Post on 14-Mar-2016
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Isadora Rodrigues Stavale
AT7BAV
Maio / 2014
São Paulo - SP
Centro Universitário
Belas artes de São Paulo
Bacharelado em Artes Visuais:
Pintura, Gravura, Escultura.
Editorial A revista tem como objetivo apresentar o pré-projeto
para o Trabalho de Conclusão de Curso na linguagem
fotográfica e relacioná-lo com a linguagem
performática. A revista discute questões processuais,
de linguagem, de materialidade e poética, empregadas
em torno do trabalho. Este se constrói através de
estudos sobre a superfície da fotografia em relação ao
tempo. Para o desenvolvimento do projeto são
colocados, em um mesmo plano, dois momentos
diferentes da fotografia: a fotografia digitalizada
proposta pelo avanço tecnológico que caracteriza a
sociedade em que vivemos, e a fotografia de décadas
atrás.
O trabalho basicamente consiste em apropriação de
fotografias antigas (encontradas em antiquários/sebos,
ou através de amigos/conhecidos) e interferir sobre
elas com uma imagem atual impressa.
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Resumo
O trabalho procura explorar a fotografia como matéria,
o tempo, as abruptas mudanças da relação do homem.
O avanço da tecnologia acaba por desmaterializar a
memória que se mantinha na imagem fotográfica ao
digitalizá-la, transformá-la em pixels no computador,
sem as marcas, os cheiros, os defeitos do papel, que
tanto me instigam. O álbum de família foi o fator de
inspiração para o projeto, mas se desdobrou ainda que
inocentemente para questões mais complexas que a
memória. O álbum de família dos nossos avós tornou-
se o álbum das redes sociais hoje em dia, aberto a
quem queira ver, simplesmente um montante de
imagens sem sentido feitas para promover a imagem
pessoal. Coloco esse tipo de imagem sobreposta ao
passado, as fotos tiradas para estranhos verem e não
para serem lembradas pela família e amigos reais. As
memórias estão se perdendo, os valores da sociedade
estão mudando, o trabalho assim carrega uma forte
carga simbólica, trazendo muitas reflexões para o
espectador.
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Desenvolvimento
Procuro nesse projeto encontrar fotografias antigas de
caráter monocromático, do período entre 1940 e 1970
(ou até antes se possível), sendo estas tiradas de
preferência no Brasil. Para isso montei um roteiro das
principais feiras de antiguidades da cidade de São
Paulo, que acontecem geralmente nos fins de semana.
O processo consiste em reunir o máximo de
fotografias que eu conseguir, selecionar aquelas as
quais mais me instigam ou que “peçam” uma
intervenção. No caso das fotografias coloridas, a
seleção é feita pela busca em redes sociais de pessoas
aleatórias, que demonstrem de alguma forma o caráter
da sociedade atual de promover a imagem pessoal e
não o de guardar imagens para recordação.
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Feita a seleção de ambas, o intuito é digitalizar as
imagens antigas, fazer testes no Programa de Edição
de Imagem do computador, colocando a imagem
colorida em cerca de 50% de transparência em uma
camada acima da outra, para assim permitir a
visualização da imagem que está por trás, mas com
certa dificuldade. Escolhidas as imagens finais,
pretendo imprimir em colorido sobre fotografias do
mesmo material das originais (não oficiais), pois com
o mesmo tipo de superfície a probabilidade de erros na
impressão final diminui; e por fim imprimir de fato
sobre as originais.
O trabalho final é formado por uma série de
fotografias (de 3 a 5 imagens) colocadas em
sequência, a princípio coladas em um suporte
transparente (como o acrílico) penduradas ou na
parede, ou por fios também transparentes ligados à
ganchos presos no teto, permitindo até ver o verso da
fotografia ao andar ao redor. A escala do trabalho é
obrigatoriamente o tamanho das fotografias originais,
que são por natureza de pequeno formato. Desse
modo, o espectador é levado a se aproximar da obra e
tentar visualizar a imagem por trás.
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Poética Ao pensar na poética do meu trabalho discuto, mesmo
que indiretamente, diversas questões como: a morte, já
que as pessoas que aparecem nas fotografias de mais
de quatro décadas atrás provavelmente não estejam
mais vivas; a memória de outras pessoas,
provavelmente esquecidas no caso das fotografias
deixadas em antiquários para venda; o caráter
fantasmático das imagens digitais, que perdem seu
valor à medida que são modificadas sem dificuldade
para as pessoas se mostrarem melhores do que a
própria realidade.
Mas além dessas reflexões, o que mais me interessa é
a comparação entre uma fotografia que tem um valor,
uma força histórica, e até mesmo uma subjetividade, e
outra completamente vazia de significado e riqueza de
matéria. Para essas pessoas que aparecem nas fotos
antigas, as fotos eram muito importantes, pois
revelação e filme eram extremamente caros, logo são
extremamente raras
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Assim compreende-se que se trata de uma preciosidade
de um momento da vida dessas pessoas. A fotografia
era um símbolo de compartilhamento. E, apesar de hoje
em dia as imagens também serem compartilhadas, a
presença física, o corpo a corpo, a conversa, se
perderam. Agora isso é feito de outra forma,
digitalmente.
O status também aparece nos tempos antigos, pois as
famílias mais ricas são as que mais tiravam fotografias,
mas o que se mostra é que são fotos mais valiosas que
as que aparecem no Facebook, citando um exemplo de
rede social de relevância. Consequentemente eu trago
uma leitura de corpos em diferentes mídias, em
diferentes momentos, as visões sobre o corpo humano
se modificando no tempo.
A imagem acaba se descobrindo como fantasma, de
certa forma se desmaterializando e desaparecendo,
quando a imagem passa a ser virtual e acessível em
grande quantidade. O fato de a imagem atual ter
opacidade reduzida é importante para mostrar esse
desparecimento da imagem enquanto matéria.
No meu trabalho se aplica uma técnica digital, ao me
utilizar de imagens da internet, e uma segunda técnica,
que seria a gráfica (maquina sofisticada) sobre uma
fotografia que tem em média 50 anos, ou seja, feitas
com técnicas hoje escassas.
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Relação com a Linguagem Performática
A linguagem da performance se apresenta em dois
momentos no meu trabalho: conceitualmente quando
penso como o corpo é visto pela sociedade no tempo
e a relação da fotografia com a vida e a morte, base
do pensamento performático, e quando faço uma
busca por fotografias que, apesar de terem valor para
mim, foram esquecidas pelas famílias que as
colocaram a venda em feiras de antiguidades e ainda
quando seleciono aquelas as quais mais me instigam
ou que “peçam” uma intervenção.
O contato do espectador com a obra é de caráter
contemplativo, não tem nenhuma relação com o corpo
e nenhuma interação tátil, apenas de observação, por
isso não pode ser colocado na categoria Performance,
mas ainda assim trás questões fortes a se discutir a
partir desta.
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