Post on 06-Apr-2016
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As bordas do mundo
Raphael Moras de Vasconcellos, nascido em 1977 no bairro carioca da Glória, cresceu na zona sul do Rio de Janeiro em meio às mudanças sociais do fim do século 20.
Apaixonado de começo pela literatura fantasiosa e policial, conheceu mais tarde o realismo fantástico e alguns de seus similares europeus, para depois se encantar por Dostoievski e Thomas Mann.
No curso de Desenho Industrial da PUC-Rio, foi marcado pelos pensamentos concretos do design e pelo relativo movimento cultural da Vila dos Diretórios.
Entre 2000 e 2009 atuou como empreendedor e divulgador do uso do bambu no Brasil e no mundo.
As bordas do mundo
Raphael Moras de Vasconcellos
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Compilação de poesias escritas de 1996 a 2007 em mesas de bar e no conforto de casa, Bordas do Mundo foi dividido em seis temas:
Pilhagem Interna saqueia a riqueza e os contrastes do pensamento e escolha individual em busca de sentidos na vida;
Pilhagem Externa expõe o butim das excursões para fora do indivíduo;
Impressões Impressas discute a poesia através do espelho;
Moderna Concretude tenta definir e categorizar com ironia o rumo da globalização;
Sofridas usa a poesia para extrair significado da dor e driblar o beco sem saída do romantismo;
Dedicadas oferece de volta algo do valor passado por outras pessoas
ÍndicePilhagem Interna
Um grande pulo Quarto minguante The eye of the beholder A verdade interior Avaliação Bar brejeiro Reles tentativas Nesta terra Cantos de meus lamentos Cantos de meus lamentos #2 Poeta A eternidade e um dia Errante Baco está no ar Ilusão Manifesto sentado na mesa de um bar O prego Partes solúveis Terapia do símbolo
Pilhagem Externa
Maritacas O vôo absoluto Reflexo A noite deleitável A misteriosa eloquência A sorridente espreitadora Pétalas delgadas Voz do Brasil Noites da Lapa Um cumprimento à comunidade PUC Das prosopopéias e das metonímeas Alvorada latino-americana Esta é nossa terra
11121314151617181920212223242526283031
33343536373839404142434446
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Risos Dúbios Quadro cinza Idade da pedra Novos entardeceres latinos Livro-me Daydream O homem sem qualidades Mensagem aluvial O frágil rebento O encanto refaz Igreja Universal do Reino do Nada Gnaisse
Impressões Impressas
Pausa Poesia rápida Dicionário carioquês-paulistês Ducha de letras Letras Dominador/Dominado Poesia fina Parâmetros Situação Resumo
Moderna Concretude
O abrupto intenta Almas desalmadas Resposta absoluta Triste e bela A moderna concretude Permuta trivial Hereditralhas Globalização muderna Cabeça dura
47484950525354565758606162
65666768697071727475
777879808182838485
Sofridas
Repositório O desfraldar das velas rumo à ocidentalidade Nau perdida O desfraldar das velas rumo à ocidentalidade #2 Tais condições (geração) Realidade das bordas do mundo Desertos dourados do sul Resquícios Combinação O abismo O túnel Além d´alma pura Lamento pop
Dedicadas
Ermos caminhantes Filho que és Nasciturno O dom O ninho do pardal Naná, nair Morena marinha celeste Aliviar Um cigarro após o outro Quem sois? Viva a beleza viva Juventude sônica
878889909293949596979899
100
103104105106107108109110112113114116
A meus avôs Paulo e Paul
Pilhagem Interna
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Um grande pulo
absorto em minimalidadesacredito no improvávelreceio apenas o tempo
embebido de paixõese histórias improváveisrememoro o óbvio
embutido o senso comumelevo minhas paixões improváveisnelas concentro minhas forças
um momento de implosãocompactação de memóriasmusculação cerebral
e um grande pulo!
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Quarto minguante
alargar o cume dos limitesalumiar o pensamento das flores que pesamem inúmeras miríades intransigentesacostumadas a penaro depenar
despertosaboreio o aluviar do acochambradopor cima do alambradodo meu tabu
aliciando estimulado divirto a mimcomo a ticomo-te
sem sobras de dúvidassem sombras de você
macere-o a disparar por aíquando sentar, alevanteseja mero constatar irrelevante
espere, sem se levantarfique a flutuardesperto, esperto,te espero no fim do quarto minguante
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Quarto minguante
alargar o cume dos limitesalumiar o pensamento das flores que pesamem inúmeras miríades intransigentesacostumadas a penaro depenar
despertosaboreio o aluviar do acochambradopor cima do alambradodo meu tabu
aliciando estimulado divirto a mimcomo a ticomo-te
sem sobras de dúvidassem sombras de você
macere-o a disparar por aíquando sentar, alevanteseja mero constatar irrelevante
espere, sem se levantarfique a flutuardesperto, esperto,te espero no fim do quarto minguante
The eye of the beholder
it’s a good thingthat all is writtenand goes straight to the heart
it divides usand we devisethe sight of the undone
forgotten wordslost in oblivionobscured and observed
remember:
the truth is on the eye of the beholder
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A verdade interior
quero saber dos teus sonhosque eles te contamda verdade interior
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está avaliadoque o valemais lindo do teu sonhonão vale um castelode caramelo
as árvores simelas valem o vale que habitam
Avaliação
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Bar brejeiro
neste fim de tardeamanheci brejeirobaleias azuis passaramembalaram-me na sua fumaça
neste entardecer do Leblonaprendi muitas históriasnovas e usadasque desafiaram minha imaginação
pus-me a escreverem francês, em gaulês,tudo aquilo que,num certo entardecer ladino,sussuraram-me,das ruas,ao pé do ouvido esquerdo
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Reles tentativas
O circuito que seguisua trilha amarelacapacita-mea escrever-lhe esta prosa
Neste gramado verdeque tudo cobrefundiu-se o uso e a intençãode eletrizar-me o coração
Seguir a corrente do pensamentoé como entender a lógica bináriaseu fluxo constante e ordinárioalça-me das profundezas dos relés
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Nesta terra
por que me preocupar?cobri o chão deste vasocom o pó desta terra
sem saber eu queriaque tudo dando certoestivesse por perto
atravesse a superfícieminhoquinha atrevidae absorva a amizadedaqueles de quem gosta
a água que cedo,cedo abençoa sua vinda
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Cantos de meus lamentos
Quando a mente preparaNão há fórmula que basteAssim como pele raraQue no fim a maldição afaste
Ferindo meu orgulhoDentro de minh’alma mergulhoPretensas intenções de paixõesMe trazem dores e sofrimentoMedito, canto cançõesCantos de meus lamentos
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Cantos de meus lamentos #2
aventuro-me nas trevasentre cadeiras e mesas levantadasa vida confunde-secom os variados tipos de azulejos do bar
atento para o vão na conversafalo qualquer coisanão importaquero os olhares
aventuro-me para o fim da noitesou expulso pelo garçonque me olha com o confortode um especialista da comédia alheia
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Poeta
não possuo as palavrasassim como não possuo a vidaantes sou pequena folhalevada pela brisa
hoje eu vi o marsua linha infinitaa perdurar no horizonte
não foi a primeira vezouvi-te sussurrar meu nomedurante o sono
não possuo a escritaantes a externalizoum dia após outrodepois, o amanhã
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A eternidade e um dia
Quanto dura o amanhã?perguntei-te certo dia.
Quão pura é a manhã,tocada pelo sol ardente?
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Errante
Meu coração errante, vagabundosolitário e meditabundo
Procura novos campos, novos ermossem regras, sem termos
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Baco está no ar
entre cânforas e taçasminh’alma rejubilasua parte dionísioamanhece desprevinida
mas de que formadentre tantas preferidasse reforma a manhã?
entre melodias e harmoniasminh’alma amanhecesua consciênciaanoitece atenta
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Ilusão
impressões nos são ditasditadas pela açãoreconhecem sua efemeridademeras bonitas palavras
nos vemos impressose nisso vivemosretomando velhas vivênciascomo meras impressões
o grande problematorna-se um rápido aviãorevolto em redemoinhossolto no arem eterna contradição
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Manifesto sentado na mesa de um bar
As ruas não estão desertasfelizmente, pessoas diversastocam-me o olharneste bairro perto do mar
vossas palavrasmúsicas de outremem sua voz
prestam atençãosubmergem num estado convergentede paz e sublimação
O bar está enchendoas pessoas divertem-se, felizestrocam sentimentosneste bairro de maresia e vento
suas facesmeios de expressãode emoção
prestam atençãoconvergem neste país envolventede mistura e elevação
eu, servo de todas essas experiênciassensoriais, emocionaisrezo pela continuidade do trabalhoe do lazer
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As mesas sorriemfelizes congregam pessoastecem históriasneste bairro de muitas memórias
seus tamposservos de objetossuportam-nos
pedem proteçãoenvolvem líquidos inebriantesdesapego e diversão
O aroma segue mutanteperseguem as felizes pessoasentorpecem os sentidosneste bairro de anos vividos
seus canaisgosto, olfatoaudição, visão e tato
pedem proteçãoinebriam a mente estática e friacom calor e ação
eu, cúmplice de todos esses minúsculos e passageiros contos,sinceros, pereneschoro alegre pela nossa existência fugazneste mundo.
E continuo sentado na mesa de um bar ...
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O prego
logo aliadjunto-meperfazendo uma incoerência
ausênciade sentido
onde estouausento-mebusco o foco do nada
focandouma possível reestruturação
os nósos veiosos velhossomos nós
já é tempoe passaum pássarono ninho escuro
entaladoestou cegopara o caminho
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eu caminhopara fora de casa
em casabusco a retidãoencontro apenas o nada
o chãoo pisoeu pisoe vou ao chão
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Partes solúveis
coraçãoe almaentre elaso que há?
um caso de amorou de necessidade?
há um caminhoque liga a paixão de ambos?
parte e repostoo acaso e o ocasogrande e pequenoquebrado e elevada
labirinto insolúvel...
sem mencionar a razãoessa assassina assaz metódica
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Terapia do símbolo
Sem haver tido chanceuma perda de rumo abalouo pé da mesa de madeira
A prisão indulgenteapregoava o relentoe abandonava à exaustão
O pó seco ressoavano assoalho remexidono peitoril da janela aberta
Um som lúgubreum rangido lânguidouma raspa de madeirauma lasca de velha tinta
A taça meio friameio cheia e vaziauma lente distorcia
A luz da lua vinhana taça perpassavaa taça com o vinho
O queixo no peito dormia...
Pilhagem Externa
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Maritacas
vede!a estrutura verdenela cabe o inequívoco inexato
vede!o príncipe das Astúriasilhado em seu pequeno reino
o olhoa esta alturaconfunde-se entreo inequívocoe o inexato
o olho da menteconduz seus fiosentremeados
em meados de outubrolá pelo dia quinzeentardecendoouvindo o estrondo das avese o coração batendobombeando pontosencharcando a menteabastecendo os olhos
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O vôo absoluto
se sente leve,parte de repente e breve
alma pura almejatudo cura, benfazeja
pardal solitário persisteexiste imaginário alpiste?
no Pico do Papagaio em Aiuruocao refúgio dos Pedros é uma toca?
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Reflexo
ao terminar seu dia,o otário reflete a grande abóboda celeste,sob o luar,debruçado no batente da janela.
o azul descascado da madeira,roçando seu casaco de lã (para otários),combina com o azul marítimo do seu olhar,perdido...
a destilar sonhos,lembranças...
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A Noite Deleitável
Amenize, e torne agradável. Não se esqueça que, alhures no espaço, está a noite deleitável.
As estrelas sorriem, mas escondem suas irmãs menores. que brincam e seguem nas suas peripécias.
Aproveite, e extraia o que é bom. Não se apresse, pois o tempo revigora. As partes se juntam e a noite agradece.
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Amenize, e atraia o olhar. Os atores do mundo, e a luz a brilhar.
Amenize, mas procure evitar que o mal que se alastra consiga alcançar.
Amenize, no entanto sem envolver sua misteriosa eloqüência a qual busca entender.
Amenize, ao entardecer.
A misteriosa eloqüência
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A sorridente espreitadora
A lua espreita
e espia nossa breve estadaneste mundo loucode frívolas idéiase estranhos seres.
Observa a caçada,expondo e acariciando a presa,exibindo e estimulando o algoz.
Neste mundo de muitas palavras,o alvo se estabelece silenciosamenteatrás da sombra projetada,não-luz envolvente.
Ela se aproveita,e nos mostra nossas fraquezastão humanas.
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Pétalas delgadas
a flor que brotae alivia o pranto
as forças do realdo alémdo bem e do malque vão e vêm
a crença no espíritoque esquece a dor
e o silêncio flutua
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Voz do Brasil
oh estrela que refulgemais alta que o sol
tempere o ânimo dos astroscom a sua chegada
nós que aqui ficamoslembramos de sua breve estada
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Noites da Lapa
que assim sejaa encantadora cerveja
as palavras do pregadorespalham prazer e dor
moderno trovadoresquece a paciênciae traz-nos a revelação
incipiente incitadorestimula a conivênciaabsurda capacitação
para a vidapara a música
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Um cumprimento à comunidade PUC
como pretendemalcançar a si mesmosse vos afastam de nós?
quantas lívidas históriasnão apenas nos pertencemflutuam no mar de históriasdo qual pescamos com prazer?
quantos hinos cantamospiadas contamossobre vóssobre nós?
quantas casas temporárias habitamospersonagens conhecemoscamaradas fizemosmulheres amamos?
que na tua minha ignorânciasaboreamos o passar dos diaso contar do tempoa prosa da vida
seja-te e deixa de serenseje vossa nossa belezamorra constantementee viva eternamente
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Das prosopopéias e das metonímias
enquanto cabelos castanhos claroslisos e douradospassam,aninhamo-nos animados.
pois entre um pensamento e outroo poder se anuncia:o poder da feminilidade.
pernascarnelábiossensuais
a magiae a hipnoseconstroem a poesia
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Alvorada latino-americana
como que para distrair momentos de solidãonaquela hora em que o sol trai a manhãcom a névoa ainda buscando as sombras do pensamentoque de uma escada de mármore azultoda a bela manhã se despeja feito água derramadafresca, límpida na luz do alvorecer
tímido sorriso de uma lua crescentede lívidas tardes e entardeceres latinosque alavancam pedras atiradas nas poçasentre as ramagens de imensos e rajados bambusagitados na brisa que anuncia o ventochegando com uma chuva fria e fina
correndo pela praia emoldurada pelos coqueirospisando a espuma dourada pelos raios de solque escapam de nuvens compridas e cinzasde um amanhã que não chegae o horizonte que esmagaas linhas passamo mundo párapara absorver o ar da manhã
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e a dança da vida recomeçanão pára jamaisem direção e sentidotramados em fios tardiosde alvoreceres bolivianostrajados em nobres tecidosà esperado amanhecer
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Esta é nossa terra
absorvemos e reproduzimoscarga contínuade responsabilidades
até quando seguiremosguiados por nossos instintos?
até onde iremosnavegados por nossas razões?
pulsa e vibraa vida em derredor
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Risos
no começo de séculotudo recomeçaporque ficamos assim inconstantes?
reverberamos instituições passadaspara cobrirmos seculares deficiências.para quê lutamos e lutamosse caímos sempre nas mesmas incumbências?
é assaz engraçadaa luta pela sobrevivência.
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Dúbios
são cultos e nobresgentis e nada pobresacumulam e não dispersamgesticulam e conversam
pode-se esperar tudo delesmenos deselegânciasão chatos de vez em quandoem sua discrepância
pior seria ignorá-losfingir que sua eterna vaidadenos enfraquece
bons seres humanosvivem e transparecem
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Quadro cinza
trevas encarcerantesconfiguram vastas extensõesde terras outrora verdejantes
sombras aterrorizantesescondem negras pretensõesem mentes outr’época vibrantes
é a mudança dos tempose das breves estaçõesou apenas outra nuvem
cinzas enaltecemparedes de tijolos quebradosmanchas de humidadesujam a calçada com suas cores
pneus de puro azevichederrapam em curvas chuvosasviadutos cobrem ruas molhadasvazias e solitárias
aquele homem urbanocitadinojá não se sente seguroem suas mansões de pedra
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Idade da pedra
essas partículasdeslizam pelas frestas de aro vento as empurrapara longe do lugar
que nuvens trovejantes,escondendo o luar,as mandaram passear
tais gotículasflutuam sem esmorecerseus movimentos dançarinosaté o amanhecer
que trovões ribombantes,no eterno alvorecer,não cessam de estarrecer
oh chuva!caia como nos primeiros milhõesde anos de idade da Terra
cubra os continentesfaça-me esquecerfaça-me lembrar
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da idade da lava quenteda idade da pedra que esfriada idade da água que corre
para onde,não quero saber
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Novos entardeceres latinos
prevejo novos ventos chegandotrazem frio e pouca humidademinha mente coalhada de lembranças,inexatas e inconstantes,lateja nomes e lugares
caminhos novos se cruzame separam velhos dogmasmáquinas arrastam através de milhas e milhascarcaças livres de preceitosávidas por conhecer
novas paragens e camposnovos entardeceres latinosque na sua imensidãodespertam sonhos ladinosde límpidos e lívidos verões
em poucas palavras e mil imagensminha e nossa vida amanheceque em anoiteceres bolivianosme fazem torcere lutar pelos caminhos do mundo
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Livro-me
fomos até o cume,o cume era lá embaixo.
fantasiamos,a fantasia era real.
nem sabemos o que fizemossomos todos iguais.percebemos,somos todos crianças.
coisas legais,algumas ilegais,nem todas lembramos,mas não é preciso.
nossa vida dançou,nosso sol raiou,reluziu,em nosso projeto.
nossa história mudou,nossa página virou.
surgiu,o livro abjeto.
pois coisas passam,morrem.
somos espelho.
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Daydream
there is a black alloyhanging on steep slopesit does not roll over my naked bodywaiting for the continuous rain to stop
I think it will never stopI do not worry
this strange alloycoming out of nowherestarts to roll over the still wet groundcrumbling and smashing the green grass of my dreams
I think it will never stopI do not worry
there is a deep and hollow shaftnot friendly, a real cliffit does not hold the black alloyswallowing the horyzon
I think it never endsI do not worry
this endless holethe end of earth as it is knowncries a loud sound of cracking metalfeeling sad for the loss of the black alloy
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I think it never endsI do not worry
I will keep dreaming
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O Homem sem qualidades
abrevia tua repetiçãonão esqueçarepita
o espírito intentasem real intenção
arrepia e intentaapreciaacontece o irrepreensível
anoiteceo som nos esquece
abreviae aborrecenos apreciae acontece
a noite enternecee nos buscaenaltece
o abreviadoapareceacontece
o que buscarepreende
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Mensagem aluvial
o fluxo constantea pedra ensaboanteo galho engastadoa areia abrasante
a margem esquerdaa árvore distantea grama verdefrio enregelante
o calafrioo cala-bocaa boca do rioa garganta profunda
o fluxo constantea maré vazantea boca do rioum frio rascante
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O frágil rebento
o monstro acordaamarra suas vítimascom cordames de aço
o mestre recordaentra em acordocom palavras de aço
o mastro arrebentasacode o rebentocom sua estrutura de aço
o maestro encordoaseu violino etruscocom fios de aço
o monstro violaseus estratos moraiscom punhos de aço
o mestre extraio vermelho da auroracom seu punhal de aço
o mastro apunhalao frágil rebentocom farpas de aço
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o maestro ressoasua música imortalcom seus nervos de aço
a máscara arrebentao saber rebomboao barco soçobraos gritos ecoam
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O encanto refaz
Amenize, e deixe passar o que está vivo breve morrerá
Amenize, e volte a esquecer as regras do mundo só fazem tolher
Amenize, e viva em paz o que a ânsia escondeu o encanto refaz
Amenize, e bote tudo a perder
61
Igreja Universal do Reino do Nada
o infinitonegrumemassa informe
massa liquefeitarepleta de luz
em suas regras própriasvalseia sem regras
o perfeito nadaestrelas vagueiamno vago espaço
pontos gigantescosvulcões imberbesconsomem planetas
dão formae destróemsabedoria inculta
estrela oculta
62
Gnaisse
por pouco tempopor muito pouco tempoapesar dos contratempos
nas horas em que a palavra perde o sentidode seu fulgor pungentehíbrida e mista sabedoriaarrancada como um galho
que se parte
que ela partaeu não sei(nem quero saber)
filho compacto sob o peso do capitalismoseus vermes transitam, espaçosseu urro, seu pulsar, os impactos
improvisamos a adolescênciaplanejamos obsolescênciaprogramada, sob foco de luzdomada, medusa seduzpetrifica
alegre despertar na aurora do vale extensoextenso...
63
a lua que conforta e dá luzluzesss
tênue sombra que arrepiaarrep...
mundo envoltonévoa e magmatudo e nadaser sendo sem cercear
devolvê-la, ó Terraerma e fugazao povo que te glorificaés tu,Gaia
Impressões Impressas
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uma folha que vaia idéia se esvaiatento e despertoo fim está perto
breve pausa...
um tento desfeitointenção descobertaaviso rasteirosó peço respeito
breve lamento...
o peito me dóia mão não reclamaa cabeça declamaos feitos do herói
breve suspiro...
pausa longa...
descanso...
e mãos à obrapois pra poesiaassunto me sobra
Pausa
66
Poesia Rápida
pense rápidonuma poesia.deixe ela sair pelos porosda tua preguiça.
pense numa poesia rápida,sem sopesar palavrasou medir sílabas.deixe que elas falem por si.
atire as letras numa sopae mexa-a com uma colher.mas deixe espaço para a sobremesa.
pense logo no título,antes que ele fuja.assim que ela estiver toda pronta,capture-a num papele finalize-a com um ponto.
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xavecar - Vb. Trans. Dir.
1 - convencer, persuadir (“xavequei o guarda para não me passar uma multa.”)
2 - cantar, paquerar, passar a lábia(“aquele f. da p. tá xavecando a minha mulher!”)
3 - enganar, mandar o caô(“xavequei o meu pai, dizendo que ia para a casa da tia Sandra, mas fui pra night.”)
4 - fazer com que outrem faça aquilo que queres(“xavequei o pedreiro para deixar tudo por 50 pilas.”)
Dicionário carioquês-paulistês
68
Ducha de letras
inverteu-se o tempo,deixou-se ele ao relento,que dele faremos?
o equipamento,revelou-se ele ao extremo,como disso esquecemos?
do ralo transbordou,uma água trans-suja,escrita garatuja.
esqueceu-se o momento,baixamos o vento,que dele aprendemos?
o acampamento,de todo o mal isento,como dele nos desfizemos?
do chuveiro saiuuma água des-limpa,poesia supimpa.
69
aqui as vejo,admiro.são como pequenas pérolas para mim.
é um pecadoescrevê-las juntas,como faço.
logo elas que tanto me fortalecem.abalroam meu espírito.
como gosto de vós.a quem recorro nos piores momentos.quando então congregamos como ovelhas.
Vós orais por mim,sois minha voz bidimensional.
Crio de vós algum significado,semiótica significante,proxemia inicializante.
Temos algo em comum.A paixão pelo papel.
Letras
70
Sou assimum poeta sado-masôjogo com palavrasatiro metáforase recebo tudo de voltaespanco a ortografiamando às favas a sintaxee sofro as conseqüênciasexponho mazelassacrifico amor-própriomas tudo nos conformesda auto-satisfação.
Dominador/dominado
71
Poesia fina
fina poesiaafilada
umanobre
afilhadaremetida
metidaem
parcosespaços
deperfil
ladeadade branco
depredada
72
inevitáveis sãoinclusiveaqui abrindo aspas“para nossa manutenção”
no entorno do problemaestá inscritaa solução
inerente ao poemafica a marcação
os pontosvírgulasas crases da equação
entendo assimhumanamenteque a poesia encontrae dá vasão
remexe e reviraas palavras ebulição
recorrendo aos sentidosextraindo a sensação
Parâmetros
73
os verboslínguasfinalização
daí passamos às fraseshumildementenuma tentativade elaborar a oração
complexo é o contextoque encaixa tudoredação
completa-se o textosobra a saudação
aos poetaspoetisasem contemplação
74
Temos letrasfaltam as palavrasentrecortadas as frasesentrevista a poesia
Situação
75
Resumo
canetasescrevemo papelsua vítima fatal
coraçõesescrevemo vaziosua vítima fatal
palavrasdescrevema linguagemsua vítima imortal
letrasagrupamidéiasparceiras totais
poesiasagitam coraçõesesvaziam canetasenriquecem linguagensaviltam palavrascongregam idéiase fazem sopas de letras
Moderna Concretude
77
O abrupto intenta
abruptamentesurge, representao símbolo cresceseu valor aumenta
o fio da navalhadesgasta o olhara altura da muralhadesvia o gostar
dramatização latentedescobre-se urgenteteatralizaçãodessacralização
o espelho devolvenão inventarecebe e transmite
acontece a mágicao espírito intentaconcebe e transmuta
em outra coisa, outro lugarescoa, flui devagara mente voa, a divagar
a trompa entoaseu timbre ecoaresvala nos penhascosatravessando o vale
78
Almas desalmadas
Almas vacilantes enfrentamalgo semelhante a um turbilhão
herdam tudo sem sabersem provar do vinho sendo entregue
um tufão,entusiasmo da ciênciadespertar da consciênciareiterar da decadência
em tendas alucinantes experimentamperícia tecnológica a atacadocompram tudo que podem quererabstraem-se do que não querem ver
com bandeiras exultantes vibraramsobre castelos de cartas de pôquer
porque resistiam em crêrapaixonadamente na salvação do homem e da mulher
79
Resposta absoluta
A veracidade da respostacertamente absolutado contato extra-humanovorazmente alcançadoatravés do espaço microscópico
dos grandes fatos corriqueirostransitáveis criaçõeslivro farto de imagens
80
Triste e bela
acredito na belezateoria da tristezauma beleza apagadaà espera de saídaa espalhar conhecimentoe ter comprometimento
suprir tua ausênciaoh! Modernidadecom moderada sapiência
81
concretoabstratoângulo retodentro de um prato
ponto e linhafigurativo definha
chapa de açocadeira de plásticovidro fumêrádio e tevê
fibra de vidronylon tecidoanfetaminaóleo, gasolina
desce o produtopelo gasodutonão demora um minuto
A moderna concretude
82
Permuta trivial
villatomlobosjobim
tirasomestrobosestopim
mirabomglobosenfim
83
Hereditralhas
o avô está mais atrásque o bisavô de meu filho estará para mim
o avô está mais atrásque seu bisavô estava para seu pai
não conheço meus avósna complacência de meus devaneiosego e kin estamos a sós
84
Globalização muderna
folha de coca, óleo de dendêBangkok, Aiuruoca, LP, K7, CD
o que faço no Riorepercute na Austrália
o bater das asasda inocente borboletaprovoca o el niñoenchentes em todo o planeta
fractal, teoria do caosexcursão a Marte, guerra no Laos
Mobuto, Salazar, Pinochetdireitos humanos, ONU cadê você?
85
Cabeça dura
concretocalçadouma calça de concreto
manchasplásticasna calçada de concreto
minha cabeçabate nuano concreto cru
minha cabeça nuabate crua no concreto
areia cruacabeça nuaraspada no concreto
crânio durocabeça cruabate dura no concreto
Sofridas
87
Repositório
vou passara tudo guardar
tornarei-me um obesoenfezadoe tudo odiarei
escolha inevitávelpois a lama invade
enchente odiosa
remexerei todos os cantosos enfeitarei com o mal
disso pode surgir o enlevoqual Lúcifer em sua grandeza
e sua enorme pequenez
88
O desfraldar das velasrumo à ocidentalidade
perenesumbrais enevoadossente-os?estás a cair na moita descabidatorneie o pescoçogira-o a oestepersistirásvejo-o no espelho de Nimrodelnãofatigante o destino que pertence aos mortaisa morte está do nosso lado
flagre o desvendarveja no escuromas sopese a mágoa.o fogoso apressou o fimda magia, e do canto élfico.
vá,una-se com as pilastrasa mansão te espera,a circularaliviar.
89
Nau perdida
solto frouxa a minha dor,que após mastigar meus ossos puídosdeixou-me a soçobrar,qual vela esvoaçante na areia
que um dia alcemos vôo em vento trajante,em breve fulgor
tangenciamos loucos redemoinhosno distante timbre da morte
riremos quando a onda engolfarnossas esperanças tardiasrostos serenose corações partidos?
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O desfraldar das velasrumo à ocidentalidade #2
chegaste à beira do mar.
Viste os navios ancorados,com seus cascos vivos,lisos de betume,salgados pela água.
Observaste as gaivotas,mergulhando lá do alto,alimentando-se de peixes prateados,trazendo notícias de outras paragens.
Pisaste nas pedras,caminhaste nas areias.Molhaste os pés,aliviaste o rosto com o frescor do mar.
Ouviste as ondas,carregadas de histórias,trazidas por Ülmo,de profundos lugares.
Sentiste a brisa calma,as nuvens a viajarna direção do sol poente,que as alaranjava.
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O desfraldar das velasrumo à ocidentalidade #2
chegaste à beira do mar.
Viste os navios ancorados,com seus cascos vivos,lisos de betume,salgados pela água.
Observaste as gaivotas,mergulhando lá do alto,alimentando-se de peixes prateados,trazendo notícias de outras paragens.
Pisaste nas pedras,caminhaste nas areias.Molhaste os pés,aliviaste o rosto com o frescor do mar.
Ouviste as ondas,carregadas de histórias,trazidas por Ülmo,de profundos lugares.
Sentiste a brisa calma,as nuvens a viajarna direção do sol poente,que as alaranjava.
Lembraste de Míriel,Oh! Míriel,que Morgoth levara,em sua ira bestial.
Lamentaste,e não poucos foram os lamentos.E desejaste, desde Beleriand,partir.
Ansiaste pelo mar,rumaste a oeste,e agora pensas,em Aman.
Teus primos Teleri te levarão,e Vanyar te receberão.Mayar te acolherão,e finalmente descansarásna mansão daquele que tudo julga e vê.
Serás, e és, uma nota completana Ainülindale.
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Tais condições (geração)
neste mar de saudadesinto-me à derivados ventos e dissabores do tempo
minha vista alargadaextendida pela dorextrai poças d’águado poço seco do meu amargor
tais lágrimaspequenos goles de sofrimentonão contribuem em muitona vastidão das águas do mar
deixei de sofrerpara estar com vocêdeixei de sentir-me sópara estar com você
tais brincadeirasde fim de tarde do amadurecernos outonos latinosde distantes Bolívias e fortalezas
o alvo se estabeleceuo sino ressooueu sentie reaprendi
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Realidade das bordas do mundo
Embora seja realidadedo mundo só quero o fimnão tomo as rédeas da vidapois o couro está a fogo
que persigoaté as bordas do mundopara voltare encontrar minha casa a fogo
deste modoo que persigome persegueminha cabeça a fogo
encontrono meio do mundoo quente trovoardos nossos corações
atravesso a couraçado couro queimadoda casa fendidadas bordas do mundo
voltei a quererpois devia esquecernão é nada dissosomos eu e você
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Desertos dourados do sul
um dia que nasceo sol que despontana beira do universoazul enegrecido
pontilhado de brilhosluminescências aspergidasflocos de metalsobre tela escura
é tudo que temosnesta terra batidachão brutopele carcomida
o barco navegao rio deságuao banco de areiadesaparece no vento
as ondas derrapamna lua que giracom os uivos do loboque sai da sua toca
focinho douradodo sol que levantabigodes prateadosda lua que morrena terra batidados desertos do sul
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Resquícios
de algo alémcertas notícias me vêmtrazem coisascomo barcaças de lixo
trazem pequenas lembrançasde alguémque eu fui
como que sobem à tonareaparecemestimulam questões
atuo, traduzoregurgito, vomitoe o que vejonão me apraz
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Combinação
está combinadoque bradoquando é a hora
está quebradona hora em que fuiem boa horade ir embora
com tudo,fiquei eu para observarpessoas ireme eu ficar
por aqui mesmomesmo sem ti
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O abismo
É a interseçãodo fim com o absolutoque dá em nada
É a certezado vazio como axiomaque acaba em escuridão
É a fonte que sugada sorte ao frio zeroque faz tremer a ilusão
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O túnel
O túnel avançaseus lados orientame alavancam
A escuridão no começo do túnelé o que nos leva a adentrá-lo
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Além d’alma
sua majestade,a tristeza
autorizas-me a seguir?
pois tua autoridadepesa-me uma tonelada no bojo
que queres fazerda humilde humanidade?
enternecer-lhe a alma além?
pois com teus plenos poderesenxugas-me a lágrima no olho
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Lamento pop
é tanta coisa para dizer.me lembro de você,dançando na areia fofa,os panos coloridos voavam,feito pipas,as ondas batiam.
tudo caminhava como devia,o mar cerzia,era uma vida destituída de valor,apenas a brisa vivia,o céu abria.
os vidros não eram de plástico,os mitos não quebravam,os tios não se casavam,os fios não embaralhavam.
tudo seguia seu rumo,e as ondas quebravam.
é tanto para saber,me esqueço de entender,pulando na grama rala,o rio passavafeito sonho,as ondas batiam.
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tudo aparecia como esperado,o céu abria,era uma viagem destituída de tempo,apenas a maré descia,o mar cerzia.
os copos não eram de plástico,os governos não quebravam,os viúvos não se casavam,as informações não embaralhavam.
tudo seguia seu fluxo,e as ondas quebravam.
Dedicadas
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Ermos caminhantes
que tuas veleidadesnão naufraguem
que as naus e suas velasde velhas cidades partirampara nunca mais
há um caminho inexploradomarcado pelas pegadas solitáriasde ermos caminhantes
estas bóiamluminosasao sabor das águas do mar
se ao fundovejo estreitoeste caminho não rejeito
ultrapasso a qualquer custosem receio, deste jeito.
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Filho que és
A virtude está incontida,ela reflete o que estáescrito no teu olhar.
Não te deixes apavorar,pois o sagrado está tão perto do agradável.
Sejas filho dos teus desígnios,guerreiro que és,entretido com a infindável batalha.
Não negues aqueleque se encontra em tuas próprias embalagens.Que habita tua carnee segue teu coração,reto,inabalável.
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Nascituro
Nascie cresci,multipliquei.
A fórmula completade qualquer existência:aprender e amar.
Aprender a amar.Amar aprender.
Todo nascituro,ensinei a sorrir,desvelar o encantodentro de si.
Minh’alma é minha benção.
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O dom
Zelei,cuidei e amei.Eis o que vi.
É certo na vidaonde carrego meu corpoquem procura seu domse enamora e fica.
Posto que vi e aprendialmejo encontrar,decerto não em livros,aquilo para quê nasci.
O fim encontra-se em si mesmo,e a retomada é suave.A dúvidadeixamos a esmo.
107
A brisa da tarde passoue deixou um recado:
“ não se apresse ... ”
não sendo a vaquinha no pradoachei por bem responder:
“ a quantas anda meu grande amor? ”
do ninho alegreo pardal assoviou:
“ quem nada sabe melhor pergunta. ”
e resolvi descansar.
O ninho do Pardal
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Naná, nair
nino quer naná nair
na ira de nair pousa uma mariposaum par de sentimentoso fletir do pensamentoausênciade momentona essência e na paz e no sofrimento
nino quer nair naná
que a mariposa pouse no nariz de nossa senhora, naire nos ouça cantaruma canção sem venenocócegas e risadas do pequeno Brenoe nos verá sorrir
nair quer nino naná
o vinho foi entregue em mãos que seguram a famíliase foi o avôseu pai de Bordôque trouxe essa garrafame traz uma taça que nino quer é beber!
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Morena marinha celeste
vindo de terras distantesgaroentas, empoeiradaso som da tua voz mistura-se com as ondas
resvala nas grandes pedrase alegra-me o entardecerneste marítimo céu andino
é nele que quero voare contigo descobrir novos coraçõesonde nossas risadas encherãoo vazio das estrelasazul-marinho celeste
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Aliviar
alívioque comandae saúda o espírito
alegre,livre gozode suas faculdades
pereneeterno sonoabate o céu ausente
permeiapercorre e senteo sangue quente
a voz da terraencantajorra enchente
a dança da luacoerentesobe rente
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alívioque comandae saúda o espírito
alegre,livre gozode suas faculdades
pereneeterno sonoabate o céu ausente
permeiapercorre e senteo sangue quente
a voz da terraencantajorra enchente
a dança da luacoerentesobe rente
sou a última estrelado teu colar de contase o vento ao nosso redorme conta que lá estevesonde o mesmo faz a curvae voltastes para contaro que vistes
e a história continua...
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Um cigarro após o outro
nervoso estásum cigarro após o outrobates o fumo apagado na mesa
perguntas-mese estou nervosonervoso estásum cigarro após o outro
és meu amigoisso importaabramos a portae vamos entrar
rapidamentecomo o raio que a vida traz
num lapso vemos a moçae o devaneio nos unecada um a olhar
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Quem sois?
pois sendo,sou feliz.
entendoo que me diz.
distante,estás perto.condiz.
olhas,com teus olhos orientais,o vasto mundo.
orientaiso impulso,o ímpeto,o leve despertarde um domingo ensolarado.
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Viva a beleza viva
não utilizaria a beleza das jóiasuma beleza límpida, simvaliosae até extraordinária
porém friaelaborada por mãos mortais
seria mais como a beleza viva das floresefêmera, frágil e delicadajamais tocada por artíficesdepurada por eras evolutivasresplandecendo o valor do afeto
é uma beleza fluida, móvelem constante mutaçãopermanecendo paradoxalmente estática
contém matizes de verdes pálidosamarelos vicejantese vermelhos ruidosos
algo como extrair o risode um anoitecer prateadodeslizar de barrigapor um lago de gelo
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não utilizaria a beleza das jóiasuma beleza límpida, simvaliosae até extraordinária
porém friaelaborada por mãos mortais
seria mais como a beleza viva das floresefêmera, frágil e delicadajamais tocada por artíficesdepurada por eras evolutivasresplandecendo o valor do afeto
é uma beleza fluida, móvelem constante mutaçãopermanecendo paradoxalmente estática
contém matizes de verdes pálidosamarelos vicejantese vermelhos ruidosos
algo como extrair o risode um anoitecer prateadodeslizar de barrigapor um lago de gelo
queimar-se por estarperto demais do sol
existe e é uma sínteseresume em uma flora beleza mutável de muitas
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Juventude Sônica
a juventude sônica se ergueatravés dos ergs da solidãoguitarras gritam seus lamentosde pura satisfação
suas cordas cortantesemitem notas vibranteschoram pela juventudeainda presente em nossos corações
paredes de somnuma nação do dia sonhadoracendem velas esperançosasesperam encher o ouvido de canções
sonhos foram perdidosnão neguemos
umafoi encarcerada em suas próprias ilusões
outrarompeu com suas preces e navegou em dúbias direções
umvolveu à sua terra de frustrações
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a juventude sônica se ergueatravés dos ergs da solidãoguitarras gritam seus lamentosde pura satisfação
suas cordas cortantesemitem notas vibranteschoram pela juventudeainda presente em nossos corações
paredes de somnuma nação do dia sonhadoracendem velas esperançosasesperam encher o ouvido de canções
sonhos foram perdidosnão neguemos
umafoi encarcerada em suas próprias ilusões
outrarompeu com suas preces e navegou em dúbias direções
umvolveu à sua terra de frustrações
outromantém as mesmas relações
eurumo a outras paragens de visões
entre um e outro,outra e uma,eu e eu mesmo,vivemos nossa juventude inacabada
mas o som das guitarras não esmorece