitos
apresentados, em fases analíticas do problema exposto, com os métodos utilizados
dentro da área do Design. Com isso, é defendida a utilização do que se consideram
os principais pontos da análise proposta por esta pesquisa, que são: o ambiente, o
usuário e a informação, mediados por princípios do Design no auxilio à análise
morfológica da paisagem urbana. O conjunto de Logogramas gerados para as
análises apoiou-se nos conceitos adotados na didática do ensino projetual como
forma de tornar sua sistematização de fácil assimilação tendo em vista a linha de
pesquisa adotada neste trabalho.
Assim, a análise da forma como se comporta o mobiliário urbano, em seu
planejamento, ordem e arranjo com o cenário da Rua de uma cidade, reserva-se
como uma das iniciativas essenciais para a construção de ambientes urbanos
melhores, e do que será deixado como legado para as futuras gerações. Não se
pode negar que o crescimento desenfreado do último século, praticamente estagnou
a consciência projetual de nossas cidades, no sentido de que o mobiliário urbano,
como paradas de ônibus, sinalizações viárias, entre outros, possuem um estrutura
padronizada que simplesmente são fixados no corpo da cidade sem levar em
consideração o contexto em que estão sendo inseridos. Em outras palavras, nos
falta um projeto orientado estipulando um limite máximo desses elementos dentro de
determinado perímetro, além da readequação da funcionalidade dos mesmos nos
locais onde se encontram.
6
CAPÍTULO I
1.1 A CIDADE
Uma cidade é, acima de tudo, um espaço de interações, sendo estas de caráter
público ou privado. Nos dias de hoje, este espaço parece ter atingido seu ponto alto
em termos de organização social e distribuição perimetral. Muitas atividades com
suas múltiplas conexões ocorrem no seio desta construção que essencialmente é
fruto da engenhosidade de projetos do homem. Desde sua incipiente forma de
distribuição territorial, ainda no período Neolítico, quando surgiram as primeiras
evidências da ação do ser humano no ambiente, até os modernos conceitos de
urbanização de uma cidade, percorremos por inúmeras transformações de ordem
social, tecnológica e urbanística, sem contar as outras inúmeras intervenções
políticas, ideológicas e econômicas.
Mas, em sua definição mais contemporânea, segundo Ferreira (2001, p.161-162) a
cidade constitui-se num “complexo demográfico formado por importante
concentração populacional não agrícola e dada a atividade de caráter mercantil,
industrial, financeiro e cultural”. Enfim, temos um quadro bem claro do conceito
moderno de cidade, pois não reflete somente o hábito dos seres humanos
concentrarem-se dentro de um determinado espaço, mas, efetivamente, deflagra as
relações que estes estabelecem dentro do ambiente em que vivem. Relações estas
que representam a pura forma de um sistema interativo, onde o homem se comunica
e recebe comunicação num circulo infinito de possibilidades e trocas de mensagens,
seja dentro de espaços públicos ou privados.
7
Desta forma, para que possamos compreender o status quo do ambiente urbano em
que vivemos de uma forma clara, sentimos a necessidade de averiguar sua
evolução e, conseqüentemente, destacar os períodos importantes de sua história,
como contribuição fundamental para revelar-se de que forma os fenômenos que
incidem nas metrópoles modernas surgiram, mesmo que se encontre uma resposta
talvez óbvia, dada evolução natural de suas estruturas construídas. O objetivo neste
ponto é trazer a luz dos estudos desta pesquisa evidências da forma como os seres
humanos, em diferentes épocas, equacionavam seus problemas territoriais diante
principalemente de sua evolução intelectual, social e tecnológica.
1.1.1 Origens Urbanas
(...) todo diseño deriva de impressiones del pasado, conscientes o subconscientes, y el paisaje colectivo moderno se inspira em los jardines y parques históricos y em formas que fueron creadas en su día por motivos sociales completamente distintos. (JELLICOE, 1995, p.7)
O mundo primitivo forneceu aos homens um ambiente de extrema hostilidade.
Dentro desse cenário de sobrevivência, o primitivo sabia que, ao menos
instintivamente, o melhor abrigo ainda estava no que o próprio ambiente poderia
oferecer, através de fendas em rochas, sombras de árvores e outros espaços que
pudessem representar um lugar seguro, distante dos perigos eminentes da natureza,
e para Benevolo (1983, p.13) a ação do homem primitivo sobre o espaço que o
circundava “não passava de uma modificação superficial do ambiente natural”.
Dentro dessa idéia, também, Jellicoe (1995, p.7) afirma que, uma das razões para
que o mundo e o desenho de sua paisagem identifiquem-se “como uma arte mais
ampla”, é o fato do homem sair de seu estado inicial de um reles animal para “criar
em seu entorno um ambiente que não é mais do que uma projeção sobre a natureza
de suas próprias idéias abstratas”.
Para Benevolo (1983, p.16) o ambiente deixou de ser um abrigo da natureza para se
tornar em “um fragmento de natureza transformado segundo um projeto humano”
durante o período Neolítico. Esta é uma afirmação que revela, entre outras coisas, o
grau de evolução na intervenção que o homem primitivo obteve a partir do ambiente
a sua volta nesse período. Se o homem foi capaz neste momento de perceber que
8
sua ação na natureza modificava o espaço físico ao seu redor, então, trata-se de um
importante momento na história da ocupação territorial.
É preciso destacar, no entanto, que dentro da evolução continua dos espaços
físicos, construídos pelo homem, em seus diferentes períodos, a cidade nasceu das
antigas aldeias, mas, essencialmente não se constitui simplesmente na
conseqüência do crescimento delas, e sim, na organização da própria sociedade
que a habitava. Desta forma, segundo Benevolo (1983, p.23) a cidade é fruto do
surgimento de dois grupos sociais distintos: os dominantes, cujo trabalho
especializado concentra-se nas indústrias e nos serviços, que não são mais
executados pelos que cultivam o campo, e os subalternos, que agora oferecem seu
trabalho no campo para manter o outro grupo com o excedente das produções
dentro das cidades. Assim, evoluem os serviços e indústrias especializadas dentro
do perímetro das cidades e passam a oferecer à produção agrícola no campo o
resultado de seu desenvolvimento instrumental.
É neste momento que surge um salto evolutivo na composição econômica e
estrutural das cidades, uma espécie de descompasso, que segundo Benevolo (1983,
p.26) “(...) assinala o tempo da nova ordem civil.” tendo em vista as lentas
transformações do campo, e em contra partida, as rápidas transformações sentidas
na organização das atividades exercidas dentro das cidades pela classe dominante
que passava exercer influência sobre toda a sociedade.
Nesse novo cenário chamado de “Revolução Urbana” o domínio sobre técnicas na
produção e cultivo no campo e a evolução tecnológica de alguns instrumentos
levaram as civilizações a expandirem-se em termos populacionais, comerciais e
territoriais. O homem passou a dominar sua produção, seu território e estabelecer
uma nova ordem econômica, principalmente com a concentração do excedente
produzido no campo sendo distribuído dentro da cidade.
Basicamente, era na demarcação que dividia o meio ambiente natural do meio
ambiente artificial que cresciam as antigas civilizações, ao passo que, muitas delas
formavam Estados independentes. Esta nova situação impunha limites ao
desenvolvimento econômicos e fazia com que surgissem os primeiros impérios, que
passavam a controlar toda uma região dominada pela força de seu poder.
9
As antigas civilizações formaram sua base estrutural, enquanto cidade, de acordo
com seus movimentos sociais, que não deixavam de levar em consideração a
organização política e econômica instaurada dentro do espaço físico que habitavam.
A dita “Revolução Urbana” convergiu avanços tecnológicos obtidos pelo
aprimoramento do instrumental dos pequenos grupos que se instalavam dentro da
cidade, o que conseqüentemente levou a uma nova estrutura social onde classes
dominantes eram abastecidas pelo excedente produzido no campo, além disso, um
novo sistema político pode estabelecer a divisão clara entre espaços públicos e
abertos daqueles locais mais restritos aos reis e sacerdotes, tudo isso dentro da
composição física das cidades cercadas por muros e valas.
Estas sociedades construíram valores próprios de organização territorial que
invariavelmente voltavam-se para o acúmulo dos provimentos resultantes do grande
excedente produtivo da agricultura, e assim erguiam incríveis construções que são
reconhecidas por sua magnitude até os dias de hoje. Entretanto, a composição da
cidade em si, manteve-se uniforme, pois as estruturas sociais da época
consolidaram-se entre àqueles que habitavam suas grandes cidades ordenadas nos
espaços privados de suas casas e seus serviços especializados, e aqueles que
regiam todas as regras de convivência e comportamento como os governantes
dispostos em espaços mais imponentes, possível resultado do próprio poder que
tinham sobre suas civilizações.
Antigas civilizações e sua organização social permaneceram conforme as estruturas
que surgiram há milênios, com a divisão clara entre os governantes e o povo
governado, entre a produção agrícola e a produção e prestação de serviços
especializados, entre o campo cultivado e a cidade construída, e essa influência,
pode-se dizer, é percebida em menor escala também até os dias de hoje. O que se
transforma, fundamentalmente, são as construções do meio ambiente artificial, que
surgem a partir de revoluções tecnológicas fruto da evolução do homem sobre seus
processos de construção e a necessidade da produção de instrumentos para suas
atividades.
10
1.1.2 A Cidade Moderna
Para Benevolo (1978, p.169) os pontos de vista, tanto da propriedade privada
quanto da propriedade pública se contrapõem entre si, e “a ordenação da cidade
depende de qual dos pontos de vista prevalece.” Neste sentido existe uma
predominância do ponto de vista privado sobre o público na cidade tradicional que,
segundo Benevolo (1978), pode ser organizada em habitações privadas menores,
como casas pequenas, e em grandes edifícios.
Mas, um dos aspectos importantes levantados por Benevolo (1978) diz respeito ao
fato do conceito de arquitetura moderna não aceitar a visão de que exista,
fundamentalmente, um ponto de vista privado e outro público. Em uma análise
científica do tema, a partir do olhar sobre os estudos da arquitetura moderna, o que
se propõe é “estabelecer os tipos de casas segundo as exigências dos habitantes”.
Desse modo, existe uma definição bastante clara neste ponto de vista entre duas
partes no desenho de uma cidade, que são:
1. A habitação por conta própria, como unidade mínima arquitetônica e célula
fundamental da cidade;
2. O bairro como associação primaria que compreende certo número de
habitações com seus serviços coletivos.
Benevolo (1978, p.169) defende a idéia de que é justamente esta contraposição de
pontos de vista citados que estabelece uma dificuldade na aceitação do que é
estabelecido pela arquitetura moderna. Essa constatação revela, entre outras
coisas, o estado real da situação em que vivemos nas cidades e o problema de
poluição visual. É justamente no debate entre a interferência do espaço privado
sobre o público que decorrem as principais reivindicações de melhoria e
normatização de elementos visuais na paisagem urbana. E para isso Benevolo
(1978) ressalta que o estudo sobre a matéria resultante da ocupação territorial nas
cidades deve iniciar pelos aspectos que compõem o ponto de vista público.
(...) no considerar inamovibles las formas tradicionales de vivienda que cristalizan las formas de propriedad, por el contrario analizarlas para ver em qué medida satisfacen las exigencias de los habitantes: la exigencia de tener uma vivienda adecuada com um cierto equipo de servicios colectivos. (BENEVOLO, 1978, p.169)
11
A partir da década de trinta as funções urbanas são melhor assimiladas e
distinguidas de forma a estabelecerem-se com o mínimo de interferência possível
entre elas. Benevolo (1983, p.657) afirma que desta época em diante “os planos
reguladores distinguem as zonas residenciais, as zonas industriais, as zonas para os
serviços, etc.” e assim acabam por serem “reduzidos os inconvenientes que derivam
da mistura das funções na cidade tradicional”. Isto, certamente, reflete-se na
composição urbana das cidades, estabelecendo uma lógica de uso dos espaços
dentro de uma cidade. O que se percebe, é o esforço em delimitar um espaço
central ou deslocado o suficiente dos limites periféricos da cidade para uso das
relações de serviços e do comércio, deixando que determinadas zonas,
principalmente afastadas do grande centro urbano, sejam utilizadas como áreas de
concentração das moradias dos habitantes e as áreas de lazer. Conseqüentemente,
a organização do fluxo de pedestres e veículos é distribuída de maneira planejada
com a construção de vias arteriais que levam o tráfego de uma zona a outra cidade,
deixando as vias secundárias para a delimitação e organização dos quarteirões de
um bairro.
É evidente que toda esta organização se deve a uma série de acontecimentos que
culminaram no estado do cenário urbano que presenciamos hoje. As transformações
geradas pela industrialização do mundo moderno, principalmente as ocorridas
durante o período da Revolução Industrial, são apontadas por muitos autores como
os motores do progresso tecnológico e, conseqüentemente, da construção das
grandes cidades, seja no aspecto demográfico a partir dos deslocamentos das
populações rurais para as metrópoles, seja pela oportunidade de estar próximo das
ofertas de trabalho.
12
1.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
As profundas transformações ocorridas no final do século XVIII mudaram
radicalmente não só nossa história como também o comportamento de toda a
sociedade, que, acostumada com processos produtivos manufaturados passou a ter
que, abruptamente, reconhecer no progresso técnico o fator principal de sua
evolução em um sentido mais amplo. Essas transformações são listadas por
inúmeros autores que, ao longo da história e em diferentes momentos contribuíram
com pontos de vista sobre a Revolução Industrial, quando esta, era ligada aos
estudos da política, economia e antropologia em diferentes períodos.
Para Arruda (1994, p.8) a Revolução Industrial é uma conjunção de fatores “com
suas raízes fundidas na crise do sistema feudal, que consolida o modo de produção
capitalista, instaurando um sistema econômico-social, com sua forma peculiar de
Estado e ideologia específica.” Dentro desse conceito é possível afirmar que o
processo de transformação ocorrido com a Revolução Industrial despertou uma nova
rotina na organização das sociedades. Mas a percepção do que ela representava
em termos de mudança foi discutida em diferentes épocas e levou uma dezena de
vertentes teóricas nos mais diversos campos do saber.
Durante o século XIX a expressão “Revolução Industrial” significou muito mais uma
condição política do que algo que estaria relacionado à economia. Mas, o fato é que,
existiram diversos fatores que combinados entre si caracterizaram esse período de
nossa história, o qual, por ter a marcante participação principalmente do progresso
técnico, adquiriu uma associação direta com a rápida industrialização que foi
originada na Inglaterra.
Mas, foi no século XX, mais precisamente que, estudos sobre os fatores que
culminaram nas transformações sociais advindas da Revolução Industrial puderam
ser amplamente debatidos, agora, já com contribuições mais acadêmicas das áreas
da economia, da sociologia, entre outras. E neste mesmo século, pode-se dizer,
ramificaram-se os pontos de vista sobre a matéria.
Podemos destacar os principais fatores que contribuíram para as transformações de
modo geral em nossa sociedade no período da Revolução Industrial, e que são
citados por diversos autores, segundo Arruda (1994), como Toynbee (1884), Ashley
13
(1882), Gilboy (1932), John (1950), Deane e Cole (1962), e Ashton (1948). Entre os
fatores que modificaram consideravelmente nossa estrutura social destacam-se,
segundo esses autores:
Aumento populacional;
Transformações agrícolas;
Passagem de um sistema corporativo para um sistema competitivo;
Mobilidade social;
Alteração nos padrões de consumo;
Expansão de mercados;
Acumulo de capitais;
Fenômeno comercial;
Aumento do crédito;
Surgimento da maquinaria;
Transformação tecnológica.
Dentre os itens listados, há de se destacar pelo menos quatro deles (grifados
acima), cuja interferência nos padrões de vida, assistidos atualmente, merece uma
atenção maior a título de juntarmos causa e conseqüência diante da matéria
proposta por esta pesquisa. Neste sentido, cabe chamar a atenção para o ponto de
vista de Arruda (1994, p.16), quando este autor expõe de forma clara que a
historiografia da Revolução Industrial divide-se em duas grandes ramificações: a) A
perspectiva de continuidade, em que os fatores que contribuíram para as
transformações sociais no período da Revolução Industrial seriam uma simples
evolução de acontecimentos que lentamente levariam aos progressos assistidos; b)
A perspectiva da ruptura qualitativa e quantitativa, onde se destacam os momentos
de modificação radical principalmente nas relações sociais (ruptura qualitativa) e
conseqüentemente “determinam o salto de indicadores quantitativos.”
É justamente, neste sentido, o da ruptura qualitativa e quantitativa, que se
enquadram os fatores que destacaremos neste tópico da pesquisa, que são: a)
Transformação tecnológica; b) Mobilidade social; c) Alteração nos padrões de
14
consumo; e c) Aumento populacional. Mais precisamente, identificam-se esses
fatores como os promotores de uma nova ordem social, que refletem as
transformações em nosso meio urbano e no comportamento de seus habitantes.
1.2.1 Transformação Tecnológica
O período que antecede a Revolução Industrial é caracterizado essencialmente
como um momento de transição, em que o sistema feudal, já em crise, começa a dar
espaço a uma nova estrutura de produção capitalista. Nesse período, a manufatura
destacava-se ainda como um modelo de produção mais avançado dentre os
diversos sistemas produtivos existentes. Esse ponto é importante ser destacado,
pois, tendo em vista que foi a partir da manufatura que se ampliou a necessidade de
uma evolução tecnológica nas indústrias podemos identificar as reais causas dessa
evolução técnica.
O fato é que, obviamente, por haver um limite técnico na capacidade de produção
humana, e que só poderia ser superado pela substituição do homem pela máquina,
o modo de produção manufaturado chega a um limite insuperável, o limite humano.
Limite este que, nem mesmo com o crescimento da força produtiva em termos
quantitativos poderia dar conta das demandas de produção cada vez maiores.
Figura 1. Sistema de manufatura têxtil no período pré-revolução industrial.
Fonte: desconhecida.
15
Ainda sobre esse ponto, há de ser destacado o problema da escassez de mão-de-
obra nas manufaturas, que agora viam o contingente trabalhador deslocar-se em
busca da oferta de trabalho no campo. É neste cenário, em que culmina a falta de
mão-de-obra, com o próprio limite físico do trabalhador, que a maquinaria é
introduzida como uma nova força produtiva capaz de dar vazão ao processo
produtivo da época.
Segundo Arruda (1994, p.48-49) é a partir do surgimento da maquina simples,
definida “como um mecanismo que sob o impulso de uma força motriz simples
executa os movimentos compostos de uma operação técnica, antes efetuada por
vários homens”, que surge a máquina-ferramenta, a qual da partida a Revolução
Industrial do século XVIII. Basicamente, a introdução deste mecanismo revolucionou
o modo de produção, pois extrapolava os limites humanos que a ferramenta normal
de um artesão poderia ultrapassar. Seu principio básico era tornar o “emprego da
energia humana meramente acidental”, e desta forma, “o homem passa a atuar
apenas como força motriz numa máquina-ferramenta, ao invés de atuar com a
ferramenta sobre o objeto de seu trabalho.”
A máquina da qual nasce a Revolução Industrial substitui o trabalhador que manipula apenas uma ferramenta, por um mecanismo que pode operar, concomitantemente, um determinado número de ferramentas semelhantes, acionadas por qualquer tipo de energia motriz, independente de sua forma. (ARRUDA, 1994, p.49-50)
Em 1784, James Watt patenteia um mecanismo mais potente capaz de superar a
força exercida pela máquina-ferramenta e conseqüentemente amplia as
possibilidades da potência final exercida pela máquina. Esta invenção foi chamada
de máquina a vapor de movimento duplo, e consumia apenas carvão e água, fato
esse, que a diferenciou de outros mecanismos hidráulicos que dependiam da ação
dos cursos de água para funcionar. Neste caso, a máquina a vapor acabou por ditar
uma nova ordem no cenário produtivo, podendo ser facilmente transportada de um
lugar ao outro, e assim estabelecer-se dentro das cidades, pois não dependia mais
efetivamente dos cursos de água.
16
Figura 2. James Watt e a máquina a vapor de movimento duplo.
Fonte: ANDRESEN, 1872.
Fundamentalmente essa inovação no campo produtivo com a substituição da força
humana pela máquina rendeu uma série de desdobramentos que puderam ser
reconhecidos nos mais diversos pontos da sociedade. Dentro dessa perspectiva, da
ruptura qualitativa, que em conseqüência surge também à ruptura quantitativa,
citada por Arruda (1994), em seus vários âmbitos, como a produção em massa de
bens, o acesso ao consumo por um número cada vez maior de pessoas, e o
crescimento do contingente urbano, que agora via nas cidades o cenário que
congregava os ideais de prosperidade.
1.2.2 Mobilidade Social
Até o início da Revolução Industrial a composição social era dividia claramente entre
as instituições religiosas, as classes aristocráticas e os camponeses ou plebeus que
viviam sob a condição de subsistência através do trabalho no campo e da produção
manufatureira. Fundamentalmente, a composição da sociedade feudal era uma
imposição por força da descendência sanguínea, que não permitia em hipótese
alguma uma mudança de posição entre as classes. Era um sistema rígido e
cristalizado e sem perspectivas de mudança.
Mas, foi a partir da Revolução Inglesa de 1640, que é considerada por muitos
autores como a base para a Revolução Industrial, que a velha estrutura social feudal
17
começou a passar por uma transformação. Dentre as principais transformações,
podemos destacar a eliminação do poder real, o surgimento do conceito de
propriedade individual e absoluta e o fim do aparelho do Estado, impondo limites ao
poder do Parlamento. Nas palavras de Arruda (1994, p.33) “o poder mudara
efetivamente de mãos.”
Caracterizou-se como um processo gradual em que a nobreza rural, identificada
como a “burguesia mercantil”, passou de um predomínio econômico, ao poder, e
posteriormente, em 1832, à hegemonia do bloco no poder. Assim como explica
Arruda (1994, p.34) citando Nicos Poulantzas, que é através da “fração hegemônica
do bloco no poder” representada pela figura do Parlamento, que se consegue “ao
mesmo tempo, concentrar em si o papel político-ideológico do Estado com relação
às classes dominadas.”
Pela primeira vez, num processo revolucionário, a burguesia tinha assumido o poder e implantado seu projeto político, derrubando pela força o poder constituído, com o indispensável apoio das massas rurais e urbanas, que se fizeram presentes nos momentos mais agudos deste processo revolucionário. (ARRUDA, 1994, p.34)
Figura 3. As respigadeiras, 1857 de François Millet, representando o trabalho no campo do período.
Fonte: http://www.artrenewal.org/
O poder político e ideológico concentrado agora na burguesia mercantil gerou uma
série de recomposições na estrutura social daquela época, principalmente, e talvez a
mais forte, ocorrida dentro da estrutura agrária, que revelou uma importante
18
recomposição de classes. Basicamente, o protecionismo até então concedidos aos
camponeses pela monarquia, foi derrubado com o conceito dos cercamentos
(enclosures). Essa nova proposta foi utilizada pela burguesia mercantil rural, a fim de
se criarem grandes propriedades em que poderiam ser feitos investimentos
capitalistas.
A perspectiva de recomposição agrária naquele período, pode-se dizer que foi
decisiva para uma série de outros acontecimentos de ordem social, principalmente
com relação à divisão de classes e suas relações de trabalho. O camponês que
outrora dependia de sua própria terra para sobreviver era tomado agora como um
trabalhador que por força do sistema idealizado pelo poder burguês impunha esta
nova estrutura, proletarizando as relações do trabalho no campo. Este movimento,
também despertou um novo comportamento na atividade camponesa que agora se
via diante da possibilidade de especialização na agricultura, mas que em
contrapartida tornava a oferta de mão-de-obra escassa no artesanato e na
manufatura, fato este que acelerou a busca pela mudança nas formas de produção,
e neste sentido como destacado anteriormente, surge a busca pelo progresso
técnico.
Com a transformação na estrutura agrária rompe-se o bloqueio estrutural, imanente desde o primeiro momento da crise do sistema feudal e a emergência do capital mercantil, que resulta na crise de crescimento do século XVII, destravando às forças produtivas ruma à industrialização do século XVIII. (ARRUDA, 1994, p.36)
Em um primeiro momento, diante desta nova estrutura social, compreende-se a
gradativa mudança na configuração das classes no período que antecede a
Revolução Industrial. Efetivamente, é possível afirmar que o movimento iniciado
ainda no século XVII através da obtenção do controle das propriedades rurais pela
burguesia mercantil, e que levou a conseqüente aceleração da industrialização no
século XVIII, através da introdução da maquinaria, contribuiu para o estabelecimento
de uma clara divisão de classes, consagrada durante o período de crescimento
industrial e ascensão capitalista, formando assim a classe burguesa, detentora dos
meios produtivos, e o proletariado, explorado como força de trabalho. Deste modo,
torna-se necessário ilustrar como ocorreu essa divisão, para que se compreenda
efetivamente o início de um processo social que viria a desaguar na estrutura das
cidades, cujos efeitos são presenciamos até os dias de hoje.
19
1.2.3 Aumento Populacional e Concentração Urbana
Dentre os fatores que destacamos anteriormente, sem dúvida, o aumento
vertiginoso da população, principalmente na Inglaterra, berço da Revolução
Industrial, pôde ser notado de forma mais evidente. E este aumento, segundo Arruda
(1994, p.65) segue no mínimo concomitantemente ao “arranque da industrialização.”
Dentro dessa perspectiva de crescimento populacional, o que chama atenção não é
só o aumento em termos quantitativos o que é verificado e avaliado sempre de
forma ampla considerando o território de um país como um todo – mas, também o
grau de concentração do contingente populacional nas grandes cidades que
revelavam agora uma tendência de aglomeração de industriais em seus centros
urbanos.
A máquina a vapor de Watt foi decisiva para isso, considerando que seu
funcionamento não dependia de fluxos naturais de água, e podia ser introduzida em
fábricas localizadas estratégicamente, agora, mais perto dos meios evoluídos de
circulação e transporte da época. Assim, a população urbana de Londres, por
exemplo, que já chegava a um milhão de habitantes no final do século XVIII, viu
crescer em pouco mais de cinco décadas sua população para mais de dois milhões
e meio de pessoas.
Figura 4. Ilustração de uma Rua em Londres durante o período da Revolução Industrial.
Fonte: http://www.urbanidades.arq.br/
Esta modificação na estrutura populacional nas cidades industrializadas é destacada
também por Benevolo (1983, p.551-552) que expõe os fatores que foram
20
condicionantes desta modificação na estrutura urbana e territorial. De acordo com
sua avaliação estariam entre os fatores:
1. O aumento da população, devido à diminuição do índice de mortalidade;
2. O aumento dos bens e serviços em virtude do progresso tecnológico;
3. A redistribuição dos habitantes no território;
4. O desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação;
5. As rápidas mudanças em poucas décadas;
6. A desvalorização das formas de controle do ambiente público.
Nesse momento cabe comentar, que estes seis pontos destacados pelo autor
revelam, entre outras coisas, o grau de despreparo da sociedade da época diante
das profundas modificações ocorridas no ambiente de forma ampla. A revolução
tecnológica permitiu avanços imensos, mas, em contra partida parece ter deixado de
lado o aspecto humano de valorização do bem-estar e qualidade de vida da
população.
A fase idílica do trabalho no campo, da dualidade camponesa, havia passado. O ritmo inesperado e impetuoso da expansão urbana não fora acompanhado por adequados serviços urbanos. (...) A emergência do sistema fabril revoluciona completamente as estruturas de produção que permaneciam na sua reta guarda: a manufatura se transforma constantemente em fábrica, o artesanato em manufatura e, finalmente, os resquícios do artesanato e do trabalho doméstico transformam-se, rapidamente, em antros de miséria onde campeia livremente a exploração capitalista. (ARRUDA, 1994, p.67)
Diante desse cenário, mas, a parte das conseqüências sociais do que esse processo
representou, ressaltamos pelo menos os três primeiros pontos destacados
anteriormente por Benevolo (1983, p.551-552), e que fazem menção direta ao
fenômeno de aumento e concentração urbana, como o aumento da população em
virtude da baixa mortalidade, a crescente oferta de bens e serviços e a redistribuição
dos habitantes no território.
Segundo Benevolo (1983, p.551) o número de habitantes na Inglaterra passou em
1760 de sete milhões para 14 milhões em 1830, e que isso foi influenciado
decisivamente pela diminuição do índice de mortalidade, que rompeu “o secular
equilíbrio entre gerações, porque cada uma ocupava o lugar das anteriores e repetia
21
o mesmo destino.” Em virtude da queda da mortalidade infantil, cresce o número de
jovens, o que fatalmente os impusera, pela força de suas condições sociais a
figurarem nas frentes de trabalho empregadas nas indústrias das grandes cidades.
Ou seja, a própria busca pelo meio de sobrevivência através do trabalho assalariado
forçosamente empurrava o contingente trabalhador disponível aos grandes centros
urbanizados e desta forma contribuía para a concentração de habitantes nas
cidades.
As cidades, agora, abarrotadas pelo aumento do contingente de pessoas, que
sobrevive entre a burguesia capitalista e o proletariado das grandes fábricas, vê
crescer também o aumento da oferta de bens e serviços, que nas palavras de
Benevolo (1983, p.551) permitiu “um aumento ulterior da população.” Ou seja, houve
sim uma associação entre aumento da produção e aumento populacional, pois “os
bens e serviços disponíveis em quantidade e em qualidade superior fazem aumentar
a qualidade de vida das classes sociais, e produzem a busca de outros bens mais
abundantes e mais diversos.” Diante disso, cabe destacar o ponto de vista de Karl
Marx (apud in Arruda, 1994, p.39) sobre a relação do consumo e consumidor.
(...) a produção não cria somente um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto. Logo a produção gera o consumo: 1º) fornecendo-lhe a sua matéria; 2º) determinando o modo de consumo; 3º) criando no consumidor a necessidade de produtos que começaram por simples objetos. Produz, por conseguinte, o objeto do consumo, o modo de consumo, o instinto do consumo. De igual modo, o consumo engendra a vocação do produtor, solicitando-lhe a finalidade da produção, sob a forma de uma necessidade determinada (MARX, s.d, apud in ARRUDA, 1994, p.39)
A clareza com que Marx narra a lógica do sistema capitalista pós- industrialização
revela outro importante fator dentro da questão da ampliação do número de
habitantes nas cidades. O fato é que o progresso técnico atrelado a multiplicação da
capacidade de produção gerou um excedente de bens disponíveis, e que só
poderiam ser consumidos exatamente pela quantidade de pessoas que viviam
próximas aos centros de produção. Não iremos aqui nos aprofundar nas questões
relacionadas às particularidades do sistema econômico da época, entretanto,
observamos que a já comentada explosão produtiva fez com que se criassem
também mecanismos econômicos para dar condições ao consumo, àqueles que
antes não viam na obtenção de bens, sua condição fundamental de sobrevivência.
22
1.2.4 Alteração nos Padrões de Consumo
A sobrevivência em uma cidade no início do século XIX nos remete a questões
muito importantes. Se as transformações dos padrões econômicos, sociais e
produtivos geraram um excedente populacional nos grandes centros urbanos, e
conseqüentemente o esvaziamento das zonas rurais, de que forma foi possível
abastecer, regular e educar toda uma população no sentido de que esta pudesse
sobreviver dignamente dentro desta nova organização? Sem dúvida, a
transformação de um sistema mercantilista para o capitalista trouxe em essência a
necessidade de um mecanismo que o sustentasse. Desta forma, é preciso notar
que, dentro dessa nova ordem, onde o interesse representado pelas grandes
industriais e pequenos comércios, que se proliferavam nos grandes centros urbanos,
o setor privado estava amparado pela lógica da circulação de capital, que nas
palavras de Marx (apud Arruda, 1994, p.40) tornava o produto em mercadoria por
meio do comércio, e neste momento “o capital mesmo aparece, primeiramente, no
processo de circulação.” E também, “é no processo de circulação que o dinheiro vira
capital” e “na circulação que o produto se torna valor de troca, mercadoria e
dinheiro.” Basicamente, segundo Arruda (1994, p.40) trata-se de “(...) um circuito
integrado, que revela certa circularidade, um movimento mais próximo do pendular.”
Mas, este “circuito integrado” só foi possível a partir da Revolução Burguesa do
século XVII, pois até então somente a antiga aristocracia, detinha o poder
econômico capaz de consumir bens vindos das manufaturas ou distantes do seu
lugar de origem. A partir da Revolução Industrial, e tudo o que a seguiu, o poder de
compra agora estava disponível ao proletariado que dominava grandes centros
urbanos, que em troca de um salário aceitava condições precárias de trabalho nas
fábricas. Essa foi realmente a nova composição que permitiu uma alteração
significativa no acesso ao consumo.
Em outras palavras, o papel do mercado interno no contexto da Revolução Industrial
e a alteração nos padrões de consumo foram decisivos, pois em análise de E. W.
Gilboy (apud Arruda, 1994, p43) as transformações industriais “não poderiam
ocorrer, a não ser em sociedades cujas demandas e consumos padronizados
tivessem passado por mudanças e reajustes radicais.” Essas mudanças seriam o
reflexo direto de uma sociedade com as características de “mobilidade social entre
23
as camadas, pela introdução de novas mercadorias criadoras de novas
necessidades, e por um crescimento nos rendimentos reais da população como um
todo.” Dentro dessa perspectiva, onde se revelou diante do processo da Revolução
Industrial uma profunda alteração nas condições entre as classes sociais,
comentadas anteriormente, e, além disso, o fato do progresso técnico e produtivo
ser responsável pelo excedente do que se produzia nas fábricas, e assim criando a
necessidade de consumo pela instauração de um novo sistema econômico, revela-
se aqui outro importante aspecto, que diz respeito à efetiva “capacidade aquisitiva”
da população, que na análise teórica de E. W. Gilboy (apud Arruda, 1994, p.43),
aumentou “particularmente nas regiões industriais, economicamente mais
expansivas.”
É sem dúvida uma evidência de grande valia, pois revela, entre outras coisas, que
grandes centros urbanos, que possuíam alta expressividade econômica permitiam a
convergência de inúmeros fatores para o acesso ao consumo. Entre esses fatores,
como foi destacado, está a crescente produtividade e oferta de bens e serviços,
conseqüência do progresso técnico, onde foi demonstrado, principalmente, na
Grande Exposição de 1851 em Londres, apresentando inúmeros produtos frutos
dessa nova ordem industrial. Além disso, o novo sistema econômico e a divisão de
classes instauraram uma nova perspectiva dentro da sociedade, que agora se via
em grandes centros urbanos com possibilidades aquisição das mais variadas
quinquilharias.
Figura 5. A Grande Exposição de 1851 realizada em Londres.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
24
Como já destacamos anteriormente, outros fatores como o progresso tecnológico e
o crescimento da produção também contribuíram não só para o aumento das
populações urbanas, como também permitiu que se gerassem um excedente fabril
que, conseqüentemente, necessitava da procura pelo que era produzido. A
Revolução Industrial, dentro de uma perspectiva do ambiente em que se deu, bem
como na análise do corpo social da época, nos mostra o momento crucial de
mudanças de ordem urbana, social, econômica e tecnológica. Todas essas
alterações são sentidas até os dias de hoje, e não seria um absurdo compará-las
com a estrutura social em que vivemos. Se esta mesma análise pudesse ocorrer nos
dias de hoje, certamente, encontraríamos semelhanças e características observadas
quando estas formam demonstradas através desta pesquisa sobre as causas e
conseqüências da Revolução Industrial sob a perspectiva de rupturas qualitativas e
quantitativas.
25
1.3 A CIDADE DE PORTO ALEGRE
Assim como outras capitais do país, Porto Alegre só sentiu as conseqüências da
evolução tecnológica ocorrida fruto da Revolução Industrial quase dois séculos após
a que se deu na Inglaterra e em outros países da Europa. Até o fim do século XVIII,
período efervescente desta Revolução, as cidades brasileiras, e mesmo as capitais
dos Estados da federação viviam em uma condição de caráter provinciano, com a
exceção das cidades que abrigavam o governo central, cujo desenvolvimento de
suas estruturas urbanas já lhes permitia estarem em um contexto urbanístico mais
avançado juto pela centralização do poder e também dos recursos econômicos.
Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande Sul, tem sua origem em 26 de março
de 1772 quando foi denominada Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais.
Um ano após, em 1773, recebeu o nome de Nossa Senhora da Madre de Deus de
Porto Alegre. A cidade acolheu os primeiros imigrantes em janeiro de 1752 com a
chegada de 60 famílias portuguesas açorianas vindas de Santa Catarina, que
inicialmente, aguardaram a demarcação de suas terras no Porto de Viamão. Mais
especificamente as terras designadas às famílias portuguesas foram demarcadas na
área do Morro Sant’Anna, que na época eram de propriedade de Jerônimo de
Ornellas, mas em virtude dos poucos recursos hídricos da região, os assentados
tiveram que se estabelecer nas proximidades do porto. Em virtude dessa ocupação,
próxima às margens do Guaíba, o povoado passou a ser conhecido como Porto dos
Casais, referência aos casais de açorianos assentados nas terras próximas à região
portuária.
A divisão dos lotes às famílias de colonos que povoavam a região do Porto só veio a
ocorrer em 1772, quando os assentados receberam os títulos de posse que
delimitavam suas terras em 141 ha, formando assim o núcleo urbano do povoado. A
capital da província, que até 1763 era a vila de Rio Grande, foi transferida para
Viamão, e o contingente populacional refugiado da dominação espanhola veio a
estabelecer-se também no Porto dos Casais, aumentando assim drasticamente a
população dessa área. Em virtude disso, o então governador Marcelino de
Figueiredo, que já notava o crescimento da região bem como entedia o porto como
um ponto estratégico, transferiu em 1773, novamente, a capital da província de
Viamão, para a então denominada Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto
26
Alegre. O crescimento de Porto Alegre, então começa a ser sentido de maneira mais
acelerada no final do século XVIII, com a instalação do Palácio do Governador, a
primeira Igreja Matriz, a instalação do Arsenal de Guerra e as fortificações nas
margens do lado oposto do porto, além do surgimento de praças como a Praça da
Matriz, Praça da Alfândega e Praça IX.
O povoado já passava dos quatro mil habitantes. Nas últimas décadas do século
XVIII o setor de produção de tijolos e telhas estava a todo o vapor, além do comércio
em geral que aproveitava o fervor populacional para instalarem os mais diversos
tipos de serviços nos arredores do povoado. Nas regiões periféricas concentraram-
se os colonos que se dedicavam a agricultura e a manutenção dos mantimentos dos
cidadãos, concentrando-se na produção de trigo e farinha. Em virtude disso os
moinhos constituíram-se em importantes referências na memória dos habitantes,
possibilitando que até um dos bairros da cidade, atualmente, levasse o nome de
Moinhos de Vento. Além da produção agrícola, também as charqueadas atraídas
pelo crescimento urbano desse povoado passaram a se instalar em suas cercanias,
e a conseqüência disso possibilitou a transformação do cenário urbano de Porto
Alegre, com o surgimento dos primeiros bairros mais afastados do centro.
As duas décadas inicias do século XIX viram Porto Alegre sofrer o aumento
demográfico pela chegada de imigrantes alemães que passaram a oferecer os mais
variados tipos de serviços e estabelecimentos comerciais na cidade, que foi elevada
a essa categoria em 1822. Quase na metade do século, com a Revolução
Farroupilha, as tropas imperiais tomaram a cidade por entender o valor estratégico
de seu território, e assim, poder contornar o conflito. A partir de então, a cidade
começou a receber investimentos maiores em sua estrutura vindos do governo
central, que possibilitaram entre outras coisas, novos estaleiros, quartéis, serviços
de telégrafos, as primeiras linhas de bondes, além da expansão de seus bairros, já
no fim do século XIX.
Com ideais positivistas, a cidade de Porto Alegre crescia em ritmo acelerado no
início do século XX com a implementação de programas de obras públicas, focadas
em saneamento, saúde, transportes e obras de urbanização. Este momento foi
crucial para o surgimento de novos bairros na cidade, que passavam a seguir o
primeiro plano diretor instituído em 1950. Assim, a morfologia urbana de Porto
27
Alegre começa a modificar-se e a incluir novos contrastes entre as regiões
urbanizadas, mais próximas do centro da capital e aquelas que ainda não haviam
sofrido grandes alterações por estarem ainda sendo construídas e recebendo novos
contingentes populacionais.
Da metade para o final do século XX, Porto Alegre continuou seu crescimento, e um
dos principais índices a aumentar foi, sem dúvida, o demográfico. Segundo
estimativa do IBGE, em 1950 Porto Alegre tinha em torno de 394 mil habitantes, e
no final de 2000 este número quase foi quadriplicado chegando a 1.360.000
habitantes. Este fator fez com que novos programas de urbanização fossem
desenvolvidos para atender a demanda de tamanho crescimento. Este novo cenário,
fez com que Porto Alegre experimentasse os efeitos comuns a um grande centro
urbano e a conseqüência negativa desse contexto, entre eles a poluição, o caos do
trânsito e todos os outros problemas que acabam por afligir as cidades mais
desenvolvidas do Brasil.
28
1.4 A RUA DOS ANDRADAS
A atual Rua dos Andradas, localizada no centro de Porto Alegre, é considerada a via
mais antiga da cidade. Muitos autores como Spalding (1967), Oliveira (1993) e
Franco (1998), relatam as histórias e os acontecimentos que se desenrolaram nesta
Rua ao longo dos anos. Trata-se de uma via de muitas histórias e que registrou
inúmeros acontecimentos de relevância para a cidade de Porto Alegre.
Atualmente, sua extensão compreende um percurso de pouco mais de um
quilometro e meio, começando a partir da Rua General Salusiano, próxima a Usina
do Gasômetro, passando pela Praça da Alfândega, Rua General Câmara,
atravessando a Avenida Borges de Medeiros até chegar à Praça Dom Feliciano, na
parte alta da Rua dos Andradas.
Segundo Spalding (1967) as poucas ruas que começavam a se formar, no princípio
de formação da cidade de Porto Alegre, recebiam o nome do principal morador ou
do mais antigo, mas com o passar do tempo esses nomes acabaram
desaparecendo. Por volta de 1765, de acordo com Spalding (1967, p.35), que é
possível encontrarmos os primeiros registros já com a denominação de Rua da
Praça e Rua da Graça, as duas antigas ruas que formavam a atual Rua dos
Andradas. A Rua da Praia começando na parte mais ao oeste e terminando no
cruzamento com a Rua General Câmara e a Rua da Graça a partir desse
cruzamento até o antigo Largo da Caridade a atual Praça Dom Feliciano.
Desde seus primeiros momentos a antiga Rua da Praia concentrava pequenos
comerciantes, principalmente na altura da Praça da Alfândega, dada sua
proximidade com a ponte de desembarque do “porto de Viamão”, por onde
chegavam sempre as novas famílias para povoar a comunidade que se iniciava. A
maioria dessas famílias construiu suas casas na extensão da Rua da Praia.
Segundo Franco (1998, p.31) muitos registros históricos de (1781-1785) referem-se
às residências como “casas cobertas de capim”, o que conseqüentemente,
evidenciava o primitivismo da Vila.
29
Figura 6. Na ilustração a junção da Rua da Praia com a Rua da Graça.
Fonte: ALVES, 1997.
Figura 7. Antigo Quartel General do Exército
Fonte: GUIMARAENS, 2010.
30
De acordo com Oliveira (1993, p.89) “existiu nessa rua a primeira capela, de São
Francisco das Chagas”, além do Arquivo Militar, os Armazéns Reais, o Arsenal de
Guerra e a Alfândega. Hoje, muitos dos prédios que se encontram nessas áreas
representam uma ligação com o antigo estabelecimento territorial militar em épocas
passadas.
Em 1843, de acordo com Franco (1998, p.31), pelo estabelecimento do primeiro
emplacamento de ruas, é possível que a denominação Rua da Graça tenha
desaparecido definitivamente, passando a ser considerado, em toda a sua extensão,
o nome de Rua da Praia. Mas, foi no dia 7 de setembro de 1865, de acordo com
Oliveira (1993, p.89) por ato da Câmara Municipal, que a Rua da Praia e sua
continuação (antigamente denominada Rua da Graça) passariam a se chamar Rua
dos Andradas em toda sua extensão.
Figura 8. Dois meios de transporte em diferentes épocas na Rua dos Andradas.
Fonte: ALVES, 1997.
Diversos fatos marcantes ocorreram ao longo de sua história, e diversas ações
políticas promoveram a infra-estrutura dessa via. Entre as ações, destaca-se a
transferência em 1922 das linhas do antigo bonde que passava na Rua dos
Andradas, para a Rua Sete de Setembro, devido ao intenso movimento de veículos
e pedestres registrado entre o trecho da Praça da Alfândega e Rua Vigário José
Inácio (FRANCO, 1998, p.32).
31
Hoje em dia, a Rua dos Andradas constitui-se em um importante eixo de circulação
do centro de Porto Alegre, abrigando uma diversidade de opções culturais, acervos
históricos e o comércio em geral, além de possuir ao longo de sua extensão diversos
pontos famosos por concentrarem manifestações políticas como a Praça da
Alfândega e a denominada “Esquina Democrática”, no seu cruzamento com a
Avenida Borges de Medeiros.
1.4.1 Aspectos da Ocupação da Rua dos Andradas
Desde os primeiros momentos em que houve o povoamento da cidade, a Rua dos
Andradas vem acompanhando o crescimento de Porto Alegre e, desta forma, acaba
se modificando a medida que o progresso e a urbanização se tornam
imprescindíveis para a organização dos espaços públicos da capital.
Na sua constituição inicial Rua dos Andradas já se caracterizava como um ponto
comercial de intensa atividade. Esta característica é descrita em detalhes no ano de
1820 pelo viajante francês Auguste Saint Hilaire, em passagem citada por
Guimaraens (2010, p.60).
A Rua da Praia que é a única comercial é extremamente movimentada. Nela, se encontram numerosas pessoas a pé ou a cavalo (...) É dotada de lojas muito bem instaladas, de vendas bem sortidas e de oficinas de diversas profissões. Quase na metade desta rua existe um grande cais dirigido para o lago, ao qual se vai por uma ponte de madeira de cerca de cem passos de comprimento guarnecida de parapeito e mantida sobre pilares de alvenaria. (GUIMARAENS, 2010, p.60)
O panorama descrito pelo viajante francês remonta um período inicial da
constituição da Rua dos Andradas, mas traduz perfeitamente algumas de suas
características atuais. Ao longo de sua extensão o comércio e a circulação de
pessoas são intensos. Mas, o que a torna assim, também é fruto da forma como foi
ocupada ao longo de suas décadas de existência por suas construções de estimada
relevância para a cidade.
Os Quartéis-Generais do Exército construído em 1908, o Arsenal de Guerra de
1855, que junto com o Theatro São Pedro é considerado o segundo prédio mais
antigo em preservação na capital, e o Quartel General da Brigada Militar construído
em 1925, são construções compõe o cenário dos primeiros quarteirões da Rua dos
32
Andradas e em diferentes épocas foram locais de grande concentração da
segurança do território da cidade. Além deles a Igreja das Dores de 1813, também
registra em sua história importantes reuniões populares de demonstração da fé.
Mas, a Rua dos Andradas possui também uma importante tradição cultural. A
primeira sessão de cinema em Porto Alegre, segundo Guimaraens (2010, p.68), foi
rodada em cinco de novembro de 1896, e de lá para cá, a Rua dos Andradas se
difundiu como um espaço de reunião dos populares ávidos pelas projeções do
cinema.
Com o sucesso das primeiras exibições, Porto Alegre vira ponto obrigatório dos mascates da cultura que, munidos de projetor e algumas películas, circulam pelo país levando a nova arte. (...) As exibições são mostradas em locais públicos, como a Praça da Alfândega e os Campos da Redenção, onde a multidão se aglomera para ver as maravilhas da animação. O cinema se populariza, e os empresários locais percebem que a diversão animada tem futuro. A nova paixão dos porto-alegrenses já comporta espaços exclusivos. (GUIMARAENS, 2010, p.69)
As primeiras salas de cinema surgem no início do século XX, com a abertura do
Cine Recreio Ideal em 1908, que mais tarde daria lugar ao Cine Imperial em 1931, o
Cine Guarany de 1913, o Cinema Central de 1921 e o Cine Cacique de 1957. Todos
esses espaços para projeção de filmes e animações localizavam-se nas cercanias
da Praça da Alfândega junto aos principais cafés, e logo esse espaço ficou
conhecido como a Cinelândia da capital.
Figura 9. Foto do antigo Cinema Central.
Fonte: GUIMARAENS, 2010.
33
Além das reuniões populares em conseqüência da atratividade dos cafés e os
cinemas da Rua dos Andradas, outro eventos tem como principal endereço esta via,
demonstrando a diversidade e a procura de alternativas culturais do público que a
freqüenta. Um dos mais populares e conhecidos eventos da cidade tem em 1955
seu início. A 1ª Feira do Livro de Porto Alegre inicia da vontade de livreiros como
Henrique Bertaso, que apoiado por diversos outros donos de livrarias insistem na
idéia de popularizar o livro. Assim, como “uma autêntica livraria ao céu aberto” a
Feira do Livro se instala na Praça da Alfândega e reúne até os dias de hoje
inúmeras pessoas em busca de novidades literárias. Mas, esse cenário de intensa
diversidade cultural, nem sempre foi assim, como afirma Strelow (2002, p.27) ao
explicar o motivo pelo qual o público da Rua dos Andradas mudou.
A passagem para o 20 exigiu que Porto Alegre se modernizasse. E isso, em outras palavras, significava também higienizar-se. Esse processo previa a extinção dos becos que durante décadas sinalizaram a paisagem urbana da região urbana. (STRELOW, 2002, p.27)
Segundo Strelow (2002, p.27) esse movimento fez com que as camadas mais
populares fossem deslocadas para a periferia da cidade, permitindo que a Rua dos
Andradas se tornasse no ponto de encontro de um público seleto. Guimaraens
(2010, p.170) afirma que no período dos anos 30, que sucedeu estas
transformações, viu novas lojas se instalarem na Rua dos Andradas e as mais
antigas se remodelarem, apresentando a Porto Alegre o “significado da expressão
sociedade de consumo”.
A Rua da Praia é a vitrine do progresso. Seu leito é repleto de letreiros coloridos, que oferecem todo o tipo de mercadorias nacionais e estrangeiras, tecidos, jóias, perfumes e eletrodomésticos. (GUIMARAENS, 2010, p.170)
Com o passar do tempo e o progresso da cidade como um todo, muitas das grandes
lojas comerciais que se localizavam na Rua dos Andradas deram lugar a outros
estabelecimentos menores como financeiras, lojas de miudezas, que segundo
Strelow (2002, p.26) são fruto também da mudança do público que a freqüentava.
Essa mudança deu-se por volta dos anos 60, que viu retornar ao espaço da Rua dos
Andradas aquelas camadas populares que antes haviam se distanciado. Hoje, como
explica Strelow (2002, p.26) dado o “medo dos assaltos, a balbúrdia do comércio
informal e a poluição visual e sonora foram se afugentando grande parcela do
público que circulava por ali”.
34
Figura 10. Imagem de um trecho atual da Rua dos Andradas.
Fonte: GUIMARAENS, 2010.
Atualmente, mais de 400 mil pessoas circulam pela Rua dos Andradas, e quase que
a totalidade dessas pessoas não descobriu a história que guarda cada um de seus
quarteirões. Esta via de intensa atividade que já foi o palco de inúmeros
acontecimentos políticos, culturais e de grande relevância para a própria história da
cidade, hoje, abriga um público diferente, e até certo ponto indiferente com os
cenários urbanos e suas mais variadas características. A Rua dos Andradas, de
importância fundamental na construção de Porto Alegre, cresceu junto com a cidade,
e hoje, permanece com símbolo da diversidade em formas arquitetônicas, ambientes
culturais, paisagens urbanas e ocupação de seu território.
35
CAPÍTULO II
2.1 PAISAGEM URBANA
Os elementos físicos e gráficos distribuídos em uma cidade constituem um
panorama bem definido do que podemos chamar de era pós-moderna. Já contamos
com benefícios que as cidades bem estruturadas podem oferecer, como avenidas,
ruas, calçamentos, praças, transporte público, etc. Mas, talvez o que mais chame a
atenção, seja o fato de que possuímos hierarquias na configuração do espaço
construído. Desta forma, somos orientados a viver em comunidades, sejam elas de
caráter ordenado, como bairros planejados, ou em verdadeiros complexos de casa e
vielas, fruto de ocupações de terrenos ilegais. A cidade, palco desse plano,
representa mais do que a simples divisão de espaços. Ela agrega valores, que
jamais o cidadão comum foi capaz de perceber durante a sua gradativa ocupação do
espaço urbano.
Para Cullen (2008, p.9) essencialmente uma cidade “é uma unidade geradora de um
excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a
preferirem – independentemente de outras razões – viver em comunidade a viverem
isoladas”. Esta avaliação nos leva a considerar que, apesar da explosão
demográfica nos grandes centros urbanos ter sido gerada pelo reles capricho de
sentir-se pertencente ao dito moderno, seria verdade, antes de tudo, que a busca
essencial é pela facilidade, comodidade e oportunidade de poder ter o que se
precisa dentro de um ambiente em que se possa viver. E neste sentido, talvez
estejamos mais do que nunca, ultrapassando os limites invisíveis dos espaços
públicos.
36
Mas nossos abusos, em decorrência dessa ocupação, não podem ser encarados
como a conseqüência simplesmente de uma era pós-moderna, onde convergem
avanços tecnológicos, econômicos e culturais. O planejamento sempre fez parte das
transformações das cidades, e nesse sentido, importantes orientações advém dos
primeiros anos do século XX. Segundo Marchezini (2010, p.20) “o modelo de
urbanização implantado no Brasil foi fruto do chamado “urbanismo funcionalista” que
se expressou no cenário internacional a partir de 1910, com o movimento de
planificação urbana”. O chamado “urbanismo funcionalista”, implementado por
militares, trouxe como conseqüências a ocupação desordenada, além de considerar
somente as funções econômicas que o espaço urbano poderia proporcionar.
Este fato parece bastante esclarecedor quando observamos que a paisagem urbana
de nossas cidades vem sofrendo com o acúmulo de ofertas visuais, advindas da
malha comercial instalada nos principais eixos de circulação. Para Amaral (2009,
p.1) “(...) não podemos considerar a cidade como um simples produto de
demarcações administrativas..”. Somamos a isso, a necessidade de percebermos
que a cidade e sua paisagem urbana constituem o ambiente em que vivemos, e dele
devemos extrair a qualidade para se viver. Nesse sentido, olhar a cidade, e
conseqüentemente, para o fruto de sua organização através da paisagem que esta
propicia, traz um importante questionamento a respeito das condições em que
espaços púbicos são ocupados pelo meio privado, e de que forma se garantem os
direitos do cidadão em desfrutar de elementos desse meio ambiente.
Ao iniciarmos uma avaliação do que poderíamos entender sobre o direito do cidadão
em usufruir de seu meio ambiente de forma obter plena qualidade vida,
necessitamos esclarecer alguns pontos de vista com relação à paisagem urbana,
objeto principal dessa discussão.
Ao tentar definir a paisagem urbana, Cullen (2008, p.135), nos traz um conceito
elevado da sua idéia de como aos cidadãos podem se envolver emocionalmente
dentro uma cidade, causado principalmente pela relação dinâmica entre os espaços
e seus usuários.
Se me fosse pedido para definir o conceito de paisagem urbana, diria que um edifício é arquitetura, mas dois seriam já paisagem urbana, porque a relação entre dois edifícios próximos é suficiente para libertar a arte da paisagem urbana. (CULLEN, 2008, p.135)
37
Para Bertoni (2010, p.3) “A paisagem urbana (...) conta a sua própria história por
meio dos seus elementos constitutivos, podendo ser considerados como tais: a sua
arquitetura, as praças, os parques, os monumentos, o comércio, a indústria, a
população, a geografia, os meios de comunicação, entre outros”. De forma objetiva
percebe-se que invariavelmente a paisagem urbana pertence ou é conseqüência da
própria ação do homem, pois sem sua atuação nesse ambiente as cidades não
poderiam existir, principalmente, da forma como foram construídas. Ou seja, a
paisagem urbana é em essência uma construção humana, mas o ponto crucial de
seu entendimento está no fato de que, talvez, essa construção não consiga atender
uma ordem lógica, ou organizada. A paisagem urbana, como define Cullen (2008),
não é em si o desenho de dois prédios, mas antes disso, a relação que se
estabelece entre os dois.
Ainda sobre esse enfoque, Bertoni (2006, p.2-3) afirma que “deve se visualizar a
cidade sob a ótica de que ela é um organismo vivo, mutável e que, independente de
sua data de formação, continua em um eterno processo de transformação, no qual
também não pode ser vista de forma absoluta”. Ora, se a cidade possui um caráter
mutante, sua paisagem urbana deveria acompanhar essa mesma lógica
heterogênea?
Para Lynch (2006, p. VII) “entre os inúmeros papéis, a paisagem urbana também é
algo a ser visto e lembrado, um conjunto de elementos do qual esperamos que nos
dê prazer.” Essa idéia parece dentre as opiniões a mais sensata, em virtude de que
acompanha os anseios não só progresso e modernização das grandes metrópoles,
mas inclui também a satisfação do usuário em poder usufruir de espaços mais
harmoniosos e ordenados, livre de excessos e de toda a parafernália de elementos
visuais que hoje as formam.
Mas, apesar de atribuir à paisagem urbana um conceito mais lúdico, Cullen (2008,
p.15) admite que os efeitos que o ambiente desperta no homem, neste caso
específico, podem estar pesando sobre a atual geração. Tudo porque, “a rapidez
com que hoje se operam as mudanças veio perturbar o equilíbrio normal entre quem
projeta e aquilo que é projetado.” Esse descompasso projetivo é, de fato, o ponto
crucial da que questão, pois Cullen (2008) vê na crescente explosão demográfica,
no aumento de casas e equipamentos, na rapidez das comunicações e nos métodos
38
construtivos mal dominados as razões para tal desconformidade nos projetos que
visem estabelecer uma paisagem urbana mais ordenada.
Nossa avaliação permite concluir que a união de elementos dispostos no ambiente
da cidade e a relação de suas formas são o que podemos chamar de paisagem
urbana. Das estruturas urbanas e suas avenidas, passando pela vegetação até
chegar ao conjunto construído de casas e prédios, tudo se relaciona a fim de
proporcionar uma experiência visual, um panorama de relações no espaço.
2.1.1 A Visão Serial da Paisagem Urbana
Uma das maiores preocupações na relação dos projetos que acabam por definir a
paisagem urbana de uma cidade está no fato de que os projetistas ainda não
conseguiram, de certa forma, digerir o crescimento que estas tiveram nas últimas
décadas. Para Cullen (2008, p.15) “a rapidez com que hoje se operam as mudanças
veio perturbar o equilíbrio normal entre quem projeta e aquilo que é projetado” e
neste sentido, é normal que, pelos avanços tecnológicos correndo lado a lado com o
próprio crescimento do número de construções nas cidades, bem como a inserção
de novos elementos físicos na paisagem e o aumento populacional, acabe por gerar
esse descompasso, onde o designer mal assimila os métodos construtivos e logo
deve enfrentar novos desafios de ordem organizacional dentro do ambiente urbano.
Segundo Cullen (2008, p.17) é necessário que exista uma participação maior dos
habitantes de uma cidade, e isso, porventura só será possível com a popularização
da “Arte do Meio-Ambiente”, e assim, “uma maior participação emocional das
pessoas” facilitará o diálogo em torno das questões da paisagem urbana e como
estas podem ser relacionar de forma positiva com os habitantes de uma cidade.
Uma das primeiras lições comentadas por Cullen (2008, p.19) trata da forma como
percebemos os diferentes cenários quando se percorre caminhando um trajeto
dentro de uma cidade. Este conceito é chamado de “visão serial”, e que revela uma
sucessão de cenas que são pontuadas por uma série de “contrastes súbitos que tem
grande impacto visual e dão vida ao percurso”. Este importante conceito exposto
pelo autor revela entre outras coisas o caráter compositivo daquilo que vemos em
uma cidade.
39
Figura 11. Demonstração da Visão Serial.
Fonte: CULLEN, 2006.
Assim, passa-se a tratar cada seqüência como um momento único na avaliação da
paisagem urbana e os efeitos que esta pode provocar no pedestre. Enquanto cena
estática, essas paisagens podem trazer inúmeros aspectos de ordem geométrica, e
dentro dessa avaliação, representariam um importante aprendizado para que os
habitantes de uma cidade compreendessem que as cidades são constituídas de
inúmeros cenários, que bem ou mal, foram projetados para seu uso, e assim
interferem também em suas vidas.
2.1.2 Classificação dos Elementos Urbanos
A construção de um espaço urbano, em termos de cenário, onde diferentes tipos de
elementos visuais se reúnem e acabam por formar uma paisagem que, intercala
tanto os componentes naturais, como árvores, canteiros e gramados, quanto
àqueles que são o fruto da concepção de um projeto, como lixeiras públicas, postes
de iluminação, placas de trânsito, de certa maneira, forma o conjunto do que
podemos perceber visualmente no corpo de uma cidade quando transitamos nela.
Segundo Gabardo (2001, p.94) “para identificar os elementos morfológicos do
espaço urbano é necessário conhecer as partes e o modo como elas se estruturam
nas diferentes escalas.” Neste sentido, para que possamos classificar os elementos
inseridos no espaço urbano faz-se necessário que haja um desmembramento de
40
todas as suas partes, a fim de identificarmos sua composição e assim proceder em
uma análise morfológica.
A morfologia urbana para Lamas (1992, p.37 apud Gabardo, 2001, p.94) refere-se
aos “aspectos exteriores do meio urbano e às suas relações recíprocas, definindo e
explicando a paisagem urbana e a sua estrutura”. Assim, a simples identificação dos
elementos que compõe a estrutura urbana não bastará para sua análise morfológica,
e é necessário que se possam estabelecer as relações que se manifestam entre
suas partes dentro do ambiente. Lamas (1992) apud Gabardo (2001, p.94) aponta
“três escalas ou dimensões da forma urbana”:
Dimensão setorial – considerada a menor unidade do espaço urbano,
constituído em essência pelo ponto de vista do observador capaz de perceber
o conjunto construtivo de fachadas de prédios, mobiliário urbano, cores,
contrastes, texturas, letreiros, vegetação, e um número ilimitado de outros
elementos que formam a paisagem urbana como um todo.
Dimensão urbana – representada por uma parcela mais homogênea como as
estruturas de ruas e praças dentro do ambiente urbano, e nesta escala para o
reconhecimento dos elementos morfológicos que a compõe são necessárias
incursões por suas áreas para a familiarização com a sua estrutura.
Dimensão territorial – define as zonas características do espaço urbano, como
os bairros, e as regiões que se articulam entre si e podem ser características
de uma forma de utilização do ambiente, como zonas habitacionais, centrais e
industriais.
Dentro dessa divisão podemos notar que a percepção fundamental em termos de
composição da paisagem urbana se realiza no campo da Dimensão setorial. É nela,
que efetivamente o observador poderá notar as relações que se dão entre os
diferentes elementos que estão inseridos no ambiente construído. Assim, as
avaliações que seguem, buscando trazer à tona as partes que compõe
especificamente esta Dimensão setorial, servirão para conhecermos os elementos
que formam a paisagem, para que numa posterior avaliação possamos analisá-los
em suas diversas relações entre si.
41
Figura 12. Os estágios de formação da Paisagem Urbana.
Fonte: BENEVOLO, 1978.
42
Uma das primeiras avaliações ao nos deparamos com o cenário urbano, em muitos
casos, surge da distinção de pelo menos dois grandes grupos de estímulos visuais,
sendo estes: a) de incidência natural, e neste caso conta-se apenas seu caráter
enquanto vegetação, mesmo sendo fruto de um plano paisagístico do lugar; b) de
incidência artificial, que se destacam pelo caráter construtivo, onde houve um claro
processo de concepção e produção desses elementos oriundos da maquinofatura.
Neste sentido, queremos destacar que, para compreendermos um cenário urbano
como um todo em termos de informação visual, é necessário que possamos
classificar esses elementos (naturais ou artificiais), segundo a função que cumprem
no espaço em que estão inseridos. Assim utilizaremos a classificação morfológica
estrutural desenvolvida por Trieb e Schmidt (1980) e citada por Kohlsdorf (1996,
p.137) que radiografa “as representações urbanísticas convencionais, com fins de
mostrar composições geométricas que podem ser, então, analisadas”.
Segundo Trieb e Schmidt (1980) apud Kohlsdorf (1996, p.170) existem pelo menos
seis categorias para análise morfológica estrutural do espaço urbano, definidas
como: a) Sítio físico; b) Planta baixa; c) Conjunto de planos verticais; d) Edificações;
e) Elementos complementares; f) Estrutura interna do espaço.
Para fins desta pesquisa, nos concentraremos em pelo menos duas categorias que
possuem maior incidência dentro do espaço urbano selecionado para análise.
Assim, partiremos para considerações sobre os lugares selecionados a partir da
categoria Sítio físico, na análise da vegetação desses ambientes fotografados, e a
categoria Elementos complementares, para avaliação da incidência de elementos de
informação, pequenas construções e mobiliário urbano, definidos segundo a
categorização de Trieb e Schmidt (1980).
2.1.3 Elementos de Vegetação no Ambiente Urbano
A vegetação dentro de um ambiente construído, segundo Trieb e Schmidt (1980)
apud Kohlsdorf (1996), pertence à categoria Sítio físico, dentro da análise
morfológica estrutural do espaço urbano. Para Kohlsdorf (1996, p.141) “a
participação dos vegetais na configuração dos lugares deve ocorrer por meio de
seus tipos mórficos (forma e proporções de árvores e arbustos), e não
43
necessariamente de suas espécies”. Assim, tanto os vegetais arbóreos e arbustivos
podem ser abordados em seus tipos de volumes e tipos de composição vegetais.
Tanto os volumes quanto a composições dos vegetais em uma dada situação
revelam os aspectos elementares de sua geometria, para fins da avaliação
perceptiva de sua incidência. Neste momento é deixada de lado sua característica
física enquanto elemento de cor e textura e ressalta-se sua característica formal.
As árvores que compõem a maioria das paisagens urbanas são elementos naturais
vistos com maior freqüência no corpo das cidades. Segundo Cullen (2008, p.84) “a
idéia de que, tal como os edifícios, as árvores eram verdadeiras estruturas, levava à
sua disposição segundo padrões arquitetônicos e à sua interpretação com os
elementos construídos”, entretanto, hoje, se aceita a idéia de que as árvores
constituem-se em uma “presença viva que habita entre nós”. Para o autor isto
possibilita uma nova interpretação que relaciona a avaliação desses elementos
naturais com os elementos construídos. Assim, a avaliação de forma categorial dos
elementos naturais dentro do espaço urbano pode revelar inúmeros aspectos de
suas formas e composições.
Segundo Kohlsdorf (1996, p.197) “a representação gráfica desses elementos
encontra possibilidades na geometria elementar por meio dos sólidos de revolução
(como a esfera, o cone e o cilindro)” e desta forma, podemos associar seu volume
através da similaridade com esses sólidos. Ainda, segundo a autora, podemos
seguir com um procedimento que é ordenado da seguinte maneira:
Define-se o número de árvores da situação considerada, devidamente
identificadas (numeradas no sentido horário);
Classificam-se cada exemplar segundo certos tipos-síntese de tamanho das
copas e altura dos fustes, que totalizam nove grupos: copa grande e fuste
alto, copa grande e fuste médio, copa grande e fuste baixo, copa média e
fuste alto copa e fuste médios, copa média e fuste baixo, copa pequena e
fuste alto, copa pequena e fuste médio, copa pequena e fuste baixo.
Calculam-se as incidências, em números absolutos e em porcentagens, de
cada um dos grupos anteriormente relacionados, em relação ao número total
de vegetais arbóreos considerados.
44
Figura 13. Formas geométricas encontrados na vegetação da paisagem urbana.
Fonte: KOHLSDORF,1996.
Através deste conjunto de orientações é possível a avaliação da incidência dos
vegetais na composição dos espaços urbanos, bem como as características
principais de suas formas, possibilitando assim, um grau de análise pautado por sua
representação e abstração enquanto elementos de comunicação visual. Para
Kohlsdorf (1996, p.199) estas análises “devem ocorrer, no entanto, sempre de
maneira sistematizada” e neste sentido, a classificação desses elementos torna-se
fundamental para a avaliação enquanto parte do todo da paisagem urbana.
2.1.4 Elementos Complementares no Ambiente Urbano
Os elementos complementares dentro do ambiente de uma cidade, por vezes, são
denominados como “mobiliário urbano”. Basicamente, esta categoria de elementos,
caracteriza-se por uma configuração em menor escala em relação às edificações
que compõe os espaços urbanos. São bancos, luminárias, postes, placas de
trânsito, lixeiras, cartazes, entre outros, que acabam sendo anexados no ambiente
de uma cidade como complemento, visando assim o melhor funcionamento desses
lugares. Para Kohlsdorf (1996, p.160) esta categoria de elementos representam, por
vezes, “os principais responsáveis pela imagem dos lugares, seja por sua presença
45
marcada pelo contraste, seja por se constituírem nos próprios elementos de
estruturação do espaço”.
Mas, mesmo está categoria de elementos pode ser classificada segundo Kohlsdorf
(1996, p.160) “por intermédio dos instrumentos geométricos e leis de composição
plástica” e desta forma, a avaliação de sua incidência no cenário urbano estudado
revela sua relação com outros elementos que compõe a paisagem urbana. Os
elementos complementares podem ser classificados da seguinte maneira, de acordo
com Kohlsdorf (1996):
Figura 14. Categoria de Elementos Complementares.
Fonte: KOHLSDORF, 1996.
Elementos de informação apostos – Referem-se a elementos de sinalização
(como placas de trânsito e nomenclaturas de logradouros) quanto a
elementos de propaganda. Comparecem incorporados às fachadas e
participando, portanto, de sua composição plástica ou como elementos
autônomos;
Pequenas construções – São edifícios que, por suas pequenas dimensões e
papel, não pertencem às edificações maiores como prédios, ou casas. É o
caso de bancas de revistas e dos abrigos de transporte coletivo.
Mobiliário Urbano – Reserva-se esta expressão a elementos com
características de maior mobilidade e ainda menor escala: bancos de
logradouros, lixeiras, caixas de correio, postes e luminárias, pequenos muros
ou cercas, obstáculos de trânsito, hidrantes, fontes e monumentos de
pequeno porte.
46
2.1.5 Mobiliário Urbano
Os elementos que, de maneira geral, estruturam uma cidade são conhecidos como
mobiliário urbano. Segundo Serra (1998, p.6) o termo “mobiliário urbano” pode sofrer
algumas distorções de ordem semântica, pois muitas vezes se mal traduzido de
idiomas como o italiano, por exemplo, em que é definido como arredo urbano
(arredare=decorar) pode trazer uma compressão equivocada, que está ligada às
antigas idéias do urbanismo classicista onde a ornamentação das cidades estava
ligada ao atendimento de necessidades urbanas elementares por parte de alguns
elementos. Entretanto, a complexidade em que as cidades estão constituídas não
poderia suportar o conceito de decoração dos espaços urbanos por meios de
elementos de mobiliário urbano.
Para que haja “uma forma mais universal e compreensível” do que vem a ser o
esses elementos que são inseridos no ambiente urbano, Serra (1998, p.6) propõe
que sejam chamados de Elementos Urbanos. Assim o autor define esses elementos
como “objetos que se utilizam e se integram com a paisagem urbana, e devem ser
compreensíveis para o cidadão”.
Distante do debate terminológico, outro conceito sobre o mobiliário urbano consta na
norma NBR-9283 de março de 1986, onde estes elementos são definidos como
“todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da paisagem
urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder
público, em espaços públicos e privados”. Esta norma também divide o mobiliário
urbano em subcategorias, que são agrupadas de acordo com as características
atribuídas a cada elemento. Desta forma, conforme a NBR-9283, os elementos do
mobiliário urbano são divididos em nove categorias:
a) Circulação e Transporte;
b) Cultura e Religião;
c) Esporte e Lazer;
d) Infra-Estrutura;
e) Segurança Pública e Proteção;
47
f) Abrigo;
g) Comércio;
h) Informação e Comunicação Visual;
i) Ornamentação da paisagem e Ambientação urbana.
A categoria denominada Circulação e Transporte contempla elementos como
abrigos de pontos de ônibus, acesso ao metrô, bicicletários, calçadas e elementos
que condicionam o trafego de veículos (quebra-molas, canteiros centrais, etc.), além
de parquímetros, semáforos, sinalizações de horizontais e a própria pavimentação
de uma via. Trata-se de uma categoria do mobiliário urbano que define algumas
estruturas essenciais para a circulação de pedestres e veículos e que se intercala
entre estruturas construídas e objetos em menor escala como um parquímetro ou
um semáforo.
Na categoria Cultura e Religião são identificados elementos do mobiliário urbano
como arquibancadas ou palanques, mastros de bandeiras, monumentos, murais e
obeliscos, além outros elementos que acabam sendo reunidos por seu caráter
memorial ou festivo. Outra categoria, Esporte e Lazer reúne elementos como
churrasqueiras, mesas e assentos, playgrounds, quadras de esporte, etc., que
acabam caracterizando-se como mobiliários urbanos que visam compor a estrutura
de entretenimento de uma cidade.
A categoria Infra-Estrutura por sua vez possui quatro subdivisões, conforme a NBR-
9283, definidas como: i) Sistemas de Comunicações; ii) Sistema de Energia; iii)
Sistema de Iluminação Pública; iv) Sistema de Saneamento.
De acordo com a subcategoria de Sistemas de Comunicações são identificados
elementos do mobiliário urbano como caixas de correios, cabine telefônicas, postes
da rede telefônica e sua fiação, além de torres e antenas de celular ou televisão.
Esta subcategoria define especificamente a característica atribuída à elementos que
estão inseridos no ambiente para que atendam as demandas comunicacionais da
população em geral. Já a categoria de Sistemas de Energia relaciona itens como
entradas para gás, galerias subterrâneas e outras estruturas que de certa forma são
ocultadas em um ambiente urbano.
48
A subcategoria de Iluminação pública, por sua vez, reúne elementos do mobiliário
urbano como, luminárias e postes de luz, bem como a fiação desses postes. São
elementos mais freqüentes na extensão de uma via e constituem-se também em um
dos maiores problemas das cidades, pois são essenciais para o bom funcionamento
das mesmas, entretanto, não se pode negar que influenciam consideravelmente na
paisagem urbana das grandes cidades.
Outra subcategoria que está ligada ao mobiliário urbano de Infra-Estrutura são os
Sistemas de Saneamento, que reúne uma série de elementos que se caracterizam
pela estrutura fluvial da cidade. De maneira geral, não são elementos de fácil
reconhecimento em uma via, sendo algumas vezes ocultados ou dispostos de
maneira menos evidentes em um ambiente urbano.
Figura 15. Elementos do mobiliário urbano da categoria Infra-Estrutura.
Fonte: Ilustração do Autor.
Na categoria Segurança Pública e Proteção estão os elementos do mobiliário urbano
que visam servir ao público em estruturas de proteção privada ou pública, como
muros, guaritas e cabines policiais, grades e postos de salva vidas, além de
elementos de menor escala como hidrantes, que são essenciais ao combate de
incêndios.
A categoria Abrigo reúne elementos como abrigos e refúgios, além de quiosques,
que são muito comuns em cidades litorâneas ou históricas. Dentro da categoria
Comércio reúnem-se elementos como, bancas de jornal, barracas e trailers que
atendem ao público em diversos serviços. Já a categoria de mobiliário urbano de
49
Informação e Comunicação Visual encontra-se elementos como anúncios em
cartazes, painéis, placas, faixas ou letreiros, bem como relógios eletrônicos e a
própria sinalização das placas de logradouros. Essencialmente, trata-se de uma
categoria que reúne um conjunto de elementos de informação ao público usuário
dos espaços urbanos.
Na última categoria, Ornamentação da Paisagem e Ambientação Urbana, são
relacionados elementos que ambientam os espaços urbanos, como a própria
arborização disposta nestes ambientes. São elementos que acabam compondo os
espaços urbanos como, bancos de praças, canteiros, esculturas e estátuas, fontes e
chafarizes, além de espelhos d’água.
De maneira geral, o mobiliário urbano representa o conjunto de elementos que são
planejados para informar, proteger, compor, entreter e garantir o bom funcionamento
dos espaços públicos, sendo projetados para que atendam a essa demanda em
estruturas e construções artificiais, ou seja, fruto de um pensamento projetual
específico empregado por profissionais ligados às áreas de projeto. Sua variedade
atesta o caráter complexo que as cidades assumem nos dias hoje. O fato é que,
tanto os elementos do mobiliário urbano, quanto à própria estrutura das cidades
crescem de maneira paralela, onde a necessidade do ambiente urbano geralmente
impõe que sejam criadas soluções para o seu melhor funcionamento. Em contra
partida, esses elementos vão sendo inseridos nas cidades de maneira pouco
orientada causando o excesso de informação visual identificado principalmente onde
a circulação de pedestres e veículos é maior.
50
2.2 ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO
A construção de um cenário urbano constitui-se numa relação entre a necessidade
de ocupação de uma determinada área e os aspectos culturais que dada sociedade
impõe sobre sua configuração. Neste sentido, para Kohlsdorf (1996, p.21) “espaço
urbano e sociedade são duas facetas da mesma moeda”, pois os lugares
construídos não assumem uma posição estática, mas antes seguem a gerência dos
grupos sociais que neles vivem. Assim, ainda segundo a autora é necessário
entender o espaço urbano “pelo seu desenvolvimento histórico, marco dentro do
qual interagem, através do tempo, seus diversos aspectos, que adquirem
especificidade conforme a maneira como se relacionam em diferentes momentos”.
Compreender esse espaço urbano como forma física torna-se essencial na
construção dos mesmos, e esta compreensão só vem por meio da análise do
desempenho desses lugares. Fundamentalmente, para Kohlsdorf (1996, p.22) a
análise do desempenho do espaço urbano deve ser fruto das “expectativas
colocadas pelos que o freqüentam”, e assim tentar trazer a tona os diversos
interesses dos grupos sociais que podem vir a surgir dentro de um ambiente acaba
tornado-se uma tarefa muito complexa. Entretanto, segundo Kohlsdorf (1996, p.26)
seria possível analisar o binômio, espaço construído e expectativa social, “tanto a
partir de suas características de produção quanto de utilização”.
Assim, ao analisarmos um espaço urbano sob o ponto de vista de suas
características de produção nos são reveladas as “relações dos homens com a
natureza, dos processos de trabalho, das relações de produção, das estratégias de
localização dos indivíduos na estrutura do poder”. Mas, sob o ponto de vista da
utilização, podemos obter uma análise muito mais profunda da relação entre espaço
construído e os indivíduos que o freqüentam, e neste sentido, para Kohlsdorf (1996,
p.26) estas questões analíticas da utilização do espaço urbano voltam-se “a
aspirações sociais quanto a possibilidades de sermos informados, pelos lugares que
freqüentamos”. Neste sentido, a autora destaca que os lugares construídos possuem
a “capacidade de transmitir mensagens que serão interpretadas como revelação de
certos sinais codificados”.
A arquitetura urbana comunica-nos informações de várias naturezas, expressando suas diversas características por meio de signos captáveis pelo nosso sistema dos sentidos. Portanto, sua apreensão é expectativa
51
social básica para a avaliação do comportamento dos lugares, como resposta às demais aspirações dos indivíduos. (KOHLSDORF,1996, p.26)
Para Kohlsdorf (1996, p.27) somente por meio de observações mais profundas seria
possível revelar as leis de estruturação dos fenômenos nos espaços urbanos, pois
“os juízos de utilização dos lugares realizam-se a partir de resultados nesse meio de
comunicação direta”, ou seja, é através das informações que o próprio ambiente
apresenta que, de certa forma, podemos decodificar as informações contidas em um
ambiente construído. Algumas dessas informações são descritas pela autora como,
por exemplo, o dimensionamento de uma rua adequada ao fluxo de veículos, uma
combinação de atividades em determinada área, barreiras que podem inviabilizar o
desejo de deslocamento de um lugar ao outro, e até mesmo a beleza ou fealdade
diante de uma praça ou rua. Assim, de acordo com Kohlsdorf (1996, p.27) os lugares
podem oferecer “informações relativas a uma série de aspectos de sua arquitetura,
correspondentes a aspirações situadas diferentemente em cada um desses
aspectos”, e neste sentido, cabe analisarmos cada aspecto “por meio de elementos
e relações pertinentes”. Isto, de certa forma, indica a possibilidade de uma avaliação
a partir dos conceitos específicos de ordem e arranjo de elementos urbanos dentro
das expectativas de utilização dos indivíduos, e como estes acabam percebendo o
conjunto de informações que lhe são expostos à medida que interagem com um
ambiente construído.
Segundo Kohlsdorf (1996, p.31) de maneira geral, a percepção de um espaço
urbano como forma física, advém de “sucessivas apreensões dos lugares”, e a
análise das formas físicas dos espaços urbanos é “resultado da ordenação de
elementos morfológicos segundo certas leis”. Em outras palavras, a autora destaca
que “é preciso que se observe os lugares como composições plásticas”, ou seja,
“elementos relacionados em conjuntos, ou ainda, totalidades”. Dentro dessa
perspectiva, o fato de avaliarmos a paisagem urbana segundo critérios que estejam
em consonância com seus aspectos compositivos através dos diversos elementos
comunicativos de um ambiente, recai sobre um enfoque atomista, ou seja, onde
devemos considerar a totalidade do espaço urbano como algo indivisível, e neste
sentido, segundo Kohlsdorf (1996, p.32) isso nos afastaria de uma “visão
universalista” do todo e suas partes. Assim, segundo a autora a configuração de um
espaço urbano “deve ser observada como totalidade formada por partes que se
52
articulam de maneira biunívoca”, que ao contrário, permite a articulação de diversas
partes e seu todo de maneira dinâmica, e desta forma, se organizado como uma
regra de constituição morfológica que “permeia quaisquer escalas e graus de
complexidade do espaço arquitetônico”.
Considerando que os aspectos de percepção dos lugares por parte dos indivíduos
que o freqüentam podem vir a partir da forma como esses espaços são utilizados, e
que a apreensão da totalidade desse ambiente advém da composição das partes em
um conjunto morfológico regido por certas leis, seria necessário que, pelo menos,
pudesse existir um conjunto de orientações indicando as melhores formas de se
analisar o comportamento de uso desses espaços, sob seus diversos enfoques.
Para Kohlsdorf (1996, p.33) “a forma, como meio de aprendizado dos lugares,
responde a expectativas sociais, genéricas ou específicas, colocadas pelo processo
de conhecimento”, e neste sentido, tanto o processo de apreensão da forma dos
lugares quanto à decodificação das referências para a localização nos mesmos,
torna-se condição básica à formação da noção de espaço, e que trabalha sob certas
características de configuração desses lugares. Estas características são definidas
por Kohlsdorf (1996, p.39) como:
A noção de composição;
A capacidade de serem geometricamente representáveis;
A vinculação às dimensões socioculturais, nos seus aspectos simbólicos.
Dentro dessa pesquisa nos concentraremos na capacidade dos espaços urbanos de
serem geometricamente representados, deixando de lado os aspectos ligados as
dimensões socioculturais e a noção de composição dos lugares, por entendermos
que esses itens de nada poderiam contribuir para a avaliação específica da
morfologia do ambiente urbano escolhido como foco deste trabalho. Por tanto,
busca-se aqui seguir a orientação de Kohlsdorf (1996, p.39), quando a autora
destaca que, a partir da capacidade de podermos representar geometricamente um
espaço urbano, este pode ser avaliado segundo “parâmetros específicos de
composição plástica”, e desta forma, “trabalhar com a investigação e proposição das
leis de formação e comportamento das formas físicas como fenômenos.”
53
2.2.1 Campos Visuais na Escala Urbana
Reconhecer os diferentes campos visuais dentro das diversas escalas de percepção
urbana é uma das primeiras tarefas na análise em ambientes construídos. Para
Oliveira (2003, p.44) “a primeira atitude proposta para identificar o que é lido na
cidade é reconhecer abrangência desta leitura”. Neste sentido, o autor cita o
trabalho de Romero (1999), quando esta estabelece uma escala de percepção do
cenário urbano através de um processo de observação, utilizando o método de
aproximações descrito como “uma espécie de zoom que se inicia com a visão
panorâmica da grande massa urbana termina no edifício e utiliza como parâmetro o
grau de proximidade do usuário na sua interação com o ambiente construído”.
O ponto de destaque deste método descrito por Romero (1999, apud Oliveira, 2003,
p.44) é o fato de podermos considerar que os diversos ambientes de uma cidade
necessitam de uma análise que inicia a partir do panorama particular de cada
paisagem, e que cada cenário possui uma escala de visualização diferente
dependendo da percepção que o usuário faz dos lugares. Assim, Oliveira (2003,
p.45) propõe que as diferentes escalas de percepção urbanas sejam visualizadas de
acordo com campos visuais específicos que estas escalas podem gerar.
Basicamente, segundo Oliveira (2003, p.45) cada escala de percepção “gera um
campo visual com suas características dimensionais em relação à largura, altura e
profundidade de campo”. O autor descreve esse campo visual como a relação entre
três elementos: altura (H), largura (W) e profundidade (P) “constituindo assim um
quadro visual tridimensional”.
Esta definição entre altura (H), largura (W) e profundidade (P) permite também que
possamos, segundo Oliveira (2003), definir os dois principais planos visuais que são
o “Plano Frontal” e o “Plano de Fundo”. O Plano Frontal define o “Campo Visual” do
cenário urbano analisado, através da relação entre altura do Plano Frontal (Hcp) e
largura do Plano Frontal (Wcp). E o Plano de Fundo é definido pela amplitude do
“Foco” de acordo com a relação entre a altura do Plano de Fundo (Hf) com a largura
do Plano de Fundo (Wf). Para completar o esquema de enquadramento visual a
profundidade (P) “define a presença das fronteiras laterais” do que é visualizado.
54
Figura 16. Planos Visuais, análise WHP.
Fonte: OLIVEIRA, 2003.
Esta importante ferramenta possibilita uma melhor avaliação do cenário urbano, pois
reúne atributos suficientes para adaptar-se as diversas necessidades de
classificação dos enquadramentos dentro de uma cidade. Além disso, torna-se
fundamental enquanto processo metodológico permitindo que se estabeleça uma
relação entre a escala de percepção urbana e o que, efetivamente, o usuário desses
espaços consegue visualizar.
Além da definição da estrutura visual para a leitura dos espaços urbanos, Oliveira
(2003, p.48) destaca que seria necessário considerar também o tempo de
observação ( t) do usuário desses ambientes, pois todos estes enquadramentos
dos Campos Visuais “terão velocidades de percepção e tempos de observação
diferenciados de acordo com o meio de locomoção característico do observador”, e
conseqüentemente, são “fundamentais para atribuirmos parâmetros quantitativos de
informações vinculadas aos campos visuais e, por conseguinte a demanda mínima
necessária para ler-se”. Desta maneira, seria importante destacar que nesta
pesquisa buscar-se-á uma abordagem que coloca o usuário pedestre como os focos
das avaliações do espaço urbano escolhido, e neste sentido, não serão previstas as
velocidades empregadas por veículos, pois não é o principal objeto deste trabalho.
Mesmo assim, empregaremos na análise as considerações de Oliveira (2003, p.48)
sobre a velocidade de locomoção do observador e a relação entre a disposição e
quantidade de elementos presentes em cada espaço analisado.
55
2.3 POLUIÇÃO VISUAL NA PAISAGEM URBANA
Antes mesmo que se possam avaliar as interferências visuais que estão dispostas
no ambiente urbano a nossa volta, cabe identificar primeiramente à que cenário
estamos nos referindo. Alguns conceitos, como (O que é poluição? Onde ocorre? De
que forma se manifesta? Quais os aspectos e pontos de vista a serem estudados?)
fazem parte das primeiras indagações sobre o tema, e podem ajudar no
esclarecimento do assunto em um âmbito mais aprofundado.
Campos (2006, p.27) admite que “(...) a poluição visual não está restrita à estética
urbana. Esta é apenas um lado da sua incidência.” Os prejuízos vão além, podendo
ser sentidos na saúde, no turismo, nos bens culturais, na economia e nas vias de
acesso onde tráfego transita.
(...) a poluição visual revela-se por intermédio de práticas, tais como, a propaganda eleitoral; a poluição luminosa (excesso de luminosidade); o acúmulo de lixo nas ruas; pichações e grafites; excesso de anúncios publicitários com verdadeiras aberrações em relação à cor, ao tamanho e ao idioma português; placas; painéis; monumentos mal conservados, lambe-lambes, anúncios estampados em ônibus (busdoor), em táxis, em coletores de lixo, entre outros instrumentos de publicidade. (CAMPOS, 2006, p.33)
Segundo Zagui et al. (2009, p.9) “(...) a poluição visual é um problema urbano mais
grave do que se imagina e não só causa danos à estrutura urbana, ao patrimônio
histórico, arquitetônico e paisagístico, como também prejudica a qualidade de vida
de sua população.” Dentro dessa idéia considera-se, efetivamente, que a poluição
visual é um fenômeno das sociedades modernas e que afeta de uma forma ou de
outra a qualidade de vida destas sociedades. Sua manifestação pode ser
reconhecida facilmente em qualquer grande cidade do mundo. Mas, o pouco que se
sabe é que, este tipo de poluição não possui parâmetros qualitativos e, muito menos
quantitativos, que visem o maior controle das autoridades e conseqüentemente a
promoção de uma fiscalização mais ostensiva. Sobre este ponto, cabe ressaltar,
ainda na perspectiva do estudo deste tema, que os instrumentos jurídicos instituídos
pelo poder público visam primordialmente regular as formas como interagem os
diversos interesses dentro do ambiente urbano, e conseqüentemente devem
oferecer aos órgãos fiscalizadores as ferramentas de lei que instaurem a ordem e
garantam que nenhum direito sobreponha-se ao outro. Ou seja, se vivemos diante
de interesses que, de um lado representam o setor privado, e de outro o direito
56
público é preciso que se estabeleça um equilíbrio dentro do espaço urbano para que
ambos possam coexistir sem interferências. Para isso, podemos dizer que no âmbito
nacional, estadual e municipal, existem leis, normas e regulamentações que tornam
cada cidade um caso particular na busca de desse equilíbrio em todos os sentidos,
pois a poluição visual demanda a busca pela convergência de diversos pontos de
vista sobre o assunto.
Para Amaral (2009, p.99) “falar de poluição visual é falar de indivíduos, história,
cultura, sociedade, economia, política” e por isso, torna esse assunto dinâmico e
complexo. Dentro dessa perspectiva Amaral (2009, p.15) entende que existem pelo
menos três aspectos a serem considerados sobre o tema, que são: sociedade,
economia e legislação. Dentro desse ponto de vista, fica claro o enfoque polarizado
entre o setor privado e o setor público mediado pelo poder de leis que façam do
cenário urbano um espaço equilibrado de interesses. Entretanto, podemos dizer que
na elaboração de leis ou normas que regulem a utilização do espaço urbano
necessitam de evidências ou estudos que consigam mostrar, de uma forma ou de
outra, onde estão os pontos a serem revisados para a implantação de instrumentos
legais que não deixem dúvida dos prejuízos de uma falta de equilíbrio. Neste
sentido, estudos dos mais variados campos necessitam ser desenvolvidos e
revisados.
Figura 17. A poluição visual por cartazes que degradam espaços públicos.
Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br
57
Segundo Maskulka (2004) apud Mezzomo et al. (2003, p.50) a poluição visual deve
ser abordado em seu sentido amplo, com o objetivo de compreender seu conjunto.
Para isso, seria necessário estudar áreas como a Psicologia, Arquitetura, Semiótica,
Engenharia Florestal, Programação Visual, Comunicação, etc. É neste âmbito que
residem os maiores campos de pesquisa que colocam em evidência as relações
entre o espaço urbano construído e os usuários, no sentido de compreender de que
forma é percebido o fenômeno da poluição visual diante do cenário atual de
transformações sociais, ambientais, econômicas e tecnológicas.
No que tange os aspectos sociais o um assunto envolve as características que
outrora fizeram do estudo de mobilidade social um dos principais aspectos da
Revolução Industrial e que agora reaparecem como fruto da crescente expansão
econômica do país. Além disso, são dos estudos realizados no âmbito social que se
compreendem de que forma se organiza socialmente o espaço urbano. Já do ponto
de vista econômico seria leviano não considerar que a base do sistema de compra e
venda de bens e serviços está enraizada no conceito de exposição da imagem e
promoção da oferta aos usuários. Mas, é na perspectiva da regulamentação, na
noção do espaço urbano enquanto bem material que propicia qualidade vida e
funcionalidade, que talvez ainda estejamos carecendo de argumentos sólidos em
prol do equilíbrio.
2.3.1 Definição de Termos
Nesta pesquisa, ao abordarmos o tema da poluição visual, podemos constatar que,
em uma primeira análise dos termos “poluição” e “visual”, poderíamos achar aí uma
definição bem clara sobre o assunto, entretanto, talvez não chegássemos com
precisão ao foco de discussão deste tópico, quando este é relacionado às questões
do habitat de uma grande cidade, e muito menos na sua relação direta com diversos
outros fatores que compõe a paisagem urbana. De qualquer maneira, a utilização
deste recurso na validação ou no confronto aos conceitos existentes na literatura
sobre o assunto é de extrema importância, pois possibilita que tenhamos uma
compreensão mais clara das abordagens que serão estudas.
58
O termo “poluição” está associado, entre outras coisas, à “contaminação e
degradação do meio natural” podendo ser “causado por efeitos prejudiciais inclusive
a saúde, e ao equilíbrio emocional.” (FERREIRA, 2001, p.580). Desta forma, a
poluição em si não se constitui no agente causador, mas o resultado de uma série
efeitos que culminam na degradação do meio natural. Mas, afinal de contas, de que
meio natural estamos falando? Se, é possível definir que a cidade constitui-se neste
“meio natural” devemos abstrair o fato dela não existir “naturalmente”, senão pela
ação do homem, e sendo assim, também ignorar que as cidades, por si só,
constituem-se num meio ambiente artificial e não natural. Mas, se por um lado,
pensarmos que este “meio natural” é simplesmente o modo comum como estamos
acostumados a nos referir àquele ambiente construído em que vivemos, então
podemos, sim, dizer que a poluição degrada e contamina nosso habitat, dito
“natural”, pois é nele que se desenvolve a vida, e para nós, nada é mais natural do
que poder transitar entre prédios, avenidas, praças e espaços públicos com a
certeza de que isso tudo sempre esteve neste lugar.
Devemos ter atenção neste primeiro ponto, pois é essencial para não se perder
nessa discussão tentando associar a cidade, artificialmente construída, com o meio
ambiente natural, que traz conceitos ecológicos de preservação da biota, através
apenas da utilização da expressão “meio natural”. Ou seja, se existe um “meio
natural” na vida dentro de uma cidade, qual é a sua natureza? Neste sentido, é
possível afirmar que, qual quer que seja o meio – natural ou artificial – a poluição
poderá estar presente, e seu efeito de degradação e contaminação se dará em
ambos os meios, mas de formas diferentes. Assim, é diferente dizer que a poluição
visual que degrada a paisagem urbana, a qual é resultado da construção humana,
representa o mesmo prejuízo daquela poluição que contamina o ar, a água ou o
solo. A poluição visual em uma cidade não é o efeito da intervenção do homem no
meio ambiente natural, pelo contrário, é a ação do homem sobre o próprio meio
ambiente artificial fruto do que construiu.
Prosseguindo na decodificação de significados, o termo “poluir” – ato praticado
confirma mais alguns entendimentos sobre sua natureza, que estão ligados
principalmente à ação de sujar, manchar, corromper e tornar prejudicial à saúde.
Este mesmo exercício, apenas a título de uma verificação denotativa, pode ser
realizado com os termos: “visual” e “visão”. O termo “visual” refere-se tanto à “visão”
59
quanto à “vista”, e neste sentido o termo “vista” possui uma definição mais ampla,
que está diretamente associado ao ato de ver. Desta forma, “vista” significa “aquilo
que se vê” como também pode ser definida como “panorama, paisagem”. No sentido
que queremos abordar o tema, buscamos a associação do termo “visual” quando
este se refere ao termo “vista”, pois essencialmente, a preocupação com a
degradação do meio ambiente – natural ou artificial – está nas conseqüências que a
poluição propaga no que se vê, e mais objetivamente, na paisagem que se vê. Neste
sentido, então, parece mais apropriado sua associação direta com o objeto de
estudo em si na forma proposta daquilo que se vê, o próprio panorama ou a
paisagem urbana. Desta forma, queremos ir adiante, para compreender os motivos
de uma possível falha no entendimento da expressão “poluição visual”, pois não
existe consenso de sua utilização, e muito menos conceitos esclarecedores na
literatura pesquisada.
Sabendo que o termo “visual” significa tanto o ato de ver (vista), como a forma como
vemos (visual) sentimos a necessidade de tentar buscar o significado no termo
“visão”, assim como fizemos com o termo “vista”, para compreendermos em qual
parte da expressão “poluição visual” acontece o desencontro de sentidos. O termo
“visão” refere-se ao “ato ou efeito de ver, ou o sentido da visão”. Mas, para
entendermos de maneira mais adequada este exercício denotativo propomos uma
análise sobre o verbo “ver” termo originário dos demais analisados procurando
destacar aqueles significados que possam fazer sentido a definição que procuramos.
ver v.t.d. 1. Conhecer ou perceber pela visão: (...) 2. Alcançar com a vista, enxergar: (...) 4. Presenciar, testemunhar: (...) 7. Reconhecer, compreender: (...) 9. Observar, notar: (...) 11. Reparar: (...) 17. Enxergar: (...) 18. Perceber as coisas pelo sentido da visão: (...) (FERREIRA, 2001, p.742-43).
Nota-se que as definições encontradas para o termo “ver” – termo este que origina
visão, visual, vista.. – carregam consigo ações ligadas não só ao ato ou ação de ver,
como também se confunde, muitas vezes, com o seu próprio efeito. Desta forma,
queremos destacar que não só o ato, mas seus efeitos mostram-se presentes como
se formassem um corpo único semântico nos termos analisados. Dentro disso, fica a
questão: ver é perceber? Ou, ver é compreender?
Parece-nos muito simples responder a esse questionamento, levando em
consideração que, ato e efeito, comumente, possuem distinções bastante claras,
como causa e conseqüência. Se ver traz consigo dois significados antagônicos,
60
desta forma, podemos dizer que essa espécie de “confusão semântica” acaba por
ofuscar o real entendimento do termo “visual”.
Nem tudo o que se vê pode ser compreendido, mas tudo o que vemos pode ser
percebido. A partir desse raciocínio, levanta-se o questionamento sobre o que se
pretende dizer com a expressão “poluição visual”. Em uma cidade, não podemos
dizer que tudo o que vemos é compreendido, são linguagens de diferentes
naturezas, que nem o mais sábio poderia explicar o conjunto de formas glíficas e
gráficas que se apresentam aos olhos do público. Em contrapartida, afirmamos que
tudo o que vemos dentro de uma cidade é percebido, pois mesmo os elementos,
que não estão dentro de nossos campos de visão, podem ser notados.
Pela proposta de um entendimento adequado da expressão “poluição visual”
constata-se claramente a dificuldade semântica de união de suas duas palavras. Se
estivermos nos referindo à “poluição”, e esta, compreendida como o efeito do ato de
poluir, então sua associação com o termo “visual” parece inadequada, pois ambos,
no sentido destacado anteriormente, são efeitos de uma ação (ação de ver e ação
de poluir). O termo “poluição” enquanto efeito causado pela degradação ou
contaminação jamais poderia ser ligado à palavra “visual”, pois esta denota dois
sentidos: vista e visão. Se “poluição visual” pretende estabelecer-se como uma
expressão que conote a degradação ou contaminação de uma paisagem, não
poderia utilizar o termo “visual” sob o pretexto, deste, ser confundido com “visão”,
que não pode ser degradada por ações poluidoras e sim por algum desajuste
biológico e desgaste do tempo no órgão visor. Ou pelo motivo já destacado sobre a
junção de dois termos que denotam um efeito. Desta forma, “poluição visual” estaria
melhor empregado quando se refere ao termo “vista”, no sentido de panorama ou
paisagem. Ou seja, se a expressão “poluição visual” está estritamente definindo o
efeito de degradação paisagística e não o efeito de degradação do sentido da visão,
o melhor termo seria poluição da paisagem ou poluição paisagística ou degradação
da paisagem, degradação paisagística.
A dificuldade de compreensão da expressão “poluição visual” é apresentada por
Silveira (2009), que relata também esse problema quando da busca por uma
definição mais adequada.
61
(...) a expressão “poluição visual”, por si só, pela margem de subjetividade com que se define, pelo caráter pejorativo que carrega, poderia ser dada, de antemão, como uma armadilha contornável, como questão insolúvel ou como obstáculo para análises menos normativas e mais atentas às singularidades criativas das expressões urbanas e do uso público da rua. (SILVEIRA, 2009, n.d)
Para Portella (2008), por exemplo, “(...) e necessário definir o que esse termo –
poluição visual - significa, caso contrario o urbanista e o legislador acabam por criar
regras que não refletem a cultura contemporânea em que vivemos.” A visão da
autora destaca-se, por demonstrar o quanto o assunto deve ser debatido antes
mesmo que possa ser levado a um conselho que elencará os parâmetros de uma
futura regulamentação. Outro ponto importante, além da definição precisa do tema,
refere-se aos pontos ou focos do problema. Se não conhecermos sua definição de
forma clara, não existirá a possibilidade de poder avaliar sua presença em qualquer
parte, pois resolver o problema pressupõe conhecê-lo em seus detalhes.
Tendo em vista a necessidade de compreensão da expressão “poluição visual”
buscasse nesse momento conceitos sobre o tema a partir da perspectiva de
diversas áreas, como o direito, a arquitetura e paisagismo, urbanismo e
comunicação. Alguns autores dessas áreas trazem importantes definições a cerca
do tema, não através de em uma análise dos termos em si, mas dentro de uma
contribuição para um entendimento mais amplo deste tópico. Alguns pontos de vista
são oferecidos em decorrência de experiências com o tema de pesquisa,
destacando o que a “poluição visual” seria capaz de englobar e definindo alguns
limites.
2.3.2 Conceitos de Poluição Visual
Segundo Fiorillo (2004, p.151) a poluição visual, na contramão dos direitos
garantidos pela constituição, ao tratar da política urbana, caracteriza-se como uma
“ofensa à integridade psíquica dos indivíduos que numa determinada cidade residem
ou transitam, violando diretamente o preceito garantidor de uma vida com
qualidade.” Este conceito defendido pelo autor, vai ao encontro de uma análise mais
ampla sobre o tema, que pretende mostrar que, a poluição visual, em si, deixando
de lado a característica de um olhar voltado somente à questão da estética urbana,
“prejudica a própria saúde, e, por decorrência, a obtenção de uma vida saudável”.
62
Além disso, revela, em primeira instância, que à parte de várias outras
conseqüências, a poluição visual é antes de tudo uma violação de um direito do
cidadão, que por força da profusão de mensagens no ambiente estaria sendo
cerceado de uma paisagem urbana mais ordenada e harmoniosa.
A poluição visual, na maioria das vezes, dá-se de maneira gradativa, permitindo que nos acostumemos com a desarmonia visual. Essa paulatina poluição dos espaços urbanos deve ser contida, sob pena de inviabilizar-se às futuras gerações a oportunidade de desfrutarem um meio ambiente artificial harmônico. (FIORILLO, 2004, p.153)
Para Minami (2010, p.7) a poluição visual “é tudo aquilo que está em excesso no
espaço urbano e que causa essa sensação de desorganização que vemos todos os
dias no espaço das cidades”. Mas, não são somente os aspectos da comunicação
visual que influenciam nessa sensação de desordem, por isso, Minami (2010) afirma
que, a própria infra-estrutura da cidade contribui para a poluição visual, como o
excesso de construções e a exposição dos fios da rede elétrica, por exemplo. O
problema da poluição visual só vem à tona pela convergência desses elementos,
que dispostos em um mesmo ambiente ressaltam os aspectos da desordem visual, e
neste conceito mais amplo, acrescentamos o grande número de veículos que hoje
abarrotam as avenidas e ruas de nossas cidades. Com certeza, essa reunião de
elementos visuais, que em essência são o fruto da construção humana, caracteriza
o espaço urbano de maneira muito particular, de forma que é possível
diferenciarmos os efeitos da poluição visual em grandes e pequenas cidades.
Efetivamente, nota-se no conceito de Minami (2010), o grau de intervenção do
homem no meio ambiente artificial construído.
Outro ponto a ser destacado pelo autor é o próprio comportamento das pessoas que
vivem na cidade, e nela sobrevivem com suas atividades econômicas. Para Minami
(2010), tudo passa, prioritariamente, por uma mudança de comportamento. Ou seja,
depreende-se disso que, o próprio cidadão deve contribuir para que esse excesso
dentro do ambiente seja o menos nocivo e conseqüentemente adotar posturas
orientadas de preservação da paisagem urbana.
Se todo mundo se sentir no direito de levar o seu comércio, a sua publicidade, a sua marca, enfim, os seus interesses para o espaço público sem obedecer a nenhum critério, o resultado será a desorganização e a sensação de caos que já temos no espaço público. (MINAMI, 2010, p.7-8)
63
Figura 18. Tipo de poluição visual provocada pela falta de cuidados da própria população.
Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br
Um outro enfoque sobre o tema é abordado por Espinosa (2004, p.9), destacando
que “o conceito de poluição visual depende das circunstâncias da sua interpretação,
dos enquadres e das experiências do indivíduo que interage com o fenômeno.” Para
a autora, diferentemente da poluição da água ou do ar, “o conceito de poluição
visual de um ambiente não tem para a sua interpretação um código dominante”.
Desta forma, a autora destaca que nosso “modo de leitura”, levando em
consideração que a poluição visual seria uma relação “entre a ordem ou a desordem
no uso do espaço” a discussão poderia evoluir para dois pontos de vista: a) leitura
discreta: onde ordem e desordem formariam os limites de uma escala; b) leitura
analógica: com modos de agrupar elementos, entre os “ordenados” e
“desordenados” ou “poluídos”. Neste sentido Espinosa (2004) destaca que essa
leitura “desloca-se para fatores como aceitação ou rejeição, empatia ou entropia,
inclusão ou exclusão.”
Esta visão revela um importante conceito que é também defendido por outros
autores, de que a poluição visual está atrelada a forma como o indivíduo percebe o
ambiente e como o ambiente deve ser diferenciado a partir de múltiplas perspectivas
socioculturais. Para Portella (2008), por exemplo, o que é necessário para solucionar
o problema da poluição visual é “considerar a cultura, a identidade local e os
interesses envolvidos no planejamento urbano de cada área da cidade na geração
64
de princípios para ordenar os anúncios comerciais.” Desta forma, o problema da
poluição visual deve ser encarado através de diferentes variáveis e que “devem ser
manejadas para atingir um objetivo comum.” Segundo Portella (2008) “esse objetivo
comum varia de cidade para cidade, e de uma área para outra da cidade, estando
relacionado com a imagem que o usuário tem do espaço urbano.”
(...) não se pode criar normas gerais para o controle da poluição visual que sejam estendidas para toda uma cidade, pois cada área ou bairro possui uma diferente identidade. (...) normas para o controle de anúncios comerciais aplicadas no centro histórico de uma cidade não podem necessariamente serem aplicadas em outras áreas da mesma (tais como em grandes avenidas de comércio caracterizadas por prédios modernos e contemporâneos). (PORTELLA, 2008, n.d)
Dentro desse importante aspecto de percepção do ambiente urbano e sua relação
com o excesso de informação disposto nele, Vargas (2002) também ressalta que
“não se pode esquecer que a imagem de dinamismo e vitalidade no comércio é, em
parte, pelo congestionamento: de pessoas, de veículos, de mercadorias e de
imagens.” E neste sentido “Fica claro, que alguns lugares, necessitam desta forma
de poluição visual, que não está interessada em transmitir mensagens específicas
de produtos ou estabelecimentos. É, simplesmente, a sensação de vitalidade que
importa.”
O conceito de poluição visual admitido por Vargas (2002), mesmo assim, revela a
preocupação com um limite tolerável ao excesso, que inevitavelmente faz parte de
algumas cidades. Para a autora a poluição visual constitui-se no “limite a partir do
qual, o meio não consegue mais digerir os elementos causadores das
transformações em curso, e acaba por perder as características naturais que lhe
deram origem. Assim, Vargas (2002) entende que, o “meio” a que se refere é a
nossa própria visão, os “elementos causadores” seriam as imagens e as
“características iniciais” são as condições do meio transmitir as mensagens.
Essa definição é muito interessante sob o ponto de vista da estrutura da poluição
visual e seus agentes. Porém, quando Vargas se refere às “características iniciais”
enquanto “condições do meio de transmitir as mensagens” talvez estivesse se
referindo aos elementos de comunicação, ou suportes midiáticos, que efetivamente
são os agentes de transmissão de uma mensagem, ou ao ambiente em que estão
esses suportes, e não a “visão”, quando se refere ao “meio não consegue digerir”.
Outro ponto importante é destacar que, os “elementos causadores”, quando
65
relacionados somente ao uso de imagens, podem confundir, pois se pergunta se
seriam imagens gráficas, ou imagens captadas pela visão? De qualquer forma trata-
se de uma definição bastante precisa que consegue englobar os principais aspectos
envolvidos na questão da poluição visual: o ambiente, o usuário e a informação.
Outros autores como, Mezzomo et al. (2003, p.50) destacam que a poluição visual
“refere a tudo que choca as impressões colhidas pelos olhos”, e neste sentido
“consiste no efeito de qualquer ação que prejudique o bem-estar da população e
afete as condições funcionais, estéticas e ambientais, ao ser observado pelo olho
humano.” Neste momento podemos identificar a preocupação com os aspectos de
funcionalidade do ambiente urbano, fatalmente prejudicados pelo excesso de
informações que podem acarretar na poluição visual. Além disso, mesmo sob o
ponto de vista qualitativo em que a estética poderia ser reconhecida como um
valor subjetivo, como afirma Espinosa (2004), ao propor que a poluição visual não
possui um código dominante na interpretação do ambiente, e sendo assim,
invalidando qualquer julgamento estético consta que se trata também de uma
variável a ser considerada, e neste sentido existem ferramentas, ou até mesmo um
corpo literário capaz de comprovar a tendência harmônica e equilíbrio de
determinadas formas de autores como Arnheim (1980), Gomes Filho (2004), Dondis
(2007).
Do ponto de vista semiótico, por exemplo, a questão da poluição visual, também se
encontram argumentos que podem trazer a tona outras variáveis sobre esse tema.
Para Drigo et. al. (2008, p.87) “A poluição visual se deve, em parte, à mistura de dois
sistemas de signos: o contexto urbano e a publicidade de rua.” Para o autor ao
relacionarem-se, o conjunto de elementos formados por ruas, prédios e passeios
públicos acabam se dinamizando e formando o que pode ser chamado de “contexto
urbano”. Neste sentido, Drigo et. al. (2008) afirma que a publicidade de rua,
constituída como o “outro sistema concreto de signos” distribuída de modo
desordenado pela cidade e em excesso constroem “um contexto urbano
diferenciado”. O que torna este ponto de vista importante é a relação que o autor
expõe de forma indireta entre os aspectos do estudo arquitetônico, que em essência
constitui o ambiente urbano como um todo, definido-o como o “contexto urbano”, e
sua relação com a paisagem urbana em si, onde os mais variados elementos, sejam
eles gráficos ou glíficos, se distribuem e organizam-se. Esse conjunto é o que
66
fundamentalmente o usuário de um espaço construído percebe a sua volta e
interpreta de forma a criar um conjunto sígnico diferenciado em que se unem
formando as mais variadas interpretações. Ou seja, se para alguns essa profusão de
signos expostos no ambiente urbano é algo que faz parte do corpo de uma cidade
moderna, para outros se torna uma desordem incômoda.
Figura 19. Poluição Visual provocada pela falta de ordem e arranjo na composição com o ambiente.
Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br
Ainda dentro dessa discussão sobre a relação de espaço público e ação dos meios
que de uma forma ou de outra comunicam o ambiente a nossa volta, Portella (2008,
s.p) cita a poluição visual como “corresponde à degradação do espaço urbano em
função do uso desordenado de anúncios comerciais, os quais são fixados sem
serem consideradas as características estéticas dos edifícios e a identidade do
espaço urbano.” A autora defende a idéia de que o elemento comercial disposto no
ambiente de forma ordenada e respeitando a identidade do lugar não estaria
contemplado no conceito de poluição visual. Mas, se do contrário “(...) quando esses
67
anúncios comerciais são fixados de modo desordenado não respeitando a
identidade do espaço urbano, o resultado é o caos.” Dentro dessa perspectiva os
suportes de comunicação que geram a desordem no espaço urbano são avaliados
não por sua profusão, mas antes pela relação de ordem e arranjo com outros
elementos que compõe da paisagem urbana. Essa desordem informacional, de certa
forma, atinge o usuário do espaço urbano o torna mais difícil a compreensão do que
está a sua volta.
Sobre isso, Ferrara (1976) apud Santos (2009, p.35-36) destaca que a “(...) poluição
visual urbana é um significado determinado pela impossibilidade que o usuário
encontra para apropriar-se do espaço urbano e usá-lo.” Dentro desse contexto
explicitado, entre o caráter de uma busca pela informação por parte do usuário
urbano dentro do ambiente, a poluição age como ruído e, portanto, se opõe “ao
significado e ao ambiente urbano planejado, enquanto sistema de comunicação.”
Essa impossibilidade de poder, o receptor de uma mensagem qualquer, e nesse
caso, aquele que recebe mensagens visuais, reconhecer um código comum de
comunicação, destaca-se pelo fato de que o mesmo não poderia ser capaz de
decodificar um ambiente de forma plena sem ter que submeter a mensagem pelos
filtros sensorial, funcional e cultural levantados por Munari (2006), cujos estudos
serão comentados no tópico sobre comunicação visual.
Figura 20. Excesso de informações que provocam um ruído no ambiente.
Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br
68
Pesquisando outros conceitos acerca do tema encontramos alguns argumentos que
revelam a preocupação com a assimilação da paisagem dentro do contexto urbano e
a falta de qualidade de vida que isso poderia proporcionar. Assim, no ponto de vista
de Santos (2009, p.36) a poluição visual constitui-se em “tudo o que vem a dificultar
a leitura das paisagens de uma cidade; impedindo a sua apropriação e
transformação em lugares (topofilia) e que coloque em risco a saúde da população.”
Dentro desse conceito, Santos (2003) apud Santos (2009, p.36), afirma que a
poluição visual assume um caráter de “efeitos danosos resultantes dos impactos
visuais causados por determinadas ações e atividades.” Neste sentido, o autor
afirma que estes “efeitos danosos” podem prejudicar a saúde, a segurança e o bem-
estar da polução, além de “criar condições adversas às atividades sociais e
econômicas; afetar desfavoravelmente a biota; afetar as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente”.
Mais uma vez, dentro dos conceitos revisados, encontra-se a preocupação
essencialmente com a qualidade de vida de quem habita em meio à desordem visual
das grandes cidades. Outro ponto importante destacado sobre o conceito de
poluição visual enquanto “efeito danoso” é fato de que neste momento existe uma
preocupação também com o aspecto estético da paisagem urbana, o que para
alguns autores, principalmente quando este fator é levando ao âmbito da discussão
jurídica. Evidentemente isso ocorre, pois não existem parâmetros claros que
consigam definir o que é harmonicamente mais belo e o que não é. No campo da
estética talvez esteja um dos principais pontos de discussão sobre esse tema.
Dentro dessa discussão podemos destacar autores como Campos (2006) que
analisa a relação direta dos efeitos da poluição visual e a estética da cidade dentro
de uma avaliação subjetiva. Para Campos (2006, p.112) “a poluição visual é
causada pela degradação ou desarmonia de elementos inseridos de forma
desordenada no meio ambiente contra a Estética.” E nesse sentido, destaca que
“cada caso de manifestação da poluição visual deve ser analisado separadamente,
por isso a sua avaliação é mais sujeita à subjetividade (senso estético).” Dessa
importante avaliação podemos retirar um conceito fundamental, que diz respeito, a
análise de um contexto geral sob o registro pontual das incidências de desordem no
meio urbano. Isto quer dizer que, apesar considerarmos, de modo geral, que a
cidade moderna constitui-se em um ambiente, de certa forma, livre de uma
69
ordenação harmônica, cabe neste contexto ainda assim avaliar particularmente
determinados pontos levando em conta “a paisagem, o entorno e a cultura de cada
localidade”. Desta forma esse ponto de vista de Campos (2006), alia-se aos
conceitos já comentados anteriormente de Vargas (2002) e Portella (2008).
Em mais uma definição que encontramos, Minami & Guimarães Junior (2001, n.d)
destaca que a poluição visual “é pois, conseqüência e resultado de
desconformidades (...) e também o efeito da deterioração dos espaços da cidade,
pelo acúmulo exagerado de anúncios publicitários em determinados locais.” Essa
esclarecedora idéia sobre a essência do conceito, destacamos, pois vai ao encontro
também da definição que acreditamos, e desta forma, esclarece definitivamente que
a poluição visual é sim o efeito de um agente poluidor, quer seja esse agente fruto
da publicidade desordenada ou do mau planejamento de distribuição dos elementos
urbanos de uma cidade. Mas, em um âmbito mais abrangente, porém, para Minami
& Guimarães Junior (2001, n.d) o conceito de poluição visual está ligado ao fato do
“campo visual do cidadão se encontra de tal maneira que a sua percepção dos
espaços da cidade é impedida ou dificultada.” É nesse ponto que podemos dizer que
a poluição visual cerceia o direito do cidadão ao usufruir dos espaços públicos e
forçosamente estabelece uma relação de desequilíbrio dentro do contexto urbano,
gerando assim efeitos danosos a qualidade de vida dos habitantes das cidades que
sofrem com esse tipo de poluição.
(...) os problemas dos efeitos negativos tais como a poluição visual, advindos do ambiente urbano trazem como conseqüência a deterioração da qualidade de vida da população residente em áreas urbanas e de todos os aspectos que envolvem barulho (poluição sonora), contraste, conflito, diferença, dualidade nos elementos que compõem o meio ambiente (poluição atmosférica e visual), transito, violência, insegurança. (MINAMI & GUIMARÃES JUNIOR, 2001, n.d)
Mas, não podemos deixar também de destacar dentro dessa análise de conceitos
sobre a poluição visual o ponto de vista contrário, de certa forma, ao que todos os
autores citados até aqui defendem, principalmente com relação aos efeitos
prejudiciais aos habitantes que na maioria das vezes dentro dos conceitos referidos
apontam que a poluição visual tem profunda influência na qualidade de vida das
pessoas que vivem em uma cidade moderna. Neste sentido, Spinelli (2006) apud
Silveira (2009, n.d), argumenta que “o que para alguns pode ser considerado
poluição visual” para outros pode ser apenas “um reflexo lógico das novas formas de
70
habitar um ecossistema urbano pós-moderno” que teve uma profunda transformação
através da “economia capitalista de mercado e seus devidos elementos
iconográficos e vídeo-lúdicos.”
Ainda dentro da perspectiva da contraposição de conceitos sobre a poluição visual
autores como, Silveira (2009) defende que o fenômeno atrelado a esse tema “não
deixa de ser um fenômeno típico, muito representativo e altamente sintomático da
lógica de visibilidade que caracteriza nossa sociedade contemporânea” e desta
forma é estimulada pelos atuais meios de massa, como a publicidade, e nesse
contexto mais específico a publicidade de rua. Entretanto o autor entende que
“continuamos ainda, (...) sem precisar/dominar direito o termo “poluição visual” e
sem compreender a maior parte de suas repercussões, caracterizações,
implicações, etc.” Sobre o ponto de vista das implicações que a poluição visual
representa, queremos aprofundar a análise em um próximo tópico, destacando o
artigo de um autor em especial, Georg Simmel (1979), citado por Silveira (2009), que
revela entre outras coisas o aspecto psicológico do habitante de uma cidade
moderna, em A Metrópole e a Vida Mental.
2.3.3 Aspectos da Poluição Visual
As cidades foram construídas durante os séculos e desde há muito tempo
comportam uma vida comercial intensa. Suas avenidas, praças, calçadas e edifícios
compõem o que podemos chamar de meio ambiente artificial. Dentro desse
conceito, a cidade, como meio ambiente construído, segundo Fiorillo (2004, p.21),
divide-se em “espaço urbano fechado”, que abrange os prédios e o conjunto de
edificações, e “espaço urbano aberto”, que compreende todos os equipamentos
públicos, como praças, ruas, avenidas, etc. E é, efetivamente, dentro desse espaço
urbano aberto que a poluição visual se eleva em níveis quase insuportáveis. São
esses espaços, que carecem de uma atenção redobrada, pois se caracterizam, em
essência, num ambiente comum de convivência.
Identificar os diferentes pontos que caracterizam o problema da poluição visual em
nossas cidades requer uma atenção redobrada, pois, não é por sinal, que muitas
áreas do conhecimento como a arquitetura, o urbanismo e o direito já tentaram
71
elaborar argumentos contra ou a favor de determinadas ações, principalmente
lideradas pelo poder público, a fim de sanar ou pelo menos equacionar essa
demanda, que é um problema recorrente das grandes metrópoles. A definição dos
aspectos que compõem o problema da poluição visual visa, segundo Fiorillo (2004,
p.20) “facilitar a identificação da atividade degradante e do bem imediatamente
agredido.” Mas outro ponto importante, além de identificar onde a poluição visual se
concentra e de que forma ela é percebida, é definir o próprio conceito de poluição.
Dentro dessa perspectiva, assume-se aqui o empenho de, primeiramente, validar
não só termo poluição, mas a própria expressão “poluição visual”, e seus termos, de
forma denotativa e conotativa.
2.3.4 Aspecto Psicofisiológico da Poluição Visual
Se, de fato, pudermos reconhecer que a vida cotidiana dentro de uma cidade sofreu
alterações ao longo dos dois últimos séculos, seja no âmbito de sua estrutura,
comunicações ou transportes, talvez identifiquemos nestes fatores os agentes de
maior influência no comportamento dos habitantes das metrópoles contemporâneas.
No entanto, apesar de se atribuir ao crescimento dessas cidades o motivo pela
explosão da desordem e o excesso de elementos que degradam sua paisagem
urbana provocando uma mudança de comportamento em seus habitantes, o que se
sabe é que a composição de uma cidade e todas com todas as suas dificuldades,
parece não ser o principal elemento que contribui para a alteração do estado
psicológico das pessoas que nela habitam.
Segundo Simmel (1979, p.12) “a base psicológica do tipo metropolitano de
individualidade consiste na intensificação dos estímulos nervosos, que resultam da
alteração brusca e ininterrupta entre estímulos exteriores e interiores.” Ou seja,
dentro do contexto de uma cidade, de constantes mudanças, de inúmeras situações
novas e estímulos visuais, seus habitantes absorvem de forma mais natural toda
essa composição muitas vezes caótica. Para Simmel (1979, 12) “o homem é uma
criatura que procede a diferenciações”, e neste sentido, passa a ter uma rotina
mental que intercala entre a sua estimulação pela diferença de um contexto
específico e a imagem contextual que a precedeu. Em termos de assimilação do
espaço urbano, o que se apresenta como característica única dos habitantes de uma
72
metrópole é um comportamento que não chega a ser absorvido em essência, mas
apenas o suficiente para se compreender o contexto ao seu redor. Nesses termos,
Simmel (1979, p.12) compara dois exemplos, entre os habitantes acostumados com
a vida em uma cidade rural, onde passam a maior parte do tempo entre paisagens
mais regulares, sem grandes contrastes e alterações, e assim, registram
“impressões duradouras, impressões que diferem apenas ligeiramente uma da
outra”, acabam gastando menos de sua consciência. Em contra partida, a vida em
uma cidade grande, passa a criar em seus habitantes uma espécie de fundamento
sensorial diferenciado, mais resignado aos fatos e excessos das transformações
urbanas.
Segundo Simmel (1979, p.12) existem pelo menos duas funções que compõe o lado
psicológico humano, uma mais emotiva e sensorial atribuída às “camadas mais
inconscientes do psiquismo” e por isso “crescem sem grande dificuldade ao ritmo
constante da aquisição ininterrupta de hábitos”, e a outra, atribuída ao intelecto, que
“se situa nas camadas transparentes, conscientes, mais altas do psiquismo; é a
mais adaptável de nossas forças interiores”. Isto significa que, o desenvolvimento de
um intelecto urbano representa uma maneira menos preza aos contrastes oferecidos
pelos fenômenos que a própria cidade oferece aos olhos de seus habitantes.
Para acomodar-se à mudança e ao contraste de fenômenos, o intelecto não exige qualquer choque ou transtorno interior; ao passo que é somente através de tais transtornos que a mente mais conservadora se poderia acomodar ao ritmo metropolitano de acontecimentos. (...) Assim, o tipo metropolitano de homem – que, naturalmente, existe em mil variantes individuais – desenvolve um órgão que o protege das correntes de discrepâncias ameaçadoras de sua ambientação externa, as quais, do contrário, o desenraizariam. Ele reage com a cabeça, ao invés de com o coração. Nisto, uma conscientização crescente vai assumindo uma prerrogativa do psíquico. (SIMMEL, 1979, p.12-13)
Para Simmel (1979, p.13) o homem metropolitano possui uma consciência elevada e
sua reação aos acontecimentos ocorridos no corpo de uma metrópole é conduzida
àquela camada mais racional que constitui o psicológico humano. Assim a vida
dentro de uma cidade é levada através da intelectualidade do homem, o que o faz
conseqüentemente menos sensível aos fenômenos visuais na vida dentro dela.
Se trouxermos a questão para o campo da assimilação da informação que é
disposta em um ambiente urbano, por exemplo, podemos inserir aqui o conceito de
Pignatari (1970, p.45), quando este autor define que “a idéia de informação está
73
sempre ligada à idéia de seleção e escolha.” Assim, a possibilidade de se registrar
uma informação por parte de qualquer habitante de uma cidade só se dará por meio
da “escolha”, da “seleção” ou “discriminação” dela em meio a inúmeras outras
informações. Para Pignatari (1970, p.45) “sinais possuem um grau de informação em
virtude de sua força potencial de propiciar seleções”, ou seja, no caso das
informações que nos são apresentadas no ambiente a nossa volta, só serão
assimiladas aquelas que tiverem a força potencial em transmitir um dado
reconhecível e que seja forte o suficiente para causar uma reação, que neste caso,
poderia ser uma seleção, uma discriminação ou a escolha a que se refere Pignatari
(1970), como a separação de uma determinada informação do contexto que a
circunda em um ambiente urbano.
Outro ponto a ser destacado ainda dentro do âmbito da assimilação de uma
informação, é que, da mesma forma como Simmel (1979) revela que existe uma
espécie de inteligência própria dos habitantes que vivem no ambiente de uma
metrópole, Pignatari (1970, p.45-46) afirma que “não há informação possível fora de
um sistema qualquer de signos ou sinais”, no entanto, “a introdução de um signo
novo no sistema implicará, (...) num certo grau de inteligibilidade desse mesmo signo
face ao repertório ou sistema de signos existentes”. Isto significa que existe uma
forma pela qual a informação é assimilada, e isso depende de um estado inteligível
que varia de acordo com a formação específica de cada pessoa. Tudo indica que o
comportamento de habitantes de estruturas urbanas diferentes serão
correspondentes aos níveis intelectuais que cada um desenvolveu como forma de
entender o contexto de informações ao seu redor dentro do habitat em que vive.
Sendo assim, esta definição contribui para a idéia de que o homem que vive numa
metrópole jamais será acometido de um desconforto ao deparar-se com o que o
progresso e a modernidade fizeram da paisagem urbana, num sentido estrito
relacionado ao seu comportamento psíquico, pois este já formou um conjunto
intelectual que o faz reconhecer a estrutura visual da cidade de uma maneira sem
grandes esforços ou percalços.
De fato, não se pode negar que o comportamento de habitantes de cidades com
estruturas maiores ou menores sejam completamente diferentes diante do número
de estímulos visuais que cada um recebe em sua vida diária, dado o contexto em
que vivem. As experiências de determinada cultura são fortes ao ponto de influenciar
74
no modo como seus habitantes vêem o ambiente ao seu redor. No caso da poluição
visual, que em maior grau se encontra no corpo das grandes cidades, parece passar
despercebida aos olhos racionais do homem que habita a metrópole. Apesar disso,
estudos relacionados, agora, não ao comportamento, mas, as conseqüências do
excesso visual na vida dos habitantes de uma metrópole, destacam-se ao
demonstrar o efeito nocivo em longo prazo que o caos visual urbano oferece a
saúde de todos que nela habitam.
Segundo Vasconcellos (2003) apud Campos (2006, p.30), “na vida cotidiana de um
indivíduo civilizado, o organismo recebe cerca de 23.000 informações ao dia”. Neste
momento, queremos destacar aqui que as “informações” a que Vasconcellos (2003)
se refere estão dentro de um quadro de simples registro visual, ou seja, se levarmos
em consideração a idéia de Pignatari (1970) em que a informação constitui-se em
um procedimento de escolha, seleção ou discriminação, seria improvável que o
habitante de uma cidade grande pudesse registrar tamanho número de registros
visuais. No entanto, prosseguindo com a avaliação de Vasconcellos (2003), o
processo ocorrido em nosso organismo diante de situações com que nos deparamos
diariamente nas metrópoles, tanto o eustress (motivo estressor positivo), quanto o
distresse (motivo estressor negativo), revela um processo complexo que envolve o
sistema neurológico e glandular. Tudo por que, segundo Vasconcellos (2003) “o
sistema límbico, o tálamo e o neocórtex superior, que são núcleos cerebrais vitais
para a elaboração da informação, são acionados e preparam uma resposta
comportamental a cada uma delas”. Desta forma, o processo corre puramente por
vias internas, e assim os efeitos biológicos desencadeiam uma série de reações em
nosso corpo. Basicamente, o que ocorre dependendo da resposta a informação
assimilada pelo sistema nervoso, é a liberação em maior ou menor grau de uma
secreção de “hormônios de ativação ou inibição” que despejados na corrente
sanguínea vão atuar em diferentes sistemas do nosso corpo humano.
O homem do século XX e, conseqüentemente, o deste século, elabora 85% das informações do meio ambiente através do sistema visual. Esse hiper-desenvolvimento do sistema visual provocou uma certa atrofia no funcionamento dos outros órgãos dos sentidos, ou seja, do paladar, da audição, do olfato e, sobretudo, do tato. Ver é fundamental. (...) É exatamente por essa via de entrada na integridade interior de nosso organismo, uma das mais importantes para o ser humano moderno, convém que se exerça aqui redobrados cuidados, visto que tudo que penetrar à membrana do receptor visual traz em si e consigo determinado potencial
75
para desencadear um processo de stress lá dentro do corpo. (VASCONCELLOS, 2003, APUD CAMPOS, 2006, p.30)
Dentro dessa exposição, é possível dizer que esses dois contextos, tanto o
psicológico quanto o fisiológico, em que atuam as informações dispostas
excessivamente dentro de uma cidade, sejam ao mesmo tempo opostos em termos
de influência no comportamento dos habitantes de uma cidade, e complementares à
medida que explicam os reais efeitos ou não do fenômeno visual dentro das
metrópoles. Se por um lado o comportamento humano assume um caráter adaptável
ao contexto físico-social de uma cidade grande, por outro são os efeitos em longo
prazo causados por este mesmo contexto que trazem os prejuízos que a vida
moderna nos impõe em cidades com as paisagens urbanas degradas.
2.3.5 Aspecto Jurídico da Poluição Visual
A Lei n. 6.938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente, no artigo 3º, III, define a
poluição como “a degradação da qualidade ambiental.” Desta forma, tudo o que
possa prejudicar a saúde, a segurança e o bem estar da polução, além de criar
condições adversas às atividades sociais e econômicas, bem como afetar
desfavoravelmente a fauna, a flora, e as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente, por definição estará infringindo um código de orientação nacional, que
procura trazer o equilíbrio na relação entre o meio ambiente e os seres humanos.
Cabe ressaltar que, a poluição, em suas mais variadas formas constitui-se
naturalmente em um efeito da degradação tanto do meio ambiente quanto do próprio
homem. Sua propagação se reflete nos inúmeros problemas de ordem ambiental e
saúde pública. Mas, no caso específico da poluição visual, outros fatores somam-se
no debate, como é o caso do apelo econômico que possa estar sendo ferido,
quando do combate ao excesso de comunicação visual nos grandes centros
comerciais.
Para que se possa estabelecer um critério condizente com os interesses tanto dos
habitantes, quanto da atividade econômica e suas relações com o meio ambiente,
neste caso, os espaços públicos, seria necessário, segundo Fiorillo (2004, p.153) “a
aplicação do princípio do desenvolvimento sustentável.” Isto porque, não há como
negar o conflito aparente entre as idéias da manutenção do bem estar e qualidade
76
de vida do ser humano, dentro de um ambiente saudável, sem que se firam as
condições impostas pela livre concorrência comercial.
Mas no que tange o emprego de soluções a fim de manter o equilíbrio proposto pelo
princípio do desenvolvimento sustentável, Meirelles apud in Fiorillo (2004, p.153)
ressalta que “há necessidade de prévia fixação técnica legal dos índices de
tolerabilidade, ou seja, dos padrões admissíveis de alterabilidade de cada ambiente,
para cada atividade poluidora.” Esse importante esclarecimento vem ao encontro da
pesquisa a fim de gerar justamente um padrão que possa contribuir para a avaliação
de níveis admissíveis de poluição. É justamente nesse ponto que se percebe uma
carência de ferramentas disponíveis do poder público, que deve garantir esse
desenvolvimento sustentável de forma equilibrada.
2.3.6 A Poluição Visual da Publicidade no Ambiente Urbano
Um dos principais problemas na degradação da paisagem urbana está, sem dúvida,
na proliferação de peças publicitárias, como outdoors, cartazes, além de placas e
painéis que vem sendo inseridos no mobiliário urbano da cidade. Tem-se que estes
elementos de comunicação visual, bastante incisivos, representem, talvez, a síntese
do período em que vivemos. A necessidade de consumir se alterou, já há algum
tempo, à medida que, não mais o usuário vai atrás do que precisa, mas sim permite
que o próprio produto lhe seja oferecido para onde o olhar desse usuário se dirija.
Vivemos, hoje, o que Giddens (2004) batizou de “sociedade da informação” e
“sociedade de consumo”, e dentro dessa perspectiva a comunicação visual, por
meio de mensagens publicitárias, que tomam qualquer espaço que lhe pareça
ocioso, é o traço característico das metrópoles pós-modernas.
Para Canevacci (1993, p.16) “A materialidade virtual da comunicação via imagens é
determinada pelas relações sociais e culturais que nela se concentram” e desta
forma, compreende-se que a relação cultural existente no cerne de nossa sociedade
é fruto do instituído sistema econômico capitalista, que necessita de formas para
escoar o manancial de ofertas de bens e serviços, girando assim a roda comercial
estabelecida desde o início da Revolução Industrial. Neste cenário, a publicidade,
77
que possuí forte vínculo com o ambiente empresarial, passa a servir como o meio de
propagação de mensagens visuais, na busca por atrair novos consumidores.
Efetivamente, o problema da poluição visual na paisagem urbana, não reside no fato
da publicidade, estar ocupando o lugar de destaque como agente de degradação do
espaço urbano, e há até quem diga que a publicidade constitui-se em uma
“contribuição” para os espaços urbanos
Os anúncios e publicidades nas ruas, embora quase totalmente ignorados pelos urbanistas, constituem um contribuição (bastante óbvia e freqüente) para a paisagem urbana. Torna-se muito difícil, folheando os desenhos de perspectivas de possíveis cidades novas, encontrar qualquer referência a publicidade. E no entanto esta parece ser no meio de tanta coisa, a contribuição mais importante do séc. XX para a paisagem urbana. (CULLEN, 2006, p.153)
Figura 21. Ilustração de fachada com diversos anúncios publicitários.
Fonte: CULLEN, 2006.
Estabelecer argumentos que possam de alguma forma demonstrar uma posição
contrária diante de um dos maiores pensadores do tema da paisagem urbana seria
quase que um “sacrilégio”. Entretanto, não poderíamos deixar de comentar que a
idéia de Cullen (2006) sobre os aspectos estéticos que a publicidade revela dentro
78
de uma paisagem urbana são líricos e não levam em conta estudos que podem
comprovar que tais anúncios lançados na paisagem urbana, realmente criem essa
sensação de “vivacidade” a que o autor se refere.
O fato é que, hoje, não possuímos limites que possam estabelecer uma relação
tolerável da incidência de publicidade no meio urbano, e quem dirá reconhecer o
grau de animação que esses anúncios possam trazer ao ambiente cinzento do de
uma cidade. Dentro dessa perspectiva, a responsabilidade de se estabelecer uma
ordenação dos elementos publicitários no ambiente urbano recai sobre os
profissionais que estão diretamente envolvidos com os projetos de comunicação
visual, e, assim, cabe a estes reconhecer que parte do que presenciamos nas ruas,
hoje, é fruto de suas decisões equivocadas e livres de um julgamento projetual, que
poderia evitar a proliferação indiscriminada da publicidade no espaço urbano.
79
2.4 COMUNICAÇÃO VISUAL
A comunicação visual, segundo Munari (2006, p.65) é praticamente tudo o que
podemos ver. De uma nuvem no céu até um cartaz exposto no muro de uma cidade,
tudo transmite uma mensagem, com valores diferentes dependendo do ambiente
onde estão inseridos. Mas há pelo menos uma divisão, bastante clara quando ele se
refere a esse manancial de mensagens visuais que estão a nossa volta. Para
Munari, tratar de comunicação visual pressupõe separar o que é comunicação
casual e o que é comunicação intencional.
A comunicação casual pode ser livremente interpretada por quem recebe, seja ela uma mensagem científica ou estética, ou de outro tipo. Ao contrário, a comunicação intencional deveria ser recebida na totalidade do significado pretendido pela intenção do emissor. (MUNARI, 2006, p.65)
Dentro da perspectiva, de uma comunicação visual intencionalmente gerada pelo ser
humano, ou seja, aquela cujo Munari (2006, p.65) se refere como fruto da iniciativa
do emissor na tentativa de transmitir uma mensagem “através de um código preciso
e uma informação precisa”, também podemos interpretar de acordo com sua
intencionalidade sob dois pontos de vista. Do ponto de vista da “informação prática”
seu código deve ser interpretado em sua totalidade, o que retira a carga subjetiva da
mensagem, não havendo assim um falso entendimento. Quando a informação
prática consegue ser reconhecida como uma mensagem precisa a resposta torna-se
mais natural, pois pressupõe que tanto o emissor da mensagem quanto o receptor
estabeleceram um código comum para se comunicarem. Já a “informação estética” é
carregada do fator subjetivo, cabendo assim a cada receptor uma interpretação
diferente.
Mensagens visuais fazem parte de uma grande família de mensagens que são
captadas pelos nossos sentidos. Em específico, as mensagens visuais, segundo
Munari (2006, p.68) estão sempre passando por filtros que podem apresentar-se no
próprio ambiente em que estão inseridas, ou dentro do repertório do receptor dessas
mensagens. Segundo Munari (2006), as perturbações em um ambiente podem, por
exemplo, “alterar ou mesmo anular certas mensagens.” Assim, os filtros podem ser a
soma tanto de efeitos causados pelo ambiente, quanto pela experiência que esse
usuário possui, sendo estas experiências advindas de várias fontes de percepção.
80
Um importante ponto a ser destacado, no que se refere à mensagem visual, é o fato
de que os filtros inseridos dentro de um ambiente, seja através das perturbações ou
excessos, não são os únicos a interferirem na compreensão de uma informação por
parte do receptor. Segundo Munari (2006, p.68) os filtros que fazem parte da
constituição fisiológica e sensorial do ser humano, que são denominados de filtros
sensoriais, funcionais e culturais, também são responsáveis pela decodificação da
mensagem, representando dessa forma uma outra “barreira” para o entendimento
completo do que se está transmitindo. Dentro da idéia dos filtros que são carregados
pelo receptor, o filtro sensorial representaria a capacidade de quem recebe a
mensagem em fazer uso pleno de seus sentidos para compreender uma mensagem
visual. Assim, qualquer déficit da visão constitui-se em uma barreira relevante para
que a mensagem seja captada em sua plenitude pelo receptor. O filtro funcional, por
sua vez, está associado às características psicofisiológicas constitutivas de quem
recebe a mensagem. Sob este ponto os receptores são diferentes em níveis de
evolução cognitiva quando, por exemplo, a interpretação de uma mensagem visual é
realizada por uma criança, o que fundamentalmente difere em seu grau de
interpretação, quando esta mesma tarefa é realizada por um adulto. Outro fator que
faz parte do meio de interpretação da mensagem visual é o filtro cultural. O filtro
cultural pressupõe a existência de um universo de referências, códigos, normas ou
condutas que dizem respeito ao meio em que o receptor vive. Desta forma, algumas
mensagens visuais podem ser compreendidas dentro de um determinado local onde
os indivíduos reconhecem os mesmos códigos comuns, que estão difundidos e
influenciando o comportamento dentro de sua cultura.
Munari (2006, p.56) entende que, em certos casos, a comunicação visual seja um
meio insubstituível de passar informações entre um emissor a um receptor, mas
dentro dessa perspectiva as “condições fundamentais do seu funcionamento são a
exatidão das informações, a objetividade dos sinais, a codificação unitária e a
ausência de falsas interpretações.” Desta forma, a comunicação visual representa
sem dúvida nenhuma, uma espécie de linguagem cujo maior desafio seria
estabelecer um conjunto de regras capaz de transformar sinais visuais em códigos
de compreensão por parte de emissor e receptor da mensagem.
Na grande massa de informações visuais que nos assediam de toda a parte, de modo desordenado e contínuo, a comunicação visual procura
81
definir, com base em dados objetivos, qual a relação mais exata possível entre informação e suporte. (MUNARI, 2006, p.56)
Segundo Munari (2006, p.57) na comunicação visual existem dois componentes que
são passíveis de estudo separados, que são: o suporte e a informação. Dentro
dessa concepção o suporte representa a comprovação, ou o real entendimento de
um código visual ou o meio material por quem irá receber a mensagem. Nesse
sentido, os suportes de comunicação visual são reconhecidos, por exemplo, como
um sinal, uma cor, uma luz, um movimento, etc. Mas o que de fato representa um
importante aspecto além da informação e o modo como esta é transmitida, que diz
respeito à própria figura do receptor da mensagem visual. Conhecer o indivíduo e
suas condições fisiológicas e sensoriais é fundamental para que se trace um perfil
dos possíveis filtros de recepção da mensagem visual.
Para Canevacci (1993, p.31) vivemos atualmente uma incrível mudança dentro da
perspectiva da comunicação visual moderna. A comunicação visual, segundo o
autor, “está fornecendo seus próprios signos e contra-signos à cultura
contemporânea, com uma força de penetração jamais “vista” antes”. Isto significa
que a forma com que o ser humano utilizava mensagens visuais pra se comunicar,
definitivamente, foi alterada, e num sentido que talvez tenha se perdido o controle
sobre a ética e a estética desse processo de geração de mensagens visuais.
Retomando o que Munari (2006) no diz, quando define a comunicação visual como
praticamente tudo o que podemos ver, fica pergunta: de que forma poderíamos
controlar um cenário urbano repleto de comunicações sem que este controle
prejudique a cultura visual contemporânea que, bem ou mal, se estabeleceu?
O que se pretende ao tratarmos desse aspecto ético e estético da comunicação
visual é, antes de tudo, estabelecermos parâmetros de uma atuação equilibrada
para a ordenação dos espaços públicos, que hoje, sofrem com o efeito da poluição
visual. Não seria com atitudes drásticas, pós produção, que o problema da poluição
visual deve ser confrontado. Ou seja, se destacamos a poluição visual como um
agente que transmite mensagens visuais, e estas, raramente são assimiladas de
forma plena, questionamos então a forma com que se conduzem os projetos
específicos e a distribuição de elementos visuais em pontos da cidade onde a
assimilação e clareza da informação são indispensáveis, por exemplo. Neste
sentido, a pesquisa sobre a comunicação visual no meio urbano ganha um relevo
82
para pautar a coleta de dados deste trabalho a fim de obter um cenário livre de
julgamentos precipitados, ou falsos pré conceitos somente com as mídias de
publicidade externa. É preciso avaliar se o que nos circunda, são realmente
elementos visuais com ou sem uma função para a utilização dos ambientes em que
transitamos.
2.4.1 Pesquisa em Comunicação Visual
A pesquisa em comunicação visual, segundo Munari (2006, p.21) é estritamente
técnica e “parte das responsabilidades do meio para explorar os valores de
comunicação visual, independente do conteúdo da informação, e sem ter em conta
qualquer estética passada ou futura.” Sobre comunicação visual, Munari (2006, p.8)
considera que o tema é muito vasto.
“(...) que vai desde o desenho até a fotografia, as artes plásticas, o cinema; desde formas abstratas até as reais, de imagens estáticas a imagens em movimento, de imagens simples a imagens complexas, desde problemas de percepção visual que concernem ao lado psicológico do tema, como relações figura e fundo, mimetismo, moiré, ilusões ópticas, movimento aparente, imagens e ambiente, permanência retiniana e imagens póstumas.” (MUNARI, 2006, p.8)
Dentro deste escopo de atuação a comunicação visual constitui-se em uma
ferramenta que, em essência, preza pela objetividade. Esta ação objetiva da
comunicação visual, segundo Munari, deve estar sempre presente, pois do contrário
não há comunicação, e sim, uma “confusão visual”. Tudo isso, porque, uma imagem
deve ser “legível para todos e por todos da mesma maneira”.
Esta idéia recai sobre os objetivos secundários desta pesquisa, em que se
estabelece uma linha condutora para a avaliação, realizada principalmente, após a
coleta dos dados no ambiente deste trabalho. Basicamente, o que nos chama a
atenção e a forma como o status quo da comunicação visual contemporânea parece
correr contra as idéias de objetividade, de clareza e de fácil assimilação parte dos
receptores. Tudo isso, com o acréscimo do excesso de elementos visuais, colabora
com a idéia defendida por Canevacci (1993) da “cidade polifônica”.
83
2.5 PERCEPÇÃO DA MENSAGEM VISUAL
Compreendemos o mundo que nos cerca, em grande parte, porque utilizamos o
aparelho visor com muito mais freqüência dos que os outros sentidos de nosso
corpo. No último século, pelo grande desenvolvimento da comunicação visual em
todas as suas instâncias o processo de ver e assimilar as informações, que se
apresentavam em diversos contextos, nos possibilitou, também, que criássemos
uma inteligência própria para a percepção da grande quantidade de estímulos
visuais que são expostos aos nossos olhos. E neste sentido, as cidades também
contribuíram para o crescimento desta característica nos seres humanos.
Para Dondis (2007, p.85) “vemos com precisão de detalhes, e aprendemos e
identificamos todo material visual elementar de nossas vidas para mantermos uma
relação mais competente com o mundo”, e desta forma, se quisermos compreender
o espaço em que vivemos, ou os objetos que criamos, necessitamos estabelecer
uma relação visual bem definida com toda essa produção que, essencialmente, é
fruto da capacidade do ser humano de produzir um conjunto de significados para
cada situação ou objeto.
Vemos o mundo que criamos, um mundo de cidades, aviões, casas e máquinas; é o mundo da manufatura e da complexidade da tecnologia moderna. Aprendemos instintivamente a compreender e a atuar psicofisiologicamente no meio ambiente e, intelectualmente, a conviver e a operar com esses objetos mecânicos que são necessários a nossa sobrevivência. Tanto instintivamente quanto intelectualmente, grande parte do processo de aprendizagem é visual. (DONDIS, 2007, p.85)
Mas, apesar do sistema visor ser compreendido como um importante meio que
contribui para a própria sobrevivência e a compreensão da realidade imediata que
nos cerca, é encarado como uma complexa forma de comunicação, pois,
diferentemente da linguagem verbal, que possui códigos comuns para um
verdadeiro aprendizado, a abordagem da linguagem visual era restrita a uma
habilidade visual particular que muito se sustentava na figura do artista.
A aproximação com os meios visuais de comunicação, e em especial pelos avanços
tecnológicos que colocaram o ser humano em contato direto com as formas de
reprodução da realidade, como a fotografia, o cinema e a televisão, servirão no
futuro, segundo Dondis (2007, p.86) como “um importante complemento intelectual”.
Neste sentido, vivemos hoje o ápice dessa apropriação visual, desse verdadeiro
84
aprendizado. Estamos em um momento de compreensão de inúmeras definições
dessa linguagem visual, pois somos expostos a ela sabendo de forma elementar
distinguir essencialmente formas, estruturas, texturas, contrastes, cores,
profundidades, proporções, etc. Ou seja, possuímos alguns códigos básicos para a
compreensão visual mínima dos ambientes a nossa volta bem como os objetos que
produzimos e inserimos dentro de nossa realidade imediata.
Segundo Dondis (2007, p.86) somos capazes de reproduzir a realidade que nos
cerca através da câmera, mas que, fundamentalmente, podemos “preservá-la e
expandi-la com a mesma simplicidade de que somos capazes através da escrita e
da leitura” e neste sentido, o que é mais importante, “através da impressão e da
produção em série da linguagem”. Isto significa a possibilidade de estabelecermos
uma espécie de linguagem através das formas visuais, e que estas podem formar
um vocabulário mais consistente à medida que são assimiladas como um código
comum. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil. Basicamente é necessário que se
construa uma forma com que se possa entender, aprender e expressar a
comunicação visual como um todo. Essa “competência” deve ultrapassar o “nível
primário” de observação da realidade, sendo necessário que se compreenda pelo
menos a formação da estrutura que compõe a mensagem visual, e desta forma, de
acordo com Dondis (2007, p.85) esta estrutura estaria dividida em três níveis de
percepção:
Nível Representacional – aquilo que vemos e identificamos com base no meio
ambiente e na experiência;
Nível Abstrato – a qualidade cinestésica de um fato visual reduzido a seus
componentes visuais básicos e elementares, enfatizando os meios mais
diretos, emocionais e mesmo primitivos da criação de mensagens;
Nível Simbólico – o vasto universo de sistemas de símbolos codificados que o
homem criou arbitrariamente e ao qual atribuiu significados.
A capacidade de registrarmos visualmente um fato, um momento ou um objeto,
repousa sobre o nível representacional, e assim como nosso aparelho visor registra
o contexto a nossa volta, ou seja, a realidade imediata, esta se torna segundo
Dondis (2007, p.87) “a experiência visual básica predominante”, pois parte-se do
85
princípio que a representação se torna a imagem fidedigna “da experiência direta do
ato de ver”. O ser humano só foi capaz de reproduzir com tamanha precisão aquilo
que seus olhos viam, com o desenvolvimento das técnicas de pintura renascentistas,
que passaram a representar o mundo da mesma forma como ele se apresentava.
Mas, com o surgimento da câmera fotográfica, que para Dondis (2007, p.88) “se
equipara à habilidade do olho e do cérebro, reproduzindo (...) seu meio ambiente
real”, esta se tornou a forma mais comum nos dias de hoje de reproduzirmos a
realidade tal e qual a presenciamos. Isto, de certa forma, representa em termos
técnicos o surgimento de uma forma de expressão livre de subjetividades, não fosse
também o caráter de percepção individual que cada ser humano emprega na
representação daquilo que consegue captar visualmente no ambiente, e a utilização
da câmera fotográfica, assim, não foge do ímpeto do olhar particular de cada um.
Neste sentido, Dondis (2007, p.88) salienta que “na experiência direta, ou em
qualquer nível de escala de expressão visual, da foto ao esboço impressionista, toda
experiência visual está fortemente sujeita à interpretação individual” e, sendo assim,
nossa forma de representar aquilo que vemos depende do queremos salientar no
momento de cada registro, ou seja, a representação do que vemos é fruto do que
queremos que vejam, e não do que efetivamente pode ser visto.
Já o Nível Abstrato, por sua vez, considerado por Dondis (2007, p.90) como um
processo de “redução dos fatores visuais múltiplos os traços mais essenciais e
característicos daquilo que está sendo representado”, surge da possibilidade de
arbitrariamente a representação inicial atingir o estado de simplificação visual, e
dentro dessa perspectiva, surgem duas formas de abstração:
Abstração simbólica, que às vezes possui significado identificável ou
arbitrariamente instituído;
Abstração pura, que representa a redução da manifestação visual aos
elementos básicos e não conservam relação alguma com qualquer imagem
representacional extraída da experiência do meio ambiente.
Do ponto de vista da abstração simbólica, se faz necessário que haja certa
educação do público que convive com tal expressão visual, par que esta seja
suficientemente clara em sua comunicação. Assim, tem-se que a abstração
simbólica “requer uma simplificação radical, ou seja, a redução do detalhe visual a
86
seu mínimo irredutível”. Desta forma, quando da sua exposição, este deve ser
reconhecido de maneira fácil e enquanto código deve ser compreendido em sua
essência. Em termos de linguagem a abstração simbólica tornou-se a base de
inúmeras formas de comunicação ao redor do mundo, pois sua manifestação lhe
confere o grau de veículo propagador de mensagens de maneira muito mais rápida
do que qualquer outra forma subjetiva de expressão, ou seja, a abstração simbólica
estabelece um código preciso de significado arbitrariamente imposto, não havendo
com isso a possibilidade para falsas interpretações.
Figura 22. Exemplos do Nível de Representacional e Abstrato.
Fonte: DONDIS, 2007.
Exemplos de abstração simbólica são a cruz, que representa o catolicismo, a estrela
de seis pontas ou “estrela de Davi” símbolo dos Judeus, o “V” de vitória utilizado
primeiramente por Winston Churchill, em menção a vitória na segunda Guerra
Mundial sobre alemães e que depois virou símbolo de paz por alguns jovens nos
Estados Unidos que eram contra a Guerra do Vietnã.
O outro tipo de abstração revela um caráter diferente do que representa a abstração
simbólica, e que basicamente não carrega consigo um significado específico. A
chamada abstração pura, segundo Dondis (2007, p.94-95) “também é um processo
de abstração, que, na verdade, é muito mais importante para o entendimento e a
estruturação das mensagens visuais”. Neste sentido, a autora traça um paralelo que
estabelece a relação existente de uma informação visual de caráter
representacional, que se torna mais específica à medida que se assimila seu
significado, e a informação visual abstrata, que acaba por assumir um caráter mais
87
geral e abrangente, livre do vínculo simbólico ou da associação visual com algo
existente e reconhecível.
Nas questões visuais, a abstração pode existir não apenas na pureza de uma manifestação visual reduzida à mínima informação representacional, mas também como abstração pura e desvinculada de qualquer relação com dados visuais conhecidos, sejam eles ambientais ou vivenciais. (DONDIS, 2007, p.95)
Para Dondis (2007, p.100) “o significado se encontra na subestrutura, nas forças
elementares e puras”, e assim, a abstração pura que revela essa composição
elementar de formas da mensagem visual possui “grande intensidade em termos de
comunicação”. Basicamente a conclusão da autora aponta para uma associação
entre o nível representacional e abstrato, no sentido do segundo existir naturalmente
no momento em que o primeiro é representado.
(...) mesmo quando estamos diante de um relato visual extremamente representacional e detalhado do meio ambiente, esse relato coexiste com outra mensagem visual que expõe as forças visuais elementares e é de natureza abstrata, mas que está impregnada de significado e exerce uma enorme influência sobre a resposta. A estrutura abstrata é a composição, o design. (DONDIS, 2007, p.101)
Esta relação entre os níveis representacional, abstrato e simbólico, também
evidencia o que Dondis (2007, p.105) sugere que seja a “chave da percepção”. Para
a autora a “experiência cumulativa de input informativo”, onde o receptor de qualquer
mensagem visual inverte a ordem do processo criativo utilizado pelo emissor de tal
mensagem, aponta para os indícios de que este receptor identifica primeiramente os
fatos visuais, através das informações no ambiente para em seguida proceder com a
visualização do conteúdo compositivo dessas informações. Ou seja, o indivíduo
identifica na representação o significado, para num segundo momento reconhecer o
caráter abstrato da composição do que percebeu. Neste sentido, a autora reforça a
idéia de que “a interação entre propósito e composição, e entre estrutura sintática e
substância visual, deve ser mutuamente reforçada para que atinja uma maior
eficácia em termos visuais”. Assim, a “anatomia da mensagem visual” que constitui-
se na relação entre esses níveis, torna-se a “força mais importante de toda a
comunicação visual”.
88
CAPÍTULO III
3.1 METODOLOGIA
Ciência e Design nem sempre tiveram uma relação de proximidade, principalmente,
se levarmos em consideração que, até início do século XX, as duas atividades
caminhavam em direções opostas: uma preocupada com os fenômenos de caráter
natural e a outra com àqueles ligados à artificialidade da produção industrial. E, se
for possível dizer que a Ciência, a partir de Descartes, surge fruto de uma mudança
de pensamento em meados do século XVII, também o Design, enquanto processo
de concepção, desenho e produção de novos produtos (glíficos e gráficos) passou
por essa alteração em seu percurso. Fruto de uma Revolução Industrial, o Design,
como consagrado nos dias de hoje, surge essencialmente de processos outrora
artesanais, que conferiam a essa especialidade o grau de reles artifício ornamental
empregado somente ao final de qualquer processo de produção manufaturada. Mas,
foi a partir do início do século XX que a forma de se conceber produtos através do
pensamento científico pôde ser experimentada pela primeira vez por essa atividade
projetual.
O primeiro movimento no sentido de estreitar relações entre Design e Ciência surge
a partir dos anos 20, com o Movimento de Design Moderno. O surgimento desse
pensamento no Design esteve intimamente ligado às idéias de William Morris e o
movimento de Arts and Crafts, ainda no século XIX, que trouxe uma nova
perspectiva para o campo da concepção e produção de novos produtos, alterando a
visão que as indústrias tinham da figura do artesão e do artista. Essencialmente, a
relação entre esses dois movimentos culminou numa nova perspectiva não só para
89
a prática do Design, mas também o pensamento de projetos para produtos
industriais.
A partir da década de 1920, o Design começava a desenvolver-se como um campo
de estudos com o objetivo de dar ao mercado, em franca expansão, profissionais
capazes de agir racionalmente em prol da otimização de recursos tanto exigida
pelas indústrias na fabricação de bens e utilização de sentido estético na busca de
formas e arranjos que aliassem simplicidade a funcionalidade. É dentro desse
contexto que a Staatliches-Bauhaus consolidou-se como uma escola que aliava a
expressividade do artista com a técnica e o conhecimento do artesão, formando daí
um profissional mais reflexivo diante da demanda do mundo moderno. Foi
basicamente dentro da Bauhaus, em seus diferentes períodos, que se pôde
consolidar a prática do Design como um campo que deveria lidar com uma nova
ordem industrial aliando técnica, ciência e arte, libertando-se, assim, das amarras do
passado.
Segundo Cross (2007, p.119) “(...) na maior parte do movimento moderno, vemos o
desejo de produzir obras de arte e design baseados na objetividade e racionalidade,
ou seja, sobre os valores da ciência.” Neste sentido, o Design a partir do surgimento
de movimentos que buscavam a ruptura com padrões do passado, passou a se
desenvolver dentro de uma lógica pautada pelo procedimento científico, fruto de sua
abertura para novos conhecimentos advindos de diferentes áreas do saber, e
conseqüentemente, acabou revelando que esse campo poderia ter muito em comum
com o processo que ocorre na Ciência.
Mas, foi depois da Segunda Guerra Mundial que se viu surgir a necessidade de
novos procedimentos com vistas a dar ênfase aos métodos de investigação e
técnicas de gestão, que as empresas, agora, precisavam adotar em suas
organizações. Foi neste momento da história que o Design, enquanto processo de
elaboração de produtos sob uma nova perspectiva, passou a responder em estreita
associação com o campo da Ciência. Assim, como explica Cross (2007, p.119) foi
através do tecnólogo Buckminster Fuller, a partir de 1960, que reivindicava um
modelo “baseado em ciência, tecnologia e racionalismo, para superar os problemas
humanos e ambientais” cujos problemas “não poderiam ser resolvidos por política e
economia” que se estabelece a “década da ciência do projeto”, e que culminou nas
90
idéias de Herbert Simon em “The Sciences of the Artificial” publicadas em 1969,
onde o autor revela seu desejo de ver implantado nas universidades “uma doutrina
para processo projetual que fosse intelectualmente consistente, analítica, parte
formalizada, parte empírica e ensinável”.
Em contrapartida, foi nos anos 1970 que as críticas a “cientização do design”
surgiram de maneira mais contundente, principalmente por nomes como o do
arquiteto urbanista Christopher Alexander e o engenheiro J. Christopher Jones, que
passaram a contrapor as idéias de um processo metódico nas relações projetuais.
Seu principal argumento revelou-se a partir da constatação que a aplicação de
métodos científicos na prática do desenho projetual no cotidiano de escritórios e
empresas não havia tido sucesso.
Apesar das poucas evidências de resultados da aplicação da metodologia projetual
no cotidiano das práticas profissionais, os estudos dentro das faculdades de
Engenharia e Desenho Industrial nos anos 80 continuaram a ser expandidos, e
culminaram em uma série de publicações de livros e revistas científicas sobre o
campo do Design abordando as questões metodológicas da área. Entretanto, nessa
busca incessante da ciência projetual muitos dos trabalhos publicados também
procuravam ao mesmo tempo, paradoxalmente, fazer distinções entre o desenho
projetual e a ciência, e desta forma ressaltar as diferenças nos resultados buscados
de ambos os procedimentos. Um dos argumentos curiosos encontrados é o de
Simon (1969) apud Cross (2004, p.151), dizendo que “as ciências naturais estão
preocupadas com o modo como as coisas são... o desenho projetual está
preocupado com o modo como as coisas deveriam ser”.
De fato, se pudermos avaliar pelo menos o contexto a que se refere o autor, talvez
esta afirmativa pareça equivocada, pois existem pelo menos dois modos de
interpretar a intencionalidade do desenho projetual: a) através da perspectiva
profissional e, nesse sentido, Simon (1969) estaria com a razão; b) através da
perspectiva científica, e neste momento não nos parece que os procedimentos
utilizados pelas ciências naturais estejam longe daqueles utilizados no desenho
projetual. Assim, os resultados de ambos, no sentido científico, conseqüentemente,
nos levam a questionar o “por que” das coisas serem como são. Ou seja, enquanto
fenômeno, qualquer estudo científico necessita de abordagens metodológicas que
91
devem ser particularmente adotadas de acordo a perspectiva investigativa da
proposta. Desta forma, não nos basta compreender a natureza artificial por métodos
que estejam condicionados às avaliações das ciências naturais e sim, por
mecanismos que corram lado a lado com as correntes metodológicas da prática
projetual, pois é delas que surge o mundo artificial que hoje nos cerca e que não
deixa de ser questionado sob a luz do conhecimento científico.
Cross (2004, p.152) relata que, na ocasião da Conferência Design:Science:Methods,
promovida pela Research Society em 1980, ficou o sentimento de que havia a
necessidade de se “parar de fazer comparações simplistas e distinções entre ciência
e desenho projetual”. Assim, segundo Cross (2007, p.121) “a ciência depois de tudo,
talvez tivesse algo a aprender com design”. Nesta mesma conferência Bruce Archer
publicou seu artigo intitulado “A View of the Nature of Design Research” que, em
uma de suas passagens, afirma que “o desenho (design), tal como a ciência, é um
modo de olhar o mundo e de aplicar sobre ele uma estrutura”. Para Cross (2004,
p.152) ressaltando as palavras de Glynn (1985), “tanto a ciência quanto o desenho
(design) (...) estão baseados em atos de percepção”. Desta forma, torna-se claro o
objetivo do procedimento científico e sua estreita relação com o design, pois ambos
acabam por complementarem-se em busca de alternativas metodológicas diante de
problemas de pesquisa ou de projeto.
Diante do que foi exposto, trazemos outra consideração que advoga a favor do
procedimento metodológico projetual como alternativa de embasamento da
metodologia de pesquisa. Esta consideração está embasada nas idéias de Herbert
Simon que afirma existir um estudo específico sobre a arte e técnica de projetar que
formam um campo comum entre ciência, arte e tecnologia. Segundo Cross (2004,
p.157) “tal estudo seria interdisciplinar e acessível a todos os envolvidos na atividade
criativa de fazer o mundo artificial (o que inclui o gênero humano, efetivamente)”.
Desta forma, este primeiro enfoque revela que apesar dos inúmeros procedimentos
científicos, talvez nenhum deles seja completamente aplicável aos fenômenos da
construção do mundo artificial, e assim, somente com um corpo intelectual cultivado
em estreita convivência com os avanços da tecnologia do projeto, seria capaz de
avaliar com lucidez seus efeitos em uma pesquisa científica voltada para essa
temática.
92
Não nos interessam conversações que não conectem as sub-disciplinas, que falhem em alcançar a compreensão comum, ou em criar conhecimento e percepções novas. Criar a disciplina – não a ciência – chamada Desenho é uma tarefa paradoxal. Esta “disciplina interdisciplinar” buscaria desenvolver uma abordagem independente, em termos de domínio, da teoria e da pesquisa. O axioma que sustenta a disciplina é que há formas de conhecimento peculiares à consciência e a habilidade de um desenhador (designer), independente do domínio profissional em que ele atue. Do mesmo modo que as culturas das Ciências e das Humanidades se concentram nas formas de conhecimento peculiares ao cientista e ao humanista, temos que nos concentrar nos modos desenhísticos (projetuais) de saber, pensar e agir. (CROSS, 2004, p.157)
Outro ponto a ser destacado por Cross (2004, p.157) está no fato de que “devemos
evitar submergir a nossa pesquisa em culturas importadas das Ciências ou das
Humanidades”. Entretanto, afirma o autor “não significa que as ignoremos”. Isto se
deve, pois já conseguimos vislumbrar que a prática metodológica projetual possui
“consistente e apropriado modo intelectual” de abordar as temáticas de pesquisa,
quando estas estão voltadas às questões das construções artificiais do ser humano.
Para isso seria necessário “demonstrar padrões de rigor em nossa cultura intelectual
que sejam comparáveis àqueles outros”, e conseqüentemente validar os resultados
da pesquisa sob a luz da Ciência e do Desenho.
Evidentemente, os estudos na área do desenho (design) estão progredindo com a
contribuição de diversas áreas do saber. Entretanto, podemos dizer que já existe
corpo teórico especifico para propostas de novas abordagens metodológicas que
tratem dos aspectos dos fenômenos do mundo artificial. Desta forma, as linhas de
estudo propostas por Cross (2004, p.158) estão concentradas em três grandes
fontes de pesquisa: as pessoas, os processos e os produtos. Essas três fontes
possuem seus próprios desafios, enquanto campos de pesquisa, e evidentemente,
necessitam de instrumentos metodológicos adequados para a construção do saber
em cada um deles.
Nas pessoas, por exemplo, concentram-se estudos ligados à capacidade projetiva
do ser humano, e qual seu grau de intervenção no mundo artificial, por meio de uma
habilidade específica. O fruto das pesquisas, nesse campo, auxiliará que novas
perspectivas acadêmicas sejam tomadas na evolução das ferramentas de
aprendizado projetual nas universidades, e por que não dizer, possam também ser
implementadas nas redes públicas de ensino no país, construindo uma educação
mais reflexiva, principalmente sobre a ação do ser humano na construção do mundo
artificial. Outro ponto destacado por Cross (2004), dentro das linhas de estudo sobre
93
o Design, está no próprio processo empregado pelas pessoas nos empreendimentos
projetuais, e neste sentido, revela maior atenção e foco voltados aos procedimentos
adotados por designers na construção do artificial. São, basicamente, observações
das táticas e estratégias para se conceber uma série de artefatos, ambientes e
comunicações que formam o conjunto construído essencialmente pela mão do
homem. Neste sentido, é preciso avaliar que a evolução tecnológica nos impõe que
estudos voltados aos métodos de projeto estejam em constante renovação,
acompanhando assim as propostas de inovação na área do Design. E por último,
concentradas no resultado da intervenção do homem através do projeto, estão as
pesquisas sobre os produtos que montam o conjunto do meio ambiente artificial que
nos circunda, e neste campo, o pesquisador poderá optar por três vertentes,
segundo Gomes & Brod Jr. (2007): a) desenho de ambientes; b) desenho de
comunicação; c) desenho de artefato.
São basicamente estes pontos em que podem se desdobrar as propostas de
pesquisa na área do Design, sendo adotada por Cross (2004, p.160) a seguinte
taxonomia para o campo da pesquisa em Design:
Epistemologia do Desenho (Design) – estudo dos modos desenhísticos
(projetivos) de saber;
Praxiologia do Desenho (Design) – estudo das práticas e processos
projetuais;
Morfologia do Desenho (Design) – estudo das formas e configurações.
A presente proposta de pesquisa concentra-se especificamente no campo de
pesquisa da Morfologia do Desenho (Design), proposta por Cross (2004), e que pelo
caráter investigativo sobre o produto do Design, convergem as propostas da divisão
do Desenho Projetual de Gomes & Brod Jr. (2007) em: desenho de ambiente,
desenho de comunicação e desenho de artefato. Neste sentido, cabe esclarecer
que, apesar de seus objetos de estudo estarem em linhas de pesquisa próprias de
conhecimentos específicos, não podemos negar que o ambiente urbano é o espaço
que congrega e relaciona naturalmente estes três enfoques do Desenho Projetual
(ambiente, comunicação e artefato), seja através do ambiente físico em si,
característico por sua cultura e morfologia própria, e assim, com reflexões
94
particulares, pela presença de meios de comunicação visual ou objetos dispostos
neste ambiente, que evidentemente, são as produções artificiais que o ser humano
planeja e implementa no corpo de uma cidade. É nesta avaliação entre ambiente,
comunicação e artefato que reside o caráter investigativo desta pesquisa, propondo
um olhar sobre a Morfologia do Desenho (Design) em espaços urbanos que
congreguem estes três enfoques.
3.1.1 Metodologia de Pesquisa
Reconhecer dentro do escopo de estudos do ambiente urbano uma metodologia que
balize de forma geral as ações da pesquisa é uma tarefa muito ampla, pois os
métodos existentes são tão diversificados quanto os problemas que se apresentam
no corpo das cidades. Assim, quando se trata de forma específica, o Desenho
Urbano – e aqui se pode ler: “campo disciplinar que convergem os estudos da
dimensão física ambiental da cidade, dos sistemas físico-espaciais e os sistemas de
interação com a população” Del Rio (1990, p.54) Del Rio (1990, p.67) afirma que
“existem diversas teorias e propostas metodológicas para o Desenho Urbano.”, mas,
em contrapartida, “nenhuma delas é suficiente por si própria (...)”. Dentro desta ideia,
reconhece-se que a proposta metodológica para abordar a temática do ambiente
urbano, com o foco na análise sobre o problema da poluição visual nas cidades,
requer que busquemos uma nova perspectiva de estudo, capaz de adequar-se a
situação encontrada.
Diversas metodologias de Desenho Urbano (...) nos levam a diferentes dimensões de análise da cidade e conseqüentemente a compreensões diferenciadas. As diversas posições conceituais nos levam a identificar diferentes facetas das problemáticas analisadas que, por sua vez, solicitarão do “designer” diferentes posturas quanto ao desenvolvimento dos diversos caminhos para a elaboração das proposições de intervenção. (DEL RIO, 1990, p.67).
A fim de buscarmos na orientação de Del Rio (1990, p.67) a oportunidade de
revermos alguns procedimentos metodológicos que possuam total aplicação dentro
desta pesquisa do ambiente urbano, pautamo-nos pelo autor, quando este afirma
“que é exatamente da riqueza de dimensões analíticas e em sua complementaridade
que reside a sua força maior, possibilitando-nos uma maior oportunidade para uma
melhor compreensão da complexidade do fato urbano.” Torna-se claro nesse
95
momento a intenção de, a partir da delimitação específica desta pesquisa, unir
alguns pontos de vista teóricos a respeito das conclusões possíveis tiradas do
ambiente de uma cidade, não para resolver o problema de forma geral, mas, antes
de tudo, estarmos amparados por procedimentos específicos e até para delimitar o
escopo do problema. Desta forma, segundo Del Rio (1990, p.67) há uma
necessidade de conhecimento de diversas teorias “utilizando-nos de cada uma
conforme a especificidade do problema, e podendo fazer uso de diversas visando
sua complementaridade.” Nos baseando nas orientações de Del Rio (1990)
prosseguimos na abordagem do problema da pesquisa proposto, buscando esta
diversidade de procedimentos para que ao final possamos elaborar um conjunto de
ações de pesquisa capazes de trazer visões complementares ao tema.
3.1.2 Metodologia Geral
A poluição visual, enquanto efeito das ações de degradação da paisagem urbana e
manifestada em um grau maior dentro das grandes cidades necessita de uma
avaliação que pressuponha uma forma metodológica de análise, pois se trata,
efetivamente, de um fenômeno que, neste caso, pode ser abordado sob diversos
pontos de vista, como àqueles advindos das áreas do desenho, da psicologia, da
antropologia, da história, da economia, entre outras. Hoje, ao observarmos com
atenção a composição física urbana, percebemos a grande quantidade de
elementos que, de uma forma ou de outra, pode nos servir como indício de estudo e
levar-nos a um procedimento de coleta de informações, análise de dados,
classificação de ambientes, organização categorial de elementos, etc. Em virtude
disso, queremos destacar, neste tópico, procedimentos metodológicos adotados por
alguns autores que abordaram o tema da observação da paisagem urbana, a fim de
entendermos as práticas da pesquisa acadêmica, quando esta, é voltada a analise
do ambiente de uma cidade e, conseqüentemente, refletir sobre o problema da
poluição visual segundo parâmetros científicos e desenhísticos.
Partindo desse princípio, em uma macro estrutura, Del Rio (1990, p.70) define que o
enfoque metodológico sobre o Desenho Urbano deva ser pautado por três esferas
que atuam em sobreposição e de acordo com seus procedimentos metodológicos
específicos. Estas esferas correspondem a:
96
Concepção e Imagem (Análise Visual e Percepção do Meio Ambiente);
Comportamento ambiental;
Morfologia Urbana
A esfera de “Concepção e Imagem” é dividida em “Análise Visual” e “Percepção do
Meio Ambiente”. Dentro da Análise Visual, segundo Del Rio (1990, p.91) estaria a
“compreensão das mensagens, dos relacionamentos percebidos entre elementos
componentes de um conjunto e das emoções que nos transmitem, a lógica
condicionadora das qualidades estéticas urbanas.” Neste sentido torna-se uma
“análise subjetiva” como explica o autor, pois “depende basicamente da capacidade
de observação e interpretação do pesquisador, conseqüentemente permeada por
seus próprios sistemas de valores.”
A análise visual é um procedimento que possui inúmeros aspectos que vão da
capacidade de interpretação do que se vê, que nesse sentido, torna o julgamento
muito particular e, portanto, subjetivo, até os critérios quantitativos que podem
apontar de forma mais tangível a composição formal entre ordem e arranjo do que
está diante de nossos olhos. Ou seja, podemos estabelecer dois parâmetros na
Análise Visual, um de ordem qualitativa, que esteja engajado no reconhecimento da
qualidade visual do que se vê, ou outro de ordem quantitativa, que revela os
aspectos numéricos da avaliação visual.
Do ponto de vista da “Percepção do Meio Ambiente”, inúmeros autores, como Lynch
(2006), Cullen (2008) e Kohlsdorf (1996), além do forte embasamento psicológico
advindo dos estudos da Gestalt, trabalham com análises voltadas aos parâmetros
semânticos do contexto urbano. E nesse sentido, Del Rio (1990, p.96) destaca que a
importância desse enfoque estaria no fato da população buscar a percepção de
“lugares familiares em seu ambiente construído que estejam carregados de
memórias significativas e que possam gerar-lhes estabilidade psíquica e social.”
Além disso, a Percepção do Meio Ambiente em termos científicos já sugere através
de inúmeros trabalhos como os dos autores supracitados, que pode constituir-se em
um procedimento sistemático de compreensão em termos de prática científica. Essa
avaliação, então, coloca esta etapa de Percepção do Meio Ambiente, junto com a
Análise Visual, em destaque dentro dos aspectos de apreensão e compreensão dos
97
fenômenos urbanos, sendo estes de ordem qualitativa ou quantitativa, quando
relacionados ao próprio usuário de seus espaços construídos.
Outra esfera de atuação, e com procedimento metodológico específico, que deve ser
abordada no estudo do espaço urbano é o “Comportamento Ambiental”, pois, pela
hipótese de Del Rio (1990, p.97), “de alguma forma, com alguma intensidade, nosso
comportamento e nossas ações são influenciados pelo ambiente físico-espacial que
nos cerca.” Isto significa dizer, que o ambiente em si que nos cerca influencia no
nosso comportamento e sendo assim “age como catalisador (positivo ou negativo)”,
pois se pressupõe que sua ação desperte reações, sejam estas de ordem física ou
psíquica. Entretanto, jamais o ambiente poderá agir como um condicionante aos
objetivos já estabelecidos pelos usuários quando da sua interação dentro de
espaços construídos, e, neste sentido, Del Rio (1990, p.97) afirma que o ambiente
construído “não poderá jamais determinar que tomemos ou não determinada ação
se isto não estiver em nossas metas mentais.”
O ambiente influencia nosso comportamento e gera esquemas territoriais nos usuários (conscientes e inconscientes); a intensidade e a forma do uso são proporcionais à qualidade do espaço e seus elementos. (DEL RIO, 1990, p.97)
Ainda dentro dessa esfera de atuação metodológica, Del Rio (1990, p.100) destaca
que “os métodos de análise do comportamento podem ser subdivididos em
observação direta ou indireta”. Para isso, o autor cita os estudos de Zeisel (1981),
que revela três definições do procedimento de análise no arranjo dos estudos sobre
o comportamento ambiental e dentro da perspectiva de uma observação direta, que
são:
A posição do observador (pesquisador) em relação ao observado;
Os instrumentos de registros; e
O que observar.
Basicamente, trata-se de uma organização das ações e instrumentos para que o
pesquisador coloque na sua atividade uma sistematização capaz de adaptar-se às
diferentes situações encontradas dentro ambiente urbano, mas que, sem dúvida,
constitui-se em “valiosa colaboração” ao ferramental do observador dos fenômenos
ocorridos dentro do ambiente pesquisado. E, outro ponto destacado, dentro da
98
observação direta do comportamento ambiental, está na análise das interações no
espaço estudado. Dentro desse conceito, Del Rio (1990, p.101) sugere a adoção da
unidade básica de análise chamada “ambiente comportamental”, que possui os
seguintes itens:
Análise do comportamento padrão ou típico;
Análise das regras e propósitos sociais; e
Análise dos aspectos físicos específicos.
Assim, para Del Rio (1990, p.101), são temáticas básicas para o pesquisador
“compreender quais são os ambientes comportamentais de um espaço urbano,
como são apropriados, quais os comportamentos com que se relacionam e qual sua
periodicidade (...)”. A partir dessa perspectiva metodológica, destacamos que a
relação entre o espaço construído e o ser humano revela inúmeras facetas de
estudo que vão desde os aspectos que influenciam os usuários do ponto de vista
cultural e psicológico, até a análise da composição do próprio espaço e sua relação
dinâmica com quem o utiliza.
Dentro do enfoque que trata da composição do espaço urbano, um dos pontos
destacados por Del Rio (1990, p.71) está na preocupação com os métodos de
análise da “Morfologia Urbana”, que se constitui em um estudo “que surgiu a partir
de um questionamento das atitudes modernistas em relação às cidades históricas e
as relações sociais que as regem (...)”. No estudo morfológico do urbano, o autor
destaca, de forma pragmática, que a cidade pode ser compreendida em três níveis
de organização: a) coletivo; b) comunitário; c) individual. Nesse momento, estes três
níveis possibilitam que se estruturem os significados e as apropriações sociais. Ou
seja, é no âmbito da experiência do ser humano com meio ambiente artificial sendo
esta experiência de caráter particular ou pública, que convergem as relações
culturais e, conseqüentemente, as rotinas de cada espaço urbano.
Assim, quando tratado sob o ponto de vista coletivo, a interação dos usuários no
ambiente “(...) possui uma lógica estruturadora percebida inconscientemente e
coletivamente.” Isto, de fato representa a forma como nos acostumamos a interagir
dentro de um espaço público de acordo com um padrão geral de regras e
comportamentos, adotados em essência pela maioria das pessoas. Depreende-se
99
com isso que, por exemplo, os fluxos de acesso aos espaços públicos, bem como os
códigos do tráfego de pedestres e veículos, caracterizam-se como abordagens
morfológicas de estudo do nível coletivo do espaço urbano, e é justamente pela
permanência em espaço público, dentro de um período maior de tempo, que os
usuários acabam inconscientemente compreendendo os códigos utilizados
publicamente, passando a adotá-los quando presentes nesses ambientes.
Já, a partir da perspectiva da análise morfológica do contexto urbano em um nível
comunitário destaca-se “(...) uma lógica com significados especiais apenas para um
restrito círculo de população (...)”. Desta forma, o bairro passa a ser o maior
referencial do estudo morfológico, passando a ser interpretado de acordo com a
experiência de uma comunidade especifica e sua relação com o contexto urbano em
que vive. Para concluir, Del Rio (1990 p.83) destaca que, a partir da dimensão
individual que se estabelece uma relação mais livre, que se “expressam os
significados individuais, a residência e seu espaço imediato, e, conseqüentemente, é
a que apresenta uma maior rapidez de mutações.”
Esta importante construção teórica do espaço urbano e a possibilidade de recorte
morfológico dos diferentes níveis de organização de seu ambiente representam,
senão, a maneira como podemos compreender metodologicamente a cidade em sua
estrutura mais evidente. Assim, dos espaços públicos até o interior das residências,
o comportamento dos indivíduos são bastante peculiares e moldam-se de acordo
com códigos específicos de comportamento, criados a partir dessa organização
coletiva, comunitária e individual, ou seja, do maior nível de interação ao menor.
Para finalizar, Del Rio (1990, p.83) aponta alguns temas e elementos para a
pesquisa morfológica do espaço urbano, que são:
Crescimento: os modos, as intensidades e direções; elementos geradores e
regulamentadores, limites e superação de limites, modificação de estruturas,
pontos de cristalização, etc.;
Traçado e parcelamento: ordenadores do espaço, estrutura fundiária,
relações, distâncias, circulação e acessibilidade etc.;
100
Tipologias dos elementos urbanos: inventário e categorização de tipologias
edilícias (residências, comércio, etc.), de lotes e sua ocupação, quarteirões e
sua ocupação, de praças, esquinas etc.;
Articulações: relações entre elementos, hierarquias, domínios do público e
privado, densidades, relações entre cheios e vazios etc.
O espaço urbano constitui-se em um campo rico de possibilidades em termos de
análise, como podemos verificar a partir dos estudos de Del Rio (1990). Entretanto,
como procedimento de pesquisa, necessitamos ainda rever as abordagens
metodológicas que nos são oferecidas para condução das análises de caráter
científico e desenhístico. Assim, propomos, no próximo tópico, fazer uma revisão dos
procedimentos metodológicos utilizados por diversos autores e de diferentes áreas
relacionadas ao fenômeno urbano. Neste sentido destacamos as palavras de Lang
(1987), apud Del Rio (1990, p. 67) definindo que “teorias bem sucedidas consistem
de generalizações simples, mas poderosas sobre o mundo e como ele funciona, de
modo a nos permitir predizer com precisão as operações futuras.”
3.1.3 Metodologias Específicas
Diante de uma necessidade metodológica para tratarmos do contexto urbano,
entendemos que um dos primeiros procedimentos a destacarmos é a análise do
ambiente estudado. Neste sentido, muitos autores, como Oliveira (2003), Ferrara
(1993) e D’Agostini & Gomes (2010), admitem que, conhecer o ambiente estudado é
fundamental para compreendermos o contexto em que ocorrem as interações entre
os usuários e as informações. Partindo desse princípio, Oliveira (2003, p.44) sugere
que “a primeira atitude para identificar o que é lido na cidade é reconhecer a
abrangência desta leitura.” Dentro dessa perspectiva, seria necessário que
adotássemos um procedimento de classificação da “escala de percepção” do
ambiente estudado. Para isso, o autor cita Romero (2001), que define a escala de
percepção dividida em:
Escala da cidade: macro escala da grande dimensão das estruturas urbanas;
Escala do Setor: escala intermediária da área ou do sítio;
101
Escala do Lugar: micro escala de dimensões específicas do lugar; e
Escala do Edifício: micro escala de dimensões específicas dos edifícios.
Através dessa classificação de Romero (2001) apud Oliveira (2003, p.44) podemos
obter uma forma de estudarmos as questões da manifestação da poluição visual no
ambiente conforme sua disposição em diferentes planos visuais. Nesse sentido,
Oliveira (2003, p.45) acrescenta que “cada escala gera um campo visual com suas
características dimensionais em relação à largura, altura e profundidade do campo.”
O conceito exposto por Oliveira (2003) cria um “quadro visual tridimensional”
formado pela relação de Altura (H), Largura (W) e Profundidade (P). Além disso, esta
nova relação, segundo o autor caracteriza “dois planos visuais”, o plano frontal
(campo visual) e o plano de fundo (foco).
Outro ponto destacado nessa análise tridimensional da escala de percepção do
ambiente, diz respeito à velocidade com que se tem contato com as informações
dispostas em cada contexto. Para Oliveira (2003, p.48), um dos maiores equívocos
relacionados à programação visual do espaço urbano é “a disposição e/ou a
quantidade de elementos presentes no espaço”, pois estes são “displicentes quanto
ao tempo necessário à leitura de acordo com a velocidade de locomoção do
observador.” Neste sentido, o autor admite que “as velocidades e o tempo de
observação (!t) são fundamentais para atribuirmos parâmetros de informação
vinculadas aos campos visuais e, por conseguinte a demanda mínima necessária
para ler-se.”
Esta análise do ambiente é de extrema importância tendo vista os diversos ângulos
e situações em que o usuário dentro do contexto urbano apreende as informações
contidas nele. Assim, esse instrumento de avaliação da dinâmica dos ambientes
pode nos servir como ponto de partida na análise da situação proposta por essa
pesquisa.
Mas, no âmbito geral da pesquisa de campo, Oliveira (2003, p.90) define que o
procedimento de investigação do estudo específico possua dois aspectos. O
primeiro diz respeito ao “alfabetismo visual”, ou seja, reconhecer no entorno
estudado a gama de elementos visuais que fazem parte da situação de análise, e o
segundo ponto seria a própria análise, formulando um roteiro que leve em
102
consideração os parâmetros apontados como relevantes para a pesquisa de campo.
Assim, sua proposta metodológica contempla as seguintes etapas:
1. Identificação da Escala de Percepção;
2. Reconhecimento da intenção inicial da composição (conjunto observado);
3. Reconhecimento das intervenções na composição;
4. Identificar atributos relativos e absolutos presentes na composição atual;
5. Qualificar e/ou quantificar os atributos presentes na composição atual com ou
sem intervenção pautado pela melhor leitura (nível de legibilidade);
6. Identificar os leitores (usuários) do campo visual analisado;
7. Verificar o nível de conforto visual oferecido pelos campos visuais nos leitores
(usuários);
8. Concluir quanto à legibilidade e ao nível de conforto visual e bases para
definição quanto ao grau de poluição visual encontrada.
Outro ponto de vista importante dentro da pesquisa voltada ao contexto urbano diz
respeito à forma como devemos perceber o ambiente, providenciando incursões ao
local de estudo para colher evidências fidedignas ao seu aspecto e configuração.
Dentro disso, Ferrara (1993, p.155) assume que uma das exigências metodológicas
de uma pesquisa voltada a percepção do ambiente é a Contextualização, pois é ela
que fará uma análise “rigorosamente fiel e colada à realidade concreta do espaço”. A
autora destaca que a Contextualização, comparada a uma atividade, deve ser de
caráter reflexivo, “no sentido de tornar inteligível o contexto e de reconstruir as
regras de funcionamento e interferência daquelas variáveis contextuais na criação
de um lugar informado”. Neste sentido, fica clara a intenção de uma abordagem que
necessite do contato com o problema para podermos avaliar essas “variáveis
contextuais” diretamente no ambiente estudado. E nota-se também, que esse
procedimento é de fundamental importância para futuras avaliações do problema.
Para uma pesquisa de percepção ambiental, a contextualização é a primeira etapa metodologicamente orientada e de importância fundamental, porque dela depende o levantamento de hipóteses possíveis sugeridas por um contato ainda superficial com o espaço concreto, mas suficientemente sugestivo para permitir a apreensão de imagens urbanas que atritam a
103
atenção e permanecem, para o pesquisador, como um desafio a ser respondido cientificamente, uma curiosidade que só será satisfeita quando a possibilidade daquelas hipóteses for superada pela generalização, capaz de explicar manifestações urbanas que, ocorrendo repetidamente em lugares diversos, permitem uma aproximação de lugares em um espaço mais concreto e real. (FERRARA, 1993, p.156)
A contextualização, destacada por Ferrara (1993), também pode ser encarada como
um método que, aqui, pode ser descrito em forma de “etapas fundamentais” para a
pesquisa. Ferrara (1993, p.155) descreve esse método em quatro etapas: 1. Ir para
ver; 2. Os lugares do espaço; 3. Os riscos do projeto; 4. A correção do projeto.
A primeira etapa (Ir para ver) consiste na percepção do problema em seu habitat. Ou
seja, para Ferrara (1993, p.155), estar no local onde ocorre o fenômeno é
fundamental para que se supere “a concepção abstrata do espaço contido nos frios
dados descritivos e/ou quantitativos de memoriais e relatórios..”. Neste sentido, é
necessário que o pesquisador vá até o local objeto da pesquisa e tenha “uma
atenção perceptiva para apreender a imagem e suas características.” Essa
importante etapa revelará, entre outras coisas, elementos do problema, bem como
as possíveis variáveis que somente a comprovação ou a percepção in loco poderia
informar ao pesquisador.
Na segunda etapa (Os lugares do espaço) o objetivo é fragmentar o local observado
para que possamos nos distanciar de um contexto generalizado. Para Ferrara (1993,
p.155) esse procedimento tende a “superar aquela totalidade que é uma conquista
abstrata, um esforço de generalização, mas uma visão afastada da experiência.”
Compreende-se com isso que, apesar da imagem de um determinado espaço
urbano possuir características próprias como é o caso de avenidas onde a
concentração de lojas representa, em essência, uma atividade comercial intensa
ainda assim seria preciso avaliá-la conforme as condicionantes de cada espaço em
especial. Para isso, depreende-se que a própria arquitetura das construções, bem
como elementos de comunicação visual, não se constituem num corpo único e
uniforme ao longo de uma avenida com características de intensa atividade
comercial: pelo contrário, alguns prédios históricos, por exemplo, possuem um
tratamento diferenciado no que tange a utilização de suas fachadas, e isso, por si
só, já determina uma percepção diferenciada da imagem totalizadora ou
generalizada do espaço urbano estudado.
104
A terceira etapa, descrita como (Os riscos do projeto), revela duas atenções com
pesquisa, que segundo Ferrara (1993, p.155-156), “são cruciais para a
confiabilidade do seu produto”, ou seja, a validação dos resultados ou conclusões
tiradas do que foi observado no local da pesquisa. Ainda segundo a autora, “o
controle desses riscos é uma necessidade da pesquisa que só a informação
decorrente do confronto com a realidade é capaz de proporcionar.” Uma das
atenções diz respeito ao “intuicionismo” que corresponde a uma tendência de ver ou
criar um “espaço distante de parâmetros concretos.” Dentro desse conceito, tentar
tornar uma teoria relativa aplicável dentro de um contexto, como é o espaço urbano,
poderia afastar a real compreensão do que está sendo estudando ou observado, sob
o argumento de que essa intuição não pode ser comprovada, senão por
procedimentos metodológicos que a sustentem. Outro ponto de atenção está na
“tendência nominalista” que, segundo Ferrara (1993, p.155) “procura isolar as
características do espaço apreendido abstratamente e nomeá-las, acreditando que
essa atribuição de nomes é suficiente para que o espaço se concretize e adquira
realidade material.” Neste sentido, não basta que se atribua um nome ou se
classifique o espaço apenas por sua característica evidente, pois é necessário que
se some, a isso, uma análise do ambiente com suas condicionantes e interferências,
que só serão possíveis de constatação concreta no próprio espaço estudado.
Intuição e nomeação são características de todo projeto de pesquisa a fim de ser possível criar, de um lado, um simulacro da realidade e, de outro, a sugestão de inferências necessárias à elaboração de hipóteses explicativas, porém ainda muito artificiais. Apenas o confronto com o espaço, ou com o problema concreto a ser pesquisado, permite fazer com que aquela artificialidade das hipóteses transforme-se em dados possíveis de serem controlados indutivamente. (FERRARA, 1993, p.156)
A quarta e última etapa da Contextualização (A correção do projeto) descrita por
Ferrara (1993, p.156) é, basicamente, a substituição daqueles dados abstratos,
necessários para apoiar inicialmente o projeto de pesquisa, por evidências concretas
coletadas nas três primeiras etapas da contextualização. Para a autora, os dados da
contextualização coletados nas três etapas iniciais “estabelecem parâmetros
concretos que corrigem aquela abstração, interferindo, não só nas hipóteses
projetadas, mas, sobretudo, na seleção dos locais e do corpus da pesquisa.” Desta
forma, por mais assertivo que possa ser nossa inferência sobre o problema da
pesquisa, esta observação deve estar sempre sendo revista sob a “luz de uma
concepção do espaço menos geral, porém, mais concreta e vivida”. Ou seja, “parte-
105
se do geral cientificamente conquistado, não para comprová-lo, mas para testá-lo e
corrigi-lo, se for o caso”. (FERRARA, 1993, p.156)
Este modelo metodológico proposto por Ferrara (1993) trata-se de uma forma de
coletar evidências e formular hipóteses dentro da perspectiva de percepção do
ambiente urbano sob a luz dos procedimentos da pesquisa científica, mas não deixa
de conter também a análise da pesquisa desenhística. Não é um procedimento que
busque efetivamente a análise do problema da poluição visual em si, mas, em
contrapartida, apresenta uma ordem processual capaz de adaptar-se ao problema
desta pesquisa. Ou seja, as etapas supracitadas poderiam adaptar-se a
necessidade e objetivos do projeto de pesquisa proposto.
A partir dessa reflexão, buscamos na literatura voltada ao planejamento de sistemas
de sinalização outra contribuição metodológica que vise aliar-se aos conceitos de
Ferrara (1993) sobre a captação e análise de dados da pesquisa. Para isso,
podemos citar a metodologia de D’Agostini & Gomes (2010) focada no projeto de
sistemas de sinalização, que possui uma importante reflexão em termos de coleta de
informação e interpretação das características do ambiente, do usuário e da
informação dentro de uma análise e compreensão do campo de estudo. Nessa
proposta metodológica, basicamente, os problemas enfrentados dentro de um
projeto de sinalização podem ser interpretados segundo variáveis que também
existem em uma situação de degradação da paisagem urbana. Assim, D’Agostini &
Gomes (2010, p.96) propõe que os elementos essenciais a serem observados,
quando do projeto de sistemas de sinalização, sejam: 1. Ambiente; 2. Usuário; 3.
Informação; 4. Função; 5. Gráfico; 6. Suporte.
Para D’Agostini & Gomes (2010, p.96) “em cada projeto devemos primeiramente
conhecer o Ambiente”. Neste sentido, o estudo deve passar pela análise e
interpretação das condições físicas do local. De forma geral, esta análise representa
a iniciativa do pesquisador em compreender a estrutura do lugar que é observado.
Assim, existem alguns pontos dentro do ambiente com total relevância, como o fato
de sabermos identificar o tipo de arquitetura do local estudado. Em projetos de
sinalização – onde na maioria das vezes se trabalha apenas com uma perspectiva
arquitetônica – este tipo de avaliação torna-se mais simples. Entretanto, seria
necessário adotar algum outro mecanismo de observação do ambiente urbano, pelo
106
fato da coexistência de um grande número de edificações com características
diferentes umas das outras.
Outro ponto destacado por D’Agostini & Gomes (2010, p.97) é a identificação do
usuário desses espaços “trazendo diretrizes de ordem ergonômica e antropológica”.
Esta avaliação vai ao encontro de muitos autores que tratam dos aspectos que
envolvem a paisagem urbana e sua relação com o próprio habitante da cidade,
como Simmel (1979), Canevacci (1993), Ribeiro (2005) e Scocuglia (2006). Mas o
destaque que esta avaliação traz, no que se refere ao usuário, é poder determinar
de que forma ele utiliza o ambiente. Dentro dessa perspectiva, os registros visuais
que um pedestre tem ao caminhar pelas calçadas de uma determinada avenida
serão fundamentalmente diferentes da percepção do motorista do carro, do piloto da
moto, etc. Outro ponto destacado pelos autores revela a preocupação em traçar o
perfil fisiológico do usuário, como as suas condições de captação visual. Neste
sentido, observar se há algum tipo de déficit visual por parte de quem utiliza o
ambiente torna-se um dado a ser levado em consideração. Mas, a principal
orientação com relação à observação do usuário indicada por D’Agostini & Gomes
(2010) está no fato, de que, podemos classificá-los de acordo com a rotina de uso
do espaço construído, e dentro desse conceito, podem ser divididos em dois grupos:
1. Usuários habituados; 2. Usuários não-habituados.
Os usuários habituados, essencialmente, conhecem os ambientes a sua volta e
dispensam maiores informações sobre a rotina dos mesmos. Já os usuários não-
habituados necessitam “do auxílio imediato de informações para navegar pelos
ambientes.” Este dado torna-se de extrema importância, tendo em vista que um dos
maiores problemas da poluição visual em uma cidade é o acúmulo de painéis e
outros elementos nas fachadas de prédios, ou nas esquinas, dificultando o
reconhecimento das ruas e edificações à distância.
Para uma análise do tipo de mensagem disposta em um ambiente D’Agostini &
Gomes (2010, p.123-126) destacam o grau de assimilação por parte de quem a
recebe. Assim, seria necessário que a informação transmitida por algum tipo emissor
seja codificada de forma a ser facilmente decodificada pelo receptor se o objetivo for
o seu real entendimento. As mensagens gráficas visuais, por exemplo, segundo
D’Agostini & Gomes (2010, p.126) dividem-se em: a) Pictórica; b) Tipográfica; c)
107
Cromática. As mensagens pictóricas constituem-se de imagens, desenhos,
ilustrações, etc. A mensagem tipográfica é composta por textos e palavras. Já a
mensagem cromática refere-se à utilização de cores para informar.
É importante observar que, seja qual for o tipo de mensagem visual que será disposta em um ambiente, a opção por trabalhar com algumas dessas alternativas deverá partir de um princípio lógico em que a informação deverá ser compreensível por todos que irão utilizá-la. Nesse sentido, seu código visual deve possuir a capacidade de expressar uma mensagem carregando consigo uma informação que deverá ser decodificada para uma posterior tomada de decisão. Por isso, quando se fala em informação, esta, deve ser compreendida como algo que é transmitido por alguém e recebido por outra pessoa, para desempenhar uma ação. (D’AGOSTINI & GOMES, 2010, p.126)
Outro ponto de destaque dentro da análise metodológica proposta por D’Agostini &
Gomes (2010, p.86) são as razões pela qual existem as necessidades de
intervenções ou propostas para melhoria dos ambientes estudados. Segundo os
autores, existem pelo menos três enfoques na observação do ambiente a fim de
criarmos critérios na proposta de um tema de pesquisa, que são:
a) Desordem informacional: que são as falhas nas informações;
b) Complexidade funcional: problemas de identificação de áreas ou acessos;
c) Necessidade comunicacional: falta de característica ou personalidade de um
ambiente.
Se dentro, dessa proposta, pudermos reconhecer que a “desordem informacional
representa, em essência, a falta de organização lógica da distribuição das
informações em dado ambiente, então, este item a ser observado,
fundamentalmente, poderá incorporar-se à análise sobre o tema da poluição visual,
no contexto específico desta pesquisa. Assim, podemos também evidenciar as
questões do melhor reconhecimento dessas informações pela análise de
“complexidade funcional”, a qual revelará o grau de assimilação e legibilidade da
informação no ambiente estudado. Para concluir, cabe destacar o papel do estudo
da “necessidade comunicacional” para as futuras tomadas de decisão no âmbito do
planejamento das políticas de ajuste da paisagem urbana nos locais apontados por
essa pesquisa onde se encontra o problema.
108
Estes critérios juntam-se aos procedimentos de coleta de informações no campo de
pesquisa e assumem um papel fundamental na avaliação do problema in loco.
Unindo as metodologias propostas por Del Rio (1990), Ferrara (1993), Oliveira
(2003) e D’Agostini & Gomes (2010), e considerando suas abordagens, monta-se
aqui, um plano de ação, que visa enquadrar as diferentes tarefas da pesquisa
proposta, em etapas para condução do trabalho científico.
3.1.4 Método de Pesquisa
O método geral desta pesquisa está fundamentado nos trabalhos de Del Rio (1990),
Ferrara (1993), Oliveira (2003) e D’Agostini & Gomes (2010), em que os autores
expõem sua visão da análise geral dos ambientes propondo seus métodos de
avaliação, subdividindo especificamente os problemas relacionados a essa temática.
Procuraremos aqui estabelecer a convergência dos pontos de vista sobre a pesquisa
do ambiente urbano, a fim de obter maior aproveitamento quando da coleta de
dados, classificação e reflexão dos materiais obtidos.
Desta forma, propomos a seguir um conjunto de ações e procedimentos de pesquisa
relacionados ao tema que foi proposto com o foco na investigação do fenômeno da
poluição visual no trajeto da Rua dos Andradas, localizada no Centro de Porto
Alegre, pautados pelas considerações dos autores supracitados. Neste momento,
buscamos elaborar uma rotina na observação, coleta de dados e análise do
fenômeno que nos possibilite refletir e trazer a contribuição necessária para esta
pesquisa científica. Também, procuramos estabelecer uma organização sistemática
de etapas que vão desde a visita ao campo da pesquisa, passando pelo registro dos
fenômenos, até a tabulação e edição dos resultados. Assim, o procedimento
investigativo será dividido em três frentes de análise:
Análise do Ambiente
Análise do Usuário
Análise da Informação
Na Análise do Ambiente, ou seja, o espaço urbano escolhido, procederemos com a
tarefa de Identificação dos locais que estejam ou não sofrendo com os aspectos de
109
poluição visual. Para isso, escolhemos a Rua dos Andradas por possuir contrastes
de utilização em seu espaço e que de certa forma evidencia em maior ou menor
grau o problema de poluição visual ao longo de seu trajeto. Através de incursões a
pé pela Rua iremos marcar no mapa a localização dos locais a serem destacados.
Munidos de câmera fotográfica procederemos com os registros dos locais apontados
através de fotos. Basicamente, neste momento, nos será importante não só os
aspectos de configuração do espaço em si, mas sua rotina de uso também. Assim,
com o registro fotográfico, procuraremos identificar o tipo de usuário que transita
pelos locais e qual é seu comportamento, o que posteriormente poderá ser
analisado conforme procedimento específico.
O Usuário do espaço analisado primeiramente será identificado de acordo com a
forma com que utiliza o ambiente. Neste sentido, será avaliada somente a forma que
utiliza para transitar pela Rua, ou seja, se a pé ou motorizado. Nesta parte do
procedimento nos interessa, especificamente, a relação de uso que o usuário tem
com o espaço construído, de acordo com critérios específicos.
Por fim, a análise sobre a informação irá considerar o conjunto de elementos visuais
identificados como o mobiliário urbano que está disposto no Ambiente da pesquisa.
Assim, procederemos com o registro fotográfico desses elementos de informação
dispostos no trajeto da Rua dos Andradas, identificando-os e categorizando-os
segundo critérios estruturais, funcionais e morfológicos. A seguir iremos discriminar
essas avaliações e definir as tarefas específicas de cada análise:
1) Análise do Ambiente:
a) Identificar no ambiente os locais que apresentem a incidência ou não de
elementos que contribuam para a poluição visual;
b) Classificar os locais segundo critérios estruturais (revelando aspectos de
infra-estrutura física do local pesquisado), funcionais (através da identificação
de uso do local, no trânsito de pedestres e veículos), e morfológicos (através
de sua composição entre elementos que formem sua paisagem).
110
2) Análise do Usuário:
a) Identificar os usuários do ambiente pesquisado de acordo com a forma com
que utilizam o espaço;
b) Proceder com o registro fotográfico do comportamento dos usuários do
espaço pesquisado, identificando sua forma de utilização;
3) Análise da Informação:
a) Identificar os elementos do mobiliário urbano que compõe a paisagem urbana
desses espaços estudados;
b) Analisar sua relação morfológica no contexto em que estão inseridos;
A partir dos dados levantados nesta pesquisa, de acordo com o procedimento
explicitado, pretendemos criar um conjunto de informações para a posterior reflexão
amparada por corpo teórico específico na análise da Morfologia do Desenho
(Design) na relação entre ambiente, usuário e informação. Para isso, nos
apoiaremos nos estudos de Lidwell et. al. (2003) quando estes autores apresentam
um conjunto de princípios de design para a concepção de projetos, a fim de avaliar
sob a luz desses conceitos o atual estado da inserção do mobiliário urbano em
espaços públicos, e de que forma estes se relacionam diante do eminente problema
da poluição visual no trajeto da Rua dos Andradas em Porto Alegre.
Na reflexão sobre a metodologia abordada nesta pesquisa, pudemos organizar um
conjunto de ações apresentadas aqui e exploradas por diversos autores, como
forma de identificarmos os focos principais de análise que, neste trabalho, serão
utilizados como métodos de avaliação do problema apresentando pela inserção
desordenada do mobiliário urbano na Rua dos Andradas. Essa organização nos
permitiu obter um quadro bastante claro da seqüência de estudos que deveriam
pautar as ações da pesquisa, e é demonstrada no quadro a seguir, como forma de
explicitar os caminhos escolhidos deste trabalho.
111
Figura 23. Abordagens Metodológicas adotadas na Pesquisa.
Fonte: Ilustração do autor.
112
CAPÍTULO IV
4.1 RECORTE DA PESQUISA
A poluição visual, como visto no capítulo anterior, representa muito mais um efeito
de uma ação degenerativa da paisagem urbana do que a incidência específica de
um agente poluidor no contexto da cidade. Podemos citar como principal prejuízo a
difícil identificação e assimilação de diversas mensagens visuais que são colocadas
a nossa frente dentro do contexto urbano. Isto, de fato, representa um ponto de
destaque, principalmente, em ambientes com intensa circulação de pedestres e
veículos, como é o caso do centro de uma cidade grande como Porto Alegre,
aumentando consideravelmente o número de informações a serem registradas e
posteriormente a baixa atenção em outros pontos.
Ao longo do trajeto de qualquer rua ou avenida podemos notar que o excesso de
informações visuais, desde as fachadas das lojas até o próprio mobiliário, entre
postes de iluminação, lixeiras e sinalizações viárias, acabam contribuindo para a
sensação de caos visual, surgindo de forma pouco ordenada ou nenhum princípio de
arranjo entre si.
Assim, trata-se de uma pesquisa com recorte específico que visa primordialmente
questionar a estrutura, funcionalidade e morfologia, de uma rua, em toda sua
extensão, a fim de obtermos um cenário de como estamos pensando os projetos
para implementação do mobiliário urbano (postes de iluminação, sinalizações
viárias, lixeiras, etc.), e qual sua relação com o cenário urbano sob o ponto de vista
do excesso de elementos visuais e seu conseqüente efeito de poluição visual.
113
Buscou-se nesta pesquisa, primeiramente, identificar uma região de Porto Alegre
que pudesse oferecer a possibilidade da alta incidência de elementos urbanos
diversos ao longo de uma rua específica, bem como a grande circulação de
pedestres e veículos em toda a sua extensão. Em termos gerais, o excesso de
informações a serem assimiladas pelo olho humano contribui para a sensação de
desordem no meio urbano; em contrapartida, a falta de orientações visuais,
evidentemente, representa também um problema não relacionado ao excesso, mas,
agora, à falta de informações específicas para a tomada de decisão no tráfego de
veículos e pedestres. Desta maneira, recorta-se nesta pesquisa:
1) O perímetro do ambiente estudado (a rua);
2) Os elementos para análise (mobiliário urbano x paisagem urbana);
3) O fenômeno a ser observado (poluição visual);
4) A morfologia do espaço (relação de ordem e arranjo da paisagem);
A relação entre o ambiente da pesquisa definido como a extensão total da rua
escolhida para análise, que possa oferecer um número considerável de evidências
do fenômeno da poluição visual é que recaem as avaliações da inserção do
mobiliário urbano, seguindo a partir da pesquisa de campo e estudo de caso sobre a
Rua dos Andradas, localizada no centro de Porto Alegre.
4.2 LEVANTAMENTO DE DADOS NA RUA DOS ANDRADAS
A atual Rua dos Andradas localizada no Centro de Porto Alegre, compreende uma
extensão de pouco mais de um quilômetro e meio, que inicia a partir da junção com
a Rua General Salustiano e termina na Praça Dom Feliciano. Trata-se de uma Rua
rica em contrastes devido à variada ocupação de seus espaços por parte do
comércio e do público que circula no local.
Pode-se dizer que suas primeiras quadras, que compreende as ruas General
Salustiano, General Vasco Alves e General Portinho, possuem uma ocupação
fundamentalmente de prédios residenciais. Neste trecho também se encontra a
Praça Brigadeiro Sampaio, que apresenta abundante arborização. Entre as ruas
114
General Portinho e General Bento Martins concentram-se os quartéis militares, a
Igreja Nossa Senhora das Dores, além de pequenos comércios.
No trecho que inicia a partir da Rua General Bento Martins até chegar a Rua Caldas
Júnior, encontram-se diversos estabelecimentos comerciais de ambos os lados da
Rua dos Andradas, e é a partir desse ponto que a circulação de pedestres e veículos
se intensifica. Neste trecho, além da diversidade de estabelecimentos comerciais,
também se encontra a Casa de Cultura Mário Quintana e o Museu da Comunicação
Hipólito José da Costa. Outro destaque fica por conta da intensa arborização do
trecho que acaba obscurecendo a imagem do local.
A partir da Rua Caldas Júnior até a Rua General Câmara, pode-se notar a ocupação
de ambulantes que utilizam suas bancas para expor os mais variados tipos de
produtos, principalmente, o artesanato. Neste mesmo trecho, que abriga a Praça da
Alfândega, com abundante arborização, estão os estabelecimentos comerciais
dispostos à direita do percurso em direção a Rua General Câmara. Trata-se de um
ponto de intensa movimentação de pedestres, onde não se verifica o trânsito de
nenhum veículo.
O trecho da Rua dos Andradas que inicia a partir da Rua General Câmara até a Rua
Marechal Floriano Peixoto possui a característica marcante de prédios altos de
ambos os lados da via, além de registrar a intensa movimentação de pedestres que
transitam entre os diversos estabelecimentos comerciais existentes ao longo desse
trecho. Neste ponto, a profusão de elementos visuais atinge um grau elevado,
devido à falta de arborização e a reunião de diversos tipos de mobiliários urbanos
dispostos de forma concentrada no meio da via. Além disso, as fachadas das lojas
contribuem para a sensação de acúmulo de mensagens visuais ao longo do trecho.
Outro ponto a ser destacado é a ausência de veículos circulando neste ponto da
Rua dos Andradas, que só são vistos quando do seu cruzamento com a Avenida
Borges de Medeiros.
A partir do trecho que compreende a Rua Marechal Floriano Peixoto até a Rua
Doutor Flores, o trânsito de veículos e pedestres ocorre simultaneamente,
concentrando-se a circulação de transeuntes principalmente nas calçadas. De
ambos os lados os estabelecimentos comerciais dispõe seus elementos de
identificação de forma perpendicular para a visualização dos pedestres. Muitos
115
elementos do mobiliário urbano acabam de certa forma prejudicando o trânsito nas
calçadas, e assim, obrigando que haja uma circulação paralela também na via por
onde transitam os carros. Trata-se de um trecho sem arborização.
O trecho final da Rua dos Andradas que inicia na Rua Vigário José Inácio e termina
na sua parte alta, de fronte a Praça Dom Feliciano, caracteriza-se como um ponto
onde o trânsito de veículos é maior, e, portanto, os pedestres acabam por
concentrarem sua circulação, principalmente nas calçadas de ambos os lados da
via. Alguns carros estacionados também acabam por formar uma espécie de
barreira impedindo com que os transeuntes circulem livremente entre um lado e
outro da via. Este trecho registra um grande número de estabelecimentos comerciais
de ambos os lados da rua, que utilizam das fachadas para expor suas marcas.
4.3 COLETA DE DADOS
Dada a característica particular encontrada em cada trecho, a coleta de dados, para
posterior avaliação, ocorreu a partir da divisão da Rua dos Andradas em sete
trechos, a fim de se estabelecer uma análise morfológica de acordo com a
característica visual de cada paisagem urbana registrada. Assim, os trechos foram
identificados da seguinte maneira:
Trecho A - Rua Gen. Salusiano / Rua Gen. Portinho
Trecho B - Rua Gen. Portinho / Rua Gen. Bento Martins
Trecho C - Rua Gen. Bento Martins / Rua Caldas Júnior
Trecho D - Rua Caldas Júnior / Rua General Câmara
Trecho E - Rua General Câmara / Rua Marechal Floriano Peixoto
Trecho F - Rua Marechal Floriano Peixoto / Rua Doutor Flores
Trecho G - Rua Doutor Flores / Avenida Independência
Posteriormente, seguiu-se com a definição, primeiro, do perímetro de cada trecho a
ser avaliado através da identificação do ponto inicial e final de coleta de dados e
registros fotográficos. As anotações seguem com o registro das principais
116
características identificadas no local de análise, além do levantamento dos tipos de
mobiliário urbano em cada trecho registrado. Por fim, discorre-se pequenos
comentários sobre a forma como cada ambiente se comporta em termos de fluxos
de circulação, incidência de arborização e dificuldades com relação à visualização
dos elementos urbanos.
4.3.1 Trecho A – Rua General Salustiano / Rua General Portinho
O trecho entre as ruas General Salusiano e General Porinho caracteriza-se como
um ambiente formado por conjuntos residenciais com a incidência menor de
estabelecimentos comerciais. Esse trecho possui o alargamento da via o que
possibilita uma visão mais ampla de diversos elementos a longa distância.
Figura 24. Foto da paisagem urbana do Trecho A da Rua dos Andradas.
Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.
A pouca incidência de anúncios comerciais nas portas dos estabelecimentos diminui
a sensação de acúmulo de elementos visuais ao longo do trecho, entretanto, ao
chegarmos ao cruzamento entre a Rua dos Andradas e a Rua General Portinho,
percebe-se que esse problema aparece com mais evidência. Principalmente neste
ponto, podemos notar que a reunião dos veículos estacionados, com os elementos
urbanos como as placas de sinalização viária, de identificação de logradouro, poste
de iluminação pública e cartazes comerciais acabam por apresentarem-se como
117
uma série de estímulos visuais reunidos em um mesmo local em um mesmo instante
de percepção da paisagem.
Figura 25. Vista aérea do Trecho A.
Fonte: Imagem do Google Earth (2009)
4.3.1.1 Principais Características do Trecho A
rua larga
Incidência de vegetação somente no lado esquerdo do trecho
Acúmulo de veículos estacionados em ambos os lados do trecho
Existência de uma praça na parte esquerda do trecho
Prédios residenciais no lado direito do trecho
Poucos estabelecimentos comerciais espalhados ao longo do trecho
Os postes de iluminação pública são os elementos marcantes ao longo do
trecho com maior incidência.
Baixa circulação de pedestres e veículos
4.3.1.2 Elementos Urbanos do Trecho A
Postes de iluminação pública
Sinalização viária
118
Lixeiras
Postes da rede elétrica
4.3.2 Trecho B – Rua General Portinho / Rua General Bento Martins
Figura 26. Vista aérea do Trecho B da Rua dos Andradas.
Fonte: Imagem do Google Earth (2009)
O trecho entre as ruas General Porinho e Rua General Bento Martins caracteriza-se
como um ambiente com construções em ambos os lados deste trecho da via. Inicia-
se com a vegetação das árvores que formam uma espécie de pórtico de entrada
para o trecho. Em seguida os estabelecimentos comerciais começam a se reunir no
lado direito deste trecho e do lado esquerdo a área de segurança militar com os
quartéis da marinha e do exército. O maior problema deste trecho concentra-se na
má distribuição das placas de sinalização viária que acabam se cumulando em
determinado momento do percurso.
4.3.2.1 Características do Trecho B
rua com sentido único
Trecho que se caracteriza como área de segurança militar onde estão
localizados alguns quartéis que ficam na parte esquerda do trecho.
Incidência de vegetação esparsa ao longo do trecho
119
Estabelecimentos comerciais reunidos em parte do trecho
Acúmulo de carros estacionados em algumas partes do trecho
Figura 27. Foto da paisagem urbana do Trecho B da Rua dos Andradas.
Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.
4.3.2.2 Elementos Urbanos do Trecho B
Postes de iluminação pública
Sinalização viária
Lixeiras
Postes da rede elétrica
Telefones públicos
120
4.3.3 Trecho C – Rua General Bento Martins / Rua Caldas Júnior
Figura 28. Vista aérea do Trecho C da Rua dos Andradas.
Fonte: Imagem do Google Earth (2009)
O trecho entre as ruas Rua General Bento Martins e Rua Caldas Júnior caracteriza-
se como um ambiente mais fechado, com pouca luminosidade natural pela
incidência de intensa arborização neste trecho. A grande movimentação de
pedestres e veículos soma-se a profusão de elementos urbanos ao longo do trecho,
tais como postes de iluminação, placas de sinalização, mesas de bares, entre
outros. Alguns pequenos comércios como as bancas de jornal, lanchonetes móveis
e serviços de chaveiros acabam por contribuir para a sensação de acúmulo de
estímulos visuais neste trecho.
Figura 29. Foto da paisagem urbana do Trecho C da Rua dos Andradas.
Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.
121
4.3.3.1 Características do Trecho C
Intensa circulação de pedestres
Incidência de abundante vegetação
Grande acúmulo de veículos estacionados em ambos os lados do trecho
Trecho com maior incidência de estabelecimentos comerciais
Calçadas mais largas e via mais estreita
Concentração de elementos urbanos
4.3.3.2 Elementos Urbanos do Trecho C
Postes de iluminação pública
Sinalização viária
Lixeiras
Postes da rede elétrica
Telefones públicos
Bancas de jornal
Parquímetros
4.3.4 Trecho D – Rua Caldas Júnior / Rua General Câmara
O trecho entre as ruas Caldas Júnior e General Câmara caracteriza-se como um
ambiente de intensa movimentação de pedestres que transitam entre a Praça da
Alfândega e os estabelecimentos comerciais que se reúnem ao longo deste trecho.
Nenhum veículo transita no local, que possui uma grande quantidade de ambulantes
ao longo do trecho. Outro detalhe é que a intensa arborização pela existência da
122
Praça da Alfândega acaba por ser o elemento visual de maior incidência ao longo de
todo o trajeto.
Figura 30. Vista aérea do Trecho D da Rua dos Andradas.
Fonte: Imagem do Google Earth (2009)
Figura 31. Foto da paisagem urbana do Trecho D da Rua dos Andradas.
Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.
4.3.4.1 Características do Trecho D
Intensa circulação de pedestres
Nenhum trânsito de veículos
Intenso comércio de ambulantes
123
Incidência de arborização na parte esquerda do trecho
Comércio ao longo do lado direito do trecho
4.3.4.2 Elementos Urbanos do Trecho D
Postes de iluminação pública
Telefones públicos
4.3.5 Trecho E – Rua General Câmara / Rua Marechal Floriano Peixoto
Figura 32. Foto da paisagem urbana do Trecho E da Rua dos Andradas.
Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.
O trecho entre as ruas General Câmara e Marechal Floriano Peixoto caracteriza-se
como um ambiente de intensa movimentação de pedestres circulando entre os
estabelecimentos comerciais ao longo do percurso. Chama atenção a grande
quantidade de estímulos visuais provenientes dos anúncios das fachadas dos
estabelecimentos comerciais e o acúmulo de elementos urbanos no centro da via.
Os prédios altos também são parte da característica deste trecho.
124
4.3.5.1 Características do Trecho E
Intensa circulação de pedestres
Nenhum trânsito de veículos
Nenhuma incidência de arborização
Comércio ao longo de ambos os lados do trecho
Prédios altos nos dois lados do trecho
Grande quantidade de informações comerciais ao longo do trajeto
Incidência de elementos urbanos concentrados em um mesmo ponto
4.3.5.2 Elementos Urbanos do Trecho E
Postes de iluminação pública
Telefones públicos
Lixeiras
Bancas de jornal
Caixas de correio
Cavaletes de obras públicas
4.3.6 Trecho F – Rua Marechal Floriano Peixoto / Rua Doutor Flores
O trecho entre as ruas Marechal Floriano Peixoto e Doutor Flores caracteriza-se
como um ambiente de intensa movimentação de pedestres que circulam entre os
estabelecimentos comerciais que se encontram ao longo do percurso. A via neste
trecho possui uma largura reduzida onde passam veículos em baixa velocidade junto
com os pedestres. A profusão de informações visuais provenientes dos
estabelecimentos comerciais destaca-se na paisagem urbana deste trecho. Os
125
elementos urbanos como postes de iluminação e telefones públicos acabam
dificultando a circulação intensa de pedestres pelas calçadas.
Figura 33. Vista aérea do Trecho F da Rua dos Andradas.
Fonte: Imagem do Google Earth (2009)
Figura 34. Foto da paisagem urbana do Trecho F da Rua dos Andradas.
Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.
4.3.6.1 Características do Trecho F
Intensa circulação de pedestres
Trânsito de veículos
Nenhuma incidência de arborização
126
Comércio ao longo de ambos os lados do trecho
Prédios altos nos dois lados do trecho
Grande quantidade de informações comerciais ao longo do trajeto
Via com largura pequena
4.3.6.2 Elementos Urbanos do Trecho F
Postes de iluminação pública
Telefones públicos
Lixeiras
Placas de sinalização viária
4.3.7 Trecho G – Rua Doutor Flores / Avenida Independência
O trecho entre as ruas Doutor Flores e Avenida Independência caracteriza-se como
um ambiente de intensa movimentação de pedestres nas calçadas deste percurso.
O acúmulo de veículos no lado esquerdo deste trecho impede uma maior circulação
de pedestres entre as duas calçadas.
Figura 35. Vista aérea do Trecho G da Rua dos Andradas.
Fonte: Imagem do Google Earth (2009)
127
Figura 36. Foto da paisagem urbana do Trecho G da Rua dos Andradas.
Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.
4.3.7.1 Características do Trecho G
Trânsito de veículos
Nenhuma incidência de arborização
Comércio ao longo de ambos os lados do trecho
Acúmulo de veículos estacionados no lado esquerdo do trecho
Grande quantidade de informações comerciais ao longo do trajeto
Via com inclinação
4.3.7.2 Elementos Urbanos do Trecho G
Postes de iluminação pública
Telefones públicos
Lixeiras
Placas de sinalização viária
128
4.4 AVALIAÇÃO DOS DADOS COLETADOS
A partir da coleta de dados realizada na Rua do Andradas através do registro
fotográfico e as anotações dos diferentes cenários urbanos, identificados ao longo
do trajeto, podemos iniciar as análises da paisagem conforme orientações
metodológicas já apontadas nos capítulos anteriores. Assim, buscaremos na
identificação de princípios de design apontados por Lidwell et. al (2007) o auxílio na
dinâmica de avaliação do material coletado.
A divisão dos diferentes trechos a serem avaliados permitirá que cada ambiente seja
analisado conforme suas características e necessidades próprias, bem como
indicará a possibilidade da utilização de princípios específicos em design como
parâmetro das análises para esses diferentes ambientes.
Ao longo do trajeto da Rua dos Andradas percebeu-se que a necessidade de divisão
dos diferentes trechos tornou-se fundamental, pois revelou os contrastes de
apropriação dos espaços e suas diferentes dinâmicas de circulação. Notou-se
também que a incidência de elementos urbanos como luminárias públicas, lixeiras e
telefones públicos não possuem alguma evidência que permita dizer que
efetivamente foram implantados neste cenário com qualquer respeito a princípios de
design. Desta forma, torna-se um campo rico para análises que se fundamentem por
esses princípios.
129
CAPÍTULO V
5.1 ANÁLISE MORFOLÓGICA SEGUNDO PRINCÍPIOS DO DESIGN
A análise morfológica de uma paisagem urbana pode revelar inúmeras fontes de
estudo. Nesta pesquisa, que se concentra no impacto visual do mobiliário urbano no
ambiente de uma Rua em Porto Alegre, é importante que se criem critérios para a
avaliação da incidência desse mobiliário urbano ao longo de toda a sua extensão.
Assim, para que possamos definir os diferentes enfoques da análise morfológica da
paisagem urbana na rua escolhida para este estudo, e tornar claros os critérios
dessa análise, sentiu-se a necessidade de dividir as abordagens pelas quais vão
seguir as avaliações do cenário urbano em que ela se encontra, para que possamos
posteriormente utilizar esses critérios como condicionantes na inclusão de princípios
de design dentro da avaliação da disposição do mobiliário urbano nos diferentes
cenários encontrados. Dentro desta pesquisa a análise parte, então, de três frentes
de avaliação, citadas no capítulo anterior, e que se concentra na: a) Análise do
Ambiente; b) Análise da Informação; c) Análise do Usuário.
Pretende-se com isso criar uma divisão clara dos enfoques a serem abordados com
vistas a utilizar essa divisão na adequação à princípios do design para reger esse
conjunto de análises. Dentro dessa perspectiva, a iniciativa de trazer os princípios do
design a luz de discussões sobre o cenário urbano e sua relação com os objetos que
normalmente são encontrados em seu espaço, nas mais variadas formas e
disposições, pretende revelar de que forma podem ser projetados, não só um
mobiliário urbano melhor, mas também, como seria sua inserção na paisagem
urbana de uma grande cidade respeitando princípios adequados de projeto.
130
Para tanto, utiliza-se nesta pesquisa três princípios de design, que estão diretamente
ligados ao contexto imediato dos ambientes urbanos (Análise do Ambiente), ao
objeto específico de análise, e que neste caso representa uma informação visual
(Análise da Informação), e o usuário deste ambiente, que percebe a informação
visual destes objetos dentro do cenário urbano (Análise do Usuário).
Figura 37. Relação entre os tipos de análises da pesquisa e três princípios de projeto.
Fonte: Ilustração do autor.
O primeiro princípio, ligado à Análise do Ambiente, é a relação entre Figura e Fundo,
que entre outras coisas define a relação imediata entre o cenário urbano e o próprio
mobiliário urbano. Dentro desse princípio, algumas avaliações tornam-se essenciais,
como a relação existente do contraste do mobiliário urbano com a paisagem que o
cerca. Além disso, as avaliações podem seguir evidenciando as questões formais e
cromáticas desse mobiliário quando inserido no ambiente urbano.
O segundo princípio está ligado à frente de Análise da Informação. Trata-se do
princípio da Similaridade, em que as análises concentram-se especificamente na
relação entre o objeto com objeto. Esse princípio é de caráter comparativo, e visa
avaliar o conjunto de elementos urbanos dispostos em um mesmo cenário,
analisando seus tamanhos, materiais e as orientações em que estão expostos.
O terceiro princípio, o da Acessibilidade, evidencia a relação entre o usuário e o
mobiliário urbano, trazendo questões como a boa legibilidade dos espaços urbanos,
a segurança dos usuários ao transitarem sem obstáculos proporcionados pela má
131
implementação do mobiliário urbano na vias da cidade, e o acesso a um fluxo sem
interrupções. Este princípio está diretamente ligado à Análise do Usuário.
Além desta definição utilizamos a técnica analítica sugerida por Gomes & Medeiros
(2007), que é definida para a avaliação de produtos industriais, cuja relação é dada
segundo uma escala de Alta, Média e Baixa Ordem de fatores projetuais,
originalmente tratada em Gomes (1998, p.139-141) quando este autor se refere à
ordem geométrica de representações gráficas.
Figura 38. Análise de baixa, média e alta ordem do fator geométrico em produtos industriais.
Fonte: Gomes; Medeiros (2007)
Esta classificação permite que possamos estabelecer parâmetros na observação do
que é considerado como Alta ordem, neste caso, atribuída para àquelas relações em
que se possa definir a excelência completa no atendimento a algum princípio de
design, e o que poderíamos considerar como Baixa ordem, que do contrário
representa uma avaliação com o mínimo atendido segundo determinado princípio do
design. Trata-se evidentemente de uma escala de valores, onde Alta ordem
representa o máximo atendido, a Média ordem representa o atendimento parcial do
princípio abordado, e a Baixa ordem o mínimo de atuação de determinado princípio
sobre a relação entre mobiliário urbano e a paisagem urbana.
5.1.1 As relações de Figura e Fundo na Paisagem urbana.
Quando um dado objeto é disposto em um ambiente logo se percebem as relações
entre este e seu entorno imediato. A primeira percepção fica por conta de que não
existe uma união por completo entre todas as informações em um dado campo
visual, assim, cada objeto representa uma figura circunscrita por uma linha que
define sua forma. A relação existente entre o objeto imediato e o plano que compõe
o cenário em volta deste objeto é considerada como uma relação entre Figura e
132
Fundo. Segundo Lidwell et. al. (2003, p.80) este é um dos princípios de percepção
visual advindos da Gestalt, onde “o sistema perceptual humano separa estímulos
entre elementos de figura e elementos de fundo”. Ainda, de acordo com esse
princípio normalmente as figuras recebem maior atenção, pois se constituem no foco
de observação dentro de um campo visual “tornando a composição clara, e estável”.
Do contrário, quando não se tem definida claramente a relação entre a figura e o
fundo de uma cena “a relação é ambígua e pode ser interpretada de diferentes
maneiras”. Desta forma, pretende-se a partir deste critério tornar clara a avaliação da
figura, neste caso, o mobiliário urbano, e sua relação com a paisagem urbana, que
representa o fundo da composição visual.
Um dos pontos a serem avaliados dentro do princípio da Figura e Fundo são as
relações de constante, como a luminosidade de um objeto em relação ao cenário em
que está inserido, e desta forma, este objeto pode ou não destacar-se um dado
ambiente, como o de uma grande cidade. Este critério diz respeito ao Contraste
entre a luminosidade deste objeto com o ambiente a sua volta. Quanto mais claro
um objeto for a um fundo de completa escuridão, mais destaque terá em relação ao
seu entorno, do contrário, quanto mais escuro este objeto em relação ao mesmo
entorno escuro, sua presença praticamente não será notada.
Figura 39. Aspecto do contraste na relação entre Figura e Fundo.
Fonte: Ilustração do autor.
Outro ponto de destaque na relação Figura e Fundo está na Forma desse objeto.
Dentro desse critério de análise devemos considerar também o próprio cenário em
que um objeto é inserido. A Forma de um objeto será destacada se o ambiente a
sua volta possuir certa uniformidade, e desta maneira, formatos diferenciados
implementados em um cenário urbano possuem uma alta taxa de atratividade, pois
133
acabam diferenciando-se das demais informações visuais que possam estar na
mesma paisagem ao fundo destes objetos.
Figura 40. Aspecto formal da relação entre Figura e Fundo.
Fonte: Ilustração do autor.
A cor também representa um fator relevante na relação entre a Figura e Fundo. O
objeto com cores mais intensas acaba se destacando na paisagem urbana pelo fato
das cidades possuírem um aspecto acinzentado. Códigos de cor geralmente são
utilizados em placas de sinalização viária para chamar a atenção de usuários para
informações importantes de circulação nas vias, e desta forma são elementos
visuais já assimilados pela grande maioria do público e acabando, assim, por não
representar um problema dentro do cenário urbano.
Figura 41. Aspecto cromático da relação entre Figura e Fundo.
Fonte: Ilustração do autor.
5.1.2 As relações de Similaridade na Paisagem Urbana
Os parâmetros para a Análise da Informação, que está disposta no ambiente, podem
ser definidos de acordo com as características que a própria informação possui.
134
Desta forma, o princípio da Similaridade atua neste ponto como um balizador de
caráter comparativo da informação a ser analisada. O mobiliário urbano disposto ao
longo de um percurso com diferentes cenários urbanos sempre revelará alguns
atributos que são próprios de sua composição, como por exemplo, o tamanho de
sua estrutura em relação ao contexto imediato. Assim, basicamente, compara-se
neste momento a relação entre os diversos objetos que estão em um mesmo
ambiente, a fim de evidenciar alguma relação em todo o conjunto de elementos
visuais inseridos neste local específico.
Segundo Lidwell et. al. (2003, p.184) o princípio da similaridade afirma “afirma que
elementos semelhantes são percebidos como um único grupo ou bloco, e são
interpretadas como sendo mais relacionada do que elementos díspares”. Dentro
desta avaliação, um conjunto de elementos que ofereça diversas informações
visuais, e estas sejam distintas entre si, representaria uma condição mais complexa
em termos de compreensão.
Figura 42. Diferentes materiais utilizados na fabricação do mobiliário urbano.
Fonte: Registros fotográficos realizados pelo autor.
Um dos pontos a serem observados diz respeito aos materiais que estes elementos
são constituídos. Esse caráter revela o grau de padronização na estrutura desses
objetos, além de caracterizar um aspecto único em sua fabricação tornando o
conjunto do mobiliário urbano existente no ambiente com grau de semelhança maior
o menor. A figura 42 mostra claramente a diferença de substratos empregados no
mobiliário urbano, como um cavalete de obras confeccionado em madeira e a caixa
de correios que utiliza fibra de vidro e tubulação de metal. Evidentemente não se
questiona a utilização destes materiais, o ponto principal neste momento é
135
evidenciar um cenário com a diversidade de objetos e os aspectos mais relevantes
de sua estrutura quando relacionados entre si.
Alguns elementos do mobiliário urbano também podem revelar diferentes tamanhos,
e neste sentido este critério de avaliação torna-se essencial na observação de sua
similaridade dentro do ambiente urbano. Além disso, um dos principais critérios a
serem revelados na análise sob o Princípio da Similaridade está ligado à orientação
em que estão dispostos estes mobiliários urbanos dentro de uma paisagem
específica. Esse critério revela o grau de similaridade na disposição de diversos
elementos em um mesmo plano. Alguns objetos, com a disposição em uma
orientação vertical diferem-se consideravelmente de elementos com orientação
horizontal, e essa relação deve ser evidenciada na análise de orientação em que o
conjunto do mobiliário urbano é implementado no ambiente. Neste momento,
analisa-se a relação entre todos os objetos do mobiliário urbano e sua similaridade
em termos de orientação dentro de uma paisagem urbana.
Figura 43. Avaliação das orientações em que o mobiliário urbano encontra-se na paisagem urbana.
Fonte: Registro fotográfico e ilustração do autor.
5.1.3 As relações de Acessibilidade na Paisagem Urbana
Nos dias de hoje, um dos maiores problemas encontrados no meio ambiente urbano
ainda está relacionado à falta de elementos que permitam os usuários com
limitações motoras ou físicas de transitarem com segurança pelos trechos de uma
rua. Muitas das recomendações e normas disponíveis para a boa implementação do
projeto de mobiliário urbano visam minimizar ou eliminar completamente os
possíveis problemas enfrentados pelos usuários em um ambiente de inúmeros
obstáculos como o da rua de uma grande cidade. Dentro desta idéia, a
136
acessibilidade representa um fator de projeto a ser considerado em uma cidade com
múltiplas necessidades como a capital Porto Alegre.
Lidwell et. al. (2003, p.14) afirmam que o princípio da Acessibilidade deve ser
aplicado em projetos para serem “utilizáveis por pessoas de diversas habilidades,
sem adaptação especial ou modificação”. Dentro dessa idéia, justifica-se que o
mobiliário urbano, enquanto objeto físico em um ambiente, não deve ser modificado
ou adaptado para atender exclusivamente um grupo de usuários, sua fabricação e
implementação é que devem ser repensadas para adequar-se as capacidades
físicas e motoras de todos os usuários. Assim, dentro da avaliação que propomos
sobre a inserção do mobiliário urbano em um dado ambiente, percebe-se a
necessidade de considerar diferentes enfoques sobre o tema, a fim de reunir
parâmetros para a observação desses objetos em relação à utilização dos espaços
públicos estudados.
Um dos critérios que utilizaremos nesta pesquisa para a análise morfológica da
paisagem urbana é a legibilidade. Autores como Lynch (2006) abordam a questão
da legibilidade na paisagem urbana, entretanto, o enfoque adotado neste trabalho
propõe uma análise concentrada na observação do grau de interferência visual dos
objetos do mobiliário urbano acabam trazendo aos pedestres quando estes tentam
visualizar o horizonte de um cenário urbano. Desta forma, considera-se que a
paisagem urbana deve ser compreendida em essência. Quando qualquer objeto do
mobiliário urbano prejudica esta condição deve ser considerado como um obstáculo
para a visualização plena do ambiente.
Figura 44. Obstáculos que impedem a visualização da paisagem por completo.
Fonte: Registros fotográficos realizados pelo autor.
137
Outro critério de análise diz respeito ao acesso que os usuários tem em determinado
ambiente. Os elementos inseridos em um cenário urbano não podem representar um
obstáculo físico aos pedestres de forma a estarem em locais onde não possam
prejudicar a circulação do público. Por este motivo procuramos estabelecer este
critério como condição na análise da inserção do mobiliário urbano no ambiente de
uma cidade. Muitos dos usuários que circulam por um ambiente urbano necessitam
de um espaço adequado ou de orientações claras para transitarem de forma segura.
Assim, é de extrema importância também que elementos do mobiliário urbano
possam ser inseridos no ambiente urbano com dispositivos que minimizem ou
eliminem de forma completa os acidentes ocorridos por esbarrões de usuários
nestes objetos ao longo de um percurso. A segurança deve ser avaliada, assim,
como critério de observação desse requisito na implementação do mobiliário urbano
no ambiente estudado.
5.2 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
Com o objetivo de criar uma sistematização na análise dos diferentes trechos da
Rua dos Andradas e buscar uma alternativa didática para o reconhecimento das
necessidades de princípios de design na relação entre paisagem urbana e o
mobiliário urbano, desenvolveu-se um conjunto de Logogramas, baseado nos
estudos de Gomes & Brod Jr. (2007), para auxiliar na identificação dos três
princípios de design descritos por Lidwell et. al. (2003), na relação entre o mobiliário
urbano e a paisagem urbana, que são: Princípio da Figura e Fundo; Princípio da
Similaridade; e Princípio da acessibilidade, Figura 45.
Figura 45. Logogramas dos Princípios da Figura e Fundo, Similaridade e Acessibilidade.
Fonte: Ilustração do autor.
Cada um dos três princípios supracitados será analisado sob três enfoques
diferentes. O princípio da Figura de Fundo reúne um conjunto de três análises que
se concentram na relação de Contrastes, Formas e Cores com a paisagem urbana,
138
e são representadas conforme Figura 46. O princípio da Similaridade aborda o
conjunto de análises sobre as relações de Tamanhos, Materiais, e Orientações do
mobiliário urbano encontrado na paisagem urbana, e são representadas pela Figura
47. E o princípio da Acessibilidade é representado conforme Figura 48, destacando
as relações de Legibilidade, Acesso e Segurança entre usuários e o mobiliário
urbano disposto ao longo do trajeto da Rua dos Andradas.
Figura 46. Logogramas das relações de Contraste, Forma e Cor.
Fonte: Ilustração do autor.
Figura 47. Logogramas das relações de Tamanho, Materiais e Orientações.
Fonte: Ilustração do autor.
Figura 48. Logogramas das relações de Legibilidade, Acesso e Segurança.
Fonte: Ilustração do autor.
Cada uma das relações passará por uma avaliação a partir de uma escala que varia
entre alta, média e baixa ordem de fatores projetuais, citadas por Gomes & Medeiros
(2007), e que nesta pesquisa foi adaptada para a avaliação do emprego dos
princípios de design que irão reger as análises, cuja apresentação foi realizada
anteriormente. Os critérios para a classificação dos cenários urbanos e sua relação
com o mobiliário urbano em alta, média ou baixa ordem levará em conta aspectos
qualitativos dessa relação.
139
Figura 49. Logogramas para análise morfológica da paisagem urbana segundo princípios do design.
Fonte: Ilustração do autor.
140
5.2.1 Análise do Trecho A da Rua dos Andradas
Iniciando a análise do Trecho A, da Rua dos Andradas, dentro da relação entre
Figura e Fundo (mobiliário urbano / paisagem urbana) percebemos que o contraste
entre esses dois elementos não se apresenta em um grau elevado. Na relação entre
Figura e Fundo buscou-se analisar a Forma, Cor e o Contraste entre o mobiliário
urbano e a paisagem imediata. Neste sentido, pôde-se notar que a maior parte dos
elementos, fixados no chão por postes metálicos, acabam por assumir o mesmo
aspecto acinzentado dos prédios, e assim, não estabelecem uma relação de
contraste muito grande com a paisagem. Os elementos de informação, por sua vez,
ganham destaque, não só por sua forma, mas, pelas cores que acabam
contrastando com o entorno imediato.
Na maioria das vezes, esses elementos, como postes de iluminação e os fustes das
placas de sinalização não são visualmente percebidos na paisagem urbana.
Entretanto, os elementos acabam sendo percebidos por terem uma área de
informação maior, principalmente nas placas de sinalização, com fundos em branco
que contrastam com a paisagem do local.
Figura 50. Análise da Figura e Fundo de uma paisagem urbana do Trecho A.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
As formas encontradas são variadas o que leva sua classificação a uma escala de
Baixa Ordem, evidenciando esse aspecto negativo da profusão de formatos a serem
141
reconhecidos nesse ambiente. A relação de Figura e Fundo desses elementos na
paisagem urbana, no Trecho, de maneira geral, foi avaliada em Média Ordem.
Ao analisarmos a relação de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano
constantes na paisagem urbana do Trecho A, da Rua dos Andradas, percebe-se que
suas formas verticais destacam-se como a característica principal, e assim, possuem
uma classificação entre Alta e Média Ordem na análise da Orientação em que estão
dispostos no ambiente. Os elementos variam muito em suas alturas, e por isso,
foram avaliadas entre Baixa e Média Ordem. Também podemos notar que a
fabricação dos elementos possui um critério principalmente na utilização de
estruturas tubulares de metal, entretanto identifica-se também a presença de outros
materiais como o vidro utilizado nas luminárias.
Figura 51. Análise de Similaridade de uma paisagem urbana do Trecho A.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Em alguns momentos no percurso deste Trecho a visibilidade foi prejudicada pelo
mobiliário urbano, entretanto, em nenhum momento cobriu completamente a
visualização da paisagem urbana deste local. A Legibilidade do Trecho apresenta-se
em Alta Ordem. Além disso, notamos que sua disposição no ambiente não interfere
na circulação de pedestres, permitindo um trânsito sem necessidade de desvios, o
que também possibilitou ser classificado com um Trecho com Alta Ordem de
Acesso. A avaliação em termos de Segurança foi considerada de Baixa Ordem,
devido à falta de proteções ou demarcações em volta desses mobiliários urbanos
para que pudessem evitar esbarrões e acidentes.
142
Figura 52. Análise de Acessibilidade em uma paisagem do Trecho A.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
5.2.2 Análise do Trecho B da Rua dos Andradas
Analisando os aspectos entre Figura e Fundo do Trecho B, da Rua dos Andradas,
observa-se que, de maneira geral, as relações de Contraste, Forma e Cor do
mobiliário urbano identificado e seu entorno possuem uma classificação entre e
Média e Baixa Ordem. A relação de Contraste, por exemplo, não representa um fator
de grande problema, entretanto, existem poucos elementos ao longo deste Trecho
que, comparados em sua relação com a paisagem, podem não ser percebidos em
uma distância maior que dez metros, evidenciando o fato do contraste ser, em
alguns pontos, insuficiente para uma boa percepção.
Quanto à análise sobre a Forma, ficou caracterizado na maior parte deste Trecho
um equilíbrio entre a existência de conjuntos de elementos do mobiliário urbano que
estão em consonância com a própria forma da paisagem, e em outros, a completa
falta de harmonia de formatos dispostos no ambiente. A mesma avaliação se faz
quando comparamos a incidência da cor nestes locais, pois em muitas partes deste
Trecho as cores destacam-se nos elementos do mobiliário urbano em meio a
paisagem, como as caixas de correios, os telefones públicos e placas de
regulamentação viária.
143
Figura 53. Análise de Figura e Fundo em paisagem do trecho B
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Em relação ao aspecto de Similaridade avaliado entre os elementos do mobiliário
urbano, pôde-se constatar que, em termos de Tamanho e Materiais encontrados
neste Trecho, os elementos variam entre Média e Baixa Ordem, devido à falta de
unidade em seus substratos e proporções. Cabe, mais uma vez ressaltar, que a
intenção aqui não é fazer juízo de valor, e sim realizar uma análise que possa
demonstrar que o mobiliário urbano, enquanto informação visual representa um
conjunto comunicativo e, como tal, com suas particularidades que também são
“lidas” dentro do ambiente urbano.
Seguindo na análise de Similaridade encontramos, no entanto, uma relação entre
Média e Alta Ordem na Orientação em que estão dispostos estes elementos do
mobiliário urbano dentro da paisagem do Trecho B. A maior parte desse mobiliário
possui uma orientação verticalizada, o que acentua a percepção de conjunto e
unidade em torno desses elementos. Em alguns casos, houve a identificação de
pequenos desajustes na orientação, quando encontrados cavaletes de obras
dispostos horizontalmente, contrastando com os postes das placas de sinalização
viária que possuem uma orientação essencialmente vertical.
144
Figura 54. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho B.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Um ponto de destaque na avaliação deste Trecho fica por conta da análise sobre o
princípio da Acessibilidade. Conforme identificado no local a maioria dos elementos
do mobiliário urbano não possuem qualquer tipo de proteção que visem evitar
acidentes em pedestres com algum déficit de visão. O emprego piso tátil de alerta,
não foi utilizado neste Trecho e em alguns casos a única proteção torna-se o próprio
canteiro onde estão as vegetações, como árvores e arbustos. Considerou-se para
esse Trecho, que em termos de Segurança sua classificação estaria entre Média e
Baixa Ordem.
Mas, em uma análise sobre a interferência do mobiliário urbano para a plena
visualização da paisagem pôde revelar que, de maneira geral não existem
obstáculos na visualização do ambiente. Existem algumas interferências parciais
desse mobiliário sobre a paisagem em alguns locais, mas em nenhum momento é
prejudicial à legibilidade da paisagem.
A análise do tipo de Acesso dentro desse Trecho também chama a atenção, pois
demonstra alguns contrastes, a baixa incidência de obstáculos no caminho dos
pedestres, mas, em alguns pontos, a completa obstrução da área de circulação de
pedestres. De maneira geral esse Trecho possui uma classificação de Média Ordem
em termos de Acesso.
145
Figura 55. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho B.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
5.2.3 Análise do Trecho C da Rua dos Andradas
A análise realizada no Trecho C da Rua dos Andradas destacou-se em alguns
pontos. Este Trecho, por possuir o trânsito maior de pedestres e o início de uma
maior incidência de pequenos comércios, possibilitou que a análise da relação
Figura e Fundo pudesse ser mais extensa. Assim, algumas avaliações puderam ser
destacadas, como a classificação do tipo de contraste entre o mobiliário e a
paisagem que, na maioria dos pontos, revelou-se com um grau de Média Ordem.
Isto se deve ao fato de que os postes de iluminação, na maioria das vezes,
confunde-se com a própria paisagem. Entretanto, elementos como caixas de correio,
placas de sinalização viária e bancas de revistas quando dispostos no mesmo
cenário acabam equilibrando esse parâmetro de análise do Contraste entre o
mobiliário e a paisagem urbana.
Com relação às formas encontradas e sua relação com a paisagem urbana, pôde-se
constatar o surgimento de novos elementos, que nos Trechos anteriores não haviam
até então sido descritos, mas, agora, somam-se em número maior aos formatos
diversificados de elementos com maior incidência ao longo da Rua, como os postes
de iluminação e as placas de trânsito. De maneira geral, este Trecho, revelou em
suas paisagens uma profusão de formas, assumindo o grau de classificação em
Baixa Ordem, dentro deste critério de avaliação. O mesmo ocorre com o aspecto
cromático desse mobiliário urbano encontrado neste Trecho, que varia entre Média e
146
Baixa Ordem, justamente, pela profusão de códigos de cor empregados nos
diferentes tipos de mobiliário, como telefones públicos, parquímetros, entre outros.
Figura 56. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho C.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Na a análise de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano, identificou-se
que, de modo geral, a relação entre os tamanhos do mobiliário encontrado nas
paisagens varia entre Média e Baixa Ordem. Isto se deve a já mencionada profusão
de elementos encontrados, e este fator está ligado inclusive à avaliação de Média
Ordem em termos de materiais que constituem esses elementos.
Na maior parte do mobiliário urbano, percebeu-se que o uso de materiais metálicos
é predominante, mas, mesmo assim, ainda podem ser encontrados outros
substratos, como o vidro empregado nas luminárias e a fibra de vidro para os
telefones públicos. Outro fator de avaliação que chamou a atenção foi a Orientação
dos elementos que, em muitos casos, não eram percebidos em disposições
diferentes. A classificação para esse parâmetro de análise variou entre Média e Alta
Ordem em muitos cenários encontrados. Notou-se, principalmente, que o fato dos
elementos do mobiliário urbano possuir estruturas verticais contribuiu para a
percepção de uma Alta Ordem entre esses elementos ao longo deste Trecho,
entretanto, em alguns pontos puderam ser identificadas pequenas variações em
seus eixos, ocasionando inclinações nesses elementos.
147
Figura 57. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho C.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Na análise realizada sob o princípio da Acessibilidade encontraram-se os maiores
problemas. Entre eles, citamos o baixo nível de Legibilidade e a inexistência de
Segurança, em muitos casos, ao longo deste Trecho. Um dos fatores que
contribuíram para essa avaliação de Baixa Ordem de Legibilidade é atribuído às
pequenas construções como as bancas de jornal. Mesmo assim, ainda foram
verificados que, em alguns locais, a obstrução da paisagem por parte desse
mobiliário era de caráter parcial, o que eleva sua classificação à Média Ordem de
Legibilidade ao longo deste Trecho.
Em termos de Acesso, o Trecho possibilita uma circulação sem dificuldades,
entretanto, para um fluxo reduzido de pedestres. Muitos dos mobiliários urbanos são
dispostos próximos ao meio fio da via, o que acaba facilitando a movimentação dos
transeuntes nas calçadas. Sua classificação pôde ser avaliada em Média Ordem
dentro do parâmetro de Acesso.
A Segurança neste Trecho também não favorece a circulação, pois não estão
inseridos junto ao mobiliário urbano quaisquer orientações ou pisos táteis para evitar
acidentes ou esbarrões nesses elementos. Assim, a classificação de Segurança
neste Trecho foi considerada de Baixa Ordem.
148
Figura 58. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho C.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
5.2.4 Análise do Trecho D da Rua dos Andradas
O Trecho D da Rua dos Andradas possui uma característica bastante singular entre
os Trechos de análise nesta pesquisa. Notou-se ao longo de seu trajeto que,
praticamente, inexistem elementos do mobiliário urbano a serem tomados como
análise proposta. Mesmo assim, em alguns pontos puderam ser observados os
critérios de Figura e Fundo, Similaridade e Acessibilidade dentro das paisagens
urbanas captadas neste Trecho. Trata-se de um cenário urbano de intensa
movimentação de pedestres e onde há a grande incidência de ambulantes. Os
únicos elementos encontrados para as análises foram as bancas de jornal e os
postes iluminação pública.
Dentro dessa perspectiva de avaliação pôde ser constatada uma Legibilidade maior
devido à falta de elementos que pudessem obstruir a visualização da paisagem, e
uma classificação em Alta Ordem em termos de Acesso, devido ao alargamento da
via neste Trecho. Em alguns pontos a avaliação do Contraste pôde evidenciar que,
os postes de iluminação, praticamente desaparecem na paisagem, e o emprego de
cor no mobiliário urbano só é característico na única banca de jornal existente do
Trecho. Além disso, o parâmetro Segurança continuou a destacar-se negativamente
pela falta de proteções ao mobiliário urbano existente nos locais avaliados. De
maneira geral, a paisagem urbana do Trecho D possui muitos pontos positivos na
relação de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano.
149
Figura 59. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho D.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
5.2.5 Análise do Trecho E da Rua dos Andradas
A análise da relação entre Figura e Fundo do Trecho E, inicia-se com a verificação
do Contraste entre o mobiliário existente ao longo do trajeto e a paisagem urbana
encontrada neste local. De maneira geral, a relação de Contraste possui uma
classificação de Média Ordem devido, principalmente, ao equilíbrio existente entre a
grande incidência de um mobiliário urbano que se confunde com a própria
paisagem, e os outros mobiliários, como lixeiras e telefones públicos, que utilizam
cores mais intensas e acabam, por isso, se destacando na paisagem.
Outro ponto a ser destacado é a Baixa Ordem verificada na relação entre o
mobiliário urbano e a paisagem. Não existe nenhuma relação formal entre o
mobiliário urbano encontrado neste Trecho e sua paisagem, constatando-se uma
profusão de formas não similares ao contexto em que estão inseridos.
As cores empregadas nesse mobiliário também são diversificadas e destacam-se
enquanto código cromático em relação a sua paisagem, mas sua avaliação possui
uma classificação de Baixa Ordem na maior parte dos locais analisados, justamente
por não possuir uma uniformidade que possa minimizar o excesso de informações
visuais que já competem com letreiros de fachadas e outros elementos do mobiliário
urbano dispostos no mesmo ambiente.
150
Figura 60. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho E.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Na análise de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano existentes neste
Trecho encontram-se algumas considerações, principalmente, sobre seus aspectos
mais característicos, como os tamanhos desses elementos e os materiais
empregados em suas composições. Existe, neste Trecho, uma diversidade de
elementos que, conseqüentemente, possuem tamanhos distintos, e isto, de certa
forma, é facilmente identificado pelo pedestre que circula nos locais avaliados. Desta
forma, considerou-se a classificação dos elementos do mobiliário urbano, na maioria
dos locais onde a análise foi realizada, em Baixa Ordem.
Outro ponto importante que foi analisado neste Trecho diz respeito aos materiais
utilizados na composição do mobiliário urbano, que varia entre elementos
confeccionados em estruturas metálicas e outros materiais, o que acaba tornando a
classificação deste parâmetro em Média Ordem.
Na análise da Orientação em que estão dispostos os diferentes tipos de mobiliário
urbano, pôde-se constatar certa uniformidade na relação entre todos os elementos,
mas, em alguns pontos foram identificados mobiliários dispostos com disposições
diferentes em um mesmo local. Mas, de maneira geral, a classificação do parâmetro
de Orientação obteve o grau de Média Ordem neste Trecho.
151
Figura 61. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho E.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
A Acessibilidade no Trecho E da Rua dos Andradas chama a atenção,
principalmente, pelo excesso de elementos do mobiliário urbano que acabam
obstruindo a visualização por completo da paisagem nos locais analisados. Isto
ocorre pelo fato dos elementos concentrarem-se em um mesmo local, na grande
maioria das vezes, e assim, acabam impedindo que se visualize o horizonte nas
paisagens analisadas. Mesmo assim, a Legibilidade do Trecho E é considerada de
Média Ordem, pois em alguns pontos o bloqueio da visualização é parcial.
A pesar deste Trecho da Rua dos Andradas possuir um alargamento da via
possibilitando com que pedestres circulem sem dificuldades a disposição do
mobiliário urbano ao longo do trajeto acaba formando obstáculos físicos. Isto, de
certa forma, força com que os pedestres desviem constantemente seu percurso para
que não esbarrem em telefones púbicos, postes de iluminação ou lixeiras ao longo
deste Trecho. Esta avaliação conclui que sua classificação seria de Baixa Ordem
dentro do parâmetro de Acesso, devido a essas dificuldades de circulação.
Quanto ao parâmetro Segurança, em nenhum momento constatou-se a utilização de
pisos táteis de alerta, ou desvios que pudessem proteger os pedestres de possíveis
acidentes com esse mobiliário urbano disposto ao longo do percurso. Desta forma,
considerou-se que neste Trecho a Segurança é classificada em Baixa Ordem.
152
Figura 62. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho E.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
5.2.6 Análise do Trecho F da Rua dos Andradas
Na primeira análise sob o princípio Figura e Fundo realizada no Trecho F da Rua
dos Andradas, inicialmente, constatou-se que, tanto os aspectos de Contraste e Cor,
os quais caracterizam a maior parte do mobiliário urbano desse trajeto, possuem um
equilíbrio em relação à paisagem e sua discrição em alguns pontos. A Cor, por
exemplo, como identificado nos Trechos anteriores, está empregada somente em
alguns elementos como lixeira e telefones públicos, e sua incidência na paisagem
deste Trecho é mais destacada somente nestes elementos. Isto, de forma geral,
representa uma avaliação de Média Ordem em termos de Contraste e Cor nos
elementos do mobiliário urbano ao longo deste Trecho.
Os tipos de formatos identificados, e que estão inseridos dentro das paisagens
analisadas são diversificados e não possuem relação formal com o cenário urbano
em que estão inseridos. Esta avaliação acaba classificando-os em Baixa Ordem em
termos de Forma, quando comparados os formatos de mobiliário urbano com a
paisagem urbana dos locais que foram analisados.
153
Figura 63. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho F.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Na análise de Similaridade do Trecho F o destaque está na relação de tamanhos
encontrados de diferentes mobiliários urbanos. Em muitos pontos a reunião desses
elementos evidencia com clareza essas diferenças. Isto acaba trazendo a
classificação para Baixa Ordem entre os tamanhos do mobiliário existente nas
paisagens deste Trecho. Os materiais e orientações encontradas em todos os
mobiliários urbanos, de maneira geral, possuem uma classificação de Média Ordem.
Em alguns pontos fica clara a falta de unidade destes parâmetros analisados.
Figura 64. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho F.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
154
A Acessibilidade neste Trecho da Rua dos Andradas, de forma geral, não possui
problemas que possam impedir a Legibilidade completa de sua paisagem urbana.
Em alguns pontos o bloqueio da paisagem ocasionado pela disposição do mobiliário
urbano é parcial. Outro destaque é dado mais uma vez para a questão da
Segurança, pois ao longo de todo este Trecho não foram constatados elementos de
proteção ou orientações a usuários com déficit de visão, e que evitem acidentes com
o mobiliário urbano disposto na circulação de pedestres. O Acesso é considerado
ideal, pois permite que os pedestres circulem sem obstáculos pelo caminho.
Figura 65. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho F.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
5.2.7 Análise do Trecho G da Rua dos Andradas
Na análise da relação entre Figura e Fundo do Trecho G pôde-se constatar que o
Contraste do mobiliário urbano com a paisagem, de forma geral, deve ser
classificado em Média Ordem, devido à existência de alguns elementos que se
destacam mais do que outros em relação ao cenário a sua volta. Os formatos
identificados ao longo deste Trecho também mostraram um equilíbrio entre os
elementos do mobiliário urbano e o entorno imediato, formado na maioria por
fachadas de prédios comerciais com linha retas. Em alguns pontos as placas com
formatos arredondados acabam contrastando com o cenário analisado, e desta
forma pôde-se classificar o parâmetro Forma em Média Ordem ao longo de todo o
Trecho G da Rua dos Andradas. O mesmo ocorre com a Cor que em alguns pontos
155
destaca-se como código cromático nas placas de sinalização viária, classificando
esse parâmetro em Média Ordem.
Figura 66. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho G.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Dentro da análise de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano
encontrados ao longo do Trecho G da Rua dos Andradas identificou-se que, em
termos de Tamanho, existem algumas semelhanças entre postes de sinalização
viária na maioria dos locais analisados, mesmo assim, alguns pontos possuem
elementos com alturas diferentes, o que acaba dado à classificação de Média
Ordem para esse parâmetro de avaliação.
Os materiais utilizados na confecção do mobiliário urbano são diversificados, mas,
de maneira geral, a utilização de estruturas de metal confere um aspecto similar
entre esses elementos. Assim a classificação de Similaridade por materiais obteve o
grau de Média Ordem.
Na avaliação da Orientação em que estão dispostos estes elementos pôde-se
identificar uma uniformidade pelo fato do mobiliário urbano ao longo do Trecho ser
composto por postes de iluminação e postes de sinalização viária com orientação
essencialmente vertical. Algumas placas de propaganda e de logradouros acabam
equilibrando essa relação e, por isso, este parâmetro de Similaridade na Orientação
foi avaliado em Média Ordem.
156
Figura 67. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho G.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
Na análise de Acessibilidade do Trecho G da Rua dos Andradas novamente
destacou-se a falta de proteções que pudessem envolver o mobiliário urbano e
assim evitar que pedestres com déficit de visão esbarrassem por acidente nestes
elementos. A classificação de Acessibilidade para o parâmetro de Segurança foi
avaliada em Baixa Ordem ao longo de todo este Trecho. Há uma boa Legibilidade
em alguns pontos, entretanto, existem alguns bloqueios parciais ocasionados por
placas de sinalização, postes de iluminação e telefones públicos.
Figura 68. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho G.
Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.
157
De forma geral, a análise de Acessibilidade do fator Legibilidade da paisagem foi
classificada como Média ordem. Por fim, na análise do Acesso, considerou-se o fato
de se tratar de um Trecho onde o trânsito de veículos é maior e com isso a
circulação de pedestres limita-se a uma calçada estreita apenas. Assim, sua
classificação foi avaliada em Média Ordem sob o parâmetro de Acesso.
5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ANÁLISES
O trabalho desenvolvido com objetivo de reconhecer na paisagem urbana da Rua
dos Andradas as inadequações da inserção do mobiliário urbano ao longo de seu
percurso revelou inúmeros pontos de estudo, que podem, através de um método
preciso, ser reconhecidas a partir da avaliação dos princípios de design. Muitos dos
elementos identificados e colocados sob esta avaliação dentro do seu contexto
podem ser regidos por princípios de Acessibilidade, Similaridade e a Relação entre
Figura e Fundo.
Os espaços públicos da Rua dos Andradas bem como suas diferentes paisagens
urbanas proporcionam a riqueza de observações que se desenrolaram ao longo
deste capítulo.
Muitas das soluções empregadas no projeto e implementação do mobiliário urbano
na Rua dos Andradas, acaba assumindo a própria diversidade que ao longo dos
anos foi característica principal dessa via. Hoje, encontramos um conjunto variado
de postes de iluminação pública, e isto, de certa forma, atesta contra a busca de
uma unidade desse elemento ao longo do percurso.
A paisagem ganha a cada dia novos mobiliários, e com eles chegam também novos
desafios. Um dos principais problemas encontrados em todos os trechos está ligado
a pouca visibilidade causadas pela obstrução ocasionada por bancas de jornal,
telefones públicos e outros elementos que são dispostos no ambiente de maneira
desordenada e sem levar em consideração essa percepção.
Quanto à questão da Acessibilidade, percebeu-se que em nenhum momento são
consideradas as orientações, por exemplo, da NBR 9050 que dispõe sobre a
acessibilidade de espaços públicos, recomendando que haja proteções no entorno
158
do mobiliário urbano no percurso de pedestres, principalmente para àqueles com
dificuldades motoras ou déficit de visão. Neste quesito, também em alguns pontos
analisados encontram-se postes de iluminação praticamente interrompendo a
circulação de pedestres pela calçada, forçando inevitavelmente o desvio desses
para a própria via.
Se por um lado, reconhece-se que existe uma verticalidade nos elementos dispostos
dentro do ambiente da Rua dos Andradas, pelo menos pôde-se verificar que na
grande maioria das vezes a reunião de diversos tipos de mobiliário urbano acabam
por assumir orientações distintas em suas inclinações e orientações. Isto resulta em
uma baixa similaridade entre os mesmos, mas que de forma geral necessita ser
trabalhada dentro de uma atividade de manutenção desses elementos no ambiente.
De maneira geral, percebeu-se que, com a elaboração de uma ferramenta de
análise criteriosa da paisagem urbana que se alia aos conceitos e princípios de
design, acaba contribuindo para o entendimento de um problema que se manifesta
no espaço urbano de maneira silenciosa. Não basta aceitarmos que a paisagem
urbana deva representar o progresso e a evolução tecnológica de nossos tempos, é
preciso carregar em toda a percepção do espaço urbano esse olhar crítico para que
possamos construir para espaços públicos melhores, onde a informação seja
encontrada num ambiente de forma harmônica, e por usuários com diversas
necessidades.
159
6 CONCLUSÃO
Ao longo desta pesquisa puderam-se discutir assuntos relevantes a formação de
uma paisagem urbana, entre eles, o aspecto da poluição visual encontrada nas
grandes cidades. Em virtude do acúmulo de elementos visuais, que concorrem pela
atenção de pedestres, a degradação deste cenário urbano vem sendo debatida em
diversas frentes de estudo, como por exemplo, o direito, o urbanismo e até mesmo a
psicologia. Nossa maior contribuição vem trazer uma visão de como este fenômeno,
atrelado a vida moderna, pode ser tratado sob o olhar do Design.
Aqui, entendemos que a palavra design, se refira a muito mais do que um adjetivo
para um produto com beleza a ser consumido como tal por todos. Pensamos que o
Design é essencialmente a atividade que se propõe a equacionar os diversos fatores
que levam a obtenção de um produto com qualidade e que através dessa atividade
esse produto é oferecido a seus usuários já prevendo sua adequação ao contexto
em que estão sendo inseridos. Esta qualidade, que é desejável, vem sendo
questionada em espaços públicos cada vez mais degradados por uma série de
fatores, que, entre eles, pode-se citar a falta de planejamento na inserção do
mobiliário urbano dentro do ambiente de uma cidade.
Do projeto que se inicia até a produção de elementos urbanos como placas de
trânsito, postes de iluminação, lixeiras, entre outros, busca-se sempre os vetores de
uma adequação ao plano visual do cenário urbano em que serão inseridos. Estes
vetores, que chamamos de princípios, norteiam, de certa forma, as boas práticas
para elaboração e adequação desses mobiliários urbanos no ambiente típico de uma
grande cidade. E como tal, um princípio será o orientador do tipo de qualidade que
se espera ter de um produto, ou o tipo de necessidade que este produto deva gerar
quando enfim produzido e elevado a um objeto de nossa cultura material.
A reunião de diferentes elementos em uma mesma paisagem urbana deve ser
discutida como um projeto integrado, em que o mobiliário urbano seja planejado
como parte do ambiente em que esteja inserido. No caso de uma rua, percebe-se
claramente que estes mobiliários são alocados de maneira a não sofrerem uma
avaliação de sua relação com o contexto, da relação que poderiam manter entre si,
ou até mesmo da relação com seus usuários.
160
Diante desta lacuna, partimos para uma análise da morfologia da paisagem urbana
da Rua dos Andradas em Porto Alegre, buscando adequar princípios de design na
relação entre o ambiente, a informação e o usuário. Dentro desse objetivo, pôde-se
trazer a luz das discussões sobre a paisagem urbana, alguns fatores de extrema
relevância para a implantação do mobiliário urbano em vias públicas, como a
utilização do princípio da Figura e Fundo, fazendo menção à preocupação do que
representa a relação entre o mobiliário urbano e a paisagem em que está inserido, o
princípio da Similaridade, buscando fazer uma avaliação entre os diferentes
elementos urbanos encontrados no trajeto de uma rua, e o princípio da
Acessibilidade, que pode inegavelmente contribuir para a avaliação desse mobiliário
urbano, inserido no ambiente de uma rua, na relação com os usuários.
A Relação de Figura e Fundo mostrou-se primordial para analisarmos a relação
estabelecida entre o mobiliário urbano e a paisagem em seu entorno. Definiu-se que
os principais parâmetros nesta avaliação estariam concentrados na relação de
contraste, forma e cor. Estes três parâmetros puderam ser questionados em todos
os trechos da Rua dos Andradas, buscando evidenciar, principalmente, a relação
entre o objeto e o ambiente. Temos que, este tipo de avaliação contribui para que se
possa estabelecer um conjunto harmônico entre a paisagem urbana e os objetos
que nela são inseridos, permitindo que se faça uso de um princípio adequado para o
planejamento da inserção do mobiliário urbano no ambiente de uma cidade.
A Similaridade, por sua vez, colocou-se como uma avaliação que teve como
principais parâmetros entre os seus diferentes elementos urbanos, a relação de
tamanhos, materiais e orientações dispostas no ambiente estudado. Isto trouxe à
pesquisa um controle nos julgamentos de similaridade desses objetos em todos os
trechos analisados, e representou um critério que se faz necessário em qualquer
ambiente urbano para busca de uma unidade e adequação desses elementos na
paisagem urbana.
A análise da Acessibilidade também questionou a falta de orientações aos pedestres
para que estes não sofressem algum tipo de dano no seu trajeto ao longo da via.
Esse assunto eleva as discussões para questões relacionadas à acessibilidade do
espaço público, que vem sendo pouco abordada nesta relação entre ambiente,
informação e usuário. Em nenhum momento pôde-se notar a utilização de
161
sinalização por piso tátil de alerta, prevista na norma NBR 9050, como forma de
proteger pedestres com déficit de visão de possíveis acidentes em seu percurso ao
longo da via estudada. Através de parâmetros definidos para a análise da
Acessibilidade, principalmente para a boa visualização dos usuários nos trechos
estudados, pôde-se estabelecer o nível de legibilidade dessa paisagem urbana,
além de identificar o grau de acesso e possibilidade de circulação desses usuários
em seus trechos.
Todas as análises realizadas, bem como a abordagem empregada para a avaliação
dos conceitos apontados como essenciais na pesquisa desenhística da morfologia
da paisagem urbana que foi estudada, preocuparam-se em transformar as
impressões do autor, bastante pessoais e subjetivas, em um conjunto teórico
didático, como forma de fazer com que novos estudos sobre o assunto possam
contribuir com suas próprias conclusões sobre o tema. Neste sentido, cabe destacar
a enorme contribuição, do que podemos denominar de ferramenta didática oferecida
pelos Logogramas, que vem sendo desenvolvidos e aplicados com sucesso por
Gomes & Brod Júnior (2007) em disciplinas de projeto nos cursos de Design.
Além disso, a forma que nos pareceu apropriada para a classificação do que se
pesquisou, não estava amparada por procedimentos alheios ao procedimento da
pesquisa desenhística. Por isso, utilizamos parâmetros qualitativos destacados nos
trabalhos de Gomes & Medeiros (2007), onde é clara a intenção do afastamento de
critérios subjetivos em análises comparativas de produtos industriais. Nossa
preocupação foi trazer o ferramental teórico utilizado em trabalhos voltados à
pesquisa em Design para apoiar nossas interpretações sobre o problema e garantir,
assim, que julgamentos precipitados pautassem a discussão pelo o que é bom, ou o
que é ruim, o que é belo ou o que é feio, o que gosto ou o que não gosto.
Trabalhamos em uma perspectiva objetiva, àquela voltada à necessidade do ser
humano em usufruir de ambientes, comunicações e artefatos que cumpram suas
funções essenciais, e não seja um problema a mais para a sociedade.
Ao longo do estudo, resgatou-se um pouco da história da Rua dos Andradas e ao
mesmo tempo percebeu-se que sua trajetória de grandes acontecimentos em
diferentes épocas sempre esteve atrelada a própria formação da Capital. Isto, sem
dúvida, trouxe a tona um dos problemas encontrados em sua paisagem urbana, e
162
em seus diferentes trechos analisados. Tudo, porque, essa mesma trajetória fez com
que a Rua dos Andradas se tornasse uma via com dificuldades que se instalaram há
muitos anos e permanecem assim por força de sua história e tradição.
Outro ponto de destaque está na falta de uma definição clara sobre o termo
“poluição visual”, e que aqui, neste estudo, buscou-se trazer estudos que pudessem
definir com precisão este fenômeno que em essência degrada a paisagem. O
mesmo ocorre para se definir parâmetros quantitativos da incidência desse
fenômeno na rua, ou avenida de uma grande cidade.
Se um projeto realizado para uma cidade deve contemplar sua funcionalidade, o
certo estaria prever que o princípio da acessibilidade fosse discutido com mais força
em relação à forma com que estamos produzindo e inserindo o mobiliário urbano
nas ruas das grandes cidades. Por fim, abre-se com esta pesquisa a possibilidade
de outros estudos serem abordados com a temática da paisagem urbana, mas sob o
olhar dos fundamentos de design. Talvez seja possível a avaliação de uma
paisagem urbana com mais de três princípios, mas o importante é que os princípios
estejam sempre atrelados às necessidades reais dos usuários desses ambientes.
163
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