Post on 07-Jan-2017
CALDEANDO DAMASCOS
Marcos Cabetemarço/2003
INTRODUÇÃO.Este Pequeno trabalho surgiu da oportunidade que tive de contratar com o cuteleiro Peter
Hammer um curso pessoal de uma semana centrado no caldeamento de damascos. O cursotranscorreu no final de fevereiro e inicio de março de 2003 na oficina do Peter Hammer em
Itapecerica da Serra. Iniciamos no domingo com alguns estudos de projetos de facas,estilos clássicos, esclarecimentos de duvidas em geral e o desenho de lâminas.
Na segunda-feira saimos para visitarmos a oficina da Silvana Mousinho e a do Sandro ( Casado Fundidor ) e para que o Peter me apresentasse fornecedores de aços e de ferramentas,
foi um dia para cansar as pernas.Na terça-feira começamos com um pedido meu para o Peter forjar uma lâmina um poucomais complexa e que tivesse um projeto inicial a ser atendido, com medidas rígidas. Ele
forjou uma lâmina e eu documentei o trabalho com inúmeras fotos e talvez faça um trabalhosemelhante a este se houver interesse por este material.
O Peter selecionou quatro tipos de damasco para caldearmos e a seleção obedeceu acritérios didáticos visando meu aprendizado.
1) fizemos um damasco com 40 peças de cabos de aço de 1/8”, dividimos a barra ao meio ecaldeamos novamente com uma lima ( 1095 ) no centro. O efeito final ficou suave e
interessante.2) Caldeamos aço 1010 com corrente de motoserra.
3) Caldeamos 1095 com 1010.4) Caldeamos 1095 com Niquel 200 que resultou em um belíssimo damasco de alto
contraste o qual acredito tenha sido feito pela primeira vez no Brasil.Tivemos muita colaboração do Sr. Miguel cuteleiro que herdou do pai o gosto pelo aço e doEduardo ( Giroplix ) e até a Silvana apareceu para ajudar na bigorna e alegrar o ambiente.
Ainda presenciaram parte dos eventos o Josué Homem de Mello e o Fabio Codignoli.De terça a sexta queimamos 11 sacos grandes de carvão e muitas calorias. A experiência
valeu cada gota de suor derramada e cada centavo gasto.Grande parte das fotos ( mais de 200 ) foram tiradas pelo Peter Hammer que também é
fotografo profissional. Tenho material para mais dois trabalhos sobre forjamento que virão aseu tempo.
Há que se projetar o que sepretende fazer:
Limpeza é essencial!
• Teremos que formarum “sanduiche”alternando materiais.
• A limpeza daslâminas, correntes,cabos de aços, éessencial e evitaráproblemas durante ocaldeamento.
Montando o “sanduiche”para soldar:
• Intercala-se as lâminasou lâminas maispedaços de corrente.
• Alinha-se o máximopossível as peças eprende-se em umamorça ou com umsargento para soldar.
Amarra-se em feixe os cabos deaço:
• Os cabos de aço,limpos, são amarradossolidamente em feixe esoldadosabundantemente nasextremidades.
• Usando a imaginaçãopodemos criar muitacoisa neste instante.
Unindo os materiais.
• As soldas devem serabundantes e sólidaspara que as lâminas,correntes ou cabos deaço não se soltemdurante o trabalho decaldeamento. Para oNíquel... Solda deníquel!
Sanduiche de corrente demotoserra:
• Deve-se soldarsolidamente um bomcabo para manusear odamasco na forja esegurá-lo firmementena bigorna.
• O cabo não deve girarna mão.
Preparação criteriosa.
• Uma preparaçãocriteriosa com boalimpeza das peças, boasoldagem dosanduiche e do cabo.Um bom cabo que nãogire na mão durante ocastigo das marretas, osucesso começa aí ...
Assim ficaram os cabos de aço:
• Os cabos de aço serãocaldeados commarretas levíssimas noinício.
• Neste conjunto de 40pç. de 1/8” o Peter nosorientou a usarmosmartelos de 300g noinício do caldeamento.
A FORJA:
• A Forja pode ser àcarvão ou à gás ou ...
• Tem que ter um bomcontrole de ar ouar/combustível paraajuste do calornecessário.
• Se à carvão deve serplana onde se coloca ocarvão.
“Caramelizando” o sanduiche
• Inicia-se comaquecimento leve dobloco e adiciona-seBorax em toda asuperfície voltando-oao fogo.
Mais Borax ...
• Coloca-se mais borax,retira-se o excesso evolta-se à forja.
• Esta operação érepetida e aumenta-seo aquecimento até quetoda a barra esteja“caramelizada” peloBorax fundido.
CALDEANDO:
• Ao atingir atemperatura decaldeamento inicia-seo martelamentorápido, nesta etapa nãohá necessidade deforça mas sim derapidez, daí avantagem do trabalhoem equipe.
+ Borax + aquecimento + bigorna...
• Esfriou? ColoqueBorax, leve ao fogo,aguarde o ponto certoe volte a caldear. Trêsou quatro vezesdeverão ser suficientespara “grudar” osdiferentes materiaisdefinitivamente.
O Borax é essencial.
• O Borax deve formaruma camada protetorasobre a barra durantetodo o caldeamento.
• Na primeira marteladaespirra longe e está auns 1400 grausaproximadamente.
• PROTEJA-SE !!!
Cadenciamento e rapidez.
• No caldeamentodevemos ser rápidospois a temperatura cairápido.
• Todos devem bateronde o lider ( quesegura a barra ) bater eobedecer a uma ordemcomo o sentidohorário.
Dos dois lados da barra.
• Deve-se baterigualmente dos doislados da barra e nofinal de cada seção olider ajusta o formatoda barra nas lateraisvoltando a colocarBorax e levando aofogo novamente.
Cansou? Ainda não acabou !!
As camadas “colaram” bem ?
• Se as camadas já sesoldaram ( martelandonas lateraisobservamos que nãoabrem ) podemospartir para a outraetapa.
• ESTICAR A BARRA.
Agora é temperatura deforjamento e não de caldeamento:
• O trabalho agoraexigirá mais a força ea habilidade paraesticar a barra dando-lhe uniformidadedimensional.
• A temperatura agora éa mesma de se forjaras lâminas.
Estica, aquece, estica, aquece, ...
• O peso do martelo éuma preferênciapessoal ou umaimposição do preparofisico. A marreta dedois quilos achei umaestupidez! Até 1,5 Kgconsigo encarar masprefiro o de 800 g!!
Chega de esticar !
• Um marteletepneumático oumecânico ajuda bemmas são poucos que ostem.
• Então vamos parar deesticar e deixar esfriara barra!
Está pensando que acabou?
• O que havia sidoplanejado? Quantascamadas? Seiniciamos com 20camadas a cada dobrairemos dobrar onúmero de camadas:
• 20-40-80-160-320-640
Limpar e cortar a barra.
• Devemos limpar abarra e cortá-la aomeio para unirmos osdois pedaços ecardearmosnovamente, esticarmosnovamente, cortarmos,dobrarmos, caldearmos,esticarmos, cortarmos, dobrarmos,
• caldearmos, esticarmos, cortarmos, caldearmos ...
Dobrando a barra e o número decamadas.
• A barra foi cortada aomeio após a limpeza.
• Será soldada para sernovamente caldeada eesticada quantas vezesforem necessárias paraatingir-se o número decamadas projetado noinício do trabalho.
A barra dobrada e soldada.
Pode-se inserir novos aços aodobrar a barra.
• Esta é mais umaopção, o PeterHammer sugeriu queusássemos a barracaldeada de cabos deaço com uma barra de1095 ao centro e oresultado final foimuito bom.
A barra de cabos de aço.
• Esta é a barra de cabosde aço no momentoem que foi cortada,antes de ser caldeadadois dois lados de umalâmina de 1095.
Assim ficou o damasco de cabode aço.
• Esta barra se bemexplorada naconfecção da lâminaproduzirá belosefeitos.
• O desbaste revela ascamadas e as texturasdos cabos de aço coma solidez do 1095 aocentro
A barra de corrente de motoserra.
• A barra de corrente demotoserra tambémapresentará efeitosinteressantes.
• Dobrá-la mais vezesdeve ser maisinteressante mas nossotempo era curto.Talvez eu a dobre.
Esta é campeã!
• O damasco de altocontraste com Níquel200 e 1095 ficoulindíssimo. Ocontraste é máximo eperfeito entre ascamadas branquíssimoNíquel e o negro do1095.
Uma zebrinha !
Agora é fazer as facas!
• Não coloquei as fotosdo 1010/1095 pois sócaldeamos a barra edeixei para esticá-laem casa. Nesta ireiprovocar umas torçõesou furos para observaros efeitos nosdesenhos.
• As facas! Voltei muitoanimado destaexperiência e estourefazendo toda minhaoficina. Lixadeiranova. Reformando aforja gastona edeixando-aeconômica. As facasvirão logo.
Damasco + dente de onça, feita pelo PeterHammer e presenteada ao Jô Soares.
O primeiro damasco 1095/Niquel
• O damasco virou faca!• Que belos contrastes
de cor e textura.• Vamos vê-lo e
saboreá-lo naspróximas paginas semmais conversa!
• O cabo é de celeron.
Tanto trabalho e ...
• Esta bela lâmina teve duração efêmera, commenos de 24 horas de vida eu cortei deforma violenta uma tábua de pinho compancadas bem agressivas e ela teve umresultado surpreendente para seu porte.
• Prendí-a então em uma morsa e a flexioneiaté que se partisse para estudar o efeito deuma têmpera que havia realizado.
Espero que tenha ficado curioso.
• O objetivo destepequeno trabalho é ode despertar acuriosidade sobre osaços damasco e trazerum mínimo deconhecimento sobreseu árduo processoartesanal de produção.
• Não dá para alongá-lomais pois ficariapesadíssimo para ainternet. Procure pormaiores detalhes nosforuns ou noscontacte:
• mcabete@ig.com.br