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7/13/2019 1960 Proletariado e Mudana Social Em SP 1960
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SO IOLOGI
REVIST DEDI D TEORI E PESQUIS N S CIINCI S SO I IS
VOLUME
XXII
M RO
DE
1960
SUMR O
NMERO
PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL
EM
SAO PAULO .
Fernando Henrique Cardoso
A FAMLIA DO
IMIGRANTE
JAPONS PARA O BRASIL . .Hiroshi Saito
A ANALISE
SOCIOLGICA
DA
EDUCAO.. . . . .
Marialice
M.
Foracchi
ASPECTS DE LA SOCIOLOGIE RELIGIEUSE EN FRANCE Jean
Labbens
RURAL DEVELOPMENT AND THE SOCIAL SCIENCES Wilfrid Bailey
O CHOQUE CULTURAL E OS PROBLEMAS DE AJUSTAMENTO
A NOVOS MEIOS CULTURAIS Kalervo
Oberg
NOTICIARIO
RESENHAS
BIBLIOGRAFICAS:
J
V
D Saunders
DlFFERENTIAL FERTILITY
IN
BRAZIL .
. , . . J. V Freitas Marcondes
Universidad de Chile
SEMINARIO DEL GRAN SANTIAGO
coorde-
nacin
de
Pastor Correa) A
Delorenzo Neto
Mis in Economia e Humanismo
ESTUDIO SOBRE
LAS
CONDI
CIONES DEL
DESARROLLO
DE COLOMBIA.
A
Delorenzo Neto
Paul Meadows
EL
PROCESO
SOCIAL
DE
LA REVOLUCION .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .
Manoel Digues
Jr.
Gino
Germani
LA
SOCIOLOGIA
CIENTFICA
Manoel Digues Jr.
Alberto
Guerreiro
Ramos
A REDUAO SOCIOLGICA .
Manoel Berlinck
REVISTAS
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A revista
Sociologia
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7/13/2019 1960 Proletariado e Mudana Social Em SP 1960
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P ROLE TARIADO E MUDANA SOCIAL
M SAO PAULO
FERN NDO HENRIQUE RDOSO
da Universidade de So Paulo
Concentrarei a anlise neste trabalho sbre
um
aspecto do
processo de mudana social nos pases subdesenvolvidos que fre
qentemente pouco lembrado como
tema
significativo quarido se
pensa nos fatres extra-econmicos que dificultam a emergncia
de novas formas de ajustamento social e
na
integrao da nova
ordem social. Refiro-me s atitudes e s expectativas do proleta
riado nas sociedades em processo de industrializao.
Resultado
da
alterao nas formas tradicionais de produo
condio e conseqncia
da mudana
social
nas
reas onde o ca
pitalismo penetra
na
produo o proletariado visto vulgarmen
te como a objetivao da nov ordem imune por isto mesmo s
sobrevivncias culturais
e
com maior razo sequer lembrado
como fo o de resistncia s mudanas.
conveniente esclarecer entretanto desde logo . que no con
sidero
os
obstculos e
os
fatres de
natureza
extr-econmica que
retardam o desenvolvimento como os responsveis pelo subdesen
volvimento - dado que so caractersticos do atraso econmico
e
muito
menos como atributos exclusivos dos povos e
da
cultura
dos pases subdesenvolvidos da atualidade pois que a histria do
processo de introduo e crescimento do capitalismo nas reas
atualmente muito industrializadas mostra que problemas de na
tureza semelhante tiveram que ser enfrentados naquelas regies
tambm e portanto tais obstculos no so de natureza a con
denar extensas reas do globo ao eterno subdesenvolvimento. Por
outro lado convm frisar tambm de incio que ao considerar os
focos de resistncia
mudana no
proletariado no estou pensan
do
na tendncia historicamente verificada da reao dos operrios
contra a introduo da tecnologia moderna ou no efeito negativo
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SO IOLOGI
sbre a economia da emprsa que pode derivar
da
atitude reivin
dicativa dos trabalhadores. Bem ao contrrio, discutirei neste
artigo
os
efeitos sbre o processo de
mudana
social
da
ausncia de
expectativas e atitudes definidas racionalmente em funo dos
intersses de classe, entre os operrios das reas em expanso in
dustrial rpida e recente. No me preocuparei, portanto, com as
conseqncias da
falt
de
tal
definio sbre a propriedade das
emprsas capitalistas.
H
poucas pesquisas sociolgicas realizadas no Brasil sbre a
formao do proletariado e menos ainda sbre a formao
da
conscincia proletria , especificamente, e das atitudes e expecta
tivas dos
o p ~ r r o s
em face
da
ordem industrial emergente. Sbre
o proletariado paulista, por exemplo,
h
apenas alguns e3tudos
pioneiros, como os de Aziz Simo sbre O voto operrio em So
Paulo (1) ou os de Juarez Brando Lopes sbre A fixao do
operrio de origem
rural na indstria
(2), aos quais se
~ o
pesquisas ainda no terminadas como a de Maria Sylvia Moreira
sbre
uma
greve em 1957 e a de Michael
Lowy
e
Sarah
Chucid
sbre as opinies e ati tudes de grupos das direes sindiCais, bem
como o estudo recente de Oliveiros
S.
Ferreira sbre
os
resultados
das eleies paulistas, e
um
levantamento feito pelo
autor
dste
trabalho
numa
indstria paulistana, cujos primeiros resultados
parciais foram apresentados
numa
comunicao ao congresso da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia realizado em So
Paulo em 1958 que recebeu o ttulo de Polarizao dos intcrsses
de patres e operrios
numa
indstria .
Entretanto, apesar da escassez da bibliografia especiallzada,
os
resultados
da
investigao cientfica permitem que se confir
mem nas linhas gerais as afirmaes que tm sido feitas pelos
muitos que se tm preocupado, baseando-se
na
experincia direta
e no conhecimento de situaes sociais particulares, com o com-
O) Aziz Simo, O voto operrio
em
So Paulo ,
in
nais
do
1
Con-
gressorasileiro Sociologia
So Paulo, 1955, pgs. 201-204.
:t lste autor
continua
realizando pesquisas
tanto
sbre a formao do proletariado
em cooperao com
~ u l
Beiguelman
como sbre o comportamento
poltico dos operrios.
2)
Juarez Brando Lopes, Fixao do operrio de origem rural na
indstria ,
in Educao
e
incias Sociais ano 11
voI.
2
n.O 6 novembro
de
1957.
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PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL
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portamento dos operrios paulistas: suas reaes em face o que
se poderia presumir serem os intersses legtimos da classe so
contraditrias.
Assim, enquanto alguns estudos mostram a tendncia o voto
operrio concentrar-se em trno do Partido Comunista e o Par
tido Trabalhista em certas eleies, noutras, movimentos como o
janismo empolgam a votao operria; lideres sindicais que
ganham projeo em reivindicaes operrias so, ao mesmo tem
po, fragorosamente derrotados nas eleies; da mesma maneira
como se pode
notar
capacidade de organizao, combatividade e
liderana relativamente segura nos momentos de greve, as pes
quisas feitas revelam atitudes conformistas e a persistncia e
liames de cunho paternalista entre operrios e patres; se, por
um lado, intensifica-se o processo e diferenciao e especializao
profissional, com o aumento conseqente das possibilidades de
realizao de carreiras proletrias , por outro lado persistem na
orientao do comportamento de segmentos da populao oper
ria valores no proletrios quanto aos ideais de realizao profis
sional, como o de trabalhar por conta prpria , que contLflua a
simbolizar
para
aqules segmentos o apangio de
uma
vida de
prosperidade e segurana econmica; e assim por diante.
A hiptese de explicao sociolgica destas reaes no coe
rentes quase bvia. Se
~ p o s s v
considerar o segmento da
populao paulista a que estou-me referindo como a camada dos
trabalhadores
da
indstria, porque seus membros exercem funes
definidas nas emprsas que permitem sua identificao em trmos
homogneos e porque se relacionam com o grupo patronal. que
detm
os
instrumentos da produo, em trmos de vendedores
da
fra de trabalho prpria, por outro lado, no houve aind , nem
o transcorrer o tempo - que faz da experincia comum vivida
memria tambm comum de xitos, dificuldades e fracassos soli
drios nem a produo, pelas condies gerais que regulam a
dinmica e a mobilidade
numa
sociedade de classes, de uma situa
o social na qual o ser proletrio se torna quase uma condio
perene atravs das geraes, donde no se terem desenvolvido
ainda entre
os
trabalhadores paulistas todos
os
atributos neces
srios
para
que seja possvel consider-los plenamente com,
uma
l sse
proletri Isto
das condies comuns de vida no deri
vou inteiramente, por enquanto, nem a conscincia de
um
dstino
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SO IOLO I
comum a ser alcanado
nem
a conscincia
da
igualdade funda
mental da situao de classe ou de seus intersses solidrios nem
a conscincia racional dstes mesmos intersses. E por outro
lado no se rotinizaram completamente pelas mesmas condies
gerais acima referidas atitudes e expectativas novas que implicas
sem independentemente do grau de conscincia social alcanado
numa redefinio prtica dos valores que orientam a ao dos
trabalhadores.
Quais os fatres que
tm
dificultado a conscincia comum e
racional
da
situao de classe e a emergncia de atitudes e ex
pectativas compatveis com as novas maneiras de trabalhar e
viver? A resposta
ainda
em trmos de hiptese geral imediata:
a industrializao rpida e a prosperidade capitalista crescente.
De fato por estas razes a camada proletria brasileira de
uma parte jovem .
Isto
o operrio raramente filho de
operrios e muito comumente tem orgem rural O crescimento
acelerado da industrializao brasileira - sobretudo na ltima
dcada - resultou na incorporao macia pela economia urbano
industrial de largos setores da populao rural De
outra
parte
h
segmentos
da
populao
operria
que
desfrutam
de
uma
esp
cie de euforia momentnea e relativa que advm em primeiro
lugar da prpria incorporao pela economia urbano-industrial de
pessoas recrutadas nas reas rurais mais pobres do Brasil - como
o caso dos nordestinos - para
as
quais o engajamento na in
dstria equivale a
um
processo de aquisio de
status; e
em
segundo lugar das condies atuais
da
economia capitalista bra-
sileira que
est
em franco progresso de expanso e permite por
isto mesmo a obteno de melhores oportunidades e condies de
trabalho nas prprias atividades industriais.
No difcil perceber porque
uma camada
proletria formada
nestas condies apresenta reaes divergentes diante de situaes
sociais nas quais o proletariado dos pases tradicionalmente indus
triais age de forma relativamente homognea como o caso da
escolha .eleitoral e das reivindicaes econmicas. A ao coerente
de um proletariado que se
constituiu rpidamente
em condies
de prosperidade econmica geral relatva ir depender em larga
medida por isto mesmo da existncia de um grupo de lderes
conscientes e ativos e
da
emergncia de condies fortuitaR favo
rveis como por exemplo a coincidn.cia do trmino dos contra-
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PROLETARIADO
E MU N
SOCIAL
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tos de trabalho com perodos pr-eleitorais. Quando fatres desta
ordem esto presentes a ao do proletariado
ganha
consistncia,
em trmos de seus intersses de classe, e pode revestir-se de tal
audcia e organizao
aparente
que confundir b observador menos
prevenido, que poder atribuir ao proletariado
um grau
de
conscincia racional de seus intersses do qual, como
um
todo, le
ainda est
muito
distanciado.
At que ponto no Brasil se vive
um
momento de transio
para as situaes clssicas nas quais o proletariado passa a efinir
autnomamente, do seu ponto de vista de classe, seus objetivos e
intersses algo difcil de afirmar. Parece,
entretanto
que mes
mo num sistema econmico em expanso contnua, opera
um
pro
cesso, tambm contnuo, de sedimentao do proletariado, que
tende, por isto mesmo, a
alterar
significativamente as formas tra-
dicionais de ajustamento desta
camada
social, bem como a rede
finir suas expectativas e atitudes.
Para
a anlise dste processo,_
que na falta de conceito mais preciso chamei de sedimentao,
preciso compreender que se a industrializao entre ns dependeu
inicialmente
da
urbanizao 3), por seu turno intensificou-a. O
processo de urbanizao
contnua
afeta
as pessoas nle envolvidas
- como obviamente o caso do proletariado - concomitantemente
com outros processos que lhe so correlatos, como os de secula
rizao e racionalizao.
No
conjunto, como sabido, stes pro
cessos tendem a alterar as formas tradicionais de pensamento,
sentimento e ao das pessoas.
No
que se refere aos efeitos do
processo de urbanizao sbre a
atitude
e as opinies dos oper
rios, o
j
indicado estudo de
Lwy
e Chucid mostra, atravs
das
relaes
entre um
ndice de urbanizao e
um
ndice de radica
lismo, por
um
lado, e
alguns
outros ndices com o de racionalismo,
por outro lado, que dentre as variveis consideradas que poderiam
intensificar o grau de radicalismo na cpula e
na vanguarda
operria nenhum atingiu coeficiente mais positivo de correlao
do que a
urb niz o
E, de
outra
parte, parece que a conscin
cia racional
da
situao de classe, com tdas as implicaes que
3) Analisei as relaes
entre
industrializao e urbanizll:o em So
Paulo
numa
conferncia que fiz no ForulTI de Debates Robrto Simon-
sen , da Federao
das
Indstrias de
So
Paulo, sob o titulo Condies
e
Fatres
Favorveis Industrializao de So Paulo , prestes a
ser
pu-
blicada pela
Revista rasileira de Estudos Polticos
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SO IOLOG I
dela derivam segundo as indicaes de pesquisa que estou con
siderando e alguns dados da
que
realizei
numa indstria
paulis
tana tende a desenvolver-se
exatamente
nos grupos de l3lrio
mdios e altos do proletariado de .forma que os efeitos perturba
dores que a prosperidade econmica geral acarreta
no
processo de
formao de
um
ponto de vista autnomo de classe no proleta
riado podem ser contrabalanados pelo aumento
numrico das
pessoas de salrios relativamente altos dentre as quais seriam
recrutados os membros de minorias conscientes e ativas.
Esta anlise prospectiva sumria e baseada em resultados
precrios - convm repetir
parece contradizer afirmaes hoje
correntes sbre o
aburguesamento
do proletariado
na
sua ma
neira de viver como se poderia
notar
nos pases prsperos alta
mente industrializados.
Entretanto
convm
notar
que a definio
autnoma
e racional dos intersses de classe pode emergir ainda
quando o u t r ~ caractersticas da situao de classe se tenham
alterado como o caso do padro de vida e do nvel de aspira.es
do proletariado de
p ~ s
altamente industrializados.
Quais finalmente os efeitos
da
situao
atual
do proletariado
das reas em processo de. desenvolvimento rpido sbre o processo
de mudana social?
Para
que no me alongue alm do razovel indicarei sucinta
mente alguns efeitos apenas da persistncia de atitudes e ex
pectativas polarizadas em trno de situaes passadas
e
por
tanto
no compatveis com valores derivados da conscincia ra
cional
da
situao de intersses opostos
entre
patres e operrios
numa
ordem industrial capitalista sbre o ajustamento do ope
rrio
vida na emprsa e sbre o comportamento poltico do pro
letariado.
s pesquisas realizadas mostram
quanto
ao ajustamento do
operrio
vida de emprsa que o
trabalhador
paulista tende a
definir sua lealdade para com os patres
e
correspondentemente
a esperar dles um
tratamento
que ainda se molda em grande
parte
por padres
do
velho paternalismo brasileiro. A
tal
ponto
que muitas vzes o inimigo de classe definido na pessoa dos
chefes imediatos e dos administradores contra a injustia dos
quais
ao
patronal
esperada como
um
corretivo. Sabendo-se
por outro lado que tambm os empresri.os muito generalizada
mente encaram a fbrica como
um
patrimnio familial que pode
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PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL 9
ser gerido
nos
velhos moldes patrimonialistas percebe-se
que
as
expectativas e
atitudes
dos operrios, neste particular contribuem
para
a manuteno
da antiga
ordem,
formando
a contra-partida
necessria
da
atitude
dos patres,
em
vez de constituirem-se como
focos de tenses capazes de provocar mudanas.
No pretendo incorrer no
rro
de generalizar demasiadamente
esta
situao e sei perfeitamente que, pelo menos
nas grandes
indstrias modernas dos
centros mais
urbanizados,
j impera
a
nova mentalidade na camada empresarial e que segmentos con
siderveis do
proletariado no
procedem conforme os padres
apontados acima.
o
conjunto
entretanto
como indiquei,
esta
uma
situao que
ainda
persiste. Dela,
por outro
lado, deriva
uma
atitude pouco reivindicativa quanto s condies de
trabalho
nas
indstrias e mesmo quanto
ao
nvel de salrios. Tal estado
de coisas, se pode
ser
til s emprsas ou a
capitalistas
determi
nados, significa - do ponto de
vista
da mudana social de uma
ordem que
j
foi designada como o antigo regime ,
para uma
ordem
industrial
democrtica - a persistncia dos velhos padres
que dificultam o progresso de
engajamento
real do proletariado
civilizao
industrial
com
tda
a srie de benefcios
no plano
material
e moral que dle deve advir.
s
expectativas do operrio quanto ao prprio sindicato con
firmam a anlise precedente. Atravs do
trabalho
de J. B. Lopes
verifica-se
at
que
ponto
o trabalhador espera do
sindicato
muito
mais uma obra
assistencial mdicos, dentistas advogados etc.)
do que o
desencadeamento
de movimentos capazes de
obter
con
quistas operrias
e de
aumentar
a solidariedade proletria.
Por outro lado, s nos
ltimos
anos, se considerarmos o pro
blema
a
partir
do perodo em que o Estado Novo conseguiu entor
pecer o
mecanismo
sindical, nota-se
tendncias
mais consistentes
no sentido
da
ao sindical desenvolver-se de forma independente
em face de demagogos ligados camada
patronal.
A manipula
o
da
polt ica sindical, e inclusive das greves, pelos governos, por
polticas sagazes, .quando no pelos
patres
desejosos de
obter
determinadas concesses
governamentais
era a regra
at
h
pouco, e ainda hoje, com menos
intensidade
e parcialmente esta
situao
persiste.
s
condies de formao
do
sindicato
operrio
brasileiro moderno - pois que antes de 1930, apesar
da
signifi
cao restrita
da ao
sindical
em
trmos
da
poltica geral do
pas, a situao era diferente - sob o patrocnio e a
tutela
do
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10
S O I O L O G
I
Estado contriburam em escala aprecivel para isto. Por tdas
estas raz.es no de
estranhar
que
at
mesmo no que se poderia
chamar
de vanguarda operria isto os elementos das diversas
categorias profisSionais
mais
ativos
nas
reivindicaes fabris e
que, sem fazer parte da
cpula
sindical prpriamente, participam
das assemblias sindicais e
ajudam
a
imprimir
os rumos do movi
mento
operrio atravs de
suas
manifestaes e do seu voto 4)
h os que consideram que as situaes de conflito
entre
operrios
e patres, expressas pelas greves, derivam antes de um mal-enten
dido do que da existncia de intersses antagnicos. Isto mostra
at que ponto a poltica de pelegos
juntamente
com os fatres
estruturais
descritos
nas pginas
iniciais dste
trabalho
consegui
ram entorpecer a conscincia social dos grupos proletrios, at
mesmo na atividade sindical.
Cabe esclarecer,
entretanto
que apesar da interferncia de
intersses no operrios no desencadeamento de greves e mani-
festaes sindicais, stes movimentos permitiram a acumulao
de experincias, o treinamento de lderes e a formao de atitudes
e expectativas mais condizentes com a definio de intersses e a
ao autnoma dos trabalhadores.
ntre
a
massa
dos
trabalhadores
as
atitudes em
face de
reivindicaes salariais e do comportamento poltico
e
principal
mente, eleitoral, so
ainda
mais adstritos s concepes da vida
pr-industrial brasileira. Os poucos dados disponveis que a in
vestigao cientfica fornece a ste respeito mostram que
os
meios
suasrios, que implicam em contactos primrios e simpticos com
os patres,
ainda
encontram larga aceitao por parte dos traba-
lhadores desejosos de obter melhorias de salrio ou das condies
de trabalho.
certo que, como no comportamento proletrio em
geral, a margem de flutuao
da
conduta dos operrios muito
grande. stavariao de padres de comportamento e de atitu-
des explica-se pelas razes
j
apontadas mas depende tambm de
outros fatres que provvelmente interferem mesmo no compor
tamento
das camadas proletrias de pases tradicionalmente in
dustriais: o sexo, a idade e o tempo de permanncia
na
emprsa.
4)
Tanto esta
distino
entre
a cpula e a
vanguarda
como a re-
ferncia opinio dos t r ~ h d o r e s que fao. a seguir baseiam-se nos
resultados,
ainda
incompletos e inditos, o levantamento feito
por
Michael
Lwy
e
Sarah
Chacid.
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PROLETARIADO E MUDANA SOCIAL
11
Com relao ao comportamento poltico
da
massa operria
da mesma maneira persistem as prticas tradicionais e rotineiras
de orientao da lealdade
antes
em trmos pessoais ou aleatrios
do que ideolgicos.
Por
um
lado a escolha poltica -
tanto
no
que diz respeito ao voto quanto no que tange adeso emocional
lderes e movimentos polticos em geral -
ainda
feita sob a
influncia das tcnicas de direo do comportamento das massas
manipuladas pelas camadas dominantes atravs do rdio do cine
ma do jornal. e. da televiso.
Por
outro lado o desintersse pol
tico
que.
revela a pouca
integrao
sociedade
urbana
de mas
sas ainda a regra. A tal ponto que mesmo os candidatos da
esquerda se vem
na
contingncia de organizar suas eleies - e
isto na cidade de So Paulo - na base de mquinas eleitorais pr
pl ias com tda a crte de cabos eleitorais
transporte
do eleitor e
demais tcnicas de corrupo ligadas ao voto de cabresto .
Resumindo para conc;luir creio ter mostrado servindo-me da
escassa bibliografia existente
da
experincia pessoal direta ou de
informaes seguras que as expectativas e atitudes do proletariado
numa rea
em
rpida
e recente expanso
industrial
capitalista
prendem-se por isto mesmo a polarizaes emocionais e a valores
que emergiram e s tm razo de ser no perodo pr-industrial da
sociedade. Por outro lado apesar dos efeitos que a prosperidade
provvelmente acarreta sbre o comportamento do proletariado
parece que em reas dste tipo com o decorrer do tempo e o de
sencadeamento de processos que surgem paralelamente ao de
industrializao formam-se compulses sociais capazes de levar o
probletariado a uma redefinio de atitudes e conscincia racio
nal
de seuS intersses de classe. O cientista social imbudo dos
valores ticos da cincia no pode limitar-se por isto mesmo a
conceber como obstculos ou como condies favorveis ao desen
volvimento apenas os fatres que interferem sbre a prosperidade
das emprsas. Por isto neste
artigo
considerei que tdas as con
dies e fatres que perturbam a redefinio das atitudes e ex
pectativas dos operrios a partir de concepes orientadas pela
conscincia social racional da situao de classe nas sociedades
capitalistas - ainda
quando
favoream o crescimento
industrial
-
atuam
de forma negativa sbre o processo geral de
mudana
social provocado pela industrializao a saber a emergncia da
ordem industrial
urbana
democrtica em substi tuio do antigo
regime agrrio e senhorial.