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ANEXOS
ANEXO 1
HISTÓRIAS UTILIZADAS NO
PROJETO DE INTERVENÇÃO
Anexo 1 - Histórias utilizadas no projeto de intervenção
_____________________________________________________________________
História I - ‘O Nabo Gigante’
Autor: Alexis Tolstoi
Editora: Livros Horizonte
História II - ‘A Surpresa de Handa’
Autora: Eileen Brown
Editora: Caminho
Anexo 1 - Histórias utilizadas no projeto de intervenção
_____________________________________________________________________
História III - ‘As Cores de Mateus’
Autora: Marisa López Soria
Editora: Everest
História IV - ‘Dançar nas Nuvens’
Autora: Vanina Starkoff
Editora: Kalandraka
Anexo 1 - Histórias utilizadas no projeto de intervenção
_____________________________________________________________________
História V - ‘Lili e o Jardim da Índia’
Autor: Jeremy Smith
Editora: Editorial Estampa
ANEXO 2
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR POR HISTÓRIAS
Anexo 2 - Organização curricular por histórias
Continente: Europa
Áreas:
Gastronomia
Arte
Património
História I:
O Nabo Gigante
Área de Formação Pessoal e Social
- Participação do grupo na planificação das atividades a realizar;
- Participação das famílias no envio de objetos relativos aocontinente explorado/ registos fotográficos que ilustrem a utilizaçãodos legumes em casa;
Área de Expressão e Comunicação
Domínio da Educação Física
- Realizar as formas geométricas/ sequência de tamanhosdas matrioscas em equipas e através da expressão corporal;
Domínio da Educação Artística
- Artesanato romeno: ovos pintados;
- Impressão artística da pintura 'Mona Lisa' de LeonardoDaVinci;
Domínio da Matemática
- Construção da casa da história, com formas geométricas;
- Associação quantidade-número;
- Puzzle númerico (0-9);
- Contagem das quantidades de legumes da sopa;
- Sequências crescentes/decrescentes com as matrioscas;Identificação pequeno/grande/ médio;
- Sequenciar os legumes por tamanhos (pequeno, médio,grande) - março;
- Composição geométrica do castelo de Bran;
Domínio da Linguagem Oral
e Abordagem à Escrita
- Exploração da história pela educadora/ históriatradicional russa, explorada e traduzida por uma falantenativa;
- Exploração de uma história romena , explorada etraduzida por uma falante nativa;
- Exploração e reconto de uma história de origemitaliana: 'Pinóquio';
- Correspondência oral de algumas palavras português-russo/português-romeno/português-italiano;
- Escrita da palavra 'nabo' em russo;
- Início da construção de um dicionário com as palavrasaprendidas;
Área de Conhecimento do Mundo
- Pesquisa de receitas europeias de sopa de legumes;
- Pesquisa sobre a língua falada na Rússia/Roménia/Itália e suascapitais, artesanato/monumento/gastronomia típicas;
- Exploração das imagens digitais/ objetos trazidos pelas famílias;
- Cozinhar 'Ciorba de legume' (receita romena)/ 'Pannacotta'(receita italiana);
- Reconhecimento e identificação dos legumes presentes nahistória/sopa;
- Plantar legumes presentes na história (nabo/cenouras) - outubro;
- Experiência: De que necessita uma planta para crescer?Verbalização do que pensa que vai acontecer na situaçãoobservada;
- Elaboração de um livro de receitas do mundo com a participaçãodas famílias, na recolha das receitas;
- Colher os legumes plantados (março) e enviar para utilizaçãoalimentar em casa;
- Observação dos objetos trazidos pelas famílias;
Anexo 2 - Organização curricular por histórias
Continente: África
Área: Música/Dança
História II:
A Surpresa de Handa
Área de Formação Pessoal e Social
- Participação do grupo na planificaçãodas atividades a realizar/pesquisa eescolha de imagens;
- Participação dos pais na recolha dosmateriais para as maracas/ envio deinstrumentos relativos à culturaexplorada/ atividades a desenvolver nasala/ pesquisa de imagens;
- Apresentação para os pais: danças emúsicas do mundo;
- Participação dos pais numa coreografiaque reproduz as danças realizadas pelascrianças;
Área de Expressão e Comunicação
Domínio da Educação Física
- Realizar as danças em pequenos grupos, cumprindo asregras/movimentos/batimentos pré-definidos;
Domínio da Educação Artística
- Exploração das canções africanas: Funga Alafia (Libéria) e Kokoleoko (Gana);
- Dança de roda: Música Funga Alafia;
- Colagem/pintura baseada na arte/padrões africanos;
- Elaboração de maracas com materiais de desperdício;
- Sequências ritmícas recorrendo aos animais da história;
- Elaboração de uma apresentação acerca de músicas e danças do mundo (umamúsica/dança por continente);
- Elaboração de um colar tribal africano;
- Sessão fotográfica com os colares elaborados;
- Exploração de uma canção em Afrikaans por um falante nativo;
Domínio da Matemática
- As sequências da história: classificação ordenada (frutas/animais/frutas-animais);
- Correspondência lógica: animais-frutas;
- Reprodução das sequências de cores dos colares com recurso a diferentesmateriais;
Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita
- Exploração e reconto da história;
- Diálogo em grupo acerca do que observaram nas imagens da história,semelhanças/diferenças observadas;
- Registo baseado em imagens reais de tribos africanas: imaginando umencontro entre culturas;
- Comparação da sua fotografia/imagem real de elementos da tribos: Registo dassemelhanças/diferenças observadas;
- Correspondência oral de algumas palavras português-afrikaans;
Área de Conhecimento do Mundo
- Pesquisa de imagens digitais sobre atribo Luo do Quénia/ outras tribosafricanas;
- Observação de imagens reais de colarestribais africanos/simbologia das cores;
- Reconhecer e diferenciar tribosafricanas, de acordo com as suascaracterísticas;
- Observação dos objetos trazidos pelasfamílias;
- Identificação de traços/tradições deoutras culturas;
Anexo 2 - Organização curricular por histórias
Continente: América
(norte)
Temas sociais:
Racismo/ Adoção
História III:
As Cores de Mateus
Área de Formação Pessoal e Social
- Participação do grupo na planificaçãodas atividades a realizar/pesquisa eescolha de imagens;
- Realização de tarefas cooperativas;
- Participação das famílias no envio deobjetos relativos ao continenteexplorado/recolha de elementosmusicais/gastronómicos para o teatro;
Área de Expressão e Comunicação
Domínio da Educação Física
- Manipulação/utilização correta e autónoma dos materiais deexpressão plástica na execução das atividades;
Domínio da Educação Artística
- Arte a preto e branco:
Exploração de digitinta preta;
Desenho da família do Mateus;
- Pintura da cara do Mateus com café;
- Pesquisa de imagens e criação de colagens de famíliasmulticulturais;
- Realização de um teatro baseado na história, onde intervémtodas os temas/ áreas exploradas;
Domínio da Matemática
- Colagem com as cores mencionadas na história, de acordocom a sequência numérica de 0 a 9;
- Quantos elementos existem em cada família? Associaçãoquantidade-número;
- Ordenar uma sequência da história/criar uma legenda paracada imagem;
Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita
- Exploração e reconto da história;
- Diálogo em grupo acerca das características das personagensda histórias/ semelhanças/diferenças observadas;
- Observação de uma boneca típica das Caraíbas - diálogoacerca das suas caraterísticas, semelhanças/ diferenças com aspersonagens da história;
- Completar um pictograma com base nas origens culturais doMateus;
Área de Conhecimento do Mundo
- Observação e interpretação dosresultados da junção de cores;
- A experiência dos ovos: observação eregisto das semelhanças/diferençasentre um ovo de galinha (bege) e deum ovo de pata (branco);
- Diálogo acerca das questõesemergentes:O que é o racismo? Quecor é negro? O preto e negro sãodiferentes? O quer quer dizer adotado?
- Pesquisa de imagens digitais defamílias adotivas/multiculturais;
- Reconhecimento de traços de outrasculturas;
- Observação dos objetos trazidos pelasfamílias;
Anexo 2 - Organização curricular por histórias
Continente: América
(sul)
Tema social:
Migração
História IV:
Dançar nas Nuvens
Área de Formação Pessoal e Social
- Participação do grupo na planificaçãodas atividades a realizar/pesquisa eescolha de imagens;
- Realização de atividadescooperativas;
- Participação dos pais em atividades adesenvolver na sala/ envio deinstrumentos musicais para asatividades a realizar/ envio de históriasque explorem a perspetiva intercultural;
Área de Expressão e Comunicação
Domínio da Educação Física
- Ordenar as sequências de crescimento em grupos e através da expressão
corporal;
Domínio da Educação Artística
- Elaboração de uma baiana com filtros de café;
- Música no mundo: Associação de instrumentos aos respetivos continentes deorigem;
- Jogo de sons: Associação som-instrumento;
- Escultura com arame/lã dos pássaros da história;
- Misturas culturais: elaboração de uma cara, recorrendo a imagens dediferentes culturas (recorte e colagem);
- Mural coletivo: Partilhar as nossas semelhanças, celebrar as nossas diferenças(decalque mãos/colagem e pintura);
- Realizar as atividades ao som de música instrumental típica de diferenteslocais no mundo(intrumentos retratados na história);
- Observação de uma curta-metragem musical relacionado com a história e como tema da migração;
- Recriação do filme, recorrendo a instrumentos musicais enviados pelos pais;
~
Domínio da Matemática
- Sequência de crescimento das casas;
- Formação de conjuntos com as casas, de acordo com vários critérios (cores,formas e tamanhos);
- Ordenar uma sequência de imagens, de acordo com a lenda brasileira contada;
Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita
- Exploração e reconto da história;
- Diálogo em grupo acerca das características das personagens da histórias/semelhanças/diferenças observadas;
- Criação de uma pequena narrativa através das imagens de pessoas de diferentesculturas presentes na história;
- Exploração de uma lenda brasileira por uma falante nativa;
- Correspondência oral de algumas palavras português-português do Brasil;
- Sessão de histórias, com uma contadora de origem brasileira;
Área de Conhecimento do Mundo
- Pesquisa de imagens digitais dasvárias culturas ilustradas na história;
- Pesquisa dos instrumentos musicaisretratos na história / sua origem;
- Observação dos objetos trazidospelas famílias;
- Degustação de gastronomia típica brasileira: pão de queijo;
- Identificação de traços de outras culturas;
Anexo 2 - Organização curricular por histórias
Continente: Ásia
Tema social:
Religião
História V:
Lili e o Jardim da Índia
Área de Formação Pessoal e Social
- Participação do grupo na planificação dasatividades a realizar/pesquisa e escolha deimagens;
- Participação das famílias em atividades adesenvolver na sala/envio de objetos/receitasrelativos ao continente explorado/ nacaracterização das crianças para o Dia da Índia;
- Realização de tarefas cooperativas;
Área de Expressão e Comunicação
Domínio da Educação Física
- Manipulação/utilização correta e autónoma dos materiais deexpressão plástica na execução das atividades;
- Realização de jogos de grupo cumprindo as regras pré-definidas;
Domínio da Educação Artística
- Explorando o Diwali:
Exploração da canção do Diwali, na versão original;
Elaboração de uma kandil;
Arte Rangoli;
Domínio da Matemática
- Construção de um puzzle com imagens dos deuses hindus;
Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita
- Exploração e reconto da história;
- Diálogo em grupo acerca das festividades religiosas dohunduísmo/dos deuses mais importantes desta religião;
- Acróstico da palavra Índia;
- Jogo de exploração da consciência fonológica (divisão silábica):exploração do vocabulário - previamente aprendido - em hindi;
colagem/escrita;
Área de Conhecimento do Mundo
- Pesquisa/observação de imagens digitais dos 5deuses mais importantes da religião hunduísta:Krishna, Ganesha, Hanuman, Shiva, Rama;
- A experiência das maçãs: observação e registodas semelhanças/diferenças entre uma maçãvermelha e uma verde;
- Identificação de traços de outras culturas;
-Cozinhar Chapati (receita indiana);
- Comemoração do Dia da Índia;
ANEXO 3
TRABALHOS REALIZADOS PELAS
CRIANÇAS NO ÂMBITO DO PROJETO
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Bloco de Intervenção A - História I
Trabalho de projeto A
Sessão d) Escrita da palavra 'nabo' em russo
Sessão h) Artesanato romeno: Ovos pintados
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Sessão l) Composição geométrica do Castelo de Bran
Sessão o) Impressão artística da pintura 'Mona Lisa'
de Leonardo DaVinci;
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Bloco de Intervenção B – História II
Sessão b) Composição artística com base na
arte/padrões africanos
Sessão c) Registo* baseado em imagens reais de
tribos africanas;
*Registo com base em“Autobiography of Intercultural Encounters for Young
Learners” do Conselho da Europa (2009)
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Trabalho de projeto B
Sessão e) Maracas elaboradas
com materiais de desperdício
Sessão j) Colar tribal africano
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Bloco de Intervenção C - História III
Sessão c) Elaboração da cara do Mateus:
pintura com café
Sessão d) Criar uma sequência de imagens da história e
uma breve narrativa para as imagens
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Sessão f) Pictograma baseado na história Sessão i) Famílias de todas as cores:
Criação de famílias multiculturais;
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Sessão j) Famílias adotivas e /ou multiculturais:
Contagem dos elementos tem cada família?
Trabalho de projeto C
Sessão k) ‘Arte a preto e branco’: Exploração de
digitinta preta/ Desenho de figuras humanas
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Trabalho de projeto C
Sessão m) Registo: A experiência dos ovos
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Bloco de Intervenção D – História IV
Sessão b) Elaboração de uma baiana
Atividade realizada em parceria com pais
Sessão f) Ordenar uma sequência de imagens,
de acordo com a lenda brasileira
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Sessão h) Elaboração de uma cara,
recorrendo a imagens de diferentes culturas Sessão j) Mural coletivo
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Trabalho de Projeto D
Sessão m) Associação de instrumentos aos
respetivos continentes de origem
Sessão n) Criação de uma curta-metragem
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Bloco de Intervenção E – História V
Sessão d) Acróstico da palavra ‘Índia’ Sessão c) Exploração do Diwali: ‘Kandil’
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Sessão h) Exploração do Diwali: Arte ‘Rangoli’
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Projetos desenvolvidos em parceria com os pais
Placar base para o desenvolvimento do projeto de intervenção
“Volta ao mundo das histórias: Descobertas interculturais”/
Projeto em parceria com os pais “Conta-me um conto com…”
Atividade individual realizada pelos pais no âmbito do
projeto de sala, com a finalidade de explorar da
consciência fonológica (fonémica)
Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto
________________________________________________________________________________________________________________
Atividade realizada por pais, para a exploração do projeto “Conta-me um conto com…”
ANEXO 4
TERMO DE CONSENTIMENTO ENVIADO
AOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO
Anexo 4 - Termo de consentimento enviado aos encarregados de educação
______________________________________________________________________
Termo de Consentimento
Eu, Ariana Fonseca, sou estudante do 2º ano do curso de mestrado em Educação, no
Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, na especialização em Educação Intercultural,
no âmbito da qual me encontro a desenvolver um projeto de investigação acerca da utilização
da literatura como estratégia para a educação intercultural na educação pré-escolar, coorientado
pelas Professoras Doutoras Ana Paula Viana Caetano e Ana Sofia Reis de Castro e Pinho.
Este projeto de investigação visa compreender o contributo do trabalho educativo a partir da
literatura infantil para o desenvolvimento da interculturalidade por parte de crianças, em contexto
de educação pré-escolar.
No contexto das atividades realizadas com e pelas crianças no decorrer do projeto, pretende-
se realizar notas de campo com base em registos escritos decorrentes da observação das
dinâmicas de trabalho e das interações em sala, bem como recolher trabalhos elaborados pelas
crianças.
Neste âmbito, solicita-se aos encarregados de educação a autorização para que a
educadora/investigadora efetue a recolha dos dados, salientando que o anonimato das crianças
será inteiramente respeitado, mantendo em sigilo qualquer dado pessoal e/ou fotografias que
permitam identificá-las. É ainda importante salientar que este estudo não é de caráter obrigatório,
podendo os encarregados de educação não dar consentimento para a recolha dos registos
relativos ao seu educando.
Tendo sido informado(a) quanto ao teor da investigação e compreendido a natureza e o
objetivo do referido estudo:
Confirmo/ não confirmo (riscar o que não interessa) o consentimento da participação do meu
educando:
____________________________________________________________________________
Barreiro, 28 de outubro de 2016
_______________________________________________________________
Assinatura do Encarregado de Educação
ANEXO 5
PLANTA DA SALA DOS 4 ANOS
Anexo 5- Planta da sala dos 4 anos
________________________________________________________________________________________________________________
Anexo 6 - Notas de campo
______________________________________________________________________
ANEXO 6
NOTAS DE CAMPO
Anexo 6 - Notas de campo
______________________________________________________________________
NC.1
Palavras-chave: Consciencialização da sua identidade cultural; Diversidade cultural;
Data: 26 de setembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h45
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Na área do tapete, uma superfície retangular e verde escura, as 21 crianças,
encontravam-se sentadas em meia-lua, com pernas ‘à chinês’, conversando
apressadamente uns com os outros. Eu, a educadora, encontrava-me sentada numa cadeira
pequena, em tons de cinza claro, diretamente de frente para o grupo, enquanto a Vera, a
auxiliar da sala, estava do meu lado esquerdo, sentada na área de trabalho a recortar alguns
nomes em cartolina branca. A área de é constituída por 2 mesas laranja em forma de meia-
lua, estando no centro uma mesa retangular branca, onde estas se encaixam. Nelas
estavam pousadas os restos de cartolina recortados, desalinhados, à medida que iam
caindo em cima da mesa, assim como os nomes já recortados num pequeno monte
desarranjado.
O T. perguntou: Ariana, o que vamos fazer agora? Eu respondi prontamente:
Vamos conversar, quero descobrir o que vocês sabem sobre um certo país. Qual é o país?
Nós vivemos no Portugal, perguntou o V. Pois é, nós ganhamos o europeu à França,
jogámos com outros países e ganhámos a todos, respondeu rapidamente o T.S.
Praticamente todo o grupo respondeu excitado, ouvindo-se respostas em todas as
direções: pois foi, eu vi um jogo, disse o F. O Portugal jogou bem, é o maior acrescentou
o M.N. Interrompi dizendo: Meninos ouçam! Então já vi que já sabem que o país em que
vivemos é Portugal. A M.C. disse: Sim, somos todos de Portugal”. Somos todos de
Portugal? Será que há meninos que nasceram noutros países, temos que descobrir”, disse
eu. Pois, porque eu nasci em Lisboa, num hospital, a minha mãe já me disse, afirmou a
M.J. Eu já fui a Lisboa no barco, disse a C.B.
Quem nasceu em Portugal levante o dedo, pedi. Todos levantaram o dedo
rapidamente, para responder à pergunta, olhando uns para os outros de forma satisfeita,
ouvindo-se várias gargalhadas. O M.N. afirmou veemente, enquanto abanava a cabeça,
Anexo 6 - Notas de campo
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com os seus grandes olhos azuis bem abertos: Eu já vi no ipad do meu pai, fotografias de
Portugal, ele já foi ao Norte, ao Algarve e ao Alentejo. E eu fui ao Gerês, disse o V.,
acrescentando: Ariana, o nosso país é grande? Mostra onde está no globo. Levantei-me
e fui até à área onde em cima de uma pequena mesa verde, se encontravam várias livros
arrumados numa pilha direita, jogos e o globo, onde podia ler-se numa esferovite amarela
“cantinho das culturas”. A Vera disse: Estão viciados no globo, só fazem é perguntar que
país é este? E este? E este? Era esse o efeito que querias? Disse com uma gargalhada.
Mais ou menos, respondi a sorrir. Olha, eu já pedi um ao meu pai, disse a L.C. orgulhosa.
Coloquei-me no meio das crianças, de joelhos sobre o tapete, a rodar o globo e a
procurar atentamente. Está aqui, o nosso país é aqui, disse, enquanto mostrava a uma
criança de cada vez. Mas é pequeno, mas nós cabemos todos cá, disse o F.P. a abanar a
cabeça. Parece muito pequeno, mas é maior do que vocês pensam. Somos mais pequenos
que outros países, mas temos muitas pessoas, todas diferentes umas das outras, muitas
coisas interessantes e bonitas no nosso país, disse eu. Olha, quando leste a história da
coruja, disseste que haviam muitas cores diferentes das penas das corujas e das peles
das pessoas também. As pessoas são diferentes por causa disso? Concluiu a M.J. “ M., o
que eu quis dizer é que as pessoas são todas diferentes porque não há ninguém igual,
embora sejamos parecidos, todos somos diferentes uns dos outros, foi o que vimos na
experiência dos M&M’s. A M.C. interrompeu-me imediatamente dizendo alto: Eu
lembro-me! É que por fora temos cores diferentes, caras diferentes, corpos diferentes,
mas depois somos como os M&M’s, somos todos iguais lá dentro. É isso mesmo M.!
Respondi com um sorriso enorme. As cores de pele são muitas em Portugal, como na
história das corujas com cores?” Questionou o F.M. Não é só em Portugal F., é em todo
o mundo. É tal e qual como a história. As nossas diferenças ajudam-nos a aprender mais
uns sobre os outros e a relacionar-nos com os outros, a sermos todos amigos. Vocês são
uns crescidos, já sabem imensas coisas, estou muito contente de não se terem esquecido
do que já aprenderam! Disse orgulhosamente.
Ó Ariana, olha, quero fazer uma pintura disso, das cores diferentes, sabes quais
são? Disse a M.C. Olhem aqui - levantei-me rapidamente e dirigi-me ao grande armário
laranja e retirei uma caixa de lápis de cera do 2º armário, onde podiam ver-se lápis de
cera com vários tons de pele, alterando entre o bege e o castanho escuro - espalhei os lápis
no centro do tapete e iniciou-se alguma agitação, todos começaram a sair dos lugares para
Anexo 6 - Notas de campo
______________________________________________________________________
virem ver os lápis. Estas são apenas algumas das cores da pele que existem, porque são
muitas mais. Já viram algumas? Eu estou sempre a dizer não há ‘o’ cor de pele, há várias
cores de pele. Pois é, eu já sabia isso, já vi senhores castanhos na rua e no Continente.
Ariana, a minha avó é desta cor aqui, acho eu… disse a M.J.
Olhem para as vossas cores, somos todos iguais? Questionei. Às vezes parece,
mas acho que não…porque foi isso que aprendemos no outro dia, disse o F.P. Não somos
não, somos diferentes uns dos outros. Concluiu o F.M. A conversa continuou e ouviu-se:
Posso pintar com eles Ariana? Perguntou a M.C. Respondi-lhe: Sim, claro. E tive uma
ideia…vamos pintar com as cores de pele? Mas todos juntos, acho que assim o trabalho
ficava muito mais giro. O que acham? Ouviram-se uma série de gritos que diziam: Sim!
Mas não se esqueçam que estávamos a falar de Portugal. Quero saber, quem sabe
alguma coisa sobre Portugal? Qual é a língua que falamos? E como é a nossa bandeira?
disse eu. Vários se apressaram e começaram a responder ao mesmo tempo e eu afirmei
Quem quer falar põe o dedo no ar! A grande maioria do grupo respondeu que era o
português. Nós falamos português. Olha, a bandeira é vermelha e verde, com uma bola
lá no meio, disse o T.S, acrescentando: Tenho uma na minha casa, posso trazer? Sim -
respondi - traz, mas vamos ao computador do da sala Criarte e vamos procurar uma
fotografia. Façam o comboio do lado de fora da sala.
No meio de uma grande azáfama todos se colocaram de lado para a grande parede
branca do corredor, onde se colocaram em fila. Eu comecei a andar e disse: Vamos,
sentam-se todos no tapete, mas sem confusões. Andámos pelo corredor, até que entrámos
na sala, onde se podia ver um grande tapete de tecido rosa e uma mesa branca com um
computador e ao lado uma cadeira da mesma cor. Sentei-me na cadeira, de costas para o
grupo e todos se sentaram em frente ao computador, com a ajuda da Vera que lhes pedia
para fazerem silêncio. Uns de joelhos e outros sentados, a observarem, escrevi no teclado:
bandeira de Portugal e logo uma série de imagens surgiram. O T.S. disse efusivo “é
mesmo como eu disse, vês? enquanto todos conversavam. Continuou dizendo: O que é
que diz aí sobre o nosso país? Tem mais coisas? Respondi-lhe: Muito mais! O nosso país
fica num continente chamado Europa e está repleto de coisas interessantes para
descobrirmos. Eu queria mostrar-vos uma coisa…sabem qual é a música típica
portuguesa? Todos ficaram com ar interrogativo e ouviram-se alguns ‘não’. A Vera disse:
Eu sei… é o fado! Viram-se algumas caras interrogativas e a M.J. questionou: O que é
Anexo 6 - Notas de campo
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isso? Eu disse: Vou mostrar-vos, fechem os olhinhos e ouçam bem… Abri o link do fado
“Cheira a Lisboa” que tinha procurado no Youtube momentos antes. Começou-se a ouvir
uma voz feminina acompanhada de uma guitarra. À medida que a música continuava era
visível cada vez mais conversa acerca do que estávamos a ouvir e até algumas
gargalhadas. Terminei o vídeo e ouvi Não gosto! Afirmando o T.C. Ouviram-se algumas
opiniões, todas entrelaçadas umas nas outras: Mas ela disse Lisboa, ela cantou lá?
Questionou a M.C. Ela cantou em muitas cidades portuguesas e noutros países e nasceu
em Lisboa, é uma cantora de fado muito famosa, chamada Amália Rodrigues. Sabiam
que Lisboa é a capital de Portugal? A M.M. respondeu: Não sabia, mas eu já fui a Lisboa
com a minha avó. Sabes, vou dizer ao pai e à mãe, para ver se eles conhecem essa, o meu
pai tem muitas músicas dessas, lá em casa e no carro, ele gosta, disse o F.M. Começou
novamente a ouvir-se um coro de vozes que gerou alguma confusão. Meninos ouçam lá.
Tomem atenção para aprenderem. Ponham o dedo no ar para poderem falar, disse.
Ouviram-se opiniões: Eu sei, eu sei, o Portugal é pequeno, mas é grande; O nosso país é
Portugal e aqui falamos em português, essa é que é a língua de cá; Essa senhora cantava
a música de Portugal, que é o fado, acho eu…Eu respondi: Sim, a Amália nasceu em
Lisboa e morava lá, eu já fui lá. A última afirmação ouviu-se: A nossa bandeira tem 3
cores. É amarela e depois verde e vermelha.
Existem pessoas de muitas cores. A Ariana diz que vai deixar fazer uma pintura
com as cores dos lápis, são muitas, pois é? Questionou a M.V. Sim, M. Já vi que sabem
muitas coisas importantes, mas agora vamos fazer o comboio, temos que ir marcar as
presenças e almoçar, disse eu.
NC.2
Palavras-chave: Diversidade cultural; Consciencialização de outras culturas;
Data: 26 de setembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h20
Local: Sala dos 4 anos, área de trabalho polivalente
Anexo 6 - Notas de campo
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Enquanto em grande azáfama as crianças brincavam nas áreas da sala, cinco delas
encontravam-se à volta da mesa da área de trabalho polivalente, constituída por três
mesas. À sua frente podiam ver-se seis tintas com vários tons, seis pincéis de diferentes
espessuras e um grande círculo feito em papel de cenário. Eu estava sentada com duas
crianças que estavam a desenhar, conversando com elas, do lado direito do pequeno
grupo. As crianças conversavam entre elas à medida que realizavam em conjunto a
atividade proposta - usar a técnica do salpico de Pollock, para ‘pingar’ o círculo - ‘o
mundo’ - com diferentes tons de pele.
Começou a surgir um diálogo entre os elementos do grupo de trabalho: Não, não
faças assim, a Ariana disse que era para salpicar com os pincéis, não é para pintar
salientou a M.C. Ok, estava só a ver como ficava, disse o M.N. Estás a pintar com qual
cor de pele M? Questionou. Com um castanho escuro, muito escuro, disse a M.C. Olha,
já viste pessoas dessa cor? Questiona a M.S. Não, nunca vi pessoas assim… Mas existe,
porque a Ariana disse que existem pessoas com muitas cores de pele diferentes, como
nós, não somos iguais, já viste? Respondeu a M.C. A M.J. interferiu dizendo: Pois… a
minha mãe disse já me disse que há gente muito escura, assim castanha. A minha avó é
como eu, mas um bocadinho mais escura…(fica pensativa). Ela é de Portugal?
Questionou o R. Vou perguntar à minha mãe, mas acho que ela é de Goa, que é Índia,
respondeu a M.J.
Uma das crianças ao salpicar o papel sujou a mão com a tinta e disse rindo: Olhem
aqui… mudei de cor. Animado o D. disse: Agora tens que limpar. Não se muda de
cor…acho eu…acho que tens que nascer com uma cor só e ser assim sempre. Ó T. achas
que podias ser de várias cores? Isso era de que país? Questionou o M.N. Não sei, disse
o T. rindo. Acho que se formos diferentes é mais giro que sermos iguais aos outros…Olha
dá cá a tua, a tinta castanha clara, pediu. O colega passou-lhe a tinta e o T. entrega o seu
copo e o seu pincel. O trabalho do mundo está certo, tem muitas cores da pele, disse o
M.N. e continuou a pintar.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.3
Palavras-chave: Diversidade cultural e linguística; Consciencialização da importância
das várias línguas; Familiarização com outros reportórios linguísticos;
Data: 28 de setembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h45
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
As 22 crianças estavam aos poucos a sentar-se em meia-lua para que
começássemos aquilo a que chamamos ‘Volta ao mundo das histórias’, um momento em
que ouvimos uma história com origem num outro país. Sentada com pernas ´à chinês´ no
centro do grupo, expliquei: Vamos ouvir uma história que vem do continente europeu,
que vocês já conhecem…é onde fica…que país? Ouviu-se em uníssono: Portugal! Está
certo - disse eu - Este livro foi escrito por um senhor chamado Alexis Tolstoi, que é russo
e esta história é muito conhecida na Rússia, o país onde foi escrita. A C.B. questionou:
Isso é um nome da Rússia? Como Oleg? Eu disse: Sim, são nomes russos, como C. é um
nome português. Vou começar…zip zip, zip, zap, a boquinha vou fechar, zip zap! Todo o
grupo sossegou, virei a capa dura do livro “O nabo gigante” para o grupo e com as
imagens sempre dirigidas às crianças, fui virando as páginas, contando a história e
dinamizando-a com a figura do Oleg, uma personagem russa, que integra o projeto
“Conta-me um conto com…”um projeto em parceria com os pais. Contei a história e no
final, disse: E agora…quero que me contem a história a mim! Observei alguns sorrisos e
ouviram-se risos baixinhos. Vamos começar…há muito, muito tempo…, disse eu. Logo
de seguida, a M.V. continuou: Havia um velhinho e a sua velhinha, que moravam numa
casa velhinha na Rússia…”. Assim, em conjunto, cada um foi acrescentando um pedaço
da história contada, até esta estar terminada.
Após o reconto questionei: Gostaram da história? Ouvi a resposta positiva de
várias bocas sorridentes. Olha Ariana, acho que tive uma ideia. Podíamos plantar coisas
também, nabos e víamos se ficavam gigantes, disse o T.C. Ouviram-se várias gargalhadas
e observou-se alguma agitação entre as crianças. Dei uma gargalhada e disse: Boa ideia!
Vou ver se encontro sementes ou plantas para a nossa horta, mas são vocês que vão ter
Anexo 6 - Notas de campo
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que plantar e tomar conta delas, ok? Temos que ser responsáveis pelas nossas coisas.
Isso é uma grande ideia T.”, disse um colega próximo, deixando o T. com um sorriso
enorme. Vais comprar quando, é hoje? Questionou o T. Sorri e adiantei: Calma, assim
que encontrar trago logo, mas temos que saber esperar… “Ok…” respondeu relutante o
T. Mas…a nossa horta é pequenina, como é que vamos ter nabos gigantes? Riu a M.C.
M., na história haviam cenouras e batatas e feijão…não era só nabos! Afirmou a M.S.
Vamos plantar esses todos!” Continuou excitada. Respondi de imediato: Não sei, temos
que descobrir quais podemos plantar agora no outono, há alturas para semear e plantar
cada planta. E os nossos nabos vão ser russos? Perguntou o T.C. Não T., estamos no
Barreiro, aqui é Portugal também, os nabos de Portugal como nós que somos
portugueses. Não é verdade Ariana, afirmou a M.C. Bem, vocês já sabem mais que eu, é
isso mesmo M.” disse sorrindo.
Continuei o diálogo, questionando: Mas eu agora quero saber outras
coisas…acham que o Oleg fala que língua? Ouviram-se várias vozes a falarem ao mesmo
tempo, dizendo: Fala russo porque ele mora num país russo. Pois, os russos tem que
falar russo, afirmou o G. Ó Ariana temos que nascer na Rússia para saber falar russo?
Perguntou. Não, podemos aprender, assim que nascemos somos capazes de aprender
qualquer língua. Nós aprendemos o português porque foi esse que nos ensinaram. Mas
também há meninos que nascem em Portugal ou na Rússia, mas que não falam essas
línguas, falam as línguas que os pais lhe ensinam, por exemplo, chinês, inglês,
francês…porque em cada país, há pessoas de várias outros países a viver - expliquei eu.
Cá também? Questionou a M.M. Claro, o T.L. por exemplo, os pais dele nasceram na
China e moram cá. Sabem falar chinês, o T. nasceu cá mas e sabe falar chinês e está a
aprender português. A C.L disse orgulhosamente: A minha mãe nasceu na Roménia. O
T.S. questionou de imediato: Tu sabes falar a língua de lá? A C. respondeu: Sim, a minha
mãe ensinou-me romeno. O T.S. respondeu: Eu também queria saber dizer coisas de lá.
Eu disse: E podes aprender com a C. e com a mãe dela. Podemos aprender todos! Ambos
sorriram satisfeitos.
O nosso amigo Oleg fala russo e olhem aqui…- mostrei uma folha A5 com uma pequena
bandeira desenhada - Esta é a bandeira da Rússia, a Rússia é o maior país do mundo e a
sua capital é Moscovo. A mãe da M.V. trouxe estes livros, mostrei os livros de forma
breve, onde podiam ver-se as imagens de Moscovo. Tem muitas imagens de Moscovo e
Anexo 6 - Notas de campo
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eu vou pôr no cantinho das culturas, mas tenham cuidado, é emprestado, não podemos
estragar algo que não é nosso, ok? Sim! Obrigada M.V.” ouviu-se em grupo. O F.P.
pronunciou-se: E acham que o Oleg tem alguma semelhança, quer dizer alguma coisa
igual, ou diferente das pessoas aqui em Portugal. Olhem lá para ele - mostrando a figura
em feltro - o que acham? Ele tem a nossa cor, a cor da nossa pele é bege não é?
Questionou a C.B. Essa cor estava nas tintas, aquelas em que pintámos as cores de pele
e nos lápis da Ariana, disseram o T.S. e o F.M. em concordância. Sim, é
verdade…podemos dizer que bege é só uma, das muitas cores de pele, disse eu. Já sei! A
roupa dele, nunca vi uma roupa assim, é diferente, disse com entusiasmo a M.C. Certo,
M. o Oleg está a usar uma roupa chamada ‘kosovorotka’, é uma roupa tradicional da
Rússia que os homens costumam usar” disse eu. “Kosa…quê?” Perguntou o F.P. com um
ar admirado, no meio de uma gargalhada, tendo os colegas seguido o seu exemplo e
começado a rir, olhando uns para os outros com satisfação. Eu também dei uma
gargalhada, dizendo de seguida: F. essas caras que fazes são muito engraçadas…é
kosovorotka, vejam aqui nesta imagem - mostrei uma imagem onde se viam 3 homens
vestidos com o traje - onde estão vestidos de verdade com esta roupa. Pois, é diferente
da nossa - disse o M.N. - mas a pele dele é igual continuou.
Ariana essa palavra é difícil, sabes alguma fácil?” Questionou o G. Eu não sei
falar russo… mas já aprendi 3 palavras: ‘Paka’ que quer dizer adeus, ‘priviet’ quer dizer
olá e ‘spasiba’ que quer dizer obrigada, respondi. Fogo, sabes bué coisas em russo, quem
te ensinou? Questionou o T.C. Respondi sorrindo: Foi a mãe de uma menina chamada
M., que foi da minha sala, ainda vocês não tinham nascido…mas na próxima semana,
vem cá à escola uma pessoa que eu conheço, que nasceu na Rússia e fala muito bem
russo. Vem contar-nos a história do nabo em russo e depois, podem perguntar-lhe o que
querem saber. A sério? Vou perguntar-lhe como se diz nabo disse o M.N. Boa, pensem
nisso! E também tenho uma pergunta, vão pedir ajuda aos pais, não vou mandar recados,
vocês tem que se lembrar e depois pergunto. Tem que perguntar lá em casa, 2 países da
Europa, mas não podem ser Portugal, nem Rússia, esses já conhecemos. Pode ser, não
se esquecem? Olhem que é muito importante! Afirmei. Sim, Ariana! Ouviram-se em coro
algumas vozes.
Entretanto, a M.V. disse: Não te esqueças das coisas que a minha mãe mandou,
eu disse a ela que ia ouvir uma história da Rússia e ela já esteve lá. Mandou revistas e
Anexo 6 - Notas de campo
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bonecas de lá. Posso ir buscar? Abanei a cabeça afirmativamente, enquanto ela se dirigia
à mesa verde que fazia parte do cantinho da cultura e trouxe dois guias de viagem da
Rússia e matrioskas. Muita satisfeita, entregou-me os objetos e comecei por explicar o
que eram os guias de viagem, e a mostrar as imagens que continham, lendo as legendas.
Mas a curiosidade recaia nas bonecas (como eram chamadas). Expliquei então que se
chamavam matrioskas e eram um brinquedo típico da Rússia, que continha várias bonecas
que se iam encaixando umas nas outras. Passei as bonecas pelas crianças, para que estas
pudessem observar e sugiram questões. Podemos brincar e encaixar as matrioskas? A
minha avó tem lá em casa, vou dizer a ela que são da Rússia, não sei se ela já foi lá.
Respondi: sim, claro que podem, podem até fazer sequências, do maior para o mais
pequeno e do mais pequeno para o maior. E como são tantos, podem fazer em grupos,
uns podem ir brincar para as áreas e depois vão trocando. Que dizem? O grupo aceitou
a sugestão. Viram-se várias brincadeiras matemáticas a surgir, tendo as crianças retirado
bonecas e alterando o número da sequência.
NC.4
Palavras-chave: Familiarização com outros reportórios linguísticos; Aquisição e
mobilização de vocabulário novo.
Data: 3 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h15
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
As 24 crianças já se encontravam sentadas no tapete conversando umas com as
outras, enquanto eu conversava com a Vera, sobre o início das atividades
extracurriculares. Puxei uma cadeira cinzenta e sentei-me em frente ao grupo, comecei
por dizer-lhes: Lembram-se de eu ter dito que íamos ter uma visita da Rússia? A resposta
foi um sim entusiasmado por parte do grupo, resposta que se ouviu com intensidade pela
sala, enquanto se viam alguns sorrisos. Então tenho umas coisas para vos pedir: quero
que se portem muito bem e mostrem que já são crescidos e bem comportados. Vão ouvir
Anexo 6 - Notas de campo
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a história até ao fim sem interromper e depois no fim perguntam o que quiserem, mas já
sabem… Temos que levantar o dedo, disse a M.J. e Esperar pela nossa vez para falar
recordou o F.
Nesse momento ouviu-se bater à porta da sala e notou-se alguma agitação nas
crianças, nomeadamente a nível de movimentos e risos. A porta abriu-se e todos puderam
ver uma mulher loura, de olhos azuis, com uma t-shirt e sabrinas brancas e umas calças
de ganga. Posso? Ouvimos perguntar com um sotaque acentuado. Olá! Sim claro entra,
estávamos à tua espera, disse eu. Levantei-me e fui ao seu encontro, cumprimentando-a
com um beijo na cara. Abriu um sorriso e disse-me: Será que estou preparada? Até estive
a estudar a história, já passaram muitos anos, não me queria esquecer de nada. Não te
preocupes, vai correr bem, o público é excelente e motivado, vão gostar de certeza! Muito
obrigada por teres vindo! Apressei-me a dizer. É um prazer, não tens que agradecer,
vamos lá! Disse a convidada. Puxou uma cadeira e ambas no sentámos lado a lado em
frente ao grupo. Comecei por dizer: Meninos tenho aqui uma pessoa que está muito
curiosa em vos conhecer…mas vou deixar que ela se apresente disse com um sorriso.
‘Priviet. Isto quer dizer olá. O meu nome é Jevgenija, mas podem chamar-me de Eugénia.
Sabem o que vim cá fazer? Questionou. Vieste contar-nos a história do nabo, mas em
russo, pois é? Perguntou uma criança. É isso mesmo! Então vamos começar…sabem, eu
nasci na Rússia e esta história é muito conhecida lá, é contada às crianças, assim do
vosso tamanho e já a contei ao meu filho também. É um bocadinho diferente do que está
escrito aqui no livro, por isso não o vou usar, vou contar-vos a história me contavam
quando era pequena…então…Era uma vez, uma avó e um avó, que viviam com a sua
neta... Todos estavam bastante atentos e fixados na figura da Eugénia, pouco a pouco e
durante cerca de 10 minutos, ela contou a história, primeiro em português e depois
traduzindo para russo.
No final algumas crianças deram gargalhadas e bateram palmas, sendo notório o
seu entusiasmo. Ouviu-se em uníssono vitória, vitória, acabou-se a história. Com
pozinhos de perlim-pim-pim a história chegou ao fim! Que giros - disse a Eugénia
sorridente. Gostaram? Continuou. Sim! Ouviu-se novamente. “ Aprenderam muitas
palavras russas? Questionei a rir. Não percebi nada, mas o que dizias era engraçado
disse a M.V. continuando: Eu gostei quando tu falavas russo, aprendeste lá na Rússia,
não foi? A Eugénia respondeu: Sim, quando aprendi a falar, era russo que falavam na
Anexo 6 - Notas de campo
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minha casa, então eu aprendi, parece difícil, mas é muito fácil, acredita. Olha como se
diz casa? Questionou a menina. Casa é ‘dom’, respondeu. E nabo? Continuou o M.N
Repka, disse a Eugénia. ‘Repka’! Gritou com entusiasmo o M.N. ‘Repka ‘começou-se a
ouvir pela sala. Já sabemos falar um bocadinho só de russo, disse a M.C. Estou a ver que
sim…” disse eu, com um sorriso. Podíamos escrever numa folha nabo, que é repka.
Podemos Ariana? Questionou o M.N. Sim claro, a Eugénia, vai escrever aqui numa
folha, para sabermos como se escreve a palavra em russo, afirmei.
Levantei-me e tirei uma folha da 1ª gaveta verde de um móvel branco constituído
por 5 gavetas e peguei num lápis que estava num copo castanho e comprido em cima do
mesmo móvel. Dei a folha à Eugénia que começou a escrever, dizendo: Agora vou
escrever aqui e vou mostrar-vos para vocês saberem quais são as letras. Sabem vou
escrever com as letras portuguesas, porque o alfabeto russo é diferente do português e
depois vocês não conhecem… disse à medida que escrevia na folha branca. Mostrou a
folha onde se viam algumas letras pequenas. Aqui diz ‘dom’, com as letras d,o, m, que
quer dizer…Casa! Responderam algumas crianças. Boa, muito bem, são uns
espertalhões. E aqui? Afirmou. Apontou com o dedo indicador direito para a palavra “
Diz repka escrito com as letras r,e,p,k e depois a” disse. Essa quer dizer nabo disse bem
alto o M.N. Exatamente! Disse a Eugénia com um sorriso. Estes meninos são muito,
espertalhões, aprendem rápido, eu disse-te que eram motivados, afirmei. É verdade, isso
é muito bom, respondeu. Eugénia, lá na Rússia há pessoas de várias cores? Com cores
da pele, com cores todas diferentes? Perguntou a M.J. Que pergunta engraçada…sim,
há. Na Rússia há muitos russos, mas também há pessoas que vão para lá e que nasceram
em outros países, alguns são muito longe, outros são perto, disse a Eugénia. E há
senhores castanhos e castanho mais escuro? Demos ambas uma gargalhada e trocámos
olhares cúmplices, “Sim, há alguns, claro. Mais alguém quer fazer alguma pergunta?
Questionou. Viram-se algumas cabeças a acenar negativamente. Ok, então está na altura
de dizermos ‘paka’ à Eugénia”, afirmei. Ela sorriu e questionou: sabem o que quer dizer
‘paka’? A M.V. apressou-se a responder: A Ariana ensinou-nos. É adeus. Boa! Afirmou
a Eugénia sorridente. Digam à Eugénia, o que vamos fazer a seguir, disse. Vamos plantar
nabos gigantes e cenouras disse o T.C. Sim, a Ariana trouxe hoje, para nós plantarmos
disse a M.C. A Eugénia despediu-se das crianças e eu disse-lhe: Obrigada mais uma vez,
foste uma grande ajuda!” Dirigiu-se a mim e deu-me mais um beijo e dizendo “paka”,
Anexo 6 - Notas de campo
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com uma resposta bem alta de “paka” por parte do grupo. Dirigiu-se à porta e acenou em
despedida ao grupo.
Gostaram? - Perguntei - Sim, eu gostei, gostei bué! Enquanto outras crianças
abanavam a cabeça afirmativamente. Quem é o chefe hoje? Perguntei. Sou eu! Disse o G.
Então vai buscar a caixa dos chapéus, cada um tira o seu e vem ter lá fora. Vamos plantar
os legumes da nossa história, afirmei. Todos se sentaram em redor da caixa, gerando
alguma confusão na procura dos chapéus, enquanto eu abria a porta para o exterior e para
a nossa pequena horta.
Já no exterior, antes de iniciarmos o diálogo, algumas crianças realçaram a
existência de ‘coisas iguais’ em Portugal e na Rússia, realçando que as pessoas são
parecidas e até tem a mesma comida (os legumes), mas a língua é diferente. Surgiu então
uma conversa espontânea acerca de semelhanças e diferenças entre ambos os países,
tendo a educadora questionado as crianças se conheciam outros países da Europa?
Surgiram várias respostas, tendo sido referido pela C., que já tinha ido à Roménia, porque
a sua mãe era de lá e que lá falavam outra língua que não era russo - o romeno.
A atividade iniciou-se, sendo que as crianças escolherem um dos legumes - o nabo
ou a cenoura - e digeriram-se ao canteiro onde com o polegar faziam um furo na terra,
colocavam lá o legume e tapavam o buraco, cedendo a vez ao colega seguinte. No final o
chefe do dia, regou a horta e foi combinada a manutenção diária da horta com o grupo.
Nota: Após seis meses os legumes foram colhidos da horta e enviados para casa,
tendo as famílias o papel de elemento de ligação, utilizando os legumes numa receita e
partilhando as fotos, para observação em grupo.
NC.5
Palavras-chave: Diversidade linguística; Aquisição e mobilização de vocabulário novo;
Data: 4 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h
Local: Sala dos 4 anos, área de trabalho polivalente/área dos jogos
Anexo 6 - Notas de campo
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Esta tarefa resultou num trabalho de projeto, orientado pelo interesse demonstrado
pelo grupo na NC anterior.
As 24 crianças encontravam-se sentadas quer nas três mesas que constituem a área
de trabalho, quer nas duas mesas em forma de meia-lua, que formavam um círculo, para
que todas pudessem realizar a tarefa proposta. Eu disse-lhes: Tomem atenção. Vou
explicar o que vamos fazer. Lembram-se que ontem o M. perguntou se podíamos escrever
nabo em russo? Sim, ouviu-se em coro. Continuei: Então eu fiz esta folha para poderem
fazer um trabalho, para mostrarem a todos que já sabem falar russo… - disse a rir - Então
o T.C. que é o chefe hoje, vai buscar o copo com os nomes e das tesouras para a mesa
dele e o M.N. que teve a ideia vai buscar a caixa das colas e os lápis de carvão. E depois
uma mesa vai trocando com a outra, os nomes, as tesouras…ok? Ok, Ariana,
responderam, ouvindo-se algumas vozes, enquanto outras acenavam afirmativamente
com a cabeça. As crianças foram buscar os materiais que pousaram no centro das mesas
e depois, eu disse: Então, depois de porem o nome na folha, vão copiar esta palavra que
eu escrevi aqui no quadro, estão a ver? Diz nabo. E vão colocar uma letra dentro de cada
quadrado roxo. Depois eu já vou dar a cada um, uma tira igual a esta que tenho na mão
com estas letras, mas tomem atenção, estão fora da ordem. Para escreverem repka, tem
que olhar para esta palavra que está aqui - apontei para o quadro - e tem que recortar as
letras uma a uma, colocam em cima da vossa folha e depois colocam por ordem, uma
dentro de cada quadrado e colam. Quem tiver dúvidas, chama e eu vou lá, ok? A M.J.
disse de imediato: Ok, podemos começar? Perguntou a M.J. Sim, podem, respondi. Todos
começaram a pegar nos materiais e iniciaram a tarefa.
Algum tempo depois começaram-se a ouvir conversa sobre a atividade, entre elas
um pequeno grupo de quatro crianças, que executavam a tarefa perto uns dos outros. Não
é assim, não podes pôr assim as letras, senão não estás a escrever em russo tem que ser
como está ali no quadro, a Ariana é que disse disse a M.S. Sim, repka é que fica certo,
assim está tudo mal, disse o F.P. Estamos a escrever em português e depois a seguir em
russo disse o T.S. Tem que ser, senão as outras pessoas que não falam russo, não sabiam
o que diz aí” disse a M.J. “Pois e os pais também não”, afirmou o G.
Todos continuaram a realizar o seu trabalho e à medida que terminavam,
chamavam-me para eu ver se estava correto. Após entregarem o trabalho, cada criança ia
brincar na área da sala à sua escolha.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.6
Palavras-chave: Diversidade cultural; Consciencialização de outras culturas;
Consciencialização da importância das várias línguas;
Data: 17 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h35
Local: Sala do computador
Durante uma das sessões de exploração da história russa, a C. referiu que a sua
mãe tinha nascido na Roménia e que esse também era um país da Europa, onde se falava
outra língua, o romeno. Demonstrou também interesse em que a mãe viesse à sala, para
contar uma história em romeno e explicou que que já tinha ido a Bucareste (capital do
país). No tapete da sala do computador, o grupo estava sentado juntamente com a
educadora e depois do interesse demonstrado anteriormente pela C, questionei: O que
acham do que disse a C. gostavam que a mãe dela viesse contar-vos uma história em
romeno? A M.C. e o F.M acenaram rapidamente que sim, enquanto várias crianças davam
respostas positivas e conversavam entre si. Sabes Ariana, podíamos descobrir coisas da
Roménia, como fizemos na Rússia, disse o F.P. Ouvi e perguntei: Porque achas uma boa
ideia? O F.P. respondeu prontamente, afirmando: A C. gostava que a mãe dela viesse cá
e ela podia ensinar-nos coisas, como a Eugénia. A M.C. questionou: Palavras romenas?
Sendo que a resposta veio da M.V: Pois, e mais coisas de lá, como é a bandeira, a comida
deles… Eu gostava de saber mais coisas de outros sítios. Os meus pais trabalham nos
aviões e vão para muitos países, vou perguntar se eles foram à Roménia. Sorri e disse:
Que grande ideia, aliás vocês tiveram várias boas ideias. A C. disse de imediato: Eu
posso perguntar coisas à minha mãe e vou pedir a ela coisas da Roménia para eu trazer.
Obrigada C. - disse eu - Então e como decidimos o que fazer? A C.B sugeriu votar e eu
questionei-a sobre o que íamos votar. Respondeu-me rapidamente dizendo: Se podemos
ir para a Roménia. O M.C. perguntou vamos para a Roménia, Ariana? Eu quero ir. Dei
uma gargalhada e disse “Vamos sim, vamos viajar, mas na nossa imaginação, não me
digas que querias ir de verdade? Ouviram-se gargalhadas e além do M.C. várias crianças
responderam afirmativamente.
Anexo 6 - Notas de campo
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A votação decorreu e 20 crianças votaram na viagem à Roménia, as restantes
votaram negativamente e referiram que queriam ‘visitar’ outros países, nomeadamente:
Itália, França e Espanha. Assim, comecei a pesquisar as sugestões das crianças, sendo que
à medida que os tópicos iam sendo pesquisados, dialogávamos acerca das imagens
observadas e das conceções das crianças. Em certa altura, as crianças pediram para
pesquisar palavras em russo, pois a C. dizia não se recordar de nenhuma, ao ouvirmos uns
desenhos animados trazidos para romeno, que pesquisei no Youtube, o T.C. interrompeu
e disse alto: A língua da Roménia é parecida com a da Rússia, pois é? A nossa língua
não tem nada a ver… Ouviu-se de seguida: Olha T. e as roupas deles - referindo-se às
imagens de roupas típicas que observámos - tem muitas cores, são engraçadas. As da
Rússia também eram compridas, mas eram vermelhas. São um pouco diferentes, acho
eu…Expliquei: Em todo o mundo as pessoas tem a sua cultura e tem tradições diferentes,
como os trajes típicos, alguns são mais parecidos, outros são bastante diferentes, mas os
nossos também são fora do normal: vejam aqui, vou mostrar-vos o traje do Minho e da
Madeira, como exemplos. Pesquisei imagens e ouviram-se sons de surpresa e
gargalhadas, pois: os fatos são engraçados. O D. disse: Afinal, até são todos um bocado
parecidas. O T.C. referiu um pouco surpreso Pois são, se calhar devíamos saber mais
coisas dos países todos, para ver se são parecidos com Rússia ou Portugal. Eu disse:
mais uma boa ideia! Destas imagens - mostrando imagens reais retiradas da internet, onde
se via artesanato, trajes típicos, monumentos e paisagens romenas – gostavam de
trabalhar o quê? A C. disse de imediato, apontando para o monitor do computador: Os
ovos tenho daqueles lá em casa. O F.M. disse entusiasmado: Pode trazer para nós vermos
lá na sala? Para o cantinho das culturas? A C. assentiu. Logo de seguida o M.N. referiu:
Eu acho que temos que fazer o castelo do Drácula, porque isso é assustador. Ouviram-
se gargalhadas e o V. respondeu Não é nada, quem se assusta são os bebés. Podemos
fazer Ariana? Respondi afirmativamente e pedi para identificarem mais pontos de
interesse, mas estabeleceu-se que iriamos focar estes dois traços da cultura romena.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.7
Palavras-chave: Reconhecer outras culturas e suas tradições;
Data: 18 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h15
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Após a exploração do dia anterior, a C. e o T. trouxeram nessa para a escola ovos
pintados da Roménia. A mãe do T. ao entregá-lo disse-me: Estão a falar da Roménia
certo? É que ele só conta que vai ao castelo do Drácula e que a Ariana mostrou as
fotografias e olhe...quando viu isto lá em casa - entregou-me os ovos - gritou são os ovos
da Roménia mãe, os pintados, temos que levar para a Ariana e os amigos verem. Tenho
isso lá em casa há imenso tempo, trouxe-me a minha sogra da Roménia há uns aninhos
bons, nunca lhes liguei, mas agora o meu filho só quer saber dos ovos e desenhar os
ovos... Dei uma gargalhada e disse: O seu filho é intenso em tudo...até nas aprendizagens.
Nem acredito na sorte que tenho, dois meninos a trazerem ovos pintados...E no dia que
vou lançar uma atividade sobre os ovos pintados...vão servir de inspiração. Além de que
ver os objetos fisicamente é muito mais motivador e interessante. Obrigada! A mãe sorriu
e disse: sempre às ordens! Tenho imensas coisas da África lá em casa. Sei que vai
trabalhar o continente africano, por isso vou mandar-lhe fotos de tudo, depois escolha o
que achar que é interessante para eles. Abri um sorriso e disse: Muito obrigada, mande
sim!
Despedi-me da mãe e sentei-me no tapete com o grupo, que já estava a aguardar
para iniciarmos a manhã cantando o bom dia. Cantámos a canção, escolhemos o chefe, á
medida que iam chegando mais crianças e tomando os seus lugares na roda.
Quando a grande maioria do grupo já se encontrava na sala, comecei: Lembram-
se de ontem termos conversado sobre os ovos pintados? Então hoje vamos fazer uma
atividade sobre eles. Vamos criar os nossos ovos pintados! Tenho aqui vários padrões e
vão poder escolher o vosso preferido e tenho aqui as imagens que pesquisámos ontem de
ovos verdadeiros para se poderem inspirar mas... O T. interrompeu, dizendo alto: Eu
tenho ovos pintados da Roménia. Eu disse-lhe calmamente: Tem calma. Já vais mostrar
Anexo 6 - Notas de campo
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aos amigos a tua surpresa, e a C. também. Vão lá buscar o que trouxeram e sentem-se
aqui ao meu lado. Ambos se dirigiram à mesa onde tinham deixado os seus objetos e
regressaram com um sorriso de satisfação, sentando-se ao meu lado. A C. tinha 2 ovos
com fundo preto, decorados com flores e o T. tinha uma bolsa onde estavam 5 ovos, todos
eles com padrões diferentes, florais e geométricos.
Ora bem - iniciei a conversa - então contem lá o que trazem aí. A C. começou:
Trouxe estes ovos romenos que a minha mãe tinha lá em casa, ela diz que é tradição, que
as pessoas fazem e oferecem umas às outras e que o meu avô tem muitos lá em casa dele.
O T. disse entusiasmado: Eu também tenho ovos pintados, foi a minha avó que deu.
Querem ver amigos? O grupo disse que sim e eu avancei: Então a C. passa os ovos dela
para o lado direito e o T. para o lado esquerdo, para todos poderem ver, ok? Tenham
cuidado a manusear os ovos, são obras de arte, são pintados à mão. Os ovos passaram
por todos, enquanto a C. e o T. observavam os amigos atentamente.
Quando todos tinham terminado lancei o mote para a atividade: Então agora em
pequenos grupos, vão pintar os ovos, para que possamos ter ovos romenos, mas pintados
em Portugal. Já pensaram se um dia chegassem à Roménia e vissem os vossos ovos à
venda numa loja? Ouviram-se gargalhadas. Sim - continuei - porque estes desenhos agora
estão brancos, mas depois de terminamos, se forem copiados para um ovo de madeira
como os que viram, transforma-se em artesanato a sério. Todos estão com um ar
admirado, mas apenas alguns questionaram: Podemos ir pintar os ovos? Assenti que sim
e disse: Tem os materiais de pintura na mesa e também tem os vários padrões para os
ovos, escolham o vosso preferido e pintem à vontade. Quem quer começar? Após
escolhermos um pequeno grupo de crianças, estas dirigiram-se à mesa e iniciaram a
atividade, enquanto os restantes se distribuíram pelas áreas da sala.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.8
Palavras-chave: Familiarização com outros reportórios linguísticos; Aquisição e
mobilização de vocabulário novo; Gastronomia típica europeia;
Data: 19 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h30
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Estávamos já todos sentados no tapete a conversar, quando ouvimos bater à
porta e vimos pela pequena janela, a Alexandra, mãe da C. que vinha contar-nos uma
história. Convidei-a a entrar e a sentar-se junto a nós. Quando se sentou, cumprimentou
as crianças dizendo ‘Alo, Buna dimineata!’, sabem o que isto quer dizer? Ouviram-se
algumas respostas negativas e também algumas cabeças a dizer que não. Quer dizer: Olá,
bom dia! Disse a Alexandra. Vocês já sabem que eu sou a mãe da C. e também acho que
sabem que nasci na Roménia. E hoje venho contar-vos uma história que vocês conhecem
e que também é popular na Roménia...o Capuchinho Vermelho ou em romeno ‘Scufita
Rosie’ (mostrou a capa do livro). Sabem este livro está em romeno. Posso contar-vos esta
história? A resposta foi um efusivo: Sim! Olhou para mim e acenou com a cabeça,
dizendo em seguida: Vamos então começar. Durante alguns minutos contou a história por
pequenos trechos, contando primeiro em português e depois lendo do livro a versão em
romeno.
Quando terminou a história perguntou se todos tinham entendido e a resposta foi
novamente positiva. Mas começaram a surgir perguntas, que se relacionavam com a
história ‘O nabo gigante’. A primeira a questionar foi a C.B.: Olha a capuchinho levava
comida para a avozinha na cesta…podia ser sopinha, feita com os legumes da horta como
na história do nabo…O T.C. referiu logo de seguida: pois podia! Mas o M.N. voltou a
mostrar o seu interesse dizendo: sabes dizer os nomes dos legumes em romeno? A
Alexandra disse: diz-me os nomes e depois eu traduzo, quais queres saber? A criança
referiu os que queria e a narradora disse: Então: nabo é ‘ridiche’, cenoura é ‘morcov’,
feijão verde é muito parecido, ouçam lá, ‘fasole verde’ e batata como C.? Tu sabes esta!
Ouviu-se a voz tímida da C. a dizer: ‘cardof’. O processo deu-se sempre da mesma forma,
Anexo 6 - Notas de campo
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a Alexandra dizia as palavras e as crianças repetiam logo de seguida. Acham que já sabem
dizer? O F.P. surpreendeu-nos dizendo: Ariana, nabo é ‘repka’ e ‘ridiche’, é a mesma
palavra, noutras línguas. Já aprendi as três. O M.N. disse rindo: Boa F. Olha aqui, eu
gosto de sopa de ‘morcov’. Olha podes escrever os nomes num papel, para depois nós
copiarmos? Eu expliquei: Sabes Alexandra, aprendemos a dizer algumas palavras em
russo e agora estamos a aprender algumas delas em romeno. E eles gostam muito de
escrever as palavras novas que aprendem. E como estes meninos são muito inteligentes,
quase que já podem falar contigo em romeno, disse numa gargalhada. A Alexandra riu
largamente e disse: Sim, são muito espertos, aprendem tudo! Mas assim, eu tive uma
ideia…se vocês gostaram de saber os legumes, conhecem algum alimento que leve
‘ridiche’, ‘morcov’, ‘fasole verde’e ‘cardof? O M.N. disse rapidamente: isso é fácil, é
sopa. Logo a L.C. disse: A sala também dá, acho eu. A Alexandra disse: A resposta é
sopa, está certo M.N., que em romeno se diz ‘Ciorba de legume’ ou sopa de legumes, que
é uma receita típica da Roménia que eu adoro. A L.P. Nós gostamos de sopa, comemos
todos os dias, se calhar podíamos provar a tua sopa. O T.C. responde de imediato: eu
gosto de todas as sopas L., quero provar a sopa da Roménia também. Podes fazer para
nós, mãe da C.? Demos ambas uma gargalhada e a Alexandra disse: Eu acho é que eu
dava-vos a receita e vocês faziam com a Ariana, o que acham? Nesse momento, as
crianças começaram a conversar entre elas e no final algumas perguntaram: Podemos
fazer Ariana? Respondi de imediato: Sim, claro, temos é que pedir a receita à Alexandra,
para sabermos quais são os legumes e podemos fazer já amanhã. O que acham? Todos
acenaram afirmativamente com a cabeça, mas o F.M. disse: Acho que vai ser difícil de
fazer essa sopa…A Alexandra respondeu: Vais ver que é muito fácil e é uma delícia,
aposto que vão gostar. Vou escrever aqui a receita e as palavras que me pediram e dou
à Ariana, ok? Algumas crianças responderam: Obrigada. E outras questionaram? Já
podemos ir brincar?
Enquanto as crianças brincavam a Alexandra explicou-me que esta receita tem
uma característica, o sabor acre, dado pela finalização, com sumo de limão. Explicou que
na Roménia é usado uma grande quantidade de sumo, para dar um sabor intenso à sopa.
Depois despediu-se e deixou a sala.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.9
Palavras-chave: Aquisição e mobilização de vocabulário novo; Gastronomia típica
europeia;
Data: 19 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h
Local: Refeitório
No dia seguinte, já com o espaço de refeitório pronto e os ingredientes/utensílios
necessários pré-preparados pela Vera, todos lavaram as mãos e se sentaram três a três nos
bancos corridos. As mesas retangulares coloridas encontravam-se dispostas para formar
um grande retângulo, onde todos pudessem ver bem.
Inicialmente li a receita que a Alexandra nos deu e depois um a um, estivemos
a identificar primeiro os objetos que íamos utilizar e depois os legumes, sendo que várias
crianças referiram algumas palavras que a Alexandra havia ensinado no dia anterior,
associando as palavras romenas às palavras em português. A M.J. a C.L e a M.C. diziam
rapidamente, isso é ‘cardof’, ‘morcov’, ‘ridiche’, ‘repka’…
Posteriormente foram dados às crianças, alguns legumes já descascados como
cenoura, batata e feijão verde e também pequenas facas que usam para as refeições do
almoço. Pouco a pouco, cada um cortou os seus legumes. No final juntámos todos na
panela e o F.P. disse: Mas agora tem que ir cozer, não é? Eu respondi: Sim, agora vamos
colocar a água e o sal e no final tem que ir para o fogão cozer, quando cozer colocamos
nos tupperwares que os pais mandaram, ok? A M.V. perguntou, entusiasmada: Vamos
levar para casa, para os pais provarem? Eles também tem que conhecer a comida de
outros países. Ao que eu respondi: Sim, claro. Se foram vocês que fizeram, acho justo
levarem para casa para partilhar com os pais, afinal eles também nos ajudam bastante.
Olhem a Vera agora vai pôr a sopa a cozer e quando estiver pronta, vamos lá espreitar,
porque agora vão ter aula de música.
Todos fizeram o comboio e se encaminharam para a sala onde a professora Cátia
já os aguardava. A Vera foi cozer a sopa e quando estava pronta distribui-a pelos
tupperwares, enviado previamente pelos pais, a meu pedido. Eu levei o grupo até à
Anexo 6 - Notas de campo
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cozinha, onde estiveram a observar e a conversar sobre a sopa. Todos provaram uma
colherada e surgiram alguns comentários: Esta sopa parece-se com a de Portugal e não
é muito diferente da nossa, afinal as comidas da Roménia são parecidas com as nossas,
com algumas… No final de todos provarem expliquei que iria colocar sumo de limão em
todas as sopas, pois a Alexandra tinha explicado que era típico da receita romena. Viram-
se algumas caretas e ouviram-se comentários: Não gosto de limão, mas a minha mãe
gosta. No final eu a Vera tapámos os tupperwares e cada criança levou a sua caixa para
a sala, onde a colocou na mesa, para levar para casa posteriormente
NC.10
Palavras-chave: Consciencialização de outras culturas;
Data: 20 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 18h10
Local: Corredor de acesso às salas
Já com o dia de trabalho terminado, dirigia-me à saída do colégio quando me
cruzei com a mãe do M.C. que se dirige a mim dizendo: Boa tarde. Ainda bem que a
encontro, queria falar consigo. Eu respondi: Boa tarde. Está tudo bem? Conte coisas. A
mãe começa novamente: Primeiro queria saber que receitas quer para o livro? É que
tenho imensos livros de culinária e já estive a olhar para vários, não sei que receitas
escolher. É uma ou são várias? Sorri, dizendo: Calma, basta uma receita, mas se quiser
participar com mais, não há problema. As receitas ficam ao vosso critério, pode ser
qualquer receita, apenas tem que me dizer o país de onde é típico, para eu me organizar
na compilação de todas. A mãe disse: Ok, obrigada. Tenho que ver isso rapidamente. Eu
respondi: Mas tem tempo, ainda estamos no início do ano letivo. A mãe afirmou: É que
o meu filho não se cala com a viagem à volta do mundo, diz que vai viajar para a Europa
e para Índia. Diz que a Ariana disse que vão viajar para a Índia e eu perguntei-lhe: posso
ir filho? Ele respondeu-me: acho que não mãe, a viagem é só para nós, para a Ariana e
Anexo 6 - Notas de campo
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para a Vera, mas depois conto-te tudo. Eu ainda lhe perguntei: Mas filho, não vais ter
saudades minhas? Ele nem se atrapalhou, disse logo: Elas tomam conta de mim mãe.
Quando voltar dou-te muitos beijinhos. Sabes, nós temos que aprender coisas sobre
outros países, a Ariana diz que temos que saber como são as outras pessoas e conhecer
os seus países. Se eu conhecer um menino de outro sítio no parque da cidade, vou logo
dizer-lhe as coisas que gosto no país dele. Além disso, como fizeram a sopa romena, diz
que a C. já tem uma receita e ele não, que ele também quer muito ter a receita no livro
da escola. Admirada e orgulhosa referi: Que bom ouvir estas coisas, é isto que se
pretende, interesse e motivação, adorei! A mãe disse: Se fosse passar uma noite lá a casa,
logo via. Todos os dias o vou deitar e ele farta-se de me contar as aventuras das vossas
‘viagens’, parece que foram mesmo a qualquer lado. Conta-me o que aprendem nas
histórias, mas noutros papéis, como nas histórias que vocês contam. Não se sabe explicar
melhor. Eu abri um grande sorriso dizendo: Olhe estou super feliz de a ouvir, significa
que as atividades estão mesmo a resultar, não fazia ideia, ele aqui conta algumas coisas,
mas nada assim ao pormenor. Neste momento entre na escola o pai do T.R., que começa
a dirigir-se à sala. Parou ao pé de nós e cumprimentou: Boa tarde Ariana. Tudo bem P.?
Olhe tenho que lhe perguntou para onde vai levar o meu filho, porque ele só diz que vai
para a Itália e para a Hungria consigo. Lancei uma enorme gargalhada e disse: A nossa
viagem está a ter esses resultados. Lembra-se quando vim para este grupo e me dizia que
o seu filho era capaz de compreender conceitos abstratos, bem agora a capacidade de
imaginação dele está no máximo, temos evolução. Bem, mas a Itália deve ter sido porque
na votação para escolher a próxima viagem ele referiu que gostava de ir até à Itália, mas
a Roménia é que ganhou…A Hungria é mesmo porque lhe contei que na passagem de
ano vou visitar a Hungria e ele como sempre, não se esquece de nada. O Pai disse muito
rápido: não está a perceber, ele acha mesmo que vai consigo e melhor: que os amigos
vão também. Está mesmo a dar a volta ao miúdo, disse a rir. A mãe do M.C. respondeu:
Ó R., mas era isso que estava a dizer, a Ariana está a dar conta dos miúdos, eles pensam
que vão de viagem para todo o lado, olha o meu só fala na Índia e no que lá há, até
parece que viu alguma coisa. Eu falei: Olhem, só me dão boas notícias, adorei ouvir, os
meus meninos sempre a surpreender. Despedimo-nos, sendo que os pais se dirigiram à
sala para recolher as crianças, enquanto eu me dirigi à porta de saída da escola.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.11
Palavras-chave: Diversidade cultural; Consciencialização de outras culturas;
Consciencialização da importância das várias línguas;
Data: 24 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h15
Local: Sala do computador
As 22 crianças, já se encontravam sentadas no grande tapete rosa da sala do
computador. Iniciei então uma conversa sobre os locais que já ‘conhecemos’ nas
‘viagens’ pela Europa. A C.B. questionou-me: Qual é a nossa viagem a seguir? Sorri e
perguntei: Não sei, isso são vocês que decidem. Onde gostavam ‘de ir’? Várias crianças
começaram a falar ao mesmo tempo, tornando difícil de perceber o que estava a ser dito.
Disse alto: Calma! Um de cada vez. Todos vão ter oportunidade de dar a sua opinião. O
grupo acalmou-se e pedi que lançassem destinos de viagem. Surgiram algumas respostas
diferentes e, por isso, realizou-se uma votação para que cada um votasse no local que
achava mais importante e interessante de ‘visitar’. Anotei numa folha branca A4 quais os
países nomeados e que estavam em votação: (i) França; (ii) Hungria; (iii) Itália; (iv)
Espanha; (v) Suécia; (vi) Alemanha. Cada criança votou no país de eleição e o país
vencedor com 14 votos foi a Itália.
Após a votação, ouviu-se de imediato: temos que pesquisar coisas da Itália no
computador. Podes ver aí qual é a bandeira deles, a comida típica e os sítios que temos
que visitar, os… (pará para pensar) monumentos? O T.S. disse rapidamente: Não precisas
de procurar a língua, fala-se italiano na Itália. Eu respondi: Certo e a capital é Roma. Ora
vamos lá procurar uma imagem da bandeira para vocês verem - digo enquanto pesquiso
no Google - aqui está. Ouviam-se várias crianças a comentarem as cores da bandeira e a
conversarem sobre ela. Continuei: Alguém sabe palavras em italiano? Ninguém
respondeu, apenas assentiram com a cabeça ou encolheram os ombros
interrogativamente. Olhem eu sei algumas palavras, querem saber? Obrigado diz-se
‘gracie’. ´Gracie´ ouviu-se repetir por algumas vozes. Olá é ‘ciao’ e amigo é ‘amico’. A
palavra ‘pizza’ também é italiana e esse é um alimento típico de lá. Durante a conversa
eram visíveis pequenos focos de conversa, repetindo as palavras e comentando-as. O T.C.
Anexo 6 - Notas de campo
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disse: Não sabia que a pizza era de Itália, eu adoro pizza. Respondi: Sim e as massas
também são pratos típicos de Itália. Vejam aqui. Pesquisei pratos típicos e apareceram
vários tipos de pizza, tendo algumas crianças identificando algumas como conhecidas. A
L.P. perguntou: qual é aquela comida Ariana? Apontando para o um doce que aparecia
do lado esquerdo do écran do computador. Respondi-lhe que era panacota, uma
sobremesa italiana, à qual duas crianças reagiram, pois já ‘conheciam do restaurante’. O
G. sugeriu: Podíamos fazer aquele doce? Mas que molho é aquele? Respondi: na receita
típica, a panacota leva frutos silvestres. O G. franziu o nariz em desagrado, questionando:
Pode ser sem o molho? A M.C. disse: Ou como outro molho? perguntei: Qual? Pode ser
de chocolate, disse rapidamente o M.C. sorrindo. Os restantes colegas concordaram e
ficou decidido, fazer esta alteração na receita.
A educadora continuou introduzindo outro tópico de conversa: Sabem, Itália tem
muitos pintores famosos, que pintaram quadros conhecidos. Os quadros fazem parte da
história e da cultura do país, pois as obras são muito importantes e deixam os italianos
muito orgulhosos da sua cultura. Vejam aqui - disse enquanto pesquisava imagens no
Google – e apareceram várias imagens – nas imagens surgiu surgiu Leonardo DaVinci e
várias imagens das suas obras, nomeadamente a ‘Mona Lisa’. Expliquei que era um
quadro bastante famoso, que tinha sido pintado há muito tempo atrás e que estava num
museu em França, chamado Louvre. Questionei as crianças se gostariam de recriar uma
obra deste pintor. A M.V. respondeu: eu quero, gosto de pintar e é importante
aprendermos coisas de outros países. Podemos votar no quadro. A M.J. disse: A minha
mãe disse isso e que existem muitas culturas para conhecer no mundo todo e que é
importante eu saber as palavras que aprendemos em línguas diferentes. Respondi: E a
tua mãe tem muita razão, ainda agora começámos a nossa viagem, mas temos muito para
descobrir e ainda mais para aprender. Após a conversa foi determinado em grupo que
iriamos recriar a ‘Mona Lisa’ e que cada um usaria as cores que preferisse na sua versão
da obra.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.12
Palavras-chave: Consciencialização de outras culturas e suas tradições; Gastronomia
típica europeia;
Data: 26 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h
Local: Refeitório
Esta sessão decorreu no refeitório, onde as mesas e bancos estavam dispostos para
a atividade. Em cima das mesas estavam ainda os ingredientes, utensílios necessários à
receita. Assim, li a receita completa e depois as crianças estiveram a nomear tudo o que
estava na mesa para utilização. Devido ao facto que a receita necessitava de ir ao lume
durante a execução, executámos a atividade em frente às janelas de ligação à cozinha,
onde estava a Vera a quem eu passava a panela, sempre que necessitava de ser aquecida,
o que facilitava o processo.
Iniciada a atividade, todas as crianças provaram as natas frescas e posteriormente
aguardaram a sua vez e vieram despejar as natas frases, gelatina e açúcar. O último
ingrediente foi a baunilha em vagem, um ingrediente que suscitou muita curiosidade, pois
a L.C. constatou: Mas os gelados de baunilha são amarelos e essa baunilha é preta…A
M.V. disse então: Olha se calhar a baunilha era como os M&M’s que vimos na
experiência. Questionei: Como assim M.? Explica-nos o que queres dizer. A menina
continuou: a baunilha não parece de uma cor, mas é, mas ela também muda de cor. É
como na experiência, as pessoas que são de uma cor, mas depois lá dentro são todas
iguais. A educadora disse: É uma explicação possível, mas não é bem assim. A parte preta
da baunilha é onde está ‘guardado’ o sabor e estas sementes pretas, são usadas para retirar
o sabor da baunilha e esse sabor -o aroma - é colocado em alimentos que comemos, como
o gelado ou os iogurtes, e o mesmo acontece com outros alimentos, como as frutas, por
exemplo.
Quando terminámos de fazer o doce, colocámos a taça em cima da bancada de
ligação á cozinha, todos se levantaram e fizeram o comboio. Saímos do refeitório e
Anexo 6 - Notas de campo
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andámos pelo corredor, até ao corredor de acesso da cozinha. Aí a Vera estava a aguardar
com o doce que guardámos no frigorífico, com a ajuda da chefe do dia.
Na hora de almoço todas as crianças foram servidas em pequenas taças brancas
pela Vera e a pedido delas reguei a sobremesa com topping de chocolate. Nessa altura o
V. perguntou: Vamos levar a panacota para os pais, como fizemos com a sopa da
Roménia? Eu respondi: Olha V., esta sobremesa não é boa ideia, porque é parecida com
gelado e derretia, tem que estar no frigorífico e podia derreter se o mandássemos para
casa. O menino respondeu: Ok, Ariana.
Ao terminarem o segundo prato, todos comeram a sobremesa e pelos sorrisos
parece que foi uma ideia bem-sucedida, apenas a M.J. disse que não gostava.
NC.13
Palavras-chave: Consciencialização de outras culturas e suas tradições;
Data: 26 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 16h45
Local: Entrada da sala dos 4 anos
A avó do M.N. veio buscá-lo nessa tarde. Eu estava a fazer um puzzle com duas
crianças na área dos jogos, mas levantei-me e fui até à porta para a cumprimentar. Boa
tarde. Como está? Respondi: Tudo bem avó. E consigo? A avó respondeu prontamente:
está tudo bem, obrigada. Olhe tenho que lhe contar uma coisa, ontem o meu neto
surpreendeu-me imenso. Estávamos em minha casa e costumo mostra-lhe livros de todos
os tipos, tanto a ele, como à irmã. Estava a folhear um livro sobre as grandes invenções
da humanidade e de repente ele diz-me: olha avó, isso é a máquina voadora do Leonardo
DaVinci. Sabes avó ele é italiano e fazia muitas pinturas famosas, como a Mona Lisa. As
pessoas gostam muito das pinturas deles e os italianos ficam orgulhosos disso, é uma
pessoa muito importante para a história deles. Até a irmã ficou admirada com ele, ela
não sabia nada daquilo. Perguntei-lhe quem lhe ensinou e ele disse que foi a Ariana,
quando ‘fizeram’ a viagem até Itália. Achei uma delícia a forma de ele contar e via-se
Anexo 6 - Notas de campo
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que estava interessado no que estava a explicar. Respondi sorridente: O seu neto é tão
eloquente, sabe explicar tudo ao pormenor. Ele aqui está sempre a fazer isso, faz resumos
do que lhe digo, e tem uma capacidade de memorização excecional, veja lá que ele
memorizou as palavras em russo e romeno e consegue reproduzi-las facilmente e no
contexto correto. Itália é o país onde ‘estamos’ agora, daí ele estar tão bem informado,
disse piscando o olho direito. A avó sorriu e disse: Olhe, parabéns pelo projeto, ele anda
super motivado, quem o viu e quem o vê. A avó despediu-se de mim, assim como o M. e
voltei ao jogo com as crianças.
NC.14
Palavras-chave: Reconhecer outras culturas e suas tradições; Familiarização com outros
reportórios linguísticos;
Data: 31 de outubro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 17h15
Local: Entrada da sala dos 4 anos
A mãe da C. veio buscá-la à sala e dirigi-me à porta para a entregar. Boa tarde,
disse eu. Olá Ariana, tudo bem consigo? Eu respondi: Está tudo bem, obrigada. A mãe
recomeçou dizendo: Olhe ando para falar consigo há um tempo, mas não a tenho
apanhado. Tenho que lhe agradecer. Fiquei admirada e questionei: Agradecer o quê? A
mãe continuou: Agradecer o trabalho que está a fazer com a C. Já tinha estado com a
M.R. e eu adorei, mas este toca o meu coração. Quando vi o seu placar sobre a Roménia,
até fiquei com lágrimas nos olhos. Com o castelo e os ovos pintados, todos os pais a
verem e a comentarem...Nunca tinha visto ninguém daqui dar interesse ao meu país e ver
que está a trabalhar isto com os meninos deixa-me tão feliz. Olhar para ali e ver coisas
do meu país, enviar coisas do meu país para mostrar na sala e ver que todos estavam tão
interessados na ‘Ciorba’...e é tudo obra da Ariana e por isso muito obrigada. Reagi um
pouco emocionada: Até me deixou um pouco sem palavras...sabe que a ideia de
explorarmos a Roménia foi da C., ela é que sugeriu, porque você é romena. A mãe
recomeçou: Sabe ela só faz isso aqui, consigo, tem muito interesse na Roménia agora que
Anexo 6 - Notas de campo
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a Ariana puxa por eles nesse sentido. Em casa ela não quer aprender nada, nem quer
saber nada, não quer falar, diz sempre que está cansada. Ver e ouvir a minha filha a
falar do meu país com tanto entusiasmo, perguntar-me sobre o meu país, como se dizem
certas palavras querer trazer coisas lá de casa, é mesmo por causa da escola e da Ariana.
E por isso agradeço. Foi um prazer vir cá e contar a história e eles estavam tão
caladinhos a ouvir...nem quis acreditar. Muito obrigada! (disse sorridente e deu-me um
abraço). Respondi: Se soubesse como fico feliz por me dizer isso, primeiro ver o seu
reconhecimento vale tudo e depois sentir que a C. e o resto do grupo estão
interessados...é isso que me deixa ainda mais feliz. O meu projeto é para isso mesmo,
motivar as crianças a terem interesse no outro, na sua cultura, criar pontes para a
empatia através da educação intercultural...obrigada pelas suas palavras. A mãe
colocou a mão direita no meu braço esquerdo e disse: Continue o seu trabalho, é o melhor
que pode fazer por estes meninos. Sorriu e chamou a filha que se encontrava na entrada
da sala a conversar com uma colega da sala.
NC.15
Palavras-chave: Diversidade cultural e linguística; Consciencialização dos traços
distintivos de diferentes culturas; Familiarização com diferentes tribos africanas, seus
hábitos e tradições;
Data: 7 de novembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h00
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Mais uma vez na área do tapete com todas as crianças sentadas em roda, sentei-
me junto ao grupo e disse-lhes: Hoje tenho uma coisa muito especial para ouvirem! O
F.M. interrogou-me de imediato: É o que Ariana? Disse com ar expectante. Eu pisquei-
lhe o olho e disse: Já vais ver, agora ponham o cabelo atrás das orelhas, fechem a boquinha
com a chave e guardem no bolso - disse fazendo os gestos -porque para descobrirem tem
que tomar muita atenção... Inclinei-me para trás, esticando o braço direito para chegar à
Anexo 6 - Notas de campo
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mesa em meia-lua branca em forma de meia-lua que estava atrás de mim. O meu pequeno
computador portátil azul, encontrava-se já aberto em cima da mesa, com o programa de
leitor de músicas em stand by ligado por um fio preto, fino e comprido a uma enorme
coluna preta. Naveguei com o rato e cliquei calmamente no play, começando a ouvir-se
uma música muito dinâmica.
O grupo começou a reagir quase de imediato. Todas as crianças sorriam umas para
as outras e agitavam o corpo de diferentes formas ao som da música, com uma batida
intensa. Eu sorria a observá-los. Quando a música terminou, perguntei: Gostaram? Já
tinham ouvido algo parecido? A M.J. disse entusiasticamente: Eu adorei, era divertida,
eu nunca ouvi esta música. O T.C. retaliou: Era mexida, que música é? Não conheço
Ariana. Eu perguntei: Alguém conhece? De onde é a música, de onde é ela, do mesmo
continente que a maraca e o tambor, um lugar onde se canta e se dança com fervor?
Ouviram-se gargalhadas seguidas por muitos não sei, acompanhadas com movimentos
negativos de cabeça. Esta música é africana - disse eu - vem do continente africano, este
aqui - apontei para o globo que tinha ao meu colo - é de um país chamado Libéria, não
sei se algum de vocês conhece? Os movimentos negativos com a cabeça voltaram a
repetir-se. Continuei: Eu estava a ouvir a música e a pensar quais seriam os instrumentos
que conseguia ouvir a tocar? As respostas foram múltiplas: Eu acho que ouvi tambores
disse o F.P. Houve várias crianças a concordarem com a afirmação respondendo: Eu
também ouvi. Outras respostas surgiram de imediato: Muitas maracas, Ariana - uma
resposta que reuniu também vários apoiantes - e ainda: Acho que também ouvi reco-recos
disse a L.P. isoladamente. Dando continuidade ao diálogo, disse: Muito bem, vocês tem
bom ouvido para música, eu também acho que são maracas e tambores, mas Laura -
disse piscando o olho - também deste uma boa sugestão, obrigada. Vou fazer-vos mais
duas perguntas: Alguém sabe o que está a ser dito na música? Conhecem esta língua?
As respostas recaíram em: É uma língua estrangeira, isso eu sei, mencionou a C.B. Inglês
não é. Russo ou romeno? O F.M apoia: Pode ser Carolina. Resposta apoiada por mais 5
crianças. Nem pensem – respondeu rapidamente o S. Não são nada parecidas. O R.
avançou: Também acho que não, acho que nunca não vai ser parecido com aquilo que a
Eugénia e a Alexandra diziam. A M.J.disse perspicazmente: A Ariana disse que era de
África, por isso não são essas línguas, deve ser uma nova, que nós ainda não sabemos
qual. A M.V. disse: Pois é, M. Quando as opiniões pareceram parar disse: Já vamos
Anexo 6 - Notas de campo
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perceber qual será a resposta certa, primeiro tenho uma história para vos contar.
Chama-se ´A surpresa de Handa´. Vou começar... Todos se colocaram em posições
confortáveis e iniciei a narração da história.
Após terminar a história, expliquei ao grupo que os grupos retratados na história
eram tribos, oriundas do Quénia, localizando o país no globo e nos dois mapas-mundo
expostos na sala. Depois questionei: O que vêm nas imagens e que é diferente do que vêm
normalmente? O F.M. disse decidido: Na história das tribos, há muitas coisas diferentes
de Portugal... esses meninos são diferentes de nós. Questionei o grupo em que residia a
diferença e foi referido a nível geral: Vivem em aldeias no meio do campo, não há nada
à volta; as casas são de palha e não tem porta; vestem vestidos com muitas cores, panos
atados aos ombros e à cintura, lenços atados na cabeça; os meninos andam com pouca
roupa na África; há pessoas que andam sempre descalças; há muita gente a trabalhar
no campo e a apanhar coisas no campo; são todos castanhos e usam penteados com
tranças pequeninas; usam cestos e baldes para levar a comida deles para casa; os
animais andam à solta na rua – as galinhas. No final o V. referiu: Mas olha, nós vemos
pessoas castanhas em muitos lados, ela são da África, das tribos? Eu respondi: Algumas
podem ser, podem ter nascido em África em outros países, mas depois vieram para cá
viver, outras nasceram cá em Portugal. A M.V. disse de seguida: Pois, a minha mãe já
tinha dito isso, que as pessoas podem ser de outras cores, mas podem ter nascido no
nosso país. Mas como os pais delas também são assim, elas saíram a eles, como eu saio
à minha mãe, porque nós somos parecidas. Respondi: Sim, M. é isso mesmo, somos todos
diferentes, cada um está relacionado com a sua família, somos parecidos com os nossos
pais ou avós. Mas é importante sermos todos diferentes, se fossemos todos iguais era
complicado, não tinha interesse nenhum. A diversidade, que quer dizer sermos todos
diferentes, ajuda-nos a conhecer coisas novas: novas pessoas, novas línguas, novas
comidas, novas tradições. Assim temos sempre muito para descobrir e muito para
aprender com os outros. A M.V. disse: Pois e aprender coisas novas é importante. Coisas
novas sobre os outros. A minha mãe também disse isso. Eu sorri e disse: Claro que sim,
nós aprendemos sobre os outros e eles também aprendem sobre nós, e assim ficamos
cheios de conhecimentos, super inteligentes e com muito para contar. O T. questionou-
me: Mas nós também comemos frutas da história, pois comemos? O ananás ou a laranja.
Eu respondi: Sim, mas as frutas que comemos vem do nosso e de outros países, pois os
Anexo 6 - Notas de campo
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países tem climas diferentes, há alguns que tem mais calor - são os climas tropicais - e
faz com que certas frutas cresçam melhor. E também há frutas de Portugal para comer
noutros países? Interrogou o T.C. Respondi: Sim, a banana da Madeira, o ananás dos
Açores, a pêra-rocha da zona oeste de Portugal ou a laranja do Algarve. Cada fruta é
cultivada onde o clima for melhor e depois mandamos para outros países, tal como ele
mandam para nós. Pois, - disse a M.J.- e nós comemos todas. De repente a C.B. levantou
uma dúvida: Essa tribo existe de verdade ou é só na história? Eu respondi: Existe mesmo,
esta autora escreveu a história, baseada nas tribos Luo que existem em África. Ó Ariana
– referiu a mesma criança – Podemos ver fotografias de verdade deles no computador?
O F.P. disse: Boa C. podemos ir ver? Respondi alegre: Claro que sim, façam o comboio
do lado de fora da sala e vamos já.
Após todos se sentarem no grande tapete rosa da sala do computador, sentei-me
na cadeira, de lado para o grupo e pesquisei imagens de tribos africanas na internet.
Surgiram no monitor imagens legendadas que mostravam várias tribos (Masai, Zulu,
Himba...) e as crianças disseram: Mas esses são outros, não são iguais à Handa; Sim,
olha o cabelo daquele – riam -; São todos parecidos, mas não iguais, aquele ali tem
tantos colares bonitos; São todos de África? Respondi à pergunta: Sim, estas são todas
tribos africanas, mas África é grande e existem muitas tribos e todos tem as suas
características, aquelas que vocês estavam a dizer, a roupa, o cabelo, os ornamentos que
são os fios, pulseiras. Vejam aqui - abri o Youtube e pesquisei breves filmes de diferentes
tribos africanas que as crianças estiveram a observar com atenção.
Ó Ariana – questionou o F.P. – mas aqueles cabelos são mesmo engraçados, como
é que eles ficam assim? Parece que tem uma coisa à volta... A M.J. disse: Parece lama
ou um tubinho castanho. A C.B. disse entre gargalhadas: E as meninas andam com as
maminhas de fora - começaram a ouvir-se várias gargalhadas pela sala. Eu respondi: Esta
tribo chama-se Himba, diz aqui que são da Namíbia, que também fica no continente
africano. Elas andam assim porque é tradição deles, como para nós é andar vestido. E o
cabelo tem tranças e depois colocam barro á volta, por isso fica com aquele aspeto e os
homens usam uma trança em pé. É assim devido ao clima de África, para se protegerem
do vento e do sol. A M.J. questionou de imediato: E aqueles colares, também são - parou
para pensar - tradição? O que é isso? Respondi: Uma tradição é um hábito que se vai
transmitindo de umas pessoas para outras. Os colares são usados da mesma forma que
Anexo 6 - Notas de campo
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nós, ou seja, para se embelezarem. Mas as cores dos colares tem vários significados
diferentes, cada cor quer dizer qualquer coisa. A M.J. disse de imediato: Como a comida.
A mãe da C. faz ´ciorba´ que é sopa da Roménia e a minha avó faz ´chapati´ que é um
pão. É isso. Respondi alegre: Sim, é isso mesmo, a comida também é uma tradição. A
M.V. disse: Olha e as pulseiras e colares delas é como a minha pulseira e da Marta, são
azuis que queria dizer que somos amigas. Respondi: Sim, é isso mesmo, afinal temos
algumas coisas em comum com as tribos africanas - disse rindo. Mas existem muitas
outras curiosidades sobre as tribos, coisas que não podemos ver nas imagens, temos que
descobrir e pesquisar na internet ou em livros. O V. questionou: E vamos aprender essas
coisas? O M.C. apoiou: Sim, eu gostava de saber coisas das tribos. Depois contava aos
meus primos e eles não sabem. Sorri e disse: Claro que vamos, aprendemos o que
quiserem e acreditem há muito para descobrir. O T.R. disse: podemos ouvir a música
africana? Respondi: Claro, quando chegarmos à sala ponho outra vez a tocar. Façam o
comboio e vamos para a nossa sala.
NC.16
Palavras-chave: Diversidade cultural; Familiarização com diferentes tribos africanas,
seus hábitos e tradições;
Data: 7 de novembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h35
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
De volta à sala, pedi para que as crianças voltassem a sentar-se no tapete para
conversarem. Referi que algumas crianças queriam ouvir a música novamente e que a iria
colocar a tocar, enquanto estivessem em brincadeira livre pela sala. Iniciei então a
explicação de uma nova proposta que se focava na arte africana. Mostrei um quadro de
arte típica africana que o trouxe de Cabo Verde, explicando que tinha sido pintada por
um senegalês Mostrei ainda algumas imagens reais, previamente impressas, de quadros
de arte típica africana. Dirigi-me então às crianças: Já conheciam alguns quadros
Anexo 6 - Notas de campo
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pintados por pintores europeus, como o Leonardo DaVinci que nasceu em que país?
Ouviu-se um coro: Na Itália. Respondi: Muito bem, então agora estivemos a ver quadros
típicos de arte africana. O que há de comum em todos eles, alguém sabe? Começaram a
ouvir-se várias respostas desordenadas pela sala e várias crianças a falarem em
simultâneo. Intervim e pedi para se acalmarem e para aguardarem a sua vez. Dirigi-me
ao T.S. que estava com o dedo no ar, apontei para ele e começou a falar: Acho que são os
corpos dos bonecos. O T.C. referiu: Pois, tem todos as mesmas formas e as mesmas cores.
Vermelho e laranja e mais umas cores. O S. Disse: Tem uns desenhos bonitos, pois é
Ariana? Respondi: Sim, muito bonitos. Tem cores muito fortes. Acham que gostavam de
fazer uma pintura destas? O R. perguntou: Achas que conseguimos fazer isso? Respondi
prontamente: Tenho a certeza que sim vocês são muito talentosos e gostam de aprender,
isso vai ajudar-vos de certeza. Olhem vou colocar na mesa estas folhas coloridas –
mostrei uma capa de plástico transparente com folhas A4 de várias cores – tem que
escolher uma para ser a base da pintura e depois tem todos estes padrões – mostrei várias
folhas A4 com múltiplos padrões de origem africana já delineados – depois podem
completar a pintura com colagem ou pintura. Vou pendurar as imagens, para quem
precisar. Quem quer começar pode levantar o dedo. Um pequeno grupo de 8 crianças
dirigiu-se à área polivalente, onde estavam os materiais estavam já a aguardar.
Já durante a execução da atividade duas meninas conversavam e dirigiram-se a
mim, a M.S. referiu: Ariana, estas senhoras africanas estão a trabalhar e levam jarros e
cestos. Sim - referiu de imediato a M.C. – Levam nas mãos ou na cabeça e nós não temos
isso para fazer o trabalho. Podes arranjar? Ficava bem para o trabalho ficar igual ao
quadro, porque as senhoras da pintura estão a trabalhar. Parei para pensar alguns
momentos e referi: Isso foi bem observado e uma excelente sugestão meninas. Olhem vou
até à sala de arrumos, onde estão guardados os materiais da escola, acho que esta lá um
tecido – referia-me a um pedaço de sarapilheira – que ficava bem no vosso trabalho. Volto
já. Dirigi-me à sala de arrumos e regressei rapidamente com a sarapilheira na mão. Voltei
a sentar-me na área de trabalho e rapidamente fiz dois moldes num pedaço de cartolina
verde clara, um em forma de jarro e outra em forma de cesto. Passei rapidamente o
desenho para o tecido com a ajuda do molde, cortei com ajuda da Vera e disse ao grupo
que se encontrava sentado a trabalhar: Tem aqui cestos e jarros, se quiserem usar no
vosso trabalho, foi uma grande ideia da M. e da M.C., disse piscando-lhes o olho.
Anexo 6 - Notas de campo
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Entretanto, a música inicial continuava a tocar ciclicamente na sala e enquanto
arrumava alguns materiais num armário grande da sala, ouvi um diálogo entre 4 crianças
que brincavam na área dos jogos, acerca dos instrumentos musicais, ouvidos na música
(tal como tinha sido conversado inicialmente), e questionei-as: Então contem lá,
gostavam de fazer o quê? O F.P olhou para mim com o seu olhar envergonhado e o seu
sorriso tímido e disse: Não te vi - sorriu para os colegas - estávamos a falar dos
instrumentos da música, das maracas. Eu e a M.J. gostávamos de fazer uma maraca para
tocar músicas como aquela, mas não sabemos como se faz. Eu respondi: Ok, vou pensar
numa ideia para fazermos isso e depois falo com vocês, pode ser. Vocês também tem que
pensar e pedir ajuda aos pais, porque não sabemos como são as maracas africanas, tem
que procurar fotografias. Acham que conseguem? Olhem que estou a contar com a vossa
ajuda, afinal a ideia é vossa! O grupo de crianças respondeu afirmativamente.
NC.17
Palavras-chave: Consciencialização dos traços distintivos de diferentes culturas;
Data: 9 de novembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h05
Local: Entrada da sala dos 4 anos
Ao chegar à sala, pelas 9h, cumprimentei a Vera que se encontrava à entrada da
sala a conversar com pais da sala ao lado. Entrei e coloquei alguns objetos pessoais sobre
a mesa, quando esta se dirigiu a mim: Toma, tens aqui as imagens que pediste das
maracas, pus os nomes, estas são do M.J. e estas são da C. Os pais deixaram ontem
quando os vieram buscar. Olhei para ela surpresa e ela questionou-me: Não pediste as
imagens? Quando os pais as entregaram disseram que as miúdas disseram que a Ariana
mandou procurar imagens de maracas africanas para um trabalho e que tinham que
trazer rápido. Admirei-me porque não me disseste nada, nem li isso em nenhum recado
mas... Dei uma gargalhada e respondi: Foi na tua hora de almoço, na 2ªfeira, o F, a M.J,
a M.V. e a C. estavam a conversar sobre... - relatei a situação - nem mandei recados nem
Anexo 6 - Notas de campo
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nada, pois estávamos a terminar o trabalho e ainda nem falei com o grupo, mas realmente
disse-lhes que a ideia era deles e que tinham que pedir ajuda aos pais. Adoro! A Vera
sorriu e disse: Logo vi! Estes miúdos estão tão diferentes do que eram no ano passado.
Interessados e responsáveis, estão tão crescidos! Sorri ao ouvi-la. Dirigi-me ao tapete,
onde alguns dos elementos do grupo já me aguardavam para iniciar a roda.
Já no final da roda, as crianças dirigiram-se às áreas da sala para brincadeira livre
e continuaram a chegar alguns elementos do grupo. Inicialmente chegou a mãe do F.P e
dirigi-me à porta para o receber, enquanto a Vera organizava os trabalhos feitos na sessão
anterior para serem expostos no placar exterior da sala. Disse: Olá, bom dia, como estão?
O F.P. sorriu timidamente e deu-me um beijinho. Entrou para a sala e a mãe disse-me:
Aqui tem as imagens que pediu, mas não vi o recado a pedir, desculpe. Olhe o rapaz
passou a noite ontem super aflito porque ainda não tinha pesquisado as fotografias e a
ideia também tinha sido dele. Diz que tem que falar com a Ariana e com os colegas para
decidirem o que vão fazer sobre as maracas. Sorri e disse: Estou a ter um dia cheio de
surpresas. Parei a conversa, pois neste momento chega à sala a M.V. acompanhada da
mãe. Cumprimentámo-nos e a M.V. deu-me um beijo e um abraço, dizendo-me ao ouvido
com uma voz calma e feliz: Já tenho as fotografias Ariana. Sorri e disse: Boa, M. –
continuei – Bom dia, mãe da M. A mãe sorriu, parou de falar com a mãe do F. e disse:
Olá, como está Ariana? Olhe...Tem sido uma alvoroço lá em casa, parece que a Ariana
está sempre por lá. Eu perguntei: Então? A mãe continuou: Olhe porque a Ariana e ela
e os amigos, ela contou quais são, o F., a M.C. e a C. tem uma tarefa, vão fazer maracas
e a Ariana mandou pesquisar e temos que pesquisar e a Ariana é que sabe muitas coisas
de outras culturas que são importantes de aprender e olhe sei lá, reina lá em casa! A
Mãe do F. interpelou e disse: Olha o meu não me conta nada, mas ontem só falava da
música e das maracas e das fotografias. E eu só perguntava: Filho que fotografias?
Estava agora a contar à Ariana. Eu explico disse eu bem disposta: Depois de estarmos a
conversar sobre a África, dei pelos quatro a conversarem sobre uma música da Libéria
que introduziu o continente para exploração. Disseram-me que queriam construir uma
maraca e eu disse que ia pensar em qualquer coisa, mas que precisava da ajuda deles e
de fotografias de maracas africanas, que tinham que pedir ajuda aos pais. E sem eu dizer
mais nada...tenho aqui várias fotografias africanas. Orgulho destes meninos! A mãe do
F. respondeu: Ok, já percebi. A da M.V. afirmou: A minha filha decora tudo o que a
Anexo 6 - Notas de campo
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Ariana diz, fala como a Ariana e quer ser como a Ariana. Agora é só falar da África e
dos colares e da tradição. - Olhei admirada e ela continuou – Sim, explicou-me a mim e
ao pai ao jantar, é uma coisa que se transmite de umas pessoas para outras. Ela absorve
tudo o que você diz, farta-se de contar coisas e de perguntar se temos alguma coisa do
país que estiverem a trabalhar para trazer, pensa que por eu e o pai seremos comissários
que vamos a todos os países, disse rindo. Se eu não soubesse pelos seus recados e mails
do que estavam a falar, não precisava a minha filha põe-me a par do que se passa na
escola. Eu disse sensibilizada: Os vossos filhos são o máximo, é por isto que vale a pena
ensinar crianças, não há um dia que não nos faça sorrir. Agora tenho que ir, tenho um
projeto para colocar em andamento e a ‘culpa’ é dos vossos filhotes. Até logo, disse
sorrindo. Ambas se despediram de mim e dos filhos e saíram da escola a conversar.
NC.18
Palavras-chave: Compreensão da música como um fator de identidade cultural; Músicas
tradicionais africanas;
Data: 9 de novembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h15
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Como é hábito, eu e as crianças estávamos reunidos na área do tapete para
conversar. Pedi ao F. e aos 3 colegas, para se sentarem ao meu lado, para exporem a sua
ideia ao grupo. Durante a explicação, mostre as imagens pesquisadas pelas crianças com
os pais e referi que aquelas seriam as bases para o nosso trabalho. Todos concordaram na
elaboração de um projeto com as maracas. E foi nessa altura que comecei a questionar o
grupo acerca do que gostariam de descobrir e onde iriámos pesquisar a restante
informação, informações que registei numa tabela desenhada à mão, numa folha A4
branca.
A conversa incidiu depois nos materiais a utilizar para construção das maracas e
a M.C. disse: Podíamos pedir ajuda aos nossos pais também. Eu respondi: Ok, é
importante que todos participem e ajudem. Que tal materiais recicláveis, como
Anexo 6 - Notas de campo
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tampinhas, rolos de papel higiénico e garrafas de água? Eu tenho no meu computador
algumas imagens de maracas feitas com esses materiais, vou buscar e mostro-vos. Dirigi-
me ao móvel da entrada, onde estava guardado o meu computador. Retirei-o da bolsa
colorida, liguei-o, inseri o disco externo e procurei as imagens que havia arquivado. Levei
o computador até á área do tapete, virei o computador para o grupo e mostrei: Olhem aqui
algumas imagens - enquanto ia passando de uma para outra, com o rato ótico. A M.C.
considerou: Pois, é como disseste. Podemos usar tampinhas de iogurte, garrafas, pauzinho
de gelados e isso? Respondi: Claro. Reúnam o que tiverem em casa, mas precisamos de
tempo...começamos na próxima semana? O F.P sorriu e disse: Pode ser. Eu disse: Vou
mandar recado para os pais começarem a guardar estes materiais e já sabem, vocês tem
que os ajudar e lembrar ok? O grupo respondeu com um entusiasmado: Sim! Sabem este
trabalho é muito importante - disse - a música e da dança são uma tradição muito
importante em África, faz parte de quem eles são. O S. questionou-me: É uma tradição?
Eu respondi sorridente: Sim, é. Faz parte da cultura africana. A M.J. interrogou-me: As
tradições são muito importantes para eles? Respondi: As tradições são muito importantes
em qualquer cultura e em qualquer país, por isso temos que respeitá-las e aprender com
elas. Eu vou aprender - respondeu entusiasticamente.
Recomecei com outro assunto: Agora antes de irem brincar vou explicar-vos o
trabalho de que tinha falado anteriormente. Vou chamar um de vocês de cada vez, cada
um deve escolher uma fotografia daqueles que eu vou mostrar, cada uma corresponde a
uma tribo diferente, daquelas que vimos no computador na 2ª feira. Depois vocês vão
olhar com muita atenção para a imagem e eu vou fazer perguntas acerca dela, vocês
respondem e eu anoto, ok? O M.C interrogou: É uma entrevista? Dei uma gargalhada e
disse: Sim, é isso mesmo, queres começar? Ele acedeu. As crianças foram brincar para as
áreas da sala, enquanto o M. me seguiu até área de trabalho, para iniciar a atividade.
De salientar que o registo foi baseado na publicação “Autobiography of
Intercultural Encounters for Young Learners” do Conselho da Europa (2009).
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.19
Palavras-chave: Compreensão da música/dança como um fator de identidade cultural;
Músicas/ danças tradicionais africanas; Apreensão e reprodução das canções aprendidas
em outras línguas;
Data: 10 de novembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h30
Local: Refeitório
As crianças estavam sentadas em roda no refeitório (espaço polivalente), onde já
estava o computador portátil azul, ligado à coluna. Revelei que iriam ouvir canção da
Libérias, a mesma música que ouviram inicialmente, antes da história e que se chamava
“Funga Alafia”. As crianças estiverem atentas enquanto ouviam a canção e iam cantando
alguns fragmentos da canção que já haviam decorado, nomeadamente o refrão da música.
Expliquei então: Sabem, esta é uma canção/dança de boas vindas, que serve para os
africanos exprimirem agradecimento pelas visitas e amizade, através das palavras e dos
movimentos da dança que a acompanha. As palavras são cantadas num dialeto africano
com as palavras “funga alafia, ashe ashe, funga alafia, ashe ashe” que em português
querem dizer “em ti eu penso, contigo eu falo, de ti eu gosto, somos amigos”. Repitam
comigo! Cantei a música em africano várias vezes, sempre acompanhada pelo grupo,
seguindo-se a mesma sequência com a versão portuguesa da música.
Quando terminámos a M.M questionou: Há uma dança para esta música? Não
nos ensinaste. Respondi: Há. Não ensinei de propósito, para não vos influenciar nesta
atividade. Quero que sejam vocês a sugerirem movimentos, para criarmos uma dança. O
T.S. avançou de imediato, dizendo: Pois, a música faz parte da África e a dança também,
não é? A M.C. disse logo: Sim, já aprendemos que é uma tradição. O V. afirmou: Mas
nós não sabemos danças da África...como vamos fazer? Disse: Tenho uma ideia, vamos
chamar à nossa dança, a “dança da amizade”, para podermos mostrar às crianças da
Libéria, se um dia as formos visitar. Ouviu-se um ruidoso: Sim! E começaram as
sugestões, que todos iam experimentando enquanto eu ia registando tudo numa folha,
para posteriormente correspondendo os tempos da música aos movimentos sugeridos.
Anexo 6 - Notas de campo
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Após muita experimentação a dança ficou concluída e foi posta em prática no
mesmo local um dia depois, tendo sido gravada por mim, para depois ser partilhada com
os pais via eletrónica. Em grupo, combinámos que as crianças ficaram encarregadas de
explicar aos pais, porque criámos a dança, o significado da sua letra e para que ocasião
era utilizada. No final da conversa o T.R. referiu: Mas estás a esquecer-te de uma coisa.
Eu trouxe um djambé e uma máscara da África que está no cantinho da cultura. O V.
referiu: Eu também trouxe um djambé e a M.V. trouxe um tambor. Quando podemos
mostrar aos amigos e explicar o que é? Respondi: Não me esqueci, vamos usá-los na
atividade de amanhã, mas podem mostrar aos colegas quando chegarem á sala se
quiserem. Assentiram com a cabeça. A M.J. referiu: Os pais tem muitas coisas de outros
países, já viajaram para muitos sítios. Eu quando for grande também quero ir conhecer
outros países e ver as coisas que andamos a aprender, vou saber muitas coisas e vou
dizer às pessoas de lá o que aprendi sobre eles. Vou dizer à minha avó para irmos a Goa,
onde ela nasceu. Eu disse: M. viajarmos é uma forma de passear, mas também de
conhecer outras culturas, outras tradições, outros sabores e imensas coisas que não
conhecemos. É importante descobrir coisas que nos são desconhecidas. Acho que todos
deviam viajar quando foram grandes. A M.V. disse com ar sabichão: Tens razão, eu já
sabia isso. Sorri ao ouvi-la. Posteriormente, quando terminou a conversa o grupo reuniu-
se em comboio e voltou à sala de atividades, onde continuou a sua rotina.
NC.20
Palavras-chave: Diversidade cultural e linguística; Consciencialização dos traços
distintivos de diferentes culturas; Reprodução das canções aprendidas em outras línguas;
Data: 10 de novembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h50
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Anexo 6 - Notas de campo
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Nesta sessão o grupo teve a intervenção do professor de inglês que leciona no
jardim de infância e é nativo da África do Sul, onde morou até aos 15 anos. Assim,
convidei-o para vir explicar ao grupo, os hábitos e tradições deste país, comparando-os
com os hábitos dos portugueses. O Rui iniciou a sessão ao colar com bostik um pequeno
mapa-mundo no vidro da sala, questionando as crianças sobre quais os países que
conheciam e em que continente estes se situavam. As crianças identificaram
positivamente o continente europeu e o africano, assim como alguns países pertencentes
a ambos. O professor continuou o diálogo mostrando várias imagens das principais
cidades do país, estatuetas típicas tribais, nomeadamente uma estatueta da tribo conhecida
como ‘mulheres girafa’, tribo que descobrimos nas nossas pesquisas anteriores. O F.M.
referiu de imediato: Olha já conhecemos essas, são de uma tribo africana que usa muitos
colares. A M.V. referiu de imediato: Faz parte da tradição delas há muito, muito tempo.
O Rui referiu: Very good! Estou a ver que já aprenderam muitas coisas sobre África.
Posteriormente o Rui usou como elemento comparativo, a sua rotina no colégio,
quando tinha apenas 6 anos, mostrando algumas fotografias da sua infância. Explicou
sucintamente que usavam farda e tinham que aprender três línguas diferentes desde
pequenos: africânder – a 1ª língua usada no país, inglês – 2ª língua mais usada e uma
língua à escolha das famílias, que no caso dele foi alemão. No final contou: Agora vou
mostra-vos algumas fotografias de animais típicos do meu país. As pessoas gostam muito
de viajar até à África do Sul, para fazerem safaris e verem estes animais ao vivo. Vem
ver os ‘Big five’, que quer dizer os 5 animais mais esperados: o elefante, o leão, o
leopardo, o búfalo e o rinoceronte. – Passou imagens destes animais à medida que ia
falando.
No final propôs ensinar-lhes uma canção que cantava na escola, chamada ‘Jan
Pierewiet’, com letra em Afrikaans, uma das línguas que aprendia na escola. Cantou a
canção em pequenos trechos, pedido ao grupo para repetir. Á medida que ia cantando,
mostrando imagens que ilustravam as palavras, para facilitar o processo de repetição.
Posteriormente, traduziu a música para português, usando o mesmo método.
No final o V. questionou “Teacher, aprendeste mesmo essas línguas todas quando
eras do nosso tamanho? O Rui respondeu: Ya, que quer dizer sim em Afrikaans. É muito
importante aprendermos línguas diferentes sabem, para podermos comunicar com os
outros e para que eles nos entendam. Mas vocês também são capazes, então já sabem
Anexo 6 - Notas de campo
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falar português e inglês. Á medida que forem crescendo podem aprender ir aprendendo
mais. Nesta altura, o Rui despediu-se do grupo e de mim deixou a sala, dizendo: Bye bye,
see you next week.
Posteriormente, sentei-me numa cadeira de frente para o grupo de 24 crianças e
iniciámos a exploração do projeto em parceria com os pais “ Conta-me um conto com…”.
Nesta história criada pelos pais do G., descobrimos a cultura de Angola, país que
escolheram explorar pois viveram lá alguns anos. O G. estava orgulhoso e contou: A
minha mãe fez esse trabalho durante muito tempo, explicou-me muitas coisas sobre
Angola. E eu também expliquei várias coisas das tribos africanas a ela, contei-lhe muitas
coisas e tradições. Até apontei onde ficava no globo, eu já sei Ariana. Eu disse: Boa,
estou orgulhosa de ti. A história preparada pelos pais era de natureza interativa, os pais
criaram um passaporte para a viagem e recorreram a objetos - estatuetas de tribos
esculpidas em madeira e em pedra da tribo Mumuilas - um filme breve sobre a tribo e
atividades de grafismos/recorte que retratavam um safari com os animais típicos de
Angola, tudo pré-preparado para implementar. Quando terminou a história/atividades, o
G. disse: A minha história também fala das tradições das tribos, fala dos colares e o
teacher também falou e vimos no computador. A M.S. disse: A tua história está muito
gira, tem muitas coisas giras para fazer. O G. respondeu: Sim, os meus pais gostam de
Angola e escolheram fazer a história com esse país e tiveram essas ideias. A M.S.
perguntou-me: Ariana podemos ficar com o livro da sala e ver as histórias? Eu respondi:
Claro que sim, e podem pedir ao G. para vos explicar tudo sobre Angola (pisquei-lhe o
olho). Um pequeno grupo ficou a observar o livro na área do tapete, conversando sobre
as histórias e o que retratavam, enquanto o restante grupo, se distribuiu pelas áreas da
sala.
NC.21
Palavras-chave: Familiarização com diferentes tribos africanas, seus hábitos e tradições;
Data: 12 de dezembro de 2016
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h30
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete/área de trabalho polivalente
Anexo 6 - Notas de campo
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Iniciei esta sessão junto do grupo, que já me aguardava na área do tapete.
Questionei as crianças: Lembram-se das imagens das tribos que observámos
anteriormente – mostrando as imagens impressas e fazendo-as passar pelo grupo para que
pudessem observar – Alguém sabe o que é comum às essas tribos? Qual foi a
característica que inicialmente vos causou muita curiosidade? O R. respondeu
rapidamente: Eu sei, foram os fios, as pessoas das tribos usavam muitos fios coloridos.
O T.S. disse: Sim, os homens e as mulheres, olha aqui - apontando para uma das imagens
que estava a mostrar aos colegas - só que os colares querem dizer coisas diferentes. A
M.C. referiu: Sim, são as cores deles que querem dizer coisas diferentes. Olhem estas
imagens que vou passar - disse enquanto passava imagens de joalharia tribal africana
impressas. África foi o primeiro local no mundo inteiro, onde foi feita joalharia, pois
como faz parte da cultura e tradição das tribos, as mulheres da tribo sempre os
construíram. Quem quer adivinhar do que eram feitos os colares? O S. disse: Podia ser
com pedras pequeninas. Respondi sorridente: Certo! E mais? A M.V. disse: Acho que
com missangas, estou a ver aqui na fotografia - disse apontando e mostrando-me a folha
onde se via uma menina com um colar elaborado e colorido. Respondi: Certo! Mais
alguém? Ninguém respondei, portanto avancei e disse: as mulheres utilizam marfim,
osso, pedra, cascas de ovos, madeira e pelos de animal, para fabricar as joias e usavam-
nas em ocasiões muito especiais como fazemos agora, em casamentos por exemplo. Mas
como vos tinha dito as joias tem um grande simbolismo, que quer dizer que têm
significados diferentes, pois cada cor tem um significado diferente em cada tribo, por
exemplo: o branco quer dizer amor na tribo Zulu, mas na tribo Masai, quer dizer paz. E
mais os colares tem um significado cultural, por exemplo, servem para comunicação,
pois as mulheres casadas e solteiras usam tipos diferentes de joalharia, para que o seu
estado civil seja reconhecido por todos, sem ser necessário perguntar. A M.C. abriu os
olhos de admiração e disse: A sério que os colares fazem isso tudo? São mesmo especiais
nas tribos. A C.B. concordou dizendo: Tenho que contar à minha mãe, ela nasceu em
Moçambique, mas acho que não sabe isso. Vou perguntar se ela tem algum colar desses
para eu trazer. Respondi: Boa, pergunta e depois contas-nos. Eu queria perguntar-vos
se vocês gostavam de fazer um colar africano parecido com estes? O S. disse rápido: nós
não temos estas coisas e não sabemos fazer isto porque não somos da África. Continuei:
Mas não precisamos desses materiais, para isso é que serve a nossa imaginação! Vamos
Anexo 6 - Notas de campo
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criar um colar africano a partir destes, mas com outros materiais. Basta este prato de
papel! O S. deu uma das suas típicas gargalhadas e franzindo os olhos perguntou: Como
se faz? Expliquei que cada um ia ter um prato que estava cortado pela Vera, e poderia
pintá-lo como preferisse, com vários materiais de pintura e depois podiam decorá-lo com
os materiais disponíveis que tínhamos na sala, como missangas. Quem quer iniciar a
atividade? – Perguntei. Vou pendurar aqui as imagens dos colares – disse afixando-os
no armário da sala para que quiser observar melhor e tirar ideias.
Após escolher 6 crianças as crianças dirigiram-se às mesas onde eu e a Vera
ficámos a ajudar quem precisava de ajuda.
NC.22
Palavras-chave: Compreensão da adoção como um vínculo afetivo; Racismo;
Identificação de atitudes discriminatórias; Desenvolvimento de atitudes de empatia,
respeito e tolerância face ao outro;
Data: 5 de janeiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h10
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Na primeira sessão do ano, sentei-me junto às crianças na área do tapete, com uma
boneca escura e um livro de histórias na mão direita. Expliquei-lhes: Hoje, trago esta
boneca para conhecerem. Veio de uma ilha das Caraíbas, que fica na América do Norte.
Ainda não tem nome, vamos escolher um? O V. perguntou: Vamos votar? Eu respondi:
Sim, sugiram nomes. Questionei as crianças sobre os nomes que gostavam de dar à boneca
e após a escolha de alguns, houve uma votação em que ficou decidido que o nome desta
nova personagem era ‘Eva’.
Comecei novamente a falar: A Eva vai contar-vos uma história especial, que
trouxe consigo da sua ilha, situada no continente da América do Norte. A história é de
um amigo desta nova boneca, um menino que nasceu na mesma ilha que ela. Vai
começar... Após, contei a história, recorrendo à personagem Eva para a dinamizar e, no
Anexo 6 - Notas de campo
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final, questionei se sabiam de onde vinha a Eva e a personagem principal da história, o
Mateus? As respostas recaíram em: uma ilha das Caraíbas, tal como nomeado na história.
Perguntei ainda se alguém saberia identificar onde se situava o continente da América do
Norte num dos mapas que tínhamos na nossa sala? Algumas crianças levantaram-se e
apontaram para o continente correto. Propus mais uma questão: tendo como base a
história que tinham acabado de ouvir, quem me sabe dizer algumas das características
da ilha e da cultura do Mateus e da Eva? As crianças recaíram nas caraterísticas
mencionadas na história, referindo tanto a fauna, como a flora da ilha, assim como nas
características culturais do povo da ilha. Continuei: Acham que o Mateus e a Eva são
parecidos, um com o outro? Afinal nasceram os dois no mesmo sítio. A C. e a L.P.
mencionaram: A cor da pele deles é ‘cor de canela ou de chocolate’ – tal como era
narrado na história; A pele deles é preta, foi o que os outros personagens disseram.
Posteriormente, pedi ao grupo que me recontasse a história à medida que eu ia
mostrando as imagens correspondentes a cada página. Durante esta atividade foi notório
que as crianças não compreenderam o que era uma adoção. Assim, expliquei: A mãe do
Mateus não podia ficar com ele, pois era muito pobre e para que ele pudesse crescer
feliz, ir à escola como vocês e aprender muitas coisas, ela resolveu entrega-lo à sua ‘mãe
branca’, para que ela o criasse e pudesse dar-lhe tudo o que ele precisava para crescer
feliz. É isto que é adotar. Mas sabem, a mãe dele só fez isto porque o amava muito e
apesar de ficar muito, muito triste por não poder ficar o seu bebé que tanto amava,
preferiu dar-lhe uma oportunidade de crescer num país diferente, com outra mãe, que o
quisesse e o amasse tanto como ela. A maioria das crianças tinha um olhar surpreso na
cara e o T.C. perguntou? A sério? Conheces algum menino da adoção? Sim – respondi –
E vocês também, o D. que é da sala da Lúcia é adotado. O S. parecia confuso e perguntou:
Mas ele é igual a nós – referindo-se à cor da pele - como é que pode ser? Expliquei: Já
vos expliquei que não há pessoas iguais, somos todos diferentes, mas percebi o que
querias dizer. Qualquer criança pode ser adotado, não interessa qual é o seu país ou a
sua cor de pele, basta haver uma família que a possa adotar. A M.J. simplificou a ideia
dizendo: Então a adoção é quando há duas mães, que gostam do mesmo menino, como o
Mateus, que tinha uma branca e uma negra. Eu respondi: É isso M. A menina adiantou
com certeza: Já percebi!
Anexo 6 - Notas de campo
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Continuei o diálogo referindo: E o que acharam sobre aquilo que os colegas da
escola do Mateus lhe fizeram? Ele ficou triste com a situação… O R. disse: os meninos
chamaram-no de preto, isso quer dizer o quê? Eu respondi: O preto é apenas uma cor,
mas se dissermos a palavra de uma forma má ou negativa, as pessoas podem ficar
magoadas connosco. Foi isso que aconteceu ao Mateus. Estes comportamentos negativos
tem um nome, chamam-se racismo. Alguém sabe o que é? O M.N. disse: Eu já ouvi isso
na televisão, mas eu não sei o que é, se calhar a minha mana sabe. Então - recomecei –
o racismo é uma atitude muito feia e errada, como viram na história, quer dizer que não
gostamos de outra pessoa porque é diferente de nós. O M.N questionou: Diferente na
cor? Respondi: Não é só na cor, pode ser qualquer coisa. A cor, o país, as nossas
preferências, terem gostos diferentes, é não gostar do que não é igual a nós. Mas olha –
disse a M.M. com firmeza - Tu disseste na outra história da Handa que quando uma
coisa é diferente, ajuda-nos a conhecer coisas novas e aprendemos com elas. Os meninos
não sabiam isso? Sorri e disse: Infelizmente não. Há pessoas que não aprenderam isso
quando eram pequenos como vocês e ainda não perceberam o benefício de haver pessoas
diferentes umas das outras. O T.S. disse: Então eles nunca vão aprender coisas novas,
como nós. Eu respondi: Talvez não – disse triste. O M.N. continuou: Então racismo é não
gostar do diferente de nós. É isso não é? A M.C. retaliou de imediato: Acho que é isso,
não querer ser amigo de alguém diferente e isso está mal, temos que ser amigos de todos.
Eu disse: Ainda bem que vocês não são assim, são meninos aceitam toda a gente, que
não se importam com as diferenças e são amigos de todos, tenho orgulho de vocês. E
agora o que querem fazer? O T.R. perguntou: Podemos ir ao parque? Não está a chover.
Respondi afirmativamente e após todos vestirem os casacos, fomos para o parque brincar
e aproveitar a réstia de sol que havia no céu.
NC.23
Palavras-chave: Racismo; Identificação de atitudes discriminatórias; Desenvolvimento
de atitudes de empatia, respeito e tolerância face ao outro; Familiarização com noções de
identidade e alteralidade;
Anexo 6 - Notas de campo
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Data: 20 de janeiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h10
Local: Sala dos 4 anos, área de trabalho polivalente
Mais uma vez no sítio habitual para a reunião do grupo, todos nos reunimos e nos
sentamos em roda. Mostrei o livro “As cores de Mateus” ao grupo e disse-lhes que ia
voltar a ler um dos excertos da história, referente que focava o racismo de que a
personagem Mateus foi vítima, momento este que foi passado em contexto escolar.
Algumas crianças continuaram a demonstrar algumas dúvidas no conceito de racismo e
voltei a explicar: O racismo não algo é que se veja. A não ser que alguém faça alguma
coisa ou diga algo, é uma ação que alguém faz quando não gosta de alguém, apenas por
esse alguém ser diferente e neste caso foi por não gostarem da cor de pele do Mateus. A
partir daqui as crianças começaram a expor as suas conceções: Mas, não percebo porque
os meninos foram maus para ele, ele nem disse nada, porquê é que eles foram maus?
Disse a L.C. O T.C. afirmou: Não vês que é porque eles não gostam que ele seja preto e
depois não quiseram ser amigos dele. O M.N. declarou: Mas não podemos deixar isso
acontecer, temos que explicar aos outros meninos que não sabem que deixar de ser
amigos dos outros só por eles serem bege, castanhos ou preto. São só cores de pele, nós
já sabemos e eles não. O S. disse: É porque eles disseram preto para serem maus, não
foi a brincar. Isso não se faz, a professora deles devia pôr eles de castigo. O T.S. referiu:
E dizer aos pais deles, que o comportamento foi mau. Intervim, questionando: Vocês tem
toda a razão, acho que devíamos fazer isso mesmo, explicar aos outros meninos da nossa
escola, para que isso não aconteça aqui. A C.B. afirmou: Pois, porque não se deve lutar
com as pessoas, mesmo se formos de outra cor, os meninos tem que brincar todos juntos.
A M. J. disse: Ariana, não é verdade que ser diferente é bonito? Afirmei: Sim, concordo
contigo. Já vi que sabem muito sobre o assunto, mais do que eu esperava. Alguém tem
ideias para tentarmos contrariar estas ações negativas que deixam as pessoas tristes? O
F.P. disse: Podemos ensinar as cores de pele, que há pessoas com muitas cores noutros
países. O V. respondeu: E explicar às pessoas que não se chamam nomes às outras
pessoas. A L.P. finalizou: E ser amigos de todos, ajudar os outros, mesmo que não sejam
como nós somos.
Anexo 6 - Notas de campo
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Eu afirmei alegre: Estou a gostar muito de vos ouvir, parecem mesmo meninos
crescidos, cheios de opiniões e conhecimentos. Estou orgulhosa de vocês. Mas como
querem mostrar isso aos colegas das outras salas, alguém tem ideias? O T.C. adiantou-
se, falando alto: Podemos fazer pinturas com a cor preta, acho que vai ficar fixe. O R.
sugeriu: Desenhavas pessoas diferentes? O T.C. riu e disse: Podia ser. A M.C. deu a sua
opinião: Eu gostava de fazer canções, músicas e danças para os outros. O M.N. disse:
Eu queria um teatro com nós todos. Após ouvir todos, disse: E se fizéssemos isso tudo?
Fazíamos um teatro, com música e dança e apresentamos às outras salas. E podíamos
fazer um trabalho em que desenhávamos as pessoas com preto e colocamos no nosso
placar, para que todos possam ver. Ouviram-se comentários baixinho de entusiasmo e
breves gargalhadas. O F.P. Acho que é uma boa ideia, mas quem faz o teatro? A M.V.
disse: Acho que devia ser a Ariana, ela é grande e sabe fazer isso. Respondi: Ok, eu faço.
E depois voltamos a juntar-nos para escolherem as personagens. A C. afirmou: Sim. E
avisamos os outros colegas para verem o teatro. Eu avancei: Então está combinado.
Após a conversa, as crianças dispersaram pela sala em brincadeira livre nas várias
áreas de atividade.
NC.24
Palavras-chave: Familiarização com noções de identidade e alteralidade; Diversidade
cultural; Adoção; Identificação de atitudes discriminatórias;
Data: 25 de janeiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h00
Local: Sala do computador
O grupo já se encontrava reunido na sala do computador. A Vera estava sentada
junto com o grupo a cantar algumas canções sugeridas pelas crianças. Quando cheguei,
despedi-me da colega que ia almoçar e sentei-me no seu lugar com perninhas ‘à chinês’
junto às crianças. Após um breve momento de brincadeira com cócegas, questionei:
Vamos conversar um pouco? Algumas crianças assentiram e outras responderam
afirmativamente.
Anexo 6 - Notas de campo
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Levantei-me e sentei-me na cadeira branca, de lado para o computador preto, com
o monitor visível ao grupo e perguntei: Hoje vamos procurar imagens de famílias
adotivas, tal como a do Mateus. Sabem, existem vários tipos de famílias: mãe, pai e filhos,
como as vossas mas também existem outras famílias. Existem famílias multiculturais, ou
seja, os pais ou os filhos são de diferentes países e podem ter culturas diferentes. Há
também famílias monoparentais, que são famílias só com pai ou mãe e filhos. Percebem?
A M.V. afirmou: Eu percebo, há muitas famílias diferentes, com muitas culturas ou só
com um pai ou uma mãe. A M.C. disse com um ar triste: Coitadinhos dos meninos, devem
ter saudades do pai ou da mãe deles. O T.C. interrogou: Vais mostrar fotografias aí no
computador? Respondi: Sim, vou. Vamos lá. Á medida que eu mostrava as imagens, as
crianças nomeavam quais aquelas que preferiam e eu guardava as imagens. Um pequeno
foco de diálogo surgiu: A C. disse: Aquelas pessoas parecem mesmo que são de outros
países e os filhos também. A M.C. afirmou: Não sabes porquê? É porque são de adotivas,
famílias que ficaram com outros meninos que não podiam ficar com os pais deles. A
M.V. perguntou: Não viste aquela do pai com a menina? É porque não há uma mãe, a
Ariana disse. O S. disse triste: Eu ia ter saudades da minha mãe. Mas olha S – disse a
M.V. – o teu pai ia tratar de ti.
A L.P. interrompeu dizendo: E agora Ariana vamos fazer o quê? Respondi: Um
jogo. Vou mostrar todas as imagens que vocês escolheram e tem que me dizer se são
filhos biológicos, que quer dizer nasceram da barriga da mãe, ou se são filhos do coração
e são adotados. Pode ser? As crianças pareceram interiorizar bem o conceito, pois
identificaram corretamente a grande maioria das imagens, e no final a M.J. colocou uma
questão que me deixou bastante surpreendida: Olha, os meninos que tem pais ou mães de
outro país, também são como o Mateus? Perguntei: Como assim M. explica melhor, não
estou a perceber. Recomeçou: Sabes, se há racismo? Porque eles são os dois diferentes
um do outro e os filhos se calhar também vão ser? Fiquei tão surpresa com este raciocínio
que a minha expressão facial correspondeu a isso mesmo. Respondi: Vocês sabes, não há
nenhum mal em pessoas diferentes, ou seja, de países diferentes, namorarem, casarem e
terem filhos. Como não há problema se forem do mesmo país. Claro que há pessoas que
podem não gostar e não compreender e poderão ter atitudes de racismo. O que acham
disso? A M. respondeu rapidamente: É feio, as pessoas podem ser diferentes e isso é
bonito. Eu também sou de uma cor mais escura do que os outros meninos da sala e toda
Anexo 6 - Notas de campo
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a gente é minha amiga. Toda a gente gosta de mim, pois é? Respondi emocionada: Claro
que sim, nós adoramos-te, tu és uma menina linda e muito especial. Meninos gostam da
M.? Ouviu-se um grande grito de Sim! Dirigi-me à Maria e abracei-a, os restantes colegas
fizeram o mesmo e o momento culminou num momento de riso e brincadeira.
NC.25
Palavras-chave: Diversidade cultural; Desenvolvimento de atitudes de empatia, respeito
e tolerância face ao outro; Familiarização com noções de identidade e alteralidade;
Data: 2 de fevereiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h15
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete/área de trabalho polivalente
Dando continuidade ao interesse do grupo sobre o conceito de racismo, esta
semana foi desenvolvido um trabalho de projeto dedicado ao tema do racismo. Assim, a
semana iniciou-se com uma atividade expressa anteriormente por crianças do grupo.
Inicialmente reunimos todos no grande tapete verde e estivemos a conversar sobre
as atividades do trabalho de projeto. Nesta atividade sugeri ao grupo juntar duas das suas
ideias - pintura e desenho, dizendo: São duas atividades que referiram querer fazer, que
tal juntarmos ambas e fazermos arte a preto e branco. O T.C. questionou: Pintamos e
desenhamos, tudo junto? Respondi: Sim, é fácil, tive uma ideia para vos ajudar. Primeiro
podem fazer digitinta. De que cor será? A M.V. respondeu prontamente: É preta, como
o Mateus, nunca ninguém ia ter essa ideia Ariana. Digitinta é bué divertido, só nunca vi
preta. Ri com vontade. A L.C. disse: Mas e o desenho fazemos como, na tinta? O S. disse:
Mas só depois de secar. Recomecei: Ouçam fazem o desenho numa folha branca e depois
cortamos e quando a tinta secar, colámos lá em cima. Agora só tem que decidir as cores
do desenho e quem vão desenhar. Não devem querer todos desenhar o mesmo. A M.V.
respondeu: Pois, nós não somos imitadores, temos que ter ideias novas. Falei e disse:
Mas podem decidir na altura. E a cor? O F.P. disse: Então é preto também, porque depois
a folha é branca e o estamos a fazer um trabalho do Mateus. A C.B. respondeu: Sim, é
Anexo 6 - Notas de campo
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um trabalho do racismo, usamos essa [cor]. Eu disse: Então vamos fazer a digitinta e
depois vão dois fazer a atividade de cada vez ok? Todos concordaram.
Após a digitinta estar feita, as crianças dirigiram-se às mesas em grupos de dois,
para explorarem a massa líquida. Quando terminavam faziam um desenho, sendo este
posteriormente decalcado com uma folha de papel de cavalinho, passando o desenho feito
na digitinta, para a folha. Ao terminarem essa fase do trabalho e ainda em grupos de dois,
deveriam desenhar personagens de as cores de Mateus, mas a escolha residiu na família
do Mateus, nomeadamente, o próprio e a mãe branca, mas com a utilização de lápis de
cor/marcadores pretos. Enquanto faziam o seu desenho, gerou-se uma conversa entre duas
crianças: A M.M. disse: A mãe do Mateus é branca, mas estou a pintar de preto, por
causa da história. O R. continuou: É porque o preto, foi a cor do racismo, os meninos
chamaram isso a ele. A M.M. parou um pouco para pensar e disse: Agora vamos fazer
um trabalho com preto, para os outros meninos verem que o racismo é feio. Fazemos
desenhos bonitos com esta cor, porque todas as cores são bonitas. O R. terminou dizendo:
Pois, porque ele não sabem como nós, não leram a história e depois não sabem que isso
[racismo] não se faz e nós vamos explicar a eles. O assunto derivou para outra temática
e as crianças continuaram a executar o seu trabalho enquanto conversavam.
NC.26
Palavras-chave: Racismo; Identificação de atitudes discriminatórias; Desenvolvimento
de atitudes de empatia, respeito e tolerância face ao outro; Familiarização com noções de
identidade e alteralidade;
Data: 6 de fevereiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h10
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
As 24 crianças estavam sentadas na área do tapete, juntamente comigo, com o
intuito de conversar acerca de uma das atividades de trabalho de projeto, relacionada com
a temática do racismo. Perguntei: Então fazemos o teatro para apresentar às outras
salas? Já tenho o guião que me pediram, tudo feito como combinámos! A M.V. curiosa
Anexo 6 - Notas de campo
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como sempre questionou-me acerca do que era um guião e expliquei: É como se fosse
uma história. É um texto que temos que seguir para fazer um teatro ou um filme. Aqui
está escrita a história, que é parecida com a história das Cores de Mateus, mas com mais
personagens, para poderem entrar todos. Também inclui uma canção/dança africana
como tinham sugerido e a receita que a avó da M. enviou. Agora só tem que decidir quem
será o quê.
Li ao guião ao grupo e pedi sugestões, pelo que ainda sofreu algumas alterações,
de acordo com o que algumas crianças quiserem alterar e/ou incluir. De acordo com os
interesses de cada um, foram também escolhidos os papéis de cada criança na peça,
estando esta tarefa totalmente nas mãos do grupo, eu apenas registei o nome que
correspondia a cada personagem. O T.C. relembrou: Mas vamos ensaiar e depois mostrar
aos outros meninos da escola, não é? Nós sabemos muitas coisas da história do Mateus.
Interroguei: Sabem o quê? A M.J. afirmou: Muitas coisas do racismo e dos meninos que
são adotados e são filhos do coração. A L.C. disse: aprendemos que temos que ser
amigos de todos os meninos, não faz mal ser diferente, isso é bonito. O S. continuou a
ideia, relatando: Sim, ser diferente é importante, não podem ser todos iguais, pois é?
Respondi: Claro que não, se fossemos iguais e gostássemos todos do mesmo, não tinha
graça. Se gostássemos todos de amarelo, o que acontecia às outras cores? O T.S.
adiantou: Pois, é como o preto, é uma cor igual ao amarelo, ao azul, ao verde, ao cor de
laranja. A C.B. disse: Temos que explicar aos outros meninos, eles não sabem que tem
que ser amigos de toda a gente. O G. concordou: Sim, temos que dizer aos meninos do
racismo que isso é muito feio e não se faz a ninguém, a minha mãe já me disse isso muitas
vezes. A M.J. afirmou: Pois, é muito importante estas coisas e nós temos que ensinar as
pessoas que não sabem. Falei: Muito bem, estão muito responsáveis e crescidos. Vamos
ensaiar agora e à tarde apresentamos quando? O F.P. disse: Amanhã antes do lanche.
Perguntei: Já?! Então só dão três ensaios…Não acham pouco. A C.B. disse: É como na
dança, aprendemos rápido, foste tu que disseste, disse rindo. Sorri e disse: combinado!
Vocês é que sabem. Vamos para o refeitório ensaiar então, façam o comboio do lado de
fora da sala. em comboio todos se dirigiram ao refeitório, onde começámos a ensaiar.
Nota: No dia seguinte e após alguns ensaios, o teatro foi realizado para a sala duas
salas (sala de 3 anos e 2ª sala de 4 anos), com assistência de colegas e adultos. Eu e a
Anexo 6 - Notas de campo
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Vera ajudámos as crianças nas entradas/saídas, colocação das músicas e tivemos a
importante função de ponto, divulgando as frases de que não se lembravam, que foram
algumas, devido aos breves ensaios.
NC.27
Palavras-chave: Diversidade cultural;
Data: 8 de fevereiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 11h
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Após reunir o grupo na área do tapete, resolvi propor uma experiência. Como todo
o grupo estava recetivo, expliquei que a atividade teria duas fases diferentes. Na 1ª fase
mostrei dois ovos ao grupo o que suscitou alguma curiosidade. Inicialmente passei os
ovos por todos, pedindo às crianças que tivessem cuidado, pois eram frágeis e pedi-lhes
que observassem ambos. Após todos terem observado os ovos, questionei quais eram as
diferenças entre ambos. Iniciou-se alguma agitação, várias crianças tentaram responder
ao mesmo tempo, e afirmei que cada um deveria aguardar a sua vez. A C. levantou o
dedo, apontei para ela e respondeu de imediato: Acho que é a cor, este – apontando para
um dos ovos – é um bocadinho castanho e aquele – apontando novamente para o ovo,
pousado no tapete à sua direita – é branco. A M.J. afirmou: Sim, é a cor, mas acho que a
aquele é meio castanho e meio bege – apontando também para o ovo em questão. Eu
falei: Têm razão – disse pegando nos dois ovos – este ovo que tenho na mão direita é um
ovo de galinha, e é bege acastanhado, tal como vocês disseram. O ovo que tenho nas
mãos esquerda e é branco é um ovo de pata. Daí não terem a mesma cor. Agora vejam,
vou partir um ovo para dentro de capa copo transparente, para podermos ver como são
por dentro. Parti ambos os ovos para dentro de dois copos, colocando a casca ao lado de
ambos, para os identificar. Avancei, permitindo às crianças observarem os ovos dentro
dos copos de forma individual. Pedi-lhes posteriormente que identificassem semelhanças
e/ou diferenças entre os ovos, com base na sua observação. As crianças nomearam como
Anexo 6 - Notas de campo
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semelhanças. Ouvi-as até ao fim: São os dois ovos, pois é?; E tem casca, como os ovos
todos; Ó M. e todos os ovos também tem a parte branca e a amarela; O nome disso é
gema e clara, S.; E podemos comer os ovos, a minha mãe faz ovos cozidos e estrelados....e
de mais maneiras. Eu não gosto do amarelo; Pois, mas esses ficam cozinhados e estes
ovos ainda estão crus, pois é Ariana?; Eles tem os dois forma de ovo; Sim, são ovais.
Existiram várias opiniões coincidentes, fui registando numa tabela de dupla
entrada as semelhanças referidas e no fim questionei: E quais são as diferenças dos ovos?
O T.C. reagiu dizendo: Então, é a cor da casca, já dissemos. Eu disse: Isso é por fora. E
por dentro o que vêm? O grupo inteiro silenciou-se a observar os ovos e alguns segundos
depois começaram a ouvir-se pequenos sussurros entre as crianças. Voltei a questionar:
Então já sabem as diferenças? Ouviram-se alguns Não. O grupo acalmou-se e surgiram
duas opiniões. O F.P falou: Eu não tenho a certeza, mas acho que não há mais...mais
diferenças. A C.B. apoiou o ponto de vista argumentando: Eu também acho o mesmo que
o F., porque mais nenhum menino disse nada. O resto das coisas é igual. Respondi: Então
vou ler-vos o que me disseram, eu escrevi tudo aqui - disse mostrando a folha - e li as
conclusões de cada um, enquanto todos escutavam atentamente. Quando terminei a M.J.
respondeu rapidamente: Pois, já sabia, é mais igual do que diferente. Eu perguntei rindo:
Sabias? Ele deu uma pequena gargalhada, enquanto acenava afirmativamente com a
cabeça. Eu voltei a falar e disse: Então sabem o que aprendemos? A M.C. respondeu: É
a mesma coisa dos M&M’s não é? Nós lá por fora temos cores e aspeto diferente, mas
por dentro somos iguais. A M.V. disse: Pois é igual, mas esta teve ovos. Parei e respondi:
Que meninas espertas! É isso mesmo. As experiências são com coisas diferentes, mas
servem para aprendemos o mesmo: diferentes por fora, mas iguais por dentro. O que
dizem se agora fizermos um trabalho sobre isto? O M.C. questionou: E é difícil?
Respondi: Não é muito fácil, vocês já sabem tudo sobre esta experiência. Tirem um lápis
de carvão cada um e sentem-se nas mesas.
A Vera iniciou a distribuição dos registos que eu tinha preparado previamente e
eu coloquei dois copos coloridos com lápis de cor finos em cada mesa, enquanto as
crianças se distribuíam pelos lugares sentados. Após todos estarem sentado expliquei:
Tomem atenção, trabalho tem uma tabela, com duas entradas. No primeiro retângulo tem
que desenhar dois ovos, com as cores correspondentes ao que foi observado, um ovo
branco e ou ovo bege/acastanhado e registar na linha em baixo a palavra ‘diferente’. E
Anexo 6 - Notas de campo
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na segunda tem que desenhar o interior do ovo, pintá-lo e registar a palavra iguais na
linha. A C.B. disse rapidamente: Pois, porque os ovos só tinham uma coisa diferente, há
mais coisas de igual. Recomecei: Alguém tem dúvidas? - Ouviram-se respostas negativas
– Quem tiver dúvidas enquanto faz o trabalho, chama a Ariana ou a Vera. Eu vou
acompanhar o trabalho passo a passo. Podem começar.
Após a explicação, a atividade foi realizada em grande grupo, seguindo as
instruções dadas, mas de forma autónoma.
NC.28
Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Familiarização com o fenómeno
migratório; Desenvolvimento de atitudes de empatia, respeito e tolerância face ao outro;
Data: 20 de fevereiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h
Local: Sala do computador
O grupo já se encontrava com a Vera na sala do computador. Juntei-me a eles e
adiantei de imediato: Tenho um vídeo para vos mostrar. Assim, coloquei o vídeo, que
pesquisado previamente na internet. O vídeo mostrava imagens do sambódromo no
Brasil, onde uma enorme multidão estava a dançar o samba, ao som de música alta. O
grupo observou o vídeo durante alguns minutos, sendo que baixei o som na coluna –
previamente ligada ao computador - e à medida que as imagens iam passando, perguntei:
Já tinham visto esta dança ou ouvido este tipo de música? Ou alguém sabe a festa que
está a ser comemorada nestas imagens? Algumas crianças referiram que já tinham visto
algo semelhante na televisão. Tinham noção que se passava noutro país, embora não
soubessem qual, identificando facilmente a efeméride do Carnaval, através dos fatos a
qual atribuíram o sentido de máscaras carnavalescas.
Voltei a colocar o vídeo, mas desta vez levantei o som da coluna, colocando um
voluma mais alto que anteriormente. Pedi: Agora ouçam com muita atenção aquilo que
está a ser dito. Depois de ouvirem durante alguns segundos, perguntei: Já sabem qual é
Anexo 6 - Notas de campo
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o país onde este vídeo foi filmado ou a língua que se ouve nesta música? A L.P. disse
rapidamente: É do Brasil, eu ouvi quando estive lá e a minha mamã fala assim também.
Eu disse: Muito bem L. é isso. Mas é português do Brasil, porque ambos os países falam
a mesma língua, daí perceberem o que se diz no vídeo. Tomem atenção, vou colocar o
vídeo mais uma vez, desta vez têm que me dizer, quais os instrumentos que ouvem?
Mas…desta vez com o monitor desligado e sem imagens. As crianças silenciaram-se e
ouviram a canção, mencionando que ouviam tambores e que não conseguiam ouvir os
instrumentos restantes, porque: Os tambores e as vozes das pessoas ouvem-se muito alto.
Depois, mostrei uma imagem em formato A3, onde se podia ver impresso o mapa-
mundo. Mostrei os continentes que já tínhamos ‘visitado’, nomeando-os um por um, com
a ajuda do grupo. Disse: Sabem, agora estamos no Brasil. A nossa visita começa neste
país. Qual será o continente a que pertence o Brasil? – Disse apontando-o com o dedo
no mapa. A M.J. e T.S. tiveram ideias coincidentes, referindo que o país era: O que ficava
por baixo e está ’ao pé’ da América do Norte; É a América do Sul – respetivamente.
Muito bem, é isso mesmo. Esta dança é típica do Brasil e chama-se samba. Sabem que
no Brasil, o Carnaval é uma temporada muito importante, que o povo espera ansioso
durante o ano inteiro. Levam um ano a construir os carros, as roupas e a fazer as
músicas, para no Carnaval as apresentarem num concurso que tem se passe aqui -
apontando para o vídeo que passava- chama-se sambódromo, por causa do samba. É uma
festa muito bonita e especial, a que vão pessoas de todo o mundo, pois é uma parte
importante da cultura do Brasil.
Antes de eu dizer o que ia fazer a seguir, a C. antecipou-se e disse: Vais contar
uma história do Brasil? Sorri e disse: Sim, vou - fui buscar um livro que estava na estante
branca, junto ao tapete e que tinha arrumado ali previamente - Esta história chama-se
“Dançar nas Nuvens” e passa-se numa aldeia do Brasil - mostrei a capa do livro ao grupo
e iniciei a exploração da história. No final, o grupo realizou o reconto da história
baseando-se nas imagens do livro eu lhes ia mostrando. Fui colocando algumas perguntas
acerca da história e pedi ao grupo que identificasse uma personagem de branco que
figurava na história, mas ninguém sabia que era. Iniciei a explicação: Esta senhora é uma
baiana, uma das figuras mais típicas do Brasil, que simboliza as mulheres trabalhadoras
do Brasil. As baianas tem muitas influências de um continente que já visitámos, a África
e existe uma relação muito grande entre os países. Agora vou mostra-vos algumas
Anexo 6 - Notas de campo
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imagens. Nas imagens pesquisadas na internet, podiam observar-se as baianas, assim
como alguns dos pratos típicas que cozinham, para que as crianças pudessem ver alguns
pratos típicos do país. Todos ouviam com atenção nos seus lugares.
Após, resolvi questionar uma afirmação, feita pela C.B. durante o reconto da
história. A menina identificou: Pessoas de outro país. Acho que é da China, da Rússia,
das Caraíbas e da África. Estas pessoas chegavam à aldeia da Isabela, a personagem
principal da história. Pedi: Porque acham que a C. disse isto? Existiram várias respostas,
mas todas foram ao encontro de mesma premissa, As pessoas eram de outro país, pois
eram todos diferentes, não eram parecidos. A C. disse: Esse – disse apontando para uma
personagem do livro. Deve vir da China, ele tem os olhos assim – imitando olhos rasgados
com as mãos – ele é parecido com o T.L. (colega da sala, com origem chinesa) e ele vem
da China. Aquele – apontando novamente – deve vir da Rússia. A L.C. disse: Se calhar
é porque é parecido com as pessoas russas que nós vimos quando fomos na viagem até
lá. Falei: E estas pessoas? Questionei enquanto apontava para elementos com a pele mais
escura. A M.J. disse de imediato: Esses são da África, tem a pele mais escura, como nas
tribos das fotografias que tu mostraste. Mas olha M – disse o F.P – O Mateus da história,
também tinha a pele igual a eles e vinha das Caraíbas. Se calhar são de lá. Questionei:
Já viram como baseados na cor da pele podemos pensar uma coisa que não está certa?
Não é por veremos uma pessoa de pele escura que tem que vir de África, nem se tiver
pele clara tem que vir da Europa. As pessoas podem ter nascido em qualquer lado e os
seus pais ou avós é que nasceram na África por exemplo. Aprendam, a cor da pele é
apenas uma cor, temos que ter cuidado pois as pessoas podem ficar tristes se tiráramos
conclusões erradas. O M.C. disse: Também pode ser por causa das roupas. Este aqui –
disse apontando para o livro – tem roupas que não são iguais aos outros. E nem à minha,
se calhar ele é de outro país? Eu disse: Muito bem M. temos que por as nossas cabecinhas
a funcionar. As nossas roupas podem estar relacionadas com o nosso país. O T.R. disse:
pois a nossa é assim – afirmou olhando para a sua roupa.
A M.J. disse ainda: Mas olha, eu vi instrumentos de música na história. A Cátia -
referindo-se à professora de música - já nos disse que há instrumentos que são de outros
países, que vieram de longe. Eu disse: Boa sugestão. Nem me tinha lembrado disso –
disse piscando-lhe o olho – há instrumentos que são típicos de outros países e isso
também nos pode dar uma pista sobre de que país é cada uma das personagens. Mas
Anexo 6 - Notas de campo
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agora que vários já tentaram descobrir de onde são estas pessoas, vou explicar-vos um
coisa. Estas pessoas são todas de países diferentes, elas são migrantes. Alguém sabe o
que é isso? - Ninguém respondeu, tendo algumas crianças apenas abanado os ombros ou
a cabeça negativamente – Migrantes, são pessoas que vem de outros países, países onde
haviam conflitos e guerras. Elas ficam com medo e fogem para se abrigar num país
pacífico. Na história, a aldeia da Isabela ficou cheia de novos habitantes, pessoas que
precisavam de um lugar novo para morar. E é importante que todos ajudem, com roupa,
comida ou com uma casa para morarem. A M.V. perguntou baixinho: Há guerras e
morrem pessoas? Eu disse: Infelizmente sim. É muito triste. Vocês são meninos com
muita sorte. Vivem em Portugal, numa casa bonita, andam numa boa escola, tem roupas
bonitas e muitos brinquedos…há meninos no mundo que não sabem o que isso é. A
menina esboçou uma expressão de pena e de surpresa. Ó Ariana – interrogou o T.C. –
nós temos que dar essas coisas a eles porque eles não têm nada? Respondi: Sim, não têm
nada, fogem e não conseguem trazer nada com eles, às vezes só trazem as suas famílias.
Houve várias expressões de pena, nas caras das crianças, mas algumas não colocaram
nenhuma questão. A C.B. disse calmamente – Isso é muito triste, eu tenho pena deles. O
T.R. disse: Temos que ser amigos desses meninos e das mães e pais, porque eles são
pobres. A C. disse: A minha mãe e o meu pai já disseram que quando as pessoas não tem
dinheiro, nós temos que ajudar elas. Depois fica frio e elas não tem casa e não tem roupa,
por isso temos que ajudar. Houve várias crianças a afirmar que os pais ou avós lhes
tinham dito algo semelhante.
Voltei a questionar o grupo: Então o que são migrantes? Quem sabe? O F.P. que
tinha estado muito calado até agora respondeu: Acho que são pessoas que fogem da
guerra para outros países. A M.C. completou: E eles precisam da ajuda de muita gente,
porque não têm nada. O T.S. disse: Eles não estão seguros no país deles e tem que ir
para outro qualquer. As pessoas tem que os ajudar não é Ariana? Respondi: Às vezes há
pessoas que não gostam de ajudar quem precisa, mas é uma obrigação, ajudarmos
qualquer pessoa que precise de ajuda, isso é que é correto. A M.J. parecia ainda ter
dúvidas e perguntou: E na história as pessoas da aldeia ajudaram eles todos? Não havia
casas, mas depois eles fizeram mais e eles foram morar para lá e chegaram às nuvens.
O T.C. disse: E depois eles arranjaram trabalhos porque haviam muitas lojas lá.
Continuei: Sim, é isso. As pessoas foram para a aldeia da Isabela, onde os ajudaram,
Anexo 6 - Notas de campo
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deram-lhes trabalho e casa e depois ficaram a viver todos juntos. A aldeia era muito
pequenina e tinha pouca gente, assim cresceu e está cheia de gente diferente. A L.C.
avançou rapidamente: E isso é bonito e também é importante para as pessoas todas.
Confirmei com a cabeça, dizendo ainda: Exatamente L.
Após as crianças colmatarem mais algumas dúvidas, reunimos e voltámos à sala
de atividades.
NC.29
Palavras-chave: Diversidade cultural;
Data: 20 de fevereiro de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h45
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Já na sala de atividades, algumas crianças encontravam-se sentadas no tapete a
observar o livro de histórias ‘Dançar nas nuvens’ que lhes entreguei após solicitação.
Sentada junto ao grupo questionei: Então e ainda se lembram quem é a personagem
vestida de branco? De forma quase unânime as crianças responderam que era uma baiana.
Então estiquei o braço e de cima da mesa tirei um saco azul pequeno. Retirei lá de dentro
uma boneca em feltro, que ilustrava a imagem do livro em formato físico. Esta passou
pelo grupo, para que todos a pudessem observar.
Retomamos a conversa acerca da baiana e das suas origens africanas, sendo que aproveitei
o momento para voltar a reforçar: As culturas estão relacionadas umas com as outras. E
umas influenciam as outras, influenciam os países, as pessoas… Se estivermos atentos
podemos encontrar algumas coisas da nossa cultura, muitas parecidas com as Brasil por
exemplo, pois todos nos relacionamos, vivemos juntos e aprendemos uns com os outros.
A M.J. perguntou: Olha vamos fazer uma baiana? Eu perguntei: Porquê? A M. respondeu
rapidamente: Estamos no Brasil e a baiana é de lá. A festa preferida no Brasil é o
Carnaval e o Carnaval está a chegar, por isso podíamos fazer a baiana, porque é uma
máscara, não é? Sorri e disse: Bom raciocínio! Uma roupa típica é sempre uma máscara,
como por exemplo a espanhola. Há muitas meninas que se mascaram de espanholas e
Anexo 6 - Notas de campo
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isso é o traje típico espanhol. Foram várias as respostas a aludir que já se haviam
mascarado de espanholas. Recomecei: M., essa é uma boa ideia. Concordam? A grande
maioria das crianças anuiu. Então vamos a isso, disse eu. Surgiu uma questão: Ó Ariana
podemos usar outras cores ou só branco? É que a roupa da baiana é toda branca. Isso
também é uma...(para para pensar), uma tradição? Sorri. Respondi-lhe: É isso, é uma
tradição, sim. Mas acho que podemos fazer a personagem da baiana de acordo com a
nossa imaginação. Podem usar mais cores, claro que sim, que tal com filtros de café e o
borrifador como na experiência que fizemos? Surgiu outra questão: Sim, Ariana. Mas
olha como se chama esta boneca? É que é parecida com a da história, podíamos chamar-
lhe Isabela, como a outra menina do Brasil. Respondi: Por mim, tudo bem, fica Isabela
então. A M.C. reagiu dizendo: Pode ser com os filtros porque assim a s baianas podem
ficar com muitas cores, como nos quisermos. Expliquei que iriam para a mesa em
pequenos grupos, para pintarem e posteriormente borrifarem os filtros de café com água,
dando continuidade à tarefa.
NC.30
Palavras-chave: Diversidade cultural;
Data: 1 de março de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h15
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Mais uma vez, reunimos todos no tapete. Expliquei novamente ao grupo que
iriámos receber uma visita, desta vez vinda do Brasil. Tratava-se da mãe da L.P. nascida
no Brasil, que vinha contar-nos uma história por sugestão da filha. A Carine chegou, bateu
à porta e fiz-lhe sinal para que entrasse. Cumprimentei-a e convidei-a a sentar-se comigo,
junto ao grupo. Ao chegar cumprimentou todos e disse de imediato: Oi meninos, todos
vocês já sabem que sou mãe da L., que nasci no Brasil e que venho contar uma história.
Mas não sabem que a história é uma lenda muito antiga, que não está no livro de histórias
e sim na minha cabeça. A minha avó me contava esta história, desde que eu era assim
pequena como vocês. E eu vou contar-vos tal como ela fazia. Estão preparados? Aqui
Anexo 6 - Notas de campo
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vai. Iniciou então a “Lenda da Vitória-Régia”, que contava a lenda de uma tribo de índios
brasileiros, chamada ‘Tupi-Guarani’. Enquanto contava a lenda, acompanhava-a com
imagens, onde se podiam ver alguns momentos da história.
Após o término da história, tomei o meu lugar ao lado da Carine novamente e pedi
ao grupo que recontasse a história, com a ajuda da mãe da L. e das imagens.
Posteriormente, as crianças colocaram algumas perguntas à Carine. O F.P. questionou:
Esses índios existem de verdade? A Carine respondeu: Existem sim, esses índios ainda
existem no Brasil em alguns sítios do país. A M.C. mudou de assunto e questionou: No
teu país fala-se brasileiro, pois é? Nós percebemos tudo. A Carine falou: É verdade, lá
no Brasil falam português, mas nós temos algumas palavras diferentes de vocês, que
podem não perceber. Sabem o que é ônibus ou o trem? E banheiro? As crianças disseram
que não e ela continuou: O ônibus é o vosso autocarro, o trem é o comboio e o banheiro
é a casa de banho de vocês. Algumas crianças riram e olharam para as outras.
Perguntaram: Sabes mais palavras? A Carine disse: Sabem quem é o goleiro? É o guarda-
redes. As crianças pediram mais uma. E o sorvete? O T.C. disse agitado: Eu sei, essa é
um gelado, eu vi nos desenhos animados da Netflix. A Carine disse: Olha que esperto que
vocês é, tá certo, é isso aí. Nos falamos a mesma língua, mas há palavras que fazem parte
mesmo do brasileiro, da língua da gente, como cá também há palavras assim. Eu falei:
Sabes h, estou sempre a explicar que aprendemos muitas coisas com outras culturas e
que nos tornamos mais ricos com isso. Devemos sempre estar atentos ao que é diferente
de nós, pode surpreender-nos. Ela respondeu: É isso mesmo meninos, temos que aprender
uns com os outros. Desde que eu vim do Brasil, aprendi imensas coisas sobre vocês
portugueses, sobre os vossos gostos e costumes. O S. perguntou: O que é isso? Eu disse:
É como se fosse uma tradição. Ele disse: Ah, isso já aprendemos, é outra palavra
diferente. A Carine falou novamente: Olha aqui, eu trouxe uma imagem dessas para cada
um de vocês, por isso eu cheguei eu pouco atrasada, desculpa, estava imprimindo isso
tudo. Mas então, vocês assim nunca vão esquecer a Lenda da Vitória-Régia, a indiazinha
Náia e a sua história que é um pouco triste, mas é uma história de amor. Ariana, depois
vocês passam um para cada menino? Referindo-se às folhas impressas. Respondi: Tenho
uma ideia melhor! Fazer uma atividade com as imagens e podes participar. A Carine
sorriu e respondeu: Sério, acho que tou ficando nervosa – deu uma gargalhada. Vamos
lá.
Anexo 6 - Notas de campo
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Expliquei a minha ideia, as crianças identificarem a sua folha com o nome
próprio e o título de ‘Lenda Brasileira’, numerando as imagens de acordo com a sequência
da história. Após a explicação, todas as crianças se dirigiram á área polivalente e
executaram a atividade ao mesmo tempo, recorrendo à minha ajuda, da Vera e da Carine,
sempre que necessário. Enquanto as crianças realizavam a atividade a Carine diz-me:
Ariana deixa eu te dizer, eu estou adorando essa ideia das histórias. Lá no Brasil eu era
professora da 1ªsérie e sei quão importante é promover hábitos de leitura e empatia
nessas crianças. Nossa, eu via todos os dias. Eu digo para você, gostei da sua iniciativa,
a L. me conta tudo do que faz aqui com vocês e eu acho que ela está entendendo bem o
vosso projeto da interculturalidade. Ela me diz coisas que eu fico super admirada, como
no outro dia no jantar, ela me disse: Mamãe, hoje eu aprendi que há pessoas que não
gostam de quem é diferente só porque é de outra cor, isso é muito feio, não é? E noutro
dia ela me falou que existem pessoas que fogem do seu país porque há guerra e vem se
abrigar em Portugal. Achei uma delícia minha filha de 5 anos me dizendo isso. Vocês
estão fazendo um bom trabalho, eu sei ver isso. Eu e a Vera sorrimos. A Vera disse
apenas: Obrigada. Eu disse: A sua filha é uma menina super atenta, interessada e que
apreende facilmente o que é explorada. E mais importante tem uma grande capacidade
de se pôr no papel do outro, é muito empática e isso tem um papel tremendo na aquisição
de competências interculturais. Mas é tão bom ouvir essas coisas, quem não gosta de ver
o seu trabalho reconhecido. Muito obrigada! A Carine recomeçou: Isso também é
importante, ela ser capaz de perceber o lado do outro, não é fácil, mas ela já vai fazendo.
Eu é que agradeço, foi uma benção a L. ter ficado com você, você encaixou muito bem
nesse grupo - disse enquanto passava a sua mão pelo meu ombro. Voltei a sorrir:
Obrigada, são estas mães que eu adoro - disse dando uma gargalhada. Entretanto, algumas
crianças começaram a chamar, pois precisavam de ajuda e interrompemos a conversa para
ajudar.
No final da atividade a Carine despediu-se e prometeu voltar à hora do lanche
com uma surpresa, uma receita típica do Brasil para todos provarem: pão de queijo feito
por ela.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.31
Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Familiarização com o fenómeno
migratório;
Data: 15 de março de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h45
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Nesta sessão, iniciada no tapete com as 24 crianças, retomei o tema da
diversidade cultural e da existência de várias culturas, coexistindo dentro da mesma
cidade e/ ou país. Relembrei então: Lembram-se da história ‘Dançar nas nuvens’? De que
falava? A C. disse: Da Isabela, ela queria dançar nas nuvens, mas não chegava lá.
Continuei: E mais? Ela prosseguiu: A aldeia dela era pequena e depois ficou muito cheia,
com pessoas de outros países. O F.M. disse: De pessoas que tinham fugido de outros
sítios onde haviam guerra. A C.B. continuou: Sim eles eram de migrar. Dei uma enorme
gargalhada: Eram migrantes. Ela continuou: Sim, é isso, são pessoas que não têm nada e
temos que ajudá-las, dar roupas e comidas a elas. Eu recomecei: é disso mesmo que vos
queria falar, dos migrantes. Tenho aqui as imagens que encontrámos quando fizemos o
trabalho da outra história. Montar uma cara, mas com uma mistura de várias caras,
pessoas de culturas diferentes. O que acham? A M.J. disse: Boa ideia, porque assim
misturamos os diferentes e fica giro. Eu disse: Claro a diversidade enriquece-nos. A
M.V. disse: Aprendemos coisas com os outros e isso é importante para todos, não é?
Anui com a cabeça e pisquei-lhe o olho.
Comecei então a mostrar as várias imagens que tínhamos pesquisado
anteriormente. Havia imagens de adultos, adolescentes e crianças de ambos os sexos.
Algumas crianças identificaram as imagens, pois já as conheciam do bloco de intervenção
anterior. Expliquei: Todas as histórias que temos ouvido na nossa sala falam da
diversidade de culturas, é isso que todas tem em comum. Por isso, podemos usar as
imagens de umas histórias, para trabalhos das outras, para vocês perceberem que está
tudo relacionado. De seguida mostrei novamente as imagens, previamente preparadas e
delimitadas. Expliquei ao grupo que os materiais necessários estavam já a aguardar na
Anexo 6 - Notas de campo
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área de trabalho, assim como as caras, todas expostas para que pudessem escolher.
Expliquei ainda que todas as caras teriam que conter cinco partes constituintes: testa,
olhos nariz, boca e queixo, bastando apenas escolher, os cinco pedaços da cara e montá-
las na folha que lhes seria distribuída. No final a M.V. questionou: É uma mistura de
culturas, pois é? Respondi: Sim, que boa ideia para o título do trabalho disse a sorrir.
Quem quer começar a atividade?
Após se determinar quem iniciaria o trabalho, algumas crianças começaram a
atividade, enquanto outras brincavam de forma livre, nas áreas da sala.
NC.32
Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Familiarização com noções de
identidade e alteralidade;
Data: 20 de março de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h
Local: Sala do computador
Dando continuidade aos interesses demonstrados pelo grupo, mostrei-lhes uma
curta-metragem que conta uma história editada no livro “A menina e o tambor”, sendo
que este vídeo não usa linguagem, apenas tem recurso a música e expressões faciais. O
vídeo foi visto no computador que estava previamente ligado a uma grande coluna.
Após verem o vídeo, a educadora pedi ao grupo que realizasse o reconto do que
viram, com base no que tinham observado. A grande maioria das crianças conseguiu fazer
um relato coerente, conferindo-lhe uma ligação com o tema da migração que está a ser
trabalhado: Era uma vez uma menina que vivia numa cidade triste; Mas ela veio da África
se calhar, porque ela tinha pele escura e cabelo com trancinhas pequeninas; Ela ria-se
muito, mas ninguém se ria para ela; Porque as pessoas eram tristes; Elas estavam tristes
porque não tinham casas e comidas; Porque tinham fugido de um sítio perigoso onde
havia muita guerra; Mudaram de sítio, mas mesmo assim nunca mais ficaram felizes; As
pessoas eram todas diferentes, tinham muitas cores de pele e não eram parecidas; Elas
vinham de países longe dali; Sim, vinham da América do Sul e do Norte, da Europa e da
Anexo 6 - Notas de campo
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África do Sul; A menina quer ajudar eles e foi fazer brincadeiras para eles rirem, mas
eles não ficaram felizes na mesma; As pessoas eram diferentes, mas eram iguais, porque
elas não felizes; E a menina ficou triste também e ficou a chorar; Mas depois ela ouviu
o seu coração, ele bateu muito alto e ela ficou feliz; Foi à casa dela buscar o seu tambor
de brincar e foi para a rua tocar; A música dela pôs os corações das pessoas todas a
bater muito alto; Elas começaram a rir muito e ficaram felizes; As pessoas foram buscar
instrumento musicais e começaram a tocar a mesma música que ela; Alguns instrumentos
eles tinham trazido do seu país; Mas outros eram coisas do trabalho deles que faziam
barulhos de músicas; Toda a gente fez música e ficou feliz; Dançaram muito com a
menina; E ficaram felizes porque a menina os ajudou e nós temos que ajudar as pessoas
que não têm nada e vem de migrar; E a menina era muito esperta e ajudou todos com
música; A música deixou eles mais felizes porque lembrou o país deles;
Quando terminaram eu disse: Estive a escrever a vossa história, para depois
partilharmos com os pais, o vídeo e a história, para eles perceberem tudo. Mas o que
eles não souberem vocês podem explicar, porque tem uma imaginação espetacular! disse
sorrindo. Eu escolhi este vídeo, porque vocês falaram na música e nos instrumentos
musicais de outros países e lembrei-me de vocês. E também tenho aqui o livro para vocês
verem. A M.M. questionou? Vais contar a história? Respondi: Esta história não tem
letras, é como o vídeo, só tem imagens. Mas eu vou contar-vos a vossa história, aquela
que contaram a mim, estão prontos? Ouviram-se algumas gargalhadas e um grande: Sim
Ariana! Iniciei a leitura da história que as crianças me tinham relatado.
NC.33
Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Diversidade cultural;
Familiarização com noções de identidade e alteralidade; Desenvolvimento de atitudes de
empatia, respeito e tolerância face ao outro; Identificação de atitudes discriminatórias;
Data: 28 de março de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 10h
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Anexo 6 - Notas de campo
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Reunidos mais uma vez na área do tapete e sentados na roda expliquei às
crianças que iriámos dar continuidade à exploração da história animada ‘A menina e o
tambor’. Expliquei: Sabem que o Criarte é o nosso projeto de escola e esta semana a
temática é o cinema. Achei que como no projeto de sala estivemos a explorar uma história
animada, podíamos relacionar os temas. Tenho uma atividade para vos propor.
Expliquei: Querem fazer uma curta-metragem? O F.P questionou: O que é isso?
Continuei: É um filme, mas pequenino, como o filme que vimos da ‘Menina e o tambor’.
Imprimi as imagens da história e cada um de vocês vai utilizá-las para criar uma história
pequena, onde devem aparecer imagens com pessoas de diferentes culturas. Quando
acabarem de montar as imagens, tem que me explicar a história e dar um título à vossa
curta-metragem. Vamos experimentar fazer algumas histórias juntos? O F.P respondeu:
Pode ser - enquanto se ouviam algumas respostas positivas e se viam alguns acenos com
as cabeças. Espalhei algumas imagens pelo tapete, ao centro da roda e disse: Vou
começar. Escolhi cinco imagens e alinhei-as. Quem quer começar a história? Posso ser
eu? E adiantei: Numa cidade de África vivia uma menina com o nome de Anya. Vivia com
a sua avó, pois toda a sua família tinha fugido para a Europa... As crianças começaram
a dar continuidade à história: “Eles fugiram e não conseguiram levar nada, mas pelo
caminho encontraram uma senhora que morava na cidade; Ela levou-os para a cidade e
apresentou outras pessoas a eles. A cidade era na Itália; Depois as pessoas da cidade
todas ficaram amigas deles, porque eles ajudaram-nas a ficar felizes. Falei: Muito bem e
o título da história, qual vai ser: O T.C. sugeriu: Eu acho que pode ser: Amigos na Itália.
A M.V. disse: É giro assim. Recomecei: Muito bem, quem quer ser o próximo a montar
a história? Levantaram-se vários dedos e escolhi uma das crianças que se dirigiu ao meio
do tapete, trocou as imagens e montou uma nova sequência com seis imagens, disse: Uma
vez nasceu uma menina que quando cresceu aprendeu a tocar muito bem tambor. Olhei
para o grupo com um olhar de incentivo e outras crianças continuaram a história: Ela
nasceu num sítio especial, onde ajudavam as pessoas que precisavam; Esse sítio era em
Portugal. Ela andava numa escola onde havia meninos com todas as cores e eles
brincavam todos juntos; Eles gostavam dos meninos diferentes e eram muito amigos,
assim a menina ensinou eles a tocarem todos tambor; Assim aquela escola ficou perfeita.
A C.B. adiantou-se dizendo: O título desta pode ser ‘Meninos de todas as cores brincam
juntos. Eu disse: Ok, boa. Que belas histórias, muito bem! E agora vão fazer sozinhos
Anexo 6 - Notas de campo
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pode ser? A C. pediu: Pode ser só mais uma história, assim é divertido Ariana. O M.C.
franziu o nariz e disse: eu não queria, mas ok... A C. pediu calmamente: Ó Mateus, mas
é só mais uma vá lá... Ele respondeu: Ok... Mas eu é que vou pôr lá a história que eu
quiser. A C. concordou e disse: Ok e eu começo, pode ser? Ele voltou a responder: Ok.
Dirigiu-se ao centro da roda e escolheu cinco imagens que colocou lado a lado. A C.
começou então: Havia uma menina que nasceu na África onde havia muito calor e depois
foi morar para a Roménia e lá estava muito frio. Ela gostava de brincar com os outros.;
Mas às vezes o coração dela ficava triste porque os pais dela estavam na guerra e não
podiam fugir; E também porque os amigos não gostavam dela por ela ser cor de preto;
Mas um dia houve uma menina mais bebé que quis brincar com ela, os outros viram e
quiseram brincar também. Depois de eles conhecerem ela ficaram a achar que ela era
muito divertida e ficaram amigos; Fizeram bonecos de neve porque na Roménia nevava
[Eu vi na foto que a C. trouxe para a prenda do pai dela e lá na foto ela estava a brincar
com a neve na Roménia]. Eu disse: Mas que história bonita e fez-me lembrar a história
do Mateus. O T.C. disse: Pois. O S. interrompeu e disse: Mas olha, falta o nome da
história. Eu anui: tens razão, quem quer dar o título? A M.J. disse: podia ser ‘Os meninos
do racismo’. Olhei admirada e disse: Maria esse título é muito forte, estás mesmo uma
menina grande. Boa ideia. E agora – prossegui - cada um vai fazer o seu trabalho e
pensar na sua história, nada de imitarem estas, vocês tem muitas ideias boa e muita
imaginação. Quem quer começar? Após seis crianças se terem voluntariado para
começar, expliquei que todo o material necessário já se encontrava na área de trabalho e
que em pequenos grupos dariam continuidade à atividade. Algumas crianças dirigiram-
se às mesas e as restantes foram brincar nas áreas da sala.
NC.34
Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas;
Reconhecimento de diferentes manifestações culturais religiosas; Compreensão da
religião como um fator de identidade cultural;
Data: 2 de maio de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Anexo 6 - Notas de campo
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Hora: 14h15
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
A educadora sentou-se junto às crianças no tapete verde retangular. Diretamente
em frente podiam observar-se duas mesas brancas em forma de meia-lua. Com um
pequeno computador azul em cima, que se encontrava ligado por um fio preto a uma
grande coluna preta. Coloquei a tocar uma canção de origem indiana, onde se ouviam
vozes a cantar em hindi. Quando a canção terminou, a M.J. referiu de imediato: A minha
avó nasceu em Goa e isso fica na Índia. Ela sabe falar essa língua, a da canção. Eu
respondi: M. tens que convidar a tua avó a vir à nossa sala. Ela sorriu motivada e disse:
Sim, eu vou dizer a ela Ariana. De seguida questionei: Alguém já ouvia esta música ou
alguma semelhante? Ninguém se manifestou, havendo apenas alguns movimentos
negativos com a cabeça. Continuei: Ninguém conhece esta língua? Acho que a M. Já
descobriu qual é, é a língua falada na Índia, que fica em que continente? O M.C.
respondeu na América do Norte e eu disse: Não…O T.S. respondeu rapidamente: Na
Ásia. Eu questionei: M., qual é a língua que falam, sabes? A M.J. respondeu bastante
confiante: Sim, é hindi, a avó Maria já me disse. Respondi: Sim, é hindi e esta música
canta-se numa festa muito importante da Índia, que se chama Diwali. O T.C disse
entusiasmado: Acho que tu sabes bué coisas da Índia M. Podes explicar-nos as coisas
também. A M.J. sorriu orgulhosa.
Eu voltei a falar: Tenho aqui algumas imagens relativas à cultura indiana: uma
mulher vestida com o sari - que é o traje típico, o Taj Mahal- um dos monumentos mais
importantes do país e os principais deuses hindus. Mostrei ainda algumas imagens que
mostravam os festejos do Diwali, o festival das luzes, referido anteriormente. M.M.
avançou: Vais contar uma história da Índia, não vais? Pisquei o olho e disse: Vou mesmo,
que espertalhona. Tomem muita atenção porque a história fala de algumas coisas muito
importantes da cultura indiana. Contei a história ‘Lili e o jardim da Índia’ e quando
terminei, antes que pudesse dizer qualquer coisa, começaram os comentários: A M.V.
disse: A Lili é como nós, viaja na sua imaginação, ela foi à Índia e nós também viemos.
O F.P. questionou-me: Há tantas ervas na Índia, conheces aquelas todas Ariana?
Respondi: Só algumas, são tantas…Mas gostei de saber para que servem. Do que
ouviram na história, o que gostaram mais? A C.B. disse: Eu gostei das roupas deles, tem
Anexo 6 - Notas de campo
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muitas cores. O S. disse: Eu gostei de aprender a despedir em indiano, é Namastê. Eu
expliquei: Quando nos despedimos temos que dizer Namastê e fazer assim – juntei ambas
as mãos e fiz uma vénia com a cabeça – façam lá. Todos em grupo imitaram a minha
ação. A M.J. questionou-me: Ariana achas que eles na história eram parecidos comigo,
a cor deles é como a minha, um castanho assim mais clarinho…Respondi: Talvez fossem
um pouco parecidos sim, mas já sabes que tu és única, não há ninguém igual a ti. Ela
sorriu orgulhosamente e colocou o cabelo atrás da orelha com a mão direita.
Voltei a incidir no mesmo assunto: E o que aprenderam sobre o Diwali? É uma
das principais festas na Índia. As respostas foram confusas, pois várias crianças falaram
ao mesmo tempo. Pedi-lhes que aguardassem a sua vez e que colocassem o dedo no ar.
Assim, fui perguntando a uma de cada vez as suas respostas: É uma festa muito colorida,
atiram foguetes muitas vezes e por isso é o festival das luzes; As pessoas vestem roupas
novas e bonitas para a festa; Colocam lanternas à porta, fica tudo iluminado; Dura
muitos dias; É importante para os indianos; As famílias estão juntas; Afirmei: Celebra-
se durante 5 dias e no último dia é o ano novo hindu. O R. afirmou: Nós cá também temos
o ano novo. Eu disse: Sim, celebra-se praticamente em todo o mundo. E há outra festa
que também se celebra em muitas culturas e tem muitas parecenças com o Diwali.
Alguém sabe? Ninguém respondeu, por isso resolvi facilitar, dando pistas que
estabelecem paralelismo: Que festa temos em que também acontece antes do ano novo,
há muita cor, se juntam as famílias e é muito importante? Nessa festa os meninos gostam
muito de receber uma visita especial…? A M.C. disse alto: Já sei é o Natal, nós estamos
todos juntos e vem o Pai Natal trazer as prendas. Eu afirmei: Isso mesmo, M. Como vêm
as duas festas tem parecenças, apesar de serem em países diferentes. Temos mais coisas
em comum do que pensas. Sabem, estas festas são muito importantes, fazem parte da
cultura de cada povo. São festejos muito importantes. A M.V. perguntou: Importantes
para todas as culturas? Eu respondi: Em cada cultura há festas que fazem parte da
tradição, daí serem tão importantes. Faz parte de quem nós somos. A M.J. disse: Vou
contar à minha avó, não sei se ela sabe essas coisas todas. Os indianos e os portugueses
tem coisas parecidas. Eu respondi: Acho que vais ter muito para contar, ainda vamos
descobrir mais algumas coisas sobre o Diwali - disse piscando-lhe o olho – Aquela
canção que ouvimos ao início fala sobre o Diwali, podemos tentar aprender alguns
pedaços. Querem tentar? Ouviram-se algumas gargalhadas e as respostas foram
Anexo 6 - Notas de campo
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afirmativas, embora algumas crianças tenham expressado dúvidas devido a ser uma
língua que não dominavam.
Coloquei a canção a tocar três vezes e associei-lhe pequenos gestos, para facilitar
a interiorização. Assim, por trechos e com a associação de gestos, fui cantando a canção
– com a ajuda da letra, impressa previamente numa folha A4 - sendo que as crianças
repetiram logo de seguida, realizando os gestos correspondentes. A atividade durou
alguns minutos, e algumas das crianças conseguiram reproduzir o refrão, assim como a
melodia da canção. Quando terminámos as crianças distribuíram-se pelas áreas da sala,
em brincadeira livre.
NC.35
Palavras-chave: Diversidade religiosa; Reconhecimento de diferentes manifestações
culturais religiosas; Compreensão da religião como um fator de identidade cultural;
Data: 10 de maio de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h05
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
O grupo encontrava-se reunido no tapete. Sentei-me junto deles com 5 folhas
brancas nas mãos. Comecei a conversar sem fazer menção às folhas, o que causou alguma
curiosidade: O que é que está nas folhas? Vamos fazer uma atividade? Respondi: São
umas imagens, sãos os cinco deuses indianos mais importantes. O V. questionou: O que
é isso? Continuei: É algo difícil de explicar, porque é algo que não conseguimos ver. É
como o ar, ele existe, nós respiramos, mas não o vemos. É como os anjos, acreditamos
que existem, mas nãos os vemos. A M.V. disse: É como os unicórnios, eu não vi nenhum,
mas acredito. E a fada do dente também… Ri e respondi: É qualquer coisa desse género.
Um Deus é alguém que não vemos mas acreditamos, alguém muito importante, que
sempre a observar-nos. E se nós acreditarmos nele de verdade, ele pode ajudar-nos. O
T.C questionou: Já sei, é como a magia? Eu respondi: Sim, é isso, se acreditarmos mesmo
ela resulta sempre. A M.C. interveio: Eu vou à missa com a minha mãe e ela diz que
Anexo 6 - Notas de campo
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temos que rezar aos santinhos porque eles ouvem lá no céu. O F.M. disse: Eu e a minha
mãe rezamos todos os dias ao anjinho da guarda para tomar conta de nós. Afirmei: Mas
afinal vocês já sabem muitas coisas, quase que nem precisava de explicar nada - disse
sorrindo, o que fez o grupo reagir com alguns sorrisos de orgulho.
Ao centro do tapete verde espalhei cinco imagens que retratavam os deuses
Krishna, Ganesha, Hanuman, Shiva e Rama, em formato A4, impressas previamente.
Pedi ao grupo que fosse passando as imagens para que todos as pudessem observar
atentamente. Após as imagens terem passado por todos e estarem de novo ao centro da
roda, questionei: Quais as características mais evidentes de cada um dos deuses? Uma a
uma fomos analisando as imagens, focando-nos nas caraterísticas mais evidentes – as
físicas.
A conversa continuou e as crianças foram evidenciando algum interesse pelos
traços da Índia, colocando questões: E na Índia eles cumprimentam-se sempre com o
Namastê? E as roupas deles são muto compridas, já viste alguma? A festa deles parece
divertida, eu gosto de festas. Nós podíamos fazer uma festa daquelas e ser como os
indianos. As reações foram imediatas, ouvindo-se respostas positivas de muitas das
crianças. Eu respondi: Podíamos tentar fazer uma festa da Índia, mas temos que pedir
ajuda aos pais. O D. sugeriu: Podes mandar recado na caderneta. A C.B. disse: E nós
podemos dizer a eles. Lancei uma ideia: Se vocês estão assim tão motivados, que tal
fazermos um dia da Índia? Logo questões começaram a ser colocadas numa grande
azáfama: O que é isso Ariana? Fazemos o quê nesse dia? Vamos fingir que somos da
Índia? Respondi: Sim, vamos todos fingir que somos da Índia. O T.C avançou a sua ideia
de imediato: E vestir como eles, mas não sei onde se compra aquelas roupas... A M.M.
disse entusiasmada: Sim, T. mas podemos pedir ajuda aos pais, foi a Ariana que disse.
Eu falei: Sim, é isso mesmo, vamos vestir-nos como os indianos e pedimos aos pais que
vos vistam de acordo com isso. Como se fosse uma máscara. A M.C. disse: Eu gosto de
roupas compridas. Vou pedir a minha avó para me fazer uma roupa. O M.C. disse: Eu
não quero vestir roupas de menina...Eu disse: Mas Mateus, também vimos as roupas dos
homens, podes vir vestido como eles não tens que vir com roupas de menina – disse ao
dar uma gargalhada. Mas para saber se toda a gente quer comemorar o Dia da índia,
vamos votar. Quem quer levanta o dedo. A opinião foi esmagadora, todos votaram
Anexo 6 - Notas de campo
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positivamente. Combinámos que eu ia enviar recado para os pais a agendar o dia e a
explicar o que seria necessário para realizar o ‘Dia da Índia’.
De seguida acalmei o grupo e dei continuidade á tarefa anterior. Foi proposta
uma atividade de mesa, relacionada com o tema, em que as crianças deveriam construir
um puzzle com a imagem de um dos deuses do hinduísmo à sua escolha.
NC.36
Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas; Tradições
religiosas do Hinduísmo;
Data: 11 de maio de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h
Local: Entrada da sala dos 4 anos
À chegada à sala, tinha já a aguardar a mãe do T.R. Cumprimentei-a e ela
retribuiu, depois dei um beijo ao menino, acompanhado de um bom dia, que ele retribuiu.
A mãe iniciou o diálogo: Olhe, tem aqui na mochila está uma estatueta da Ganesha que
ele quis trazer. Ontem estávamos na sala, quando ele de repente repara que no móvel
estava esta estatueta, foi uma loucura. Começou a falar, a falar, que nós nem
percebíamos metade do que ele dizia: festival com luz da Índia, os deuses, sei lá eu….Só
sei que ele me disse que esta é uma deusa indiana, que é a Ganesha, é muito importante,
olhe fiquei de boca aberta. Um miúdo de 4 anos a dizer-me isto. Então não se calou até
guardar a estátua na mala para hoje trazer. Dei uma gargalhada: Olhe que um miúdo de
4 anos identificar uma deusa do hinduísmo é um grande feito. É que ainda ontem
estivemos a ver imagens dos deuses, entre eles a Ganesha. Ele tem reconhecido a forma
física é excelente, é sinal que interiorizou o que explorámos. A mãe sorriu e disse: Aí
estou tão feliz que me diga isso, de ele ter interesse de mostrar as coisas dele aos outros,
sabe que isso é difícil nele… Sorri e disse: grão a grão. Bem tenho que ir…já ali tenho
uma parte do grupo à espera. A mãe apressou-se: Sim, sim, vá lá. Até logo. Acenei-lhe
ao entrar.
Anexo 6 - Notas de campo
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Sentei-me junto das crianças e olhei para o T.R. que estava agarrado à sua
mala e perguntei-lhe: Então hoje trouxeste a mochila para dentro da sala, porquê? Ele
respondeu: Ariana, eu pedi aos meus pais e tenho uma coisa para mostrar aos amigos,
eu trouxe uma estátua da Ganesha que estava na minha casa e Ganesha começa com G.
Continuei: Então mostra-nos lá. O menino abriu o fecho da mochila e retirou
orgulhosamente a pequena estátua bege. Disse-lhe: Passa aos colegas para todos verem,
vão passando uns aos outros. O S. comentou: Está é mais pequena e tem uma cor
diferente daquela da imagem, pois tem? Levantei-me e fui até ao grande armário de
arrumação verde, abri a 2ª porta e tirei as folhas com as imagens dos deuses, utilizadas
anteriormente. Depois escolhi a da Ganesha e voltei a sentar-me na roda. Coloquei a folha
ao centro e quando todos terminaram de observar a pequena estatueta, coloquei-a ao lado
da imagem. Estivemos então a comparar quais seriam as semelhanças e diferenças entre
ambas.
NC.37
Palavras-chave: Diversidade cultural;
Data: 12 de maio de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 11h30
Local: Entrada da sala dos 4 anos
Esta atividade foi proposta às crianças na área do tapete, onde o grupo estava
reunido. Nesta manhã implementei uma atividade que já tinha explicado previamente ao
grupo, no entanto voltei a reforçar: Vamos fazer a experiência das maçãs. Tenho aqui
uma maçã vermelha e uma maçã amarela. A M.C. questionou: E a maçã verde, tinhas
dito que ias trazer? Eu respondi: Olha tens razão, mas eu não encontrei e fartei-me de
procurar, fui a três supermercados. O T.C. perguntou de rompante: Foste ao Continente
ao lado dos bombeiros da minha mãe? Eu disse: Sim, fui. A M.V. disse: Podias ter ido
ao Lidl ao pé da minha casa. Eu respondi: E fui, fui a esses e até fui ao Pingo Doce, mas
não encontrei mesmo, não haviam maçãs verdes, temos que usar só duas maçãs para a
nossa experiência. Olhem vamos comparar as duas, vamos ver quais são as semelhanças
Anexo 6 - Notas de campo
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e quais são as diferenças. A M.M. perguntou: Como com os ovos? E eu disse: Exatamente
como a experiência dos ovos, mas só que com maçãs.
Os materiais necessários para a atividade já estavam em cima da mesa: uma
pequena faca, dois pratos rasos brancos, duas maçãs e ainda uma folha e uma caneta para
registar as conclusões do grupo. Comecei por cortar as maçãs ao meio, colocando cada
uma delas num pequeno prato raso. Os pratos foram colocados ao centro do tapete, junto
ao grupo, para que todos os pudessem observar. Questionei as crianças no sentido de
darem as suas opiniões acerca do que lhes parecia igual e/ou diferente em cada uma das
maçãs. O grupo respondeu: São duas maçãs e isso é fruta para comer; E tem casca que
se pode comer; Elas tem a forma parecida, são mais ou menos redondas, pois é?; Ó
Ariana elas tem a mesma cor lá dentro, mas por fora são diferentes, amarelas e
vermelhas; Elas tem sementinhas lá dentro, isso não é para comer; As maçãs nascem
todas nas árvores, a minha avó já me disse que são as macieiras. Voltei a intervir: Ok,
muito bem, já escrevi tudo o que disseram. Agora vamos para a 2ª parte da experiência.
As crianças observaram-me atentamente. Peguei na faca e cortei-as em porções iguais.
Depois distribui um pedaço por cada criança, primeiro da maçã vermelha e depois como
a maçã amarela. Todos provaram as maçãs, enquanto eu perguntava: Bem, agora que já
comeram as maçãs, quero que me digam se encontram mais pontos iguais ou diferentes?
As respostas recaíram em: Olha são as duas duras; O sabor não é igual. Eu questionei:
Então? O F.P. retomou: A vermelha é mais doce que a amarela. O V. acrescentou: Pois,
a outra é mais ácida. Não se ouviram mais opiniões, eu disse: Então vou ler-vos as vossas
conclusões.
Após a leitura, o grupo concluiu que as maçãs tinham várias semelhanças e
registaram apenas duas diferenças, a nível de cor e sabor, recapitulando: Pois, já
aprendemos isto nas outras experiências, temos mais coisas iguais do que diferentes,
disse o R. A M.M. avançou a sua opinião: Somos todos diferentes, mas vivemos todos
juntos e aprendemos juntos, pois é? A M.V. afirmou: Pois é, a Ariana disse, as diferenças
são importantes. Se fossemos todos iguais não tinham graça nenhuma. Eu disse: Vocês
aprendem tudo muito depressa. Adoro estes meninos! Disse com um grande sorriso.
Após a hora de almoço foi elaborado um registo com o protocolo, as fotografias e
as conclusões da experiência, que foi posteriormente exposto no exterior da sala e enviado
para os pais, nas cadernetas do aluno.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.38
Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas;
Reconhecimento de diferentes manifestações culturais religiosas; Tradições religiosas do
Hinduísmo;
Data: 15 de maio de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 14h10
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
Iniciámos a nossa conversa na área do tapete, sentados em roda. Realizámos o
reconto da história ‘Lili e o jardim da Índia’ e recapitulámos as características do Diwali,
que também já havíamos focado anteriormente. A M.M. perguntou à M.J.: A tua avó é da
Índia não é? Ela também faz a festa do Diwali na casa dela? A M.J respondeu: Eu já
perguntei a ela, ela diz que aqui não comemora, mas que quando vivia em Goa, fazia
algumas coisas. E que todas as pessoas fazem também, porque é uma festa grande e
importante para as pessoas de lá. Eu perguntei se ela podia comemorar para eu ver como
era, mas só que ela diz que o meu avô foi para as estrelinhas e agora não quer fazer
festas, está toda a gente triste. Por isso ela não pode vir cá à escola contar-nos uma
história. Mas mostrou-me a roupa de lá, o sari e fotografias de quando ela e o meu avô
moravam em Goa. Eu disse: Ó M. tens que ter muita paciência com a avó e dar-lhe muitos
mimos. Noutra altura pedes para a avó festejar, mas não te preocupes, podes trazer o
sari e as fotografias para vermos juntos. Aposto que vamos ver imensas coisas novas e
podes ser tu a explicar tudo. A M.J. respondeu entusiasmada: Ok, vou pedir à minha avó
para me explicar as coisas e trago. Mas vão ter que estar com muita atenção. O T.C.
acenou afirmativamente. Eu disse: Claro que sim, sei que és uma excelente professora -
pisquei-lhe o olho. A M.J. continuou: Ó Ariana, a minha mãe disse que já te mandou a
receita do Chapati, é muita bom, eu já provei na casa da avó. Já comeste? Eu respondi:
Nunca comi. Vi hoje de manhã a receita que a mãe mandou. A M.J. disse motivada:
Podemos fazer?E depois podíamos comer todos. Eu disse: Não me pareceu difícil,
podemos experimentar fazer a receita da tua avó. Mas preciso mesmo da vossa ajuda,
para amassar a massa principalmente. Que dizem? Os comportamentos positivos foram
Anexo 6 - Notas de campo
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evidentes, alguma conversa e agitação e respostas positivas. Algumas crianças
responderam diretamente para a M.J. Então fica combinado, fazemos quando? Perguntei.
A M.J. sugeriu: No dia da Índia, mas não podemos sujar as roupas. Respondi: Por mim,
tudo bem. Fica combinado, o dia da Índia está quase, é na 4ªfeira. O T.C. disse
entusiasmado: Faltam só dois dias, a minha mãe já tem uma roupa bué gira para eu
vestir. Eu já vesti no outro dia lá em casa. A M.C. disse: Eu vou vestir aquelas roupas
das moedas como as bailarinas. Várias crianças começaram a conversar agitadamente
entre si acerca das roupas que iam trazer.
Acalmei o grupo e retomei o tema da conversa, expliquei: Hoje vamos conversar
acerca de mais uma das características do Diwali que eu descobri e que não está na
história da Lili...a arte Rangoli. Esta arte é muito comum no festival. Desenham-se
padrões variados no chão das casas, como por exemplo na entrada da casa ou na sala e,
depois, os desenhos são coloridos com arroz, areia colorida ou pétalas de rosa, por
exemplo. Tenho aqui algumas imagens que pesquisei, vou passar para verem. Começo a
passar cinco imagens impressas previamente em folhas A4 brancas. Os comentários
foram imediatos: Mas isso é muito difícil, eu não sei desenhar isso, disse o V. Seguiu-se
o M.N. Mas onde é que vamos encontrar areia e arroz às cores? Eu nunca vi disso....A
M.M. disse: Eu acho que os rangolis são bonitos, mas não sei fazer...as pessoas na Índia
sabem desenhar muito bem. A M.J. disse: Vou perguntar à minha avó se ela sabe fazer
desenhos desses...isso deve dar bué trabalho. Eu disse: Tenham calma, podemos procurar
imagens dos desenhos da arte Rangoli e depois fazemos as pinturas, assim é mais fácil.
Realmente o povo da Índia tem uma imaginação espetacular e um jeito enorme para
desenhar estas coisas. E já tive uma ideia para pintarmos? Que tal sal colorido?
Podemos fazer juntos. O M.N. questionou: Como? Continuei: Com truques – pisquei o
olho o que deu origem a algumas gargalhadas. Diz lá – pediu o T.R. Retomei a conversa:
Então com a Bimby, fazemos o sal ficar em pó e depois para dar cor pomos giz ou
corantes....O S. perguntou admirado: Giz de escrever no quadro? Isso dá? Eu disse: Sim
claro, fica desfeito e dá cor. O S. continuou: Isso é uma grande ideia. Sorri orgulhosa:
Obrigada. e tenho a certeza que vai resultar. Amanhã já trago tudo para podermos fazer.
Vamos para a sala do computador, pesquisamos imagens num instante.
Anexo 6 - Notas de campo
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Em grupo dirigimo-nos à sala do computador, onde pesquisámos as imagens e
cada um pode escolher a sua preferida. No final as imagens foram impressas, para no dia
seguinte se dar continuidade à atividade.
NC.39
Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas;
Reconhecimento de diferentes manifestações culturais religiosas; Aquisição de
vocabulário novo;
Data: 16 de maio de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 11h15
Local: Sala dos 4 anos, área do tapete
O grupo reuniu-se na área do tapete. As 24 crianças sentaram-se em roda e eu
juntei-me a eles para uma conversa. Expliquei: Hoje vamos fazer uma atividade em que
vão ter que me dizer palavras que aprendemos na viagem pela Índia e vamos dividir as
palavras em sílabas. Mas também vão ter que explicar o que essas palavras querem dizer.
Acho que já aprenderam algumas palavras...Quem quer começar? A C.B. levantou o
dedo e disse: Podemos contar outra vez a história da Lili? Eu respondi: Claro que sim.
Levantei-me e fui até à área conhecida como ‘cantinho da cultura’ e trouxe o livro. Sentei-
me e iniciei a história. No final questionei: Vamos começar? A C.B. levantou novamente
o dedo e disse: ´Diwali´. Di-wa-li - disse batendo três palmas – tem três sílabas. E quer
dizer Diwali? Perguntei. Ela respondeu: É uma festa importante na Índia, toda a gente a
festeja. Quer dizer festival da luz. Respondi orgulhosa: Certo. Quem é o próximo? O T.R.
disse: Eu sei ´Ganesha´. É um G,A,N,E,S,H,A. Eu disse: Mas quantas sílabas tem? Ele
bateu três palmas, dizendo: Ga-ne-sha. São três sílabas ´Ganesha´. É uma menina, ela
tem cabeça de elefante e está sempre a ver-nos. Então ela é uma? Perguntei. O F.P. disse
rapidamente: É uma deusa da Índia. As pessoas rezam a ela. Eu disse: Muito bem. E
mais? A L.P. disse: ´Krishna´, mas não sei fazer em sílabas...A M.M. disse: Nós
ajudamos. Kri-shna. É assim? São duas? Respondi: Penso que sim. A M.M. disse:
Anexo 6 - Notas de campo
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Também é uma deusa e sei outro, é ́ Hanuman´. É Ha-nu-man, são três, este tinha cabeça
de macaco. Acenei positivamente com a cabeça. Eles são todos deuses, mas não sei os
outros, continuou. O F.P. adiantou: ´Rama´ é outro, Ra-ma. Este é muito fácil, são duas.
O grupo continuou a realizar a tarefa, quase autonomamente, necessitando da
minha interferência em raras ocasiões. O R. disse: Eu sei outra, é ´Taj Mahal´. Espera
Taj, Ma-hal, são três.Eu disse: Esta são duas palavras separadas: a primeira é Taj,
quantas sílabas são? O M.C. diz: são duas? Eu aceno negativamente com a cabeça. A C.
disse: É só uma – batendo uma palma – Taj. Eu disse: Certo. E a outra palavra é Mahal.
O V. disse: Ma – hal. São duas Ariana. O R. disse: Isso é um palácio gigante que o rei
construiu para a sua rainha, tu disseste e o teacher também disse no inglês. Eu disse:
Muito bem. E mais palavras, quem sabe? A M.J. diz: ´Namastê’ – enquanto executa a
ação, baixando a cabeça e juntando as mãos. Quer dizer que estamos a cumprimentar,
dizemos adeus às pessoas assim. Na-ma-ste tem três sílabas – diz batendo palmas. Eu
disse a sorrir: Estou a ver que vocês nem precisam de mim, nem da Vera. Ouviram-se
risos. O M.N. disse: Na Índia fala-se a língua ´hindi´, é a língua deles. São duas sílabas,
olha – diz batendo as mãos – Hin-di. A conversa acerca das palavras continuou e a M.S.
disse: Fizemos uma ‘kandil´ que é uma lanterna para pendurar na porta das casas e
‘rangoli’ que são pinturas no chão. Fazem isso no ´Diwali´. Eu questionei: E como se
divide em sílabas? A M.S. começou a bater palmas – Ran-go-li e Kan-dil. É assim?
Pisquei o olho e disse: Boa! Mais alguém? Durante algum tempo ninguém respondeu e
voltei a questionar: Já terminaram? De repente a L.C. disse: A roupa, chama-se´ Sari´,
são as meninas que vestem, é com cores e vai até aos pés. A M.J. diz rapidamente: A
minha avó tem lá em casa. A L.C. retoma e diz: Esta é bué fácil – bate as palmas – Sa-ri.
Agora acho que já não sabemos mais...Eu respondi: Mas sabem imensas coisas e mais
importante, sabem explicar o que são e já sabem dividir em sílabas sozinhos. Durante o
ano aprenderam imensas coisas, estão prontos para a sala dos 5 anos. Tive outra ideia.
Agora quem disse as palavras, pode ir escrevê-las no quadro de ardósia. Eu ajudo e
vocês também podem ajudar os vossos colegas. Pode ser? A resposta foi
maioritariamente positiva e assim se iniciou a atividade. A criança que tinha nomeado a
palavra ia até ao quadro e quando não conseguia baseado apenas na discriminação do
som, era ajudado por mim. Fui tirando fotografias e depois partilhei-as com os pais, via
correio eletrónico.
Anexo 6 - Notas de campo
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NC.40
Palavras-chave: Diversidade cultural; Reconhecimento de traços distintivos de
diferentes culturas;
Data: 17 de maio de 2017
Observador participante: Ariana Fonseca
Hora: 9h05
Local: Sala dos 4 anos – Entrada/área do tapete
A chegada à sala decorreu com grande agitação e pequenas conversas, quer entre
as mães/pais que vinham entregar as crianças com entre estes e a equipa de sala. As
crianças corriam para mim e para a Vera entusiasmadas, quer para mostrar as suas roupas,
quer para comentarem as nossas. Algumas mães conversavam. A mãe da M.M. disse:
Ainda bem que o dia chegou, ela passou dias e dias a falar disto, acordou às 6h da manhã
excitada e já não dormiu mais. A mãe do S. disse: O meu estava maluco com a roupa da
Índia. A mãe da M.S. disse: A minha estava farta de vestir a roupa e pintava-se toda e
fala na Índia e nas roupas e nas festas com luzes. A mãe do V. chega e cumprimenta
todas dizendo: Aí o V. está todo excitado porque hoje é o dia da Índia. Ó Ariana – disse
olhando para mim – está toda gira. Não vão os miúdos estar doidos com isto. Sorri e
disse: Se inventamos o dia, temos que nos vestir a rigor, afinal estamos todos na Índia.
Bem vamos começar as atividades, até logo.
Nesta altura chega a mãe da M.J.: Bom dia Ariana. Olhe isto é uma vergonha mas
não sabia por o lenço, mesmo depois de a minha mãe me ter explicado ao telefone. Tive
que ir ver à internet. A mãe da M.V. que tinha acabado de chegar reagiu: Olha eu fui ao
Martim Moniz comprar a roupa para a minha. Ariana olhe que ela diz que são vocês que
a pintam, não me deixou fazer nada. Eu respondi: Sim, sim, eu disse-lhes isso, tenho joias
de colar, lápis vermelho, lápis preto, tudo. Afinal temos que levar as coisas a sério.
Estamos a tentar retratar uma cultura. A Mãe da M.V. disse: Já lhe tinha dito, mas digo
outra vez. Você está a fazer um excelente trabalho com estes meninos. Eu vejo a M.C.
motivada, desejosa de vir para a escola e conta-me imensas coisas que aprende. Vê-se
que aprende mesmo factos sobre as culturas. A mãe da M.J. disse também: A minha
conta tudo e diz que sabe tudo. Eu respondi: Vocês têm crianças interessadas, assim é
mais fácil de ensinar – disse sorrindo. Agora tenho que ir, tenho um grupo de indianos
Anexo 6 - Notas de campo
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para orientar. Até logo. As mães despediram-se e continuaram a conversa entre elas,
através do corredor da escola.
Entrei para dentro da sala e juntei-me ao grupo que estava já no tapete com a Vera.
Neste momento batem à porta e entra o T.C. com o seu traje e carregando duas rosas. O
pai cumprimentou-nos alegremente: Bom dia. Vai lá dar filho – disse. O T.C. dirigiu-se
ao tapete e entregou-me uma rosa e outra à Vera. Olhou para nós com um grade sorriso a
aguardar uma resposta: Dissemos quase ao mesmo tempo – Obrigada! E demos-lhe um
abraço juntas. Disse ao pai: Muito obrigada, não era preciso, adorámos. A Vera
agradeceu igualmente. O pai respondeu: Vocês merecem tudo, isso é só um mimo. Vou
contar à mãe que gostaram. Eu disse: Não gostámos, adorámos! O pai respondeu: O
recado será dado, divirtam-se, até logo. Fechou a porta ao mesmo tempo que o T.C se
sentava junto do restante grupo.
A M.J. questionou: Vamos fazer o chapati? Eu respondi: Claro, a seguir vamos
pintar-vos, tirar fotografias juntos para mostrar aos pais e depois vamos fazer. Podemos
comer ao lanche. Mas primeiro vamos cumprimentar-nos á moda da Índia. Como é? Um,
dois, três…Todos juntaram as mãos e baixaram a cabeça dizendo em grupo: Namastê. A
M.J. disse também: Ariana tenho o sari na mala, posso ir buscar? Respondi: Já vais,
deixa só acabarmos de combinar o dia ok? Assim depois já podes explicar com calma. A
M.J. anuiu.
Num ambiente agitado e de grande entusiasmo, todos juntos conversaram e
planificaram o resto do dia de acordo com os interesses demonstrados pelo grupo.