Post on 22-Jul-2016
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POEMAS DE
CHARLES
BUKOWSKI
ÍNDICE
01 HIPÓDROMO (tradução: desconhecido)
02 A DEUSA DE UM METRO E OITENTA (tradução: Pedro Gonzaga)
03 PARA A PUTA QUE LEVOU OS MEUS POEMAS (tradução: desconhecido) 04 O CORAÇÃO RISONHO (tradução: desconhecido)
05 VIAGEM À PRAIA (tradução: Pedro Gonzaga)
06 SOZINHO COMO TODO MUNDO (tradução: desconhecido)
07 O LUGAR NÃO PARECIA MAL (tradução: desconhecido) 08 QUANDO ME PENSO MORTO (tradução: Pedro Gonzaga)
09 VACAS NA AULA DE ARTE (tradução: Jorge Wanderley)
10 ALGUMA COISA (tradução: desconhecido) 11 JÁ VI MENDIGOS DEMAIS COM OS OLHOS VIDRADOS BEBENDO
VINHO BARATO DEBAIXO DA PONTE (tradução: Pedro Gonzaga)
12 A BOA VIDA (tradução: desconhecido) 13 É O MODO COMO VOCÊ JOGA O JOGO (tradução: desconhecido)
14 SANDRA (tradução: Pedro Gonzaga)
15 APRISIONADO (tradução: desconhecido)
16 UMA ASSASSINA (tradução: desconhecido) 17 A MÚSICA SUAVE (tradução: Pedro Gonzaga)
18 ELA SAIU DO BANHEIRO COM SUA CABELEIRA RUIVA FLAMEJANTE E DISSE...
(tradução: desconhecido) 19 A MORTE ESTÁ FUMANDO OS MEUS CHARUTOS (tradução: Athos Tazinaffo)
20 COMO UMA FLOR NA CHUVA (tradução: Pedro Gonzaga)
21 SENTADO NUMA LANCHEIRA (tradução: desconhecido)
22 O JEITO QUE ISSO É (tradução: desconhecido) 23 VELHO LIMPO (tradução: Pedro Gonzaga)
24 COMUNHÃO (tradução: desconhecido)
25 CHOPIN BUKOWSKI (tradução: Pedro Gonzaga) 26 DEPOIS DA LEITURA (tradução: desconhecido)
27 QUERIDA (tradução: desconhecido)
28 SOCIAL (tradução: desconhecido) 29 LAMENTANDO E SE QUEIXANDO (tradução: desconhecido)
30 PAZ (tradução: Athos Tazinaffo)
31 BARATA (tradução: Pedro Gonzaga)
32 UMA ABELHA (tradução: desconhecido) 33 AMOR (tradução: desconhecido)
34 CAVALO ARDENDO (tradução: João Tomaz Parreira)
35 PEQUENOS TIGRES POR TODA PARTE (tradução: Pedro Gonzaga) 36 BONS TEMPOS (tradução: desconhecido)
37 COMO VOCÊ NÃO ESTA FORA DA LISTA? (tradução: desconhecido)
38 O SEGUNDO ROMANCE (tradução: Pedro Gonzaga) 39 CONFISSÃO (tradução: Jorge Wanderley)
40 O PÁSSARO AZUL (tradução: Athos Tazinaffo)
41 HOMENS E MULHERES LIBERADAS (tradução: desconhecido)
42 ESTA NOITE (tradução: Pedro Gonzaga) 43 LIBERDADE (tradução: desconhecido)
44 QUANTO A LIGAR PARA UMA MULHER QUE NÃO VÊ HÁ 20 ANOS
(tradução: desconhecido) 45 UM POEMA DE AMOR (tradução: Jorge Wanderley)
46 UM SORRISO PRA RECORDAR (tradução: desconhecido)
47 OH SIM (tradução: desconhecido)
48 QUATRO E MEIA DA MANHÃ (tradução: desconhecido) 49 AOS FAZEDORES DE POEMAS RÁPIDOS E MODERNOS (tradução: Jorge Wanderley)
50 PACÍFICO TELEFONE (tradução: Pedro Gonzaga)
51 A NOITE SERÁ DEVAGAR (tradução: desconhecido)
52 OUTRA CAMA (tradução: Pedro Gonzaga) 53 462-0614 (tradução: Pedro Gonzaga)
54 MEUS CAMARADAS (tradução: Pedro Gonzaga)
55 LEMBRANÇA (tradução: desconhecido) 56 SPLASH (tradução: Fernando Koproski)
57 BRINCOS ENORMES (tradução: Pedro Gonzaga)
58 TÃO LOUCO COMO SEMPRE FUI
59 NOVA GUERRA (tradução: desconhecido) 60 CERVEJA (tradução: desconhecido)
61 SEM CHANCE DE AJUDA (tradução: Fernando Koproski)
62 CORCUNDA (tradução: Fernando Koproski) 63 FOI ISSO QUE MATOU DYLAN THOMAS (tradução: Pedro Gonzaga)
64 CAIXÃO DA CRIAÇÃO (tradução: desconhecido)
65 A BELA RESISTÊNCIA DE EZRA (tradução: João Tomaz Parreira) 66 SE VAI TENTAR... (tradução: desconhecido)
67 O SOL É DOMINANTE, COMO UMA TOCHA LÁ NO ALTO
68 LANÇAR OS DADOS (tradução: desconhecido)
69 DINOSAURIA, NÓS (tradução: desconhecido) 70 VOCÊ (tradução: Pedro Gonzaga)
71 NA NOITE EM QUE EU IA MORRER (tradução: desconhecido)
72 O HOMEM COM BELOS OLHOS (tradução: desconhecido) 73 O HOMEM AO PIANO (tradução: desconhecido)
74 OS ÚLTIMOS DIAS DO GAROTO SUICIDA (tradução: desconhecido)
75 ARANHA (tradução: desconhecido)
76 ESTILO (tradução: desconhecido) 77 QUANDO O ESPÍRITO SE DESVANECE, APARECE A FORMA (tradução:
desconhecido)
78 O BANHO (tradução: desconhecido) 79 GAROTAS CALMAS E LIMPAS EM VESTIDOS DE ALGODÃO (tradução:
desconhecido)
80 NOITE DE NATAL (tradução: desconhecido) 81 EVENTO (tradução: desconhecido)
82 MANICÔMIO (tradução: desconhecido)
83 A TRAGÉDIA DAS FOLHAS (tradução: Leonardo de Magalhães)
84 A GERAÇÃO PERDIDA (tradução: Adriano Scandolara) 85 O MUNDO CHEIO DE JOÃO (tradução: Bettina Becker)
86 SEJA BONDOSO (tradução: Athos Tazinaffo)
87 CONVERSA ÀS TRÊS E MEIA DA MADRUGADA (tradução: Jorge Wanderley) 88 TANTA SORTE (tradução: Athos Tazinaffo)
89 POEMA NOS MEUS 43 ANOS (tradução: Jorge Wanderley)
90 UM POEMA É UMA CIDADE (tradução: desconhecido) 91 CONVERSA NUM TELEFONE (tradução: desconhecido)
92 TERREMOTO (tradução: desconhecido)
93 ORGULHOSOS, MAGROS, MORRENDO (tradução: Renata Lopez)
94 TELA (tradução: desconhecido) 95 UM POEMA QUASE FEITO (tradução: Pedro Gonzaga)
96 MELANCOLIA (tradução: Alice Dias)
97 CANTEM COMIGO (tradução: Alice Dias) 98 A RETIRADA (tradução: Alice Dias)
99 UM CORTE DURANTE O BARBEAR (tradução: Alice Dias)
100 CAUSA E EFEITO (tradução: Alice Dias)
101 POEMA PARA O MEU QUADRAGÉSIMO TERCEIRO ANIVERSÁRIO (tradução: Alice Dias)
102 ÀS RAPOSAS (tradução: Alice Dias)
103 MEU PAI (tradução: Alice Dias)
104 METAMORFOSE (tradução: Alice Dias) 105 SHOW BIZZ (tradução: Alice Dias)
106 VIAGEM INTERROMPIDA (tradução: Alice Dias)
107 OS GÊNIOS DA MUTIDÃO (tradução: Alice Dias) 108 OS ALIENS (tradução: Alice Dias)
109 SAPATOS (tradução: Alice Dias)
110 ELOGIO A UMA NOBRE MULHER DOS INFERNOS (tradução: Alice Dias)
111 QUAL É A ULTILIDADE DE UM TITULO (tradução: Alice Dias) 112 PEQUENO CONVITE (tradução: Alice Dias)
113 É ISTO, ENTÃO (tradução: Alice Dias)
114 PUXE UMA CORDA, UMA MARIONETE SE MEXE (tradução: Alice Dias) 115 UM DESAFIO À ESCURIDÃO (tradução: Alice Dias)
116 DORMIR (tradução: Alice Dias)
117 O FECHAR DE CORTINAS (tradução: Alice Dias) 118 AGORA (tradução: Alice Dias)
119E A LUA E AS ESTRELAS E O MUNDO (tradução: Alice Dias)
120 SOLUCIONANDO (tradução: Alice Dias)
121 LIBERDADE (tradução: Alice Dias) 122 SIM SIM (tradução: Alice Dias)
123 VACAS NA AULA DE ARTE (tradução: Alice Dias)
124 O QUE PODEMOS FAZER? (tradução: Alice Dias) 125 POEMA (tradução: desconhecido)
HIPÓDROMO
Uma vez cheguei tarde ao hipódromo para a primeira corrida, mas não desisti. De repente percebi que aquela cerveja de merda me saia pelo cu.
Tive que ir ao banheiro. Baixei as calças e a cueca rapidamente.
E depois saiu tudo. Toda a fétida bosta. Quando me levantei depois de um tempo,
Percebi que minha carteira estava ali afundada.
Depois disto, meti minha mão e a retirei rapidamente.
Me lavei e sai dali justo quando o apresentador anunciava: “estão às postas”. Eu corri pela esquina procurando o guichê de apostas.
Saquei um bilhete de minha carteira e gritei: “10 no n°9, ganhador!”
O vendedor tomou o bilhete e olhou. “Vamos, vamos!”, eu disse. “É bom, apenas está um pouco molhado. Qual é a merda!”
O vendedor voltou a olhar-me, apertou o botão e tomou o ticket.
Depois fui para as grades ver a corrida e o 9 ficou fora.
A DEUSA DE UM METRO E OITENTA
sou grande suponho que é por isso que minhas mulheres sempre
[parecem
pequenas mas essa deusa de um metro e oitenta
que negocia imóveis
e arte
e que voa do Texas para me ver
e eu voo ao Texas
para vê-la – bem, há nela o suficiente para
ser agarrado
e eu me agarro todo nela,
puxo-lhe a cabeça para trás pelos cabelos,
sou macho de verdade,
chupo-lhe o lábio superior sua xoxota
sua alma
monto sobre ela e lhe digo, “vou lançar suco quente e branco
dentro de você. não voei desde
Galveston para jogar
xadrez”.
depois nos deitamos enlaçados como vinhas humanas
meu braço esquerdo debaixo de seu travesseiro meu braço direito sobre o lado de seu corpo
aferro-me às suas mãos,
e meu peito barriga
bolas
pau
enroscam-se nela 19
e através de nós
no escuro passam raios
pra lá e pra cá
pra lá e pra cá até que eu desfaleça
e nós durmamos.
ela é selvagem mas dócil
minha deusa de um metro e oitenta
faz-me rir a risada do mutilado
que ainda precisa de
amor,
e seus olhos abençoados fluem para o fundo de sua cabeça
como nascentes na montanha
ao longe
nascentes frescas e boas.
ela me resguardou de tudo o que não está
aqui.
PARA A PUTA QUE LEVOU OS MEUS POEMAS
dizem que devemos afastar o remorso do poema manter-se abstrato, e há alguma razão nisto,
mas Jesus; doze poemas se foram e eu
não tenho cópias e você levou minhas pinturas também, as melhores; é sufocante:
você estar querendo me sacanear como os outros?
por que você não levou o meu dinheiro? sempre tiram
das calças dos bêbados largados na sarjetas. de outra vez leve meu braço
esquerdo ou uma nota de cinquenta
mas não meus poemas: eu não sou Shakespeare e daqui apouco simplesmente não haverá mais,
nem abstrato nem de jeito algum;
sempre haverá dinheiro e putas e bêbados até que caia a última bomba,
mas como disse Deus, cruzando as pernas,
eu vejo que deixei um monte de poetas
mas não muita poesia...
O CORAÇÃO RISONHO
Sua vida é sua vida Não deixe que ela seja esmagada na fria submissão.
Esteja atento.
Existem outros caminhos. E em algum lugar, ainda existe luz.
Pode não ser muita luz, mas
ela vence a escuridão.
Esteja atento. Os deuses vão lhe oferecer oportunidades.
Reconheça-as.
Agarre-as. Você não pode vencer a morte,
mas você pode vencer a morte durante a vida, ás vezes.
E quanto mais você aprender a fazer isso, mais luz vai existir.
Sua vida é sua vida.
Conheça-a enquanto ela ainda é sua.
Você é maravilhoso. Os deuses esperam para se deliciar
em você.
VIAGEM À PRAIA
os homens fortes os homens musculosos
lá na praia eles
se sentam bronzeados como chocolate
os pesos
espalhados ao seu redor e
intocados
ficam sentados enquanto
as ondas avançam e recuam
ficam sentados enquanto o mercado de ações
ergue e destrói
homens e famílias
ficam sentados enquanto
um apertar de botão
poderia transformar seus caralhos
em palitos de fósforos
pretos e enrugados
ficam sentados enquanto
suicidas em quartos verdes
os trocam por espaço
ficam sentados enquanto antigas
Miss Américas choram diante de espelhos
enrugados
ficam sentados ficam sentados com menos
vivacidade que macacos
e minha mulher para e os olha:
“uuuu uuuu uuuu”, ela
diz.
me afasto com
minha mulher enquanto as ondas
avançam e recuam.
“há alguma coisa errada
com eles”, ela diz, “o que é?”
“o amor deles só corre em
uma direção.”
as gaivotas giram e
o mar avança e recua
e nós os abandonamos
lá atrás
desperdiçando o tempo que lhes resta
o momento presente
as gaivotas
o mar a areia.
SOZINHO COMO TODO MUNDO
a carne cobre os ossos e colocam uma mente
ali dentro e
algumas vezes uma alma, e as mulheres quebram
vasos contra as paredes
e os homens bebem
demais e ninguém encontra o
par ideal
mas seguem na procura
rastejando para dentro e para fora
dos leitos. a carne cobre
os ossos e a
carne busca
muito mais do que mera carne.
de fato, não há qualquer chance:
estamos todos presos
a um destino
singular.
ninguém nunca encontra
o par ideal.
as lixeiras da cidade se completam
os ferros-velhos se completam os hospícios se completam
as sepulturas se completam
nada mais se completa.
O LUGAR NÃO PARECIA MAL
ela tinha coxas colossais e uma risada muito gostosa
ria de qualquer coisa
e as cortinas eram amarelas e eu gozei
e rolei para o lado
e antes que ela fosse ao banheiro
puxou um pano de baixo da cama e me jogou.
estava duro
enrijecido pelo esperma de outros homens.
limpei-me no lençol.
ao retornar
ela se curvou
e pude ver todo seu traseiro
enquanto ela colocava um Mozart para tocar.
QUANDO ME PENSO MORTO
quando me penso morto penso em automóveis estacionados
nas vagas
quando me penso morto
penso em panelas de fritura
quando me penso morto penso em alguém fazendo amor com você
quando não estou por perto
quando me penso morto
respiro com dificuldade
quando me penso morto
penso em todas as pessoas que esperam pela morte
quando me penso morto penso que nunca mais poderei beber água
quando me penso morto o ar fica completamente puro
as baratas na minha cozinha
tremem
e alguém terá que jogar
fora minhas cuecas limpas e sujas
VACAS NA AULA DE ARTE
Bom tempo é como boas mulheres - não acontece sempre e quando acontece não dura para sempre. Um homem é mais estável: Se ele é ruim é mais provável que continue assim, ou se ele
é bom ele pode se fixar, mas a mulher se modifica para sempre pelos filhos, pela idade, pela
dieta, pela conversação, pelo sexo, pela lua, por haver ou não haver sol ou bom tempo. Uma mulher tem que ser ninada pra subsistir pelo amor, onde um homem pode se tornar mais forte
por ser odiado. Estou bebendo esta noite no Spangler's e me lembro das vacas que pintei certa
vez na aula de arte e pareciam bem, pareciam está melhor do que tudo ali. Estou bebendo no
Spangler's pensando em qual amar e qual odiar, mas já não há regras: amo e odeio somente a mim mesmo - os outros ficam além de mim.
ALGUMA COISA
estou sem fósforos. as molas de meu sofá
estouraram.
roubaram minha maleta. roubaram minha tela a óleo de
dois olhos rosados.
meu carro quebrou.
lesmas escalam as paredes de meu banheiro. meu coração está partido.
mas as ações tiveram um dia de alta
no mercado.
JÁ VI MENDIGOS DEMAIS COM OS OLHOS VIDRADOS BEBENDO
VINHO BARATO DEBAIXO DA PONTE
você se senta comigo
no sofá
nesta noite nova mulher.
você já viu os
documentários sobre animais carnívoros?
eles mostram a morte.
e agora me pergunto
que animal entre nós dois
devorará
primeiro o outro
física e por fim
espiritualmente?
nós consumimos animais
e então um de nós
consome o outro,
meu amor.
enquanto isso
prefiro que você vá primeiro e do primeiro jeito
se os gráficos de performance passadas significarem alguma coisa
eu certamente irei
primeiro e do último
jeito.
A BOA VIDA
uma casa com 7 ou 8 pessoas vivendo ali
rachando o aluguel.
há um estéreo nunca utilizado e um par de bongôs
nunca utilizado
e há panos cobrindo as
janelas e você fuma
enquanto baratas vivas
escorregam sobre os botões de sua camisa e despencam no
chão.
está escuro e alguém vai em
busca de comida. você come
e dorme. todos dormem ao mesmo
tempo: no chão, sobre as mesas, sofás, camas, nas banheiras. há até
mesmo uma pessoa lá fora no mato.
então alguém acorda e
diz, “vamos lá, vamos fechar
um!”
alguns outros acordam.
“opa. é isso aí.”
“beleza. vamos lá, alguém aí
fecha dois. vamos nos
chapar!”
“isso. vamos nos chapar!”
fumamos alguns baseados e depois voltamos a dormir
trocando apenas de lugar
da banheira para o sofá, da mesa para o tapete, da cama para o chão, e um novo
sujeito desaba no mato
lá fora, e eles ainda não encontraram Patty Hearst e Tim não quer
falar com Alan.
É O MODO COMO VOCÊ JOGA O JOGO
chame-a de amor coloque-a de pé sob a luz
imperfeita
ponha-lhe um vestido reze cante implore chore ria
apague as luzes
ligue o rádio
acrescente-lhe enfeites: manteiga, ovos crus, jornais de
ontem;
um cadarço novo, e então páprica, açúcar, sal, pimenta,
ligue para sua tia velha e bêbada em
Calexico; chame-a de amor,
espete-a bem, adicione
repolho e molho de maçã,
então a esquente primeiro no lado esquerdo,
depois no
direito, ponha-a numa caixa
livre-se dela
deixe-a nos degraus de uma porta
vomitando como você fará nas
hortênsias.
SANDRA
é alta e magra donzela do quarto
de brincos
coberta por um longo vestido
está sempre alta
em sapatos de salto espírito
boletas
trago
Sandra se inclina
em sua cadeira inclina-se em direção a
Glendale
aguardo que sua cabeça bata na maçaneta
do guarda-roupa
enquanto ela tenta acender
um novo cigarro num
outro já quase
consumido
aos 32 ela gosta de
jovens limpos imaculados
com rostos semelhantes ao fundo
de pires recém-comprados
depois de se vangloriar
a não mais poder
acabou me trazendo seus prêmios para que eu desse uma olhada:
garotos nulos, loiros e silenciosos
que a) sentam
b) levantam
c) falam ao seu comando
às vezes ela traz um
às vezes dois às vezes três
para que eu os
veja
Sandra fica muito bem em
vestidos longos
Sandra pode partir provavelmente o coração de um homem
espero que ela encontre
um.
APRISIONADO
no inverno caminhando em meu teto meus olhos do tamanho de luzes de
poste. Tenho quatro patas como um rato mas
lavo minhas roupas íntimas – barbeado e de ressaca e de pau duro e sem advogado.
tenho cara de esfregão. Canto
canções de amor e carrego aço.
preferiria morrer a chorar. Não suporto
a matilha não posso viver sem ela.
inclino minha cabeça contra o refrigerador branco e quero gritar como
o último lamento de vida para todo sempre mas
sou maior do que as montanhas.
UMA ASSASSINA
A consistência é impressionante: boca fedorenta
podre por dentro e
um corpo quase perfeito, uma longa e luminosa cabeleira loira -
que confunde a mim
e aos outros
ela segue de homem em homem
oferecendo carícias
ela fala de amor
então submete os homens à sua vontade
boca fedorenta
podre por dentro
vemos isso tarde demais:
depois que o pau é engolido o coração vai atrás
sua longa e luminosa cabeleira
seu corpo quase perfeito caminha pela rua
debaixo do mesmo sol
que banha as flores.
A MÚSICA SUAVE
vence o amor porque nela não há feridas: pela manhã
a mulher liga o rádio, Brahms ou Ives
ou Stravinsky ou Mozart. ferve os ovos contando em voz alta os segundos: 56,
57, 58... descansa os ovos, os traz
para mim na cama. depois do café da manhã é
a mesma cadeira e ouvir a música clássica. A mulher está no seu primeiro copo de
scotch e no seu terceiro cigarro. digo-lhe
que preciso ir ao hipódromo. ela está aqui há 2 noites e 2 dias. "quando
voltarei a vê-la?" pergunto. ela
sugere que fique a meu critério. aceno com a cabeça e Mozart toca.
ELA SAIU DO BANHEIRO COM SUA CABELEIRA RUIVA FLAMEJANTE E DISSE...
Os policiais querem que eu vá até lá e identifique um cara que tentou me estuprar.
perdi outra vez a chave do meu carro; tenho
a que abre a porta, mas não a que dá a partida na ignição.
essas pessoas estão tentando tirar minha filha de mim,
mas eu não vou deixar.
Rochelle quase tomou uma overdose, então foi até o Harry com um bagulho, e ele a pegou de jeito.
ela teve as costelas fissuradas, você sabe,
e uma delas lhe perfurou o pulmão. Ela está no hospital conectada a uma máquina.
onde está meu pente? o seu está sempre imundo.
eu lhe disse,
eu não vi o seu pente.
A MORTE ESTÁ FUMANDO OS MEUS CHARUTOS
sabe como é: estou aqui mais uma vez bêbado
ouvindo Tchaikovsky
no rádio. Jesus, eu o ouvi há 47 anos
atrás
quando eu era um escritor que passava fome
e aqui está ele novamente
e agora faço um pouco de sucesso como
escritor e a morte está andando
para cima e para baixo
neste quarto fumando meus charutos
tomando tragos do meu
vinho
enquanto Tchaik toca ininterruptamente a Pathétique,
tem sido uma jornada e tanto
e qualquer sorte que tive foi porque rolei o dado
direito:
passei fome pela minha arte, passei fome para
ganhar malditos 5 minutos, 5 horas, 5 dias---
eu só queria
escrever; fama, dinheiro, não importava:
eu queria escrever
e eles me queriam em uma puncionadeira, na linha de montagem de uma fábrica
queriam que eu trabalhasse no estoque em uma
loja de departamentos.
bem, diz a morte, enquanto caminha,
eu vou te pegar de qualquer maneira
não importa o que você tenha sido: escritor, motorista de táxi, cafetão,açougueiro,
pára-quedista, eu vou te
pegar...
tudo bem querida, digo a ela.
nós bebemos juntos agora enquanto uma da manhã transforma-se em
duas da manhã e
somente ela sabe o momento, mas eu a
trapaceei: consegui meus
malditos 5 minutos
e muito mais.
COMO UMA FLOR NA CHUVA
cortei a unha do dedo médio da mão
direita
realmente curta e comecei a correr o dedo ao longo de sua boceta
enquanto ela se sentava muito ereta na cama
espalhando uma loção por seus braços
face e seios
depois do banho.
então acendeu um cigarro: "não deixe que isso o desanime",
e seguiu fumando e esfregando a
loção. continuei tocando sua boceta.
"quer uma maçã?", perguntei.
"claro", ela disse, "tem uma aí?"
mas eu lhe dei outra coisa... ela começou a se contorcer
e depois rolou para um lado,
ela estava ficando molhada e aberta como uma flor na chuva.
então ela se voltou sobre a barriga
e seu cu maravilhoso
olhou para mim e eu passei minha mão por baixo e
cheguei outra vez na boceta.
ela se espichou e agarrou meu pau, virando-se e se contorcendo toda,
penetrei-a meu rosto mergulhado na massa
de cabelos ruivos que se alastrava feito enchente de sua cabeça
e meu pau intumescido adentrou
o milagre.
mais tarde tiramos sarro da loção e do cigarro e da maçã.
depois eu saí para comprar um pouco de frango
e camarão e batatas fritas e pão doce e purê de batatas e molho e
salada de repolho, e nós comemos. ela me disse
quão bem ela se sentia e eu lhe disse o quão bem eu me sentia e nós comemos
o frango e o camarão e as batatas fritas e o pão doce
e o purê de batatas e o molho e
também a salada de repolho.
SENTADO NUMA LANCHEIRA
minha filha é a maior das glórias.
comíamos um lanche
para viagem em meu carro em Santa Mônica.
eu digo, “ei, filham
minha vida tem sido
boa, tão boa”. ela me olha.
baixo minha cabeça
contra o volante, tremo, depois
abro a porta de supetão,
finjo vomitar.
me endireito.
ela ri
mordendo eu sanduíche.
pego quatro
batatas fritas coloco-as em minha boca,
mastigo-as.
são 5h30 da tarde
e os carros passam voando por nós pra lá e pra cá.
lanço um olhar furtivo:
tivemos toda a sorte de que precisamos: seus olhos brilham
enquanto o dia
cai, e ela está sorrindo.
O JEITO QUE ISSO É
o inferno está lotado ainda você sempre pensa que você está
sozinho.
e você nunca pode dizer
a ninguém que
você está no inferno
ou eles vão pensar que você está
louco.
mas ser louco é
estar no inferno
e ser sensato também.
aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre isso
e nada mais
incomoda eles depois
disso.
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição, ir para a cadeia,
bater seu carro
ou mesmo
morrer.
quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão
indo? "
eles vão responder: "bem, muito bem ... "
uma vez que você foi para o inferno e voltou
é o bastante, é a
mais silenciosa celebração conhecida.
uma vez que você foi para o inferno
e voltou, você não olha para trás
quando o chão
range. o sol está no alto a
meia-noite
e coisas como os olhos de ratos
ou um velho pneu
em um terreno baldio
pode torná-lo feliz.
uma vez que você foi para o inferno e voltou.
VELHO LIMPO
daqui a uma semana farei
55.
sobre o que
escreverei
quando ele não
levantar mais pela manhã?
meus críticos vão adorar
quando a minha diversão
passar a ser tartarugas
e estrelas-do-mar.
chegarão inclusive a dizer
coisas boas sobre
mim
como se eu tivesse
finalmente
alcançado a razão.
COMUNHÃO
cavalos correndo com ela a milhas de distância
rindo com um
louco
Bach e a bomba de hidrogênio
e ela a milhas de distância
rindo com um louco
o sistema bancário
guinchos de carro gôndolas em Veneza
e ela a milhas de distância
rindo com um louco
você nunca viu de fato
uma escada antes (cada degrau olhando
separadamente para você)
e do lado de fora o vendedor de jornais parecendo
imortal
enquanto os carros passam debaixo do sol
com um inimigo
e você se pergunta
por que é tão difícil enlouquecer-
se é que você já não está
louco até agora
você não tinha visto uma
escada que se parecesse com
uma escada uma maçaneta que se parecesse com
uma maçaneta
e sons como esses sons
e quando a aranha aparece
e olha você por fim
você já não odeia
por fim
com ela a milhas de distância rindo com um
louco.
CHOPIN BUKOWSKI
este é meu piano.
o telefone toca e as pessoas perguntam,
o que você está fazendo? que tal encher a cara com a gente?
e eu digo,
estou ao piano.
o quê?
desligo.
as pessoas precisam de mim. eu as completo. se não podem me ver
por um tempo ficam desesperadas, ficam
doentes.
mas se as vejo muito seguido
eu fico doente. é difícil alimentar
sem ser alimentado.
meu piano me diz coisas em
troca.
às vezes as coisas estão
confusas e nada boas.
outras vezes consigo ser tão bom e sortudo como
Chopin.
às vezes me sinto enferrujado
desafinado. isso
faz parte.
posso me sentar e vomitar sobre as
teclas
mas é meu vômito.
é melhor do que sentar em uma sala com 3 ou 4 pessoas e
seus pianos.
este é meu piano e é melhor que os deles.
e eles gostam e desgostam dele.
DEPOIS DA LEITURA
"...já vi pessoas em frente a
suas máquinas de escrever em tal aperto que faria com que seus intestinos explodissem
cu afora se estivessem
tentando cagar."
"ah hahaha hahaha!"
"...é uma vergonha trabalhar assim
tão pesado só para escrever."
"ah hahaha hahaha!"
"a ambição raramente tem alguma coisa
a ver com o talento. é melhor ter sorte, e
deixar o talento vir manquejando logo
atrás da sorte."
"a haha."
ele se levantou e deixou o lugar com uma virgem de 18 anos,
a mais linda estudante entre
todas. fechei meu bloquinho
me ergui e manquejei
logo atrás dos
dois.
QUERIDA
as espécies de crocodilo têm existido há
300 milhões de anos
e você extinguiu-se noite passada
SOCIAL
o traçado azul da onda rasgos de estrada amarela
um volante
uma mulher insana sentada ao seu lado
reclamando enquanto o oceano faz espuma
e pessoas em motor homes
amarelas e brancas
impedem sua passagem
por um tempo frenético
enquanto você escuta
culpado disso e
culpado daquilo
você admite
isso e aquilo mas nunca é o
suficiente
ela quer conquistas
esplêndidas
e você está escaldado por
essas conquistas esplêndidas
chegando lá ela desce
caminha em direção à
casa
você mija junto ao
pára-lamas do seu carro
bêbado de cerveja
pequenas gotas de você
pingando na poeira
na poeira
seca
depois de fechar o zíper você
se põe em marcha
para encontrar os amigos dela.
LAMENTANDO E SE QUEIXANDO
ela escreve: você vai se lamentar e se queixar
em seus poemas
sobre como eu trepei com 2 caras na semana passada.
eu te conheço.
ela escreve para me
dizer que meu sensor estava certo -
ela recém tinha trepado
com um terceiro cara mas ela sabe que não
quero saber com quem, nem por que
nem como. Ela encerra sua carta, "com amor".
ratos e baratas
triunfaram novamente. aí vem ele correndo
com uma lesma em sua
boca, entoando velhas canções de amor.
feche as janelas
lamente
feche as portas queixe-se.
PAZ
próximo à mesa de canto no restaurante
está sentado
um casal de meia idade. eles terminaram suas
refeições
e estão bebendo uma cerveja
cada um. são 9 horas da noite.
ela está fumando um
cigarro. então ele diz alguma coisa.
ela assente com a cabeça.
então ela fala. ele sorri, move sua
mão.
então eles ficam em
silêncio. através da persiana próximo à
mesa deles
um neon vermelho reluzente está
piscando.
não há guerra. não há inferno.
então ele levanta sua garrafa de cerveja.
ela é verde.
a leva até seus lábios, e vira.
é como um troféu.
o cotovelo direito dela está
na mesa
e em sua mão segura o
cigarro
entre o polegar e o indicador
e
enquanto o
observa as ruas lá fora
florescem
na noite.
BARATA
a barata rastejou
sobre os ladrilhos enquanto eu estava mijando e
ao virar minha cabeça
ela enfiou o traseiro
numa fenda. peguei o inseticida e disparei o aerossol
e disparei e disparei
e finalmente a barata saiu
e me lançou um olhar muito nojento.
então desabou dentro
da banheira e fiquei assistindo à sua morte
com um prazer sutil
pois eu pagava o aluguel e ela não.
recolhi-a com
um tipo de papel higiênico
azul-esverdeado e joguei-a na descarga. era tudo o que se
tinha a fazer, exceto que
nas redondezas de Hollywood e Western temos que seguir
fazendo isso.
dizem que algum dia essa tribo herdará
a terra
mas faremos com que
esperem mais alguns meses.
UMA ABELHA
Suponho que como qualquer garoto Tive um melhor amigo na vizinhança.
O nome dele era Eugene e era maior
Do que eu e um ano mais velho. Eugene costumava me encher de porrada.
Estávamos sempre brigando.
Eu tentava vencê-lo mas sempre sem muito
Sucesso.
Uma vez pulamos juntos de cima do telhado da garagem
Para provar que éramos valentes. Torci meu tornozelo e ele saiu ileso
Como manteiga recém-tirada do papel.
Acho que a única coisa boa que ele fez por mim
Foi quando uma abelha me picou no pé descalço
E assim que me sentei para tirar o ferrão
Ele disse, “vou pegar a filha da puta!”
E foi o que ele fez Com uma raquete de tênis
Mais um martelo de borracha.
Estava tudo bem Dizem que de qualquer modo
Elas morrem.
Meu pé inchou e dobrou de tamanho
E eu fiquei de cama
Rezando para morrer
E Eugene seguiu em frente e se tornou um
Almirante ou comandante
De alguma coisa de vulto na marinha dos estados unidos E conseguiu passar por uma ou duas guerras
Sem se ferir.
Imagino-o envelhecido agora
Numa cadeira de balanço
Com seus dentes pórticos Bebendo seu leitinho...
Enquanto eu bêbado
Masturbo esta tiete de 19 anos Que divide a cama comigo.
Mas o pior é que (assim como naquele salto do telhado da garagem)
Eugene segue vencendo
Porque ele nem sequer esta pensando
Em mim.
AMOR
amor, ele disse, gás beije-me todo
beije meus lábios
beije meu cabelo meus dedos
meus olhos minha mente
faça-me esquecer
amor, ele disse, gás
ele tinha um quarto no 3º andar
rejeitado por uma dúzia de mulheres 35 editores
e meia dúzia de agências de emprego,
olhe, não estou dizendo que ele era gente boa
ele ligou todas as bocas
sem acendê-las e foi pra cama
algumas horas depois um cara em seu caminho para o quarto 309
acendeu um charuto no
corredor
e um sofá voou pela janela
uma parede tremeu como areia molhada
uma chama púrpura ondulou no ar a 30 metros de altura
o cara deitado
não percebeu nem se importou mas eu tenho que dizer
ele foi muito bom
nesse dia.
CAVALO ARDENDO
Traga, traga coisas concretas
como um cavalo ardendo.
Disse Ezra
escrever
de tal forma que um homem na África
Ocidental o entenda e ele pôs-se a escrever os Cantos,
cheios de línguas mortas,
recortes de jornais e cenas de amor no hospício;
traga, traga
coisas concretas: luz de pássaro, o medo de um rato,
braçadas de erva, grandes cabeças de pedra;
e ao ler o Canto 90
baixou o jornal,
Ez fê-lo, ( seus olhos estavam húmidos)
e disse a ela "entre os maiores poemas de amor
jamais escritos"
Ezra, há muitas classes de traidores, entre os quais
os políticos são de menor relevância
mas o auto-elogio, na poesia e no amor,
tem deixado em destaque os ignorantes
mais do que os rebeldes.
PEQUENOS TIGRES POR TODA PARTE
Sam, o putanheiro,
tem sapatos que estalam e ele caminha pra lá e pra cá
pelo quintal
estalando e conversando com os gatos.
pesa 140 quilos,
um assassino
e conversa com os gatos. ele frequenta as mulheres na casa
de massagem e não tem namoradas
ou automóvel
não bebe ou se chapa seus maiores vícios são
mastigar charutos e
alimentar todos os gatos da vizinhança.
algumas das gatas ficam
prenhes
e depois por fim aparecem mais e mais gatos e
toda vez que abro minha porta
um ou dois gatos entram correndo e algumas vezes acabo
esquecendo que eles estão ali e
eles cagam debaixo da cama ou me desperto no meio da noite
com sons estranhos
pulo da cama com minha faca
entro na cozinha e lá está um dos gatos de Sam, o putanheiro,
circulando em volta
da pia ou sentado sobre a geladeira.
Sam administra o puteiro
da esquina
e suas garotas ficam paradas na varanda ao sol
e o semáforo vai do
vermelho ao verde e todos os gatos do Sam
possuem parte do significado
assim como fazem os dias e as noites.
BONS TEMPOS
fiquei cansado de ir aos bares e depois fiquei cansado até de
dirigir até a loja de bebidas,
comecei a encomendar por telefone.
eles me conheciam.
alguns tinham lido meus livros.
podia ouvi-los falando no fundo
através do telefone.
estavam discutindo sobre quem iria
entregar o pedido.
todos queriam entregar, eles queriam ver o
circo de horrores:
eu na porta
com cabelo na cara, minha barriga de cerveja sob a camiseta,
meus olhos vermelhos,
minha barba por fazer, as garrafas no chão,
as mulheres.
eles queriam ver
isso.
COMO VOCÊ NÃO ESTA FORA DA LISTA?
Os homens ligam e me perguntam isto.
Você é realmente Charles Bukowski
O escritor?
Sou escritor de vez em quando, eu digo,
Na maior parte do tempo eu não faço nada.
Escute, eles dizem, eu gosto de suas
Coisas – se importa se eu aparecer aí
Com uma dúzia de latinhas?
Você pode trazê-las, eu digo
Desde que você não entre...
Quando as mulheres ligam, eu digo,
Ó, sim, escrevo, sou escritor
Apenas não estou escrevendo nada neste exato momento.
Me sinto tola ligando para você,
Elas dizem, e fiquei surpresa De achar você na lista telefônica.
Tenho meus motivos, eu digo,
A propósito, por que você não aparece Pra tomar uma cerveja?
Você não se importaria?
E elas chegam
Mulheres lindas Boas de corpo e mente e olho.
Frequentemente não há sexo
Mas estou acostumado Ainda assim é bom
Bom demais olhar para elas...
E em alguns raros momentos Tenho uma maré inesperada de sorte
Para variar.
Para um homem de 55 anos que não transou
Ate os 23
E não muitas vezes mais ate os 50
Creio que deva continuar listado Na Pacific Telephone
Ate conseguir o mesmo numero de mulheres
Que os homens normais conseguiram.
Claro, terei que continuar
Escrevendo poemas imortais
Mas a inspiração esta lá.
O SEGUNDO ROMANCE
eles apareciam e
perguntavam
"já terminou seu
segundo romance?"
"não."
"o que tá pegando? o que tá pegando
que você não
termina?"
"hemorróidas e
insônia"
"será que você não
perdeu?"
"perdi o que?"
"você sabe"
agora quando eles aparecem
eu lhes digo, "sim, já terminei.
sairá em setembro."
"você terminou o livro?"
"sim."
"bem, escute. tenho que ir."
nem o gato
aqui da vizinhança bate mais à minha
porta.
que beleza.
CONFISSÃO
Esperando pela morte Como um gato
Que vai pular
Na cama
Sinto muita pena de
Minha mulher
Ela vai ver este
Corpo
Rijo e Branco
Vai sacudi-lo e Talvez
Sacudi-lo de novo:
“Henry!”
E Henry não vai
Responder.
Não é milha morte que me
Preocupa, é minha mulher
Deixada sozinha com esse monte De coisa
Nenhuma.
No entanto,
Eu quero que ela
Saiba Que dormir
Todas as noites
A seu lado
E mesmo as
Discussões mais banais
Eram coisas Realmente esplendidas
E as palavras Difíceis
Que sempre tive medo de
Dizer
Podem agora Ser ditas:
Eu Te amo.
O PÁSSARO AZUL
há um pássaro azul em meu coração que deseja sair
mas sou muito durão para ele,
eu digo, fique aí, não vou deixar ninguém te
ver.
há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas eu derramo whiskey nele e inalo
fumaça de cigarro e as prostitutas, os bartenders
e os balconistas de mercado
nunca sabem que ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu coração que deseja sair
mas sou muito durão para ele,
eu digo, fique escondido, você quer me
atrapalhar?
quer estragar os
trabalhos? quer arruinar minhas vendas de livros na
Europa?
há um pássaro azul em meu coração que
deseja sair
mas eu sou muito esperto, só o deixo sair algumas vezes à noite
quando todos estão adormecidos.
eu digo, eu sei que você está aí,
então não fique triste.
então o coloco de volta, mas ele está cantando um pouco
lá dentro, eu ainda não o deixei
morrer
e nós dormimos juntos desse jeito
com nosso
pacto secreto e é belo o bastante para
fazer um homem
chorar, mas eu não choro, e
você?
HOMENS E MULHERES LIBERADAS
Olhe lá Aquela por quem você pensou em se
Matar.
Você a viu no outro dia Saindo do seu carro
No estacionamento da Safeway.
Ela usava um vestido verde
Rasgado e botas velhas E sujas.
Sua face marcada pela vida.
Ela viu você. Então você andou até ela
E falou-lhe e aí
Ouviu. Os cabelos dela não brilhavam
Sua conversa e seus olhos eram
Apagados.
Onde ela estava? Para onde teria ido?
Aquela por quem você iria se
Matar?
A conversa terminou
Ela foi entrando na loja.
E você olhou para o automóvel dela E mesmo ele
Que costumava rodar e estacionar
Na frente da sua porta Com tanto entusiasmo e um espírito de
Aventura
Agora parecia um ridículo Ferro velho.
Você decide que não vai comprar na
Safeway Você vai dirigir mais seis quadras
A leste e comprar o que você precisa no
Ralph’s.
Entrando no carro
Você esta até contente que Não tenha
Se matado;
Tudo é encantador e
O ar esta claro. Suas mãos no volante,
Você alarga um sorriso enquanto checa o tráfego
Pelo espelho retrovisor.
Meu velho, você pensa,
Você se salvou
Para alguma outra pessoa, mas Quem?
Uma jovem e esbelta criatura passa
Numa mini-saia e sandálias Mostrando pernas maravilhosas.
E vai entrar para comprar na Safeway
Também. Você desliga o motor e
Entra atrás dela.
ESTA NOITE
“seus poemas sobre as garotas ainda estão por aí
daqui a 50 anos quando as garotas já tiverem ido”, meu editor me telefona.
caro editor: parece que as garotas já se
foram.
entendo o que o senhor diz
mas me dê uma mulher verdadeiramente viva
nesta noite cruzando o piso na minha direção
e o senhor pode ficar com todos os poemas
os bons
os maus
ou qualquer outra que eu venha a escrever depois deste.
entendo o que o senhor diz.
o senhor entende o que eu digo?”
LIBERDADE
ele tomou vinho a noite inteira, a noite do dia 28, e continuava pensando nela:
o jeito como caminhava e falava e amava
o jeito como lhe disse coisas que pareciam verdade mas que não eram,e ele conhecia a cor de cada um
dos seus vestidos
e seus sapatos - ele conhecia o barulho e a curva de
cada salto tão bem quanto a perna que lhes emprestava sentido
e ela havia saido outra vez quando ele chegou em casa, e
voltaria outra vez com aquele especial fedor,outra vez e aconteceu assim mesmo
ela chegou às 3 da manhã
imunda como uma porca comedora de merda e ele segurou a faca de açougueiro
e ela gritou
se encostando na parede do quarto
ainda assim linda,de algum modo apesar de que o amor se dissipava
e ele terminou o copo de vinho
esse vestido amarelo seu favorito
e ela gritou de novo.
ele segurou a faca
e afroxou o cinto arrancou a roupa na frente dela
e cortou as bolas fora.
e as segurou nas mãos como nozes as deixou cair na privada
e puxou a descarga
e ela continuava gritando enquanto a casa ficava ensanguentada
DEUS,OH,DEUS!
QUE É QUE VOCE FEZ?
ele se sentou segurando 3 toalhas entre as pernas
não mais se importando se ela ia ou
se ficava se vestia o vestido amarelo ou o verde nem
mais coisa alguma.
enquanto com uma mão sustentava as toalhas com a outra
se serviu de mais um copo de vinho.
QUANTO A LIGAR PARA UMA MULHER QUE NÃO VÊ HÁ 20 ANOS
Consegui o numero dela com um amigo meu Ela estava no Texas e o numero tocava:
“alô” disse ela.
“oi, benzinho,” eu disse, “adivinha quem é.” “eu sei quem é,” ela disse.
Era a mesma voz de educação ríspida
Só que agora enrugada de ódio
“como vai?” perguntei. “indo bem,” respondeu.
“ainda sou o mesmo,” disse.
“sim” respondeu, “suponho que seja.” “bem,” disse, “só queria dizer oi.”
Ela não respondeu.
“bem,” disse, “boa sorte. Tchau.” “tchau,” ela disse.
Baixei o fone.
Bem, pensei, isso não vão sair muito caro na
Conta do telefone. Caminhei para o quarto e disse à minha
Namorada: “é impressionante, ela ainda me odeia
Após vinte anos” “você faz isso aflorar nas pessoas,” ela disse.
Caminhei para cozinha para verificar a lagosta
Azul do Maine. Estava fervendo bastante. E à essa altura ela também
Estava.
UM POEMA DE AMOR
todas as mulheres
todos os beijos delas as formas variadas como amam e
falam e carecem.
suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e automóveis e ex-
maridos.
principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.
há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.
sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.
mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.
sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas poucas.
algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas; outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os quartos de dormir
os tapetes as
fotos as cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve uma risada.
essas orelhas esses
braços esses cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me sustentaram, me
sustentaram.
UM SORRISO PRA RECORDAR
nós tínhamos peixes dourados que ficavam rodando e rodando no aquário sobre a mesa perto de panos de pratos encardidos
cobrindo a moldura da janela e
minha mãe, sempre sorrindo, querendo que fossemos todos felizes,me disse,"seja feliz Henry!"
e ela estava certa: é melhor ser feliz se você
pode
mas meu pai continuava a bater nela e em mim pelo menos uma vez por semana enquanto se pisava por dentro com toda sua altura porque ele não podia
entender o que se passava dentro dele.
minha mãe, pobre peixe, querendo ser feliz, apanhando duas ou três vezes por
semana, me dizendo pra ser feliz: "Henry, sorria!
por que você nunca sorri?"
e então ela pode demonstrar como sorrir, e foi o
sorriso mais triste que eu já vi
um dia os peixes dourados morreram, todos os cinco que havia,
flutuaram na água, de lado, com seus
olhos ainda abertos, e quando meu pai chegou em casa atirou eles pro gato
no chão da cozinha e nós assistimos enquanto minha mãe
sorria.
OH SIM
há coisas piores na vida do que ficar sozinho
mas frequentemente leva décadas
para entender isso e mais frequentemente
quando você entende
é tarde demais
e não há nada pior do que tarde
demais
QUATRO E MEIA DA MANHÃ
quatro e meia da manhã os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da manhã, são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto meus amigos:
os lixeiros e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas, e minhocas sonhando
os ossos do meu amor,
e eu não posso dormir e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro e dirão: "ele tá bêbado de novo",
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz, os passarinhos vermelhos
voando,
voando, rosas se abrindo no fumo
e como algo esfaqueado e cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim, um sorriso bem na
minha cara de idiota.
AOS FAZEDORES DE POEMAS RÁPIDOS E MODERNOS
é muito fácil parecer moderno enquanto se é o maior idiota jamais nascido;
eu sei; eu joguei fora um material horrível
mas não tão horrível como o que leio nas revistas; eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais
que não me deixará fingir que sou
uma coisa que não sou -
o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa na poesia e o fracasso de uma pessoa
na vida.
e quando você falha na poesia você erra a vida,
e quando você falha na vida
você nunca nasceu não importa o nome que sua mãe lhe deu.
as arquibancadas estão cheias de mortos
aclamando um vencedor
esperando um número que os carregue de volta para a vida,
mas não é tão fácil assim -
tal como no poema se você está morto
você podia também ser enterrado
e jogar fora a máquina de escrever
e parar de se enganar com poemas cavalos mulheres a vida:
você está entulhando a saída - portanto saia logo
e desista das poucas preciosas
páginas.
PACÍFICO TELEFONE
vá atrás dessas piranhas, ela disse,
vá atrás dessas putas,
logo ficará de saco cheio de mim.
não quero mais fazer esse tipo de merda,
eu disse,
relaxe.
quando bebo, ela disse, sinto dor na minha
bexiga, uma queimação.
deixe a bebida comigo, eu disse.
você está só esperando o telefone tocar,
ela disse,
você não para de olhar pro aparelho.
se uma dessas piranhas ligar você sairá correndo porta afora.
não posso lhe prometer nada, eu disse.
então - simples assim - o telefone tocou.
aqui é a Madge, disse a voz. preciso
ver você imediatamente.
oh, eu disse.
estou num aperto, ela continuou, preciso de dez
pratas - rápido.
logo estarei aí, eu disse, e
desliguei.
ela me olhou, era uma piranha,
ela disse, o rosto todo em chamas.
que diabos há com você?
escute, eu disse, tenho que ir.
você fica aqui. já volto.
vou embora, ela disse. eu te amo mas você é
louco, um caso perdido.
ela apanhou a bolsa e bateu a porta.
provavelmente é algum disturbio profundamente enraizado na
infância
que me faz assim vulnerável, pensei. então saí de casa e fui até meu fusca.
dirigi para o norte pela Western com o rádio ligado.
havia putas caminhando pra lá e pra cá
dos dois lados da rua e Madge parecia mais perdida do que qualquer uma delas.
A NOITE SERÁ DEVAGAR
bem, aqui estou eu de novo
ouvindo as boas e velhas
músicas de novo,
sentindo tristeza,
a boa
tristeza à moda antiga
em que as lágrimas
não chegam a sair.
bom.
ouço mais um pouco.
a mente pode
consumir quantidades
mágicas de memória
enquanto a noite se
desdobra noite adentro,
enquanto outro charuto
é acesso,
como se pode ficar terrivelmente amuado
quando velhas
músicas seguem-se uma às
outras,
rostos são lembradas,
rostos jovens,
como fatias novas de uma
maçã, estão mortos
agora,
quase todos eles
mortos
agora.
a aparente
beleza e
a aparente bravura, se foram.
sentado aqui permitindo que meus
melhores sentidos
sejam diluídos pela
melancolia, um homem
velho,
lembrando
de novo, olhando de cima
a baixo o bar imaginário
cheio de assentos vazios,
pensando naquela
criança com os loucos
olhos vermelhos
que sentava lá
enchendo o copo e enchendo e enchendo e
enchendo
de novo ao ponto da
imbecilidade,
agora lembrando,
ouvindo de novo,
permitindo a idiotice
entrar de novo,
somos todos
idiotas para sempre
idiotizados para sempre.
alegremente.
agora.
OUTRA CAMA
outra cama outra mulher
mais cortinas outro banheiro
outra cozinha
outros olhos outro cabelo
outros pés e dedos.
todos à procura.
a busca eterna.
você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu à última e à outra antes dela…
é tudo tão confortável - esse fazer amor esse dormir juntos
a suave delicadeza…
após ela sair você se levanta e usa o banheiro dela, é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e dorme mais uma hora.
quando você vai embora é com tristeza mas você a verá novamente quer funcione, quer não.
você dirige até a praia e fica sentado em seu carro. é meio-dia.
- outra cama, outras orelhas, outros brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos, cores, portas, números de telefone.
você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais sensato.
você dá a partida no carro e engata a primeira,
pensando, vou telefonar para Janie logo que chegar,
não a vejo desde sexta-feira.
462-0614
agora recebo muitas chamadas de telefone. todas iguais.
"é Charles Bukowski, o escritor?"
"sim," eu lhes respondo. e eles dizem que entendem minha escrita.
alguns deles são escritores ou querem ser escritores
e estão em empregos estúpidos e horríveis
e não conseguem nem encarar a sala o apartamento
as paredes
essa noite... querem alguém com quem possam conversar,
não podem acreditar que não posso ajudá-los
que não conheço as palavras. não podem acreditar que agora mesmo me dobro em meu quarto
segurando minhas entranhas e dizendo. "Jesus Jesus Jesus, de novo não!"
eles não podem acreditar que as pessoas mal-amadas
as ruas a solidão
as paredes
também são minhas e quando desligo o telefone eles acham que escondi o jogo.
Não escrevo a partir da sabedoria.
quando o telefone toca eu também gostaria de ouvir palavras
que pudessem aliviar um pouco alguma dessas coisas. é por isso que meu nome está na lista.
MEUS CAMARADAS
aquele ali ensina
aquele outro vive com a mãe.
e aquele outro é sustentado por um pai alcoólatra e rubicundo dono de um cérebro de mutuca.
aque ali toma boletas e vem sendo sustentado pela mesma mulher há 14 anos.
aquele outro escreve um romance a cada dez dias msa ao menos paga o próprio aluguel.
aquele ali vai de lugar em lugar
dormindo em sofás, bebendo e proferindo seus discursos.
aquele ali imprime seus próprios livros numa máquina copiadora.
aquele outro vive num vestiário abandonado num hotel de Hollywood.
aquele parece saber como arranjar tostão depois de tostão, sua vida é um preencher de formulários.
aquele ali simplesmente é rico e vive nos melhores lugares enquanto bate às melhores portas.
aquele lá tomou café com Willian Carlos Willian.
e aquele ali ensina.
e aquele ali ensina.
e aquele ali publica livros de auto-ajuda sobre como fazer as coisas e usa uma voz dominadora e cruel.
eles estão em todo o lugar.
todos são escritores. e quase todo escritor é um poeta.
poetas poetas poetas
poetas poetas poetas poetas poetas poetas
a próxima vez que o telefone tocar será um poeta.
a próxima pessoa a bater à porta ser á um poeta.
aquele ali que ensina e aquele outro vive com a mãe
e aquele lá está escrevendo a história de Ezra Pound.
oh, irmãos, somos as mais doentes e as piores criaturas da raça.
LEMBRANÇA
com um murro, aos 16 anos e ½, derrubei meu pai,
um filho da puta cruel com mau hálito,
e não voltei para casa por um tempo, só vez por outra para batalhar um dólar com a querida mamãe. Era 1937 e Los Angeles era uma grande Viena.
…
eu? Tenho 30 anos, a cidade está quatro ou cinco vezes maior
mas tão acabada quanto e as garotas ainda cospem quando passo, outra guerra se cria por outra razão, e não consigo emprego agora pela mesma razão de
outrora:
não sei fazer nada, não consigo fazer nada.
SPLASH
[...] isto não é um poema. Poemas são um tédio, eles te fazem dormir. Estas palavras te arrastam para uma nova loucura.
Você foi abençoado, você foi atirado num
lugar que cega de tanta luz. O elefante sonha com você agora.
A curva do espaço se curva e ri.
Você já pode morrer agora. Você já pode morrer do jeito que as pessoas deveriam morrer:
esplêndidas, vitoriosas, ouvindo a música, sendo a música, rugindo, rugindo, rugindo.
BRINCOS ENORMES
saio para buscá-la.
ela está em alguma missão.
ela está sempre cheia de missões muitas coisas pra fazer.
nunca tenho nada pra fazer.
ela sai de seu apartamento
vejo-a se aproximar do meu carro
ela vem descalça
vestida de modo casual exceto pelos enormes brincos.
acendo um cigarro e quando ergo os olhos
ela está estirada no meio da rua
uma rua bastante movimentada
todos os seus 50 quilos
tão magníficos quanto qualquer coisa que você possa imaginar.
ligo o rádio e espero ela se levantar.
ela o faz.
abro a porta do carro.
ela entra. afasto-me do cordão da
calçada. ela gosta da canção que toca na rádio e aumenta o volume.
ela parece gostar de todas as canções
ela parece conhecer todas as canções
cada vez que a vejo ela parece ainda
melhor
200 anos atrás eles a teriam queimado
em um poste
agora ela passa seu
rimel enquato nosso
carro segue adiante.
TÃO LOUCO COMO SEMPRE FUI
Bêbado e escrevendo poemas às 3 da manhã o que importa agora é mais uma boceta apertada antes que a luz se apague bêbado e escrevendo poemas as 3h15 da manhã algumas pessoas me
dizem que sou famoso.
o que estou fazendo sozinho bêbado e escrevendo poemas as 3h18 da manha? Sou tão louco quanto sempre fui eles não entendem que não parei de me pendurar pelos
calcanhares da janela do 4 andar - eu ainda o faço agora mesmo aqui sentado ao escrever estas
linhas estou pendurado pelos calcanhares vários andares acima: 68, 72, 101, a sensação é a
mesma: implacável, banal e necessária. Aqui sentado bêbado e escrevendo poemas as 3h24 da manhã.
NOVA GUERRA
e pensar que, depois que eu me for, haverá mais dias para os outros, outros dias,
outras noites.
cães andando, árvores balançando ao vento
não deixarei tanto.
algo para ler, talvez.
um rebelde na estrada devastada
Paris às escuras.
CERVEJA
Não sei quantas garrafas de cerveja consumi esperando que as coisas melhorasse. Não sei quanto vinho e uísque e cerveja, principalmente cerveja consumi depois de
rompimentos com mulheres
Esperando o telefone tocar Esperando o som dos passos, e o telefone nunca toca
Antes que seja tarde demais e os passos nunca chegam
Antes que seja tarde demais.
Quando meu estômago já está saindo pela boca elas chegam frescas como flores de primavera: "Mas que diabos você está fazendo? vai levar três dias antes que você possa me comer!"
A mulher é durável, vive sete anos e meio a mais que o homem, bebe pouca cerveja porque sabe
como ela é ruim para a aparência. Enquanto enlouquecemos elas saem, dançam e riem com caubóis cheios de tesão.
Bem, há a cerveja, sacos e mais sacos de garrafas vazias de cerveja e quanto você pega uma, as
garrafas caem através do fundo úmido do saco de papel rolando, tilinando, cuspindo cinza molhada e cerveja choca, ou então os sacos caem às 4 horas da manhã produzindo o único som
em sua vida.
Cerveja, rios e mares de cerveja, cerveja, cerveja, cerveja.
O rádio toca canções de amor enquanto o telefone permanece mudo e as paredes seguem paradas e estáticas, e a cerveja é tudo o que há.
SEM CHANCE DE AJUDA
há um lugar no coração que nunca será preenchido um espaço e mesmo nos melhores momentos
e nos melhores tempos
nós saberemos nós saberemos mais que nunca
há um lugar no coração que nunca será preenchido
e nós iremos esperar e esperar
nesse lugar.
CORCUNDA
eu fui amado por muitas mulheres e, para uma vida corcunda isso é uma sorte
tantos dedos adentrando meus cabelos
tantos abraços apertados tantos sapatos atirados sem cuidado no tapete do meu
quarto.
tantos corações em busca
agora tão nítidos em minha memória que caminharei para a morte, lembrando tenho sido tratado melhor do que deveria ser - não pela vida em geral
nem pelo mecanismo das coisas
mas pelas mulheres mas houveram mulheres que me deixaram plantado no quarto sozinho
encurvado
com as mãos no saco pensando por quê por quê por quê por quê?
mulheres vão para homens que são porcos
mulheres vão para homens com almas mortas
mulheres vão para homens que trepam pessimamente mulheres vão para sombras de homens
mulheres vão
vão porque precisam ir pela ordem das coisas.
as mulheres sabem mais
mas muitas vezes escolhem na confusão e desordem
elas podem curar com seu toque elas podem matar o que tocam e eu estou morrendo
mas não estou morto ainda.
FOI ISSO QUE MATOU DYLAN THOMAS
...Mas não consigo deixar de pensar nos anos em quartos solitários, quando as únicas pessoas que batiam à minha porta eram as senhorias cobrando o aluguel atrasado ou o FBI. Vivia com
ratos e camundongos e vinho, meu sangue escorria pelas paredes em um mundo que não
conseguia compreender e ainda não compreendo. Em vez de levar a vida que eles levaram, eu passava fome. Fugia para dentro de minha própria mente e me escondia. Fechava todas as
cortinas e ficava olhando para o teto. Quando saía, era para ir a um bar onde eu mendigava por
bebida, andava a esmo, apanhava nos becos de homens bem-alimentados e confiantes, de
homens idiotas e com vida confortáveis. Bem, ganhei algumas lutas, mas só porque era louco. Fiquei anos sem mulher, vivia de manteiga de amendoim e pão amanhecido e batatas cozidas.
Eu era o idiota, o estúpido, o louco. Queria escrever, mas a máquina de escrever estava sempre
penhorada. Então eu desistia e bebia.
CAIXÃO DA CRIAÇÃO
O caixão da criação, a capacidade de sofrer e resistir, isso é nobreza, amigo. A capacidade de sofrer e resistir por uma idéia, um sentimento, um
caminho, isso é arte, meu amigo. A capacidade de sofrer e resistir quando o amor falha, isso é o
inferno, velho amigo. Nobreza, arte e inferno, vamos falar sobre arte por uns instantes. Destino é a minha estropiada filha. Repara, é difícil, eu
contra eles,com eles.
Kafka, deixa-me entrar!
Hemingway acautela-te! Hegel, tens piada!
Cervantes, queres dizer que escreveste esse romance aos 80 anos? Grandes escritores são gente
indecente, eles vivem injustamente guardando a melhor parte para o papel. Bons seres humanos salvam o mundo para que patifes como eu possamos continuar a criar arte, tornar-nos imortais.
Se leres isto depois de eu ter morrido há muito significa que consegui. Portanto escritores do
mundo agora é a vossa vez de maltratar a vossa mulher abusar dos vossos filhos amarem-se a vós próprios viver dos fundos de outrem ter aversão a toda a arte criada antes e durante o vosso
tempo, e ter aversão ou mesmo odiar a humanidade um a um ou em massa. Patifes, mesmo que
leiam isto depois de ter morrido há muito esqueçam-me. Eu provavelmente não era assim tão
bom.
A BELA RESISTÊNCIA DE EZRA
há uns milhares de ingleses licenciados em literatura
que pensam tomar o lugar de Ezra
ou cummings ou Eliot
quando a melhor coisa que lhes acontecerá
é acabarem como caixas
nas Lojas Safeway e a perguntar
(sob as diretrizes da gerência)
"Como está o sr. hoje?"
e não obterem resposta nenhuma.
SE VAI TENTAR...
Se vai tentar siga em frente. Senão, nem comece! Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.
Pode significar ficar sem comer por dias, Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...
A desolação é o presente O resto é uma prova de sua paciência,do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar. Se vai tentar,Vá em frente. Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.
O SOL É DOMINANTE, COMO UMA TOCHA LÁ NO ALTO
O sol é dominante, como uma tocha lá no alto. Os jatos cruzam ao seu lado
E os foguetes saltam feito sapatos.
A paz não é mais preciosa. A loucura circula como lírios em volta da lagoa...
Os artistas pintam suas cores
vermelhas, verdes, amarelas!
Os poetas rimam sua solidão, os músicos morrem de fome,
Os escritores erram o alvo,
mas não os pelicanos, não as gaivotas. Os pelicanos mergulham, sobem, arrepiados quase mortos
Com peixes radioativos em seus bicos.
O céu se acende de vermelho, as flores desabrocham como sempre,
Mas cobertas de uma fina poeira de combustível e cogumelos.
Cogumelos envenenados!
E em milhões de alcovas, os amantes se entrelaçam Perdidos e doentes como a paz!
Não podemos acordar?
Temos de continuar, amigos... A morrer enquanto dormimos?
LANÇAR OS DADOS
Muito, muito pouco, muito gordo, muito fino ou ninguém. Estranhos com faces como as costas de uma tachinha.
O exército correndo através de ruas de sangue,
acenando com garrafas de vinho Atirando e violando as virgens.
Ou um homem velho em um quarto barato
com uma fotografia de Marilyn Monroe.
Há uma solidão nesse mundo tão grande Que você pode ver em câmera lenta,
nas mãos de um relógio
Pessoas tão cansadas, mutiladas por amor, ou não pelo amor.
As pessoas não são boas com as outras
Os ricos não são bons com os outros ricos E os pobres não são bons com os outros pobres
Nós estamos com medo.
Nosso sistema educacional nos mostra que todos
nós podemos ser malditos vencedores. Não nos foi dito sobre os marginais ou os suicidas
Ou o terror de uma pessoa que agoniza sozinha.
As contas vão balançar As nuvens serão nuvens e o assassino decapitará uma
criança como dar uma mordida num cone de sorvete.
Muito, muito pouco, muito gordo, muito fino ou ninguém.
Mais odiadores que amantes As pessoas não são boas umas com as outras
Talvez se elas fossem, nossas mortes não seriam tão tristes
No entanto, eu olho para as garotas jovens, pele, flores da temporada
Deve haver um jeito
Certamente há um jeito que nós ainda não pensamos Quem colocou esse cérebro dentro de mim?
Ele chora, exige, diz que há chance
Se nega a dizer não.
DINOSAURIA, NÓS
Nascidos como isso Adentro isso
Enquanto as caras de giz sorriem
Enquanto a Srª Morte ri Enquanto os elevadores quebram
Enquanto cenários políticos dissolvem
Enquanto o empacotador do supermercado ganha um diploma universitário
Enquanto peixes oleosos cospem fora suas presas oleosas Enquanto o sol é mascarado
Nós somos
Nascidos como isso Adentro isso
Adentro essas guerras cuidadosamente loucas
Adentro a visão de janelas de fábricas quebradas de vazio Adentro bares onde as pessoas não mais conversam umas com as outras
Adentro trocas de soco que acabam como tiroteios e esfaqueamentos
Nascidos adentro isso
Adentro hospitais que são tão caros que é mais barato morrer Adentro advogados que cobram tanto que é mais barato declarar culpa
Adentro um país onde as cadeias estão cheias e os hospícios fechados
Adentro um lugar onde as massas promovem idiotas a heróis ricos Nascidos adentro isso
Andando e vivendo através disso
Morrendo por causa disso
Emudecidos por causa disso Castrados
Depravados
Deserdados Por causa disso
Enganados por isso
Usados por isso Emputecidos por isso
Tornados loucos e doentes por isso
Tornados violentos
Tornados desumanos Por isso
O coração enegrecido
Os dedos se estendem para a garganta A arma
A faca
A bomba Os dedos se estendem em direção a um deus irresponsivo
Os dedos se estendem para a garrafa
A pílula
A pólvora Nós somos nascidos adentro essa lamentável mortalidade
Nós somos nascidos adentro um governo há 60 anos em dívida
Que logo será incapaz de pagar até mesmo os juros dessa dívida E os bancos irão queimar
Dinheiro será inútil
Haverá assassinato livre e impune nas ruas
Serão armas e quadrilhas nômades Terra será inútil
Comida será um rendimento decrescente
Força nuclear será tomada pela multidão
Explosões irão continuamente sacudir a Terra Homens-robôs radioativos irão espreitar uns aos outros
Os ricos e os escolhidos irão assistir de plataformas espaciais
O Inferno de Dante se fará parecer com um parque de diversões infantil O Sol não será visto e será sempre noite
Árvores irão morrer
Toda a vegetação irá morrer
Homens radioativos comerão a carne de homens radioativos O mar será envenenado
Os lagos e rios irão sumir
Chuva será o novo ouro Os corpos em apodrecimento de homens e animais irão feder no vento escuro
Os últimos poucos sobreviventes serão tomados por novas e terríveis doenças
E as plataformas espaciais serão destruídas pelo desgaste O esgotamento dos suprimentos
O efeito natural do decaimento geral
E haverá o mais bonito silêncio jamais ouvido
Nascido fora disso. O Sol ainda escondido
aguarda o próximo capítulo.
VOCÊ
você é uma fera, ela disse sua enorme barriga branca
e seus pés cabeludos.
você jamais corta as unhas e tem mãos gordas
como as patas de um gato
seu nariz vermelho e brilhante
e os maiores bagos que eu já vi.
você lança esperma como
uma baleia lança água pelo buraco das costas.
fera, fera, fera, ela me beijou,
o que você quer para o
café da manhã?
NA NOITE EM QUE EU IA MORRER
Na noite em que eu ia morrer Eu estava suando na cama
E eu podia ouvir os grilos
E teve uma briga de gatos lá fora E eu podia sentir minha alma descendo através do colchão
E pouco antes de bater no chão eu pulei
Eu estava quase fraco demais para andar
Mas eu andei e acendi todas as luzes E então eu voltei à cama
E cai pra baixo de novo
Eu levantei ligando todas as luzes Eu tinha uma filha de sete anos
E eu tinha certeza que ela não ia me querer morto
Caso contrário, não teria importado Mas toda aquela noite
Ninguém ligou
Ninguém veio com uma cerveja
Minha namorada não ligou Tudo o que eu podia ouvir eram os grilos e foi quente
E eu continuei trabalhando nisso
Indo pra cima e pra baixo Até que o sol entrou pela janela
Através dos arbustos
E depois eu fiquei na cama
E a alma ficou dentro e, finalmente, Eu dormir.
Agora as pessoas vêm
Batendo nas portas e janelas O telefone toca
O telefone toca de novo e de novo
Eu recebo grandes cartas na caixa de correio Odeio cartas e cartas de amor.
Mesma coisa de sempre de novo.
O HOMEM COM BELOS OLHOS
Quando éramos crianças havia uma casa estranha. Todas as persianas estavam sempre fechadas.
E nós nunca ouvíamos vozes lá dentro.
E o jardim estava cheio de bambu. E nós gostávamos de brincar no bambu.
Fingindo ser Tarzan, ainda que não houvesse Jane.
E tinha um tanque muito grande
Cheio dos maiores peixes dourados que você já viu. E eles estavam domesticados.
Eles vinham para a superfície da água
E comiam pedaços de pão das nossas mãos. Nossos pais haviam nos dito:
“Nunca cheguem perto daquela casa.”
Então, claro, nós íamos. Nos perguntávamos se alguém morava lá.
Semanas se passaram e nós nunca vimos ninguém.
E um dia nós ouvimos uma voz vindo da casa.
“Sua maldita puta!” Era uma voz de homem.
Então a porta de tela da casa se abriu
E o homem caminhou para fora. Ele segurava meio litro de uísque na sua mão direita.
Ele tinha uns 30 anos.
Ele tinha um charuto na boca, precisava se barbear.
Seu cabelo estava revolto e despenteado E ele estava descalço de camiseta e calças.
Mas seus olhos eram brilhantes.
Eles abriram com o brilho e disse: “hei, pequenos cavalheiros, estão tendo um bom tempo? Eu espero...”
Logo deu uma pequena risada e caminhou de volta para casa.
Nos fomos, voltamos para o jardim dos nossos pais, e pensamos nele. Nossos pais, nós decidimos, não queriam que nós fôssemos ali
Porque queriam que nunca víssemos um homem como aquele,
Um forte e natural homem com belos olhos.
Nossos pais tinham vergonha por não serem como aquele homem. Por isso não queriam que fôssemos lá.
Mas nós voltamos naquela casa e o bambu e os peixes dourados domesticados.
Nós voltamos várias vezes durante várias semanas Mas nós nunca vimos ou ouvimos o homem de novo.
As persianas estavam fechadas, como sempre, e estava silencioso.
Então um dia quando nós voltávamos da escola nós vimos a casa. Estava queimada, não tinha sobrado nada,
Só os cimentos fumegados, negros e retorcidos.
E nós fomos ao tanque dos peixes e não havia água lá
E os gordos peixes dourados estavam ali, mortos, secando. Nós voltamos ao jardim dos nossos pais e falamos sobre isso.
E decidimos que nossos pais tinham queimado a casa,
Eles mataram, eles mataram os peixes dourados Porque eram bonitos de mais, até a floresta de bambu, tinham queimado.
Eles tinham medo do homem com belos olhos.
E nós tínhamos medo, de que em todas nossas vidas
Aconteceriam coisas assim, de que ninguém queria alguém Para ser forte e bonito dessa forma,
De que os demais não permitiriam isso,
E que muitas pessoas teriam de morrer.
O HOMEM AO PIANO
O homem ao piano Toca uma música
que ele não compôs,
Canta palavras que não são suas,
Em um piano
que não é seu.
Enquanto
as pessoas à mesa
Comem, bebem e conversam,
O homem ao piano
termina sem aplausos.
Então
começa a tocar uma nova canção
Que ele não escreveu
Começa a cantar palavras
que não são suas,
Em um piano
que não é seu.
E como as pessoas
às mesas Continuam a
comer, beber e conversar,
Quando
ele termina
sem ser aplaudido,
Ele anuncia pelo microfone Que vai
fazer uma pausa
de dez minutos.
Ele vai até
o banheiro masculino,
Entra
em um reservado,
tranca a porta, Senta,
puxa um baseado
e acende,
Satisfeito
de não estar
ao piano.
E as
pessoas as mesas
comendo, Bebendo e conversando satisfeitas
Por ele também
não estar lá.
Assim
acontece
em quase toda a parte, Com todos e com tudo,
Enquanto ferozmente,
no interior, O
gueto negro incendeia.
OS ÚLTIMOS DIAS DO GAROTO SUICIDA
Eu posso me ver agora Depois desses dias e noites suicidas
Sendo jogado fora de uma daquelas casas de repouso estéreis
Claro, isso aconteceria apenas se eu me tornar rico e famoso Por uma zangada e anormal enfermeira
Ali estou eu sentado firme em minha cadeira de rodas
Quase cego com os olhos rodando atrás da obscuridade do meu crânio
Buscando a misericórdia da morte - Não é um belo dia, Sr. Bukowski?
- Oh sim, sim
As crianças caminham ao colégio e eu sequer existo E as mulheres encantadoras caminham por aqui
Com seus quadris grandes e ardentes
Bundas calorosas e firmes, ardentes por onde as olhem Implorando para serem amadas e eu sequer existo
- É o primeiro raio de sol que temos em três dias Sr. Bukowski
- Oh sim, sim
Ali estou eu sentado firme em minha cadeira de rodas Mais branco que uma folha de papel, pálido
O cérebro se foi, o risco se foi, eu, Bukowski fui
- Não é um dia encantador Sr. Bukowski? - Oh sim, sim
Mijando em meus pijamas, babando em toda a droga da minha boca
Dois jovens colegiais passando correndo
- eh, você viu esse velho? - meu Deus, vi, ele me dá nojo
Depois de todas as ameaças que fez
Mais alguém já cometeu suicídio por mim No fim
A enfermeira pega a rosa de um arbusto e a coloca em minha mão
E eu sequer sei o que é, poderia ser meu pau Para tudo de bom que foi feito
ARANHA
Então houve um tempo em New Orleans Em que eu vivia com uma gorda,
Marie, no Bairro Francês
E fiquei bastante doente. Enquanto ela estava no trabalho
Ajoelhei-me naquela tarde na cozinha e
Rezei.
Não sou um homem religioso Mas era uma tarde escura demais e eu rezei:
“caro Deus: se você me poupar,
prometo-lhe nunca mais tomar outro trago”. Fiquei ali de joelhos e foi como estar num filme
Ao terminar minha oração
As nuvens se abriram e o sol Rasgou as cortinas e deitou sobre mim.
Então me ergui e fui dar uma cagada.
Havia uma aranha enorme no banheiro da Marie.
Mas caguei do mesmo jeito. Uma hora depois comecei a me sentir muito melhor.
Dei uma volta pelo bairro e sorri para as pessoas.
Parei na mercearia e comprei uma dúzia de cervejas para Marie. Comecei a me sentir tão bem que uma hora depois
Me sentei na cozinha e abri uma das cervejas.
Esvaziei-a e depois outra
E então fui lá e matei a aranha. Quando Marie voltou do trabalho
Eu estava me sentindo muito bem
Eu lhe dei um beijo daqueles, depois Sentei na cozinha e conversamos
Enquanto ela preparava o jantar.
Ela me perguntou o que eu tinha feito naquele dia E eu lhe disse que tinha matado uma aranha.
Ela não ficou brava.
Era uma boa pessoa.
ESTILO
Estilo é a resposta de tudo. É um jeito especial de fazer uma tolice ou algo perigoso.
Antes fazer uma tolice com estilo do que algo perigoso sem estilo.
Fazer algo perigoso com estilo é o que chamo de arte. Uma tourada pode ser arte.
O boxe pode ser arte.
Amar pode ser arte.
Abrir uma lata de sardinha pode ser arte. Poucos têm estilo.
Poucos mantêm o estilo.
Já vi cães com mais estilo que os homens... Apesar de que poucos cães têm estilo.
Gatos têm muito mais estilo.
Quando Hemingway estourou seus miolos, teve estilo. Há pessoas que dão estilo.
Joana D’arc tinha estilo.
João Batista
Jesus Sócrates
César
Garcia Lorca. Conheci homens na prisão com estilo.
Conheci mais homens na prisão com estilo do que fora.
Estilo faz a diferença.
O jeito de fazer. O jeito de ser feito.
Seis garças tranqüilas na beira de um lago...
Ou você, saindo nua do banheiro, sem me ver.
QUANDO O ESPÍRITO SE DESVANECE, APARECE A FORMA
Quando um artista, Um poeta,
Ou qualquer coisa assim perde seu espírito...
Isso afeta tudo o que ele vai fazer, E quanto mais fracos eles ficarem,
Mais preocupados com a forma eles ficarão
E tentarão esconder o fato de que eles não estão
Mais escrevendo bem, Pela escrita formal.
O BANHO
Nós gostamos de tomar banho posteriormente Eu gosto da água mais quente do que ela
Sua face é sempre macia e serena
Ela me lava primeiro, ensaboa minhas bolas Levantando e apertando-as
Enquanto lava meu pênis
- hei, essa coisa continua dura.
Então lava os pelos pubianos, A barriga, costas, pescoço, pernas
Eu sorrio, sorrio, sorrio e depois lavo ela.
Outro beijo e ela sai primeiro, enrolada na toalha, Às vezes cantando enquanto eu continuo dentro
Aumentando a temperatura da água,
Sentindo os bons momentos do milagre do amor. Linda, você trouxe isso pra mim.
Quando você se afastar,
Faça devagar e suavemente
Faça como se eu tivesse morrendo No meu sonho em vez da minha vida,
Amém.
GAROTAS CALMAS E LIMPAS EM VESTIDOS DE ALGODÃO
tudo o que eu sempre conheci sempre foram putas, ex-prostitutas, loucas. Vejo homens com mulheres calmas e
gentis - vejo-os nos supermercados,
caminhando juntos na rua, eu os vejo em seus apartamentos: pessoas em
paz, vivendo juntas. Sei que essa paz
é apenas parcial, mas
existe paz, muitas horas e dias de paz.
tudo o que eu sempre conheci foram boleteiras, alcoólatras,
putas, ex-prostitutas, loucas.
quando uma vai
outra vem pior do que sua antecessora.
vejo tantos homens com garotas calmas e limpas em
vestidos de algodão garotas com rostos que não são de predadoras ou de
feras.
"nunca traga uma puta junto com você," eu digo para meus
poucos amigos, "eu me apaixonarei por ela."
"você não consegue suportar uma boa mulher, Bukowski."
preciso de uma boa mulher. Preciso de uma boa mulher
mais do que da máquina de escrever, mais do que do meu automóvel, mais do que de
Mozart; preciso tanto de uma boa mulher que posso
senti-la no ar, posso senti-la na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas
para seus pés caminharem,
posso ver travesseiros para sua cabeça,
posso sentir a expectativa da minha risada, posso vê-la acariciar um gato,
posso vê-la dormir,
posso ver seus chinelos no chão.
eu sei que ela existe
mas em que parte deste planeta ela está enquanto as putas continuam me encontrando?
NOITE DE NATAL
noite de Natal, sozinho, num quarto de motel junto à costa perto do Pacífico -
ouviu?
eles tentaram fazer desse lugar algo espanhol, há
tapeçarias e lâmpadas, e o banheiro é limpo, há
minibarras de sabonete rosa.
não nos encontrarão por aqui:
as piranhas ou as damas ou os adoradores
de ídolos.
lá na cidade eles estão bêbados e em pânico
furando sinais vermelhos arrebentando suas cabeças
em homenagem ao aniversário de
Cristo. Isso é uma beleza.
em breve terei terminado esta garrafa de
rum porto-riquenho.
pela manhã vomitarei e tomarei banho, voltarei para casa, comerei um sanduíche à uma da tarde,
estarei no meu quarto por volta das duas,
estirado na cama, esperando o telefone tocar,
sem responder, meu feriado é uma evasão, minha razão
não é.
EVENTO
hoje à noite, mais cedo, houve um incêndio na
vizinhança.
ficamos lá assistindo ao incêndio,
e quando o apagaram
não havia nada a não ser o cheiro
de fumaça e madeira queimada molhada, e então os bombeiros se foram
e todos nós voltamos para nossos pequenos quartos.
olhando pela janela eu podia ver 2 ou 3
velhas
ainda falando sobre isso.
fui até o fogão
e pus um pouco de café
no fogo e então liguei o rádio
esperando algo
novo.
MANICÔMIO
Não são grandes coisas que levam um homem ao manicômio. A morte está à espreita.
Ou o assassinato, incesto, roubo, fogo, inundação.
Não. É uma contínua série de pequenas tragédias. É o que leva um triste homem ao manicômio.
Não é pela morte de seu amor...
Mas um cordão que se rompe sem tempo restante.
Com cada cordão rompido Entre centenas de cordões rompidos
Um homem, uma mulher, uma coisa entra no manicômio.
Então seja cuidadoso quando dobrar a esquina.
A TRAGÉDIA DAS FOLHAS
acordei numa secura e as samambaias, mortas, nos potes as plantas amarelas igual milho;
minha mulher foi embora
e as garrafas vazias iguais corpos sangrados ao meu redor sem utilidade;
o sol ainda era bom, apesar disso,
e o bilhete da senhoria ia bem e
num tom amarelado sem demandas; o que era preciso agora
era um bom comediante, estilo antigo, um bobo
com piadas sobre a dor absurda; a dor é absurda porque existe, nada mais;
fiz a barba cuidadosamente com
uma velha lâmina, o homem que já foi jovem e
que diziam ser genial; mas
essa é a tragédia das folhas,
das samambaias mortas, das plantas mortas;
e eu entrei num corredor escuro
onde a senhoria de pé esperava, malcriada e terminal,
me mandando pro inferno,
balançando seus braços gordos e suados
e gritando gritando para receber o aluguel
por que o mundo havia falhado com nós
dois.
A GERAÇÃO PERDIDA
tava lendo um livro sobre uma literata rica dos anos vinte e seu marido que
beberam, comeram e farrearam por toda a
Europa encontrando Pound, Picasso, A. Huxley, Lawrence, Joyce,
F. Scott, Hemingway, muitos
outros;
os famosos eram como brinquedinhos preciosos para eles,
e pelo que li
os famosos se permitiram tornar brinquedinhos preciosos.
durante o livro inteiro
esperei pra que só um dos famosos falasse a essa literata rica e seu
marido literato rico pra
que se mandassem
mas, aparentemente, nenhum deles o fez.
Em vez disso foram fotografados com a moça
e seu marido em várias praias
com cara de inteligente
como se tudo isso fosse parte do ato
da Arte. talvez a mulher e o marido
serem donos de uma imprensa chique
tivesse algo a ver com isso.
e foram todos fotografados juntos
em festas ou do lado de fora da livraria da Sylvia Beach.
é verdade que muitos deles foram
artistas ótimos e/ou originais,
mas tudo parecia um negócio tão precioso esnobe,
e o marido finalmente cometeu seu
tão ameaçado suicídio e a mulher publicou um de meus primeiros
contos nos anos
40 e agora já morreu, mas
eu não consigo perdoar nenhum dos dois
por suas vidas ricas idiotas
e não consigo perdoar seus brinquedinhos preciosos também
por terem sido
isso.
O MUNDO CHEIO DE JOÃO
João com o cabelo solto, João exigindo dinheiro,
João da barriga grande,
João da voz alta, alta, João da troca,
João que se exibe para as garotas,
João que acha que é um gênio,
João que vomita, João que fala mal dos sortudos,
João ficando cada vez mais velho,
João ainda exigindo dinheiro, João escorregando pelo pé de feijão,
João que fala mas não faz,
João que escapa impune do assassinato, João que faz biscates,
João que fala dos velhos tempos,
João que fala e fala,
João com a mão estendida, João que aterroriza os fracos,
João, o amargurado,
João dos cafés, João implorando reconhecimento,
João que nunca tem emprego,
João que superestima totalmente seu potencial,
João que fica gritando sobre seu talento não reconhecido, João que culpa a todos.
Você sabe quem é João, você o viu ontem, você o verá amanhã, você o verá semana que vem. Querendo sem fazer, querendo de graça.
Querendo fama, querendo mulheres, querendo tudo.
Um mundo cheio de Joãos descendo pelo pé de feijão.
SEJA BONDOSO
sempre nos pedem para compreender o ponto de vista
do próximo
não importa quão antiquado
tolo ou
obnóxio.
pedem para
enxergar
com bondade
todos os seus erros
suas vidas desperdiçadas, principalmente se eles são
velhos.
mas envelhecer é tudo que nós fazemos.
eles envelheceram
mal porque
viveram
fora de foco,
eles se recusaram a entender.
não é culpa deles?
é culpa de quem?
minha?
me pedem para esconder
deles
meu ponto de vista por medo de seus
medos.
envelhecer não é crime
mas a vergonha de uma vida
deliberadamente
desperdiçada
entre tantas
vidas
deliberadamente desperdiçadas
é.
CONVERSA ÀS TRÊS E MEIA DA MADRUGADA
às três e meia da madrugada a porta se abre
e há passos na entrada
que trazem um corpo, e uma batida
e você repousa a cerveja
e vai ver quem é.
com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?
e ela entra
com o cabelo nos rolinhos
e num robe de seda estampado de coelho e passarinho
e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta 2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela, e ela tem estado procurando emprego
nos últimos 32 dias.
você diz a ela que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e canções românticas,
e depois de uns dois copos ela não se preocupa com cobrir
as pernas
com a beira do robe que está sempre caindo.
não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas, e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolinhos,
e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos porque ela tem me visto na entrada.
e finalmente
há muito pouca coisa para dizer.
TANTA SORTE
estávamos em uma mesa, homens e mulheres,
após o jantar.
de alguma maneira a conversa girou
em torno da
TPM.
uma das senhoras declarou com firmeza que
a única cura para
TPM era a
velhice.
houveram outros comentários
que eu
esqueci,
exceto por um feito por
um convidado alemão
que já foi casado, e agora é divorciado.
além disso, eu o vi
com
várias garotas
jovens e bonitas.
de qualquer maneira, após ouvir calmamente
nossa conversa
por algum tempo ele nos perguntou,
“o que é TPM?”
aqui estava alguém verdadeiramente tocado
pelos
anjos.
a luz era tão
brilhante que todos nós
desviamos
o olhar.
POEMA NOS MEUS 43 ANOS
Terminar sozinho no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida — careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter um quarto.
...de manhã eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros, encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas, garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi...
e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas e não
direto nos olhos.
UM POEMA É UMA CIDADE
um poema é uma cidade cheia de ruas e esgotos cheia de santos, heróis, pedintes, loucos,
cheia de banalidade e bebedeira,
cheia de chuva e trovão e períodos de seca, um poema é uma cidade em guerra,
um poema é uma cidade perguntando ao relógio por quê,
um poema é uma cidade em chamas,
um poema é uma cidade rendida por armas suas barbearias cheias de bêbados cínicos,
um poema é uma cidade onde Deus anda pelado
pelas ruas como Lady Godiva, onde cães latem à noite e perseguem a bandeira;
um poema é uma cidade de poetas,
quase todos um tanto semelhantes e invejosos e amargos...
um poema é uma cidade agora,
50 milhas de lugar nenhum,
9:09 da manhã, o gosto de bebida e de cigarros,
sem polícia, sem amantes, andar pelas ruas,
este poema, esta cidade, as portas fechadas, barricadas, quase vazia,
desolada sem lágrimas, envelhecendo sem pena,
as montanhas rochosas,
o oceano como chama de lavanda, uma lua destituída de grandeza,
a pequena música que vem das janelas quebradas...
um poema é uma cidade, um poema é uma nação, um poema é o mundo...
e agora eu enfio isso debaixo do copo
para o exame detalhado do editor maluco, e a noite está noutro lugar
e débeis damas cinzentas estão na fila,
cão segue cão até o estuário,
as trombetas trazem a forca enquanto homens pequenos se gabam de coisas
que não podem fazer.
CONVERSA NUM TELEFONE
Eu poderia dizer pelo rastejo do gato Do jeito que estava desanimado
Que tinha sido insano com a presa;
E quando meu carro foi pra cima dele Ele pulou no crepúsculo e fugiu
Com um pássaro na boca
Um pássaro muito grande, cinza
As asas abaixadas como um amor partido As presas na vida ainda estão lá
Mas não muitas, não muitas
O amor-pássaro partido O gato caminha na minha frente
E eu não consigo fazê-lo ir embora
O telefone toca, eu respondo uma voz, Mas eu o vejo de novo de novo,
E as asas perdidas
As asas cinzas perdidas,
E essa coisa realizada Em uma cabeça
Que não conhece misericórdia;
Eu desliguei o telefone E os lados-de-gato da sala
Vêm em cima de mim
E eu gostaria de gritar,
Mas eles têm lugares Pra pessoas que gritam;
E o gato anda
O gato anda sempre No meu cérebro.
TERREMOTO
Os americanos não sabem o que é essa tragédia Um pequeno terremoto de 5.5
Pode deixá-los falando como macacos
Um pedaço do vaso chinês quebra A missão de resgate da união se cai.
6:00 AM eles sentam em seus carros,
Eles todos dirigem dando voltas.
A onde eles estão indo? Um pouco de emoção brilhando
Em suas vidas em conserva.
Estranhos se param junto a estranhos. Tagarelando medo, medo ansioso,
Risada ansiosa
Meu bebe, meu vaso de flores, Meu teto, minha conta bancária
Isso é só uma mancha, uma pluma,
E eles não podem suportar isso.
Supõem que bombardearam a cidade Como as outras cidades tem sido
Bombardeadas
Não com uma bomba atômica Mas com pequenas bombas ordinárias,
Dia após dia.
Todos os dias, como em outras cidades do mundo
Se o resto do mundo pode ver-te hoje Suas risadas colocariam o sol de joelhos
E mesmo as flores saltariam do solo
Como bullgdogs e te mandaria até onde pertences. Sempre é assim.
E a quem se importa de onde é,
Sempre e quando seja longe daqui.
ORGULHOSOS, MAGROS, MORRENDO
eu vejo idosos em pensões, em supermercados e eles são magros, e eles são orgulhosos, e eles estão morrendo
eles estão famintos e eles não dizem nada
tempos atrás, entre outras mentiras eles foram ensinados de que o silêncio era bravura
agora, depois de trabalhar a vida toda,
a inflação os aprisionaram
eles olham em volta roubam um uva
mastigam-na
finalmente, fazem um pequena compra, o dia valeu a pena. outra mentira que lhes foi ensinada:
não roubarás
eles preferem a fome à roubar (uma uva não os salvará)
e em quartos minúsculos, enquanto leêm anúncios de mercado
eles sentirão fome
eles vão morrer sem fazer barulho, retirados de seus albergues
por jovens garotos loiros de cabelos compridos
que vão deslizar para dentro e se afastarão do meio fio
estes garotos,
olhos bonitos,
pensando em Vegas e bucetas e vitória é a ordem das coisas:
cada um sente o gosto de mel,
depois o da faca.
TELA
Não suporto as lágrimas havia algumas centenas de imbecis
em volta de uma ganso que tinha partido uma perna
enquanto decidiam o que fazer
quando um polícia apareceu
e sacou seu revolver
e pronto, o assunto estava encerrado exceto para uma mulher
que saiu correndo de sua barraca
gritando que tinham matado seu animal de estimação mas o polícia agarrou o seu cinto
e disse-lhe
vai para o raio que te parta, queixa-se ao presidente da república;
a mulher ficou chorando desconsoladamente
e eu não suporto as lágrimas.
Arrumei a minha tela
e fui para outro campo:
os filhos da mãe haviam estragado a toda a paisagem.
UM POEMA QUASE FEITO
eu vejo você bebendo numa fonte com suas minúsculas mãos azuis, não, suas mãos não são minúsculas
elas são pequenas e a fonte é na França
de onde você me escreveu aquela última carta e eu respondi e nunca mais obtive retorno.
você costumava escrever poemas insanos sobre
ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta, e você
conhecia artistas famosos e muitos deles eram seus amantes, e eu escrevia de volta, está tudo bem,
vá em frente, entre na vida deles, não sou ciumento
porque nós nem nos conhecemos. estivemos perto uma [vez em
New Orleans, metade de uma quadra, mas nunca nos
[encontramos, nunca um contato. assim você seguiu com os famosos,
[escreveu
sobre os famosos, e, claro, descobriu que os famosos
estavam preocupados com a fama deles – não com a jovem e bela garota em suas camas, que lhes dava aquilo, e
[que acordava
de manhã para escrever em caixa alta poemas sobre ANJOS E DEUS. nós sabemos que Deus está morto, eles nos
[disseram,
mas ao ouvi-la eu já não tinha certeza. talvez
fosse a caixa alta. você era uma das melhores poetas e eu disse para os editores, “publiquem-na, publiquem-na,
[ela é louca mas é
mágica. não há mentira em seu fogo”. eu te amei como um homem ama uma mulher que jamais tocou,
[para
quem apenas escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia
[ter te
amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala
[enrolando um cigarro e ouvindo você mijar no banheiro,
mas isso não aconteceu. suas cartas ficaram mais tristes.
seus amantes te traíram. criança, escrevi de volta, todos os amantes traem. isso não ajudou. você disse
que tinha um banco em que ia chorar e que ficava numa
[ponte e a ponte ficava sobre um rio e você sentava no seu banco de
[chorar
todas as noites e descia o pranto pelos amantes que
te machucaram e te esqueceram. escrevi de volta mas não [obtive
qualquer retorno. um amigo me escreveu contando do seu
[suícidio 3 ou 4 meses depois de consumado. se eu tivesse te
[conhecido
provavelmente teria sido injusto com você ou você
comigo. foi mesmo melhor assim.
MELANCOLIA
A história da melancolia inclui todos nós. a mim, eu me contorço em sujos lençóis
enquanto observo as paredes azuis e o nada.
acostumei-me tanto à melancolia que a cumprimento como uma velha amiga.
Ficarei de luto por 15 minutos por ter perdido aquela ruiva,
digo isso aos deuses. eu faço isso e me sinto completamente mal.
completamente triste, então me levanto LIMPO
embora nada tenha sido resolvido.
é isso que consigo por chutar a bunda da religião. eu deveria ter chutado a bunda da ruiva
onde seus miolos, seu pão e sua manteiga estão no…
Mas, não, eu tenho me sentido triste por tudo isso: ter perdido a ruiva foi, somente, outra porrada que foi dada numa vida inteira
fracassada…
escuto os tambores no radio agora e forço um sorriso.
além da melancolia há algo de errado comigo.
CANTEM COMIGO
cantem comigo, todas as tristes coisas — loucos em casas de pedra
sem portas e janelas
leprosos fumegando o amor e o cantar um sapo a tentar
o céu alcançar;
cantem comigo, todas as tristes coisas —
dedos fendidos numa forja a velha idade como uma almoço envolto
numa couraça
livros usados, pessoas usadas flores usadas, amores usados
de ti preciso
de ti preciso de ti preciso:
que fugiu
como um cavalo ou um cachorro
perdido ou morto sentimento de fato
implacável
inexorável.
A RETIRADA
este momento acabou comigo. sinto-me como as tropas alemãs
batidas pela neve e pelos comunistas
andando inclinado com jornais enfiados
em rotos sapatos.
meu empenho é dificilmente terrível
talvez mais que difícil. a vitória estava tão perto
a vitória estava lá.
como se estivesse estacada em frente ao meu espelho mais jovem e mais bela
que qualquer donzela
que já vi combinando jardas e jardas de cabelos fogosos
enquanto na direção dela eu mirava meus olhos.
e quando ela para a cama veio
estava mais bonita que nunca e o amor foi muito muito bom.
onze meses
agora ela se foi partiu como chegou.
este momento acabou comigo.
é uma longa estrada que leva de volta de volta pra onde?
o cara à minha frente
cai. nele piso.
ela também o pegou?
UM CORTE DURANTE O BARBEAR
nunca é completamente certo, ele disse, o modo de como as pessoas olham, a maneira de como a música soa, o jeito de como as palavras
são escritas.
nunca é completamente certo, ele disse, todas as coisas que ensinamos, todos os amores pelo qual optamos, todos as mortes que morremos, e todas as vidas que
vivemos
uma atrás de outra,
acumuladas como a História, o desperdício das espécies,
o cessar da luz e dos caminhos que aparecem
não é completamente certo, é difícil que tudo seja certo,
ele disse.
eu não sabia disso?
respondi.
Distanciei-me do espelho. era manhã, era tarde, era noite.
nada mudou estava trancado no lugar.
alguma coisa se queimou, alguma coisa se quebrou, alguma coisa restou.
Eu desci pela escadaria e entrei.
CAUSA E EFEITO
os melhores, frequentemente, morrem pelas suas próprias mãos apenas para escapar,
e aqueles que são deixados para trás
nunca completamente entendem que alguém possa querer
deles
se
afastar.
POEMA PARA O MEU QUADRAGÉSIMO TERCEIRO ANIVERSÁRIO
acabar solitário na sepultura dum quarto
sem cigarro
ou vinho apenas uma
lâmpada
e uma pança
cinza e peluda e
feliz
por estar numa espelunca. … pela manhã
eles estão lá fora
ganhando grana: juízes, carpinteiros
encanadores, doutores
jornalistas, policiais,
barbeiros, lavadores de carro, dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
taxistas… e você
se vira para o lado
para que o sol que vai de encontro
aos seus olhos seja desviado
para que você sinta a luz solar
nas suas costas repousar.
ÀS RAPOSAS
não sinta pena de mim, sou um competente e
satisfeito ser humano.
sinta pena de outros
que
irritados
reclamam
que
constantemente rearranjam suas
vidas
como fazem com as mobílias.
falseando atitudes e
amigos
a confusão deles
é
constante
e ela atingirá
todos aqueles
que eles encostarem.
com eles, cuidado: uma de suas palavras
favoritas é
“amor”.
e cuidado com aqueles
que apenas tomam
instruções de seu Senhor.
por eles terem falhado completamente em suas próprias
vidas.
não sinta pena de mim porque sou solitário.
e nos mais terríveis
momentos
o humor
é meu companheiro
inseparável.
Sou um cachorro andando para trás
Sou um banjo quebrado
Sou um fio de telefone
cortado que liga Toledo e Ohio
Sou apenas um homem jantando
nesta noite
de setembro.
MEU PAI
era de fato um homem fantástico ele fingia ser
rico embora vivesse comendo mingau e feijão, éramos fodidos
quando sentávamos à mesa para comer, ele dizia: “não é todo mundo que come uma comida dessas.”
e porque ele queria ser rico ou porque ele na verdade
pensava que era rico sempre votou nos Republicanos
e votou em Hoover contra Roosevelt
e perdeu então votou em Alf Landon contra Roosevelt
e perdeu de novo
dizendo, “não sei no que este mundo vai se transformar,
agora temos os malditos vermelhos lá de novo e os russos
estão daqui a pouco no quintal conosco!”
eu acho que foi meu pai que me fez tomar a decisão de ser
um vagabundo.
eu decidi que se um homem como ele queria ser rico então eu iria querer ser pobre.
e me tornei um vagabundo
eu vivi contando os centavos dormindo em quartos baratos
e em cima dos passeios
eu pensava que talvez os vagabundos soubessem de algo.
mas vi que todos os vagabundos queriam também ser ricos.
mas eles apenas falharam nisso.
então pego entre meu pai e os vagabundos eu não tinha para onde ir
e fui para lá correndo e devagar.
nunca votei nos Republicanos. nunca votei.
enterrei-o como uma coisa estranha da terra
como centenas de coisas estranhas
como milhões de outras coisas estranhas
desperdiçadas.
METAMORFOSE
uma namorada entrou fez minha cama
o chão da cozinha ela lavou e encerou
limpou as paredes aspirou
limpou o toalete
a banheira
esfregou o chão do banheiro cortou as unhas do meu pé
meu cabelo.
então no mesmo dia
veio o encanador que arrumou
a torneira da pia consertou também a do banheiro
outro cara consertou o aquecedor
aí veio outro e o telefone ele arrumou
agora estou sentando no meio dessa perfeição tudo silencioso.
com minhas namoradas terminara
melhor me sentia quando a bagunça imperava.
levarei alguns meses para tudo voltar ao normal:
não posso nem mesmo achar uma barata para conversar.
perdi meu ritmo não posso comer
não posso dormir
a minha sujeira roubaram de mim.
SHOW BIZZ
eu não posso ter isso você não pode ter isso
e nós não
alcançaremos isso
então não aposte isso
e nem mesmo pense sobre
isso
levante-se da cama
toda manhã lave-se
barbeie-se
vista-se e saia
para fora disso
porque fora disso
o que sobra
é loucura e suicídio
então
não espere o bastante
você não deve nem mesmo
esperar
então o que você faz
é
trabalhar
a partir duma base
mínima
como quando
voce sai
e durante o voltar fica feliz pela
possibilidade
de seu carro
estar no mesmo lugar
isso se os pneus
não estiverem
carecas
aí você entra
e se conseguir dar a partida
você dá a partida.
e
isso é o filme mais imbecil
que você já viu porque
dele você
participa.
salário baixo
e
4 bilhões de críticos
com a mais longa estrada
que você jamais
esperou
acerca disso
um dia.
VIAGEM INTERROMPIDA
fazer amor sob sol, sob o sol da manhã num quarto de hotel
em cima duma beco
onde homens pobres juntam garrafas; fazer amor sob o sol da manhã
fazer amor em cima dum carpete mais vermelho que nosso sangue,
fazer amor enquanto garotos vendem jornais
e Cadillacs, fazer amor vendo uma foto de Paris
abrindo um maço de cigarros
fazer amor enquanto homens pobres trabalham. Daquele momento para este…
talvez sejam através de anos que eles os medem
mas apenas uma sentença volta à minha mente há tantos dias
quando a vida para, levanta-se e senta-se
e espera como um trem nos trilhos.
passo no hotel às 8 e às cinco; há gatos nos becos,
garrafas e vadios,
olho para janela e reflito, Eu não mais sei onde você está,
e ando e maravilho-me como a vida
vai, corre, prossegue
e eu ainda penso em tudo isso.
OS GÊNIOS DA MUTIDÃO
há traição, ódio, absurda violência nos seres humanos normais que podem alimentar qualquer exercito por
todos os dias
e os melhores entre os assassinos são os que rezam contra o homicídio
os que mais odeiam são aqueles que pregam o amor
e os que mais guerreiam são os que pregam a paz do Senhor
cuidado com os pregadores cuidado com os sábios
cuidado com aqueles que estão sempre a ler os livros
cuidado com os que ao mesmo tempo que odeiam a pobreza com orgulho festeja-a
cuidado com os afoitos bajuladores
que precisam de elogios recíprocos cuidado com aqueles que adoram rapidamente censurar
eles tem medo do que não sabem pensar
cuidado com os que procuram constantemente multidões
porque tem medo de ficarem sós cuidado com os homens e as mulheres normais
cuidado com seus amores normais
que exigem normalidade mas há talento no ódio deles
suficiente para matar vocês
matar qualquer um
não querendo solidão não entendendo a solidão
eles tentarão destruir qualquer coisa
que deles se difere não sendo capazes da arte criar
não podem entendê-la
consideram sua falha como criadores como uma falha do mundo inteiro
não são capazes de se entregarem ao amor
eles acreditam que o amor doutros é incompleto
eles então vão te odiar e o ódio deles será perfeito como
um diamante brilhante
como uma lâmina como uma montanha
como um tigre
como venenosa planta o ódio é para eles a mais nobre arte
OS ALIENS
talvez você não acredite mas há pessoas
que passam a vida
sem o menor atrito ou
agonia
eles se vestem bem, comem
bem, dormem bem estão satisfeitos com a vida
em família.
eles têm momentos de melancolia
mas no geral
não são incomodados e, frequentemente,
sentem-se
muito bem quando morrem
é uma morte fácil, geralmente, dormem.
talvez você não acredite
porém essas pessoas existem. mas eu não sou
uma delas
ah não, eu não sou
uma delas eu nem chego perto
de ser
uma delas
mas elas estão
lá e eu estou
cá!
SAPATOS
quando você é jovem um par
de sapatos
saltos altos femininos
apenas
sentados
bem perto
ao teu lado
sozinhos podem
incendiar
seus ossos;
quando você é velho
eles são
somente um par
de sapatos
vazios e
é
isso.
ELOGIO A UMA NOBRE MULHER DOS INFERNOS
alguns cachorros quando dormem à noite devem sonhar com ossos
eu me lembro dos seus ossos
na sua carne ficavam ótimos
naquele vestido verde escuro
naquele seu salto-alto turvo,
e voce sempre me amaldiçoava quando bebia seu cabelo para baixo escorria
enquanto você parecia que explodia
mas o que te segurava: podres memórias
dum
podre passado,
e quando
você morreu
deixou meu presente roto
e desde que partiu
da minha mente há 28 anos
não saiu.
você era a única
que entendia a futilidade
dos preparativos
da vida; todos os outros estavam apenas
descontentes
com suas triviais existências reclamando
sem sentido
sobre o
que não faz sentido;
Jane, você foi
assassinada por saber demais
aqui vai um brinde
ao seu esqueleto que
dos sonhos
deste cachorro
fazem parte por inteiro.
QUAL É A ULTILIDADE DE UM TITULO
eles não fazem isso os belos morrem em chamas
comprimidos fatais, veneno de rato, uma corda com um laço
que seja… eles, as armas descansam
das janelas se lançam
empurram para fora das órbitas os olhos
rejeitam o amor rejeitam o ódio
rejeitam, rejeitam.
eles não podem fazer isso os belos não podem resistir
eles são borboletas
são pombas são papagaios
eles não fazem isso
um cara desencadeia uma chama enquanto um velho, num parque, joga damas
uma chama, uma boa chama
enquanto um velho, num parque ensolarado, joga damas.
os belos são encontrados à margem dum quarto
picados por aranhas, por agulhas e pelo silêncio nunca entenderemos por que eles
partiram, eram tão
belos.
eles não fazem isso,
os belos morrem jovens e deixam os feios com suas vidas feias.
brilhante e amável: a vida, a morte e o suicídio
enquanto o homem, num parque ensolarado, joga damas.
PEQUENO CONVITE
levei minha namorada para ouvir você ler seus poemas, ela disse.
sim, sim? eu perguntei.
ela é jovem e bonita, ela disse. e? eu perguntei.
ela odeia sua
barriga.
então esparramou-se no sofá tirou as botas
e falou:
não tenho pernas muito boas. tudo bem, pensei,
minhas poesias também não são
grandes coisas; ela não tinha pernas muito boas.
segundo round.
É ISTO, ENTÃO
é o mesmo de antes é o mesmo doutro tempo
ou do tempo antes desse outro tempo
eis um pau eis uma boceta
e eis o problema.
por uma momento você pensa
sim, aprendi:
deixarei-a fazer aquilo
e farei isto,
não vou mais querer tudo apenas o suficiente
para viver confortavelmente
sexo de vez em quando
e apenas um pouco de amor.
agora estou esperando novamente e anos escoam rapidamente.
tenho meu rádio
as paredes da cozinha
são amarelas prossigo jogando fora as garrafas
e ouvindo
os passos
espero que a morte seja
mais leve do que isso.
PUXE UMA CORDA, UMA MARIONETE SE MEXE
cada homem precisa perceber que tudo pode, subitamente,
desaparecer:
o gato, o pneu dianteiro, o trabalho,
a cama, a mulher, o quarto; todas suas necessidades
incluindo o amor,
descanse num alicerce de areia — e em qualquer causa alheia,
não se importe com a grandeza:
a morte dum garoto em Hong Kong ou uma nevasca em Omaha…
podem servir como sua ruína.
todas quinquilharias da China indo d’encontro ao chão, sua namorada entrará
e bêbado você estará
e ela perguntará:
meu deus, o que foi que aconteceu? e você dirá: não sei,
eu não sei…
UM DESAFIO À ESCURIDÃO
atire no olho atire no cérebro
atire no cu
atire como uma flor numa dança
fantástico como a morte ganha tão facilmente
fantástico como muito crédito é dado para formas de vida idiotas
fantástico como a risada tem sido silenciada.
fantástico como a crueldade tem sido constantemente propagada.
preciso logo declarar minha guerra à guerra deles preciso segurar meu pedaço de chão
preciso proteger o pequeno lugar onde fiz que minha vida fosse permitida
minha vida não à morte deles
minha morte não à morte deles…
DORMIR
ela era uma daquelas pequenas estava gorda, mas antes era
bela e
vinho, ela bebia bebia vinho na cama
falando, gritando e me
amaldiçoando
eu me virava para ela e dizia por favor, me deixe
dormir.
— dormir? dormir? sim seu filho da puta, sim, você nunca dorme,
você não precisa de
dormir! enterrei-a numa certa manhã
carreguei-a pelas montanhas de Hollywood
arbustos, coelhos e pedras
passando em minha frente cavei um buraco
enterrei-a de barriga
para baixo e
coloquei a sujeira de volta no carro
o sol já havia nascido
um calor estava me invadindo
as moscas zanzando preguiçosamente
eu não conseguia enxergar um palmo sequer em
minha frente
tudo estava amarelo e quente.
dirigi de volta para casa e me joguei na cama
dormi por 5 dias e 4
noites.
O FECHAR DE CORTINAS
o descer das cortinas de um dos mais longos musicais já feitos, algumas pessoas bradam que já assistiram-no uma centena de vezes.
eu o vi na jornal da tv, aquele fechar de cortinas:
flores, lágrimas, gritos, um estrondoso elogio. eu não vi esse musical
mas tenho certeza que não suportaria ver algo que, com certeza,
me faria adoecer.
creia no que vou te falar, o mundo e suas pessoas com seus engenhosos espetáculos tem feito pouco por mim, apenas para mim.
deixa-as aproveitar mais um show, isso as deixará
longe de mim e assim, vai aqui meu meu estrondoso elogio.
AGORA
sento-me aqui no segundo andar arqueado
com um pijama amarelo
trajado ainda tentando ser
um escritor.
alguma maldita tristeza
no 71, meus neurônios
devorados pela vida.
pilhas de livros atrás de mim,
coço meus parcos
cabelos tentando
encontrar
o vocábulo certeiro.
E A LUA E AS ESTRELAS E O MUNDO
Longas caminhadas pela madrugada —
é que o é bom
para a alma:
espionar as janelas
olhando donas de casas
cansadas
tentando combater
seus bêbados e loucos maridos.
SOLUCIONANDO
Van Gogh cortou a própria orelha e a deu para uma
prostituta
que com nojo
extremo
atirou-a ao vento.
Van, putas não querem orelhas
elas querem
dinheiro. Acho que agora sei por que
você foi um grande
pintor: você não compreendia
as outras coisas da vida.
LIBERDADE
no dia 28 ele bebeu vinho a noite inteira, mas continuava pensando nela:
o modo de como caminhava e amava
de como lhe contou coisas que pareciam verdadeiras mas que não eram, a cor de cada um
dos seus vestidos;
dos sapatos ele sabia como eram as curvas e
as madeiras de cada salto como forma das pernas que dos calçados
se erguiam.
e ela saíra novamente quando em casa ele chegou ela voltou com aquele cheiro diferente
veio às 3 da manhã
suja como porco comendo estrume ele pegou uma faca de açougueiro
ela gritou
indo de encontro a parede da pensão
continuava linda de alguma forma no ódio de seu pútrido amor
ele terminou o copo de vinho.
aquele vestido amarelo seu favorito
ela deu outro grito.
ele pegou a faca
desatou o cinto e diante dela rasgou a roupa
e cortou as bolas.
carregou-as em suas mãos como damascos
jogou-as na privada e deu descarga
ela continuava a gritar enquanto o quarto estava de vermelho a ficar
DEUS OH DEUS!
O QUE VOCÊ FEZ?
ele se sentou ali segurando 3 toalhas entre as pernas
não ligando agora se ela sairia
ou se em casa ficaria vestindo amarelo ou verde
ou qualquer outro enfeite.
uma mão segurava a outra mão era usada para
na taça
mais vinho despejar.
SIM SIM
quando Deus criou o amor Ele não ajudou a todos quando Deus criou os cachorros Ele não ajudou os cachorros
quando Deus criou as plantas foi normal
quando Deus criou o ódio nós tivemos uma utilidade aceitável quando Deus me criou Ele me criou
quando Deus criou o macaco ele estava adormecido
quando Ele criou a girafa estava bêbado
quando Ele criou os narcóticos Ele estava doido e quando Ele criou o suicídio Ele estava deprimido
quando Ele criou você deitado no colchão Ele sabia o que estava fazendo
Ele estava chapadão e doidão
e Ele criou as montanhas, os oceanos e o fogo todos no mesmo estouro.
Ele cometeu alguns erros
mas quando ele criou você deitado no colchão,
com a cabeça no travesseiro Ele gozou em cima de Seu abençoado Universo inteiro.
VACAS NA AULA DE ARTE
um bom tempo é como
boas mulheres
não é sempre que acontece e quando surge
ele urge.
o homem é
mais estável: se ele está mau
há mais chances
que ele prossiga nesse caminhar e se ele está bem
com certeza isso logo se interromperá,
mas uma mulher modifica-se
pelos
filhos
pela idade
pelas
dietas conversas
pelo
sexo
luar pela
falta da luz solar
ou de bons momentos. uma mulher deve ser mantida
pelo amor
onde um homem pode tornar-se mais forte
ou ser alvo de rancor.
O QUE PODEMOS FAZER?
no fundo, há nobreza na Humanidade. algum entendimento e, às vezes, atos de
coragem.
mas de modo geral, a Humanidade não parece contar com muito disso. Isso é como um enorme animal dormindo e quase nada pode fazer com que ele desperte.
quando ativado ele é o melhor em brutalidade, egoísmo, julgamentos injustos, assassinatos.
o que podemos fazer em relação a isso, Humanidade?
nada. evitar a coisa o quanto for possível
tratá-la como algo venenoso e viciante
mas tenha cuidado. leis foram decretadas para proteger essas disparidades.
isso pode matar você sem uma causa
e para escapar disso você deve ser sutil. pois poucos escapam.
você tem que traçar um plano.
nunca conheci alguém que escapasse.
conheci alguns grandes e famosos, porém eles não escaparam, pois eles se tornaram
grandes e famosos seguindo os passos de grande parte
da Humanidade. eu não escapei, mas eu não falhei em tentar de novo e sempre.
antes de minha morte, espero conseguir ter de volta o meu viver.
POEMA
É preciso muito desespero, descontentamento e desilusão para escrever alguns bons poemas.
Não é para todos nem escrevê-los ou mesmo lê-los.
Fontes: http://www.literaturaemfoco.com/?tag=charles-bukowski http://www.velhobukowski.blogspot.com/ http://bukowskibar.blogspot.com/ http://traducoesdeumvelhosafado.blogspot.com/