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Paulo Jorge de Oliveira Leito
O CASO PORTUGUS
Abordagem metodolgica
A BIBLIOTECA 2.0 E AS BIBLIOTECAS PBLICAS
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INTRODUO
A seleo de um tema de investigao prende-se com as mais diversas
motivaes, que podem ir desde as relativamente acessrias como um particular
interesse do investigador, at s verdadeiramente relevantes como sejam a
importncia do tema no contexto de uma determinada rea cientfica, a ausncia de
conhecimento no domnio selecionado ou ainda os impactos que essa investigao
pode ter na sociedade. A seleo do tema para esta investigao decorreu
exatamente do concurso destas trs ordens de razes.
Uma investigao realiza-se na tentativa de atingir determinados fins e
objetivos relevantes. A sua importncia advm em grande parte como resultado das
razes que conduziram investigao, no sentido em que a sua prossecuo pode
colmatar falhas do conhecimento existente ou ter um impacto social ou
organizacional de qualquer natureza. No entanto, a definio dos objetivos neste
caso no foi determinada por nenhuma hiptese apriorstica nem pela verificao de
uma determinada teoria. O que se pretendeu foi compreender o objeto de estudo
as bibliotecas pblicas da RNBP na sua relao com a Web 2.0 / Biblioteca 2.0 na
dupla perspetiva das prticas e das concepes.
A comunicao dos resultados deste processo pode ser realizada de vrias
formas. No caso vertente, selecionou-se uma forma cannica de apresentao, que,
depois de identificar a abordagem metodolgica utilizada, faz a reviso da literatura
para em seguida apresentar os resultados da investigao e, finalmente concluir com
uma viso holstica da realidade analisada.
Assim, nesta introduo, identificam-se os motivos que conduziram
emergncia desta investigao, definem-se os seus fins e objetivos, desmultiplicado
em objetivos gerais e especficos, e descreve-se a forma como o estudo est
organizado.
1. Biblioteca 2.0 e as bibliotecas pblicas portuguesas: a urgncia de uma investigao
A adaptao das bibliotecas evoluo da sociedade contempornea, e mais
especificamente, s transformaes que a WWW tem vindo a conhecer desde 2005,
genericamente designadas por Web 2.0, fizeram nascer o conceito de Biblioteca 2.0.
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Este conceito est, no entanto, longe de ser definido de forma consensual.
Para alguns apenas uma questo de utilizao de tecnologia, para outros trata-se
de continuar o trabalho que as bibliotecas tm desenvolvido agora com o recurso a
novos instrumentos que a tecnologia proporciona. Finalmente, para os que mais
valorizam as novas tendncias evolutivas na WWW, trata-se de um novo paradigma
de servio e de biblioteca que dar lugar a uma organizao de tipo novo.
A controvrsia sobre o que seja a Biblioteca 2.0 ainda hoje em pleno
desenvolvimento no impede completamente a possibilidade de identificar alguns
aspetos bsicos que se encontram predominantemente na literatura. Tendo
comeado com um especial enfoque sobre a tecnologia e sobre a Web 2.0, o que
levou mesmo alguns a sintetizar o conceito numa espcie de equao Web 2.0 +
Biblioteca = Biblioteca 2.0, foi sendo construda uma abordagem mais centrada nos
servios prestados pelas bibliotecas, onde se destaca como aspeto fundamental a
participao ativa do utilizar na construo desse servio e uma constante adaptao
mudana.
A forma como as bibliotecas pblicas se iro eventualmente transformar em
consequncia destas novas realidades, nomeadamente na definio de novos papis
informacionais e sociais, no ainda clara. No obstante, pode prever-se que o
impacto que estas transformaes tero nestas bibliotecas ser decisivo, o que
conduziu j alguns autores definio de uma nova misso para estas bibliotecas.
Por exemplo, Chowdhury, Poulter e McMenemy (2006, p.459) partindo da assuno
de que o conhecimento existente numa dada comunidade de extrema relevncia
para essa comunidade, postulam que a biblioteca pblica deve assumir a nova
misso de se tornar a platform for the storage and dissemination of local
community knowledge within the global context created by twenty-first century
digital technologies. Esta nova misso aproxima-se igualmente de uma das
recomendaes das diretrizes da IFLA/UNESCO (2006, p.17) para a implementao do
Manifesto sobre a Internet quando refere: Libraries should identify, facilitate the
production of, and promote locally produced and locally relevant information
content.
Qualquer que seja o modelo definitivo que venha a ser construdo para uma
biblioteca pblica 2.0, uma realidade parecer ser incontornvel: o mundo da
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informao conheceu recentemente novas e decisivas transformaes e as
bibliotecas no podem alhear-se destas mudanas sem pr em risco o seu papel na
sociedade. Num recente documento da Seco de Bibliotecas Pblicas da IFLA (2009)
recomenda-se, para promover a adaptao das bibliotecas pblicas
contemporaneidade, entre outras ideias, Liberate our services using the World
Wide Web 2.0 and look towards Web 3.0 e 4.0.
Este novo mundo apresenta, assim, um conjunto de desafios os quais as
bibliotecas pblicas tm vindo a considerar, definindo algumas estratgias de
resposta. O sucesso e a rapidez destas transformaes dependero de vrios fatores
tais como competncias dos profissionais, infraestrutura tecnolgica das bibliotecas,
competncias dos utilizadores e diverso tipo de fatores situacionais.
Estas bibliotecas parecem estar, neste momento, numa fase de
transformao na qual, embora j tendo eventualmente reconhecido a importncia
da Web 2.0 (Lietzau e Helgren, 2011; Carlsson, 2012a) e das novas formas como os
indivduos se relacionam com a informao, esto ainda longe de ter chegado a uma
nova configurao de biblioteca (Aharony, 2010, 2011), o que torna essencial a
investigao, quer sobre as estratgias e as prticas que estas tm vindo a
desenvolver para responder aos novos desafios e as concepes que os profissionais
tm vindo a elaborar; quer sobre a utilizao e aceitao desta tecnologia e seus
instrumentos pelos seus utilizadores.
Esta investigao inscreve-se exatamente no quadro da primeira perspetiva,
ou seja, a das bibliotecas. Se a anlise segundo este ponto de vista se justificaria em
qualquer contexto, dada a exiguidade dos estudos sobre as bibliotecas pblicas,
ainda mais crucial no caso portugus, essencialmente pelas seguintes ordens de
razes: em primeiro lugar, a investigao sobre esta realidade bastante diminuta e
tem analisado apenas aspetos parcelares, embora apresente algumas evidncias que
demonstram que, sobretudo relativamente a algumas das plataformas da Web 2.0,
se tem verificado um crescimento da utilizao; em segundo, alguns resultados de
investigao sobre stios Web destas bibliotecas tm vindo a revelar uma viso
pouco adequada sua natureza e potencialidades, mesmo na fase da Web 1.0, o que
torna ainda mais relevante compreender como que as bibliotecas adaptaram essa
viso realidade desta nova fase da Web. Portanto, pode afirmar-se que uma
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investigao desta natureza se tornou urgente exatamente na medida em que ela
permitiu um conhecimento mais aprofundado da realidade e poder contribuir para
uma transformao e melhoria do trabalho das bibliotecas.
Assim, o objeto de estudo desta investigao foram as bibliotecas que
compem da Rede Nacional de Bibliotecas Pblicas no territrio continental sob dois
pontos de vista fundamentais: a utilizao que fazem das plataformas da Web 2.0 e
a formas como os seus stios Web e Web OPACs tm vindo a evoluir neste contexto;
e as perspetivas e concepes dos profissionais sobre a Web 2.0 e sua utilizao por
estas bibliotecas. O racional para a escolha das bibliotecas da RNBP e
particularmente aquelas que j se encontram em funcionamento em Portugal
continental est ligado ao facto de partilharem um conjunto de caractersticas
estruturais bsicas, de possurem uma infraestrutura tecnolgica mnima que
permite a participao e de estarem dotadas de um quadro de profissionais com,
pelo menos, conhecimento e competncias bsicas em Cincias da Informao. A
excluso das regies autnomas fica a dever-se ao facto de ali o projeto de rede de
bibliotecas pblicas ser de implementao recente.
2. Fins, objetivos e questes da investigao
Os fins e objetivos desta investigao foram, desta forma, definidos no
contexto terico do conceito de Biblioteca 2.0. A Biblioteca 2.0, no dizer dos autores
deste conceito (Casey e Savastinuk, 2006, 2007), traduz, como de certa forma j foi
enunciado, a ideia de um novo modelo de servio para as bibliotecas, que visa quer a
criao de novos servios, quer a transformao dos tradicionais para permitir a
adaptao da biblioteca mudana social e tecnolgica e captar novos utilizadores.
atravs da mudana constante com um propsito definido e da participao dos
utilizadores que as bibliotecas podero implementar este modelo. A natureza no
prescritiva destes aspetos implica, em primeiro lugar, como afirmam os autores, que
no single definition criterion makes a service fit under the banner of Library 2.0;
there is no precise litmus test designed to identify Library 2.0 models (Casey e
Savastinuk, 2007, p.66-67). Assim, qualquer servio, desde que se transforme ao
longo do tempo de acordo com as necessidades dos utilizadores e incorpore a
participao destes, pode ser considerado um servio 2.0. Por outro lado, isto
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implica necessariamente uma adaptao caso a caso, de acordo com as
circunstncias locais, quer em termos de pblicos, quer em termos organizacionais.
As tecnologias da informao e da comunicao, particularmente a Web 2.0,
desempenham um importante papel na concretizao deste modelo, embora os
seus autores afirmem inicialmente que este no o seu principal componente. No
entanto, acabam por escrever que with Web 2.0 technologies we have at our
disposal a vast array of tools that invite user participation. If used properly, these
Web 2.0 tools give you the ability to reach out new and existing users, increasing
your ability to reach the long tail of users, a primary goal of Library 2.0 (Casey e
Savastinuk, 2007, p. 78), depois de terem reconhecido que indeed, this new
changing world of technology will do nothing less than change the very way we do
business (Casey e Savastinuk 2007, p. 73).
Esta breve descrio do conceito de Biblioteca 2.0 serve, neste momento,
apenas para contextualizar a definio dos fins e objetivos desta investigao. O
modelo ser verdadeiramente desenvolvido e problematizado no cap. II deste
trabalho.
Partindo deste conceito e tendo em conta a realidade das bibliotecas pblicas
portuguesas, quer do ponto de vista mais estrutural, quer mais circunstancial no
sentido da sua participao no contexto da Web 2.0 (cf. cap. VI), esta investigao
pretendeu essencialmente contribuir para seu o desenvolvimento em Portugal,
atravs da compreenso das prticas e das concepes atualmente em presena,
condio fundamental para sugerir caminhos para a implementao de um novo
modelo de biblioteca, a Biblioteca 2.0.
A implementao deste modelo permitir s bibliotecas pblicas
portuguesas, em primeira instncia quelas que j aderiram utilizao das
ferramentas da Web 2.0, repensar criticamente as suas prticas, criar novos servios
ao utilizador, bem como reconfigurar servios tradicionais, adaptando-se s
tendncias recentes de utilizao da Web por parte dos seus pblicos.
Relativamente s bibliotecas que esto mais afastadas deste ambiente, os resultados
da investigao podem permitir um melhor conhecimento da situao e
eventualmente conduzir a uma transformao.
Pretendeu-se atingir estes fins atravs dos seguintes objetivos:
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1. Discutir a emergncia de um novo paradigma de biblioteca: a Biblioteca 2.0;
2. Analisar processos e servios de base tecnolgica que constituem
instrumentos de implementao do modelo de Biblioteca 2.0;
3. Conhecer as prticas de utilizao da Web 2.0 pelos portugueses, incluindo
os municpios;
4. Caracterizar e compreender a participao bibliotecas pblicas portuguesas
nas plataformas da Web 2.0, bem como a evoluo dos seus stios Web e
Web OPACs neste mbito. No que concerne s plataformas da Web 2.0, as
principais dimenses de anlise foram: produo de contedos, organizao
da informao e dos contedos, resultados e impactos. Estas dimenses
determinaram a definio de objetivos especficos, como se ver a seguir.
5. Compreender as perspetivas dos bibliotecrios das bibliotecas pblicas
portuguesas sobre a Biblioteca 2.0 e a sua aplicabilidade local, bem como
determinar a existncia de eventuais dificuldades e desafios sua
concretizao. Neste mbito foram apenas objeto de anlise os profissionais
com responsabilidades de gesto nas bibliotecas que, pelo menos, aderiram
com alguma intensidade utilizao das plataformas da Web 2.0.
6. Elaborar contributos para uma teoria sobre a participao das bibliotecas
pblicas portuguesas na Web 2.0. Trata-se apenas de contributos j que uma
teoria abrangente deveria incluir, pelo menos, a componente pblicos, de
forma estruturada e abrangente.
Assim, esta investigao posiciona-se claramente, como j foi indicado, do
ponto de vista das bibliotecas tentado compreender as suas prticas atuais e as
concepes dos profissionais sobre essas prticas, fundamentalmente na utilizao
de um dos principais instrumentos do modelo, a Web 2.0. Reconhece-se, por um
lado, que as outras componentes do modelo so perspetivadas tendo a tecnologia
como veculo, o que constitui apenas uma das formas possveis de considerar a
questo. Por outro lado, uma perspetiva mais holstica na compreenso deste
fenmeno ter que necessariamente incluir outro tipo de abordagens que
considerem agentes igualmente relevantes neste contexto, desde logo, por exemplo,
os pblicos das bibliotecas, atuais e potenciais, e os stakeholders organizacionais, ou
seja, o nvel da administrao municipal. No entanto, havia que conceber um projeto
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de investigao que se conformasse a um horizonte temporal preciso e produo
de apenas um investigador.
Neste mbito, cabe uma referncia relevante questo dos objetivos no
contexto de estudos qualitativos, mbito onde este trabalho fundamentalmente se
insere. De acordo com a literatura (Flick, 2009) este tipo de estudos pode perseguir
diferentes tipos de objetivos, nomeadamente descrio de uma realidade, teste de
hipteses, embora seja o menos frequente, e desenvolvimento de uma teoria. Entre
a descrio e a elaborao de uma teoria dever posicionar-se a compreenso do
fenmeno, que representa um nvel de conceptualizao superior descrio e
anterior ao da teoria, no sentido em que a compreenso pode ser entendida como o
ato de perceber, de apreender alguma coisa. Assim, o que aqui se pretendeu foi
essencialmente a uma compreenso aprofundada e holstica sobre as questes
referidas. A tentativa de elaborao de uma teoria foi, pelas razes j referidas, isso
mesmo, mas tambm porque requirement of theory development is an excessive
burden for many types of qualitative studies (Flick, 2009, p. 129)
Considerando a abrangncia de alguns dos objetivos, particularmente os 4 e
5, foi julgado relevante, a fim de manter o foco da investigao, o seu
desmembramento em objetivos especficos, o que ajudou a direcion-la para os
resultados que se pretendiam obter.
Assim, no que respeita ao Objetivo 4, foram definidos os seguintes trs
objetivos especficos:
1. Compreender os propsitos e as prticas de utilizao das plataformas da Web 2.0
pelas bibliotecas;
2. Avaliar resultados e impactos da participao da biblioteca juntos dos pblicos;
Este objetivo no estava previsto no incio da investigao. No entanto, em
primeiro lugar, a reviso da literatura revelou que este aspeto era muito
insuficientemente considerado. Mesmo no caso portugus, se bem que os estudos
de Alvim (2011) considerem a questo dos pblicos quando estudam a comunicao,
no s no o relacionam de forma aprofundada com os contedos efetivamente
produzidos (a anlise efetuada maioritariamente quantitativa), como estes tm
como objeto apenas os blogues e o Facebook. De qualquer forma, o nico aspeto
estudado o da comunicao. Por outro lado, o discurso dos profissionais revelou
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um certo desencanto quanto ao nvel de participao dos pblicos e uma
desvalorizao de determinadas formas de reao destes, o que determinou que,
sobretudo em relao ao Facebook, a plataforma mais popular entre as bibliotecas,
fosse desenvolvida a anlise das reaes do pblico.
Assim, o que aqui se pretendeu foi contribuir para um estudo mais
diversificado dos resultados e impactos da participao das bibliotecas, atravs da
reao que os pblicos demonstram a essa participao. A conjugao dos
resultados obtidos desta forma com os que resultaram da investigao de Alvim
(2011) permitiu obter uma compreenso mais profunda desta problemtica. Para
alm disto, a considerao deste aspeto possibilitou entender melhor as prticas de
utilizao das bibliotecas, sobretudo na forma como tratam as reaes do pblico.
No entanto, esta abordagem apresenta a limitao de apenas utilizar para
estudo desses resultados e impactos as formas de reao s publicaes das
bibliotecas que as plataformas produzem e, mesmo assim, essas formas de reao
so apenas as que esto visveis ao investigador na anlise de cada conta.
3. Conhecer como que os tradicionais produtos de informao publicados pelas
bibliotecas na Web (stio Web e Web OPAC) evoluram de acordo com o ambiente da
Web 2.0, considerando que a Web 2.0 no apenas as plataformas especficas
criadas de novo, tambm a forma como os produtos da Web 1.0 se
transformaram. Esta tendncia atingiu igualmente as bibliotecas, sobretudo atravs
do conceito de catlogo 2.0 (cf. ponto 4.7.1).
Relativamente ao 5 objetivo e sempre do ponto de vista dos profissionais,
pretendeu-se compreender:
1. Significado e importncia que estes atribuam ao conceito de biblioteca 2.0 e
como perspetivavam a sua aplicabilidade s bibliotecas pblicas;
2. Perspetivas e reflexes sobre prticas de utilizao das plataformas da Web 2.0
pelas bibliotecas pblicas;
3. Impactos da utilizao das plataformas na prestao dos servios;
4. Impactos da utilizao das plataformas na relao com os pblicos;
5. Desafios e problemas de implementao durante o processo de adeso s
plataformas da Web 2.0.
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Os temas da entrevista e as perguntas que deles derivam permitiram a concretizao
destes objetivos especficos (cf. ponto 1.3.4).
Questes de investigao
A formulao de perguntas de investigao considerada pela literatura
como um dos aspetos cruciais do processo de definio de um projeto e condio
essencial do seu sucesso. Flick (2009, p.97) afirma mesmo que If you want to start
your qualitative study, a first and central step, and one that essentially determines
success in qualitative research but tends to be ignored in most presentations of
methods, is how to formulate the research question(s). As perguntas devem
caracterizar-se por solidez e clareza sob pena de pr decisivamente em causa os
resultados. O mesmo autor (2009, p.98) refora esta ideia quando escreve you
should formulate research questions in concrete terms with the aim of clarifying
what the field contacts are supposed to reveal. The less clearly you formulate your
research question, the greater is the danger that you will find yourself in the end
confronted with mountains of data helplessly to analyse them.
O nvel de generalidade vs. especificidade destas questes objeto de
alguma diferena conceptual. Gorman e Clayton (2005) preveem dois nveis de
questes, um mais genrico, o qual no chegam a designar por questo, mas sim
problema de investigao, e um mais especfico ento designado por questes de
investigao. Flick (2009) prev igualmente dois nveis, mas designa-os sempre como
perguntas de investigao, as quais podem ser gerais e especficas.
Parece, assim, existir nestas concepes a considerao de dois nveis de
questes de investigao que vo progredindo do geral para o particular. No
entanto, no caso desta investigao e tendo em conta que j foram definidos
objetivos gerais e especficos, decidiu-se utilizar este conceito de questes de
investigao na sua dimenso de especificidade.
No mbito desta deciso, optou-se por definir um conjunto de perguntas
especficas de investigao que permitiram concretizar de forma precisa cada um
dos objetivos definidos e contribuir de forma eficaz para a sua prossecuo. Assim,
na lista que se segue elencam-se as perguntas nas reas relacionadas com a
concretizao de cada um dos objetivos:
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1. Adeso das bibliotecas plataforma. Quais, quantas e quando aderiram as
bibliotecas da RNBP s plataformas selecionadas?
2. Construo da identidade na plataforma. Como constroem as bibliotecas ou seus
perfis em cada plataforma? Como se descrevem?
3. Produo da informao. Que quantidades de contedos produzem ou carregam
em cada plataforma? Que ritmos de produo/carregamento ao longo do tempo?
4. Organizao da informao. Como organizam os contedos em cada plataforma?
Como descrevem os contedos? Os contedos so descritos uniforme e
sistematicamente? A resposta a estas perguntas teve, evidentemente em conta, as
possibilidades de organizao da informao proporcionadas pelas plataformas.
Considerando que essas possibilidades diferem substancialmente de caso para caso,
a anlise teve em conta essas diferenas. Por outro lado, tambm no se partiu para
esta anlise com nenhum tipo de paradigma da organizao da informao pr-
definido.
5. Contedos produzidos/carregados. Que contedos so produzidos e/ou
carregados em cada plataforma? Qual a natureza desses contedos? A resposta a
estas questes foi particularmente relevante para compreender os propsitos de
utilizao das plataformas pelas bibliotecas.
6. Compromisso de socializao das bibliotecas em cada plataforma. Como exploram
as bibliotecas as possibilidade de socializao em cada plataforma?
7. Abertura participao dos pblicos. As bibliotecas restringem ou abrem as
formas de participao do pblico em cada plataforma? Quais so as formas de
participao do pblico permitidas e recusadas?
8. Que resultados e impactos obtm as bibliotecas junto dos pblicos como
resultado da sua participao em cada plataforma?
Estas questes sobre a utilizao das plataformas da Web 2.0 pelas
bibliotecas foram orientadas descrio do estado atual da sua participao, bem
como, em alguns aspetos, da sua evoluo ao longo do tempo (FLICK, 2009, p. 102),
tendo sido aplicada, na sua construo, uma triangulao de perspetivas (FLICK,
2009, pp. 100-101), j que no se estudaram apenas as quantidades produzidas ao
longo do tempo, mas tambm a forma como os contedos so organizados, um
aspeto essencial para a sua recuperao e apropriao pelos pblicos, e a sua
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caracterizao aprofundada atravs da anlise de contedo das publicaes
efetuadas pelas bibliotecas, bem como a reao dos pblicos. Este conjunto de
questes permitiu efetivamente uma caracterizao da participao das bibliotecas
em vrias dimenses.
9. Stios Web. Que formas implementaram as bibliotecas nos seus stios Web que
permitam a interao e/ou participao com/dos utilizadores? Que possibilidades
so dadas aos utilizadores de apropriao e reutilizao da informao publicada?
Como se relacionam os stios Web com as plataformas da Web 2.0 onde a biblioteca
est presente?
10. Catlogos em linha na Web. Qual o nvel de aproximao ou distanciamentos dos
catlogos em linha na Web com o modelo de catlogo 2.0?
Relativamente abordagem das perspetivas dos profissionais, formas as
seguintes as questes a que se pretendeu responder:
a) Qual o conceito que os bibliotecrios associam ao termo Biblioteca 2.0? Como
avaliam a sua adequao s bibliotecas pblicas?
b) Como perspetivam a utilizao das plataformas da Web 2.0 pelas bibliotecas
pblicas? Que vantagens e desvantagens podem as bibliotecas retirar da utilizao
dessas plataformas?
c) Que estratgia definiram para a participao da biblioteca de que so
responsveis nas plataformas da Web 2.0?
d) Como avaliam os resultados e impactos dessa participao, particularmente no
que diz respeito aos servios, aos utilizadores e biblioteca como um todo?
e) Como consideram os papis do utilizador e das comunidades no contexto das
novas formas de expresso, comunicao e participao que as plataformas da Web
2.0 possibilitam?
f) Como descrevem as condies e os requisitos necessrios participao no caso
das bibliotecas de que so responsveis? Que dificuldades ou constrangimentos
tiveram que enfrentar?
g) Como perspetivam os desafios de gesto da participao no mdio prazo?
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3. Organizao dos contedos
Os temas abordados neste estudo so estruturados, em primeiro lugar, em
dois grandes blocos ou partes. A primeira, que se desenvolve entre os captulos II e
VII, constitui essencialmente uma reviso da literatura. Pode considerar-se que esta
se decompe, por sua vez, em duas grandes subpartes: a primeira (captulos II a V),
parte do conceito de Biblioteca 2.0 (cap. II) e tendo em conta a importncia da sua
base estrutural, ou seja, a Web 2.0, traa, em primeiro lugar, um quadro sntese de
caracterizao desta fase da Web (cap. III). A partir desta viso global e tendo em
conta a importncia que assumem determinadas plataformas e recursos
tecnolgicos, at pela utilizao que as bibliotecas delas fazem, caracterizam-se as
vrias solues (cap. IV) que vo desde blogues, passando por wikis, favoritos sociais
at s redes sociais propriamente ditas, classificadas de acordo com critrios de
generalidade/especificidade e tipologia de contedos. A anlise destas plataformas
ora feita atravs de concretizaes especficas quando elas assumem uma
importncia relevante, como o caso do Twitter ou do Facebook, ou a partir das suas
caractersticas transversais como no caso dos blogues. Em cada tipologia so
tambm sintetizados os resultados de estudos que analisam as formas como as
bibliotecas tm vindo a utilizar essas plataformas. A incluso de RSS neste contexto
justifica-se na medida em que constitui o principal formato criado no contexto da
Web 2.0 para permitir novas formas de publicao e partilha de informao. Embora
na anlise de cada plataforma tenham sido referidos os aspetos especficos relativos
sua utilizao e gesto, considerou-se relevante identificar e problematizar as
questes transversais da implementao de uma estratgia e da sua correspondente
gesto tendo em conta, fundamentalmente, as bibliotecas (ponto 4.6).
Considerando que a Web 2.0 contaminou todas as formas de utilizao da
Web, so tambm analisadas as tendncias de evoluo dos stios Web e dos
catlogos em linha das bibliotecas (ponto 4.7).
Por ltimo, e tendo em conta que o objeto central deste estudo so as
bibliotecas pblicas, so revistos de forma exaustiva os estudos sobre a utilizao
que estas bibliotecas, escala internacional, tm vindo a fazer do universo de
possibilidades que a Web 2.0 proporciona (cap. V).
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O segundo bloco de contedos desta primeira parte (captulos VI e VII)
pretende elaborar um retrato da situao portuguesa em dois domnios, a saber: a
utilizao da Web 2.0 pela sociedade portuguesa (cap. VI) e a Rede Nacional de
Bibliotecas Pblicas (RNBP) (cap. VII). A reviso da literatura sobre a RNBP
fundamental tendo em conta que se trata do objeto de estudo desta investigao. O
racional para a incluso do primeiro tema prende-se com a necessidade de
compreender como que os pblicos das bibliotecas participam neste ambiente
tendo em conta que as caractersticas desta participao devem orientar o trabalho
desenvolvido por estas.
A segunda parte (captulos VIII e IX) descreve e analisa os resultados da
investigao levada a cabo sobre a utilizao das plataformas da Web 2.0 pelas
bibliotecas pblicas da RNBP numa dupla perspetiva: a das prticas, ou seja, das
formas de utilizao de cada uma das principais plataformas revistas na parte
anterior; e a das concepes dos profissionais dessas bibliotecas exatamente sobre
este universo e a experincia de utilizao das suas bibliotecas.
Em relao s prticas (cap. VIII), a participao nas principais plataformas
(blogues, Facebook, Twitter, YouTube, Flickr, Slidehare, Scribd, Delicious) analisada
exaustivamente dos pontos de vista da produo e organizao dos contedos, seus
resultados e impactos. Ainda neste mbito so analisados os stios Web e os Web
Opacs das bibliotecas no que respeita sua transformao por ao das tecnologias
e do esprito da Web 2.0.
As concepes e perspetivas dos bibliotecrios das bibliotecas pblicas
portuguesas so analisadas a partir dos dados recolhidos em 14 entrevistas feitas
aos responsveis por bibliotecas de diversas tipologias dentro da RNBP.
A anlise destas duas perspetivas empregou como abordagem metodolgica
(cap. I) a triangulao dos dados e dos resultados obtidos atravs do uso de
procedimentos metodolgicos de tipo quantitativo no mbito das prticas das
bibliotecas e de tipo qualitativo no domnio das concepes dos profissionais. A
abordagem quantitativa s prticas no excluiu, bem ao contrrio, uma anlise de
contedo qualitativa aos contedos publicados pelas bibliotecas, o que se revelou
essencial para uma compreenso mais profunda das formas de utilizao.
Independentemente da utilizao de uma abordagem quantitativa para anlise de
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alguns dos aspetos da realidade, esta investigao no partiu para a recolha e
anlise dos dados a tentar demonstrar qualquer teoria ou hiptese.
Nas concluses finais constri-se uma viso integradora das concluses
parciais que foram sendo obtidas, quer ao longo da reviso da literatura, quer dos
resultados da investigao de campo, numa tentativa contribuir para uma teoria
abrangente sobre a atuao das bibliotecas pblicas neste ambiente e sugerir
algumas linhas de fora fundamentais de uma estratgia futura. Quer do ponto de
vista da prtica, quer das concepes, as bibliotecas pblicas portuguesas, mas
tambm parte das suas congneres internacionais, revelam alguma dificuldade na
explorao das potencialidades que os novos recursos tecnolgicos vieram
possibilitar, integrando-os num paradigma tradicional de biblioteca, bastante
distante daquele que a Biblioteca 2.0 anuncia.
Os elementos no textuais (tabelas e grficos) foram includos no texto
quando tal se revelou indispensvel para ilustrar ou apoiar a anlise e numerados
individualmente em cada captulo. Outros elementos deste mesmo tipo foram
reunidos nos Anexos que so apresentados divididos conforme os captulos em que
ocorrem e numerados sequencialmente.
Quer as referncias bibliogrficas no texto, quer a bibliografia utilizadas
foram organizadas de acorda com Norma Portuguesa 405.
Com este trabalho, pela primeira vez, a comunidade dos profissionais, a
academia, mas tambm o cidado interessado nestes temas, tem acesso, no s a
um conjunto de dados que nesta extenso e diversidade nunca tinham sido
apresentados, mas sobretudo aos resultados de uma abordagem que associa dois
aspetos fundamentais, tantas vezes tratados de forma separada, o que permite ter
uma viso integradora da realidade estudada.
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I. ABORDAGEM METODOLGICA
Uma vez definida a rea de estudo e os objetivos que se pretendem atingir
num projeto de investigao, a construo do caminho para atingir esse desiderato
constitui a pedra de toque fundamental. Alis, mais do que atingir verdades
universais, o que verdadeiramente caracteriza a produo de conhecimento nas
cincias sociais, como referia Marc Bloch (1993) em relao Histria, o estudo
cientificamente conduzido. A cientificidade avalia-se, em grande parte, pela
adequao da abordagem metodolgica para atingir os objetivos definidos e a sua
aplicao transparente e rigorosa.
O presente captulo trata exatamente desse caminho, ou seja, descreve-se o
desenho da investigao posta em prtica, o que inclui as opes relativas aos
mtodos utilizados, recolha e ao tratamento dos dados, bem como ao estudo da
literatura at agora produzida. Identificam-se tambm os pressupostos ticos que
nortearam o processo e os critrios de avaliao da qualidade da investigao
aplicados.
Considerando que se pretendia fundamental abordar a realidade de dois
pontos de vista, o das prticas das bibliotecas na utilizao da Web 2.0 e as
concepes dos profissionais sobre essas prticas e seus impactos nas bibliotecas, foi
utilizada uma abordagem que passou pela triangulao de dados e resultados,
usando uma abordagem quantitativa e qualitativa para estudar as prticas e uma de
natureza apenas qualitativa para anlise das concepes.
1.1 Seleo dos mtodos
A escolha da abordagem metodolgica adequada para atingir os objetivos de
uma investigao depende, de forma genrica, da opo filosfica do investigador
relativamente realidade e ao ato de conhecer. De forma sinttica pode dizer-se,
sem a classificao das vrias correntes possveis, que existem duas grande
concepes: uma que v a realidade de forma exterior ao sujeito, ou seja, a
realidade existe de per si, e pode ser conhecida por mtodos objetivos que
permitam encontrar a verdade explicativa de um fenmeno; outra que considera
que a realidade uma construo social e, portanto, s pode ser conhecida atravs
17
dos olhos desse sujeito. Mais do que considerar a existncia de uma realidade
qual s atravs do sujeito se poderia aceder, nesta perspetiva, a realidade uma
construo exclusivamente social, ou seja, s existe enquanto o sujeito a construir.
Destas duas concepes decorrem genericamente, pelo menos nos seus
extremos, duas diferentes abordagens metodolgicas, designadas respetivamente
por quantitativas e qualitativas. O racional da primeira abordagem o de que uma
das formas de melhor conhecer essa realidade atravs da sua expresso em
quantidades, donde o desenvolvimento de tcnicas de tratamento quantitativo dos
dados. Esta perspetiva estendeu-se inclusive s cincias sociais atravs da
quantificao das qualidades. Pelo contrrio, o racional da segunda abordagem
considera que as qualidades no so quantificveis, elas expressam-se no mbito de
um discurso do sujeito, donde conhecer a realidade conhecer os discursos dos
sujeitos que se apresentam dentro de um determinado contexto que os torna
nicos, donde o material da abordagem qualitativa sobretudo o texto, enquanto
corporizao desse discurso e intermedirio para o conhecimento da realidade, o
pensamento do sujeito (Gorman e Clayton, 2005; Pickard, 2008; Flick, 2009)
No entanto, as diferenas entre estas duas abordagens concretizam-se de
forma mais complexa do que a dicotomia do pargrafo anterior faz crer. De facto, a
abordagem metodolgica genericamente designada por quantitativa aquela que
tem como base o comumente designado mtodo cientfico, ou seja, um processo
linear e dedutivo de abordagem realidade e sua interpretao classicamente
definido nas seguintes fazes: contexto terico (reviso da literatura) --- hipteses ---
seleo do(s) mtodos apropriados --- definio da amostra --- desenho os
instrumentos de recolha de dados --- recolha de dados --- anlise dos dados---
generalizao dos resultados --- leis gerais.
Pelo contrrio, a abordagem qualitativa pretende fundamentalmente
compreender o sentido dos fenmenos dentro de um determinado contexto a partir
do ponto de vista dos seus participantes e desenvolver teorias com base nesses
dados. Assim, em sintese, pode afirmar-se que a investigao qualitativa um
process of enquiry that draws from the context in which events occur, in an
attempt to describe these occurrences, as a means of determine the process in
which events are embedded and the perspectives of those participating in the
18
events, using induction to derive possible explanation based on the observed
phenomena (Gorman e Clayton, 2005, p. 3).
Esta abordagem apresenta como caractersticas essenciais a escolha correta
dos mtodos e teorias apropriadas, a anlise da diversidade de perspetivas dos
participantes, a variedade de abordagens e mtodos, a permanente e estreita
relao com os dados empricos e um processo de gerao do conhecimento que se
baseia na induo (Gorman e Clayton, 2005; Flick, 2009). Assim, como afirma Flick
(2009, p. 15) qualitative researchs central criteria depend on whether findings are
grounded in empirical material or whether the methods are appropriately selected
and applied as well as the relevance of findings and the reflexivity of proceedings.
Estas duas abordagens de base apresentam diversas foras e fraquezas, o que
fez emergir, desde h alguns anos, o que poderia ser designado por 3 via e que se
traduz numa combinao de estratgias qualitativas e quantitativas como alternativa
uma certa guerrilha entre os paradigmas de conhecimento (Flick, 2009).
Esta 3 via designada na literatura quer com uma terminologia diferente,
quer, em alguns aspetos, com uma concepo com algumas divergncias,
apresentando, no entanto, uma base de aspetos convergentes.
Conhecida inicialmente como triangulao, Gorman e Clayton (2005)
referiam j no incio da primeira dcada deste sculo, apoiando-se em Burgess, que
esta terminologia estava j desatualizada porque ela implica a ideia de trs pontos
num tringulo. Assim, a terminologia Mtodos Mistos parece ter-se tornado a
preferida. No entanto, Denscombe (2007) esclarece que no h nada de novo nesta
estratgia, embora reconhea que a identificao de uma abordagem designada por
Mtodos Mistos relativamente nova.
A partir daqui, parece existir aparentemente uma diferena conceptual entre
alguns autores. Denscombe (2007, pp. 107-108) v a triangulao como um aspeto
da utilizao dos mtodos mistos, que so definidos como aqueles que, em primeiro
lugar, utilizam abordagens quantitativas e qualitativas no mesmo projeto de
investigao. Mas, para alm de utilizar o quantitativo / qualitativo, fundamental
estabelecer as formas da relao entre os dois e este aspeto que o autor designa
especificamente como triangulao, esclarecendo que the Mixed Methods
approach emphasizes the need to explain why the alternative approaches are
19
beneficial and how the alternatives are to be brought together (Denscombe, 2007,
p. 108). Por ltimo, para este mesmo autor, os mtodos mistos pem o enfase numa
abordagem prtica a um problema de investigao, ou seja, the Mixed Methods
approach is problem-driven in the sense that it treats the research problem more
specifically answers to the research problem as a overriding concern (Denscombe,
2007, p. 108).
Assim, para Denscombe (2007, p.134) a triangulao involves the practice of
viewing things from more than one perspective. This can mean the use of different
methods, different sources of data or even different researchers within the study.
The principle behind this is that researcher can get a better understanding of the
thing that is being investigated if she/he views it from different positions. Se
comparada esta definio com as caractersticas que o mesmo autor atribui aos
mtodos mistos no so claras as suas radicais diferenas. Parece que se est em
presena de uma nova terminologia que pretende afastar a ideia de um certo
determinismo implcito no termo triangulao, mas que olha o problema
essencialmente da mesma perspetiva. Nem mesmo existe uma diferena de ponto
de vista, j que, embora os termos mtodos mistos apontem para uma mistura de
mtodos, in practice, the term mixed methods has come to be used in a general
sense to cover the spectrum of ways in which mixing can occur in the research
process. In effect, it has given its name to a broad approach to research
(Denscombe, 2007, p. 108).
Flick (2009, p. 445) parece preferir o termo triangulao que define como a
abordagem na qual os investigadores respondem s questes da investigao de
acordo com vrias perspetivas. Estas perspetivas podem ser, segundo o mesmo
autor, substantiated in using several methods and/or in several theoretical
approaches. Both are or should be linked. Furthermore it refers to combining
different sorts of data on the background of the theoretical perspectives, which are
applied to the data. As far as possible, these perspectives should be treated and
applied on an equal footing and in an equally consequent way. At the same time,
triangulation (of different methods or data sorts) should allow a principal surplus of
knowledge..
20
Assim, como resultado desta discusso, pode concluir-se que triangulao
significa: a) a utilizao de abordagens metodolgicas quantitativas e qualitativas na
prossecuo dos objetivos da investigao; b) a definio de formas de relao entre
estas duas abordagens no mbito concreto de um projeto de investigao; c) a
possibilidade de combinar as duas abordagens de diversas formas.
A escolha dos mtodos a utilizar deve ser orientada fundamentalmente pelo
critrio da adequabilidade aos objetivos da investigao. Como refere Denscombe
(2007, p. 134), researchers should ask themselves which method is best suited to
the task at hand and operate on the premise that when choosing a method for the
collection of data, it is a matter of horses for courses. No existe, portanto, uma
nica e melhor soluo, mas deve ter-se em conta que cada mtodo tem as suas
foras e fraquezas e que, embora algumas estratgias de investigao estejam
associadas a um determinado tipo de mtodos, isto no exclui a possibilidade de
escolha, pelo que estes no so mutuamente exclusivos. (Denscombe, 2007, pp.
133-134).
A utilizao de diferentes abordagens metodolgicas levanta vrias questes
conceptuais que o investigador deve ter linha de conta. Em primeiro lugar, so
invocados diferentes paradigmas de investigao. Para os apoiantes menos crticos,
esta circunstncia no levanta qualquer problema. Pelo contrrio, mixed methods
approach is built on the belief that not only is allowable to mix methods from
alternative and incompatible paradigms of research but it is also desirable to do so in
order to provide answers that work (Denscombe, 2007, p. 117).
Para outros, como Flick (2009), a utilizao da triangulao ao nvel
metodolgico, sobretudo dentro da mesma abordagem, est ferida de insanveis
incompatibilidades epistemolgicas exatamente porque impossvel compatibilizar
duas abordagens to distintas ao ato de conhecer. Efetivamente, para este autor
(p.33), the problems in combining qualitative and quantitative research
nevertheless have not yet been solved in a satisfying way. Attempts to integrate
both approaches often end up in a one-after-the-other (with different preferences),
a side-by-side (with various degrees of independence of both strategies), or a
dominance (also with different preferences) approach. Embora seja possvel admitir
que uma das formas de ultrapassar esta incompatibilidade a de ver a aplicao das
21
duas abordagens de forma paralela durante o percurso da investigao, a questo
est em saber se essa incompatibilidade epistemolgica no deve ser claramente
admitida e, portanto, ser tida em linha de conta na construo final do
conhecimento por parte do investigador em vez de discutir, por exemplo, a
subordinao de uma abordagem a outra como forma de validao dos resultados.
Denscombe (2007, p.138) parece, neste aspeto, apontar para uma perspetiva
mais equilibrada, no deixando exatamente de reconhecer a existncia deste tipo de
problemas. Assim, para este autor triangulation cannot prove that the researcher as
got it right. In view of the nature of social reality and the nature of social
measurement devices, triangulations potential needs to be seen more cautiously as
providing more support, increasing confidence and reducing the possibility of
error.
Tendo em conta estas limitaes, a triangulao pode ser, no entanto,
utilizada para obter vrios tipos de objetivos. Em primeiro lugar, tem potencialidade
para permitir obter uma viso mais alargada e completa do fenmeno em estudo
que pode ser abordado de diferentes pontos de vista. Como esclarece Denscombe
(2007, p. 110), the benefit of the Mixed Methods approach in this instance is that
the data produced by the different methods can be complementary. They can
provide alternative perspectives that, when combined, go further towards an all-
embracing vision of the subject than could be produced using a mono-method
approach.
Por outro lado, o emprego da triangulao pode compensar as fraquezas das
abordagens individuais, o que no limite possibilita a validao dos resultados em
termos de preciso (Gorman e Clayton, 2005; Denscombe, 2007, Flick, 2009). Assim,
by combining multiple observers, theories, methods and data sources, (researchers)
can hope to overcome the intrinsic bias that comes from single-methods, single
observer, and single theory studies (Denzin, citado por Denscombe, 2007, p. 11).
Flick (2009) v neste aspeto um dos principais objetivos da triangulao quantitativo
/ qualitativo, partindo do princpio que os mtodos qualitativos e quantitativos
devem ser vistos mais de forma complementar do que em oposio. No entanto,
para este autor (2009, p.27), e em virtude das incompatibilidades epistemolgicas j
22
assinaladas, the different methods remain autonomous; operating side by side, and
their meeting point is the issue under study.
Para alm de permitir uma viso mais abrangente do fenmeno, a
triangulao pode tambm ser utilizada como forma de desenvolver a anlise, no
sentido em que novos dados sero procurados a partir dos resultados da aplicao
de uma das abordagens. Finalmente, a triangulao pode tambm ser utilizada para
o desenvolvimento de instrumentos de investigao, como no caso da realizao de
entrevistas exploratrias para construir um questionrio ou vice-versa (Denscombe,
2007) e para proporcionar uma generalizao dos resultados (Flick, 2009).
Existem, como se verificar em seguida, muitas formas de combinar as duas
perspetivas, mas a escolha da forma mais adequada should be determined by the
reasons for doing so, set against the circumstances, context and practical aspects of
the research (Gorman e Clayton, 2005, p. 13). Portanto, de acordo
fundamentalmente com os objetivos e as questes de investigao que se dever
selecionar a melhor combinatria, embora a literatura sugira uma multiplicidade de
possibilidades.
Ao nvel do desenho da investigao, as duas abordagens podem ser
combinadas sinteticamente das seguintes formas, a saber (Denscombe, 2007; Flick,
2009):
Estatuto equivalente: QUAL QUAN // QUAN QUAL, ou seja, as duas
abordagens so igualmente relevantes e no se estabelece qualquer forma
de subordinao;
Estatuto mais e menos dominante: qual QUAN // QUAL quan, ou seja,
neste caso h uma clara subordinao de uma das perspetivas, podendo ser a
qualitativa ou a quantitativa.
Particularmente no primeiro caso em que o estatuto das duas abordagens
equivalente, parte-se do princpio de que treating qualitative and quantitative
approaches to research as incompatible opposites is neither helpful nor realistic
when it comes to research activity (Denscombe, 2007, p. 108).
Para alm deste nvel, a literatura define ainda os seguintes tipos possveis de
triangulao (Denscombe, 2007; Flick, 2009; Saldaa, 2013):
23
a) Triangulao metodolgica (entre mtodos), que apresenta vantagem de os
resultados poderem ser corroborados ou questionados comparando dados obtidos
com diferentes mtodos. Os resultados podem ser complementados adicionando
qualquer coisa de novo e de diferente ao que conhecido atravs da utilizao de
um s mtodo;
b) Triangulao metodolgica (dentro dos mtodos), ou seja, a comparao
utilizando mtodos similares. Este tipo de triangulao particularmente adaptado
para a anlise e avaliao de dados quantitativos e para o desenvolvimento de
instrumentos de recolha de dados;
c) Triangulao dos dados, ou seja, a utilizao de fontes de informao
contrastantes e posterior anlise. Neste mbito Flick, que v a triangulao
sobretudo dentro da abordagem qualitativa, refere duas possibilidades: a
transformao de dados qualitativos em quantitativos e vice-versa. (Flick, 2009, p.
444). Esta triangulao na anlise dos dados pode ser aplicada segundo trs
diferentes abordagens: a) utilizao de vrios mtodos para analisar os dados; b)
usar diferentes formas de anlise dos dados; c) misturar os dados no processo de
anlise em geral (Flick, 2009, p. 449);
d) Triangulao do investigador, ou seja, a investigao envolve vrios investigadores
que analisam os mesmos dados (Flick, 2009);
e) Triangulao das teorias, quer dizer, utilizao de mais do que uma teoria na
interpretao dos dados. (Denscombe, 2007; Flick, 2009).
O uso desta abordagem apresenta, segundo os autores que tm vindo a ser
citados, vrias vantagens e desvantagens. Entre as primeiras contam-se um
conhecimento mais aprofundado do fenmeno em estudo, atravs do desenho de
uma imagem mais completa, mas tambm da possibilidade de responder a um leque
mais variado de questes de investigao. Como explicitamente refere Denscombe
(2007, p.118), by encouraging the use of qualitative and quantitative methods and
by facilitating a blend of exploratory and explanatory research, the findings are likely
to address a wider range of the questions relating to how, why, what, who,
when and how many. Em segundo lugar, a possibilidade de melhorar a preciso e
a autenticidade, como forma de validao dos resultados, caso em que os mtodos
so vistos como forma de corroborar os resultados (Denscombe, 2007; Flick, 2009).
24
No que concerne s desvantagens, contam-se, a possibilidade do tempo e
custos necessrios ao desenvolvimento do projeto de investigao poderem ser
superiores. Em segundo lugar, a distino entre QUAL / QUAN tende a simplificar
muito as questes, porque se the labels QUAL and QUAN are convenient to use and
easy to understand, a clear dividing line between qualitative and quantitative
approaches is hard to sustain at either a practical or philosophical level
(Denscombe, 2007, p. 119). Por outro lado, os resultados de diferentes mtodos
podem no corroborar-se uns aos outros e, segundo Denscombe (2007, p. 120), the
Mixed Methods approach, to a large degree, operates on the assumption that
findings will coincide and that this will be a positive contribution to the research
project. Flick (2009, pp. 450-451) apresenta, sobre este aspeto, uma perspetiva
diferente que no v na divergncia um problema, mas uma oportunidade,
exatamente para teorizar sobre essa divergncia e compreender as suas formas e
motivaes. , assim, que para este autor, a triangulao becomes fruitful as a
strategy for a more comprehensive understanding and a challenge to look for more
and better explanation.
Efetivamente, podem esperar-se, pelo menos, trs tipos de resultados
possveis de uma abordagem desta natureza, a saber: a) resultados convergentes,
que suportam as mesmas concluses; b) os resultados focam-se em diferentes
aspetos de um fenmeno, mas so complementares uns dos outros e levam a uma
imagem mais completa; c) os resultados so divergentes (Flick, 2009).
A definio de uma amostra em triangulao deve assegurar que uma
estratgia adequada a cada mtodo pode ser posta em prtica neste contexto e, em
segundo lugar, definir que formas de a entrelaar que fazem sentido (Flick, 2009).
Finalmente a literatura sugere algumas diretrizes para a utilizao eficiente e
eficaz de uma abordagem deste tipo. O investigador deve, em primeira instncia,
explicitar quais os objetivos que pretende atingir com a triangulao, os quais so,
em sntese aumentar a preciso dos resultados e, portanto, assegurar uma maior
validade; e obter uma imagem mais completa do fenmeno. Por outro lado, na
escrita dos resultados, deve dar-se especial destaque comparao, contraste e
integrao dos dados em vez de deixar as diferentes fontes ou tipo de dados em
separado (Denscombe, 2007). No emprego das duas abordagens deve ainda refletir-
25
se sobre o peso a conferir a cada uma delas no que respeita ao plano da
investigao, relevncia dos resultados e ao julgamento da qualidade da
investigao; e decidir qual a relao entre as duas. Segundo Flick (2009, p. 33), ter
em conta estas diretrizes permitir the development of sensitive designs of using
qualitative and quantitative research in a pragmatic and reflexive way.
Considerando os propsitos fundamentais desta investigao, a anlise das
prticas e das concepes, foi decidido utilizar a triangulao como abordagem
metodolgica fundamental. De entre os vrios tipos de triangulao possveis
utilizou-se sobretudo de triangulao dos resultados (dados e interpretao) e no
tanto dos mtodos, j que no so exatamente os mesmos dados que so analisados
de acordo com mtodos diferentes, mas dados de vrio tipo sobre o mesmo
fenmeno que so triangulados na interpretao final.
Esta abordagem metodolgica foi utilizada tendo em conta se pretendiam
atingir os seguintes objetivos:
a) Obter uma perspetiva mais alargada e diversificada do fenmeno em estudo.
Assim, na anlise das prticas das bibliotecas nas plataformas selecionadas foi feita
uma abordagem quantitativa e qualitativa, no ltimo caso aplicada s suas
publicaes e definio dos seus perfis na rede. O racional desta ltima escolha
tem por base a perspetiva de que a flexibilidade da abordagem qualitativa permite
uma adaptabilidade e compreenso em profundidade do seu contedo. A anlise
das concepes e percepes dos profissionais foi exclusivamente realizada atravs
de uma abordagem qualitativa.
O facto de se encararem de forma relativamente independente estas duas
dimenses do mesmo fenmeno decorre da perspetiva de que, embora
intimamente relacionadas no sentido em que as prticas resultam de determinadas
concepes e estas podem ser transformadas pelo exerccio continuado de certas
prticas, elas as prticas - podem apresentar algum nvel de autonomia
considerando que nem todas as prticas humanas so racionais ou tm um
determinado racional assumido e sistematicamente aplicado.
Por outro lado, nem sempre os sujeitos, mesmo na sua qualidade de
profissionais, assumem um discurso sobre determinadas prticas. Por exemplo,
embora este aspeto tenha emergido do discurso dos profissionais e no tenha sido
26
sistematicamente abordado, a fim de evitar situaes de eventual confronto
entrevistador/entrevistado, verdade que em alguns casos no existe uma exata
coincidncia entre a participao verificada e a participao assumida. De outro
ponto de vista, a opo de entrevistar apenas os bibliotecrios responsveis, se
apresenta vantagens em relao aos objetivos pretendidos, tem tambm a
desvantagem de estes poderem estar (como acontece em alguns casos) distantes da
efetiva operao nas plataformas e, portanto, a prtica revelar outro tipo de
realidades para alm daquelas que as perspetivas expostas no discurso fariam
antever.
No entanto, na anlise destas duas dimenses do fenmeno no est
assumido qualquer determinismo explicativo, mas apenas uma tentativa de
compreender as suas vrias dimenses.
b) Aumentar a probabilidade de generalizao dos resultados (validade externa).
Esta maior probabilidade foi conseguida fundamentalmente pela utilizao
sistemtica do universo das bibliotecas participantes nas plataformas da Web 2.0,
mas tambm pela seleo da amostra qualitativa tendo em conta as caractersticas
desse universo.
O investigador est consciente que esta abordagem deixa de fora as
bibliotecas e os profissionais que no utilizam este tipo de ferramentas, cuja
perspetiva seria tambm interessante conhecer.
Na aplicao destas duas abordagens, a construo do conhecimento usou
sempre um processo indutivo. No se partiu para os dados a tentar demonstrar
qualquer teoria (at porque no existe nenhuma teoria efetivamente digna desse
nome neste mbito aplicada s bibliotecas pblicas), nem para verificar qualquer
hiptese. Neste sentido, necessrio admitir o uso no cannico da abordagem
quantitativa, j que o investigador no abordou a realidade com qualquer
construo analtica pr-definida, nem quanto ao tipo de dados a recolher, nem
quanto sua forma de tratamento. Foi sobretudo a observao da realidade que
determinou a escolha dos dados a recolher. Os resultados da reviso da literatura
tiveram aqui algum papel, mas no existe qualquer estudo que trate to
aprofundadamente as prticas das bibliotecas pblicas. Tambm em relao ao
discurso profissional, no foi claro que os estudos sobre bibliotecas pblicas que
27
observam o fenmeno sob este ponto de vista tenham abordado as concepes dos
profissionais numa to grande diversidade de dimenses. Por outro lado, como j se
assinalou, foi igualmente utilizada a abordagem qualitativa para a anlise de
determinados aspetos da participao das bibliotecas, o que exclui qualquer
tentativa de quantificar esse tipo de dados. Assim, nesta investigao, a abordagem
quantitativa pode ser assim designada apenas por duas ordens de razes: utilizao
de quantidades e tratamentos dos dados de acordo com essa natureza.
Por outro lado, as perspetivas quantitativa e qualitativa foram aplicadas par a
par, predominantemente de forma autnoma, embora tenham sido exploradas as
possibilidades de contacto. A relao entre estas verificou-se predominantemente
nas seguintes situaes:
a) Universo/ Amostra. Considerando que o que fundamentalmente interessava era a
anlise do conjunto das bibliotecas participantes, a amostra intencional utilizada
para a recolha de dados sobre as concepes foi selecionada a partir do universo das
bibliotecas que emergiu do estudo das prticas de participao;
b) Anlise de resultados e impactos. Como j se referiu (cf. Introduo, ponto 2) o
aprofundamento da anlise no mbito dos resultados e impactos, particularmente
em algumas das plataformas, foi determinada, entre outras razes, pelos resultados
preliminares da anlise de algumas entrevistas;
c) Definio de alguns dos temas da entrevista. Determinadas dimenses dos temas
1 e 2 da entrevista, nomeadamente as relacionadas com a definio de uma
estratgia de participao e com os servios prestados nas plataformas da Web 2.0
emergiram de algumas constataes que a anlise da participao foi revelando.
Ainda neste mbito, quer a recolha de dados no mbito da participao das
bibliotecas, quer nas entrevistas determinaram a necessidade de voltar reviso da
literatura para aprofundar determinados aspetos. Por exemplo, a utilizao,
particularmente por duas bibliotecas, das plataformas na rea do Fundo Local e a
importncia dessa dimenso no discurso desses profissionais, obrigou o investigador
a pesquisar a existncia de literatura neste domnio, tendo dado origem ao ponto
5.3.
Uma viso completa e integradora do desenho desta investigao est
representada na fig.1, na qual a partir da definio dos fins e objetivos e da reviso
28
da literatura se abrem dois percursos de investigao, um dirigido anlise das
prticas das bibliotecas num conjunto de plataformas da Web 2.0 e outro s
concepes dos seus agentes profissionais, dos quais derivam resultados que sero
integradas numa interpretao final.
Fig. 1 Desenho da investigao
Embora se reconhea que esta abordagem no chega a configurar um
rigoroso desenho emergente da investigao, tal como a literatura o define, tambm
no pode ser qualificado como um processo completamente linear.
29
1.2 Reviso da Literatura
A reviso da literatura constitui-se como uma das primeiras etapas do
processo de investigao, depois da seleo do tpico, da definio dos objetivos e
da abordagem metodolgica. Ela pode ser definida como:
The selection of available documents on the topic, which contain information,
ideas, data and evidence written from a particular standpoint to fulfill certain aims
or express certain views on the nature of the topic and how it is to be investigated,
and the effective evaluation of these documents in relation to the research being
proposed. (Hart, 2009, p.13).
Desta definio decorrem dois aspetos fundamentais: a seleo dos
documentos disponveis e a sua avaliao. No primeiro caso, e se uma tese de
doutoramento deve demonstrar um conhecimento profundo do tpico objecto de
investigao e esse conhecimento deve ter como base a anlise do que foi
produzido, tambm verdade que no atual estado da produo e disseminao da
informao claramente impossvel ler toda a produo sobre um determinado
assunto.
Esta realidade, bem como os objetivos de investigao que se pretende
atingir, obrigam definio de critrios de seleo dos documentos a analisar. No
ambiente da investigao cientfica, o critrio de validao pelos pares continua a ser
ainda hoje o critrio base que assegura a validade dos resultados da investigao,
sendo, portanto, os documentos publicados neste contexto os privilegiados em
qualquer tentativa de identificao e leitura do que foi produzido sobre um
determinado assunto. Sendo assim, a reviso da literatura nesta tese selecionou os
documentos a analisar fundamentalmente de acordo com este critrio. O corpus
documental que resultou desta seleo foi ainda submetido a um outro critrio, que
foi o da centralidade que os temas objeto desta investigao tenham na literatura
identificada. Por centralidade entenda-se que o tratamento dado pela literatura a
esses temas deve ser nuclear e no meramente marginal ou exemplificativo.
A utilizao exclusiva de literatura validada pelos pares excluiria claramente
contributos importantes editados e disponibilizados fora desse contexto de
produo cientfica. A produo intelectual sobre, quer a Web 2.0 quer a biblioteca
30
2.0, nasceu maioritariamente no ambiente Web utilizando a pluralidade de formas
de comunicao existentes nesse contexto. De entre elas, os blogues assumem uma
importncia primordial. A ttulo de exemplo refira-se que as primeiras tentativas de
definio da Web 2.0 e da biblioteca 2.0 nasceram nos blogues da empresa OReilly
Media (Tim OReilly) e de Michael Casey (OReilly Media; Casey). No entanto, o
universo dos blogues , por um lado, extraordinariamente vasto, e por outro os
contributos apresentam uma desigual valia para a investigao (Tomaiuolo, 2012).
Assim, os blogues foram selecionados como fontes para a reviso da literatura de
acordo com os seguintes critrios:
a) Importncia do contributo para os objetivos da investigao;
b) Outra produo validada do autor do blogue, quer monogrfica, quer em
publicaes peridicas
c) Autoridade do autor, verificada atravs das referncias acadmicas e profissionais.
As anlises empreendidas, particularmente sobre a Web 2.0, por empresas
na rea do marketing e da consultadoria de mercados foram utilizadas desde que
cumprissem os seguintes critrios: importncia dos resultados para os objetivos da
investigao e reputao da empresa.
Assim, o tipo de cobertura do universo de possibilidades pode ser classificada
como exaustiva com citao seletiva, tendo-se chegado a um conjunto de
referncias bibliogrficas suficientemente exaustivo para atingir os objectivos da
investigao. (Randolph, 2009).
Para o assunto Bibliotecas Pblicas portuguesas o tipo de cobertura ser
completamente exaustivo no que respeita aos textos de alguma forma publicados
(excluem-se, portanto, textos no publicados), tendo em conta que se trata do
objeto de investigao, que este objeto considerado na totalidade e que, por
ltimo, um dos objetivos da dissertao o de sugerir uma estratgia para aplicao
do modelo biblioteca 2.0 s bibliotecas pblicas portuguesas.
A definio de Hart (2009, p.22), que tem vindo a ser referida, aponta um
outro aspeto que o da avaliao dos resultados e argumentos dos autores. Assim,
fazer uma reviso da literatura claramente muito mais do que elaborar uma
bibliografia anotada. ento, como afirma o prprio autor, think critically in terms
of evaluating ideas, methodologies and techniques to collect data, and reflect on
31
implication and possibilities for certain ideas. Como adiante se ver, a avaliao da
literatura foi conduzida de acordo com procedimentos metodolgicos especficos.
No processo de investigao, a reviso da literatura cumpre vrios
propsitos, a saber:
a) Compreender de forma aprofundada o tema objeto de investigao, o que implica
identificar os conceitos, teorias e dados mais relevantes, quer numa perspetiva
histrica, quer numa perspetiva de atualidade. A questo da perspetiva histrica
fundamental, levando alguns autores a referir claramente que da responsabilidade
do autor da tese investigate this history in order to provide the story of how a topic
was defined, established and developed. (Hart, 2009, p.173).
b) Identificar metodologias e tcnicas de pesquisa utilizadas por outros para o
estudo do mesmo tpico ou tpicos em campos do saber relacionados (Hart, 2009;
Gorman, 2005)
c) Construir uma abordagem original ao tema, ainda que condicionada pela
investigao realizada por outros (Hart, 2009);
d) Refletir nos impactos possveis sobre o tema. Distinguindo o que j foi investigado
do que necessita ser investigado e adquirindo uma nova perspetiva, o investigador
deve elaborar / reelaborar a sua investigao atravs de um conjunto de
recomendaes para a pesquisa que podem versar aspetos como a definio do
tpico ou as metodologias a aplicar. (Hart, 2009; Gorman, 2005);
d) Comparar os resultados da investigao realizada com os resultados j existentes
(Randolph, 2009).
Para atingir estes propsitos uma reviso da literatura deve demonstrar uma
clara compreenso do tpico, que todos os estudos importantes foram citados e a
maioria discutido, mostrar a variedade de definies e abordagens ao tpico e
mostrar falha (s) no conhecimento atual (Hart, 2009).
No contexto das abordagens qualitativas, as funes e papel da reviso da
literatura tm sido questionadas, identificando alguns autores duas escolas de
pensamento: uma que considera ser importante realizar a reviso da literatura antes
da recolha dos dados comungando dos propsitos j referidos, e outra que
considera que esta fase deve ser executada aps a recolha para evitar que o
investigador aborde a realidade com conceitos e noes pr-definidas que podero
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conduzir a uma anlise enviesada e mutilada da realidade, j que uma das
caractersticas deste tipo de abordagens o seu forte enraizamento nos dados da
investigao chegando s concluses predominantemente por um processo indutivo.
Para esta corrente de pensamento o propsito da reviso da literatura posteriori ,
por um lado, integrar os resultados num contexto mais lato, e por outro, compar-
los a fim de inferir dissemelhanas / semelhanas e eventualmente propor solues.
(Johnson, 2007).
Esta segunda corrente de pensamento est particularmente relacionada com
a um tipo de investigao qualitativa especfica designada por Teoria do Campo ou
Teoria Emergente (Grounded Theory), visto que foram os fundadores (Glasser e
Strauss) desta abordagem que em 1967 problematizaram pela primeira vez a
questo (Johnson, 2007; Flick, 2009).
A diferente forma de considerar a reviso da literatura no processo de
investigao dentro deste tipo de abordagens explica-se, de acordo com outros
autores (Flick, 2009), por circunstncias histricas precisas onde se verificava a
existncia de campos de investigao virgens, momento no qual tambm a
investigao qualitativa ensaiava os primeiros passos. Mas, depois de mais de um
sculo de desenvolvimento da investigao em Cincias Socais e de vrias dcadas
de utilizao deste tipo de investigao, , segundo Flick (2009, p. 48), rather nave
to think there are still new fields to explore, where nothing ever been published
before. (). Not everything has been researched, but almost everything you want to
research will probably connect with an existing neighboring field. No entanto, como
refere o mesmo autor, apesar de Strauss ter revisto esta posio h j algum tempo,
esta perspetiva continua presente nas imagens sobre a pesquisa qualitativa.
A desconstruo do problema empreendida por este autor no deve fazer
esquecer que a questo continua a ser problematizada, tendo-se chegado para
alguns a uma posio de compromisso entre os investigadores qualitativos, que
sintetizada de forma clara por Johnson quando escreve In sum, the current position
among qualitative researchers seems to be that a literature review can be of value,
but the researcher must make sure that this does not constraint and stifle the
discovery of new constructs, relationships and theories (Johnson, 2007, p. 67). Foi
exatamente esta a perspetiva utilizada neste projeto, at porque frequente o
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investigador encontrar novas fontes de informao embora uma pesquisa
bibliogrfica bem conduzida deva evitar a descoberta tardia de documentos
importantes (Gorman, 2005), mas tambm porque a investigao qualitativa implica
frequentemente a necessidade de voltar literatura visto que da anlise dos dados
pode decorrer um problema, uma questo at a no levantada; igualmente porque
importante contextualizar e comparar os resultados da investigao com outros; e
finalmente porque o objeto de anlise relativamente recente e com frequncia
surgem novas abordagens ou resultados de investigao.
A primeira fase do processo de construo da reviso da literatura a da
pesquisa de fontes de informao, que no seu estdio inicial se traduziu por uma
leitura no sistemtica sobre o tema genrico da investigao, mas que teve como
objetivo fundamental uma primeira identificao das problemticas, conceitos e
autores mais relevantes.
Antes da pesquisa se tornar sistemtica, fundamental a definio dos
tpicos a pesquisar (Hart, 2009), o que permite uma focalizao sobre o que
verdadeiramente interessa investigao. Esta definio deve aprofundar-se em
seguida estabelecendo reas temticas a pesquisar, cronologia de produo da
informao e as lnguas de pesquisa (Hart, 2009). Os assuntos objeto de investigao
foram os seguintes:
a) Web 2.0. O que se pretende como resultado fundamentalmente obter uma
viso de sntese sobre o que , na atualidade, a Web 2.0 e os impactos sociais mais
relevantes;
b) Ferramentas tecnolgicas Web 2.0, com o objetivo de conhecer as tecnologias e
as plataformas tipicamente associadas Web 2.0;
c) Biblioteca 2.0, fazendo uma cobertura o mais sistemtica possvel de toda a
informao relevante sobre este tema;
d) Biblioteca 2.0 e Bibliotecas Pblicas, identificando e analisando todas as fontes de
informao disponveis de forma a obter o estado da questo da investigao o mais
profundado possvel;
e) Bibliotecas Pblicas Portuguesas. Pretende-se obter uma viso aprofundada desta
realidade.
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f) A utilizao da Web 2.0 pelos portugueses, pretendendo obter um retrato
sinttico do estado da questo, incluindo neste contexto o caso dos municpios
portugueses, o qual se considerou relevante conhecer tendo em conta o contexto
organizacional das bibliotecas pblicas em Portugal.
As lnguas de pesquisa utilizadas foram fundamentalmente o Portugus, o
Ingls, o Francs e o Castelhano.
A definio de um vocabulrio de pesquisa, constitudo pelas palavras e
frases a utilizar, fundamental (Hart, 2009) para assegurar a exata focalizao sobre
o tema de investigao, mas igualmente para comparar resultados oriundos de
vrias fontes de informao. O vocabulrio de pesquisa utilizado por este projeto o
que consta da tabela 1 (ANEXO I).
A delimitao temporal da pesquisa foi a seguinte: para os temas Web 2.0,
Biblioteca 2.0 e Bibliotecas Pblicas e Biblioteca 2.0 tomou-se como marco o ano de
2005, visto que datam dessa altura as primeiras formulaes destes conceitos; para
o tema Bibliotecas Pblicas Portuguesas o marco foi o ano de 1983, data do
Manifesto da Leitura Pblica em Portugal que o momento de viragem na realidade
portuguesa no sentido de criao de bibliotecas pblicas contemporneas (Nunes,
1998).
Em termos de fontes de informao, a investigao utilizou os catlogos das
principais editoras de referncia na rea das bibliotecas, publicaes peridicas de
referncia cujas temticas incluem os tpicos de investigao, bases de dados de
referncias a publicaes cientficas neste mbito ou de texto integral (cf. Tabela 2,
ANEXO I), bem como a Web genericamente, atravs do motor de pesquisa Google.
Para o assunto Bibliotecas Pblicas Portuguesas, e para alm das fontes j referidas,
foram utilizadas as fontes especficas de origem portuguesa, nomeadamente
publicaes peridicas, atas de congressos, catlogos e repositrios de bibliotecas
universitrias cujas universidades ministrem cursos de mestrado e doutoramento no
mbito das bibliotecas (cf. Tabela 3, ANEXO I)
Um caso deve ser analisado, neste mbito, de forma especfica: a questo da
metodologia. A reviso da literatura neste domnio teve como objetivo fundamental
adquirir conhecimento sobre abordagens metodolgicas investigao do ponto de
vista genrico e na sua aplicao ao campo dos estudos de informao e bibliotecas,
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bem como sobre a utilizao de instrumentos de recolha de dados. Assim, foram
fundamentalmente utilizadas obras de sntese, muitas vezes com carcter
pedaggico, mas que no excluam as problemticas relevantes sobre a utilizao
dessas diversas abordagens. A opo de utilizar fundamentalmente uma perspetiva
qualitativa conduziu a privilegiar documentos onde este seja o assunto principal,
bem como o vocabulrio de pesquisa, que foi constitudo pelos seguintes termos e
frases: mtodos qualitativos; mtodos qualitativos E Cincia da Informao;
Entrevista; Inqurito; Tratamento Dados Qualitativos; Anlise Dados Qualitativos;
CAQDAS - Computer Assisted Qualitative Data Analysis.
A leitura das fontes de informao selecionadas destinou-se no s a
conhecer factos, perspetivas ou teorias, mas igualmente a produzir uma avaliao
analtica do contedo dessas fontes. Isto significa revelar o raciocnio que
fundamenta a investigao e os argumentos apresentados pelos autores (Hart,
2009). Para isto, a leitura dos documentos procurou identificar e extrair os aspetos
fundamentais dos textos analisados, a saber: conceitos, definies, factos,
argumentos, evidncias, hipteses, teorias, perspetivas, metodologias,
interpretaes, problemas, justificaes, tcnicas e concluses.
De entre os vrios aspetos a extrair da leitura das fontes de informao, os
argumentos construdos pelos autores que informam as suas concluses foram
objeto de uma ateno mais aprofundada. Um argumento , genericamente,
constitudo por dois componentes bsicos: uma afirmao e justificaes ou
evidncias que permitam a aceitao de outros. Na avaliao de um argumento
questiona-se a relao entre as premissas de onde parte e as concluses a que
chega. Para que a concluso possa ser aceite, ela deve decorrer dessas premissas, as
quais devem, por sua vez, ser verdadeiras, ou sendo suposies, justificveis (Hart,
2009). Nesta relao entre premissas e concluses, as evidncias desempenham um
papel fundamental visto que nelas se baseia em grande parte a validade de um
argumento, e sero analisadas de acordo com critrios de quantidade, relevncia,
reprodutibilidade e credibilidade.
A validade das evidncias, por seu turno, baseia-se nas opes metodolgicas
de cada investigao e na correta utilizao dos instrumentos de recolha de dados
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adequados aos objetivos da investigao e da realidade a analisar. Assim, essas
opes foram igualmente consideradas na anlise dos textos selecionados.
A utilizao apropriada, sistemtica e consistente de conceitos e palavras
implica defini-los de forma clara. Assim, a anlise das definies constitui igualmente
um aspeto a ter em conta neste processo, tendo particularmente em considerao
que o tema essencial da investigao, a Biblioteca 2.0, se encontra ainda numa fase
de estudo relativamente pouco estabilizada.
Aps a anlise, o mapeamento da literatura sobre um assunto, definido como
o processo de identificar o que foi feito, quando foi feito, que mtodos foram
usados, quem fez o qu, mas tambm relacionar ideias e argumentos pode ser
executado com recurso a vrias tcnicas (Hart, 2009). De entre as possveis, optou-se
pela utilizao de mapas de caractersticas, que se traduzem na anlise sistemtica
do contedo das fontes selecionadas registada num formato estandardizado,
permitindo construir um esquema sumrio do argumento proposto pelo estudo e,
posteriormente, localizar semelhanas e diferenas entre os vrios autores. Assim,
em termos operacionais, o resultado da leitura das fontes selecionadas foi registado
no contexto do formulrio disponvel no servio Mendeley 1 , o qual permite
armazenar, organizar e anotar verses digitais dos documentos selecionados.
No caso da literatura no acadmica, da literatura profissional ou da que no
apresenta uma clara metodologia na abordagem do tema, a literatura sobre este
domnio aconselha a utilizao de uma anlise retrica entendida como the study
of how language has been used to make an argument appear plausible. It envolves
analizing the elements authors have employed to construct their arguments (Hart,
2009, p.158). Estes elementos, ou mecanismos retricos, podem ser de vrios tipo, a
saber: as credenciais do autor, a perspetiva a partir da qual constri o argumento, a
forma como expressa as ideias, a estrutura geral do discurso sobre um evento.
No mbito da literatura de carcter mais tcnico sobre as tecnologias e
ferramentas tecnolgicas da Web 2.0, a anlise foi empreendida no sentido de obter
uma descrio das caractersticas e funcionalidades, bem como das potencialidades
de aplicao.
1 Disponvel em http://www.mendeley.com/
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A anlise das fontes foi, por outro lado, conduzida num pano de fundo de
atitude crtica, que se traduziu em concordar com uma determinada posio
avaliando as suas foras e fraquezas; rejeitar, justificando, determinadas
abordagens; focar a anlise em ideias, teorias e argumentos e no nos autores;
produzir uma anlise rigorosa; reformular argumentos anteriores no sentido de
produzir uma sntese, quer dizer, um novo ponto de vista sobre o assunto; encontrar
falhas em argumentos identificando falcias, desadequaes, falta de evidncias
(Hart, 2009).
Na ltima fase d