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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDAE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA
REVISO DE LITERATURA: PASTAS BASE DE HIDRXIDO DE CLCIO USADAS COMO MEDICAO
INTRACANAL
Autor: Juliana Rodrigues Rozatto
PIRACICABA
2010
ii
JULIANA RODRIGUES ROZATTO
REVISO DE LITERATURA: PASTAS BASE DE HIDRXIDO DE CLCIO USADAS COMO MEDICAO INTRACANAL
Monografia apresentada ao curso de
Odontologia da Faculdade de Odontologia
de Piracicaba UNICAMP, para obteno
do diploma de Cirurgio-Dentista.
Orientadora: Profa Dra. Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes
Piracicaba
2010
iii
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA
Bibliotecria: Elis Regina Alves dos Santos CRB-8a. / 8099
R817r
Rozatto, Juliana Rodrigues.
Reviso de literatura: pastas base de hidrxido de clcio usadas como medicao intracanal / Juliana Rodrigues Rozatto. -- Piracicaba, SP: [s.n.], 2010.
43f.
Orientador: Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes.
Monografia (Graduao) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba.
1. Endodontia. 2. Compostos qumicos. 3. Concentrao de ons de hidrognio. I. Gomes, Brenda Paula Figueiredo de Almeida. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Odontologia de Piracicaba. III. Ttulo.
(eras/fop)
iv
DEDICATRIA
Dedico este trabalho aos meus pais: Ieda e Valter, por todo amor, amparo e pacincia, ao longo de minha vivncia.
v
AGRADECIMENTOS:
Primeiramente Deus, por ter me oferecido sade para a realizao de mais esta etapa da minha vida.
minha famlia, que sempre me apoiou e me acompanhou em todos os meus momentos vividos at agora.
Aos meus grandes colegas de sala, que me acolheram durante todos estes anos, fazendo com que estes momentos jamais fossem esquecidos.
Profa Dra. Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes, que sempre confiou em mim, desejando sempre meu crescimento pessoal e profissional.
ps-doutoranda Giselle Priscilla Cruz Abi Rached, que me orientou todos estes meses e muito me auxiliou na realizao deste projeto.
Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas, que foi como uma segunda casa para mim durante estes 4 anos.
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Resumo
A contaminao bacteriana radicular a principal causa das doenas
periodontais apicais. Para tanto, a limpeza e desinfeco do canal radicular so
fundamentais para o sucesso do tratamento endodntico. Para auxiliar neste
sucesso, uma variada gama de substncias qumicas auxiliares e medicaes
intracanais so utilizadas em associao instrumentao do sistema de canais
radiculares. Estas medicaes so utilizadas principalmente quando no possvel
a finalizao do tratamento endodntico em uma nica sesso devido diversos
fatores como: a) presena de sintomatologia dolorosa, b) presena de exsudato
persistente, c) presena de sangramento intrarradicular e d) falta de tempo tanto do
paciente quando do operador. Entre estas medicaes intrarradiculares destaca-se
o hidrxido de clcio que possui inmeras propriedades desejveis, tais como a
biocompatibilidade, a ao antiinflamatria e antimicrobiana, a estimulao e a
formao de tecidos sseos mineralizados e sua contribuio no processo de
reparo tecidual. Todas estas caractersticas se deve ao seu elevado pH, promovido
pela sua dissociao em ons clcio e hidroxila que torna o meio celular
incompatvel com a vida. Por apresentar-se na forma de p, o hidrxido de clcio
deve ser associado a uma outra substncia que permita sua veiculao para o
interior do sistema de canais radiculares. Entre os veculos mais comumente
usados esto a clorexidina gel 2%, o soro fisiolgico, solues anestsicas e leo
de oliva. O objetivo deste estudo foi realizar a reviso bibliogrfica sobre o
hidrxido de clcio, assim como suas propriedades fsico-qumica e sua utilizao
clnica.
Palavas chave: tratamento endodntico, medicao intrarradicular, hidrxido de clcio, substncia qumica auxiliar e pH.
vii
Abstract
Bacterial contamination is the main root cause of apical periodontal diseases.
To do so, cleaning and disinfection of the root canal are crucial to the success of
endodontic treatment. To assist in this success, a variety of auxiliary chemicals and
intracanal medications are used in association with the instrumentation of root
canals. These medications are primarily used when it is not possible the completion
of endodontic treatment in one session due to several factors: a) presence of
painful symptoms, b) persistent exudate, c) presence of bleeding intraradical d) lack
of time both the patient when the operator. Among these medications intraradical
highlight the calcium hydroxide which has many desirable properties such as
biocompatibility, anti-inflammatory and anti-microbial stimulation and formation of
mineralized bone tissue and their contribution in the process of tissue repair. All of
these features is due to its high pH promoted by its dissociation into calcium and
hydroxyl ions which makes the cellular environment is incompatible with life. By
presenting itself in the form of powder, calcium hydroxide should be associated with
another substance that would allow its placement into the root canal system.
Among the vehicles most commonly used are 2% chlorhexidine gel, saline,
anesthetic and olive oil. The aim of this study was to review the literature on calcium
hydroxide, as well as its physico-chemical and clinical use.
Keywords: endodontic treatment, intracanal medications, calcium hydroxide,
chemical auxiliary substances and pH.
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Sumrio
1. Introduo...................................................................................................1
2. Objetivo.......................................................................................................3
3. Reviso de Literatura..................................................................................4
3.1. Atividade Biolgica e antimicrobiana mecanismo de ao..................4
3.1.1. Ao Biolgica..................................................................................5
3.1.2. Atividade Antimicrobiana.................................................................10
3.2. Veculos, Associaes e Dissociao inica do hidrxido de clcio...19
4. Discusso..................................................................................................25
5. Concluso.................................................................................................28
6. Referncias Bibliogrficas.......................................................................29
1
1. INTRODUO
A terapia endodntica tem como uma de suas principais finalidades a
modelagem, limpeza e desinfeco do canal radicular, sendo realizada removendo
todo o tecido pulpar ou restos necrticos e os microrganismos presentes no
sistema de canais radiculares (Bystrm & Sundqvist, 1981) seguido de sua
obturao, a fim de ocupar todo espao vazio, impedindo nova invaso e
colonizao bacteriana, alm de impossibilitar que bactrias remanescentes
possam atingir os tecidos periapicais.
Para tanto, a endodontia faz uso de substncias qumicas auxiliares e
de agentes irrigantes em associao com o preparo qumico-mecnico. Tanto as
substncias qumicas auxiliares como os agentes irrigantes so utilizados para
agir no somente nas paredes dentinrias, mas, sim, em todo o sistema de
canais radiculares, em regies onde os instrumentos endodnticos no tm
acesso, promovendo assim a lubrificao, desinfeco, limpeza e remoo de
debris e restos pulpares ou necrticos (Rached, 2010).
Apesar da eficcia das substncias qumicas auxiliares e dos agentes
irrigantes em promover a limpeza e desinfeco, situaes como: a) dor
percusso e/ou palpao, b) presena de exsudato persistente, c) rizognese
incompleta, d) ausncia de tempo suficiente para obturao, e) fadiga do
operador e/ou paciente podem impedir a concluso do tratamento endodntico
numa mesma sesso.
Nestes casos, o uso de uma medicao intracanal entre sesses est
indicado. De acordo com Lopes & Siqueira em 2004, o uso de medicaes
intracanal nestas situaes objetiva: a) promover a eliminao e proliferao de
microrganismos, b) atuar como barreira fsico-qumica contra infeco ou
reinfeco por microrganismos da saliva, c) reduzir a inflamao perirradicular,
d) solubilizar matria orgnica, e) neutralizar produtos txicos, f) controlar
exsudao persistente, g) controlar reabsoro dentria externa inflamatria, h)
estimular a reparao por tecido mineralizado.
Dentre uma gama de medicamentos utilizados, podem ser citados: I)
derivados fenlicos (eugenol, paramonoclorofenol, paramonoclorofenol
canforado, cresatina, cresol, cresoto e timol), II) aldedos (tricresol formalina ou
2
formocresol e glutaraldedo), III) halgenos (iodofrmio e iodeto de potssio
iodetado 2%), IV) Bases ou hidrxidos (hidrxido de clcio), V) Corticosterides
(hidrocortisona, prednisolona e dexametasona) e VI) Antibiticos.
Dentre as medicaes intracanais, o hidrxido de clcio (Ca(OH)2
atualmente o mais utilizado pela sua bem documentada atividade antibacteriana
contra a maioria das cepas isoladas de infeces do canal radicular (Law &
Messer, 2004). Alm da atividade antimicrobiana, o hidrxido de clcio
apresenta propriedades como: dissoluo de remanescentes orgnicos, ao
antiinflamatria, inibio de reabsores inflamatrias e a funo de barreira
fsica (Lopes & Siqueira, 2004).
Desta forma, discorrer sobre medicaes base de hidrxido de
clcio possibilita o conhecimento e reviso literria desta medicao
amplamente empregada em casos onde no se pde concluir o tratamento
endodntico numa mesma sesso.
3
2. OBJETIVO
O presente estudo tem como objetivo, evidenciar as principais propriedades
do hidrxido de clcio, bem como seus mecanismos de ao antibacteriano e
biolgico.
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3. REVISO DE LITERATURA
Atualmente o hidrxido de clcio tem sido considerado a medicao
intracanal de escolha por apresentar propriedades como: a) controle microbiano, b)
dissoluo de restos orgnicos, c) poder antiinflamatrio, d) inibio de
reabsores inflamatrias (Lopes & Siqueira, 2004).
A primeira referncia ao uso do hidrxido de clcio foi feita por Nygrem em
1838, no tratamento de fstula. Codman (1851) empregava o hidrxido de clcio em
amputaes pulpares. Bernhard W. Hermann comeou a us-lo em trabalhos
cientficos e ento, sob o nome comercial de Calixyl, o hidrxido de clcio passou a
ser difundido. Mas, a maior efetividade clnica do hidrxido de clcio quando
comparado s medicaes anteriormente usadas foi verificada por Bystrm et al.,
em 1985.
O hidrxido de clcio constitui-se de uma base forte, obtida a partir da
calcinao do carbonato de clcio, sendo que com a hidratao do xido de clcio
forma-se o hidrxido de clcio. Apresenta-se na forma de p branco, alcalino e
pouco solvel em gua.
3.1. Atividades biolgicas e antimicrobiana - mecanismo de ao:
a) Contra reabsores: as atividades osteoclsticas ocorrem num pH em torno de 5,5 e como o pH do Ca(OH)2 em torno de 12, ele neutraliza a ao dos
osteoclastos impedindo as reabsores (Kontakiotis et al., 1995; Gomes et al.,
2002).
b) Contra exsudato inflamatrio: em contato com um tecido inflamado, o hidrxido de clcio pode absorver exsudato inflamatrio, reduzindo a presso
hidrosttica tecidual. Isto ocorre porque o hidrxido de clcio hipertnico em
relao ao meio, no caso, os fludos teciduais (Lopes & Siqueira, 2004).
c) Antimicrobiano: o hidrxido de clcio reage com gs carbnico (CO2), formando carbonato de clcio (Ca2CO3). As bactrias que precisam de CO2 so
eliminadas por causa da competio por este gs (Kontakiotis et al., 1995; Gomes
et al., 2002).
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3.1.1. Ao biolgica
Em 1997, alikan & Turkun relataram o caso de um paciente adulto jovem
com rizognese incompleta e extensa leso cstica, decorrente de um traumatismo
sofrido 12 anos antes, tratado com pasta base de hidrxido de clcio como
medicao intracanal (com trocas dirias durante 4 dias, por causa da presena do
lquido cstico). A regresso da leso e fechamento do pice deu-se em 9 meses, e
em 15 meses, observou-se o reparo periapical. Foi verificado pelos autores que
leses csticas podem regredir apenas com uso de medicaes intracanal base
de hidrxido de clcio, sem a necessidade de realizao de tratamento cirrgico.
Holland et al. (1998) pesquisaram sobre o comportamento dos tecidos
periapicais aps biopulpectomia e a ao do hidrxido de clcio e da associao
corticosteride-antibitico, antes da obturao dos canais radiculares com cimento
base de xido de zinco e eugenol ou de hidrxido de clcio. Aps o preparo
qumico-mecnico e a sobreinstrumentao, os dentes foram divididos em dois
grupos: um recebeu como medicao intracanal a pasta base de hidrxido de
clcio, e, o outro, a associao corticosteride-antibitico. Decorridos sete dias, as
medicaes foram removidas e os canais obturados com guta-percha e cimento
base de xido de zinco e eugenol ou base de hidrxido de clcio. Num perodo
de 180 dias, foi realizada a anlise morfolgica, a qual demonstrou que como
medicao intracanal o hidrxido de clcio apresentou melhores resultados quando
comparado a associao corticosteride-antibitico. A pesquisa revelou ainda que
o cimento base de hidrxido de clcio promoveu melhor selamento biolgico
quando comparado ao cimento base de xido de zinco e eugenol.
Em 1999, Holland et al., analisaram o emprego de trs formulaes
diferentes do hidrxido de clcio (Calen = hidrxido de clcio + polietilenoglicol
400, S.S.White Brasil, Calen + paramonoclorofenol canforado e hidrxido de
clcio + anestsico) como medicao intracanal, por 3 dias no tratamento de
dentes com leso periapical. Em seguida, os dentes foram obturados com cimento
base de hidrxido de clcio. A anlise histomorfolgica, realizada aps 6 meses
demonstrou no haver diferena significativa entre os grupos estudados. Em 50%
dos casos foi observado reparo completo e em 46% havia sinais do processo de
reparao.
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Trope et al. (1999) avaliaram radiograficamente, o reparo apical em dentes
portadores de periodontite apical tratados em sesso nica ou em duas sesses,
empregando ou no o hidrxido de clcio como medicao intracanal. Os
pacientes foram divididos em 3 grupos: o Grupo I recebeu tratamento em sesso
nica, os Grupos II e III receberam tratamento em duas sesses, tendo o Grupo III
recebido medicao intracanal base de hidrxido de clcio entre as sesses. Foi
utilizado um mtodo de contagem do ndice periapical para comparar as diferenas
entre o incio do tratamento e aps 52 semanas. Os resultados demonstraram
diferenas estatisticamente significantes. Os dentes tratados sem o uso de
medicao intracanal em duas sesses apresentaram nveis de reparo inferiores
quando comparado aos outros grupos.
Em 1999, Goldstein et al. relataram casos clnicos de rizognese incompleta,
tratados com pasta base de hidrxido de clcio (1 caso com polpa necrosada e 1
caso com polpa vital), promovendo a apicificao e apicegnese respectivamente.
No caso em que o elemento dental apresentava-se com polpa necrosada, aps
sofrer traumatismo, o dente foi aberto e o preparo qumico-mecnico foi realizado.
O elemento dental foi preenchido com pasta base de hidrxido de clcio.
Avaliaes foram realizadas a cada 3 meses durante 2 anos. Decorrido este
tempo houve formao da barreira apical, sendo o dente ento obturado. Na
proservao, realizada aps 10 anos, observou-se ausncia de sintomatologia e a
integridade dos tecidos de suporte. No outro caso, tambm com histria de trauma,
os elementos dentais envolvidos apresentavam-se com polpas vitais, um deles
normal, e outro, j apresentava sinais de comprometimento pulpar. Neste ltimo, foi
realizada uma pulpotomia e colocao de pasta base de hidrxido de clcio
sobre o remanescente pulpar para promover a apicegnese. Aps 2 anos,
constatou-se o fechamento apical. Em seguida, o tratamento endodntico foi
concludo.
alikan et al. (2000) apresentaram casos clnicos de reimplante dental. Os
dentes foram reimplantados aps a decorrncia de 3 horas do acidente, nos quais
os elementos dentrios j estavam secos. Aps limpos e hidratados, os dentes
foram reimplantados e esplintados. No caso I, o paciente s retornou para o
tratamento endodntico 1 ms depois. J havia extensa reabsoro radicular
externa apical. No caso II, a paciente retornou no dia seguinte ao reimplante. Antes
da obturao os canais foram preenchidos com pastas base de hidrxido de
7
clcio. Trocas dos medicamentos intracanais foram realizadas 1 vez por semana
num perodo de 15 dias. Os casos foram proservados clnica e radiograficamente
no perodo de 6 a 24 meses e apresentavam-se assintomticos, com mobilidade
normal e sem presena de evoluo da reabsoro radicular ou anquilose.
Weiger et al. (2000), pesquisaram a influncia do hidrxido de clcio como
curativo de demora na cicatrizao de leses periapicais associadas com dentes
despolpados que no foram previamente tratados endodonticamente. Isto foi
possvel atravs da comparao do prognstico aps um tratamento endodntico
realizado em uma nica sesso e o tratamento endodntico realizado em duas
sesses.Foram selecionados 73 pacientes portadores de leso periapical porm,
somente 67 foram re-examinados. Trinta e um dentes (31 pacientes) receberamo
hidrxido de clcio e a finalizao do tratamento endodntico ocorreu na segunda
sesso.Nos outros 36 dentes, o tratamento endodntico foi finalizado na mesma
sesso. Os critrios de sucesso foram a ausncia de sinais e sintomas indicativos
de uma fase aguda de leses periapicais e radiograficamente um espao do
ligamento periodontal de espessura normal. Em ambos os grupos de tratamento, a
probabilidade da reduo da leso periapical e o sucesso do tratamento
endodntico em um tempo de observao de cinco anos ultrapassa 90%. Do ponto
de vista microbiolgico, foi concludo que tanto o tratamento endodntico finalizado
em uma nica sesso, quanto o tratamento endodntivo finalizado em duas
sesses tero sucesso, se o tratamento criar condies ambientais favorveis para
o reparo periapical.
Grecca et al. Em 2001, avaliaram radiograficamente o reparo perriradicular
aps o tratamento endodntico de dentes de ces com periodontite perriradicular
induzida. Nos canais radiculares foi utilizado hipoclorito de sdio 5,25% como
soluo irrigante. Aps a instrumentao, os canais radiculares foram preenchidos
com hidrxido de clcio (Calen PMCC ou Calasept) que foi deixado no local por 30
dias. As amostras foram divididas em 4 grupos: grupo I - Calen PMCC + Sealapex,
grupo II Calasept + Sealapex, grupo III Calen PMCC + AH Plus e grupo IV
Calasept + AH Plus. Tomadas radiogrficas nos perodos de 90, 180, 270 e 360
dias foram realizadas. Os autores verificaram que as leses dos grupos I, II e III
foram semelhantes na reduo de tamanho, enquanto que o grupo IV apresentou
uma pequena reduo no tamanho da leso (p
8
eficincia das medicaes intracanais, quando a reduo e eliminao das leses
perriradiculares so avaliadas.
Em 2002, Silva et al. avaliaram o efeito do hidrxido de clcio sobre a
endotoxina bacteriana in vivo. Aps a extirpao da polpa de 60 pr-molares, os
canais foram divididos em 4 grupos: grupo 1- endotoxina bacteriana, grupo 2-
endotoxina bacteriana + hidrxido de clcio, grupo 3- soluo salina e grupo 4-
tiveram leses periapicais induzidas sem tratamento. Aps a anlise histolgica foi
verificado que o infiltrado inflamatrio, a espessura do ligamento periodontal, e a
presena de reas de reabsoro foram similares para os grupos 1 e 4. Os grupos
2 e 3 foram semelhantes entre si. Os autores concluiram que a endotoxina
bacteriana causou a leso periapical e que o hidrxido de clcio desintoxicou o
lipopolissacardeo in vivo.
Ainda em 2002, Oztan relatou o caso de um paciente de 12 anos de idade,
com uma grande leso periapical dos incisivos inferiores. A leso apareceu aps
um trauma aos 7 anos de idade. O preparo qumico radicular foi realizado e a
substncia qumica auxiliar de escolha foi a clorexidina. O hidrxido de clcio foi
utilizado tanto para o curativo de demora como para base do cimento endodntico.
Trs meses aps a obturao observou-se o reparo periapical. Os autores
observaram que uso de digluconato de clorexidina e de hidrxido de clcio para
controle da infeco levou cura substancial de uma grande leso periapical.
Nesta pesquisa foi verificado que extensas leses periapicais podem regredir sem
a necessidade de um procedimento cirrgico, porque o uso da substncia qumica
auxiliar e da medicao intracanal so efetivos.
Leonardo et al. (2003) avaliaram o reparo periapical e apical de denetes de
ces com leses periapicais aps tratamento endodntico com diferentes cimentos
endodnticos. Aps a induo de leses periapicais, os canais radiculares foram
submetidos ao preparo qumico-mecnico com hipoclorito de sdio 5,25% como
soluo irrigadora. Foi inserido Calen PMCC nos canais radiculares como
medicao intracanal. A obturao dos canais foi realizada aps 15 dias pela
tcnica da condensao lateral, variando apenas o cimento: Sealapex Plus, AH
Plus ou Sealer Plus. O sacrifcio dos ces foi realizado em 180 dias e os cortes
histolgicos obtidos foram corados com hematoxilina-eosina para anlise
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microscpica ptica. Os grupos obturados com Sealapex e AH Plus apresentaram
melhor reparo histolgico (p
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dor intensa e edema na regio anterior da face, compatvel com um abscesso
dento alveolar agudo. Radiograficamente, o elemento 11 exibiu formao radicular
incompleta, associado a uma radioluscncia apical. Primeiramente o abcesso foi
curado. O tratamento de apicificao teve incio na segunda sesso aps 7 dias,
por meio do preparo qumico-mecnico, utilizando limas K-Filer e irrigao com
soluo de hipoclorito de sdio 2,5%. Posteriormente, uma pasta base de
hidrxido de clcio foi inserida no canal e renovada quatro vezes em mais de 8
meses, quando o exame radiogrfico revelou a total formao radicular. O canal
radicular foi obturado pela compactao termomecnica da guta-percha e cimento.
Depois de 3 anos de desenvolvimento, os tecidos periapicais mostram-se normais
e o paciente apresentou ausncia de sintomas.
Em 2010, Lee et al. compararam o tempo para a formao da barreira apical
em incisivos permanentes necrticos em formao. Os dentes foram tratados com
pastas base de hidrxido de clcio usando o ultra-som e limas manuais. Neste
estudo foram usados trinta e dois incisivos permanentes induzidos necrose por
trauma, com ou sem leso periapical (LP), em crianas com idade entre 7 a 10
anos que foram divididos em quatro grupos. Os dentes dos grupos 1 (com o LP) e
2 (sem o LP) foram tratados com ultra-som, e os dentes dos grupos 3 (com o LP) e
4 (sem o LP) foram tratados com limas manuais. Os canais foram preparados
utilizando-se de soluo de clorexidina 0,2% durante o tratamento e depois
preenchidos com hidrxido de clcio. Os pacientes foram acompanhados uma vez
a cada 1-3 semanas para renovao da medicao intracanal e para detectar a
total formao da barreira apical. O tempo mdio para a formao de barreira
apical foi de 11,1 + / - 1,1 semanas, 11,8 + / - 1,0 semanas, 13,3 + / -0,9 semanas
e 13,4 + / - 0,7 semanas para os grupos 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Estes
resultados indicaram que os dentes tratados com ultra-som requerem uma menor
mdia de tempo para a formao de barreira apical do que dentes tratados com
limas manuais, independentemente da presena ou no da leso periapical.
3.1.2. Atividade antimicrobiana
Quando o hidrxido de clcio est em contato direto com as bactrias sua ao
antimicrobiana mxima, devido liberao de ons hidroxila, originadas de sua
11
dissociao, no qual atingem nveis que tornam o meio incompatvel
sobrevivncia destas (Lopes & Siqueira,1999).
Segundo Lopes & Siqueira (1999), o efeito letal do hidrxido de clcio d-se
pelos seguintes mecanismos:
a) Perda da integridade da membrana citoplasmtica bacteriana
Os ons hidroxila removem tomos de hidrognio de cidos graxos
insaturados formando um radical lipdico livre, que reage com o oxignio,
transformando-se em um perxido lipdico. Este perxido formado remove
outro tomo de hidrognio de um segundo cido graxo, resultando na
formao de outro perxido lipdico. Assim, h a formao de uma cadeia
autocaltica, no qual h a perda de cidos graxos insaturados, resultando na
perda da integridade da membrana citoplasmtica, causando ento a morte
celular.
b) Inativao enzimtica Todo o metabolismo celular dependente da ao enzimtica. Protenas
(neste caso em especial, as enzimas), possuem uma faixa estreita de pH,
onde sua atividade tima. A alcalinizao promovida pelo ons hidroxila
induz a desnaturalizao das enzimas por quebra de ligaes inicas,
resultando em perda de atividade biolgica. Inibida a atividade enzimtica, a
clula morre.
c) Dano ao DNA Os ons hidroxila se ligam ao DNA bacteriano, reagindo e levando ciso
das fitas. Desta forma, h a inibio da replicao do DNA e desarranjo da
atividade celular.
Kontakiotis et al., em 1995, avaliaram in vitro um possvel mecanismo
envolvido na ao antimicrobiana do hidrxido de clcio na absoro de dixido de
carbono no canal radicular. Neste estudo foram usados 20 bactrias estritas e 20
facultativas de canais radiculares contaminados. Um grupo experimental e um
grupo controle foram estudados: o grupo experimental inclua uma placa com a
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espcie bacteriana, bem como uma placa aberta contendo pasta de hidrxido de
clcio. A anlise estatstica mostrou que o nmero de bactrias recuperadas no
grupo controle foi significantemente menor do que o grupo experimental,
demonstrando que o hidrxido de clcio capaz de absorver o dixido de carbono
do meio, contribuindo assim, para sua atividade antibacteriana.
Tanriverdi et al., em 1997, desenvolveram um modelo in vitro para analisar
comparativamente a eficcia antibacteriana do hidrxido de clcio (Ca(OH)2),
paraclorofenol (PCP) e paraclorofenol canforado (CPCP), contra Enterococcus
faecalis em canais radiculares infectados. A eficcia de desinfeco destas
medicaes foi avaliada por meio da coleta de raspas de dentina radicular
infectada com E. Faecalis. O CPCP e PCP mostrou-se superior em um dia ao do
Ca(OH)2. Em trs dias, CPCP foi o mais efetivo, seguido pelo Ca(OH)2.
Estrela et al. (1998), pesquisaram in vitro o tempo necessrio para o
hidrxido de clcio associado ao soro fisiolgico ter seu efeito antimicrobiano por
meio do contato direto com microorganismos. Os microorganismos utilizados
foram: Micrococcus luteus , Staphylococcus aureus, Fusobacterium nucleatum
Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Streptococcus sp. nos perodos
imediatamente e aps 1, 2, 6, 12, 24, 48 e 72 horas e 7 dias. O efeito
antimicrobiano do hidrxido de clcio foi demonstrado aps 12 horas em M. luteus
e F. nucleatum, 24 horas em Streptococcus sp, 48 horas em E. coli, e 72 horas, em
S. aureus e P. aeruginosa. As combinaes de microrganismos foram inativadas
pelo hidrxido de clcio da seguinte maneira: combinao II (M. luteus +
Streptococcus sp + S. aureus) foi sensvel ao potencial antimicrobiano de hidrxido
de clcio aps 48 horas, enquanto a combinao I (M. luteus + E. coli + P.
aeruginosa), combinao III (E. coli + P . aeruginosa), e a combinao IV (S.
aureus + P. aeruginosa) foram inativadas aps 72 horas de exposio.
Em 1999, Estrela et al. estudaram a atividade antimicrobiana do hidrxido de
clcio em tbulos dentinrios infectados contra quatro tipos de microorganismos:
Streptococcus faecalis, Staphylococcus aureus, Bacillus subtilis e Pseudomonas
aeruginosa e uma combinao destes. Sessenta e trs incisivos centrais
superiores humanos foram preparados, tratados biomecanicamente, esterilizados
em autoclave e dividos em cinco grupos de 12 dentes cada, no qual foram
contaminadas por 28 dias, renovando-se as culturas a cada 72 horas. Os canais
foram irrigados com 5 ml de soluo salina e posteriormente foram preenchidos
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com pasta base de hidrxido de clcio. Nos perodos de 48 horas, 72 horas e 7
dias, o medicamento foi removido e os dentes foram colocados em meios de
cultura para avaliao do crescimento e da proliferao dos microorganismos. A
turbidez do meio de cultura indicava o crescimento bacteriano e a ineficcia do
Ca(OH)2 em tbulos dentinrios mesmo aps 7 dias.
Gomes et al. (2002), analisaram a suscetibilidade dos microrganismos mais
frequentemente isolados dos canais radiculares ao hidrxido de clcio em
combinao com alguns veculos pelo mtodo de difuso em gar. Cilindros de ao
inoxidvel foram colocados sobre as placas de gar inoculado. Os medicamentos
testados e seus controles foram colocados no interior dos cilindros. As zonas de
inibio de crescimento foram medidas e anotadas aps o perodo de incubao de
cada placa. O Enterococcus faecalis foi o microrganismo mais resistente ao
Ca(OH)2, enquanto que a Porphyromonas endodontalis foi mais suscetvel a todos
os medicamentos, seguido por P. gingivalis e Prevotella intermedia. A combinao
de Ca(OH)2 + CMCP + glicerina apresentou as maiores zonas de inibio quando
comparada aos outros medicamentos testados. Os autores puderam concluir que
bactrias anaerbias gram-negativas so mais suscetveis a pastas de hidrxido de
clcio do que microrganismos gram-positivos.
Em 2003, Gomes et al. pesquisaram in vitro o tempo necessrio para a
recontaminao microbiana de canais selados coronariamente aps serem
medicados com hidrxido de clcio (Ca(OH)2, clorexidina 2% gel (CG) ou com uma
combinao de ambos. Oitenta pr-molares foram preparados biomecanicamente e
divididos em nove grupos: (i) 10 dentes medicados com CG e selados
coronariamente com IRM, (ii) 10 dentes medicados com Ca(OH)2 com selamento
coronrio com IRM, (iii) 10 dentes medicados com Ca(OH)2 + CG, sem selamento
coronrio, (iv) 10 dentes de medicados com CG com selamento coronrio de IRM,
(v) 10 dentes medicados com Ca(OH)2 e com selamento coronrio de IRM, (vi) 10
dentes medicados com Ca(OH)2 + CG e com selamento coronrio; (vii) 10 dentes
sem medicao intracanal com selamento coronrio; (viii) 5 dentes sem medicao
intracanal com selamento coronrio de IRM , usados como grupo controle positivo,
(ix) 5 dentes hgidos foram utilizados como grupo controle negativo. Frascos de
vidro foram preenchidos com BHI, de modo que apenas o pice radicular ficava em
contato com este, enquanto a coroa ficava imersa em saliva humana + BHI. Os
14
frascos foram ento incubados a 37C e o crescimento microbiano foi verificado
diariamente. Foi observado que todas as amostras do controle positivo foram
contaminadas dentro de um dia de incubao, enquanto o controle negativo no
mostrou nenhuma evidncia de turbidez do caldo. A recontaminao foi detectada
aps um perodo mdio de 3,7 dias nos canais que no foram selados
coronariamente e foram medicados com CG, 1,8 dias no grupo medicado com
Ca(OH)2 e 2,6 dias no grupo medicado com Ca(OH)2 + CG. Foi verificado ainda
que quando as coroas foram seladas com IRM a recontaminao foi detectada
num perodo de 13,5 dias nos canais medicados com CG, aps 17,2 dias no grupo
medicado com Ca(OH)2 e aps 11,9 dias no grupo medicado com CG + Ca(OH)2.
O grupo sem medicao mas, com selamento de IRM mostrou a recontaminao
aps 8,7 dias. Esta pesquisa pde concluir que o selamento coronrio adia, mas
no evita a recontaminao e que no houve diferena entre os medicamentos
testados.
Basrani et al., em 2004, estudaram a influncia da liberao de hidrxido de
clcio e clorexidina quando associados. Para isto, testaram a clorexidina
(concentraes de 0,2% e 2%), hidrxido de clcio associado gua na proporo
de 40g/100mL, e a associao de hidrxido de clcio e clorexidina 0,2%. O pH
inicial das associaes de hidrxido de clcio e clorexidina ou gua foi de 12,4, no
sendo alterado nas primeiras 24 horas. Os autores verificaram que a clorexidina
no alterou o pH do hidrxido de clcio, mantendo assim a ao antimicrobiana
relacionada liberao de ons hidroxila.
Em 2005, Seabra et al. observaram in vitro a atividade antimicrobiana do
hidrxido de clcio e tergentol em diferentes concentraes contra bactrias.
Foram utilizados testes in vitro com discos de antibiograma e a ao antimicrobiana
de solues de Ca(OH)2, soluo de tergentol e digluconato de clorexidina 0,12%,
como "padro-ouro". Os autores relataram que a clorexidina obteve uma melhor
ao antimicrobiana em relao s solues de Ca(OH)2 e tergentol. As diferenas
estatsticas entre clorexidina e as outras solues neste estudo, no foi significativa
para a maior parte das comparaes. No entanto, foi concludo que o digluconato
de clorexidina 0,12% foi o agente antibitico mais eficaz nesta pesquisa. Solues
15
de Ca(OH)2 e tergentol no apresentaram efetividade satisfatria em relao a
clorexidina, principalmente, para o Streptococcus mutans.
Ainda em 2005, Faria et al. avaliaram a ao antibacteriana do preparo do
canal radicular mecnico com hipoclorito de sdio 2,5% como soluo irrigante e
uma pasta de hidrxido de clcio como curativo intracanal em canais radiculares de
dentes decduos humanos com necrose pulpar e periodontite apical por meio de
cultura microbiana. Um total de 26 dentes foram usados neste estudo. As amostras
foram coletadas antes e 72 horas aps o preparo qumico-mecnico e 72 horas
aps a remoo do curativo de demora. O estudo indicou mostrou que o preparo
do canal radicular eficaz na eliminao dos microrganismos em 20% dos canais
radiculares, e o curativo de demora em 62,5%. No entanto, a ao acumulativa do
preparo biomecnico e o curativo de demora eliminou os microrganismos em 70%
dos canais radiculares. Os autores concluiram que h necessidade de uma
medicao intracanal para a reduo dos microrganismos no sistema de canais
radiculares em dentes decduos portadores de necrose pulpar e perodontite apical.
Soares et al. em 2006, avaliaram a eficcia da instrumentao rotatria
associada utilizao de pastas de hidrxido de clcio preparadas com diferentes
veculos e anti-spticos. Leses periapicais crnicas foram induzidas em 72 canais
radiculares de pr-molares de quatro ces. Sob controlada assepsia, aps a coleta
das amostras microbiolgicas iniciais (A1), os canais radiculares foram
instrumentados com o sistema ProFile em conjunto com hipoclorito de sdio 5,25%
e medicao intracanal. Quatro grupos experimentais foram formados de acordo
com as pastas utilizadas: grupo 1 - Calen (n = 18), grupo 2 - Calen + PMCC (n =
20), grupo 3 - Ca(OH)2 + soluo anestsica (n = 16) e grupo 4 - Ca(OH)2 +
digluconato de clorexidina 2% (n = 18). Aps 21 dias, as pastas foram removidas,
os canais foram esvaziados e 96 horas depois, uma segunda amostra
microbiolgica foi coletada (A2). Um grande nmero de anaerbios estritos,
facultativos e estreptococos do grupo viridans foram encontrados em 100% dos
canais radiculares de amostras A1. Entre as amostras A2, todos os tratamentos
apresentaram reduo significativa do nmero destes microorganismos e culturas
positivas (p
16
NaOCl 5,25% e medicao intracanal proporcionaram drstica reduo ou
eliminao da microbiota intracanal, cuja performance no foi influenciada pela
natureza do veculo ou do anti-sptico adicionado ao Ca(OH)2.
No mesmo ano (2006), Gomes et al, investigaram a atividade antimicrobiana
do hidrxido de clcio (Ca(OH)2) combinado com a clorexidina gel 2% (CHX) contra
patgenos endodnticos e compararam os resultados com os obtidos por Ca(OH)2 misturado com gua estril e por CHX gel sozinha. Dois mtodos foram utilizados:
o teste de difuso em gar e teste de contato direto. O Ca(OH)2+ CHX gel 2%
produziu zonas de inibio variando 2,84-6,5 mm, e levou de 30 segundos a 6
horas para eliminar todos os microorganismos testados. No entanto, a CHX gel 2%
apresentou as maiores zonas de crescimento microbiano e levou um minuto ou
menos para inibir todos os microorganismos testados. A pasta Ca(OH)2 com gua
estril inibiu apenas os microorganismos com os quais esteve em contato direto e
levou de 30 segundos a 24 horas para matar todos os microorganismos testados.
Os autores puderam concluir que a associao da CHX gel 2% ao Ca(OH)2 apresentou melhor atividade antimicrobiana do que o Ca(OH)2 manipulado com
gua estril.
Tanomaru, et al. em 2007, avaliaram a atividade antimicrobiana de
diferentes marcas e composies dos cones de guta-percha e pastas de hidrxido
de clcio utilizados no tratamento endodntico. Foram avaliados: cones de guta-
percha contendo hidrxido de clcio (Roeko), guta-percha contendo clorexidina
(Roeko), dois cones convencionais de guta-percha (Endo Points e Roeko) e duas
pastas de hidrxido de clcio (Calen e Calen / PMCC) . Os testes antimicrobianos
incluram cinco espcies de microrganismos: Escherichia coli, Staphylococcus
epidermidis, Staphylococcus aureus, luteus Pseudomonas aeruginosa e
Micrococcus. O mtodo empregado foi o de difuso em gar. Os resultados obtidos
mostraram que todas as espcies microbianas usadas foram inibidas pelos cones
de guta-percha com clorexidina e pelas pastas base de hidrxido de clcio (Calen
e Calen / PMCC), com resultados semelhantes (p> 0,05). Nenhuma atividade
antimicrobiana foi observada para os demais grupos. Concluiu-se que os cones de
guta-percha com clorexidina apresentaram atividade antimicrobiana, enquanto os
cones de guta-percha contendo hidrxido de clcio no apresentaram tal atividade.
17
Em 2008, de Souza-Filho avaliaram a eficcia da clorexidina gel 2% (CHX),
hidrxido de clcio Ca(OH)2 e sua combinao com iodofrmio ou com xido de
zinco como medicaes intracanais contra microrganismos, e mediram as
mudanas do pH provocadas por estes medicamentos. A atividade antimicrobiana
foi determinada pelo mtodo de difuso em gar. O pH das pastas foi mensurado
aps o preparo, aps 24 horas e uma semana depois. A maior zona de inibio
microbiana foi representada pela CHX gel 2%, seguida pelo Ca(OH)2+ CHX gel 2%
+ iodofrmio, Ca(OH)2+ CHX gel 2%, Ca(OH)2+ CHX gel 2% + xido de zinco, e
Ca(OH)2+ gua. O pH mdio de todos os medicamentos ficou superior a 12,0
durante todo o experimento, exceto para CHX gel (pH = 7,0). Os resultados deste
estudo mostraram que todos os medicamentos tiveram atividade antimicrobiana,
mas o mais eficaz contra os microorganismos testados foi a CHX gel 2%, seguido
por sua associao com o Ca(OH)2 e iodofrmio.
Gomes et al. em 2009, avaliaram in vitro a ao antimicrobiana de
medicamentos intracanal na superfcie externa da raiz, com a presena ou no do
cemento. Neste estudo, foi analisada a ao antimicrobiana da clorexidina gel 2%
(CHX 2%); hidrxido de clcio + clorexidina a 2% gel (HC + CHX 2%); hidrxido de
clcio + clorexidina 2% gel + xido de zinco (HC+ CHX 2%+ ZnO), hidrxido clcio
+ soluo salina (HC + SS) contra os microorganismos: Enterococcus faecalis,
Candida albicans, Actinomyces viscosus e Porphyromonas gingivalis. Aps o
preenchimento dos medicamentos no interior do canal, os dentes foram selados
coronariamente. As amostras foram colocadas sobre o gar, e as zonas de inibio
de crescimento microbiano foram medidas aps o perodo de incubao. O efeito
antimicrobiano dos medicamentos foi classificado em ordem decrescente como se
segue: CHX 2%, HC + CHX 2%, CHX 2% + HC + ZnO e HC + SS. Concluiu-se que
os medicamentos contendo CHX 2% difundiram na dentina, atingindo a superfcie
externa, exercendo assim a ao antimicrobiana desejada.
Em 2010, Delgado et al. avaliaram a eficcia do hidrxido de clcio
(Ca(OH)2) e da clorexidina gel sobre a eliminao de Enterococcus faecalis
intratubular. Foram usados neste estudo, dentes humanos unirradiculares
contaminados com E. faecalis tratados com Ca(OH)2, clorexidina gel 2%, Ca
(OH)2, clorexidina gel 2%, e soluo salina (NaCl 0,9%) como controle negativo.
As amostras obtidas dos preparos de canais radiculares foram analisadas atravs
da contagem do nmero de unidades formadoras de colnia (UFC) e foram
18
visualizadas por microscopia de fluorescncia. Uma reduo significativa no
nmero de UFC e o percentual de E. faecalis viveis foi observado aps o
tratamento com Ca(OH)2 ou clorexidina, quando comparado com o grupo controle.
Alm disso, a clorexidina gel teve uma eficcia antimicrobiana significativamente
maior quando da contagem do nmero de UFC e pela percentagem de clulas
viveis. No foram observadas diferenas entre as propriedades antimicrobianas
da clorexidina gel com e sem a adio deCa(OH)2. Tanto o Ca(OH)2 quanto a
clorexidina apresentaram ao antimicrobiana sobre E. faecalis. A clorexidina
apresentou melhor atividade antimicrobiana quando comparada ao Ca(OH)2. O
Ca(OH)2 em associao com a clorexidina apresentou atividade antimicrobiana
similar clorexidina sozinha.
19
3.2. Veculos, Associaes e Dissociao inica do hidrxido de clcio
Segundo Rached (2010), como o hidrxido de clcio apresenta-se sob a forma de p, so manipuladas pastas com soro fisiolgico ou gua destilada para
facilitar sua insero no canal radicular. Neste caso para atingir sua melhor ao
antimicrobiana, sugere-se a sua permanncia por perodos acima de 30 dias no
interior do canal radicular, sem trocas (Montagner et al., 2007) e com selamento
coronrio com material definitivo, como a resina. Isto em casos sem exsudato, pois
em sua presena h necessidade de trocas semanais (3-5 dias) at sua
estabilizao.
Rached (2010) afirma ainda que, sob a viso antibacteriana, os veculos so
classificados em inertes e biolgicamente ativos. Os veculos inertes so
biocompatveis, porm no influenciam na capacidade antimicrobiana do hidrxido
de clcio; os mais comumente usados so a gua destilada, o soro fisiolgico,
anestsicos, glicerina, leo de oliva e propilenoglicol. Diferentemente dos veculos
inertes, os veculos ativos contribuem com efeitos adicionais. O
paramonoclorofenol, a clorexidina, a cresatina e o tricresol formalina constituem
alguns desses veculos. O melhor veculo para o Ca(OH)2 o aquoso (soro, gua
destilada, anestsico) porque hidrossolvel, proporcionando uma liberao mais
rpida. Indicado nos casos de reimplante e exsudato excessivo. Os veculos
viscosos (clorexidina, propilenoglicol, glicerina, natrosol) apresentam liberao
mais lenta e so preconizados em casos de reimplante aps a primeira troca da
medicao em sesses subseqentes e apicificao. J os veculos oleosos (leo
de oliva, leo de silicone, cnfora) liberam ainda mais lentamente os ons OH-e
esto preconizados nos casos de perfuraes e reabsores internas (Estrela et
al., 1999).
Como o hidrxido de clcio apresenta-se sob a forma de p, so
manipuladas pastas com soro fisiolgico ou gua destilada para facilitar sua
insero no canal radicular. Neste caso para atingir sua melhor ao
antimicrobiana, sugere-se a sua permanncia por perodos acima de 30 dias no
interior do canal radicular, sem trocas (Montagner et al., 2007) e com selamento
coronrio com material definitivo, como a resina. Isto em casos sem exsudato, pois
20
em sua presena h necessidade de trocas semanais (3-5 dias) at sua
estabilizao.
No entanto, microrganismos especficos, principalmente Enterococcus
faecalis, tm-se mostrado resistentes ao Ca(OH)2 (Haapasalo & Orstavik 1987;
Nair et al., 1990; Waltimo et al., 1999) e alm disso, a eficincia antimicrobiana das
pastas a longo prazo tem sido questionada (Peters et al. 2002). Desta maneira,
pesquisas tm sido desenvolvidas acrescentando veculos com propriedades
antimicrobianas associados ao hidrxido de clcio de maneira a aumentar esta
atividade, sem perder suas demais caractersticas (Vivacqua-Gomes, 2002; Gomes
et al., 2003ab, 2006, 2009; Basrani et al., 2004; Souza-Filho et al., 2008; Signoretti,
2009).
As principais vantagens da associao do hidrxido de clcio com a
clorexidina so:
a) ao antimicrobiana superior que as da pastas Ca(OH)2 sem
veculos biologicamente ativos (Gomes et al., 2003a, 2006);
b) pH prximo a 13 (Gomes et al., 2003a,b; 2006; Souza-Filho et al.,
2008)
c) substantividade (Vivacqua-Gomes, 2002)
d) melhor barreira fsico-qumica que a da clorexidina gel 2% (Gomes et
al., 2006);
e) inativao das endotoxinas presentes na parede celular de bactrias
Gram-negativas, que esto relacionadas com a dor e reabsoro
(Signoretti, 2009)
f) difuso pelos tbulos dentinrios (Gomes et al., 2009).
Tempo de ao: Para agir apenas como barreira fsica, pode ser usada por
curto perodo de tempo, como por exemplo, 7 dias. Observa-se que para atingir
sua melhor ao antimicrobiana, sugere-se a sua permanncia por perodos de 15
a 30 dias no interior do canal radicular, sem trocas (Montagner et al., 2007). O
mesmo trabalho demonstrou que a ao antimicrobiana imediata da pasta e nos
primeiros 7 dias parece estar relacionada ao efeito antimicrobiano da clorexidina.
Este efeito se mantm estvel at 14 dias. No entanto, sua melhor ao
21
observada em 30 dias, demonstrando a potencializao do efeito do hidrxido de
clcio pela clorexidina gel 2%.
Lage-Marques et al. (1994) avaliaram a velocidade de dissociao inica do
hidrxido de clcio associado a diferentes veculos: aquosos (anestsico e gua
destilada); viscoso (polietilenoglicol 400) e oleoso (leo de oliva), atravs da
mensurao do pH nos intervalos de 10 minutos durante um perodo de 2 horas e,
em seguida, a cada hora, at ocorrer a saturao da soluo salina. Aps a
avaliao dos resultados, os autores concluram que a pasta de hidrxido de clcio
associada ao anestsico apresentou estabilizao em menor tempo, apresentando
elevado pH e a melhor relao entre tempo de estabilizao e liberao de
hidroxila (OH-) . As amostras onde se utilizou como veculo o soro fisiolgico e gua
destilada apresentaram o maior pH e a maior concentrao inica, porm com
elevado tempo de estabilizao. Nas amostras, cujo veculo foi o leo de oliva,
houve os menores ndices de pH.
A difuso dentinria dos ons hidroxila (OH-) das pastas base de hidrxido
de clcio, preparadas com diferentes veculos (soluo salina, anestsico e
polietilenoglicol 400) foi avaliada por Estrela et al. (1995 a). Aps 30 dias, as pastas
preparadas com soluo salina e anestsico promoveram aumento de pH de 67
para 78 na superfcie radicular externa. Nas pastas com polietilenoglicol 400, a
mesma alterao s foi observada aps 45 dias. Contudo, todas mantiveram esses
valores de pH at o 60 dia.
Siqueira & Uzeda em 1998, avaliaram o efeito antibacteriano das pastas
base de hidrxido de clcio associadas soluo salina, glicerina e
paramonoclorofenol canforado e glicerina, frente a quatro espcies de bactrias
anaerbias comumente encontradas em infeces endodnticas: Porphyromonas
endodontalis, Prevotella intermedia, Streptococcus sanguis e E. faecalis. Todas as
pastas apresentaram efeito antibacteriano, sendo que a pasta base de hidrxido
de clcio + paramonoclorofenol canforado + glicerina apresentou melhor
efetividade em menor perodo de tempo.
Em 1999, Estrela et al., investigaram o papel dos veculos no efeito
antimicrobiano de pastas de hidrxido de clcio. Primeiramente realizaram uma
pesquisa sobre as caractersticas do hidrxido de clcio, tais como seu potencial
antimicrobiano, seus aspectos fsico-qumicos e sua histocompatibilidade.
22
Diferentes veculos foram adicionados ao hidrxido de clcio, numa tentativa de
melhorar suas propriedades. Como resultado foi indicado o uso de veculos
hidrossolveis (soluo fisiolgica de gua destilada) associada ao hidrxido de
clcio por suas caractersticas qumicas de dissociao, difuso e capacidade de
preenchimento que so determinantes para o comportamento biolgico, ou seja,
qualidades antimicrobianas e induo de reparo tecidual.
zcelik et al. (2000) avaliaram a tenso superficial de diferentes veculos
(glicerina, soluo anestsica, soluo de Ringer e soluo salina), que foram
associados ao hidrxido de clcio como medicao intracanal. Os resultados
demonstraram diferena estatisticamente significativa entre os veculos
isoladamente e associados ao hidrxido de clcio. Aps anlise dos resultados, os
autores concluram que a soluo anestsica o melhor veculo para o hidrxido
de clcio por apresentar menor tenso superficial.
Pacios et al. (2003), procurou avaliar o nvel de pH e estimar
quantitativamente a liberao de protenas, hidroxiprolina e fsforo a partir de
pedaos de dentina radicular mantidos em diferentes solues de Ca(OH)2. Vinte e
oito incisivos extrados foram mantidos por 35 dias com Ca(OH)2 preparados com
solues aquosas de digluconato de clorexidina, propileno glicol (PG), soluo
anestsica, monoclorofenol canforado (PMCC), e PMCC-PG. A soluo de controle
conteve Ca(OH)2 sem nenhum tipo de veculo.
Os valores de pH pouco variaram durante o experimento. As concentraes de
protenas, hidroxiprolina e fsforo aumentaram para todas as solues em estudo.
Os resultados revelaram um aumento na concentrao de protenas em soluo de
clorexidina, solues anestsicas e PG. Um aumento nos nveis de hidroxiprolina
quando PMCC, PG, PMCC e solues de PG foram utilizadas e um aumento de
fsforo, quando veculos de PG e clorexidina foram usados.
As solues de teste com a dentina radicular manteve-se alcalina. A liberao de
protenas, hidroxiprolina e fsforo, foi observada.
Camargo et al., em 2006, comparou o pH e a liberao de ons clcio aps o
uso de pastas de hidrxido de clcio com diferentes veculos em dentes humanos e
bovinos. Noventa e duas razes unirradiculares humanas e bovinas foram
instrumentadas. As razes foram divididas em grupos humanos e bovinos. Cada
grupo foi subdividido em quatro subgrupos (SB) de acordo com o veculo: SB1:
detergente; SB2: soluo salina; SB3: polietilenoglicol + paramonoclorofenol
23
canforado (Calen PMCC) e SB4: paramonoclorofenol furacyn + polyethylenoglycol
(FPMC). Os resultados no demonstraram diferenas estatsticas entre dentes
bovinos e humanos na anlise de pH (P
24
hidrxido de clcio nos tratamentos de canais radiculares e compar-los com a
tenso superficial final e o pH do hidrxido de clcio associado a esses veculos.
Entre os veculos individuais, a clorexidina obteve os valores mnimos de tenso
superficial (39,8 1,1 dinas / cm). Dentre as vrias combinaes, a associao do
hidrxido de clcio com a clorexidina apresentou os valores mnimos de tenso
superficial (36,4,1,1 dinas/cm). Todos os veculos apresentaram um pH cido que
varia de 5 a 6,5. Houve um aumento significativo nos valores de pH com a adio
de hidrxido de clcio para os respectivos veculos. As combinaes de hidrxido
de clcio apresentaram um pH alcalino variando de 9 a 11,5, e o maior pH foi
observado para o hidrxido de clcio associado com gua destilada e soluo
salina (11,5 0,2), concluindo que a tenso superficial e o pH dos veculos
influenciaram diretamente a tenso superficial e o pH das combinaes de
hidrxido de clcio. Neste estudo a clorexidina foi indicada como o veculo de
escolha, quando o hidrxido de clcio foi utilizado como medicao de escolha.
Ballal et al. em 2010, avaliaram a liberao prolongada de ons de clcio e a
alterao do pH do hidrxido de clcio ao longo de um perodo de 30 dias, quando
associado com propilenoglicol, polietilenoglicol 6000, a quitosana e goma guar. Os
resultados revelaram que a formulao de quitosana apresentou o mximo de
liberao de ons clcio em comparao com as outras trs formulaes. Todas as
formulaes apresentaram altos valores de pH alcalino at 30 dias. A partir destes
resultados, os autores puderam concluir que a quitosana pode ser usada como um
veculo promissor para a liberao prolongada de ons clcio do hidrxido de clcio
no sistema de canais radiculares.
25
4. DISCUSSO
O tratamento endodntico tem como um de seus principais objetivos a
eliminao de bactrias dos canais radiculares infectados e a preveno da
reinfeco (Bystrm & Sundqvist, 1981). O preparo qumico-mecnico tem como
objetivo a desinfeco, limpeza e modelagem do sistema de canais radiculares.
Para tanto necessrio o uso da ao mecnica dos instrumentos endodnticos, o
uso das substncias qumicas auxiliares e agentes irrigantes.
Autores como Trope et al.(1999) afirmam que canais portadores de
periodontite apical tratados com medicao intracanal base de hidrxido de clcio
apresentam nveis de reparo superiores quando comparados queles tratados em
sesso nica. J para Weiger et al. (2000), tanto os tratamentos realizados em
nica sesso quanto os tratamentos realizados em duas sesses apresentam a
probabilidade da reduo da leso periapical e o sucesso do tratamento
endodntico em um tempo de observao de cinco anos ultrapassa 90%. Os
autores acrescentam ainda que do ponto de vista microbiolgico, tanto o
tratamento endodntico finalizado em uma nica sesso, quanto o tratamento
endodntico finalizado em duas sesses tero sucesso, se o tratamento criar
condies ambientais favorveis para o reparo periapical.
Porm, existem situaes rotineiras na prtica endodntica que
impedem a finalizao do tratamento endodntico em nica sesso. Nestes casos
lanamos mo das medicaes intracanais. Dentre estas, destaca-se o hidrxido
de clcio, que uma das medicaes mais utilizadas na endodontia.
Uma das propriedades mais importantes do hidrxido de clcio o seu
efeito antimicrobiano, no qual segundo Estrela et al., (1995 b), devido a sua
dissociao em ons hidroxila que permite que o meio se torne alcalino, alterando a
ao das enzimas presentes na parede celular bacteriana, que primordial ao
metabolismo celular.
Outra propriedade do hidrxido de clcio no que diz respeito ao seu efeito
antimicrobiano, foi constatado por Kontakiotis et al, em 1995, que apresentou outra
ao da medicao contra bactrias, atravs de um estudo laboratorial que
demonstrou a capacidade do hidrxido de clcio em reabsorver o dixido de
26
carbono presente no meio que fundamental para a sobrevivncia bacteriana.
Este estudo relata que no preciso o contato direto entre o hidrxido de clcio e
as bactrias para promover sua ao, no qual contradiz os estudos de Estrela et al.
1998 e Siqueira & Lopes (1999) que relatam ser preciso o contato direto da
medicao com as bactrias para esta promover sua ao antibacteriana.
Alm de seu efeito antimicrobiano, o hidrxido de clcio pode ser indicado
para o tratamento das reabsores cervicais externas ps-clareamento em dentes
despolpados, pois neutraliza a acidez dos agentes clareadores, reverte o processo
inflamatrio e promove deposio de tecido mineralizado (Santos, 1996). Alm
disso, o hidrxido de clcio indicado tambm em casos de apicignese e
apicificao em dentes portadores de rizognese incompleta (Goldstein, 1999).
Por apresentar-se na forma de p, o hidrxido de clcio deve ser associado
a outras substncias para poder ser inserido dentro do canal radicular.
Usualmente, o hidrxido de clcio utilizado na prtica endodntica manipulado
com soro fisiolgico que hidrossolvel e sendo estes uma associao, possuem
juntos caractersticas qumicas de dissociao, difusibilidade e capacidade de
preenchimento que so determinantes para o comportamento biolgico (Estrela et
al., 1999). No entanto, segundo Rached (2010) microrganismos especficos,
principalmente Enterococcus faecalis, tm-se mostrado resistentes ao Ca(OH)2
(Haapasalo & Orstavik 1987; Nair et al., 1990; Waltimo et al., 1999) e alm disso, a
eficincia antimicrobiana das pastas a longo prazo tem sido questionada (Peters et
al. 2002). Desta maneira, pesquisas tm sido desenvolvidas acrescentando
veculos com propriedades antimicrobianas associados ao hidrxido de clcio de
maneira a aumentar esta atividade, sem perder suas demais caractersticas
(Vivacqua-Gomes, 2002; Gomes et al., 2003ab, 2006, 2009; Basrani et al., 2004;
Souza-Filho et al., 2008; Signoretti, 2009).
Dentre estes veculos, destaca-se a clorexidina, que associada ao hidrxido
de clcio, demonstrou um efeito antimicrobiano superior ao das pastas sem
veculos biologicamente ativos (Gomes et al., 2003a, 2006);. Segundo Montagner
et al., em 2007 demonstraram que a ao antimicrobiana imediata da pasta e nos
primeiros 7 dias parece estar relacionada ao efeito antimicrobiano da clorexidina.
Este efeito se mantm estvel at 14 dias, no entanto, sua melhor ao
27
observada em 30 dias, demonstrando a potencializao do efeito do hidrxido de
clcio pela clorexidina gel 2%. Para esta associao algumas propriedades podem
ser observadas: I)ao antimicrobiana superior que as da pastas Ca(OH)2 sem
veculos biologicamente ativos (Gomes et al., 2003a, 2006); II)pH prximo a 13
(Gomes et al., 2003a,b; 2006; Souza-Filho et al., 2008); III) substantividade
(Vivacqua-Gomes, 2002) e melhor barreira fsico-qumica que a da clorexidina gel
2% (Gomes et al., 2006). Basrani em 2004, testou a clorexidina em concentraes
de 0,2% e 2%, hidrxido de clcio associado gua na proporo de 40g/100mL, e
a associao de hidrxido de clcio e clorexidina 0,2%. O pH inicial das
associaes de hidrxido de clcio e clorexidina ou gua foi 12,4 no sendo
alterado nas primeiras 24 horas. O autor verificou que a clorexidina no alterou o
pH do hidrxido de clcio, mantendo assim a ao antimicrobiana relacionada
liberao de ons hidroxila.
A medicao base de hidrxido de clcio pode ser levada ao interior do
canal radicular por meio de limas endodnticas, de brocas espirais Lentullo,
compactador de McSpadden, cones de guta-percha, porta-amlgama, ultra-som ou
seringa para Calen. A conicidade e o grau de curvatura do canal podem
comprometer o preenchimento com medicao intarcanal em todo comprimento do
canal radicular.
De acordo com Grossman (1943, 1960) e Ingle & Zeldow (1958), as etapas
do tratamento endodntico so dependentes entre si e faz-se necessria toda a
ateno na realizao de cada uma delas para desta forma assegurar o sucesso
do tratamento. Desta forma, a remoo das pastas base de hidrxido de clcio
do interior tambm de grande importncia. Segundo Lambrianidis (1999), antes
da obturao do sistema de canais, todo o Ca(OH)2 deve ser removido. Os
remanescentes desta medicao presentes no interior dos canais radiculares
podem formar um tipo de uma barreira, dificultando deste modo o extravasamento
do cimento por toda a superfcie dentinria, impedindo a formao de um
selamento eficiente para o sucesso do tratamento endodntico (Rached, 2010).
28
5. CONCLUSO
Levando-se em consideraes todos os dados bibliogrficos relatados neste
estudo, podemos concluir que:
1) O hidrxido de clcio devido as suas propriedades fsico-qumicas
uma das medicaes intracanais mais utilizadas na endodontia.
2) Na clnica endodntica, este utilizado nos casos de polpa viva e
polpa necrosada, como tambm na presena ou no de leses
periapicais.
3) A ao antibacteriana do hidrxido de clcio se deve a sua
dissociao em ons hidroxila que eleva o pH do meio,
impossibilitando o metabolismo celular.
4) A ao biolgica, tambm se deve ao seu pH, pela ativao de certas
enzimas que estimulam a formao de tecido mineralizado e reparo
tecidual.
5) O hidrxido de clcio pode ser associado a vrios veculos para
facilitar sua insero dentro do canal radicular. Estes veculos
podem tanto aumentar sua ao antibacteriana, quanto podem ser
biologicamente inativos.
6) A associao do hidrxido de clcio com a clorexidina aumenta a sua
atividade antimicrobiana, sem alterar suas demais caractersticas.
7) A associao do hidrxido de clcio com clorexidina apresenta
vantagens como: a) ao antimicrobiana superior que as da pastas
Ca(OH)2 sem veculos biologicamente ativos; b)pH prximo a
13; c) substantividade; d) melhor barreira fsico-qumica que a da
clorexidina gel 2%; e)inativao das endotoxinas presentes na
parede celular de bactrias Gram-negativas, que esto
relacionadas com a dor e reabsoro; f) difuso pelos tbulos
dentinrios.
8) Antes da obturao do sistema de canais radiculares, recomenda-se
a mxima ou total remoo das pastas base de hidrxido de
clcio do interior dos canais radiculares.
29
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