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Ano VIII, n. 04 Abril/2012
A igreja miditica:
uma anlise da Igreja Universal do Reino de Deus on-line
Odlinari Ramon Nascimento da SILVA1
Resumo
O presente estudo traz tona o processo de midiatizao das igrejas evanglicas brasileiras
atentando para as mudanas no discurso religioso. A partir da anlise de um programa de
rdio, denominado Palavra Amiga, retransmitido pelo canal de TV do site Arca Universal,
IURDTV, observamos o uso macio dos meios de comunicao por uma instituio religiosa
que cresce surpreendentemente no pas. A Igreja Universal do Reino de Deus, atravs de seus
dispositivos comunicacionais, se mantm no topo das igrejas que mais usam os aparatos
tecnolgicos para divulgar e garantir seu espao numa sociedade do espetculo. Na anlise do
programa escolhido foi observado empiricamente o contedo dos discursos proferidos pelo
lder mximo da igreja, o bispo Edir Macedo. Alm de enfatizar a trajetria dessas novas
religiosidades miditicas com o objetivo de gerar um novo ambiente religioso no pas. Mais
atual e totalmente modificado por conta da utilizao dos variados meios comunicacionais.
Palavras-Chave: Midiatizao. Religiosidades. Espetculo.
Introduo
Na contemporaneidade, a realidade midiatizada e logo percebemos sua
transformao por conta da midiatizao. E nesse mundo miditico, as relaes da mdia com
outras esferas sociais, logo, tende a midiatizar as relaes com seus agentes.
O foco deste trabalho est baseado na midiatizao da religio, especialmente na
utilidade dos meios de comunicao por parte das igrejas evanglicas, considerando o maior
exemplo desse uso, a igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
interessante constatar que no caso da IURD, j no encontramos mais um grande
lder que use um determinado meio para pregar aos seus fiis. O grande lder fundador dessa
igreja, bispo Edir Macedo, a muito no faz aparies televisivas. Em contrapartida, utiliza-se
1 Graduado em Comunicao Social, habilitao Rdio e TV, pela UFPB.
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muito do rdio e agora da internet com um canal 24 horas no ar. Contudo o uso da televiso
por parte da IURD bastante amplo.
O motivo que me levou a estudar esse fenmeno foi o meu interesse em
analisar/compreender o processo de midiatizao das igrejas evanglicas.
A concepo dessas religiosidades que olham o mundo miditico apenas como
dispositivo tecnolgico, debaixo de suas alegaes de que no podem cumprir o Ide do
Senhor Jesus para evangelizar sem que haja o auxlio dos modernos meios de comunicao,
tm preocupado vrios pesquisadores em Comunicao em todo o pas.
Esta pesquisa, alm de somar a uma srie de estudos j realizados no Brasil por
professores, estudantes e interessados no assunto, faz sentido pelo motivo da forte ligao
cotidiana, simblica e imaginria do fenmeno religio e mdia.
Entender como a midiatizao, enquanto processo transformador com o objetivo de
gerar um novo ambiente do ser e estar, vem transformando as igrejas evanglicas que
fazem parte de um campo religioso que se articula com o campo comunicacional.
Estudar a midiatizao das igrejas evanglicas contribuir na construo do alicerce
de um projeto que j vem requerendo muito esforo e cuidado por parte de seus pesquisadores
e essa contribuio a fim de construirmos uma rea de estudo mais consolidada, se configura
na justificativa desta pesquisa, enquanto trabalho de concluso de curso de graduao na rea
da Comunicao Social.
Esse estudo, por fim, tende refletir sobre a relao, cada vez mais intrnseca, entre
mdia e religio e o crescimento dessas novas religiosidades miditicas no Brasil, com olhares
voltados ao fenmeno iurdiano.
1 Noo de campos sociais e suas interaes
Compreender as funcionalidades e as interaes dos Campos Sociais, os quais formam
a sociedade e a define como um grande conjunto estruturado em pequenos universos, nos leva
a citarmos alguns autores que, com o mesmo intuito de estudar o fenmeno da midiatizao
da sociedade, debruaram-se sobre a definio de Campo.
Cabe aqui, recorrermos ao socilogo francs, Pierre Bourdieu, que nos transmite o
conceito de Campos Sociais a partir de uma inspirao nos mbiles de Calder (1898-1976)
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com o objetivo de visualizar a sociedade por meio de pequenos universos que se articulam
entre si. Loyola (2002) entrevistou Bourdieu e registrou onde o socilogo foi buscar a
definio para Campos Sociais:
Pierre Bourdieu se inspirou nos mbiles de Calder para visualizar a
sociedade na formao de pequenos universos que balanavam uns em
relao aos outros, representando assim os campos sociais onde a sociedade
se forma em um conjunto de espaos de jogos relativamente autnomos no
subordinando-se a uma lgica social nica. Assim as peas do mbile
poderiam constituir vrios campos especficos como os: econmico, poltico,
religioso, miditico, jurdico, da sade, etc. Nesses campos estruturam-se
foras objetivas que formam uma configurao relacional, dotada de uma
fora gravitacional prpria, capaz de impor sua lgica a todos os agentes que
nele penetram. (LOYOLA, 2002, p. 67)
Para desenvolver suas reflexes acerca do tema, Lus Mauro S Martino, no livro
Mdia e poder simblico, definiu objetivamente a noo de Campo j desenvolvida por
Bourdieu:
A noo de campo pode ser entendida como espao estruturado de
posies, ocupadas por agentes em competio (pessoas ou instituies),
cuja lgica de funcionamento independe desses agentes. Dessa forma, o
campo se define primeiramente como espao, lugar abstrato, onde age o
pessoal especializado no jogo pela conquista da hegemonia, prerrogativa de
determinar as prticas legtimas em cada campo. (MARTINO, 2003, p. 32)
Notamos que ao se definir como espao social, cada campo j produz seu prprio tipo
de relao social, ou seja, cada escola ou igreja, por exemplo, enquanto espao social
produzir conseqentemente sua prpria relao social que, na verdade, se apresenta sob
vrios interesses de seus agentes: espao geogrfico, profisso, classe social, grau de
instruo e outros. Cada campo social possui suas processualidades.
O campo social pressupe uma disputa ou conflito em torno de uma
experincia, fazendo com que tenha o domnio de determinada rea, que
superintende e conduz autonomamente. Cada campo social dotado de sua
prpria processualidade ritualstica e visibilidade simblica. (SAPPER,
2003, p. 2)
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No caso especfico de uma igreja, os LDERES RELIGIOSOS (conhecimento e
respeito) e os FIIS em geral (consumo esperado) so espaos sociais que independem da
pessoa que ocupa essa posio.
Bourdieu chama esses espaos determinados de CAMPO, segundo Martino (2003):
A gnese e estrutura das prticas sociais constituem a maior parte das
preocupaes doutrinrias de Pierre Bourdieu (Choses dites). Procurando
superar tanto as concepes subjetivistas quanto objetivistas da ao social,
o autor francs identifica a ao social nas relaes entre estruturas
incorporadas de ao, denominada por ele de habitus, e as estruturas
objetivas regras de ao, educao formal, gostos, relaes de produo e
concorrncia de cada espao social, os campos. (MARTINO, 2003, p. 12)
Tentar compreender as anlises de Bourdieu sobre campo sem refletir respeito do
que ele mesmo chama de habitus correr um grande risco de m interpretao processual,
pois para o autor, a existncia pr-estabelecida desse ltimo garante o funcionamento dos
espaos sociais que formam a sociedade.
Ao indicar que a noo de interao na ao social (Weber) em grande
parte condicionada por elementos preexistentes dentro de uma sociedade,
anteriores ao sujeito (Durkheim), por sua vez estruturadas de acordo com a
posio em um sistema de classes (Marx), fica patente a originalidade da
sntese de Pierre Bourdieu para a explicao da ao e da cognio pelos
agentes sociais. (MARTINO, 2003, p. 77)
Ao nascer, o indivduo j encontra estabelecidas todas as lies que norteiam a vida
prtica social, que, na verdade, regem as aes sociais de carter moral, econmico,
educacional, poltico, religioso, etc. Com seu aprendizado obtido por meio de relaes com
outros indivduos, este novo homem acaba interiorizando sua maneira de agir corretamente.
Essa habituao apreendida em aes sociais do presente acaba se tornando
corriqueira em semelhantes aes do futuro, numa espcie, de que quem aprendeu, aprendeu
para o resto da vida inteira.
As tradies religiosas transmitidas de pai para filho so exemplos fceis que podemos
utilizar para a nossa compreenso de habitus, enquanto um princpio estruturador de aes,
percepes e comportamentos.
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No nvel dos exemplos, Martino (2003:75) traz que a postura corporal, a linguagem, as
capacidades de aprendizado e at o gosto esttico do indivduo so gerados pelo habitus,
elemento responsvel pelo reconhecimento do mundo social. Tomamos at a ousadia em
definir esse habitus como responsvel pela formao dos elementos que geram o
conhecimento scio-cognitivo do indivduo.
Pesquisadores da rea de comunicao trazem algumas anlises sobre o referido
assunto. Para Ricardo Fiegenbaum (2006:1), o processo de racionalizao e fragmentao dos
diversos domnios da experincia, ou seja, o processo de secularizao ou desencantamento
do mundo, resultou no que chamamos de Campos Sociais, e por sua vez, o desenvolvimento
das novas tecnologias de informao e comunicao trouxe novas formas de interao social
no tempo e no espao fazendo surgir o campo das mdias, ou melhor, como chamamos nesse
trabalho, de campo miditico.
A ao dentro de cada espao social, por parte dos agentes j especializados no jogo,
gera um conflito de campos com o objetivo de adquirir legitimidade e conquistar a hegemonia
na esfera pblica. com essa ao que o campo miditico, o centralizador das interaes,
interage com os demais espaos, inclusive com aquele do qual estamos tratando nesta
pesquisa, o religioso.
Podemos ressaltar algumas funes na mediao do campo miditico ao promover a
interao dos demais campos sociais, das quais as principais so a de organizao da
sociedade, de articulao dos outros campos sociais entre si e de exposio dos campos
sociais na esfera pblica, ou seja, o campo miditico possui um papel central, trazendo para a
esfera pblica os demais campos sociais e organizando a interao entre eles, para enfim,
gerar uma nova racionalidade ou uma nova ambincia.
A varivel da religio entra como parte ativa de uma economia simblica
responsvel por diversas aes cotidianas, na qual os meios de comunicao
funcionam como elemento central. A religio considerada um conjunto
simblico distribudo via mdia, assim como qualquer outro faz o mesmo uso
do espao da imprensa para disputar a hegemonia na sociedade civil. O que
se tem, enfim, a busca, por parte das instituies, de legitimao perante a
sociedade, a fim de divulgar suas ideologias. (MARTINO, 2003, p. 9 e 11)
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Os agentes atuantes dentro de um campo so os indivduos e as instituies que lutam
o tempo todo pelo monoplio legtimo das prerrogativas da esfera pblica valendo-se de
artifcios para alcanar seus objetivos. J que os campos esto em total conexo entre si.
Essa busca pela hegemonia em todos os campos faz com que os agentes em disputa
sejam atacados indistintamente enquanto participantes de uma rede. E logo percebemos que
essa interao define-se numa articulao de conflitos.
Por conseqncia da dinmica das relaes no espao social religioso, ao qual suas
instituies pertencem, percebemos uma renovao ou busca pelo reconhecimento atravs de
cada participante numa espcie de voz corrente da instituio. Por isso, faz-se necessrio a
aplicao legal de reconhecimento legtimo e imediato perante a sociedade e por essa
aplicao imediata, que as instituies recorrem aos meios de comunicao como
potenciadores de canais ideolgicos institucionais.
A compreenso dessa interao miditica com o religioso leva aos estudiosos em
Comunicao dedicarem seu tempo no estudo do fenmeno que cresce surpreendentemente
no Brasil, com a imerso exacerbada de todas as religiosidades no uso dos meios de
comunicao.
2 Midiatizao da sociedade
No captulo anterior procuramos explicitar, a partir de todos os campos sociais de
Bourdieu, o funcionamento das estruturas que regem a sociedade e percebemos a importncia
do campo miditico, por estar no centro dessa estrutura legitimando e interagindo com as
prprias interaes/processos dos demais campos sociais. Neste captulo faremos uma
reflexo, do ponto vista da comunicao, acerca da midiatizao das esferas sociais.
Temos a conscincia de que definir a midiatizao da sociedade a partir de um ponto
de vista comunicacional analisar o processo de forma perifrica, assim como tambm
escolher e analisar um dos campos sociais j citados acima.
Segundo Ferreira (2006) a reflexo geral da midiatizao leva necessariamente o
pesquisador a percorrer sobre os conceitos de indivduo, sujeito, ator, agente, sociedade,
instituio, interaes, mercados, valores, condutas, subjetividade, cognio, inconsciente,
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conscincia, ideologia, estrutura, linguagem e etc. uma gama terica to vasta quanto
complexa sua anlise.
Ferreira (2006) ainda adverte o comuniclogo sobre a dificuldade que a ida s fontes
durante esse movimento terico provoca e isso pode acarretar, muitas vezes, em
aprisionamento aos problemas tpicos produzidos em outros campos e disciplinas acadmicas,
onde milhares de investigadores se dedicam aos sofisticados debates de diferenciao dos
conhecimentos relativos aos objetos por eles constitudos.
Por uma relao complexa, a midiatizao para Fiegenbaum (2006:6) de difcil
conceituao. Contudo, o termo j designa um aspecto fundamental das mudanas sociais
resultadas da sociedade contempornea. E mais do que isso, tem nos meios de comunicao o
principal vetor de interferncia nessas mudanas sociais.
Por isso faz-se necessrio analisar a midiatizao do campo religioso especificamente,
mas antes, refletir sobre as interaes particulares do campo que compe atualmente o centro
da estrutura social. Nesse sentido, o esforo terico sobre a midiatizao requisita um
conjunto conceitual prprio do campo acadmico da comunicao, ou seja, algo em ao
atravs das mdias.
Sabemos tambm que nem sempre o mundo se apresentou dessa maneira. Com o
decorrer dos anos, a tecnologia e a cincia proporcionaram novas formas de conhecimento e
os meios de comunicao dos quais conhecemos hoje, so frutos desse desenvolvimento
tecnolgico da humanidade.
Vale salientar que a partir do advento da secularizao e da emergncia da
modernidade, a religio, por exemplo, perdeu o lugar central que ocupava no mundo,
tornando-se uma espcie de acessrio, uma presena perifrica, mais um campo na
complexidade de campos sociais, desnecessrio para a compreenso e explicao do mundo e
da vida em sociedade. E nisso a tecnologia teve uma importante contribuio.
O conceito no unvoco, desdobrando-se em duas dimenses:
desencantamento do mundo pela religio e pela cincia. A primeira remete
ao processo de desmagificao procedida pela religio tica, cujo incio
remonta aos profetas pr-exlicos israelitas, tendo alcanado o seu pice com
o protestantismo asctico racionalizado; a segunda se deu pelo
desenvolvimento da cincia, do clculo e da tecnologia, que relegaram a
religio ao mbito do irracional e a destituram de sua proeminncia na vida
social. (PIERUCCI, 2001, apud, OLIVEIRA, 2009, p. 46)
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Segundo Flores e Barichello (2009), a tecnologia tomada no apenas como
instrumento, mas como fator modificador dos processos e ambientes sociais, bem como
potencializador de novas formas de atuao.
As transformaes sociais advinda do desenvolvimento tecnolgico no esto
relacionadas apenas a uma sucesso de inventos e sim, a capacidade estimulada pela
necessidade humana em completar-se enquanto indivduo no fazer social.
A cada nova tecnologia que se instaura na sociedade esto embutidas novas
possibilidades de sentido e de controle do natural e do social pelo homem. E
cada vez que o uso de uma nova tecnologia incorporado na atividade
humana tende a ser um uso socializado (FLORES e BARICHELLO, 2009,
pg. 04).
Tais modificaes no surgem na sociedade por meros determinismos tecnolgicos,
mas se estabelecem enquanto parte de um modelo cultural. Peruzzolo2 (2006 apud FLORES;
BARICHELLO, 2009, p.3) numa nova cultura marcada pela tecnologia e pelo miditico
apenas para se estabelecer na sociedade por se constituir em resposta s necessidades e
anseios dos indivduos e que, por isso, acabam sendo fixadas como formas privilegiadas de
relao.
Segundo Christa Berge (2007), enquanto os tericos da cultura de massa pensam os
meios como transportadores de sentido, de mensagens de interao entre produtores e
receptores, a cultura miditica no instrumental, mas constitutiva da estrutura social.
Mais de que uma tecno-interao, est surgindo um novo modo de ser no mundo,
representado pela midiatizao da sociedade. E essa midiatizao, segundo Gomes (2008:21),
a reconfigurao de uma ecologia comunicacional.
Mas afinal, o que Midiatizao?
Processo pelo qual a mdia fica localizada no centro da sociedade
expandindo suas lgicas para os demais campos sociais (FLORES e
BARICHELO, 2009, p. 6).
2 PERUZZOLO, Adair Caetano. A Comunicao como encontro. Bauru: Edusc, 2006.
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Para Chista Berge (2007), a sociedade contempornea uma sociedade midiatizada,
ou seja, uma sociedade em que a mdia formata e modela os demais campos sociais.
Os mecanismos e regras prprios do fazer miditico no ficam mais restritos aos
meios de comunicao, mas configuram a atuao de outros atores sociais. Dessa forma, a
midiatizao pode ser considerada como prtica social, pois reconfigura a atuao dos demais
campos sociais.
medida que vai ocupando um lugar central na constituio da sociedade da
informao, o campo das mdias vai no s mediando os demais campos sociais como
tambm se autonomiza, mostrando, apresentando, objetivando o mundo e os indivduos dos
outros campos sociais a partir de si.
Braga3 (2006 apud FLORES; BARICHELLO, 2009, p.3) considera a midiatizao
como processo de interao que caminha para o lugar de referncia na sociedade, porm no
sendo ainda um processo estabelecido ou terminado, mas em implantao.
Ao construir a realidade, essas maneiras de interao atravessadas pelas lgicas
miditicas vo acarretar a organizao de um ambiente igualmente midiatizado, um novo bios
ou uma nova ambincia, defendida por Sodr4. Com a midiatizao da sociedade, foi
implantado um novo modo de pensar e estruturar a sociedade atravs da tecno-interao
tecnologia um novo bios.
De acordo com esse ponto de vista, a mdia uma nova qualificao da vida. Como
uma nova ambincia, a mdia encena uma nova ordem moral objetiva em consentimento com
o conjunto de mudanas cognitivas e morais necessrias lgica do consumo.
J as novas religiosidades, de acordo com Fiegenbaum (2006), so um produto gerado
por essa nova ambincia miditica, ou seja, elas j so um produto miditico, no sentido em
que se apresentam como religiosidades que emergem da mdia.
Segundo Fausto Neto (2006: 04), estamos diante de uma nova forma de organizao
e produo social, onde o capital j no estaria mais apenas a servio das estruturas, mas dos
fluxos e das informaes.
3 BRAGA, Jos Luiz. A sociedade enfrenta sua mdia: dispositivos sociais de crtica miditica. So Paulo: Paulus,
2006. 4 SODR, Muniz. Antropolgica do espelho. Por uma teoria da comunicao linear e em rede. Petrpolis/RJ:
Vozes, 2002.
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Ao pensarmos na midiatizao da sociedade e nas novas tecnologias de informao
estamos tentados a fixar o nosso olhar nas caractersticas tcnicas dos aparatos e deixarmos de
lado a relao desse novo ambiente com o fazer humano.
Estamos vivendo os benefcios e malefcios da chamada cultura miditica, j que a
midiatizao se tornou intrnseca a realidade.
A midiatizao da realidade to forte nos dias atuais que se os processos sociais no
forem midiatizados sua verdadeira existncia fica posta em xeque.
Agora como se o mundo vivesse numa total transparncia de ser, ou seja, a realidade
agora totalmente midiatizada, pois o jornalismo alm de informar, deve corresponder ao
fluxo ininterrupto de informaes, com a ideologia de mostrar tudo.
Para entendermos melhor o fenmeno da midiatizao, vlido citar o exemplo do
campo jornalstico, pois este possui maior visibilidade na esfera social por questes de sua
interao com o campo miditico. A ideia de mostrar a realidade do jeito que ela , por meio
de um jornalista isento e independente do fato em questo, que representa essa realidade ao
utilizar um espelho social derrubada por uma srie de fatores que intervm na escolha de
determinado fato que se torna midiatizado: O primeiro fator que cada agente social j possui
seu prprio conhecimento de mundo adquirido por meio dos habitus e que interfere
fortemente nessa representao; o segundo refere-se ao escolher o fato para midiatiz-lo, pois
como Martino (2003:93) cita a observao que Walter Lipmann fez em A natureza da notcia
atravs de um estudo sobre os meios de comunicao de massa, ainda que trabalhassem
todas as horas do dia, todos os reprteres do mundo no poderiam presenciar todos os
acontecimentos mundiais.
Toda essa midiatizao refere-se visibilidade do que invisvel na sociedade. Assim
como explica Dom Cludio Hummes, ao se referir ao marketing religioso na revista
marketing catlico, diz que:
O marketing uma forma de dar visibilidade ao que se quer propor ao
pblico. Deus que invisvel, quis tornar-se visvel no meio de ns (...). A
igreja no pode ser invisvel. (...). Tudo confirma que a visibilidade
caracterstica essencial da igreja nesse mundo.
O marketing aplicado aos assuntos da igreja ajuda a faz-la mais visvel na
sociedade de hoje. O termo marketing profano, pois fala de mercado, de
como vender melhor seu produto. Ao contrrio, Deus oferece a salvao
gratuitamente.
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Por essa razo, preciso explicar bem a expresso marketing, no caso de
assuntos da igreja, no se trata de vender mas de tornar visvel (HUMMES,
apud OLIVEIRA, 2009, p. 43)
Aqui entramos no sentido de produo do capital simblico promovido pelas
instituies religiosas e por isso, cabe-nos entender como a igreja sobrevive e legitima seus
servios numa sociedade miditica.
3 Midiatizao do campo religioso
Inicio este captulo com uma citao de Fausto Neto (2004), para mostrar o
crescimento da igreja miditica, no nosso caso a IURD, no incentivo ao uso dos meios de
comunicao, com o objetivo de formar um imprio comunicacional servio dos assuntos da
prpria instituio, 24 horas por dia.
Edir Macedo, autor de mais de 22 livros, controla duas redes de TV, uma
rede de rdio, o jornal Folha Universal com tiragem superior um milho de
exemplares dirios, uma revista mensal, o portal Arca Universal, duas
grficas, editora, empresa de processamento de dados, construtora, agncia
de viagens, gravadora de disco, alm de associaes de negcios na rea da
informtica e na poltica nacional. (FAUSTO NETO, 2004, p. 146)
Passados sete anos de massificao ideolgica institucional, a igreja chefiada pelo
bispo Edir Macedo s fez aumentar esse patrimnio miditico. A IURD se constitui na maior
instituio religiosa do pas em questo de mbito comunicacional. Atualmente, na mdia
televisiva existem 22 emissoras geradoras da Igreja Universal em contrapartida das 7
emissoras evanglicas de diversas denominaes.
Mas para entendermos o porqu que os lderes evanglicos se interessam tanto por
mdia, precisamos compreender como se deu e como funcionam as articulaes do campo
religioso numa sociedade midiatizada.
Cada igreja possui seus determinados dispositivos miditicos para atrair cada vez mais
seus fiis de acordo com sua especfica necessidade de manuteno. Mas existe uma lgica no
uso dos meios de comunicao por parte do campo religioso, de que essa utilizao miditica
se faz necessria por motivos de expanso e facilidades em pregar o Evangelho de Cristo de
forma massificada. E agora com o surgimento das novas mdias, a igreja no s utiliza para
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pregar a Palavra como tambm para manter fiel s instituies, queles que tm simpatia em
relao aos ideais de uma igreja evanglica.
Do ponto de vista histrico, existem distines entre igrejas tradicionais e
igrejas emergentes, o que tambm estabelece referenciais diferentes de
prtica e culto. As primeiras, representadas pelo catolicismo e
protestantismo, sempre fizeram uso dos meios de comunicao de massa
como instrumentos condutores de suas mensagens; j as novas igrejas,
nascem geneticamente produzidas pela mdia, particularmente a televiso
este seu habitat. O que significa que estas correspondem ao bios miditico,
enquanto que as primeiras precisam assimilar esta tendncia para
sobreviverem num contexto de competio e de constante inovao
tecnolgica. Ou seja, a relevncia religiosa supe o domnio da lgica
miditica. (OLIVEIRA, 2009, p. 42)
O campo religioso se apropria das novas configuraes do espao miditico para
legitimar e atualizar a existncia das velhas igrejas, ou melhor, das igrejas tradicionais,
com o objetivo de reconfigurar o mercado religioso.
Em contrapartida ao que afirma o lder evanglico Fernandes de Oliveira (2009),
Martino (2003:48), ao citar Cndido Camargo, o primeiro socilogo brasileiro a estudar o
fenmeno, diz que as religies tradicionais parecem ter uma capacidade maior do que as
novas denominaes/religiosidades, sendo a tradio um instrumento fundamental para o
processo de modernizao de mentalidades.
No se concentrando em adaptaes por parte de corrente A ou B no campo miditico,
percebemos, e isso fundamental para nossa reflexo, que o mercado religioso brasileiro est
apresentando mudanas de relaes de mbito religioso e agora mercadolgico. J que a
utilizao em larga escala dos meios de comunicao est longe de ser apenas um meio de
divulgao, passa a ser a principal arma nessa batalha simblica pelos fiis.
O xito das religies miditicas colaborou para a expanso do mercado religioso, e
confirma, portanto, a relevncia da religio no somente na sua dimenso sobrenatural, mas
tambm como promotora de sentido para a existncia e como instrumento provedor de
solues para as mazelas da vida cotidiana, inclusive as de natureza material.
Mesmo com esse mercado em ascenso no pas, ainda existem pessoas, inclusive
pesquisadores, que no do a importncia mnima ao fenmeno religioso no Brasil.
Reconheo que com o processo de secularizao da sociedade (cincia e tecnologia) o campo
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religioso tornou-se cada vez mais desintegrado, perdendo espao no que tange s
determinaes da vida social. A cincia e os avanos tecnolgicos comearam a confrontar do
ponto de vista do indivduo, o dogma (o dito sagrado) das instituies.
Mas tomo aqui a ousadia de fazer trs perguntas bsicas com o objetivo de que os
mais cticos reflitam sobre a importncia do crescimento do campo religioso na mdia: (1)
Como possvel algo que est desaparecendo ter tanta fora? (2) Se a religio pouco importa
na vida cotidiana, o que fazem milhares de pessoas nos templos das mais diversas seitas
religiosas? E por fim, como se formam bancadas evanglicas nas cmaras legislativas,
interferindo ativamente no cenrio poltico, costurando alianas e indicando candidatos?
Desde o sculo passado, Max Weber 5proclamava que seria impossvel, mesmo com a
secularizao da sociedade, atravs do pensamento racional e da modernidade, o mundo viver
desprovido de crenas, ou melhor, de religiosidades. E um sculo depois, percebemos a
coerncia da concepo de Weber ao tratar da dominao do campo religioso na sociedade.
possvel perceber o acirramento prtico dos conflitos de campo e suas
conflitualidades internas, defendidas h anos por Bordieu, quando pensou numa sociedade
estruturada em universos que brigam para existir, ou melhor, para serem notados. O
pensamento bourdiano reflete sobre a ideia de que o campo religioso tem por funo
satisfazer um tipo de interesse, se fazendo tambm um campo de luta para justificar a ao de
uma classe.
Ao alocar os complexos mecanismos dos meios de comunicao para
estabelecer e manter sua posio dentro do campo religioso, ao mesmo
tempo que procura expandir-se em outras instncias, as instituies adaptam
suas estratgias de representao s exigncias da modernidade.
(MARTINO, 2003, p. 56)
A pluralidade de instituies religiosas gera uma disputa cada vez mais acirrada pelos
fiis e isso ns percebemos bem, no interesse que cada instituio religiosa mantm com os
meios de comunicao, com o objetivo de resgatar o fiel dentro de sua prpria casa.
Esse resgate refere-se a dois nveis de pertencimento instituio por parte dos fiis: o
primeiro nvel trata-se da busca pelo novo; aquele que resgatado para se tornar proslito de
5 WEBER, Max. Textos selecionados. Os pensadores. So Paulo: Abril, 1980.
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determinada igreja, enquanto o segundo, refere-se manuteno desse fiel, j resgatado, e s
estratgias de luta com o objetivo de no permitir que ele parta para a concorrncia.
Quando os indivduos nascem, encontram j feitas as regras para a prtica de sua vida
religiosa e basta isso, segundo Martino (2003:24), para que a violncia simblica promovida
pelas instituies entre em ao. Para garantir essas estratgias de luta interna, os dispositivos
miditicos possuem relevncia, pois a noo do certo-errado est presente em todos os
veculos religiosos. Ou o indivduo aceita as imposies de determinada instituio ou ele vai
procurar outra, mas nunca vai deixar de ser influenciado institucionalmente. Porque a
instituio existe independentemente de um indivduo apreci-la ou no.
O poder de um indivduo diante de uma instituio zero. Sem significar
exclusivamente violncia fsica, o poder coercitivo da instituio sempre
uma violncia, sob qualquer forma de manifestao, pois condiciona o
indivduo a um comportamento que segue os padres de expectativa do
grupo. (MARTINO, 2003, p. 23)
O que se v hoje, verdadeiramente, so acirradas disputas denominacionais no cenrio
religioso. Cada igreja preocupa-se com seu rebanho e quanto mais ela usar das emoes
para comover o fiel e promover o servio institucional por meio da mdia, estar legitimando
os discursos religiosos de seus lderes eclesisticos, por exemplo, como observa Patriota:
Os discursos so alicerados sobre temas pessoais e figuras pblicas.
Histrias sensacionalistas de vida so expostas nos meios de comunicao, o
que acaba por reforar o culto ao personalismo, afinal, os lderes religiosos
que ocupam os horrios dos mass media, tm seus discursos religiosos
legitimados pela mdia, mesmo que haja uma notvel adequao
mercadolgica em seus contedos.
Essas e outras caractersticas peculiares promoveram e sustentaram a
transformao de diversas igrejas, classificadas como crists, em grandes
indstrias de comunicao, na medida que tais instituies adquirem ou
montam grandes conglomerados comunicacionais. Tais igrejas apresentam
objetivos comerciais bem definidos, com metas a serem atingidas que
passam pelo acrscimo na margem dos lucros, pela maior participao de
mercado at a abertura de novas frentes, com maior coberturas geogrficas.
(PATRIOTA, 2007, p. 2)
Ano VIII, n. 04 Abril/2012
3.1 A relao entre mdia e religio
O fenmeno da relao das igrejas com o campo social da mdia no recente, apesar
de obter enorme expressividade nas dcadas do sculo XX, segundo Gomes (2010).
Os metodistas foram os primeiros a tentar adequar o Protestantismo s necessidades de
uma massa urbana, que vivia sobre o impacto de uma revoluo industrial inglesa.
O precursor John Wesley, no sculo XVIII, costumava, junto com os metodistas,
pregar em mina de carvo, em cima de caixotes nos mercados pblicos, inclusive em
cemitrios. Eles saam pregando pelas ruas da cidade, com o intuito de conseguir mais fiis
para a congregao.
Nos Estados Unidos a radiodifuso religiosa comeou em janeiro de 1921, quando o
servio vespertino da Igreja Episcopal do Calvrio, em Pittsburgh, foi transmitido pela
primeira estao comercial da Amrica, a KDKA, surgindo o que chamamos de fenmeno da
midiatizao da religio.
J na Inglaterra, o Reverendo J. A. Mayo, no natal de 1922, utilizou-se da estrutura da
BBC. Pouco depois, John Reith, primeiro diretor geral da BBC, convida os pastores para
participarem da formulao da poltica religiosa da BBC.
Segundo dados de uma pesquisa desenvolvida por William Biernatzki6, (1991 apud
GOMES, 2010, p. 49) os pases lderes, no incio da era do rdio, em matria de receptores,
at 1930, foram os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido. Frana, Itlia, Holanda e
Dinamarca tambm possuam altas porcentagens de receptores para as suas populaes.
A velocidade com que o tele-evangelismo ampliou o uso da televiso foi
impressionante, mas provavelmente no excedeu a velocidade com a qual os pregadores de
uma gerao anterior fizeram do rdio. A primeira rdio comercial comeou em 1920, e, em
janeiro de 1925, 63 de 600 estaes em operao nos EUA disseram pertencer a igrejas ou
grupos religiosos.
Mas foi o pentecostalismo americano na chamada poca do Reavivamento Religioso,
na dcada de 40, com o pastor Billy Graham, um dos grandes religiosos americanos pioneiros
do rdio e da televiso, que impulsionou os tele-evangelistas a buscarem o dispositivo
6 BIERNATZKI, William E. Boletim. Communication Research Trends, vol. 11, n. 1, pp. 2-5, 1991.
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televisivo para alcanar o maior nmero de fiis. Graham pertenceu ao que Gomes (2010)
chama de Primeira Onda Miditica.
H 30 anos, as velhas igrejas se estruturavam e pensavam suas estratgias de
evangelizao atravs de sermes evangelsticos, cultos realizados fora do templo,
normalmente nas residncias dos fiis e nas visitas porta a porta.
Na primeira dcada do sculo XXI, surgem as igrejas miditicas e as novas igrejas
terapeutas que configuraram um novo espao para o ambiente social e religioso do pas.
Essa nova articulao do campo religioso com a cultura miditica reconfigura um
novo mtodo e habitat do plano simblico da igreja. Fausto Neto (2004) afirma que essas
apropriaes da religio no campo miditico so:
Configuraes que se reportam s novas articulaes dos campos sociais,
circunstncias em que o campo religioso apropria-se da cultura e dos
processos miditicos no s para atualizar a existncia dos velhos templos,
mas tambm para construir sua presena em novos processos de disputas de
sentidos. Tal apropriao visa a reconfigurao do mercado religioso; a
prtica de captura dos fiis, especificamente, a apresentao da religio no
como um fenmeno abstrato, e/ou doutrinrio, mas como um servio de
atendimento s demandas fsicas e mentais segundo o regime do aqui e
agora. (FAUSTO NETO, 2004, pg.142).
As igrejas neopentecostais so caracterizadas por elementos discursivos, modificados
pela midiatizao, e por ter grande apelo popular, como por exemplo, a cura, a busca pela
prosperidade material, o equilbrio psicolgico diante dos problemas de cada indivduo, os
sermes advindos sempre do lder da igreja e a confisso positiva.
Podemos perceber que a relao entre mdia e religio to intrnseca, que notamos ao
longo da histria o sucesso dos tele-evangelistas, principalmente americanos e hoje
brasileiros, devido ao aparato dos recursos tecnolgicos e os dispositivos miditicos. Essas
ferramentas proporcionaram o prprio crescimento da credibilidade desses pastores perante
o pblico.
Agora para entendermos todo o processo enquadrado na expresso mdia e religio,
como afirma Martino (2003) ao citar mais uma vez Boudieu e seu livro Meditaes
pascalianas, no basta compreendermos as formas simblicas de tipo religioso nem sequer a
estrutura imanente da mensagem religiosa ou do corpus mitolgico, como os estruturalistas,
mas na verdade, trata-se de observar os produtores da mensagem religiosa, os interesses
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especficos que a animam e as estratgias que empregam na luta. Essa anlise, por fim, trata-
se de meu objeto de estudo que a anlise dos discursos produzidos e manipulados pelos
lderes da Igreja Universal num programa de rdio. Esta anlise est voltada aos discursos do
bispo Macedo no programa dirio Palavra Amiga da rdio 99,3 FM em So Paulo e
retransmitido pelo mais novo canal da igreja, o IURDTV.
Essas estratgias que animam os interesses dos produtores religiosos e enchem os
olhos do pblico fiel esto atreladas a uma teatralizao do campo religioso, ou melhor, da
liturgia dos novos templos miditicos. Por isso, abro um parnteses para explicitar melhor
essa questo, antes de chegarmos a prpria anlise dos discursos, modificados pela
espetacularizao, desses lderes religiosos, e dedico um nico captulo ao espetculo do
sagrado.
4 A religio do espetculo
Este captulo objetiva fazer uma contextualizao do cenrio religioso brasileiro na
sociedade do espetculo. Para isso, consideremos a reflexo empreendida pelo pensador
francs Guy Debord, em seu livro A Sociedade do Espetculo, em 1967, atravs de 221
pequenas teses, como de suma importncia para apreendermos o fenmeno religioso atual, j
que a obra de Debord instaura uma nova forma de pensar o conceito de espetculo.
Vale recorrer a Patriota (2007) que define espetculo a partir da prpria significao
da palavra.
Spetaculum, cuja raiz semntica (latina) de espetculo, tem como sentido e
essncia, tudo que atrai e prende o olhar e a ateno. Ou, como Gomes
(2003) explana: specto (spectare) como olhar, ver, considerar, observar;
spectalum como o que se d a ver, o aspecto, o espetculo; spectatio
(spectationis) como o ato de olhar, o defrute visual, a viso de algo; e o
spectator (spectatoris) como quem v, o observador, o espectador. Ou
ainda de acordo com o dicionrio, espetculo tambm definido como
perspectiva; contemplao; representao teatral; diverso pblica em
circos; cena ridcula, escndalo. (PATRIOTA, 2007, p. 3)
Detentora de vrias significaes pode-se estabelecer o olhar e o observar como ponto
comum nessa primeira definio gramatical para o fenmeno espetculo.
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A IURD, por exemplo, traz consigo todas as caractersticas fundamentais das
novas religiosidades surgidas como produto miditico. Essas religiosidades
operam sob a lgica do contato ou contgio, isto , uma economia do
contato que enseja a seus praticantes no apenas muita coisa para escutar,
mas algo a mais para olhar, tocar e sentir (Fausto Neto, 2004, p. 60).
Da o porqu que as novas religiosidades preferem a televiso, enquanto meio
massificador, no sentido de contgio; para que o que acontea no interior dos templos
ganhe visibilidade, alm de ser apreciado por um auditrio de fiis, resultando dessa
maneira em caractersticas imagticas.
Debord no utilizou em sua obra dos sinnimos estabelecidos acima, mas deixa bem
claro no contexto geral o que real e o que representado, ou melhor, espetacularizado. Para
ele, a sociedade na qual vivemos sociedade do espetculo, produzida pela onipresena da
mdia.
Sob todas as suas formas particulares, informao ou propaganda,
publicidade ou consumo direto de divertimentos, o espetculo constitui o
modelo presente da vida socialmente dominante. Ele a afirmao
onipresente da escolha j feita na produo, e o seu corolrio o consumo.
Forma e contedo do espetculo so identicamente a justificao total das
condies e dos fins do sistema existente. (DEBORD, 1997, p. 10-11)
Na verdade, o espetculo de que tratamos aqui est mais relacionado ao perodo
Moderno da sociedade, ou ps-moderno, como define alguns tericos, dentre eles Vattimo7
(1992 apud OLIVEIRA, 2009, p.32) definindo o ps-moderno como o fato de vivermos em
uma sociedade de comunicao generalizada, a sociedade miditica. Para este autor, os meios
de comunicao foram fundamentais no processo de rompimento com os pontos de vista
centrais, que tentavam dar conta da explicao da realidade, como por exemplo, a
desintegrao da religio no processo de secularizao do mundo, como j observamos nos
captulos anteriores.
Para o pensamento debordiano, o espetculo o momento em que a mercadoria
preenche o total da vida social, deixando claro o conceito de sociedade.
7 VATTIMO, Gianni. O Fim da Modernidade. Niilismo e Hermenutica Ps-Moderna. So Paulo: Martins Fontes,
1992.
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Segundo o entendimento de Sodr (2002), o espetculo no est restrito ao campo das
mdias, mas existe tambm fora dele:
No falta quem relativize o poder da mdia, lembrando que as Testemunhas
de Jeov, sem rdio e televiso, figuravam entre as maiores igrejas
evanglicas do pas. Mas preciso atentar para o fato de que o miditico,
enquanto categoria particular da forma-espetculo pode existir fora dos
suportes tecnolgicos, na medida em que coincida com o mundo em si
separado da ao poltica imediata do homem e organizado pela abstrao
mgica do espetculo ou da profecia. Ou seja, a comunicatividade em si
mesma torna-se espetacular e fascinante (SODR, 2002, p. 69)
5 A histria do protestantismo no Brasil
Fao agora um breve registro histrico das origens do pentecostalismo no contexto do
protestantismo no Brasil, fazendo um resumo da implantao do pentecostalismo at o
surgimento das igrejas neopentecostais brasileiras, das quais emerge a IURD como principal
representante.
Analisando o protestantismo brasileiro e suas diversidades, Freston8 (1993 apud
OLIVEIRA, 2009, p.118), cientista poltico e especialista em religio, afirma que o
divisionismo protestante no Brasil iniciou-se com os missionrios, fincou o p na tradio
brasileira de catolicismo leigo e terreiro concorrentes, e alimenta-se agora da enorme
expanso de um pblico religioso flutuante.
Uma matria da Revista POCA de 9 de agosto de 2010, entitulada Os novos
evanglicos, faz uma retrospectiva do desenvolvimento histrico da religio crist no mundo,
e faz necessrio recorrer a ela para entendermos o desenvolvimento do pentecostalismo
brasileiro.
As primeiras comunidades crists, fundadas pelos apstolos em cidades de Israel
foram denominadas de Igreja Primitiva. Com o advento do Dia de Pentecostes, protagonizado
pelo movimento do Espirto Santo, e descrito no captulo 2 de Atos dos Apstolos na Bblia
8 FRESTON, Paul. Protestantes e Poltica no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Campinas/SP: Tese de
Doutorado em Sociologia do IFCH-UNICAMP, 1993.
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Sagrada, a Igreja Primitiva foi a responsvel por propagar e expandir, aos confins da Terra, o
Evangelho. Tendo como centro a figura de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Em 380 d.C., o imperador Constantino instituiu o cristianismo como religio oficial do
Imprio Romano, assimilando prticas pags e tradies do imprio. Com essa instituio de
Constantino, nasce o Catolicismo Romano, ou melhor, Igreja Catlica Apostlica Romana
que mantm no Brasil cerca de 125 milhes de fiis.
Aps rupturas formando novos movimentos como a Igreja Ortodoxa (sculo XI) e os
Cristos Pr-Reforma (sculo XII), a Igreja Catlica sofre uma de suas maiores cises, dessa
vez, liderada pelo padre alemo Martinho Lutero, o primeiro tradutor da Bblia para a lngua
alem. Em 1517, ele se levantou contra a corrupo, as indulgncias e os desvios teolgicos
da Igreja Romana. A Reforma Protestante influenciou outros telogos, como o francs Joo
Calvino (1509-1564), que conseqentemente, fundou a Igreja Reformada Calvinista em 1536.
Igrejas como Anglicana, fundada pelo rei da Inglaterra, Henrique VIII, em 1534; a Batista,
criada em 1609 por John Smith; a Metodista, fundada em 1739 pelo pregador John Wesley; a
Presbiteriana e a prpria Luterana seguem a mesma linha ideolgica desenvolvida por Lutero.
J alguns protestantes, ou melhor, cristos reformistas entendem ter razes em
movimentos pr-reforma. Eles se definiram simplesmente como Evanglicos. O termo
tornou-se sinmino para todo cristo no catlico. No Brasil, existem cerca de 53 milhes de
evanglicos que crescem a cada coleta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
(IBGE), podendo ser metade da populao brasileira em 2022.
Um movimento surgido nos anos de 1900 entre os evanglicos nos Estados Unidos,
mais especificamente na Azuza Street, tendo como precursores alguns tele-evangelistas e
muitos missionrios, dos quais desembarcaram no Brasil, os dividiu e trouxe tona uma nova
denominao para os evanglicos em geral: Pentecostais. Fiis metodistas insatisfeitos com a
falta de fervor em suas igrejas, buscavam manifestaes sobrenaturais, como as citadas nos
Atos dos Apstolos.
A histria do desenvolvimento do pentecostalismo no Brasil, da chegada dos
missionrios pentecostais at ao hegemnico neopentecostalismo de hoje, pode ser descrita
atravs da seguinte tipologia, proposta por Freston (1993, apud, OLIVEIRA, 2009, p. 118):
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PROTESTANTISMO DE MISSO
Batista Congregacional Episcopal Metodista Presbiteriana
PROTESTANTISMO DE MIGRAO
Anglicana Luterana Reformada
PENTECOSTAIS
Assembleia de Deus Congregao Crist
no Brasil
Igreja de Deus Igreja Pentecostal
PENTECOSTAIS AUTNOMOS
Casa da
Bno
Deus
Amor
Evangelho
Quadrangular
Maranata Nova
Vida
O Brasil
para
Cristo
Universal
do Reino
de Deus
CARISMTICOS
Batista de Renovao Crist Presbiteriana Metodista Wesleyana
PSEUDO-PROTESTANTES
Adventistas Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos ltimos Dias
Testemunhas de Jeov
Os pentecostais chegaram ao Brasil em 1910, trazendo conceitos novos dentro do
protestantismo. No perodo de 1910 a 1950, fase do Pentecostalismo Clssico ou Primeira
Onda do Pentecostalismo Brasileiro, o falar em lnguas com nfase no batismo com o
Esprito Santo, o uso e costumes com nfase na santidade pessoal e as realizaes de cultos
pblicos eram caractersticas marcantes das duas igrejas que mais cresceram no pas nessa
primeira fase: Assembleia de Deus e Congregao Crist no Brasil, tendo uma exceo em
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relao a essa ltima por fazer parte de seu modelo, a no realizao de pregaes em lugares
pblicos. Estima-se que no Brasil, 68% dos evanglicos so pentecostais.
Os fundadores da Misso da F Apostlica, que logo depois passou a ser chamada de
Assembleia de Deus em 1918, foram os missionrios suecos de origem batista, Daniel Berg e
Gunnar Vingren, que desembarcaram na cidade de Belm, no Par.
Freston (1993), nos apresenta a figura desses missionrios suecos em posies
contrrias aos missionrios americanos que vinham ao Brasil:
[...] desprezavam a igreja estatal com seu alto status social e poltico e seu
clero culto e teologicamente liberal. Desconfiavam da social democracia,
ainda atingida pelo secularismo (...) por isso, eram portadores de uma
religio leiga e contra cultural, resistente erudio teolgica e modesta nas
aspiraes sociais (...) acostumados com a marginalizao, no possuam a
preocupao com a ascenso social to tpica dos missionrios americanos
formados no denominacionalismo (...) em vez da ousadia de conquistadores,
tinham uma postura de sofrimento, martrio e marginalizao cultural.
(FRESTON, apud OLIVEIRA, 2009, p. 122)
Inclusive neste ano de Centenrio da Assembleia de Deus9, os principais veculos de
comunicao do pas esto dedicando pginas de jornais e revistas para constatar as mudanas
ocorridas no interior da maior igreja pentecostal do pas.
9 ARAJO, Isael de. Dicionrio do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
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Fonte: Revista Isto. Um pastor moderno entre os radicais. Publicao de 20 de maio de 2011.
Nos anos de 1950 a 1970, perodo que compreendeu a Segunda Onda do
Pentecostalismo Brasileiro, houve um crescimento exacerbado de denominaes da
Assembleia de Deus. E enquanto no primeiro perodo, a pregao dos evanglicos estava
voltada para o bastimo com o Esprito Santo; na segunda fase, os discursos foram baseados
nos atos de cura. As mensagens passaram a ser difundidas nas rdios e em concentraes
pblicas nos ginsios de esportes e estdios de futebol.
Nota-se que nesses anos, o pas passava por uma grande transformao no cenrio
urbano com o xodo rural, especialmente em So Paulo e Rio de Janeiro.
No incio desse novo perodo, chegaram a So Paulo, dois missionrios norte-
americanos da International Church of The Foursquare Gospel e logo fundaram a Igreja do
Evangelho Quadrangular (1951). Outras diversas igrejas surgiram a partir dessa nova onda
como o Ministrio Cristo Vive; O Brasil para Cristo (1955), sendo a primeira igreja do
movimento pentecostal a ser criada por um brasileiro e a investir em programas de rdio e
TV; Igreja Pentecostal Deus Amor (1962), Casa da Bno, Igreja Unida e Igreja de Nova
Vida.
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Na Terceira Onda do Pentecostalismo no Brasil, a partir dos anos 1970, surge uma
ramificao pentecostal que denominada de evanglicos neopentecostais que pregam a
teologia da prosperidade e a confisso positiva. Quase no h nfase no falar em lnguas, os
usos e costumes so abolidos de vez, apresentam o foco dos seus discursos nas curas e
conseguem atingir os pblicos da classe A e B. Vale recorrer ao que Patriota (2003) chama de
neopentecostalismo, ao consider-los uma corrente doutrinria, totalmente brasileira, que
prega prosperidade financeira e espiritual na Terra, atravs de lderes carismticos que
anunciam suas posies de ministros e profetas de Deus.
Segundo eles, a f do cristo determinante para o sucesso material. Os
neopentecostais so os evanglicos mais conhecidos do pas, por freqentarem as ditas Igrejas
Miditicas. Os pastores neopentecostais possuem uma forte administrao empresarial nas
igrejas. No caso, eles investem massiamente em rdio e TV, como por exemplo, a Igreja
Universal do Reino de Deus, fundada em 1977, e encabeada pelo bispo Edir Macedo; a
Internacional da Graa de Deus, fundada pelo cunhado de Edir Macedo, Romildo Ribeiro
Soares ou R. R. Soares, em 1980; a Renascer em Cristo, fundada em 1986 pelos apstolos
Estevam e Snia Hernandes; a Comunidade Evanglica Sara Nossa Terra, organizada em
1992, pelos bispos Robson e Maria Lcia Rodovalho e a Igreja Mundial do Poder de Deus,
liderada pelo apstolo Valdemiro Santiago.
Vale ressaltar uma mudana de comportamento em relao ao uso dos meios de
comunicao por parte da Assembleia de Deus. Nos ltimos anos, esta igreja est investindo
seus recursos financeiros nas criaes de estdio de TV e rdio, construo de pginas na
internet, inclusive uma rede social prpria, revistas mensais, jornais peridicos e outros
dispositivos que legitimam sua existncia na sociedade miditica.
Segundo o socilogo Mariano (1999), as igrejas citadas acima compem o que ele
chama de Autnomas. So vistas como autnomas por ter independncia financeira e
eclesistica das igrejas pentecostais em relao a suas matrizes nacionais ou estrangeiras.
composta por uma populao flutuante e descompromissada, no possuindo um corpo fixo de
fiis.
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5.1 O histrico da maior igreja miditica do pas
Tudo comeou em 9 de julho de 1977, quando se abriram oficialmente as primeiras
portas da Igreja Universal, na Av. Suburbana, 7702, no bairro da Abolio, zona norte do Rio
de Janeiro, que sem condies de alugar um imvel prprio, o ento pastor Edir Bezerra
Macedo iniciou as suas primeiras reunies num coreto do Jardim do Mier, que aquela poca
as divulgaes da igreja era feita por dez obreiros, que colavam folhetos nos postes e
convidavam as pessoas para participar das reunies. Observa-se nesse primeiro momento, que
a Igreja Universal j ingressava no mbito miditico para expandir seus servios e conseguir o
maior nmero de fiis possveis. Depois de algum tempo, Macedo alugou um galpo que era
uma antiga fbrica de mveis.
Antes de fundar a IURD, Edir Macedo fundou a Cruzada Caminho Eterno. Ainda
como membro da Cruzada, foi ordenado pastor pela igreja pentecostal Casa da Bno.
Aps o fracasso da Cruzada Caminho Eterno, Edir Macedo, com o apoio do
cunhado R. R. Soares, decidiu criar uma prpria igreja.
Aps trs anos de criao da igreja, R. R. Soares desligou-se da Universal e fundou
a Igreja Internacional da Graa.
No perodo de trs anos, Edir Macedo expandiu a igreja pelo exterior criando o
primeiro templo da Universal nos Estados Unidos em 1980, alm de romper as fronteiras
estaduais brasileiras em So Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paran e nos principais centros
urbanos do pas.
Nos grandes centros urbanos, a massificao da vida j era uma realidade.
Naquela poca, dois teros da populao brasileira vivia nas grandes
cidades. O cidado urbano, especialmente o morador da periferia, afastado
do seu mundo original, perde muito dos seus referenciais simblicos
importantes. medida que esses elos simblicos vo sendo cortados, vazios
existenciais vo surgindo, o que leva esse homem a buscar
desesperadamente algo que satisfaa suas necessidades de sentido e de f.
exatamente nas grandes cidades, particularmente Rio de Janeiro e So Paulo,
que a IURD vai firmar sua base e procurar preencher os vazios desse
homem, levando-o a reencontrar-se consigo mesmo e encontrar o caminho
para sua felicidade. (OLIVEIRA, 2009, p. 137)
Os outros continentes foram escolhidos para sediar a Igreja Universal gradativamente.
Portugal foi o primeiro pas europeu, em 1989, a ter uma igreja chefiada por Edir Macedo.
Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Na sia, a Universal escolheu o Japo para ser o primeiro pas desse continente a
expandir o imprio universal religioso, em 1996.
Atualmente, a sede da Igreja Universal do Reino de Deus a Catedral Mundial da F,
localizada na zona norte do Rio de Janeiro, tambm conhecida como Templo da Glria do
Novo Israel.
Em 2010, a igreja anunciou a construo do maior templo evanglico do pas, o qual
ser chamado de Templo de Salomo, por ser uma rplica da construo do Templo de
Salomo que a Bblia cita, localizado na capital de Israel, Jerusalm.
O mega-templo ser construdo no bairro do Brs, em So Paulo, ter capacidade
aproximada para comportar 13 mil pessoas sentadas. Possuir altura equivalente ao prdio de
18 andares e dois subsolos. Alm de abrigar um grande estdio de TV e um de rdio.
Segundo o bispo Edir Macedo, a construo do templo terminar em 2014, ano em que
o Brasil sediar a Copa do Mundo.
Conforme o quadro abaixo, a IURD com 34 anos de fundao, mostra que o imprio
adquirido ultrapassa os limites especficos do campo religioso.
RAMIFICAO Neopentecostal
FUNDADOR Edir Macedo
ORIGEM 1977
SEDE Catedral Mundial da F
MEMBROS 8 milhes de fiis
TEMPLOS Cerca de 13.000/mundo
4.800/Brasil
PASES EM QUE ATUA Mais de 100 pases
Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/evangelicos/em_resumo.html
A IURD incorpora os dispositivos de comunicao na sua plenitude, pois abrange a
produo, tecnologias, linguagens, discurso, recepo e circulao.
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5.2 O maior portal religioso do pas na viso iurdiana10
Nos anos 90, a nova aposta na formao do imprio miditico iurdiano foi a internet.
Os primeiros sites surgiram de maneira amadora, quando obreiros, pastores e alguns fiis
criavam as pginas em nome da igreja para interagir e discutir assuntos bblicos. Aps essas
criaes amadoras, o prximo passo foi disponibilizar todo o contedo do jornal Folha
Universal, um dos principais veculos de comunicao do sistema empresarial da IURD, com
matrias completas, pedidos de orao, fotos dos cultos e templos. Atualmente o Folha
Universal comemorou a srie de 1.000 edies publicadas para todo o pas.
O objetivo do portal era criar uma central nica de entretenimento e jornalismo para os
fiis. Por isso, sites como o da Folha Universal, da Revista Plenitude e de outros veculos de
cunho jornalstico-religioso foram incorporados ao um novo portal: Arca Universal.
O portal Arca Universal foi lanado no dia 30 de abril de 2001 e nasceu tambm da
ideia de levar a Palavra de Deus s pessoas que esto necessitando de um conforto espiritual,
independente do lugar onde residam. Romper as barreiras geogrficas para ajudar os aflitos
foi o anseio do bispo Macedo ao idealizar o Arca Universal.
O surgimento do Arca Universal ocorreu concomitantemente ao lanamento de outros
portais como os da Globo.com e do UOL, demonstrando que a IURD sempre acompanha o
surgimento das inovaes tecnolgicas do grande mercado.
O portal vem conseguindo, mensalmente, mais de 14 milhes de pginas visitadas,
atingindo assim o topo entre os portais evanglicos e alguns seculares. A tecnologia de ponta
permite aos milhares de usurios ficarem conectados com segurana e qualidade, para
interagirem com pessoas de vrios pases.
Alm da evangelizao e do conforto espiritual, o portal tem, tambm espao para
notcias de entretenimento, cultura, esporte, sade, dicas de economia, mercado de trabalho,
beleza, notcias de mbito nacional e internacional.
10
Disponvel em: . Acessado em: 20 fev. 2011, 18h24min.
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Alm de conter mensagens do bispo Macedo com estudos bblicos, contm tambm
uma bblia on-line, frum, auto-ajuda e fornece ainda um servio de torpedos via SMS.
6 IURDTV: uma igreja digital
Vivemos, hoje, num ambiente chamado convencionalmente de sociedade miditica.
Vivemos numa sociedade onde as relaes sociais so mediatizadas, ou seja, so
intermediadas pelos instrumentos da mdia, que o conjunto dos meios de comunicao, tais
como: jornal, rdio, televiso, internet, cinema, outdoors, propagandas, etc.
Tornou-se inevitvel o encontro da Igreja com as tecnologias da comunicao. A
sociedade atual imediatista e a vida da mensagem crist e a sua transmisso esto
confrontadas com esta sociedade e seus meios de comunicao.
A figura acima exemplifica o fato de uma instituio religiosa em midiatizar seus
servios eclesisticos. O anncio desta figura refere-se ao momento em que o lder maior da
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) estaria ao vivo num estdio de rdio para
proclamar mais uma de suas mensagens teolgicas, atravs do portal, para milhares de fiis
conectados no mundo inteiro.
Logo quando foi fundada, a IURD ficava com suas portas abertas 24 horas por dia a
fim de atender seus fiis e pessoas que lhes procurava para aconselhamentos. Hoje, por conta
do aumento no ndice de violncia em todo o pas, os templos da IURD fecham meia-noite,
mas as centrais telefnicas, os programas de rdio e TV e os servios na internet (atendimento
on-line, chat, enquetes, programas ao vivo pela web-rdio e web-TV) funcionam
normalmente durante 24 horas por dia, sem parar um minuto sequer.
Com o objetivo de manter seus fiis informados respeito dos seus servios, a
Universal do Reino de Deus lanou mais um veculo de comunicao, a IURDTV, que pode
ser acessada atravs do portal Arca Universal (www.arcauniversal.com/iurdtv). O intuito
transmitir reunies, eventos e mensagens dos bispos e pastores da igreja.
Esta pesquisa analisa a IURDTV, mais especificamente a retransmisso do programa
Palavra Amiga do bispo Edir Macedo, que inclusive lanou, no dia 11 de maio de 2011, o
canal de TV iurdiano que pretende ficar no ar durante 24 horas por dia, apresentando
programas ao vivo e gravados.
Ano VIII, n. 04 Abril/2012
Este programa apresentado pelo bispo maior da igreja, auxiliado pelo bispo Guaracy.
O Palavra Amiga transmitido, de segunda a sexta, pela rdio 99,3 FM em So Paulo/Brasil,
no horrio da manh. E retransmitido pela IURDTV no horrio da noite.
Palavra Amiga com os bispos Macedo, no meio, e Guaracy, esquerda. (Programa exibido no dia 11/06/2011)
Fonte: www.arcauniversal.com
Alm de orientaes sobre as reunies da igreja, o Palavra Amiga apresenta
testemunhos de vida com pessoas que vo ao estdio da rdio, localizado numa das catedrais
de So Paulo.
Palavra Amiga com o bispo Macedo recebendo os convidados para testemunhar seus respeitos. (Programa do dia 09/06/2011)
Fonte: www.arcauniversal.com/tviurdi
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Essas pessoas que so levadas ao estdio para testemunhar respeito de suas vidas
antes de ingressar na igreja Universal retratam sempre os mesmos temas: casamento
destrudo, drogas, crise financeira, depresso, dentre outros. Todas as pessoas testemunham
sobre a soluo desses problemas ao participar dos cultos da IURD.
Por ser um programa de rdio que possui convergncia miditica, o Palavra Amiga
no possui nenhuma estrutura espetacular de cenrio. Porm, sua linguagem, formato e
discurso o que mais interessa a esta pesquisa.
Mas antes de citar as caractersticas gerais do programa, importante termos uma
noo do que seria convergncia miditica.
Vivemos um tempo em que somos ouvintes e telespectadores ao mesmo tempo e ainda
interagimos com o apresentador de tal programa que est sendo transmitido por mais de um
veculo de comunicao. Isso s possvel por causa da convergncia miditica de alguns
programas.
Porm para conceituar esse termo, vale recorrer a Henry Jenkins11
que denomina de
convergncia miditica a tendncia que os meios de comunicao esto aderindo para poder
se adaptar a internet, usando este suporte como canal para distribuio de seu produto.
Com o advento da internet, os meios de comunicao sofreram um pouco com as
perdas de audincia e de assinaturas, por exemplo, as revistas e os jornais. As empresas
prevendo no poder concorrer com esse novo suporte se aliaram a ele, da surge a
convergncia, onde as vrias mdias podem ser encontradas na internet. Percebemos que o
rdio tambm ganhou maiores propores com a convergncia para a internet.
Voltando a anlise do Palavra Amiga, a figura central do programa o bispo Macedo
e percebemos isso at na ordem dos apresentadores. Todos os dias, o bispo Edir Macedo
senta-se no centro da mesa, ladeado direita pelo Guaracy e na esquerda, normalmente um ou
dois convidados (bispos, pastores, obreiros e at os fiis).
Com uma cmera apenas para transmisso, fazendo os movimentos de zoom, o
cinegrafista posiciona o equipamento com o intuito de sempre trabalhar com o plano geral,
enquadrando os trs na mesa, lgico que enfatizando a presena da figura maior da igreja.
11
JENKINS, Henry. Cultura de Convergncia. So Paulo: Aleph, 2008 (Edio em portugus).
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Por ser um programa de rdio, eles nunca atendem aos ouvintes no ar, mas recebem
comentrios via e-mail, twitter ou at mesmo por meio do blog oficial do bispo Macedo. Pela
relevncia dos comentrios dos ouvintes e telespectadores do programa, percebemos uma
seleo dessas mensagens. Pois atravs da interao do pblico que o bispo monta uma
interpretao de abordagem bblica.
O pblico envia perguntas e comentrios e a partir dessa interao que os
apresentadores tratam respeito de sua ideologia crist e principalmente institucional.
Atravs da IURDTV, notamos tambm o quanto os bispos esto utilizando os mais
novos formatos em equipamentos de comunicao, por meio dos mini-computadores
sensveis ao toque do dedo.
O Palavra Amiga o programa mais institucionalizado de toda programao da
IURDTV, pois trata-se da voz presente do fundador da igreja.
O interessante que no possui um cenrio especfico, mas por conta da transmisso
na IURDTV, existem programas que a produo disponibiliza uma grande cruz que fica ao
lado da mesa e dos apresentadores, como observei no programa do dia 09 de junho de 2011,
retratado na figura acima.
Neste caso, observamos o interesse da igreja em investir e priorizar tambm as novas
mdias, pois fazendo uso dessas novas tecnologias, a instituio legitima seu espao na
sociedade e aproxima-se cada vez mais de seu pblico.
O novo cenrio religioso brasileiro pode ser identificado por meio da emergncia de
uma religio miditica, patrocinada pelo desenvolvimento de novas tecnologias de
informao e comunicao.
Surge, ento, um novo paradigma de igreja. Ela deve ser interessante,
contextualizada e convidativa freqncia, fundada no aparato tecnolgico,
na linguagem secularizada, em prticas profanas, na valorizao das
imagens em detrimento prdica. Essas prticas vo deixando para o
passado os estilos tradicionais de culto e adorao, de devoo e de vivncia
religiosa. Transformadas em verdadeiras vitrines de bens simblicos, essas
igrejas se metamorfosearam, tornando-se palcos do espetculo da f,
compondo o cenrio religioso ps-moderno. (OLIVEIRA, 2009, p. 29)
As exigncias tecnolgicas alteraram o ambiente de culto, hoje, palco/atores/platia,
onde antes era o altar/celebrantes/fiis.
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Por fim, vale dedicar o prximo captulo anlise da produo, manipulao,
circulao e consumo dos sentidos promovidos pelos lderes da IURD no programa Palavra
Amiga.
7 Analisando o discurso
A iseno de posicionamentos do pesquisador fundamental principalmente em tais
tipos de pesquisa, pois requer um resultado apropriado aos requisitos de um trabalho
cientfico, baseado inicialmente na empiria.
A metodologia aplicada a este trabalho foi a anlise da produo, circulao e
consumo dos sentidos vinculados ao programa Palavra Amiga. No poderamos deixar de
fazer uma anlise a partir das mensagens (textos) propagadas nesse programa religioso com
caractersticas de uma articulao com o campo miditico.
O nosso corpus, composto unicamente de sermes, gnero discursivo que em um
perodo anterior limitava-se aos plpitos das igrejas, est bastante influenciado pelos suportes
tecnolgicos da comunicao.
Sabemos que a linguagem verbal no a nica ferramenta de persuaso dos pastores
quando esto falando nos altares de suas igrejas e nos estdios de rdio e TV. A gesticulao,
o cenrio e a prpria fala corresponde ao discurso produzido pelo pastor ou bispo.
A noo de discurso comea a se esboar teoricamente quando lingistas e semilogos
como Roland Barthes, Algirdas J. Greimas, Zellig Harris e Michel Pcheux tentaram, nos
anos cinqenta e sessenta do sculo passado, levar suas anlises alm da frase.
Por este motivo precisamos entender o que chamamos de Anlise de Discursos. E
quem pode nos auxiliar melhor nesta parte introdutria Milton Jos Pinto:
Para incio de conversa preciso dizer que o conceito de discurso no se
confunde com os empregos usuais da palavra no nosso cotidiano: no se
trata de uma anlise de textos proferidos ao vivo em solenidades,
assemblias ou tribunais dentro da tradio retrica e nem de uma anlise de
usos restritos da lngua dentro de reas de conhecimento especficas, tais
como sugerem as denominaes discurso poltico, discurso jornalstico,
discurso dos jovens, discurso da televiso e etc. preciso tambm insistir no
fato de que o que chamamos de discurso um certo objeto de conhecimento
construdo a partir de produtos culturais empricos (como anncios
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publicitrios, capas de peridicos, programas televisivos e de rdio,
entrevistas mdicas, entrevistas de emprego, textos jornalsticos impressos,
discursos polticos, cartilhas para preveno de doenas, organizao dos
espaos de uma cidade, de reparties pblicas, de empresas, ou de nossas
casas, entre outros), que so chamados de textos e que, como se pode ver dos
exemplos, no se trata apenas de uma anlise de textos verbais, orais ou
escritos, pois envolve outras semiticas, como as imagens (PINTO, 2003, p.
02)
Costuma-se dizer hoje que o discurso mobiliza recursos, que se estendem alm da
frase e que so chamados de contexto. Pinto (2003) nos explica isso melhor:
A anlise de discursos no mais apenas uma anlise imanente de textos,
pois leva em conta que a interpretao de qualquer texto se faz a partir de
informaes colhidas (1) no contexto situacional (o ambiente fsico e
institucional em que o texto produzido, circula e consumido), (2) no
cotexto (outros textos situados fisicamente ao redor do texto ou de qualquer
fragmento dele, antes, depois, de um dos lados, em cima ou em baixo), e (3)
nos contextos das ordens de discursos ou interdiscursos (outros textos
produzidos no mesmo quadro institucional ou relativos mesma rea de
conhecimento e afins, que so mobilizados intertextualmente na
interpretao) (PINTO, 2003, p. 03).
Como prtica social no interior das instituies, o discurso determinado pelas
estruturas sociais, sendo regido por regras, normas e convenes mais ou menos estveis e
tem sempre uma finalidade social previamente determinada.
Dizer que discurso uma prtica social implica que todo discurso assumido por um
sujeito, que aparece como responsvel pelo ponto de vista.
O bispo Edir Macedo o indivduo responsvel pelas mensagens de conselhos com o
objetivo de disciplinar vida comportamental de seus fiis, como observei no programa
Palavra Amiga em que ele aconselhava uma fiel que estava sentindo dificuldades de fazer o
que seus lderes ordenavam para participar de um encontro com Deus. A fiel que se chama
Beatriz foi aconselhada no ar depois de enviar um e-mail para o bispo Macedo.
BEATRIZ - Oi bispo, tenho ouvido o senhor falar sobre o encontro com
Deus pela IURDTV. Reconheo a importncia desse encontro, mas tenho
dificuldades de me encontrar com Ele, devido a minha vida sentimental, pois
me preocupo muito com ela. Como fao para ter esse encontro?
BISPO MACEDO - Minha amiga, Beatriz, voc tem de eliminar todas as
outras foras e focar na fora do Encontro com Deus. Voc me desculpa ser
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grosso. Voc vai resolver seus problemas na vida sentimental, mas primeiro
resolve o teu problema com Deus. Beatriz, minha filha, enquanto voc no
focar no Encontro com Deus, voc estar andando em crculo. (Programa
Palavra Amiga, 09/06/2011)
interessante notar que o que Bourdieu chama de Campo Social, o bispo Macedo
chama de fora.
BISPO MACEDO - No quero aqui quem vem dividir foras. Tem gente que
vem com problemas financeiros e espirituais. Outros vem problema de sade
e busca no Esprito Santo. No venha aqui com dois problemas, duas foras.
Venha com sua prioridade. Qual a sua prioridade? Qual a sua necessidade
maior? (Programa Palavra Amiga, 07/06/2011)
Em outro programa, Edir Macedo pediu para os homens terem cuidado com as
mulheres, pois elas so as responsveis por dar um destino espiritual aos homens.
BISPO MACEDO - Cuidado meu amigo, voc que homem, com a mulher.
Pois ela tanto te leva para a aproximao com Deus como tambm para o
inferno (Programa Palavra Amiga, 09/06/2011)
Segundo Almeida e Patriota (2006), outro aspecto que devemos enfatizar, diz respeito
sua prpria condio de produo, ou seja, onde, como e quando o discurso produzido,
sugerindo que o discurso no pode ser compreendido fora de seu contexto.
Normalmente os discursos dos apresentadores do Palavra Amiga so baseados nos
textos bblicos e provocados pela interao dos ouvintes/internautas atravs de suas dvidas.
A IURD no d margem a questionamentos quando se trata dos discursos de seus
pastores e bispos. Isto porque o clero se apresenta como grupo devidamente capacitado para
interpretar a Palavra de Deus e de fato, muito comum que seus textos se desenvolvam com
base em citaes da Bblia.
vlido lembrar que a atividade de pregar (proclamar o Cristianismo atravs
de pregaes discursos) uma atividade efetiva de reformulao. Afinal,
sempre se restaura o contedo de um texto fonte, que a prpria Bblia, e a
partir dele trazido tona uma interpretao. Como nos esclarece Orlandi
(1996), a interpretao no apenas um simples gesto que decodifica e
apreende os sentidos, na verdade, o ato de interpretar o de exposio
opacidade do texto, ou seja, a tentativa de explicar como um objeto
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simblico pode produzir seus sentidos (ALMEIDA e PATRIOTA, 2006, p.
68)
Quando se fala em interpretao, est se referindo interpretao da Bblia, tornando-
se importante pontuar que a pessoa, com a qual possui o saber dessa interpretao, de
acordo com a concepo e crena religiosa, trata-se de algum previamente preparado
intelectualmente, atravs dos estudos especficos dos textos bblicos e dotado de uma
inteligncia espiritual, a qual s Deus pode conced-la, ou seja, este falante autorizado detm
um saber especial para o exerccio do ministrio da proclamao da Palavra, dirigindo-se a
um pblico que supostamente no portador de tal saber e ainda ministra bnos sobre ele.
Partindo, ento, da caracterizao do discurso religioso como aquele que fala
a voz de Deus, comearia por dizer que, no discurso religioso h um
desnivelamento fundamental na relao entre o locutor e o ouvinte: o locutor
do plano espiritual (o Sujeito, Deus) e o ouvinte do plano temporal (os
sujeitos, os homens). Isto , locutor e ouvinte pertencem a duas ordens de
mundo totalmente diferentes e afetadas por um valor hierrquico, por uma
desigualdade em sua relao: o mundo espiritual domina o temporal. O
locutor Deus, logo, de acordo com a crena, imortal, eterno, infalvel,
infinito e todo-poderoso; os ouvintes so humanos, logo mortais, efmeros,
falveis, finitos, dotados de poder relativo. Na desigualdade, Deus domina os
homens (ORLANDI, apud, ALMEIDA e PATRIOTA, 2006, p. 70)
Cabe lembrar que no existe uma nica interpretao da Bblia. O contexto scio-
cognitivo no qual o enunciador est inserido interfere em sua interpretao, bem como os
instrumentos tecnolgicos da midiatizao.
Sabemos que os suportes tecnolgicos de comunicao criam novos gneros
discursivos, mesmo no sendo os nicos responsveis por essa criao, os meios de
comunicao intensificam e trazem tona caractersticas de novos gneros de discursos.
Podemos compreender as diferenas entre o discurso religioso e miditico por meio de
Fiegenbaum (2006:11), que nos mostra que enquanto o discurso do primeiro dogmtico,
organizacional, sociolgico; a competncia do discurso do segundo discursiva, portanto,
impensvel a sua sujeio ao campo que o institui, no caso o religioso, sem negar o seu
prprio saber. Por isso observamos, certas tenses e conflitualidades estabelecidas na
decorrncia da interao do campo miditico com os determinados campos sociais.
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Consideraes finais
Vimos que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) mantm uma utilizao
macia dos meios de comunicao. No foi toa que a ao do bispo Edir Macedo o levou a
montar um imprio miditico colocado em segundo lugar no universo brasileiro, apenas atrs
da Rede Globo de Televiso.
A facilidade com que a IURD se move no mundo miditico possui uma explicao no
fato de que ela j nasceu miditica, diferentemente de outras igrejas, mais histricas e com um
passado e uma tradio considerveis, que hoje recorrem ao processo de midiatizao.
Ao longo do trabalho que ora termina, tentamos compreender o caminho percorrido
por algumas igrejas, mais especificamente a IURD, afim de se dar conta do que est
acontecendo no mundo contemporneo com o processo de midiatizao da sociedade.
Percebemos a mudana no cenrio religioso do pas com o surgimento dessas novas
religiosidades miditicas, que defendem a transformao por meio da dita Igreja Midiatizada,
via protocolos do espetculo.
Vimos tambm que muitas dessas novas igrejas s enxergam os meios de
comunicao como suporte para a difuso do Evangelho, sem notar suas conseqncias e as
mudanas que o processo causa. O importante, portanto, no so os meios, mas a transmisso
da mensagem.
A igreja evanglica brasileira no est isolada s paredes dos templos, mas atua cada
vez mais, num novo ambiente que garante sua existncia enquanto uma instituio religiosa
presente no sculo XXI.
Hoje as igrejas no possuem um pblico de fiis fixo e estvel. Devido ao surgimento
das ditas miditicas, no caso a IURD, o pblico passou a ser itinerante, que no mais se
renem apenas nos bancos da igreja, mas em qualquer lugar do universo, por conta do
processo de midiatizao.
Com tudo isso, percebe-se que o mundo mudou, as pessoas mudaram com ele e
conseqentemente as instituies religiosas tambm. Vivemos num novo ambiente religioso
brasileiro.
Ano VIII, n. 04 Abril/2012
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